CONCEPÇÕES DE HOMEM NA EDUCAÇÃO: O QUE PENSAM AS PROFESSORAS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE
AS DIFERENÇAS
MESTRADO EM EDUCAÇÃO – UNIVILLEDisciplina: Diversidade, Interações sociais e Desenvolvimento humanoProfessoras: Aliciene F. M. Cordeiro e Sônia M. RibeiroAlunas: Andréia Heiderscheidt Fuck
Carina Rafaela de Aguiar Cleide A. H. Bernardes
INTRODUÇÃO
• Através de entrevistas realizadas com 3 professoras dos anos iniciais, nas escolas em que as mesmas trabalham, foi possível perceber alguns pontos chaves para a compreensão da concepção de homem que essas profissionais possuem.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
• Em relação às concepções de desenvolvimento humano, na literatura existem três e que são as mais conhecidas: concepção inatista, ambientalista e interacionista.
• De acordo com Davis e Oliveira (1994) a concepção INATISTA é baseada na ideia de que eventos que acontecem após o nascimento do sujeito não são importantes/indispensáveis para o desenvolvimento.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
• A concepção AMBIENTALISTA vem na contramão dos pressupostos inatistas.
• A base aqui é o poder que o ambiente possui no desenvolvimento humano.
• As autoras Davis e Oliveira (1994, p. 30) explicam que nessa abordagem “o homem é concebido como um ser extremamente plástico, que desenvolve suas características em função das condições presentes no ambiente em que se encontra”.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
• Por fim, a concepção INTERACIONISTA.
• Teóricos reconhecidos como Piaget, Vygotsky e Wallon criaram uma nova concepção de aprendizagem baseada nas interações do homem com o meio (OLIVEIRA, 2010).
• Esses teóricos acreditam que o conhecimento é uma construção social, ou seja, ocorre ao longo da vida do sujeito através das trocas dialéticas entre o homem e o meio em que vive.
METODOLOGIA
• A metodologia aplicada é de abordagem qualitativa.
• A equipe realizou três entrevistas com três professoras que atuam na rede municipal de ensino de Joinville.
• As entrevistas foram agendadas previamente e realizadas na própria escola onde as professoras ministram aulas.
METODOLOGIA
• Sujeitos da pesquisa:
• Professora XK = Trabalha há 15 anos como professora, atualmente leciona para o 3º ano do ensino fundamental, em uma escola da rede municipal de ensino de Joinville – SC.
• Professora XY = Se formou pedagoga em 2006, e atualmente trabalha com o 1º ano do ensino fundamental em uma escola da rede municipal de educação de Joinville – SC.
METODOLOGIA
• Sujeitos da pesquisa:
• Professora XZ = É formada em Pedagogia há 19 anos, e trabalha com alfabetização na mesma escola da rede municipal de educação de Joinville durante os mesmos 19 anos. Atualmente trabalha com o 2° ano do ensino fundamental.
METODOLOGIA
• Critério de seleção: Professoras que atuam nos três primeiros anos do ensino fundamental, fase em que as crianças encontram-se em processo de alfabetização.
• Pergunta norteadora da entrevista:
• “Cada pessoa tem características próprias e diferentes modo de ser e de pensar, capacidades, valores, comportamentos etc. Qual seria a origem destas diferenças?”
ANÁLISE DOS DADOS
• No entendimento das professoras quanto à origem das diferenças, destacou-se como primeiro ponto a aprendizagem.
• A professora XZ, diz “Eu acredito e sempre acreditei que toda criança tem capacidade de aprender, claro ao seu tempo, tem criança que no 1° ano aprende a ler, tem criança que no 2° ano lê, tem criança que no 3° ano vai aprender”.
ANÁLISE DOS DADOS
• Fala da professora XY:
• Na minha classe (1º ano), não vejo como dificuldade, vejo como processo de aprendizagem. Para a criança aprender de fato, precisa de vários recursos, eu acho que se usar apenas quadro, caneta e papel a criança não vai conseguir atingir o objetivo tão rápido como pretendia. Ela aprende, porque tudo que se ensina aprende, pensando em todas, nas diversas inteligências.”
ANÁLISE DOS DADOS
• Percebeu-se então, que as professoras XZ e XY demonstram que independente da sua condição social, biológica, cultural, as crianças aprendem e que, cabe ao professor propiciar diferentes práticas que contemplem o desenvolvimento das diversas potencialidades.
ANÁLISE DOS DADOS
• A professora XK comenta:
• Porque acredito que todo mundo aprende, bom todo mundo desde que não tenha uma limitação cerebral se tiver limitação cognitiva, não aprende como todo mundo. Precisa ser trabalhado no dia a dia, para sua vida, porque os conhecimentos sistematizados neste caso é mais difícil de acontecer.
ANÁLISE DOS DADOS
• Já a professora XK demonstra uma visão centrada nas questões biológicas, enfatizando que este aspecto é determinante na aprendizagem ou não do aluno, logo, ao professor resta pouco a fazer, frente ao que está posto.
ANÁLISE DOS DADOS
• Sobre a fala das professoras, Rego (1998, p. 54) esclarece que
• “Como consequência, ao explicitar seus paradigmas quanto à compreensão da natureza humana, os educadores acabaram por revelar suas convicções sobre a possibilidade (ou não)
de transformação e aprendizado do aluno”.
ANÁLISE DOS DADOS
• Em outra fala, a professora XZ, ao ser indagada sobre as origens das diferenças entre os seres humanos, comenta:
• “Eu acho que o principal ponto é cultural; onde a criança é criada, na família, começa ali as diferenças; cada criança é criada numa família que tem cada um sua cultura, suas manias, sua forma de viver da família e vai criando seu comportamento, seu caráter diante de tudo isso, dessa formação, que vem já dentro da família as diferenças”.
