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Avaliação de projetos sociais: estudo de caso do Projeto
Caminhos de Barro1*
Elisael Pereira Barros1**
Margareth Gomes Barreto1***
Resumo: A literatura que trata do tema da avaliação de projetos sociais apresenta
metodologias diferenciadas propostas por diversos autores. Deste modo, o presente artigo,
com base no estudo dessas metodologias, analisa um modelo de avaliação que possa ser
aplicado ao Projeto Caminhos de Barro, da Universidade Estadual do Norte Fluminense
Darcy Ribeiro (UENF). Este projeto tem como principal finalidade capacitar, na arte
cerâmica, as comunidades excluídas do processo de produção industrial, de tijolos e telhas,
nas cerâmicas da Baixada Campista. O artigo apresenta, inicialmente, os conceitos de
Gerenciamento de Projetos buscando se fundamentar na utilização de uma metodologia
específica para avaliação de projetos sociais, em função de sua aplicabilidade ao Projeto
Caminhos de Barro. Para a coleta de dados, foi aplicado um questionário aberto, in loco, aos
gestores e artesãos beneficiários do projeto. Após a avaliação, foram detectados fatores
positivos e negativos, e possíveis ações a serem implementadas para a superação dos
problemas e, ainda, para a reestruturação do projeto como instrumento propulsor de mudanças
na realidade da comunidade envolvida.
Palavras – chave: avaliação, projeto social, inclusão, geração de renda, arte cerâmica.
________________________
1* Este artigo constitui-se no Trabalho de Conclusão de Curso da Pós-graduação Lato Sensu em Gestão, Design
e Marketing do Instituto Federal Fluminense, Campus Campos-Centro, no ano de 2016, desenvolvido sob a
orientação do Prof. Dr. Romeu E Silva Neto. 1** Graduado em Design Gráfico, no IFF- Campus Campos-Centro. E-mail [email protected].
1*** Graduada no Curso Normal Superior, no Instituto Superiores de Ensino do Censa- Campos. E-mail
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Abstract
The literature that approaches the subject of social projects evaluation, present different
methodologies by several authors. Therefore, the present paper, based on these methodologies
studies, analyses a social project evaluation model that can be applied in the assessment of
"Projeto Caminhos de Barro" (Clay Path Project) which is a project from the Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF). This project has the main goal of
enabling, in artisanal ceramic art, the excluded communities from the industrial process of
brick and tile production in the region. The paper presents, initially, the concepts of Project
Management, intending to be based on an specific methodology for social projects due to its
applicability in the mentioned project. To the data collecting, an open survey was applied on-
site to the project managers and benefiting artisans. After the evaluation, positive and
negative factors, and possible actions to be implemented were detected, in search for
problems overcoming and even to the project restructuring as a propelling instrument for
reality changes in the involved community.
Key-words: evaluation, social project, social inclusion, income generation, ceramic art.
1 Introdução
A cerâmica é um material que acompanha o homem desde os tempos primitivos. A
cerca de dois mil anos, bem antes da chegada dos portugueses ao continente americano, já
existiam nas terras do novo continente diferentes grupos sociais que fabricavam cerâmicas.
Eram aldeias instaladas próximas a rios e ribeirões, vivendo da caça e da pesca, cultivando
determinadas plantas, e capazes de manipular convenientemente o barro, produzindo assim
uma gama de artefatos cerâmicos.
O que se sabe, com total rigor histórico, é que, a partir do período neolítico,
aparecem fragmentos de cerâmica a demonstrar, de forma inequívoca, a
presença humana. Poder-se-á dizer, por isso, que o homem começou a
“escrever”, no barro, a sua própria História. (COSTA, 2000, p.9)
No Brasil, apenas nos últimos 60 anos, houve avanço significativo nos processos de
fabricação industrial de peças cerâmicas, motivado pela expansão do conhecimento na ciência
dos materiais cerâmicos em laboratório e na sua aplicação. Deste modo, os produtos passaram
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a ter um padrão de qualidade necessário para serem produzidos de forma industrial, atendendo
às exigências estabelecidas pela normatização vigente.
No município de Campos dos Goytacazes/RJ, ocorreram poucas mudanças do ponto
de vista tecnológico no setor de cerâmica vermelha nos últimos anos. No entanto, a atuação
da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) através dos
Laboratórios de Engenharia Civil, de Engenharia de Materiais, e de Ciências Humanas, em
conjunto com as ações propostas pelo SEBRAE/RJ, vem motivando algumas transformações
nesse setor de produção na região Norte Fluminense, tais como a diversificação da produção
com a integração da população em atividades artísticas e artesanais, resgatando dessa forma a
tão idealizada economia solidária.
Neste sentido, as potencialidades industriais acima citadas se articulam com as
especificidades do município de Campos dos Goytacazes, que se localiza na região norte do
Estado do Rio de Janeiro, com 4.032 km2 de extensão, e se caracteriza pela abundância na
reserva de materiais argilosos, sendo uma região de grande potencial da atividade industrial
de cerâmica vermelha.
Os empregos atualmente gerados pelas indústrias cerâmicas de Campos dos
Goytacazes, concentradas na região da Baixada Campista, em função do tipo de atividades
desenvolvidas, vinculam uma determinada faixa etária de trabalhadores capazes de
desenvolver trabalhos que exigem esforço físico. Nesse contexto, como iniciativa de inclusão
social através da arte cerâmica, foi criado o Projeto Caminhos de Barro - Disseminação da
Arte–Cerâmica, implantado pela Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), no ano
de 2000, tendo como finalidade capacitar, na arte cerâmica artesanal, as comunidades
excluídas do processo industrial de produção de tijolos e telhas. Assim sendo, associado à
necessidade de se restaurar, em seu sentido amplo, a dignidade perdida no trabalho, bem
como estabelecer novas perspectivas de futuro para essa parcela da comunidade excluída da
produção tradicional das cerâmicas, inicialmente, foi implantado um polo na comunidade de
São Sebastião, distrito de Campos dos Goytacazes. A implantação deste polo objetivava criar
um espaço alternativo, privilegiando a formação artística, cultural e técnica, no sentido de
alavancar o processo de desenvolvimento econômico da atividade cerâmica na região,
fomentado pelo governo do Estado do Rio de Janeiro.
