ARTHUR SCHOPENHAUER
Suicídio
Filósofo pessimista alemão. Inimigo intelectual e pessoal de Hegel. Sua
observação atenta do comportamento humano foi precursora da
psicanálise. Autor de O Mundo Como Vontade e Representação (1813),
Sobre o Fundamento da Moral (1840) e Parerga e Paraliponema (1851).
“Até aqui, dentro dos limites do nosso assunto, expusemos de modo suficiente a
negação do querer–viver, o único ato da nossa liberdade que se manifesta no fenômeno
e que podemos chamar como Asmus, a transformação transcendental; nada mais
diferente desta negação do que a supressão efetiva do nosso fenômeno individual, isto é,
o suicídio. Muito longe de ser uma negação da Vontade, o suicídio é uma marca de
afirmação intensa da Vontade, visto que a negação da Vontade consiste, não em ter
horror aos males da vida, mas em detestar–lhe os prazeres. Aquele que se mata queria
viver; está apenas descontente com as condições em que a vida lhe coube. Por
conseguinte, destruindo o seu corpo, não é ao querer–viver, é simplesmente à vida, que
ele renuncia. Ele queria a vida, que a Vontade existisse e se afirmasse sem obstáculos,
mas as conjunturas presentes não lho permitem e ele sente com isso uma grande dor.
Toma então uma resolução de acordo com a sua natureza de coisa em si, natureza que
permanece independente das diferentes expressões do princípio de razão, à qual, por
conseguinte, todo o fenômeno isolado é indiferente, já que ela é própria independente
do nascimento e da morte, já que ela é a essencia íntima da vida unversal. (...) A relação
entre o suicídio e a negação do querer é a mesma que entre a coisa particular e a idéia: o
suicídio nega o indivíduo, não a espécie. Como vimos mais acima, a vida é
infalivelmente e para sempre inerente ao querer–viver, e o sofrimento à vida; daí resulta
que o suicídio é um ato vão e insensato” (SCHOPENHAUER, A. O Mundo como
Vontade e Representação, IV, § 69).