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CLAUDIO VINICIUS DA SILVA MOREIRA ESTÁDIO GODOFREDO CRUZ, CAMPOS DOS GOYTACAZES-RJ: IDENTIDADE DESCONSTITUÍDA PELO CAPITAL PRIVADO. Monografia apresentada ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense, Câmpus Campos- Centro, como requisito parcial para a conclusão do curso de Licenciatura em Geografia. Orientador: Msc. Gustavo Siqueira da Silva Campos dos Goytacazes/RJ 2017

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CLAUDIO VINICIUS DA SILVA MOREIRA

ESTÁDIO GODOFREDO CRUZ, CAMPOS DOS GOYTACAZES-RJ:

IDENTIDADE DESCONSTITUÍDA PELO CAPITAL PRIVADO.

Monografia apresentada ao Instituto Federal

de Educação, Ciência e Tecnologia

Fluminense, Câmpus Campos- Centro, como

requisito parcial para a conclusão do curso de

Licenciatura em Geografia.

Orientador: Msc. Gustavo Siqueira da Silva

Campos dos Goytacazes/RJ

2017

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CLAUDIO VINICIUS DA SILVA MOREIRA

ESTÁDIO GODOFREDO CRUZ, CAMPOS DOS GOYTACAZES-RJ:

IDENTIDADE DESCONSTITUÍDA PELO CAPITAL PRIVADO.

Monografia apresentada ao Instituto federal de

Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense

como requisito parcial para conclusão do

Curso de Licenciatura em Geografia.

Aprovada em de agosto de 2017.

Banca Avaliadora:

_________________________________________________________

Gustavo Siqueira da Silva (Orientador)

Mestre em Geografia-UFSM

__________________________________________________________

__________________________________________________________

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Dedico este trabalho a minha família, aos meus

pais e avós pelo o amor e cuidado em minha

formação como pessoa e cidadão ciente dos meus

direitos e deveres sociais; ao meu irmão Adriano

(in memorian); à minha querida filha Yasmin e

esposa Ana Paula, pela compreensão de que

várias vezes abdiquei de sua presença, para a

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realização desta etapa de minha vida, a formação

acadêmica.

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense,

Campus Campos-Centro, pelo suporte técnico e físico e a todo corpo docente do curso de

Licenciatura em Geografia, em especial ao professor Gustavo Sirqueira pela paciência na

orientação e incentivo que tornaram possível a conclusão desta monografia.

Agradeço a todos os amigos e colegas de curso pelos momentos compartilhados ao

longo desses anos.

Agradeço ao presidente do Americano Futebol Clube Sr. Carlos Abreu por

disponibilizar de seu tempo para a concessão de entrevista para o trabalho e ao Sr. Roberto

Pessanha diretor executivo do clube.

Agradeço a imensa torcida do Americano Futebol Clube em especial ao vice-

presidente da torcida organizada La Guarda Alvinegra Ítalo Berenger ao qual pude entrevistar,

vivenciar, compartilhar toda emoção e paixão por este clube centenário da cidade de Campos

dos Goytacazes.

A todos citados e os que ficaram na memória nossos sinceros agradecimentos.

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"à vida é um constante movimento de desterritorialização e

reterritorialização, ou seja, estamos sempre passando de um

território para outro, abandonando territórios, fundando novos".

Rogério Haesbaert

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RESUMO

O processo de desterritorialização que sofreu o Americano Futebol Clube na cidade de

Campos dos Goytacazes é um exemplo entre milhares ocorridos pelo mundo afora, estádios

de futebol como o do Sarriá, na Espanha; Gasómetro antiga propriedade do San Lorenzo da

Argentina ou o Brinco de Ouro da Princesa de propriedade do Guarani F.C do Estado de São

Paulo. Clubes endividados ao longo de sua história por más administrações têm como

justificativas para a solução de seus problemas econômicos ou atender as novas normativas do

futebol, vender seu maior bem, seu estádio, sua casa. Porém diante deste tramite existe um

forte apelo da especulação imobiliária nos quais agentes públicos e privados veem grandes

oportunidades de auferirem lucros em grandes áreas 'encaixotadas' dentro do perímetro

urbano residencial. Na contramão desta, os torcedores do Americano resguardados nas

lembranças do Glorioso do Parque Tamandaré na qual expressavam suas emoções social e

espacialmente em torno do clube. Tendo em vista a identidade territorial afetada pelas

demandas especulativas do solo urbano, cabe investigar e analisar através dos processos de

desterritorialização/ reterritorialização do clube para periferia de Guarus, a percepção da

identidade do torcedor perante este novo momento que atravessa o clube. Para o referido tema

foi feita uma abordagem bibliográfica com base em livros, artigos acadêmicos e reportagens,

além de entrevistar membros de torcidas, dirigentes e simpatizantes do Americano Futebol

Clube.

Palavras-chaves: Americano Futebol Clube. Estádio Godofredo Cruz. Desterritorialização.

Reterritorialização. Identidade Territorial.

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ABSTRACT

The process of deterritorialization suffered by the Americano Futebol Clube in the city of

Campos dos Goytacazes is an example of thousands of people around the world, soccer

stadiums like Sarriá in Spain; Former gasometer owned by the San Lorenzo of Argentina or

the Gold Earring of the Princess owned by Guarani F.C of the State of São Paulo. Clubs

indebted throughout their history by more administrations have as justifications for the

solution of their economic problems or to meet the new norms of football, to sell their greatest

good, their stadium, their home. However, in the face of this process there is a strong appeal

of real estate speculation in which public and private agents see great opportunities to make

profits in large 'boxed' areas within the residential urban perimeter. Against this, the fans of

the American sheltered in the memories of the Glorious Park Tamandaré in which they

expressed their emotions socially and spatially around the club. Given the territorial identity

affected by the speculative demands of urban land, it is incumbent to investigate and analyze

through the processes of deterritorialization / reterritorialization of the Guarus periphery club,

the perception of the identity of the fan before this new moment that crosses the club. For this

topic a bibliographical approach was made based on books, academic articles and reports,

besides interviewing members of cheerleaders, leaders and sympathizers of the Americano

Football Club.

Keywords: Americano Football Club. Stadium Godofredo Cruz. Deterritorialization.

Reterritorialization. Territorial identity

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LISTA DE SIGLAS

A.C- Antes de Cristo

ACEA- Associação Campista de Esportes Atléticos

ACET- Associação Campista de Esportes Terrestres

AFC Ajax- Amsterdamsche Football Club Ajax

BNH- Banco Nacional de Habitação

BR 101- Rodovia Federal

CBF- Confederação Brasileira de Futebol

CBD- Confederação Brasileira de Desporto

CEA- Centro de Educação Ambiental

Cia. City- Companhia City

D.C- Depois de Cristo

FERJ- Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro

F.C- Futebol Clube

IPTU- Imposto Predial e Territorial Urbano

LCD- Liga Campista de Desporto

LCF- Liga Campista de Futebol

PDUC- Plano Diretor Urbano de Campos dos Goytacazes

ST Jakob Park- Santo Jakob Parque

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LISTA DE FOTOS

Foto 1. Sandygate Road, primeiro estádio de futebol do mundo construído na Inglaterra

Foto 2. Estádio multifuncional St. Jakob Park, propriedade do time suíço F.C Basel

Foto 3. Amsterdam Arena, estádio do AFC Ajax

Foto 4. Estruturas das antigas arquibancadas e antigas formas de torcer pelo time

Foto 5. Arquibancada remodelada do Maracanã com novas formas comportamentais

Foto 6. Zico do Clube de Regatas do Flamengo na comemoração de um com os geraldinos

Foto 7. Especulação imobiliária e comércio na Av. 28 de Março

Foto 8. Processo de verticalização na Avenida Dom Bosco em 2015

Foto 9. Terreno ocioso a espera de valorização na Avenida Dom Bosco

Foto 10. Verticalização na antiga parte norte do Estádio Godofredo Cruz

Foto 11. Protesto simbólico da torcida simbolizando o enterro do Estádio

Foto 12. Edifício Concorde

Foto 13. A margem esquerda da Br-101casas padrão construtivo baixo

Foto 14. Estádio Ary de Oliveira e Souza na década de 50

Foto15. Compra e inauguração do Estádio Godofredo Cruz

Foto 16. Time do Americano Eneacampeão de 1975.

Foto 17: Estádio Godofredo Cruz na década de 70

Foto18. Ruínas do estádio Godofredo Cruz

Foto 19. Ruínas do Godofredo Cruz

Foto 20. CT do Americano e sua fachada moderna

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LISTA DE IMAGENS

Imagem 1: Delimitação geográfica do Bairro Parque Dom Bosco

Imagem 2: Vista área do Centro Esportivo do Americano Futebol Clube.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Anuncio da Ideal Negócios Imobiliários

Figura 2: Empreendimento imobiliário MRV, Parque Rodoviário

Figura 3: Empreendimento imobiliário da Contrusan/IMBEG

Figura 4: Vista área do empreendimento

Figura 5: frente do shopping na Avenida 28 de Março

Figura 6: edifícios residenciais

Figura 7: noticia sobre a rivalidade entre Americano e Goytacaz

Figura 8: noticia sobre a proposta de fusão dos times, Americano e Goytacaz

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Análise da questão de como originou a paixão pelo clube

Gráfico 2. Quanto ao conhecimento sobre as origens do clube

Gráfico 3. Recordações que tenham do Estádio Godofredo Cruz

Gráfico 4. A modernidade do Centro de treinamento esportivo ou a tradição do antigo Estádio

Godofredo Cruz

Gráfico 5. Comparativo de identidades do clube (Glorioso do Parque ou clube de elite)

Gráfico 6. A ida para o distrito de Guarus e a questão da identidade

Gráfico 7. Perspectivas do cube para o futuro.

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SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS ................................................................................................................... 9

LISTA DE FOTOS ................................................................................................................... 10

LISTA DE IMAGENS ............................................................................................................. 11

LISTA DE FIGURAS .............................................................................................................. 12

LISTA DE GRÁFICOS ............................................................................................................ 13

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 15

1.GEOGRAFIA E FUTEBOL: CONCEITOS E ABORDAGENS ......................................... 18

1.1.Geografia, território e seus desdobramentos ................................................................................... 18

1.2- Estádio de futebol: objeto referencial de poder ............................................................................. 22

2. A CIDADE NA ORDEM CAPITALISTA .......................................................................... 29

2.1 Espaços públicos /privados da cidade. ............................................................................................ 30

2.2 A especulação do capital no estádio Godofredo Cruz. .................................................................... 34

2.3 A reterritorialização para o distrito de Guarus. ............................................................................... 44

3. ESTÁDIO GODOFREDO CRUZ: (DES) CONSTITUIÇÃO DE UMA IDENTIDADE ... 48

3.1As origens do futebol campista. ....................................................................................................... 48

3.2 O derby Goytacaz/Americano na identidade do futebol campista. ................................................. 51

3.3 Glorioso do Parque Tamandaré:(des) construção de uma identidade. ............................................ 58

3.4 Resultados obtidos na aplicação das entrevistas. ............................................................................ 66

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 75

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: ........................................................................................ 77

APÊNDICE .............................................................................................................................. 83

APÊNDICE 1: Questionário para coleta de dados da torcida do Americano Futebol Clube ................ 84

APÊNDICE 2: Entrevista com o presidente do Americano Futebol Clube Carlos Abreu .................... 86

APÊNDICE 3: Entrevista com Roberto Pessanha Diretor do Americano Futebol Clube.................... 91

APÊNDICE 4: Fotos do Trabalho de Campo ....................................................................................... 96

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INTRODUÇÃO

O Futebol é analisado no presente trabalho não apenas como um elemento constituidor

de uma identidade futebolística ao longo de uma temporalidade, mas também “como um

elemento de dominação do espaço urbano, de transformações socioespaciais, principalmente

dialogando com agentes sociais ‘extracampo’” (JESUS, 1999).