A cerâmica, tanto de uso comum como artístico, é produzida hoje por toda
parte, seja em grandes estabelecimentos ou por pequenos artesãos. Os
sistemas são fundamentalmente os mesmos, mas é inegável que a
experiência técnica adquiriu tamanha perfeição que permite resultados
extraordinários. (ANFACER1)
_________________________________________
1ANFACER - Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e
Congêneres.
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O sucesso alcançado pelo projeto junto à comunidade, com a repercussão do trabalho
artístico produzido pela primeira geração de ceramistas em formação, e a demanda crescente
pela participação do grupo em mostras, dentro e fora do município de Campos dos
Goytacazes, exigiram a expansão da oficina e suas atividades, tanto quantitativamente quanto
qualitativamente, para consolidá-lo como um autêntico modelo inovador de gestão.
A escola sede do Projeto Caminhos de Barro que funciona no campus da UENF, com
apoio direto do Laboratório de Engenharia Civil (LECIV) da Universidade, oferece suporte
tecnológico ao projeto nos estudos e testes de matérias primas, corantes e queima do material
produzido. Segundo Ramos, et al (2008),
A arte cerâmica desenvolvida em diversas regiões brasileiras baseia-se em
formulações empíricas e regionais. Isso, de certa forma, prejudica sua
disseminação, pois as matérias-primas utilizadas são extremamente
complexas e, quase sempre aplicadas na sua forma bruta. (RAMOS, et al,
2008, p.281)
Dessa forma, as peças produzidas pelos artesãos do projeto trazem um diferencial
próprio, pois as matérias primas utilizadas na produção dos artefatos, assim como as
utilizadas para pintura ou decoração (engobes), são todas naturais e extraídas de locais
selecionados por uma equipe técnica especializada em argilas.
Com sua logomarca registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI),
o Projeto Caminhos de Barro, funciona como núcleo gerador de conhecimento artístico
artesanal, isto é, forma turmas de artesãos de diversos setores da comunidade, gerando
alternativas de trabalho e expansão socioeconômica e cultural para a região.
A partir dos resultados alcançados pelo projeto foi criada a Associação de Artesãos
Caminhos de Barro, no ano de 2013, com o intuito de desenvolver e apoiar ações de
empreendedorismo, de modo a fomentar a independência econômico-financeira e pessoal de
seus artesãos, assim como formar parcerias com órgãos públicos ou privados para a captação
de recursos que pudessem alavancar a expansão do projeto.
Deste modo, considerando a importância do gerenciamento de projetos como
instrumento estruturante e dinamizador das organizações, o presente artigo visa descrever e
analisar um modelo de avaliação de projetos sociais, aplicando-o ao Projeto Caminhos de
Barro, no sentido de elaborar um diagnóstico de suas ações visando promover a inclusão
social e a geração de renda para todos os atores e comunidades envolvidas.
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Este trabalho traz, em seu desenvolvimento, um caráter exploratório e descritivo.
Inicialmente, apresenta os conceitos de Gerenciamento de Projetos, bem como, uma
metodologia de avaliação de projetos sociais. Para tanto, foi desenvolvida uma pesquisa
bibliográfica em publicações especializadas sobre o tema. Por fim, o trabalho analisa e
descreve o processo de avaliação de projetos sociais, aplicando-o ao Projeto Caminhos de
Barro. De modo complementar, foi realizada uma pesquisa de campo com visitas técnicas à
sede do projeto. O instrumento de coleta de dados se configurou em um questionário aberto
aplicado in loco aos gestores e artesãos beneficiários do projeto.
2 Revisão de literatura
2.1 Gerenciamento de Projetos
Primeiramente, há que se definir o conceito de projeto publicado na literatura. De
acordo com Clemente (2002, p.21) o “termo projeto está associado à percepção de
necessidades ou oportunidades de certa organização, com o intuito de planejar algo para ser
executado no futuro”. Desta forma, projetos nascem de uma idealização estratégica das
organizações. Assim, pode ser entendido como um conjunto de informações coletadas e
processadas, simulando uma alternativa de investimento para testar sua viabilidade.
Ainda no que diz respeito ao conceito de projeto, vale destacar a proximidade
conceitual entre os termos projeto e planejamento. Nesse ponto, Clemente (2002) afirma que
embora a elaboração, análise e avaliação de projetos sejam atividades concernentes ao
planejamento, este é um termo muito mais amplo, compreendendo muitas outras atividades
além do projeto em si.
O planejamento, segundo Clemente (2002, p.21) em essência, “é a escolha de
situações futuras adequadas ao ambiente que envolve a organização e o estudo dos cursos
alternativos de ação para alcançá-las”. O projeto, por sua vez, refere-se a um tema mais
específico, requer quantidades definidas de recursos e de tempo e estabelece resultados
tipicamente quantificáveis.
As abordagens vinculadas à análise econômica de projetos foram empregadas, a
princípio, no âmbito dos negócios, com a finalidade de identificar a viabilidade de execução
dos mesmos. A viabilidade estaria associada ao resultado previsto para o empreendimento
mensurado em termos de rentabilidade, isto é, aqueles projetos que apresentassem resultado
positivo na relação entre as suas receitas e despesas estariam aptos a ser selecionados para
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efeitos de implementação. Entretanto, a viabilidade de um projeto pode ser avaliada sob
outros enfoques além do empresarial. Neste sentido, Cohen e Franco (1993) enfatizam que:
A avaliação não deve ser concebida como uma atividade isolada e auto-
suficiente. Ela faz parte do processo de planejamento da política social,
gerando uma retroalimentação que permite escolher entre diversos projetos
de acordo com a sua eficácia e eficiência. Também analisa os resultados
obtidos por esses projetos, criando possibilidade de retificar as ações e
reorientá-las em direção ao fim postulado. (COHEN e FRANCO, 1993,
p.73)
As avaliações sob a ótica de agentes de fomento e de governos, nas suas diversas
esferas de atuação, podem ser desenvolvidas com a finalidade de verificar se as intervenções
planejadas produzirão os efeitos desejados. Assim, segundo Contador (2000), aquelas
avaliações que são processadas, levando em consideração o ponto de vista da comunidade ou
da sociedade como um todo, são empreendidas sob o enfoque social. As diferenças, portanto,
entre os critérios de avaliação privada e social dizem respeito aos diferentes enfoques que são
utilizados para a valorização dos recursos e dos produtos dos projetos. A avaliação privada
enfatiza os benefícios e os custos a preços de mercado, uma vez que os recursos e os produtos
podem ser obtidos e negociados em um mercado específico. Já a avaliação social utiliza
preços sociais que expressam o valor que a sociedade estaria disposta a pagar pelos bens e
serviços proporcionados pelo projeto em questão.
