Apropriação e imaginário na cultura dos fãs em tempos de convergênciaStefanie C. da SilveiraPPGCOM - UFRGS
Apropriação
A cibercultura é a configuração da cultura produzida pela conexão entre a
socialidade e as tecnologias digitais. Esta tecnologia possui um potencial
agregador que facilita sua apropriação pelos sujeitos a partir de demandas
próprias de cada grupo, o que manifesta um espírito desviante (LEMOS, 2004).
De Certeau: os usos como operadores de apropriação; o cotidiano como lugar de apropriação, reapropriação, reconhecimento, usos, muitas vezes desviantes, e consumo dos produtos culturais.
A apropriação tem sempre duas dimensões: uma técnica (utilização) e outra simbólica (imaginário, desvio).
Imaginário O imaginário atua como articulador na construção
da realidade. “O concreto é empurrado, impulsionado e
catalisado por forças imaginais” (SILVA) A imaginação é parte do processo de experiência,
construção e significação do cotidiano. O imaginário está presente na apropriação, na
reconfiguração e na união dos sujeitos. O imaginário leva-os a se reunirem pela identificação e atração estética (MAFFESOLI, 1998).
Convergência
O caráter de desvio gera novas finalidades
para os objetos midiáticos. Dá-se um
emprego não programado da
apropriação na Internet, pois a cultura
da convergência reconfigura as práticas
de consumo cultural.
Convergência: fluxo de conteúdos através de múltiplos suportes midiáticos, cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca de experiências de entretenimento que desejam (Jenkins, 2006).
A convergência implica transformações nos protocolos de produção e de consumo midiático. Ela altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias, mercados, gêneros e públicos. Altera também as lógicas de operação da indústria midiática e dos consumidores.
“A convergência dos meios de comunicação impacta o modo como consumimos esses meios. [...] Fãs de
um popular seriado de televisão podem capturar amostras de
diálogos no vídeo, resumir episódios, discutir sobre roteiros, criar fan
fiction, gravar suas próprias trilhas sonoras, fazer seus próprios filmes –
e distribuir tudo isso ao mundo inteiro pela internet.”
Fãs Estas características da apropriação podem
ser vistas na cultura dos fãs, pois eles compõem um grupo que questiona a experiência tradicional dos produtos culturais e rejeita a distância estética, tentando complementar os conteúdos midiáticos com suas próprias produções disseminadas mais facilmente pela Internet (JENKINS, 2006).
O imaginário da cibercultura manifesta um espírito transgressor, desviante e apropriador (Lemos, 2004).
Os fãs compõem uma categoria que questiona a forma tradicional de experiência estética midiática.
Eles operam a partir de uma posição de cultura marginal na sociedade e resistência popular, com autonomia sobre a apropriação e a interpretação simbólica.
São os primeiros a se adaptar às novas tecnologias de mídia e às mudanças nos processos de produção e consumo, estimulados pelos universos ficcionais e pela ampliação de ferramentas de participação que abrem espaço para maior visibilidade da cultura dos fãs.
Jenkins (1992) propõe uma concepção de fandom que engloba cinco níveis de participação:
Modo de recepção especial Práticas interpretativas e críticas
diferenciadas Base para o consumo participativo Formas particulares de produção
cultural, práticas e tradições estéticas Comunidade alternativa
Considerações
A cultura da convergência altera os processos de apropriação e consumo dos sujeitos com relação aos produtos da mídia de massa.
A apropriação e a reconfiguração destes produtos inicia no âmbito de um imaginário desviante e resistente.
Os fãs são exemplo destas considerações e têm seus processos afetados pela tecnologia e pela convergência.
Obrigada!
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