Os estádios de futebol, locais de experiência coletiva e individual desse esporte são

reprodutores socioeconômicos urbanos, participando ativamente da vida cotidiana tanto no

plano simbólico como no plano de ação. Assim pela dimensão física que ocupam no solo

urbano os estádios de futebol assumem um importante papel no mercado de terras urbanas,

seja servindo como um indutor de valorização de terrenos em processo de ocupação ou sendo

um elemento de cobiça da mercantilização da cidade localizados em áreas de alto padrão

imobiliário.

Contrapondo-se ao seu valor de troca estão os torcedores, aqueles que se aglutinam em

torno de um clube através da afetividade e da identidade futebolística (CAMPOS, 2008,

pág.261). Dessa forma, segundo Mascarenhas

Como espaço apropriado pelos usuários, que nem sempre querem se reduzir a meros

consumidores e passivos observadores, mas participar ativamente da festa, inclusive

expressando coletivamente suas opiniões e reivindicações. O rico movimento de

apropriação do estádio faz dele um elemento singular na reprodução social da

cidade. (MASCARENHAS, 2013, p.155)

Isto faz com que o estudo relacionado ao fenômeno futebol seja de suma importância

para a ciência geográfica, pois os estádios de futebol pelo seu porte físico imponente no tecido

urbano das cidades capitalistas dialogam espacialmente com atores políticos, sociais,

econômicos além congregar um viés cultural identitário estabelecido pela aglomeração de

torcedores em seu entorno.

Coloca-se em questão no trabalho que os estádios de futebol submetidos a lógica da

cidade capitalista, interfere diretamente na questão identitária do torcedor.

O conceito de território em sua visão multidimensional ressaltando as disputas de

poder no espaço é importante para elucidação do trabalho. Haesbaert (2007) cita neste caso o

território como híbrido entre o material e o ideal, natureza e sociedade e suas múltiplas esferas

(política, econômica, cultural etc.). O autor cita também nesta perspectiva o território sendo

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concebido por múltiplas relações de poder, ao mais material das relações econômico-politicas

ao poder mais simbólico das relações de ordem mais estritamente cultural.

Neste sentido a geografia critica contribui para o trabalho com o conceito de território

múltiplo, mesclando a sua concepção mais tradicional, ou seja, materialista com a sua

representação de valor simbólico, não excluindo as relações de poder nestas perspectivas

geográficas.

A presente pesquisa foi pautada em uma metodologia baseada em pesquisa

bibliográfica, trabalho de campo e entrevistas. Em relação aos referenciais bibliográficos

foram abordados artigos, monografias, livros e revistas tanto referendados a temas

geográficos, quanto relacionado ao futebol. Em referência ao trabalho de campo foi elaborado

um questionário com a finalidade de trabalhar a memória de seus torcedores em relação a

história do clube, neste sentido quanto aos entrevistados foram selecionadas pessoas que de

alguma forma tinham uma afinidade com o Americano, porém como principal abordagem sua

torcida.

No primeiro capítulo da pesquisa é trabalhado o conceito de território e seus

desdobramentos como desterritorialização, reterritorialização, territorialidade e identidade

territorial não desconsiderando as relações de poder propiciadas por um estádio de futebol.

O segundo capítulo tratará do processo de valorização do território no qual se

encontrava o antigo estádio Godofredo Cruz, até a sua mudança para Guarus. A compreensão

da cidade em sua ordem capitalista e seus espaços públicos e privados contribui também na

elucidação do capítulo.

O terceiro capítulo, além de trabalhar as origens do futebol da cidade de Campos dos

Goytacazes, o mesmo analisa como foi construída a identidade do Americano Futebol Clube,

não deixando de abordar principalmente a relação do antigo estádio Godofredo Cruz, com sua

torcida.

Foi preparado um roteiro de entrevistas com os torcedores do Americano Futebol

Clube elementos dotados de uma subjetividade que ao longo dos anos mantiveram uma

relação intensa, seja torcendo das arquibancadas pelo time ou atuando de outras formas em

torno do antigo estádio. O principal foco nesta ocasião foi levantar material sobre a relação

que tinham com o estádio Godofredo Cruz, como lidavam com as novas práticas e

transformações, além de analisar de que maneira a nova morfologia do lugar altera o modo de

relação do torcedor com o clube, ou seja, quais as percepções que os torcedores entrevistados

possuem da referida mudança do clube para o distrito de Guarus.

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Apresenta-se desta forma como objetivo do presente trabalho contribuir com a ciência

geográfica, através da articulação dos seus conceitos com o fenômeno social do futebol; como

objetivos específicos tem-se os de analisar a cidade capitalista e seu processo de reprodução

espacial e como o mesmo afeta as relações de sociabilidade, e o de analisar a identidade do

torcedor do Americano Futebol Clube perante a permuta do bairro Parque Tamandaré para o

distrito de Guarus.

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1.GEOGRAFIA E FUTEBOL: CONCEITOS E ABORDAGENS

1.1. Geografia, território e seus desdobramentos

No momento cabe salientar conforme Jesus (1999, p.4) que a ciência geográfica e o

seu “casamento com os esportes”, já possui uma base de análise adequada e com grandes

perspectivas futuras de seu crescimento. Fato devido e proporcionado principalmente pela a

realização de megaeventos esportivos como a Copa do mundo e a Olimpíada realizada em

nosso território, que contribuíram para uma série de publicações a respeito do tema. O autor

ainda comenta que o esporte na atualidade vem em uma magnitude crescente despertando

atenção de diversos ramos da produção científica, com a geografia oferecendo um “olhar”

peculiar, sobre este rico e vasto campo de investigação.

No presente trabalho recai este olhar geográfico que objetiva investigar como o

processo de desterritorialização/reterritorialização do Estádio Godofredo Cruz pelo capital

privado afeta a identificação do torcedor com o clube, haja vista que a reterritorialização do

clube para o distrito de Guarus tem suas especificidades geográficas, políticas, culturais e

econômicas.

Abordar o referido tema requer uma análise de conceitos geográficos apropriados que

servirão de sustentação para compreensão da sequência do trabalho. Neste sentido, o conceito

de território e seus desdobramentos como territorialidade, desterritorialização,

reterritorialização e identidade territorial serão trabalhados na perspectiva da geografia

renovada, porém não deixando de realizar conexões com outras perspectivas geográficas. O

suporte teórico do trabalho está referendado nos ensinamentos de Claude Raffestin, Rogério

Haesbaert e Marcos Aurélio Saquet aos quais atribuem ao território uma visão

multidimensional e de poder.

Claude Raffestin foi um dos estudiosos que marcaram profundamente a geografia

brasileira nas décadas 80 e 90, entre suas obras uma merece destaque, Geografia do Poder, de

1981, na qual o autor analisa o território a partir de uma perspectiva relacional formada pelas

relações de poder que podem ser multidimensionais (material e simbólica) transitando em

diferentes escalas (SAQUET, 2013).

Baseando-se em Henri Lefebvre, Raffestin (1981) faz a distinção entre território e

espaço, analisando que o primeiro é uma produção a partir do segundo, na qual o trabalho

projeta energia, informação e relações de poder. Faz outras distinções através de linhas

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marxistas mencionando que o espaço não tem valor de troca, mas somente valor de uso, uma

utilidade. O espaço, é, portanto, anterior preexistente a qualquer ação. O espaço é, de certa

forma, “dado” como se fosse uma matéria prima (RAFFESTIN, 1981, p.2).

Saquet (2007) ao comentar Raffestin, relata que este autor entende o território como “o

espaço modificado pelo trabalho, revelando relações de poder e dominação, o que implica a

cristalização de territorialidade, ou de territorialidades, no espaço a partir das diferentes

atividades cotidianas. ”

As relações de produção imprimem no espaço imagens territoriais que revelam as

relações de poder proporcionada por elementos de uma estrutura profunda. Neste sentido na

continuidade de seu pensamento, Raffestin menciona que “Do Estado ao indivíduo, passando

por todas as organizações pequenas ou grandes, encontram-se atores sintagmáticos que

‘produzem o território’. (...) Em graus diversos, em momentos diferentes e em lugares

variados, somos todos atores sintagmáticos que produzem ‘território’” (RAFFESTIN, 1981).

Essa conceituação do território emanado por relações de poder se insere perfeitamente

na compreensão do trabalho, ou seja, na cidade capitalista na qual seus atores sociais ou

sintagmáticos através de suas ações conjuntas imprimem marcas de sua dominação territorial,

como por exemplo os estádios de futebol objetos geográficos portadores de um território

multidimensional que ao longo da história permeiam relações de poder.

Pesquisador sobre território e suas múltiplas dimensões, Rogério Haesbaert em um

artigo intitulado “Dos múltiplos territórios à multiterritorialidade”, apresentado no I

Seminário Nacional sobre Múltiplas Territorialidades promovido pelo programa de Pós-

Graduação em Geografia da UFRGS, de 2004, é outro geógrafo que aborda a dupla conotação

do conceito de território com múltiplas territorialidades interagindo em um mesmo espaço.

Haesbaert (2004) relata que “desde sua origem o território nasce com um duplo sentido;

material, associado à dominação jurídico-político da terra/territorium, alijando os desprovidos

da mesma; quanto simbólica de efetiva apropriação ou identificação, para aqueles que podem

plenamente usufruí-los”. Território, assim, em qualquer acepção, tem haver com poder, mas

não apenas ao tradicional “poder político”. Ele diz respeito tanto ao poder no sentido mais

explícito, de dominação, quanto ao poder no sentido mais implícito ou simbólico, de

apropriação (HAESBAERT, 2004, p. 20).