Para Xavier (2008), as organizações não governamentais denominadas de Terceiro
Setor, sem fins lucrativos, ocupam um espaço cada vez maior na sociedade, contribuindo para
o seu aprimoramento e executando tarefas em que os outros dois setores, o governo e as
entidades com fins lucrativos situadas no mercado, não apresentam resultados sociais
efetivos. Sobre atuação do Terceiro Setor, Xavier (2008) esclarece que a maioria das
iniciativas desse segmento é implementada sob a forma de projetos, sendo necessário
aperfeiçoar seus processos de gerenciamento em razão da concorrência interna que o
caracteriza, face à limitação dos recursos disponíveis para financiamento e da crescente
exigência das organizações patrocinadoras por propostas e prestação de contas consistentes,
assim como melhores resultados dos projetos.
Xavier (2008) esclarece que, com relação à atividade de gerenciamento de projetos,
um dos maiores desafios do Terceiro Setor é superar a visão amplamente difundida de que
projeto é aquele documento formal que serve fundamentalmente para contratar relações de
financiamento. Nesta visão, o conteúdo de tal documento não tem necessariamente uma
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relação direta com a forma como a ação será pensada e desenvolvida. Somente com a recente
disseminação das técnicas de planejamento estratégico e dos debates sobre o impacto do
trabalho social, e as dificuldades para a sua avaliação, é que se começou a encarar o projeto
como instrumento metodológico para fazer da ação social uma intervenção organizada, com
melhores possibilidades de atingir seus objetivos.
Neste sentido, sendo o projeto um empreendimento planejado que consiste num
conjunto de atividades inter-relacionadas e coordenadas, para alcançar objetivos específicos
dentro de prazo e recursos limitados, Xavier (2008), explica que:
Um projeto é orientado para gerar resultados – bens ou benefícios – ou para
prestar serviços específicos. Portanto, necessita de metas claras – medidas de
resultados – e datas de início e término que atendam aos requisitos
negociados e explícitos pelos envolvidos ou partes interessadas. (XAVIER,
2008, p.1)
Dentre as diversas definições que permitem estabelecer as características do projeto,
Xavier (2008) considera relevante destacar os seguintes itens: o ordenamento de atividades
relacionadas que envolvem recursos e diferentes funções da organização; o empreendimento
temporário, com início e fim bem definidos; a criação de um produto ou serviço único
(mesmo que seja, por exemplo, um curso já ministrado, será para pessoas diferentes, em datas
diferentes e assim sucessivamente); a progressividade dos projetos, por serem temporários e
exclusivos; o estabelecimento claro de objetivos e o atendimento de parâmetros como de
custo, tempo, qualidade, todos previamente determinados.
Os projetos ocorrem praticamente em todas as organizações, envolvendo todas as suas
áreas e níveis, gerando produtos e/ou serviços para um público alvo que pode ser formado por
patrocinadores internos e/ou externos, ou comunidades. O autor ainda destaca, como
exemplos de projetos no Terceiro Setor, a criação de uma creche comunitária; a implantação
de um pré-vestibular comunitário; um projeto para inclusão digital de adolescentes em
condição de vulnerabilidade, dentre outros de assistência social às populações carentes.
O gerenciamento de projetos é um ramo da Administração que trata do planejamento,
da execução e do controle de projetos. Executar projetos, de maneira cada vez mais eficiente,
é uma característica essencial para a sobrevivência das organizações modernas. Isto também
se aplica ao Terceiro Setor. Na busca por uma profissionalização da gestão do Terceiro Setor,
Ruggeri (2011) afirma que:
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As organizações do Terceiro Setor veem-se envolvidas com discussões
administrativas que inevitavelmente passam pela crítica da própria
instituição, suas atitudes, métodos e ferramentas gerenciais. Nesta seara de
avaliações, as organizações do Terceiro Setor demandam evidentemente uma
visão estratégica da organização e sua relação com sua missão na sociedade.
Portanto, a gestão estratégica das OTS é, sem dúvida, a primeira necessidade
imposta a elas para a sua sustentabilidade. (RUGGERI, 2011, p.30)
Em consonância com um gerenciamento eficaz, Xavier, (2008, p.4) ressalta que “os
investidores tornam-se mais exigentes quanto aos resultados gerados e cobram maior
transparência no uso dos recursos. Há uma maior competição por patrocínios”. Esse ambiente
exige que as organizações sejam capazes de gerenciar eficientemente seus projetos. Em face
dessa exigência, o autor explica que a resposta a esse desafio passa pelo desenvolvimento de
técnicas, metodologias, tecnologias e melhores práticas de gerenciamento de projetos,
envolvendo a implementação de ações que visam planejar, executar, e controlar diversas
atividades para alcançar objetivos especificados e dentro de padrões.
2.2 Projetos Sociais
O objetivo dos projetos sociais está alicerçado, principalmente, na redução da pobreza
e das desigualdades sociais, promovendo a inserção social e produtiva de pessoas ou grupos
que vivem em condições de vulnerabilidade, à margem da sociedade, resgatando suas
potencialidades. O nascimento de um projeto social deve ser precedido de uma série de
questionamentos sobre suas intenções e seus impactos na sociedade. Estes questionamentos
resultam na elaboração de propostas que se pretende incrementar, deixando explícitas suas
razões e princípios que orientarão as ações dos atores envolvidos.
Os projetos sociais podem se constituir em oportunidades concretas de mudanças na
sociedade, se tornando um espaço de relações permanentes entre o desejo pessoal e coletivo,
com o propósito de mudar a realidade dos participantes em questão. De acordo com
Stephanou, et al:
(...) projetos sociais nascem do desejo de mudar uma realidade. Os projetos
são pontes entre o desejo e a realidade. São ações estruturantes e
intencionais, de um grupo ou organização social, que partem da reflexão e
do diagnostico sobre determinada problemática e buscam contribuir, em
alguma medida, para outro mundo possível. (STEPHANOU, et al, 2003,
p.11)
9
Os projetos sociais, numa sociedade ainda marcada por profundas desigualdades,
podem se configurar em importantes alternativas para o enfrentamento de problemas que,
historicamente, ainda se fazem presentes no caso da realidade brasileira. Dentre esses
problemas citados, se destacam a crescente expansão das atividades informais no mercado de
trabalho, o baixo nível de escolaridade, a redução dos postos de trabalho, e o desemprego.