ANÁLISE DOS DADOS
• “Nesse processo, o indivíduo ao mesmo tempo em que internaliza as formas culturais,
transforma-as e intervém em seu meio. Desse ponto de vista, o homem é visto como alguém que transforma e é transformado nas relações
produzidas em uma determinada cultura. É, portanto, na relação dialética com o mundo que
o sujeito se constitui e se desenvolve. Desse modo, o ser humano não é só um produto de seu contexto social, mas também um agente
ativo na criação desse contexto” (REGO, 1994, p. 60).
ANÁLISE DOS DADOS
• No fragmento da entrevista abaixo, mostra-se uma concepção inatista combinada com a ambientalista:
• A mesma professora XZ diz que “eu acredito que pessoa nasce com a pré-disposição para algumas coisas e o meio ambiente reforça ou não. O meio ambiente também favorece as pré-disposições genéticas”.
ANÁLISE DOS DADOS
• Rego (1998, p. 59) esclarece que
• “Sendo assim, não questionam a hipótese de que existe uma ‘essência humana’ a priori, nem tampouco a ambientalista, pois valorizam as pressões que o indivíduo recebe da sociedade. Para esse grupo de educadores, o indivíduo é resultado de uma dupla determinação: de fatores internos ao indivíduo, e das pressões do meio ambiente, externos ao sujeito”.
ANÁLISE DOS DADOS
• Por outro lado não podemos afirmar que a professora XZ não questiona estas hipóteses, pois estes questionamentos aparecem em toda a sua fala principalmente quando referencia sua prática.
ANÁLISE DOS DADOS
• Não podemos esquecer que a professora enquanto profissional também é historicamente constituída, pois
• “[...] o homem visto como independente das influências dos diversos grupos que frequenta, o homem visto como imune aos legados da história e da tradição, este homem simplesmente não existe” (LA TAILLE, 1992, p.11).
ANÁLISE DOS DADOS
• Conceito de zona de desenvolvimento proximal (ZDP), desenvolvido por Vygotsky:
• “Eu uso muito de mesclar, de fazer os agrupamentos de níveis. Eu direciono na atividade as crianças conforme o nível, de maneira que possam se ajudar, eu não falo que eles vão ajudar, eu falo, vocês são uma equipe. E nesta ajuda vão aprendendo. O trabalho em grupo proporciona avanços na aprendizagem, porque tem a interação entre as crianças” (PROFESSORA XY).
ANÁLISE DOS DADOS
• A professora XZ continua:
• “Então hoje em dia eu sou a favor da sala heterogênea, para viver as diferenças, para conviver com o diferente, para ter um ajudando o outro, para ter o que sabe mais, ajudando o que sabe menos e assim vai. Eu acredito nisso, na convivência com as diferenças na aprendizagem”.
ANÁLISE DOS DADOS
• Góes (1991, p.24) confirma que:
• “As experiências é que fazem deslocar as funções psicológicas nos contínuos de sensível-mediado e restrito-abrangente que têm efeito de fazer avançar o desenvolvimento. A “boa” aprendizagem é aquela que consolida e sobretudo cria zonas de desenvolvimento proximal sucessivas”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
• Ao realizar a análise das entrevistas constatamos que as professores têm subsídios para dialogar, explicar detalhadamente os procedimentos e métodos utilizados em suas aulas.
• Entretanto, quando pedido para conceituar essa forma de trabalho, demonstraram insegurança, incertezas e até mesmo certo medo de se expor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
• Neste sentido não nos cabe julgar, mas entender as professoras com um olhar sócio-histórico, ou seja, enquanto pessoas, profissionais, que se constituíram historicamente e como tal carregam suas marcas.
• Podemos então concluir, que teorizar uma prática é mais difícil que falar sobre ela, mas mesmo que não tenhamos clareza da teoria a qual estamos embasados, nossa fala pode nos denunciar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
• Desta forma constatamos que a professora XZ e a professora XY, apresentam muita facilidade em falar sobre a prática, falam dos alunos e da aprendizagem, demonstrando preocupação em trabalhar com todos, o que nos permite conceituá-las como professoras que buscam realizar o trabalho dentro da concepção interacionista.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
• Já a professora XK, falou pouco de seus alunos e da sua prática, foi sucinta em suas falas, então não conseguimos conceituá-la da mesma forma.
• É importante ressaltar que estamos fazendo afirmações com base nas suas falas.
• Enquanto as professoras XZ e XY, afirmaram o tempo todo que todos aprendem e deram exemplos de suas crenças, a professora XK disse que aprendem, mas depende do cérebro de cada um.
REFERÊNCIAS• DAVIS, Cláudia; OLIVEIRA, Zilma de. Psicologia na educação. São Paulo:
Cortez, 1994.
• GOÉS, Maria Cecília R. de. A natureza social do desenvolvimento psicológico. Cadernos Cedes, Campinas, n.24, p.21-29, mar. 1991.
• LA TAILLE, Yes de. O lugar da Interação Social na Concepção de Jean Piaget. In. Oliveira, Marta Kohl de; DANTAS, Heloysa. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão, São Paulo: Summus, 1992.
• LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. Pesquisa em educação: Abordagens qualitativas. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 1986.
• OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento: Um processo sócio-histórico. 5. ed. São Paulo: Scipione, 2010.
• REGO, Teresa C. R. Educação, cultura e desenvolvimento: o que pensam os professores sobre as diferenças individuais. In AQUINO, Julio G. (Org.) Diferenças e preconceitos na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1998.