Assim como Raffestin (1981), Haesbaert (2004) faz a distinção entre valor de uso

(possessão) e de troca (propriedade); na qual o primeiro carrega as marcas do “vivido”, de

valor simbólico e o segundo sendo mais funcional concreto. Haesbaert (2004) cita assim, que

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“a dominação deveria ser sucumbida pela apropriação, porém a lógica de acumulação

capitalista extingue as reais possibilidades de ‘reapropriação’ dos espaços dominados pelo

aparato estatal-empresarial e/ou completamente transformados, pelo valor contábil, em

mercadoria. ”

Apesar de considerar que a dominação territorial deveria ser sucumbida pela

apropriação, Haesbaert cita que:

O território envolve sempre, ao mesmo tempo mas em diferentes graus de

correspondência e intensidade, uma dimensão simbólica, cultural, através de uma

identidade territorial atribuída pelos grupos sociais, como forma de “controle

simbólico” sobre o espaço onde vivem (sendo também, portanto, uma forma de

apropriação), e uma dimensão mais concreta, de caráter político disciplinar [e

político-econômico, deveríamos acrescentar]: a apropriação e ordenação do espaço

como forma de domínio e disciplinarização dos indivíduos (HAESBAERT, 1999,

p.42 apud HAESBAERT, 2003, p.14).

Saquet (2013) menciona que Haesbaert neste sentido, analisa o território de maneira

multidimensional, estabelecidas por relações de poder que condicionam e constituem o

território. Dessa maneira, o território é compreendido para uma abordagem (i) material:

econômico, político, cultural e natural (SAQUET, 2013, p.124).

Outro conceito importante a ser trabalhado é a desterritorialização, na obra intitulada

“O mito da desterritorialização” Haesbaert (2004) explicita que a desterritorialização pode

ser determinada a partir de três grandes dimensões sociais: política, econômica e cultural,

mencionando que tais dimensões estão vinculadas a diferentes concepções de território. Neste

sentido o autor trabalha com diversas abordagens para um mesmo processo, como aquelas que

se dedicam a entender mais pelo viés político, econômico ou cultural.

No entanto todo processo de desterritorialização é acompanhada por uma

reterritorialização, independente de qualquer dimensão social. Neste sentido, Haesbaert

(2004), considera a desterritorialização como um processo indissociável de sua contraface, os

movimentos de reterritorialização. O que existe, de fato de acordo com o autor “é um

movimento complexo de territorialização, que inclui a vivência concomitante de diversos

territórios- configurando uma multiterritorialidade, ou mesmo a construção de uma

territorialização no e pelo movimento. ” O autor também discorre que esta

multiterritorialidade aparece ora com uma carga simbólica maior, ora com uma carga

funcional maior, dependendo da definição de território a que se refere; sinalizando no

primeiro caso as múltiplas identidades territoriais que possam estar envolvidas.

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Os conceitos de desterritorialização e reterritorialização são importantes ferramentas

na compreensão sobre a especulação imobiliária do antigo estádio Godofredo Cruz, fato este

proporcionado por uma territorialização múltipla na quais são agregados fatores de ordem

econômica, política, além da carga funcional e simbólica da antiga área.

Outro autor fundamental ao trabalho é Saquet (2013) na abordagem referente ao

conceito de identidade territorial. Conforme esse autor “a identidade é fruto de processos

históricos e relacionais, sendo construída pela coletividade, através de ações que formalizam a

constituição do território. ”

A identidade desta maneira para Saquet (2009) constitui-se num “patrimônio territorial

a ser preservado e valorizado pelos atores envolvidos [...]. O território, então, envolve esse

patrimônio identitário: o saber-fazer, as edificações, os monumentos, os museus, os dialetos,

as crenças, os arquivos históricos, empresas...”

O autor determina neste sentido que a construção da identidade territorial é fruto do

trabalho da coletividade ao longo do tempo.

Saquet (2013, p.147) também aborda a imaterialmente da identidade baseando-se no

sociólogo italiano Arnaldo Bagnasco, cita que “um grupo social pode construir relações

afetivas, um campo simbólico que envolve reciprocidade, alertando que tais relações podem

não existir em todos os lugares, cabendo ao pesquisador estar alerta as especificidades de cada

lugar, aos atores e suas estratégias de reprodução social. ”

É sobre a ótica do trabalho de Saquet que será abordado o processo constitutivo

histórico da identidade do futebol campista, mas principalmente da torcida do Americano

futebol clube através de suas ações coletivas ao longo do tempo histórico construindo

edificações, monumentos, símbolos, ídolos e paixões.

Diante de tais considerações, em relação à configuração territorial, os esportes através

de suas práticas implicam transformações significativas na forma e na dinâmica territorial.

Assim, cabe salientar a importância dos estádios de futebol na dinâmica das cidades

capitalistas haja vista que “são equipamentos esportivos ou objetos urbanos de grande porte

físico, elementos que proporcionam para a cidade, antiga e novas configurações territoriais”

(JESUS, 1999).

Campos (2008) cita que “no Brasil o futebol é muito mais que um esporte, é uma

manifestação cultural e simbólica, que se articula em diversas escalas (global, nacional e

local)”, o autor complementa que “a pratica social do futebol é indissociável da pratica social

cotidiana e vice-versa. ”

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“[...] Posto que os esportes se relacionam ampla e intensamente com outras dimensões

do acontecer social, podendo enriquecer nosso entendimento acerca da urbanização, das redes

e das políticas territoriais, das identidades e representações, etc.. ” (JESUS, 1999); as

dinâmicas espaciais do futebol são atreladas intrinsecamente as sociais cabendo ressaltar

como exemplo o extinto estádio do Americano em Campos dos Goytacazes, afetado pela

valorização da terra e sua consequente especulação imobiliária. O antigo glorioso do Parque

Tamandaré é um entre vários clubes pelo mundo que sofrem com a perda do maior bem

patrimonial para a especulação imobiliária das grandes cidades, sendo vendidos ou demolidos,

para a reterritorialização em locais mais afastados, longe de uma infraestrutura adequada ou

inexistente. Segundo Campos (2015), “ao mudarem de endereço, os estádios nascem com essa

identificação frouxa, principalmente que a demanda não é dada pelos torcedores, mas sim,

pelos administradores dos clubes, gestores públicos e capital imobiliário, tendo como motivo

o negócio e o lucro. ”

Nesta multiplicidade territorial estão os torcedores, representantes de uma identidade

futebolística vinculada ao antigo território do estádio Godofredo Cruz, um grupo social que ao

longo dos anos construiu uma identidade territorial calcada tanto no patrimônio imaterial

através de sua paixão, afetividade, culto aos símbolos e mitos clubísticos, quanto na

identificação patrimonial de seu estádio, “local de encontros em que os torcedores se

aglutinavam social e espacialmente em torno do clube, compartilhando representações sociais,

gerando um sentimento de pertença, ou seja, seu lar” (CAMPOS, 2008).

1.2- Estádio de futebol: objeto referencial de poder

O presente capítulo pretende abordar o estádio de futebol como elemento dotado de

poder na produção da cidade capitalista, ou seja, um objeto geográfico que dialoga

amplamente com o espaço urbano capitalista, emanado por uma carga tanto material e/ou

física quanto simbólica e/ou imaterial.

Jesus (2006) considera que embora haja monumentos históricos de apropriação

coletiva, relíquias da antiguidade como o Estádio Panatenaico (século IV a.C) na Grécia para

realização de celebrações, competições e até atividades religiosas ou o famoso Estádio

Coliseu de Roma (72d. C) considerado este último símbolo do poder romano, nas quais eram

oferecidos rituais públicos festivos dos governantes as massas populares. É no período do séc.

XIX na Inglaterra que segundo o autor, “os estádios destinados ao futebol assumem uma

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concepção mercadológica com a cidade acompanhada pelo desenvolvimento técnico-

científico da revolução industrial”. É a partir deste período que os Estádios de futebol se

inserem no espaço da produção da sociedade capitalista, atraindo gradativamente praticantes e

simpatizantes.

A intensa massa de trabalhadores a procura de empregos nas grandes indústrias das

cidades inglesas, proporcionou um grande contingente que necessitava de uma forma de

distração para seus raros momentos de lazer, o que tornava o futebol símbolo desta nova

sociedade. (FERREIRA, 2005).

Segundo Mascarenhas (2015), foi assim que “o futebol como prática iniciada nos

colégios e propagada nas indústrias serviu de uma eficiente “pedagogia da fábrica”, trabalho

em equipe, obediências às regras, especialização nas tarefas e submissão ao cronômetro. ”

A disciplinarização de alunos e operários da sociedade inglesa através do futebol foi

assim crescente conjuntamente com esse esporte, na qual originou a criação do primeiro time

de futebol o Sheffield F.C, fundado em 24 de outubro de 1857, (PEREIRA, 2012).

Já no dia 26 de dezembro de 1860 foi inaugurado o primeiro estádio de futebol, o

Sandygate Road (foto1) com partida inaugural entre o Sheffield F. C e o Hallam F.C que

utilizava o recinto como campo de treino (PEREIRA, 2012).

Foto 1: Sandygate Road, primeiro estádio de futebol do mundo construído na Inglaterra.

Fonte: http://www.calciozz.it/estadio.php?id=17618, acessado em 20 de dezembro de 2016.

De acordo com Pereira (2012), a partir daí o local passou a ser a base de

desenvolvimento do futebol na cidade. Durante dois anos foi o único recinto onde se

disputaram encontros oficiais entre o número, cada vez mais crescente, de clubes na cidade.

“A popularidade dos jogos no estádio era tão grande que através da prática esportiva do

futebol foram criadas as regras exclusivas para os clubes da cidade conhecidas mais tarde

como ‘Sheffields Rulles’” (PEREIRA, 2012).

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Nota-se assim que o antigo estádio na época era dotado de uma forte centralidade de

socialização e apropriação territorial, sendo difundidas naquele território relações de poder

multidimensionais (material e simbólica) que segundo para Raffestin (1981) pode transitar em

diferentes escalas

A popularidade do futebol difundido na Inglaterra somada à política de expansão

econômica inglesa estabeleceu novas frentes esportivas e políticas urbanísticas para a Europa.

Segundo o historiador Júnior (apud FAVERO, 2009) a revolução industrial e o futebol

na Inglaterra são fenômenos baseados na competição, produtividade, secularização, igualdade

de chances, supremacia do mais hábil, especialização de funções, quantificação de resultados

e fixação de regras, preceitos absorvidos pelos países europeus.

Nesta ocasião segundo Amaral (2013, p.10) foi disseminado na malha urbana europeia

a construção de edifícios e espaços urbanos renovados como parte de uma estratégia utilizada

por países, estados, regiões e cidades para se tornarem um porto atraente para o capital

privado. Ainda segundo este mesmo autor esses ícones arquitetônicos baseados em suas

tendências globais credenciariam na época uma cidade qualquer a se candidatar à posição de

centro do globo.