Para que um projeto social atinja seus objetivos, é necessário primeiramente ter a visão
de que ele poderá não ter 100% de aproveitamento e eficiência. Neste sentido, Xavier (2008,
p.14) ratifica que “isto se deve ao fato de que contamos sempre com fatores externos
inesperados e que trabalhamos com material humano”. Na elaboração de uma proposta de
projeto social, a meta principal é que ele chegue até o fim, alcançando suas metas sociais e
conquistando a confiança dos investidores na capacidade da organização em administrar,
tanto os recursos financeiros como o tempo que foi proposto. De modo que, o planejamento é
a base para a elaboração de uma proposta sustentável.
Previamente à elaboração de uma proposta de projeto social, um estudo de viabilidade
deve ser realizado para se conhecer a necessidade da área que será assistida e também
funcionar como base para a proposta social. A partir dos dados e informações obtidos, deve se
identificar se o projeto apresenta, ou não, condições para efetivação. Xavier (2008) afirma,
sobre esse aspecto, que:
É importante iniciar o planejamento de um projeto social identificando as
pessoas, grupos de pessoas e organizações que estarão ativamente
interessadas no projeto, determinando suas necessidades, para então
gerenciá-las e influenciá-las, a fim de assegurar um projeto bem sucedido.
(XAVIER, 2008, P.16)
2.3 Metodologia de avaliação de projetos sociais
As metodologias de avaliação de projetos e de projetos sociais, segundo autores já
citados como Cohen, Franco, Ruggeri e Xavier, se apresentam de forma diversa. No entanto,
este trabalho se fundamenta na perspectiva de uma metodologia de avaliação de projetos
sociais proposta por Marino (2003), em função de sua aplicabilidade ao objeto de estudo
desse artigo, no caso, o Projeto Caminhos de Barro.
Marino (2003, p.17), no que se refere à compreensão do conceito de avaliação,
apresenta a seguinte indagação: “quando se fala em avaliar um projeto, para onde vai o
pensamento dos que participam da conversa? Qual é a imagem que as pessoas geralmente têm
sobre este tema?”. Este questionamento se faz necessário, uma vez que no curso da vida de
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cada indivíduo, sua percepção de mundo vem sendo construída a partir de seu contexto
familiar, cultural, educacional e temporal, determinante de suas relações com o ambiente.
Dessa forma, as informações, conceitos e crenças fixados na chamada memória de longo
prazo, vão formando os “modelos mentais” que, de acordo com os teóricos cognitivistas, são
passíveis de mudança, desde que pequenas alterações sejam feitas no modo de refletir e agir
cotidianos.
No contexto organizacional ou em outros sistemas sociais, a aprendizagem do adulto
somente logrará êxito, a partir de um processo contínuo de ação e reflexão. A análise da
realidade e dos fatos, a partir da construção dos momentos reflexivos, possibilitam novas
tomadas de decisões estabelecendo um ambiente de aprendizagem contínua. Diante da
necessidade imperiosa de fazer do processo avaliativo um instrumento eficaz na construção de
um projeto, Marino (2003) explicita que:
Se quisermos melhorar as chances de atingirmos os propósitos de nossas
organizações, precisamos modificar os modelos mentais vigentes sobre
avaliação. As organizações que veem a avaliação como mecanismo de
controle transformam em objeto passivo o indivíduo que está sendo avaliado.
Correm o risco de despertar uma atitude negativa nos participantes, que
resulta em superficialidade, ocultação ou até alteração de informações
essenciais para a credibilidade do que se quer avaliar. (MARINO, 2003,
p.17)
Para que a avaliação resulte em um processo de integração entre as atividades
cotidianas das pessoas envolvidas, e à vida da organização, Marino (2003) considera, ainda,
que:
todos os envolvidos estejam imbuídos da responsabilidade de responder e
fazer boas perguntas, compartilhar respostas e explorar novas possibilidades;
todos tenham clareza de que os esforços para um bom funcionamento interno
levam a melhores resultados externos;
exista um ambiente onde as pessoas se sintam seguras para examinar juntas
algo que não vai bem, onde não se tenha medo de olhar para trás e aprender
também com as experiências malsucedidas;
se estimule uma relação de colaboração entre a organização e o público
externo: comunidade, doadores e outras organizações, compartilhando com
estes a possibilidade de aprender e de se desenvolver juntos;
a linguagem seja a mesma. Buscar palavras com o mesmo significado,
respeitando assim alguns valores incutidos na linguagem articulada dos
envolvidos;
se considere a atitude de olhar e refletir sobre fatos ocorridos como um
caminho de visualização dos processos, numa prática de ação e reflexão
contínua, aprendizagem e crescimento. (MARINO, 2003, p.19)
11
Para Marino (2003), na compreensão do processo avaliativo, deve ser observado o
momento de dar início à avaliação; quais são os tipos de avaliação; o que deve ser avaliado; e
quais os passos que envolvem esse processo. Inspecionar e detectar erros, antecipadamente à
implementação de uma primeira ação do projeto constitui um princípio fundamental a ser
aplicado ao se planejar projetos de intervenções sociais relevantes. Neste sentido, o autor
destaca três tipos de avaliação que nortearão o processo: o marco zero, a avaliação de
processo e a avaliação de resultados.
O marco zero é uma avaliação preliminar, que poderia ter outras denominações, como
“diagnóstico, indicadores preliminares, avaliação ex-ante, de contexto ou outras” (MARINO,
2003, p.24). O processo por ele desencadeado representa a análise situacional da realidade
pelos diferentes atores envolvidos no início de um projeto. As informações obtidas a partir
desse momento vão orientar o planejamento das ações futuras e servir de parâmetro para as
outras fases da avaliação.
Na avaliação de processo, após a fase de planejamento, se inicia a realização das ações
na busca dos objetivos estabelecidos. A execução de um projeto social, por mais atentamente
elaborado que tenha sido seu planejamento, é um processo frequentemente instável devido a
uma série de adaptações oportunas. Essa “turbulência” exige que se criem mecanismos de
compreensão dos fatos e fenômenos sociais ocorridos e que determinam adequações ao plano
inicial, sem perder de vista a missão e os princípios valorizados no projeto. Sobre esta etapa,
Marino assim a define:
Nesta fase do projeto, a avaliação é denominada avaliação de processo, que
compreende, além do monitoramento contínuo das atividades, a reflexão
frequente sobre as dinâmicas interna e externa da equipe responsável, isto é,
as relações entre os membros da equipe e sua interação com o público-alvo.
(MARINO, 2003, p.24)
Na fase da avaliação de resultados, que é a fase intermediária, ou próxima ao final de
um projeto, ocorre a análise dos benefícios proporcionados aos participantes (público-alvo,
parceiros, equipe responsável), durante ou após a sua implementação. Assim sendo, a
avaliação de resultados requer indicadores definidos, isto é, critérios norteadores do sucesso
do projeto. Sobre esta etapa, Marino destaca que “é fundamental que todos os que
participaram, direta ou indiretamente, sejam ouvidos e que a metodologia utilize parâmetros
quantitativos e qualitativos de resultados” (MARINO, 2003, p.24).
Para os três momentos da avaliação, quais sejam o marco zero, o processo e os
resultados, Marino (2003) apresenta os sete passos da avaliação, ressaltando que cada passo é
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específico, de acordo com o foco definido para a avaliação, conforme descrito no Estudo de
Caso:
Passo 1 – Decisão sobre o foco da avaliação – dar o foco à avaliação
significa pensar e decidir sobre um conjunto de fatores que compõem o
processo. Implica fazer escolhas baseadas na análise profunda das
necessidades que levaram ao ato de avaliar. Desta decisão, virão o tipo de
avaliação a ser feita, a quem será útil, os objetivos, os responsáveis por sua
execução e suas atribuições;
Passo 2 – Formação da equipe – Neste passo serão definidas as pessoas que
assumirão o processo avaliatório diante de todos os envolvidos no projeto;
Passo 3 – Identificação dos interessados, das perguntas e dos indicadores –
Nesta etapa são envolvidas as principais pessoas e os grupos que participam
ou têm algum interesse no projeto. Esses “interessados” deverão contribuir
quanto à formulação das perguntas que vão orientar a avaliação. Formuladas
as perguntas, definem-se os indicadores de resultado do projeto;
Passo 4 – Levantamento de informações – O levantamento de informações
compreende a identificação de fontes, a escolha dos métodos e a construção
dos instrumentos de coleta de informações. Um especialista pode ser útil
para ajudar a definir o método, elaborar instrumentos e treinar a equipe para
a coleta;
Passo 5 – Análise de fatos e informações – Após a coleta das informações,
os dados levantados e os fatos observados devem ser sistematizados e
analisados, até com a ajuda de um especialista, se necessário;
Passo 6 – Elaboração do relatório e divulgação – Após a análise, a equipe de
avaliação deve apresentar suas conclusões e possíveis recomendações.
Diversas formas de apresentação dos achados da avaliação deverão ser
previstas, visando a atender as distintas necessidades de informação dos
diferentes interessados no projeto;
Passo 7 – Utilização e disseminação – A equipe deve definir a forma de
discutir, utilizar e divulgar os resultados. Jornais, seminários, reuniões de
coordenação devem servir de foro para debates e decisões. (MARINO,
2003, p.26)
3 Estudo de Caso
3.1 Histórico do Projeto Caminhos de Barro
O Projeto Caminhos de Barro - Disseminação da Arte–Cerâmica, instituído pela
Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), teve início no ano 2000, na comunidade
de São Sebastião, com o objetivo de criar um espaço que proporcionasse a formação artística
e cultural dos moradores das comunidades desfavorecidas da Baixada Campista, contribuindo
para o desenvolvimento econômico local. A partir das ações propostas, o projeto visa o
investimento numa alternativa de geração de renda e inserção na cadeia produtiva dos
familiares dos trabalhadores da indústria cerâmica. A razão para sua elaboração foi a
precariedade das condições de vida a que estão sujeitas as famílias dos oleiros, e pela
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inexistência de oportunidades para mulheres e jovens, contingentes significativos não
absorvidos pela cadeia produtiva, ou a ela incorporados de maneira precária. O alcance das
ações, na promoção da inclusão social através da arte cerâmica, impulsionou outro
investimento que foi a criação de um Núcleo de Cerâmica Artística, nas dependências da
UENF, atualmente em efetivo exercício.
No município de Campos dos Goytacazes, Alexandre (2015, p.5) destaca que
“ocorreram poucas mudanças do ponto de vista tecnológico no setor de cerâmica vermelha
nos últimos anos”. No entanto, a atuação da UENF através dos laboratórios de Engenharia
Civil, de Engenharia de Materiais e de Ciências Humanas, em conjunto com a ação do
SEBRAE-RJ, vêm motivando algumas transformações nesse setor de produção na região
Norte Fluminense, tais como a diversificação da produção com a integração da população em
atividades artísticas e artesanais, resgatando dessa forma a tão idealizada economia solidária.
Os empregos atualmente gerados pelas indústrias cerâmicas em Campos dos
Goytacazes abrangem uma determinada faixa etária de trabalhadores, ou seja, com um perfil
capaz de desenvolver trabalhos que exigem esforço físico, porém com baixo valor agregado,
condicionando em média 2,5kg de argila a R$0,60. Dessa forma, o contingente de excluídos
desse processo tradicional de produção, por não atender ao perfil exigido, foi incorporado aos
projetos complementares, como o de arte cerâmica ou artesanato. Neste sentido, independente
da idade ou grau de instrução, cuja mão de obra é de caráter extremamente diversificado e
humanizado, onde o talento, a pesquisa e as habilidades puderam ser partilhados em grupo, a
produção de peças com maior valor agregado promoveu um resgate socioeconômico e
cultural dos participantes. Em sua dissertação de mestrado intitulada Indústria Cerâmica de
Campos: um retrato em branco e preto, Coutinho (2006) enfatiza que:
Uma opção para a indústria cerâmica de Campos é a produção de materiais
que possuam maior valor agregado, e os pesquisadores da UENF já
desenvolveram trabalhos neste sentido, bastando que as argilas da região
sejam corrigidas em seus teores de fundentes. Tal opção, porém, demandaria
aportes de recursos carriados para a melhoria e capacitação da mão-de-obra,
pesquisas, "design" e novas plantas industriais. (COUTINHO, 2006, p.35)
O trabalho de capacitação dos atores envolvidos no Projeto Caminhos de Barro conta
com a participação de equipes de multiplicadores, de voluntários e agentes ligados à
Universidade, que oferecem aulas sobre as diferentes técnicas que envolvem o trabalho oleiro,
tendo capacitado, ao longo de sua existência, mais de seis mil pessoas na arte e na cultura do
barro.