Além de representarem status para as cidades na atração de capitais privados, Jesus

(2014) cita que “os estádios de futebol na segunda década do século XX, foram sendo

absorvidos pelo poder estatal no intuito da promoção do bem-estar social. ” Porém, de acordo

com este autor, os esportes, especificamente o futebol, foram apropriados por governos

fascistas. Mussolini pela a Itália disseminou seus estádios ‘comunales’, estruturas

neoclássicas padronizadas, símbolos do novo regime e da herança poderosa do velho império.

Já no Brasil o futebol além de conquistar milhões de torcedores, também despertou

nos políticos uma atração poderosa, que o transformou numa importante plataforma ao poder,

na qual os estádios de futebol, elemento agregador de massas populares tornaram-se um

importante palanque de discursos. Segundo o jornalista Bellintani (2014), na década de 40,

estádios de futebol como o Pacaembu em São Paulo ou o Estádio de São Januário na cidade

do Rio de Janeiro serviram de palanque para personalidades como Getúlio Vargas, na defesa

dos interesses da elite industrial; ou Luiz Carlos Prestes, ex-comandante e militar que

desafiou a burguesia rural na década de 20.

Em São Januário, no 1º de maio de 1943, Getúlio anunciou a criação da Consolidação

das Leis do Trabalho – primeira legislação trabalhista do País. E voltou inúmeras vezes até a

ditadura cair, em 1945. Já no estádio paulista de acordo com este autor, no dia 15 de julho de

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1945, com a presença do poeta chileno Pablo Neruda, que leu poema em sua homenagem,

Prestes discursou ao público no Pacaembu, após nove anos incomunicáveis na prisão

(BELLINTANI, 2014).

O estádio paulista além de ser palco de calorosos discursos políticos, a municipalidade

paulistana erigia o primeiro estádio de futebol estatal do Brasil. “Tratava-se de um monumento

cívico, que como tal, exigia uma localização ‘condizente’ com sua importância e centralidade

na vida social e cultural da cidade” (MASCARENHAS, 2015).

Neste sentido se no plano ideológico-politico o estádio paulista serviu como

instrumento de controle de massas, no plano urbanístico antes mesmo de sua construção o

mesmo já sinalizava como vetor de desenvolvimento urbano e especulação imobiliária. De

acordo com Atique (2015, p.100) “embora o bairro do Pacaembu fosse considerado de difícil

acesso, sua localização próxima ao bairro elitizado de Higienópolis compensava para a

empresa inglesa Cia City investir em um estádio para lucrar com futuras vendas de lotes no

bairro. ”

A inauguração estatal do estádio Pacaembu era apenas o início de uma sequência de

construções governamentais de estádios de futebol em território brasileiro. Segundo

Mascarenhas (2015), o governo brasileiro como forma de alienar e desviar a atenção dos

problemas sociais do país difundiu uma sequência de estádios colossais como o Estádio

Jornalista Mário Filho ou simplesmente Maracanã, para a realização da copa de 1950 ou o

Estádio Governador Magalhães Pinto ou “Mineirão” no ano de 1965. Já o historiador Fraga

(2014, p.4), menciona que “a construção de grandes estádios naquela década estava associada

ao interesse do governo de mostrar ao mundo sua condição de país moderno, sinônimo de

empreendedor, capaz de grandes feitos e grandes obras”.

Conforme Bienenstein (2003), com o advento da globalização no final da década de 80

e início de 90, do século XX, significaram transformações com repercussões nas diversas

esferas da vida e sociedade. Apresentando uma peculiar configuração, caracterizada por um

sistema de relações internacionais, orientadas por ações estratégicas de governo e de grandes

grupos empresariais.

É neste contexto que os estádios de futebol assumem outra formatação nos espaços das

cidades capitalistas. De acordo com Mascarenhas (2014), após 1990 os estádios sofrem uma

re-elitização propiciada por uma onda neoliberal. Nas palavras de Campos (2015) é explicita

de forma sucinta esta nova formatação e funcionalidade dos estádios:

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Nesses novos equipamentos, a arquitetura deve ser inovadora e enfatizar a estética,

funcionalidade, tecnologia e acessibilidade. Com ênfase nos quesitos conforto e

segurança, os assentos devem ser vendidos como mercadoria rara. O

desenvolvimento comercial deve ocorrer também em dias sem jogo, daí a ênfase na

multifuncionalidade. A construção deve ser icônica capaz de contribuir para a

regeneração urbana. Por fim, deve ser um atrativo turístico, de identificação coletiva,

que permita a um público mais vasto vivenciar novas e antigas experiências,

reforçado por um ambiente, ao mesmo tempo futurista e memorialista.

Assim de acordo com Amaral (2013) diferentemente da metade do século XX, a qual a

expansão dos estádios nas cidades estava agregado ao desenvolvimento do perímetro urbano,

sendo o Estado um agente importante na construção desses edifícios na esperança de que seus

centros pudessem abrigar investimentos; os estádios contemporâneos do século XXI são

contemplados pela iniciativa privada ou pela sua associação com o próprio Estado, seja na

construção de novos ícones urbanos ou em reformas dos já existentes.

No plano urbanístico segundo Mascarenhas (2014, p.74), “o novo estádio tende, a se

inserir no processo de produção da cidade capitalista gerando espaços auto segregados como

os shoppings centers ou os condomínios fechados. ”

Garcia ratifica o pensamento de Mascarenhas, mencionando que “a lógica neoliberal

possibilitou uma diversidade de investimentos levando grandes corporações a se envolverem

no mundo esportivo, determinando uma nova tipologia arquitetônica para os estádios”

(GARCIA, 2013, p.34).

No site inglês especializado em estádios de futebol “The Stadium Guide”, são

exemplificados dois estádios europeus multifuncionais, ou seja, cuja suas atribuições vão

muito além do entretenimento esportivo, citando atividades de turismo, shows, cinemas, áreas

de fast-food, restaurantes e cafeterias. O primeiro é o estádio suíço St. Jakob-Park (foto2) de

propriedade do F.C Basel. O mesmo conta em suas dependências com um shopping center e

uma torre residencial de 70 metros de altura. A empresa responsável pela sua gestão ainda

programa visitas guiadas pelo estádio, que duram aproximadamente 45min.

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Foto 2: estádio multifuncional St. Jakob Park, propriedade do time suíço F.C Basel

Fonte: <http://www.stadiumguide.com/stjakobpark>. Acessado em 31 de dezembro de 2016.

Foto 3: Amsterdam Arena, estádio do AFC Ajax.

Fonte:<http://www.amsterdamarena.nl/ >. Acessado em 31 de dezembro de 2016.

Outro estádio emblemático é o Amsterdam Arena (foto3), de propriedade do AFC

Ajax, o mesmo faz parte de um complexo de entretenimento e compras, que inclui um grande

cinema e duas das principais salas de concerto da Holanda. Há também áreas limitadas de fast

food, bares além de salas executivas de reuniões.

Já no plano esportivo estas novas arquiteturas dos estádios de futebol trazem em si

claramente uma nova mensagem, principalmente aos torcedores de futebol e na sua

convivência com o mesmo. Para Bienestein (2014, p. 187-188) um claro exemplo é o estádio

do Maracanã localizado na cidade do Rio de Janeiro, considerado por décadas como o maior

equipamento esportivo de futebol, teve suas dimensões reduzidas ao longo dos anos. Tais

mudanças arquitetônicas vieram conjugadas com o encarecimento do espetáculo, no

comportamento dos torcedores e na gentrificação do Maracanã, contribuindo para modificar o

público frequentador do estádio.

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Foto 4 Foto 5

Foto 4: estruturas das antigas arquibancadas e antigas formas de torcer pelo time.

Fonte: <http://www.flamengo.com.br>

Foto 5: arquibancada remodelada do Maracanã com novas formas comportamentais

Fonte: < http://www.maracanaonline.com.br/>

Jesus (2015), menciona que “a modernização dos estádios visa trocar o torcedor

vibrante que grita, reclama e ameaça, por aquele torcedor passivo, ‘consumidor’, familiar e

que paga para assistir um espetáculo com grandes astros. ” Jesus (2015) chega a afirmar que

“caso Michel Foucault estivesse vivo trataria os estádios como dispositivos de controle de

corpos verificados em outros âmbitos sociais, pois os mesmos possuem dispositivos de

segurança como câmeras e vigilantes, coibindo qualquer ação fora dos padrões determinados.

Para compreender mais profundamente esse processo, é preciso enxergar para além do

universo do futebol, não obstante a este, já constituir, em si mesmo, um complexo

emaranhado de questões culturais, sociais, políticas e econômicas (MASCARENHAS, 2013,

p.157).

Assim Mascarenhas (2013, p.156) em sua reflexão cita que “os estádios de futebol não

se reduzem apenas a uma arquitetura sofisticada e monumental, ela abriga novos conteúdos da

urbanização, ao propor e impor suas novas formas de vivenciar a vida pública e o futebol. ”

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2. A CIDADE NA ORDEM CAPITALISTA

Atualmente diante do processo de globalização as cidades contemporâneas vêm

assumindo responsabilidades entre diferentes segmentos sociais como Estado, iniciativa

privada e sociedade civil. Esse protagonismo focado nas cidades reflete de forma direta na

vida de seus cidadãos, seja através de grandes transformações urbanísticas, na recuperação do

patrimônio ou promovendo eventos para a captação de recursos (CASTELLS E BORJA,

1996, p.152).

Diante de tamanha relevância, compreender a cidade na perspectiva da ciência

Geográfica requer analisar sua dimensão espacial, enquanto realidade material que se revela

através do conteúdo das relações sociais que lhe dão forma (CARLOS, 2007, p.20).

Já Correa (1989, p.6) leva em consideração a cidade capitalista através de seu espaço

urbano organizacional e seus agentes produtores, ou seja, aqueles que lhe dão vida, forma e

conteúdo. Desta maneira o autor cita que em termos organizacionais urbanos “a cidade

capitalista é dotada de uma área central na qual são expedidas decisões e circulação de poder,

investimentos, capital e outros aspectos econômicos; além de ser composta de áreas

residenciais, industriais, de lazer e aquelas de fundo de reserva. ” Porém para o autor a cidade

também “é composta por agentes sociais, elementos que produzem e consomem o espaço,

suas ações provêm da dinâmica da acumulação de capital, das necessidades mutáveis de

reprodução as relações de produção e dos conflitos de classes que dela emergem” (CORREA,

1989, p.10).

Já Santos (2006) ao considerar a cidade como um objeto geográfico inserido na

dualidade ‘sistema de objetos e ações’, o autor menciona que ambos os elementos são

indissociáveis e suas interações levam a uma dinâmica de troca na qual os sistemas de objetos

condicionam a forma como se dão as ações e, de outro lado, o sistema de ações leva a criação

de objetos novos ou se realiza sobre objetos preexistentes (SANTOS, 2006, p.39). Essas

interações teóricas, ‘objetos e ações’ de Santos (2006) são para Correa (1989) como já citado,

“das ações de agentes sociais que fazem e refazem a cidade e do próprio espaço urbano da

cidade que através de suas formas e conteúdo determinam as ações desses agentes sociais”.