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A Associação de Artesãos Caminhos de Barro foi criada, no ano de 2013, com o
intuito de dar suporte ao projeto, no desenvolvimento e apoio às ações de empreendedorismo,
cuja finalidade era a de buscar aporte financeiro através da captação de recursos junto aos
órgãos de fomento (FAPERJ, CNPq, PETROBRAS, SEBRAE). Desta forma, a Associação,
alinhada com os objetivos do Projeto Caminhos de Barro, também passou a auxiliar na
demanda de participações em eventos e exposições do ramo. No sentido de promover a
inclusão social e a geração de renda, a Associação passou a orientar as famílias dos artesãos
na comercialização das peças produzidas, ficando com uma doação de 30% do valor das
vendas para cobrir gastos com manutenção e aquisição de matérias-primas, despesas em
eventos, locomoção, alimentação e demais atividades.
3.2 Avaliação do Projeto Caminhos de Barro
Conforme apresentado anteriormente, para os três momentos da avaliação (marco
zero, processo e resultados), procedeu-se às regras dos sete passos do processo de avaliação.
A partir de então, as dificuldades identificadas através da coleta de dados podem ser
descritas nas diferentes fases de avaliação da seguinte maneira:
Marco zero - dentre os problemas detectados, foi possível observar que os
participantes do projeto convivem com a incerteza na execução do pagamento das bolsas de
extensão (FAPERJ) e com a indisponibilidade orçamentária para participação em eventos,
além do fato da maioria dos artesãos multiplicadores do Projeto residir em São Sebastião (4º
distrito de Campos dos Goytacazes), que fica a cerca de 30 km do Centro do município, o que
dificulta o acesso à sede do projeto. Os indicadores sociais revelam comunidades carentes que
vivem às margens das olarias da região, que são responsáveis pela fabricação de telhas e
tijolos para o abastecimento de parte das edificações do estado do Rio de Janeiro. Pelo fato da
comunidade estar diretamente ligada às condições de trabalho de seus familiares, que são
funcionários destas empresas, os participantes se veem necessitados em morar no distrito de
São Sebastião, que além de possuir um transporte público ineficiente, convive com espaços
escolares precários, configurando segmentos da população com baixo grau de escolaridade.
Avaliação de processo – com relação à percepção que os participantes têm do projeto,
todos veem como uma excelente oportunidade de mudança e crescimento, pois os artesãos,
enquanto novos atores sociais vinculados à universidade por meio de bolsas que lhes
proporcionam uma renda mínima, passam a atuar como professores de artesanato, se sentindo
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orgulhosos em poder ensinar a arte cerâmica. Um exemplo de crescimento e superação é da
artesã Euzi Licassálio, 49 anos, que ingressou no projeto no ano 2000. Após dez anos longe
do mercado de trabalho, ela teve a oportunidade de voltar a ter seu próprio dinheiro depois
que começou a trabalhar com o artesanato, tendo concluído a faculdade de Recursos
Humanos, que foi custeada com a renda do trabalho artesanal. Após anos apenas cuidando dos
filhos, Euzi afirma que “chega uma hora em que a gente não quer mais viver uma vida de
dependência”, tendo, a partir daí, decidido fazer o curso de arte cerâmica. Complementando,
Euzi enfatiza: “não foi fácil mudar a rotina, mas foi a melhor escolha que fiz”. Atualmente, a
entrevistada ministra aulas de arte cerâmica em dois núcleos do projeto.
Com relação aos fatores positivos e negativos das atividades do projeto, a geração de
renda, por possibilitar aos artesãos melhores condições de vida através da produção e
comercialização dos artefatos, foi considerada baixa pelos atores envolvidos, configurando-se,
portanto, como um ponto negativo. Neste sentido, foram identificados vários fatores que
contribuem para uma geração de renda insatisfatória, tai como: a inexistência de ponto
turístico público para comercialização das peças; a carência de equipamentos que pudessem
dinamizar a produção das peças, tanto nos núcleos do projeto, quanto em escolas públicas e
particulares; a ausência de um portfólio impresso e digital, para divulgação da produção; a
escassez de recursos provenientes de convênios com órgãos públicos ou privados e a ausência
de uma política de marketing bem estruturada.
No que se refere aos pontos fortes, no processo avaliativo, foi possível observar que a
inclusão social é considerada satisfatória, pela quantidade de núcleos nos quais o projeto atua,
e pelo expressivo número de participantes que são atendidos. Outro fator positivo do projeto é
o despertar da consciência crítica nos participantes, no trabalho cotidiano, dos valores sociais,
artísticos, pedagógicos, terapêuticos, culturais e psicológicos.
Como relação a melhorias no processo de implementação do projeto, a avaliação
observou que um dos principais fatores que podem contribuir para o desenvolvimento de
ações mais eficazes e empreendedoras, de maneira a intensificar a atuação do Projeto
Caminhos de Barro, é o fortalecimento da Associação Caminhos de Barro, através da
captação de recursos junto a órgãos públicos e privados, atuando como gestora das ações a
serem revistas ou implementadas.
Avaliação de resultados - os resultados previamente estabelecidos, conforme descrito
anteriormente, estão sendo cumpridos. Entretanto, a avaliação do processo apontou fatores
negativos, realçando a necessidade de uma autonomia financeira que possa fortalecer a
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produção e a comercialização dos artefatos, atraindo novos atores para o projeto e,
consequentemente, aumentando o seu campo de atuação dentro dos seus objetivos.
Os indicadores de resultados são demonstrados, anualmente, na Semana de Extensão
UENF/IFF/UFF, onde são apresentados os trabalhos executados pelo projeto, com a
participação dos alunos que são atendidos nos diversos polos. Quanto à produção dos
artefatos, em todos os anos são apresentados novos modelos. Como exemplo, em 2014 foi
idealizada uma panela de barro com impressão de crochê, que já está sendo comercializada, e
no ano de 2015, foi produzido um porta-garrafas para bebidas. Todos os artefatos passam por
testes para serem inseridos na fabricação.
Para a melhoria e continuidade do Projeto Caminhos de Barro, torna-se imperioso
buscar alternativas de crescimento e fortalecimento de sua atuação, no sentido de promover a
inclusão social e a geração de renda das comunidades assistidas. Dessa forma, em conjunto
com o coordenador do projeto e sua equipe, foram definidas as seguintes ações:
Promover o fortalecimento da marca Caminhos de Barro, implementando uma
estratégia de marketing bem estruturada;
Criar um portfólio em modelo digital e impresso, para divulgação da produção;
Ampliar as parcerias com instituições, como o SEBRAE, SENAI,
PETROBRAS, e outras instituições, para reforçar a capacitação dos envolvidos
no projeto, a captação de recursos e a comercialização das peças.
Estender o projeto para as escolas públicas e/ou privadas, para disseminação do
conhecimento da arte cerâmica, no currículo escolar, incentivando a
participação de mais pessoas.
Propiciar a instalação de fornos para a queima das peças, nas unidades
escolares atendidas, como extensão do projeto.
Fortalecer a Associação Caminhos de Barro, para apoiar e desenvolver ações
de empreendedorismo, aumentando o número de associados e captação de
recursos;
Adquirir máquinas e equipamentos, como veículo, câmara fotográfica,
mobiliários e computadores.
Promover o aumento da comercialização das peças produzidas, com a
participação em eventos como exposições, feiras e bazares sociais.
Passo 1 – Decisão sobre o foco da avaliação: avaliar a geração de renda dos artesãos.
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Passo 2 – Formação da equipe: o processo de avaliação foi conduzido pela presidente
da Associação de Artesãos Caminhos de Barro. Os autores deste trabalho contribuíram
ativamente com o processo.
Passo 3 – Identificação dos interessados, das perguntas e dos indicadores: foram
entrevistados o coordenador do Projeto, a equipe administrativa, e os artesãos. A elaboração
das entrevistas e dos questionários buscou identificar os fatores que motivavam a baixa
geração de renda dos participantes do projeto.
Passo 4 – Levantamento de informações: foram realizadas as entrevistas, e aplicados
os questionários.
Passo 5 – Análise de fatos e informações: a partir das entrevistas realizadas, foi
possível observar que o Projeto Caminhos de Barro, ao longo dos seus quinze anos de
existência, tem realizado inúmeras atividades de extensão. No entanto, as dificuldades para a
efetivação dessas ações se revelaram na escassez dos recursos financeiros, na
indisponibilidade de veículos, no tempo restrito dos participantes dedicado ao projeto, e de
outros entraves eventuais que atuam sobre um projeto institucional de universidade pública.
Mesmo em face de todos os obstáculos enfrentados, foram desenvolvidas as seguintes ações:
Manutenção da oficina Núcleo/UENF com os equipamentos já existentes e
aquisição de novos, criando ambiente propício para criação e confecção da arte
cerâmica;
Oficina Núcleo/UENF ministrando curso básico de arte cerâmica gratuito, com
duração de 128h a cada semestre e emissão de certificados;
Organização de eventos culturais e exposições, incluídos no calendário cultural
da cidade, de modo a dar visibilidade e consolidar um mercado consumidor de
arte cerâmica em Campos e região;
Criação e desenvolvimento de stands para as exposições/vendas das peças em
eventos dentro e fora da UENF;
Suporte à logística para participação em eventos (feiras e exposições);
Divulgação da oficina nas escolas de Campos dos Goytacazes, com vistas à
identificação de prováveis interessados na formação para o desenvolvimento e
a docência na arte cerâmica;
Divulgação na mídia local (redes de televisão, rádio, jornais e sites) e nas redes
sociais das participações em eventos, assim como todas as ações desenvolvidas
pelo projeto;
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Atividades de inclusão social atendendo à demanda de instituições
assistenciais;
Localização e identificação de jazidas de matérias primas para produção dos
artefatos cerâmicos e dos engobes;
Caracterização de argilas através de ensaios tecnológicos, testes com corpos de
prova produzidos com diferentes argilas em laboratório;
Planejamento e o controle da logística do artesanato produzido no âmbito do
projeto/satélites, mantendo registros em arquivos, inclusive do público alvo
atendido.
No que se refere à geração de renda, o trabalho de artesanato desenvolvido pelo
Projeto Caminhos de Barro vem buscando transformar a realidade dos artesãos assistidos,
dando oportunidade de trabalho a todos, independente de idade ou condição física. Segundo
os dados da entrevista realizada com o Professor Jonas Alexandre, coordenador do projeto, a
atividade artesanal aumenta o valor agregado da matéria-prima, o barro, de R$0,60 para
R$150,00 em média, quando comparados à mesma massa utilizada para produção de um
tijolo ou telha. Assim, por exemplo, um tijolo consome aproximadamente 2,5kg de argila e é
vendido a R$0,60. Essa mesma quantidade de matéria prima produz peças de artesanato que
podem ser vendidas a R$150,00 em média, podendo alcançar valores ainda mais elevados.
As peças produzidas pelos artesãos são comercializadas na sede do projeto, que fica
situada no campus da UENF, e ocasionalmente, nos eventos em que participam. Além da
geração de renda para os artesãos, o projeto tem relevância no que concerne à inclusão social.
O Projeto Caminhos de Barro vem direcionando seu foco para o aproveitamento de uma
“vocação” da Baixada Campista, o trabalho com o barro, e vem atuando também no sentido
de modificar a realidade local facilitando e estimulando, via arte-educação para a cidadania, o
encorajamento da população excluída na busca de alternativas, criativas e solidárias, para
materializar melhorias na qualidade de vida da comunidade.
Nesse contexto, associado à necessidade de se restaurar, em seu sentido amplo, a
dignidade no trabalho, bem como estabelecer novas perspectivas de futuro para diversas
comunidades, foram criados núcleos do Projeto Caminhos de Barro em outras instituições no
município de Campos dos Goytacazes:
C. E. Leôncio Pereira Gomes – Colégio Estadual situado em São Sebastião (4° distrito
de Campos dos Goytacazes) onde além do alunado da rede pública, a comunidade
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também recebe aulas de arte cerâmica em oficina instalada pelo projeto desde 2001.