A cidade assim compõe-se de agentes sociais diversificados em interesses e ações, que

do ponto de vista da reprodução do capital transforma a cidade em referências de negócios, a

atender redes de lugares a nível mundial (CARLOS, 2007).

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Neste sentido, Vainer (2002) cita que “a cidade atualmente não é apenas uma coisa ou

objeto, mas um ‘sujeito’ que age de acordo com as tendências do mercado”. A partir dessas

tendências mercadológicas “as cidades privatizam, fragmentam e hierarquizam seus espaços,

revelando contradições que encaminham ao debate sobre a cidade” (CARLOS, 2007, p.65).

2.1 Espaços público/ privados da cidade.

O debate da cidade em seu aspecto espacial urbano está condicionado aos meios de

(re) produção das forças capitalista. Assim concorda-se com a apreciação de Carlos (1992) ao

citar que “o uso do solo neste sentido não se dará sem conflitos, na medida em que são

contraditórios os interesses do capital e da sociedade”. Para a autora trata-se de entender “a

natureza da cidade a partir da análise dos pontos de vista do cidadão de um lado e do capital

do outro, enquanto unidade do diverso” (CARLOS, 2003).

A partir dos referidos pontos de observação de análise da autora, “o espaço público

reflete as tensões do processo de produção do espaço urbano, bem como reflete os múltiplos

conflitos de interesses entre o público e o privado” (SOBARZO, 2006, p.98).

Na modernidade o processo de reprodução do espaço está ligado ao jogo do mercado

imobiliário, através de seus agentes, das suas políticas e estratégias utilizadas pelo Estado,

como a criação do espaço da dominação e do controle, transformando seu uso e o seu acesso

por parte da sociedade provocando um aprofundamento no distanciamento entre o espaço

público e privado (CARLOS, 1992, p.175-176).

O espaço público local que deveria ser concebido de livre acesso a todos são

apropriados pelas regras e interesses do capital privado. Assim, neste sentido a cidade é

recortada e vendida aos pedaços como uma mercadoria, consolidando novos produtos

imobiliários como loteamentos fechados, shopping centers, centros empresariais e turísticos,

determinando uma nova significação do espaço público (SOBARZO, 2006, p.95 e 99).

SVAMPA, cita que esses referidos produtos imobiliários citados por Sobarzo (2006)

são verdadeiros “enclaves fortificados”,

exemplos de modelos urbanos estadunidense difundido em escala mundial a partir

de uma intensa ação do mercado imobiliário, baseado na periurbanização,

suburbanização, segregação sócio espacial bastante marcante, valorização dos

espaços privativos e seletivos, como os shopping centers e condomínios fechados e

centralidade dos transportes, situações que ignoram os espaços públicos. (apud,

ARANTES, 2016, p.67).

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A cidade de Campos dos Goytacazes é um exemplo deste fenômeno imobiliário de

ordem global, impulsionada economicamente pela bacia petrolífera em seu município, na qual

várias empresas do ramo da construção civil aproveitaram-se do momento para promoverem

uma série de empreendimentos imobiliários na cidade.

De acordo com Gomes (2014, p.186), esses tipos de condomínios fechados

reproduzem a vida urbana pública através de vários equipamentos possíveis com

funcionamento de clube, estabelecimentos comerciais e até escolas. Ainda segundo este autor,

“as mensagens publicitárias para a venda desses imóveis exploram bastante a idéia de um

ambiente planejado que reproduzirá toda a qualidade de vida do ambiente urbano, com a

vantagem de segurança e da homogeneidade social. ” Como o exemplo a seguir de alguns

encartes publicitários sobre estes tipos de empreendimentos imobiliários na cidade de Campos

dos Goytacazes.

Figura 1: Anuncio da Ideal Negócios Imobiliários, empreendimento cidade Alpha Campos.

Fonte: <http://corretoraideal.com.br/imoveis/para-venda/em-campos-dos-goytacazes/>

Figura 2: empreendimento imobiliário MRV, Parque Rodoviário, Campos dos Goytacazes.

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Fonte:<http://www.mrv.com.br/imoveis/apartamentos/riodejaneiro/camposdosgoytacazes/parquerodoviario/>

Figura 3: Empreendimento imobiliário da Contrusan/IMBEG, Campos dos Goytacazes.

Fonte: <http://www.portaldolagocampos.com.br/>.

Carlos (2007) cita que esse processo de mudança da morfologia da cidade altera os

momentos essenciais da vida, modificando relações tradicionais, reduzindo as possibilidades

de uso do solo pelo seu encarecimento e transformando as relações de sociabilidade.

“Mudam-se enfim os comportamentos, porque muda a relação espaço público/espaço privado;

construído/não construído, e de maneira mais geral, o que diz respeito ao individual e ao

plano de realização do coletivo” (CARLOS, 2007, p.57).

Além dos condomínios residenciais de propriedade privada, outras estruturas físicas

coletivas de conotação pública como shopping centers e estádios de futebol incorporam

espacialmente a cidade, de acordo Alves (2007) “são espaços excludentes privativos e

privatizados, dissociados ou não do tecido urbano e caracterizado pela privatização do espaço

público e por distintos tipos de espaço de exclusão”. (ALVES, 2009, p.37)

Para Sobarzo (2006) “os shoppings centers representam produtos que expressam novas

forma e práticas para antigas ações, ou seja, consumo e lazer, contribuindo para o processo de

acumulação de capital. ” Carlos (2007, p.60) atesta assim, uma nova forma de comportamento

social na quais “espaços semi-públicos como os shopping centers vão compondo novos

valores e uma nova identidade a sociedade urbana, imposta por uma cultura de consumo, sob

a lei da troca de mercadorias”.

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Os estádios de futebol público/privado são outras representações físicas na cidade que

mudaram suas atribuições ao seu público frequentador ao longo dos anos, alterando

comportamentos e ações, marcados pelos ditames capitalistas de consumo. A título de

exemplo as antigas gerais dos estádios de futebol como o Maracanã ou Mineirão; áreas

destinadas a pessoas de baixo poder aquisito que pagavam um valor simbólico para assistir

aos embates de seus times, foram extintas pelos interesses do capital.

Foto 6: Zico do Clube de Regatas do Flamengo na comemoração de um com os geraldinos.

Fonte:<http://www.futebolmarketing.com.br/>

Gaffney (2007) ao citar Giulianotti (2002) menciona que o futebol é determinado por

uma nova cultura, definido como o reino do pós-espectador (ou o espectador pós-moderno,

com mais dinheiro e menos identificação e paixão pelo clube, mero consumidor de

espetáculo) está se expandindo globalmente. Estádios estão reduzindo sua capacidade e

elevando o custo dos bilhetes. Isso equivale a uma nova forma de exclusão social. Ainda de

acordo com Gaffney (2007) essas mudanças estão a nível mundial, reprimindo um produto

espontâneo da cultura popular, o sentido do festival, do encontro social, de um tempo e lugar

únicos. O novo estádio é assimilado com outros espaços corporativos e previsíveis na

sociedade: o shopping center, um cinema, uma sala de estar, domínios de individualismo e

passividade de grande interesse para o capital, e nos quais se inscreve a microfísica do poder.

Nesse contexto, Carlos (2007) menciona que “os espaços públicos, acessíveis às

possibilidades do uso são destruídos por estratégia imobiliárias submetidas à mediação do

mercado, transformando o espaço em mercadoria. ” Assim segundo esta autora, “o valor de

uso tende a submeter-se ao de troca, trazendo como consequências, a perda de identidade em

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função da destruição dos referenciais urbanos vindo do passado e a transformação dos antigos

valores que se confrontam na cidade” (CARLOS, 2007, p.30).

Empresas como Ideal negócios imobiliários, MRV Engenharia, Construsan engenharia

e Imbeg engenharia Ltda expostas anteriormente nos encartes publicitários através de seus

empreendimentos imobiliários são exemplos concretos na cidade de Campos dos Goytacazes

desse processo segregador, que reduz ou extingue os espaços públicos de socialização, de uso

e identidade territorial, em favorecimento aos interesses especulativos do solo urbano.

A cidade de Campos dos Goytacazes passa assim por um processo de monopolização

de seu solo, na qual as referidas empresas apoiadas pelo poder estatal expressam seus poderes

morfologicamente na cidade através da construção de grandes empreendimentos imobiliários

ou na apropriação de imóveis.

O mercado imobiliário, neste sentido escolhe investir baseado nos anseios do

consumidor e em seu poder de compra para consumir não apenas a moradia concreta, mas

todos os signos nela incorporados: o signo da segurança, da felicidade, da satisfação, dos

status social, da praticidade, da modernidade, como exemplificado pelas propagandas

analisadas (FREITAS, 2011, p. 125).

2.2 A especulação do capital no estádio Godofredo Cruz.

De acordo com a apreciação de Moura em relação a dinâmica de produção do espaço,

as intensas transformações no território urbano provocam a existência de diversos

fenômenos, os quais, quando combinados, sintetizam a estruturação do espaço.

Características como a informalidade, a periferização, a segregação e a

desterritorialização, são oriundas da produção do espaço, proporcionadas pela a

influência exercida pelos agentes do mercado imobiliário, pelo Estado e pela classe

de rendas mais altas no desenvolvimento desses fenômenos nas cidades (MOURA,

2014, p.20).

Neste sentido, o processo de desterritorialização como parte integrante das

transformações no território urbano proporciona para Chelloti (2009) “múltiplas implicações,

sejam nas esferas sociais, econômicas, políticas ou culturais. ” Haesbaert (2007, p.79) cita que

fica evidente neste ponto a necessidade de uma visão de território a partir da concepção de

espaço híbrido, entre política, economia e cultura, e entre a materialidade e idealidade,

interadas no tempo e espaço.

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Sob estas perspectivas o processo de desterritorialização/reterritorialização do antigo

estádio Godofredo Cruz proporcionada pela especulação imobiliária do bairro Parque

Tamandaré e suas adjacências para o distrito de Guarus obedece a uma lógica mercantilista de

terras em Campos dos Goytacazes ao longo dos anos.

Pessanha (2013) identifica o início da especulação imobiliária na cidade de Campos

dos Goytacazes a partir da segunda metade do século XIX através da atuação dos senhores de

engenho e fazendeiros, que paralelamente faziam uso da terra para plantio nas áreas rurais e

na urbana aplicavam o capital excedente de sua produção na construção e venda de casas.

Ainda segundo o autor, nesta época “os barões do açúcar” tomaram gosto pelos lucros dos

aluguéis e de vendas de imóveis e até os pequenos proprietários de terras desistem de suas

pequenas usinas e passam apenas a plantar cana de açúcar para os engenhos centrais, como

forma de sobrar tempo para as atividades imobiliárias no perímetro urbano da cidade.

Já no início do século XX segundo Faria (2005, p.4784), a cidade de Campos dos

Goytacazes apoiada em um discurso modernizador e normatizador realizava intervenções de

higiene e saneamento público em seu centro urbano. Projeto este desenvolvido pelo

engenheiro sanitarista Saturnino Rodrigues de Brito em 1902. Ainda de acordo com este

autor, as intervenções públicas no centro expuseram as contradições do sistema capitalista, ao

mesmo tempo em que garantia a lógica de desenvolvimento e progresso da classe burguesa;

áreas periféricas potencializavam sua desvalorização e ocupação progressiva das classes

pobres, pela falta de investimentos. O autor cita que, “restava nessas áreas afastadas do

centro eram espaços destinados a construções de presídios, cemitérios, hospitais

especializados em doenças infecto contagiosas, assim como os matadouros. ”

Já na metade do século XX, segundo o PDUC (1979, apud COSTA; ALVES, 2005, p.

3736) a cidade de Campos dos Goytacazes sofre com o processo de urbanização acelerado,

assim como suas sedes distritais. A cidade expande-se em todas as direções na forma de

grandes loteamentos denominados como “Parques” ou “Jardins”, que obedecem em grande

parte, as diretrizes propostas pelo plano de urbanização aprovado pela Prefeitura Municipal.

Neste período o distrito de Guarus sofre uma intensa ocupação, principalmente junto ao leito

da ferrovia, onde se implantou a BR-101, em direção à Vitória.

Assim, de acordo com Souza,

o centro histórico que por muito tempo consolidou-se como a área mais importante

da cidade por abrigar as principais instituições políticas, sociais econômicas, passa a

se deparar com o crescimento demográfico, o crescimento horizontal da sua malha e

o consequente aumento das distâncias, fizeram aparecer importantes subcentros de

comércios e serviços. (2003, apud FERES, 2008)

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Carlos (2007, p.75) cita a interferência do Estado na dominação do espaço, ordenando

e direcionando a sua ocupação, sendo produzido e reproduzido de um lado como espaço de

dominação e de outro como mercadoria reprodutível, submetendo o uso as necessidades do

mercado imobiliário.

É sob estas condições que posteriormente a expansão da cidade, forma novos bairros,

o Estado passa a atuar promovendo melhores condições estruturais nos recentes bairros

através de obras de saneamento, infraestrutura, paisagística, acessibilidade e modernidade,

propiciando um novo status a esses novos territórios, traduzidos em novas construções

residenciais e comerciais. (FERES, 2008)

É observado assim um processo desterritorializador/reterritorializador do Centro da

cidade para bairros adjacentes a área central como o bairro da Pelinca, ocorrendo o que

Haesbaert (2006) cita como “múltipla interação espacial entre territórios e redes seja de ordem

econômica, política e cultural. ”

Neste sentido segundo Sarmento (2007, apud FERES, 2008) com o crescimento da

cidade a Avenida Pelinca passou por um intenso processo de renovação e verticalização a

partir do ano de 1970, adensando novos bairros como Santo Amaro, São Caetano, Parque

Leopoldina e Tamandaré, proporcionando um grande fluxo de tráfego interligando os diversos

bairros. Cita ainda este autor que no ano de 1979 surge grande adensamento causado pela

verticalização como o edifício Barão da Lagoa Dourada, o popular “Pelincão”, financiado

pelo BNH, possuindo 44 apartamentos com dois quartos em oito blocos.

Costa, assim complementa Sarmento (2007) ao citar o desenvolvimento da Pelinca nas

décadas subsequentes após a desterritorialização dos serviços no Centro da cidade e a

reterritorialização no bairro que,

Com a intensificação da ocupação vertical na Pelinca, a melhoria na infraestrutura,

acessibilidade proporcionada para os bairros, principalmente Santo Amaro, Parque

Tamandaré, Parque Leopoldina, São Caetano, rapidamente outros edifícios,

escritórios, moradias, comércios foram implantados no bairro.

A ocupação da área por atividades terciárias foi justificada pela ineficiência do

centro da cidade, pois, se achava congestionado, fruto da estrutura arcaica da cidade

com vielas estreitas, insuficiência de áreas para o estacionamento de veículos, o alto

valor venal do IPTU dos lotes, dos aluguéis que tornaram-se caros em função da

demanda.

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Na década de 80, com a migração das atividades e consequente adensamento

populacional, já eram visíveis algumas melhorias estruturais no Bairro Parque

Avenida Pelinca, possível pela existência de um município que dotou a cidade de

um plano diretor propulsor de melhorias paisagísticas e urbanísticas.

Em 1990 ocorre a consolidação da Pelinca como bairro nobre favorável ao

crescimento do capital financeiro, destacando sua força como polo de concentração

do setor terciário, paralelamente a isto a vinda de instituições bancárias, comércio,

shopping centers, antes localizadas na área central (2005, apud, FERES, 2008)

Apoiado em Haesbaert (2007, p.138) que relata a dinâmica territorial através da

desterritorialização, na qual “se abandona o território, mas não se destrói o território

abandonado”, a consolidação da Pelinca como bairro de elite significou a abertura de uma

nova territorialidade não apenas política, social e cultural, mas principalmente pelo viés

econômico determinado pelo alto valor de IPTU´s e aluguéis gerados no Centro da cidade.

Neste sentido, o Centro que por muitas décadas era ponto de referência da cidade reduz a sua

funcionalidade, porém não se extinguindo por completo seus serviços.

Apesar da especulação imobiliária no Centro pela alta de aluguéis e IPTU´s, a partir

do ano de 2006 segundo Gomes (2015, p.30) aproveitando- se da exploração da Bacia

petrolífera de Campos, que propiciou um dinamismo econômico oriundo dessas atividades

resultando em elevadas rendas municipais, o mercado imobiliário apresentou um crescimento

expressivo provocando o interesse de grandes grupos imobiliários que passaram a atuar de

maneira intensa em solo campista. O que resultou de acordo com autor, em uma intensa

especulação fundiária na Avenida Pelinca e no Parque Tamandaré, locais de pouca

disponibilidade de terrenos e onde o preço do metro quadrado é quase o triplo do setor onde

está inserido.

Entre os poucos terrenos “disponíveis” de alto valor imobiliário estava o localizado na

Avenida 28 de Março nº 948, Parque Tamandaré, local que por décadas abrigou a equipe de

futebol profissional do Americano Futebol Clube, que embora tenha sido intitulado por anos

como o Glorioso do Parque Tamandaré, o antigo estádio Godofredo Cruz é demarcado

geograficamente no Parque Dom Bosco.

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Imagem 1: delimitação geográfica do Bairro Parque Dom Bosco

Fonte: <http://maps.google.com>

O referido bairro é composto por famílias de classes menos favorecidas em relação a

Avenida Pelinca, porém possuí uma boa estrutura para potencializar investimentos.

O comércio é diversificado na Avenida 28 de Março, em frente à antiga área do

estádio encontra-se serviços automotivos, lojas de materiais de construção, vídeo locadora,

pequenos salões de beleza, serralheria, serviços de dedetização, escritórios de contabilidade e

arquitetura. Ainda na referida Avenida nas proximidades da área de estudo encontra-se

instituições de ensino como o Instituto Federal Fluminense Campus Centro, a Universidade

Salgado de Oliveira e o curso de idiomas como Wizard. Outra instituição de ensino é o

colégio Salesiano localizado na porção leste do terreno do antigo estádio.

Na visita de campo também foi observada na Avenida 28 de Março uma intensa

especulação imobiliária através de aluguéis de imóveis a estudantes oriundos de outras

cidades que cursam nas instituições de ensino citadas, além de venda de alguns imóveis.

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Foto 7: especulação imobiliária e comércio na Av. 28 de Março.

Fonte: <http://maps.google.com>

Já na parte norte do antigo estádio Godofredo Cruz, na Avenida Dom Bosco é possível

observar um intenso processo de verticalização do solo urbano determinado por vários

empreendimentos imobiliários em andamento, além de terrenos ociosos a espera de uma

melhor oportunidade de venda.

Foto 8: processo de verticalização na Avenida Dom Bosco em 2015.

Fonte: <http://maps.google.com>

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Foto 9: terreno ocioso a espera de valorização na Avenida Dom Bosco. Fonte: própria autoria

Foto10: verticalização na antiga parte norte do Estádio Godofredo Cruz.

Fonte: própria autoria

Os referidos conjuntos de atrativos da área em estudo somados a grande mobilidade

apresentada pela a Avenida 28 de Março, uma das principais da cidade de Campos dos

Goytacazes, despertou o interesse de vários promotores imobiliários, como exemplo a

IMBEG no antigo campo do Americano Futebol Clube.

Saboya (2008) cita neste caso que a melhoria da localização é determinada pelo

acréscimo de novas edificações seja comercial ou residencial ao redor de um terreno,

tornando-o mais acessível ao restante da cidade, realizando uma gama de interações na qual

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este aspecto é valorizado pelas pessoas no momento de escolher determinado local além de

contribuir para o aumento do preço do solo.

O antigo estádio que era localizado em uma área que abrangia 25.000m² somados

entre o campo e a área social do clube começou a delinear seu processo de desterritorialização

no dia dezenove de fevereiro de 2014, sendo assinada oficialmente no ano de 2013 no cartório

do 11º ofício a escritura de compra e venda em forma de permuta.

Segundo Macedo (2014) o lendário campo do Parque Tamandaré foi negociado para

saldar as dívidas tributárias do clube, que chegavam a R$ 4 milhões. Em troca dos 25 mil

metros quadrados do estádio e da área social do Americano, a empresa ofereceu um terreno de

200 mil metros quadrados no bairro de Guarus para a construção do novo complexo

esportivo.

Segundo o blog Ponto de Vista do Jornal Folha da Manhã em reportagem veiculada na

época, em oito de agosto de 2014 na área desterritorializada seria construído pela a Imbeg

engenharia Ltda um “minibairro”. De acordo Barbosa (2014) o projeto de autoria do arquiteto

Luciano Aguiar, “adotaria uma concepção de espaço multiuso, onde seria possibilitado as

pessoas morarem, trabalharem, consumirem sem precisarem deslocar-se, sendo dividida entre

comércio e residência. ”

Barbosa (2014) cita que o projeto chegou a ser submetido à aprovação da prefeitura e

demais órgãos competentes.

No referido projeto constava que no lado da Avenida 28 de Março seriam construídos

um shopping com três pavimentos que ocuparia toda a frente da avenida, já na última laje da

área comercial nasceria à torre do prédio de salas corporativas, em formato semicircular,

ainda na proximidade da esquina com a Rua Dom Bosco estariam dois prédios com

destinação para hotelaria.

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Figura 4: vista área do empreendimento

Fonte: disponível em: <http://www.folha1.com.br>.

Figura 5: frente do shopping na Avenida 28 de Março.

Fonte: disponível em: <http://www.folha1.com.br>.