Atualmente, são atendidas 120 pessoas no colégio;
Educandário São José Operário – Instituição de Apoio a Deficientes Visuais.
Orientação, Mobilidade (OM) e relacionamento social são os principais ensinamentos
que crianças, adolescentes, adultos e idosos com deficiência visual recebem no
Educandário, além de oficinas de bateria e modelagem em argila. Atualmente, são
atendidas 20 pessoas;
Instituição de Apoio e Orientação aos Excepcionais (APOE) - O trabalho realizado
pela APOE visa o estímulo, aprendizagem e socialização dos assistidos. Atualmente a
APOE atende cerca de 400 pessoas, incluindo bebês, crianças, jovens, adultos e
idosos, onde o projeto alcança a 24 pessoas;
E. M. Francisco de Assis – Escola pública municipal situada em comunidade vizinha à
UENF, onde grupos de alunos com déficit de aprendizado têm a oportunidade de
receber aulas de arte cerâmica na oficina sede do Projeto Caminhos de Barro, instalada
no Campus da Universidade. O atendimento ocorre em 03 turmas, abrangendo 90
alunos;
Asilo Nossa Senhora do Carmo – Instituição que abriga e assiste aos idosos. A casa é
mantida com recursos da Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes e através de
doações. No asilo o projeto atende a aproximadamente 15 internos;
Obra do Salvador - É uma associação, com reconhecimento de utilidade pública nas
esferas municipal, estadual e federal. A partir de 2007, o público alvo da instituição
passou a ser de jovens em situação de vulnerabilidade social. Em parceria com o
CMAS (Conselho Municipal de Assistência Social), CMPDCA (Conselho Municipal
de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente) e FIA (Fundação para a
Infância e Adolescência), desenvolve projetos de iniciação profissional, preparando
jovens para a inclusão no mercado de trabalho, através do Programa Jovem Aprendiz,
implantado pela instituição em 2007. Atualmente, o projeto atende a 30 pessoas.
Passo 6 - Após a análise das informações e dos dados levantados, a equipe da pesquisa
elaborou, para divulgação, um relatório com os principais pontos positivos e negativos do
projeto, bem como um conjunto de sugestões de ações, que será encaminhado pelo
Coordenador do projeto, para a Pró-Reitoria de Extensão da UENF. Este relatório
possibilitará que a instituição tenha conhecimento das dificuldades por que passa o projeto e
venha contribuir para o processo de reestruturação.
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Passo 7 - Sobre a utilização e disseminação do relatório, será feita uma reunião com o
coordenador do projeto e sua equipe, bem como com os artesãos, para a apreciação dos
resultados obtidos com a avaliação realizada.
4 Conclusões
Na literatura que trata do tema da avaliação de projetos sociais, inúmeros autores
apresentam estudos diferenciados, que permitem a identificação do modelo que melhor se
aplica às especificidades do projeto que se pretende avaliar. Ainda que as diversas
metodologias que tratam deste assunto primem por um mesmo fio condutor, que é o viés
social, existem múltiplas abordagens. Dentre essas abordagens, se destacam a metodologia
voltada para a avaliação de projetos sociais governamentais, bem como, estudos
metodológicos de avaliação de projetos do Terceiro Setor, que corresponde às instituições
com preocupações e práticas sociais sem fins lucrativos, e ainda, os autores que pesquisam
metodologias de avaliação de projetos sociais ligados a empresas privadas ou organizações
com fins lucrativos.
Considerando os modelos de avaliação de projetos sociais acima mencionados, este
trabalho optou por utilizar a metodologia de avaliação de projetos sociais proposta por Marino
(2003), em função de sua aplicabilidade ao Projeto Caminhos de Barro, objeto de estudo do
presente artigo. A partir do processo de avaliação realizado no estudo de caso do Projeto
Caminhos de Barro, os resultados encontrados denotam que há um grande potencial a ser
explorado, no sentido de se alavancar e fomentar mudanças na comunidade da Baixada
Campista, através da aprendizagem e da disseminação da arte cerâmica. A análise permitiu
observar que a atividade relacionada à arte cerâmica pode absorver mais participantes,
independente de sua condição social ou grau de instrução. Neste sentido, os resultados
identificaram, também, que o campo de atuação do projeto pode ser ampliado com a inserção
do ensino da arte cerâmica nas escolas públicas e/ou privadas, além dos núcleos já existentes,
formando novos artesãos, que podem atuar como multiplicadores do projeto, contribuindo,
assim, para a inclusão social e a geração de renda das populações vulneráveis.
Dentre os fatores que dificultam a ampliação do campo de atuação do projeto, se
destaca a escassez de recursos financeiros. Assim, foi criada a Associação de Artesãos
Caminhos de Barro que, alinhada com os objetivos do projeto, poderá atuar na captação e na
gestão de recursos junto a órgãos públicos ou privados, para um melhor aparelhamento das
instalações, com a aquisição de novos maquinários e equipamentos, incentivando a adesão de
novos membros e planejando ações que possam aumentar a capacitação dos envolvidos.
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Para a maioria dos participantes, em se tratando de pontos negativos, se destaca a
baixa capacidade de geração de renda. Sendo a geração de renda proveniente da
comercialização das peças produzidas, a pesquisa pode observar a necessidade de
implantação de um ponto turístico para a realização das vendas, assim como a
implementação de uma política de marketing bem estruturada que possa atrair um maior
público consumidor.
E finalmente, diante da análise realizada, este trabalho conclui que, além do apoio e
do suporte tecnológico oferecidos ao projeto pelos Laboratórios de Engenharia Civil, de
Engenharia de Materiais e de Ciências Humanas, da Universidade Estadual do Norte
Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), a implementação de novas ações sugeridas a partir da
presente avaliação poderá servir de referência para a expansão do Projeto Caminhos de
Barro, consolidando-o como um importante instrumento de intervenção social,
contribuindo para a redução dos índices de pobreza na região, e para o desenvolvimento
socioeconômico e cultural do município de Campos dos Goytacazes.
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Cerâmica Caminhos de Barro – Projeto de Extensão da UENF/PROEX, 2015.
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XAVIER, Carlos Magno da Silva. Metodologia de Gerenciamento de Projetos no
Terceiro Setor – uma estratégia para a condução de projetos. Rio de Janeiro: Brasport,
2008.
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