Ainda segundo Barbosa (2014) o edifício receberia o nome de Plaza Tamandaré e

seria dividido por uma rua interna sendo posteriormente construída e doada ao município, em

cada lado da rua seriam edificados seis prédios residenciais, totalizando doze edifícios que

possuiriam apartamentos de dois a três quartos, com garagem e lazer independentes. Os

lançamentos ocorreriam de acordo com o mercado na medida em que a demanda indicaria.

Cita Barbosa (2014) que a proposta do projeto seria privilegiar o convívio em grandes

espaços com praças urbanizadas cujo padrão não existe em Campos, com a função de integrar

os espaços residenciais aos comerciais.

Figura 6: edifícios residenciais.

Fonte: disponível em: <http://www.folha1.com.br>.

O plano político/econômico da instituição esportiva ao longo de sua história foi fator

determinante para o acumulo de dívidas, resultando consequentemente o processo de

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desterritorialização/reterritorialização para o distrito de Guarus e questões de ordem culturais

afetadas, como a identidade do clube. Haesbaert (2007, pág.312) neste sentido relata que a

desterritorialização deve ser aplicada a fenômenos de efetiva instabilidade ou fragilização

territorial principalmente entre grupos socialmente mais excluídos ou profundamente

segregados seja no sentido de dominação político-econômica ou no sentido de apropriação

simbólico-cultural, impossibilitados assim de efetivamente construir ou exercer efetivo

controle sobre seus territórios.

Foto 11: protesto simbólico da torcida simbolizando o enterro do Estádio.

Fonte: disponível em <http://g1.globo.com/rj>.

Apoiado em Haesbaert (2007) que faz uma comparação entre o processo de

desterritorialização em duas visões, material e simbólica. A desterritorialização do estádio

Godofredo Cruz da Avenida Vinte e Oito de Março e sua reterritorialização para o distrito de

Guarus significou não só a perda física do território do estádio que foi construído ao longo da

história do clube (desterritorialização relativa), como também a perda imaterial através da

memória, símbolos, significados e sentimentos (desterritorialização absoluta). Neste sentido

Haesbaert (2007) cita que tanto a desterritorialização do pensamento, tal como a

desterritorialização em sentido amplo, é sempre acompanhada de uma reterritorialização,

resultando em novos encontros, novas funções e arranjos.

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2.3 A reterritorialização para o distrito de Guarus.

De acordo com Marques (2017) em 1890, Guarus era chamada de Freguesia de Santo

Antônio de Guarulhos e compreendia toda a área localizada na margem esquerda do Rio

Paraíba, bem como os municípios de São João da Barra, Itaperuna, Cambuci, São Fidélis e

parte do estado do Espírito Santo. Com a criação de novos distritos e a emancipação das

cidades, o território foi reduzido e o antigo distrito de Guarus foi anexado ao primeiro distrito

de Campos dos Goytacazes em 1967.

Segundo o autor, “são 213,7 km² de extensão territorial divididos em 26 bairros, o que

faz do subdistrito maior que muitos municípios do estado do Rio de Janeiro, como Niterói e

Volta Redonda. ”

Marques (2017) menciona se “a comparação for feita com base no contingente

populacional, Guarus tem mais moradores que 70% das cidades fluminenses. ”

Ainda segundo este autor em Guarus,

estão instalados o distrito industrial do município, o Aeroporto Bartolomeu

Lyzandro, a 2ª Companhia de Infantaria (antigo 56º BI), a Usina Sapucaia, o Teatro

do Sesi, o Centro de Educação Ambiental (CEA), o Parque Municipal da Lagoa do

Vigário, o Solar da Baronesa, o Parque Municipal do Taquaruçu, um variado

comércio que cresce a cada dia, inúmeras escolas particulares, agências bancárias e

centenas de empresas. O distrito de Guarus ainda abriga alguns dos mais luxuosos

prédios e condomínios da cidade. É o caso do Edifício Concorde (foto 17), situado

no bairro Jardim Carioca; e do Condomínio Villa Alice. Nesses locais, moram

muitos empresários que decidiram fugir do eixo Pelinca-Flamboyant e procuraram

morada em uma área menos óbvia, mas sem abrir mão do conforto.

Foto 12: Edifício Concorde

Fonte: <www.jornalterceiravia.com.br>

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Apesar do distrito de Guarus apresentar ao longo dos anos um desenvolvimento

considerável, o mesmo ainda sofre com as desigualdades socioeconômicas. Segundo Gomes

(2015) Guarus é considerada uma área deprimida, historicamente se caracteriza como um

grande maciço de pobreza, com precários investimentos públicos em infraestrutura básica,

como água, esgoto e asfalto, onde predominam loteamentos populares e ocupações

irregulares, às margens de ferrovia e rodovia, beiras de rios e lagoas etc. Este setor se mostra

pouco atrativo para o mercado imobiliário. Também, como nos outros setores, os bairros são

muito heterogêneos, o que aponta para variações profundas no preço do solo.

É sobre esta diversidade socioeconômica que no ano de 2014 começaram as obras do

Complexo Esportivo do Alvinegro, situado as margens da Rodovia Governador Mário Covas

(BR-101) próximo ao Aeroporto Bartolomeu Lizandro. A referida área é composta por

habitantes de baixo poder aquisito o que reflete em casas de baixo padrão construtivo, do lado

oposto da rodovia estão estabelecidas algumas empresas como a concessionária da Volvo

caminhões, a Dical Concessionária Mercedes Bens, a Bridgestone pneus, além de pequenas

lojas de autopeças. Diferentemente do bairro Parque Tamandaré que possui uma alta

densidade urbana, a área em questão é caracterizada por grandes vazios urbanos.

Imagem 2: vista área do Centro Esportivo do Americano Futebol Clube.

Fonte: <http://maps.google.com>

O processo de reterritorialização do Americano futebol clube trouxe impactos

consideráveis, em trabalho de campo realizado no local ficam logo evidentes aspectos

geográficos contrastantes na paisagem. O local que antes era apenas ocupado por terras

ociosas e algumas residências de baixo padrão construtivo agora conta com a presença de um

moderno centro esportivo.

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Foto 13: a margem esquerda da Br-101casas padrão construtivo baixo

Fonte: <http://maps.google.com>

Barbosa (2015) comenta que o caminho de chegada ao novo complexo esportivo do

Americano não é animador. “Para os conceitos da cidade, o estádio é longe da área central,

situado nas margens da BR-101, em Guarus, considerado o ‘primo pobre’ de Campos, isso

segundo o autor para quem só consegue olhar para o seu próprio umbigo. ” Cita o autor ainda

que “muitos torcem o nariz e imaginam como a torcida do clube, tida como de elite,

frequentará o estádio e o novo complexo esportivo. ” Diferentemente do antigo endereço do

clube no Parque Tamandaré ao qual contava com toda infraestrutura urbana, e uma vizinhança

de melhor poder aquisitivo. Porém Barbosa (2015) cita que “sua torcida passa por um

processo de rejuvenescimento e que tais impressões hão de se dissipar. ”

Em entrevista de campo realizada com o presidente Carlos Abreu do Americano F.C

no dia doze de julho de 2017(anexo) no jogo entre Americano e Macaé realizado no estádio

Ary de Oliveira e Souza pela Copa Rio, o mesmo citou que a torcida ainda não criou um

vínculo com a nova área;

Ainda não! A realidade é que ainda não abraçou, a gente dentro do nosso

planejamento estratégico, estamos examinando essa questão de como a gente vai

promover ações que auxiliem nessa parte, mas o mais importante que o clube esteja

bem, se o time estiver bem eu acho que a torcida vai chegar junto, aonde estiver né,

pois é assim que ela sempre faz, ela é uma torcida apaixonada e a distância do

Parque Tamandaré pra Guarus lá vai ser levada a segundo plano. Carlos Abreu,

presidente do Americano Futebol Clube.

Ratifica o presidente na entrevista que sua administração está estudando meios de

promover a aproximação com sua torcida, apesar do momento econômico difícil em que

atravessa o país, com credibilidade e transparência de sua administração espera trazer a

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participação de seu torcedor e sócios, que em tempos áureos o Americano Futebol Clube

chegou a ter dezoito mil afiliados em seus quadros sociais, segundo o mandatário Alvinegro.

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3. ESTÁDIO GODOFREDO CRUZ: (DES) CONSTITUIÇÃO DE UMA IDENTIDADE

3.1As origens do futebol campista.

A identidade territorial segundo Saquet (2013) pode ser compreendida pelo “um

processo histórico, fruto de uma coletividade. ”

A partir da referida citação do autor, compreender a identidade do futebol na cidade de

Campos dos Goytacazes é buscar a compreensão de sua própria história, seus personagens,

sua construção na cidade campista em aspectos físicos e imateriais.

Quando o futebol inicia sua larga difusão planetária (1880-1900) encontra no Brasil

um território fragmentado e com uma diminuta base urbana: menos de um décimo da

população brasileira vivia em cidades em 1900 (MASCARENHAS, 2012, p.72). A rigor, em

1900 não existia no Brasil nenhuma liga de futebol e, portanto, nenhum campeonato

(IBIDEM, p. 72).

Neste mesmo período de acordo com Faria (2008, p.787), entre 1870 e 1900 a cidade

de Campos dos Goytacazes passava por um processo irreversível de modernização, marcado

pela penetração de estradas de ferro, proporcionando uma nova racionalidade urbana na

distribuição de funções e planejamento dos espaços. Ainda segundo esta autora fato

possibilitado pelo o aparecimento de novas indústrias e as novas técnicas na indústria

açucareira determinando alterações na paisagem campista, em sua composição social e

mudanças na morfologia urbana da cidade.

Faria (2008, p.62) menciona que “a modernização possibilitou não apenas a adição de

novos signos em seus espaços, como a diversificação de seu quadro social, permitindo a

construção de novas representações da cidade e de sua sociedade, reforçando a sua identidade

e caráter urbanos. “Ainda de acordo com a autora os intelectuais da época representados pela

a imprensa escrita divulgava a ampliação progressiva de atividades neste novo espaço urbano

e a evolução dos comportamentos sociais, determinado por novos valores que levaram a

novas práticas e relações sociais (FARIA, 2008, p.60).

Entre essas novas práticas sociais, eis que surge o futebol na cidade de Campos dos

Goytacazes. Ourives (2008) jornalista e conhecedor do futebol campista menciona sua origem

de uma forma imprecisa:

A falta de registro, por parte da imprensa, em relação à chegada da primeira bola em

Campos, deve ser levada em conta por vários motivos, todos respeitabilíssimos, por

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sinal. Um deles, e muito importante, o de que a prática do jornalismo no início do

século não era tão intensa quanto à dos dias atuais. Outro, o de que o município de

Campos, para que os de fora façam uma idéia do seu tamanho, é quatro vezes maior

do que a área ocupada pela cidade do Rio de Janeiro. Para completar, naquele tempo

as distâncias se tornavam maiores pela falta de grandes estradas e até mesmo de

meios de transportes. Por tudo isso se tornou polêmica a data da chegada da primeira

bola, logo ela, responsável direta pela introdução do futebol na planície goitacá.

Seja por questões de ordens precárias de comunicação, pelas dimensões geográficas do

município, econômicas e não desmerecendo os vários contos a respeito da chegada da

primeira bola a planície goitacá, é fato que o surgimento de um dos primeiros clubes a praticar

o futebol na cidade de Campos dos Goytacazes segundo Ourives (2008) surgiu em agosto de

1912 no salão do prédio do hotel Internacional. Ainda de acordo com a Folha do Comércio

citada por Ourives (2008) em sua obra, o nome do clube foi homônio ao do hotel em que foi

batizado, o hotel Internacional que segundo os mais velhos sua fundação foi determinada por

um grupo de caixeiros-viajantes que ao chegarem a Campos hospedava-se no recinto na Rua

Lacerda Sobrinho.

Ainda que outros clubes reivindiquem a posteridade de primeiro clube de futebol a ser

fundado na cidade de Campos dos Goytacazes caso do Aliança, Goytacaz e do próprio

Internacional Foot-ball Club, Ourives (2008) cita relatos da imprensa da época que anunciava

a existência de um clube denominado Atlétic Campista Foot-ball Club datado de 23 de abril

de 1910.

Porém é inegável a contribuição do Internacional F.C na formação da identidade

futebolística na cidade de Campos dos Goytacazes, primeiro por ser uma das “primeiras

associações a difundirem as práticas futebolísticas no território Goitacá solicitando ao prefeito

da época o Sr. João Maria da Costa, a ceder terrenos da praça Azevedo Cruz para o

desenvolvimento da prática do esporte” de acordo Ourives (2008), e segundo por ser o clube

responsável pelo encaminhamento da primeira liga oficial campista.

No dia 13 de setembro de 1913 através do presidente do Internacional F.C, o senhor

Tácito Eliot Tavares propõe em uma reunião entre jornalistas, dirigentes e admiradores de

futebol para a criação da primeira liga em Campos dos Goytacazes (PARDO, 2008).

Segundo Pardo (2008), a composição da mesa da assembleia que definiria a primeira

liga campista foi composta pelos representantes das seguintes instituições fundadoras:

Goytacaz, Aliança, Rio Branco, XV de novembro, Lacerda Sobrinho, Luso Brasileiro,

Campos Atlético e Internacional.

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A presidência da Liga campista de desporto de acordo Ourives (2008) ficou a encargo

do Sr. Múcio da Paixão convidando para secretário o Sr. Vitor Avezzo, representante do clube

Campos. Porém de acordo com Pardo (2008) Múcio da Paixão renunciou seu mandato no fim

do ano de 1914, devido principalmente ao desgaste que teve como alguns jogadores de

prestígio na cidade e que depois desse episódio originaria um dos grandes clubes de Campos

dos Goytacazes e do Estado do Rio de Janeiro, o Americano Futebol Clube. Assumiria então

a Liga Campista de Futebol o vice-presidente e jornalista Júlio Nogueira.

A partir de sua criação, os embates políticos na Liga Campista de futebol tornaram-se

corriqueiros, contribuindo para o seu próprio desenvolvimento, mas principalmente do futebol

campista. Pardo (2008) cita que no decorrer dos anos houve muitas brigas, mudanças e

diversas cisões, o que fez com que aparecessem entidades paralelas nas organizações dos

eventos esportivos na cidade, como a Associação Campista de Esportes Terrestres (ACET),

Associação Campista de Esportes Atléticos (ACEA, que contava com Goytacaz, Atlético, Fla-

Flu e Itatiaia), que depois se uniriam novamente a LCF (composta por Americano, Campos,

Luso Brasileiro e Leopoldina) e formaria a Liga Campista de Desportos (LCD), que durante

anos promoveu o campeonato campista de futebol profissional e se fez representar com a

seleção campista em outras competições.

Se na política houve muitos embates para a afirmação e organização do campeonato

campista, na prática esportiva os embates também foram acirrados. O primeiro campeonato

campista ocorreu oficialmente em 1914 e em encerrado em 1951, período este amador. Menos

em 1916, por causa de uma epidemia, e 1927, pela falta de comando não houve campeonato,

que segundo no relato do autor houve início nas disputas futebolísticas, mas não o fim.

(OURIVES, 2008).

Em pesquisa realizada por Pardo (2010) o autor cita alguns clubes que de alguma

forma contribuíram para o desenvolvimento do futebol de Campos dos Goytacazes seja

participando pelo menos uma vez da Liga Campista, jogando esporadicamente jogos

amistosos e torneios regionais ou aqueles times formados por trabalhadores de usinas e

moradores dos distritos, mas que não chegaram a disputar o campeonato oficial, participando

somente de torneios amadores.

Muitos são da primeira fase do futebol, que vai da sua origem até o profissionalismo,

em 1952, assim de acordo com Pardo (2010) os clubes que pelo menos jogaram uma vez no

campeonato organizado pela Liga;

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Internacional, Aliança Foot Ball Club, Americano, Goytacaz, Campos Atlético

Associação, América, Rio Branco, Fla-Flu, Paladino, XV de Novembro, Luso

Brasileiro, Aliança do Queimado, Atlético, Itatiaia, Sapucaia, Cambaíba, São José,

São João, Paraíso de Tocos, Leopoldina, Industrial, Municipal, Futurista Futebol

Clube, Vesúvio e Lacerda Sobrinho. Já os times que participavam de torneios e

amistosos esporadicamente segundo o autor: Democrata, São Cristóvão,

Fluminense, Sírio e Libanês, Atlético Campista F.C, Brazil F.C, Elite, Palmeiras,

Apolo, Corintiano, Madureira, Comercial, Clube Atlético Campista, Atlético

Futebol Clube, York Foot Ball Club, Baroneza Football Club, Barão F. C. Outros

clubes da era profissional que se mantiveram no amadorismo são eles: Pinheiro

Machado (Santo Amaro), União e Aliança (Queimado), Ypiranga (Morro do Coco),

Atlético (Goytacazes), Santo Antônio (Beco), Martins Laje (Martins Laje), Rio

Preto (Morangaba), Palmeiras e Liberal (Cambaíba), Tamandaré (Santa Maria),

Santa Cruz (Santa Cruz), Nacional (Saturnino Braga), Comercial (Conselheiro

Josino), Ururaí e União de Ururaí (Ururaí), Cruzeiro (Poço Gordo), Estrela (Ponta

da Cruz), Santo Eduardo, Esporte Clube Italva (do então distrito de Italva, que se

emancipou de Campos em 1986) e Cardoso Moreira F. C. (o distrito também obteve

a sua emancipação em 1989).

De acordo com Ourives (2008) a Liga anualmente promove o campeonato campista e

ao longo dos anos ela vem promovendo outros certames, taças e troféus e se fez representar,

com a seleção campista, nos antigos campeonatos fluminenses promovidos pela extinta

Federação Fluminense de Desportos. Um certame muito prestigiado foi a Taça Cidade de

Campos, instituída pela LCD em 1968 como competição oficial para preencher o vazio que

permanecia todos os anos, após o término do campeonato da cidade. Ainda de acordo com o

autor no início da sua disputa, isto em 1969, e durante alguns anos, ela contou com o

campeão, vice-campeão, terceiro e quarto lugares nos certames municipais, passando por

variações como a inclusão de todos os clubes profissionais e, ultimamente, contando com

clubes amadores, já aí porque Americano e Goytacaz passaram a disputar, unicamente,

certames promovidos pela FERJ e pela CBF.

Ainda segundo o autor na sua melhor fase, o Americano venceu as primeira, terceira e

quarta Taça Cidade de Campos. O Goytacaz triunfou nas segunda e oitava, ficando as demais

com o Rio Branco (a quinta), Cambaíba (a sexta) e Sapucaia (a sétima). Os troféus sempre

foram oferecidos pela Prefeitura Municipal de Campos. A LCD também promoveu

campeonatos de voleibol, de futebol entre veteranos, futebol feminino e organizou, sob a

coordenação do desportista Gerardo Maria Ferraiuoli, as provas ciclísticas do Padroeiro da

cidade.

3.2 O derby Goytacaz/Americano na identidade do futebol campista.

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Apesar da lista extensa de participantes ao longo da história do futebol campista a

rivalidade mais acirrada em terras goytacá é sem sombra de dúvidas entre o time da rua do gás

como é popularmente chamado o time do Goytacaz Futebol Clube e o Glorioso do Parque

Tamandaré, mas conhecido como Americano Futebol Clube.

Bragueto (2013, p.90) cita que, “as rivalidades se manifestam de maneira mais intensa

em escala local, envolvendo clubes da mesma cidade (dérbis) ou estado. ” Sendo assim de

acordo com o autor, “a relação de rivalidade propicia a criação e circulação de representações

sociais, já que faz parte da vida cotidiana das pessoas. ”

O fanatismo de um torcedor por um clube de futebol encontra a sua maior expressão

em um clássico, na qual expressa suas emoções através de angustias, alegrias, frustrações e

vitórias.

Um clássico de futebol é de tamanha relevância que o clássico carioca Flamengo e

Fluminense na cidade do Rio de Janeiro é considerado como bem de natureza imaterial de

acordo com decreto nº 35. 878 de cinco de julho de 2012 pela prefeitura da cidade do Rio de

Janeiro.

Segundo o site do Goytacaz Futebol Clube maior rival do alvinegro campista, sua

fundação é datada 20 de agosto de 1912, sendo uma instituição sem fins lucrativos, de

utilidade pública (Lei n°1516 de 8 de novembro de 1967), constituído por prazo

indeterminado, com sede própria na Rua dos Goytacazes n° 331.

O clube foi criado a partir de um desentendimento de um grupo de remadores do clube

de Natação de Regatas Campista, que teve negado um pedido de barco para passear no Rio

Paraíba do Sul. Já o nome do clube foi uma homenagem aos primeiros habitantes da cidade de

Campos: os índios goytacazes.

Antes de se estabelecer na Rua do Gás, o Goytacaz passou por uma verdadeira

peregrinação na cidade campista, de acordo com o site oficial do clube o primeiro campo do

Goytacaz foi defronte à igreja de Santo Antônio, em Guarus. Mais tarde o campo passou para

a Praça da República, onde a Prefeitura Municipal cedeu um terreno, mas ali o clube não

ficaria por muito tempo, pois logo se mudaria para perto do Liceu de Humanidades, no antigo

campo do Luso Brasileiro, no mesmo terreno onde, mais tarde, seria construído o palacete de

Finazinha de Queirós, transformado após a sua morte na Casa de Cultura Villa Maria. O

clube, porém, mudaria novamente e, dessa vez, se estabeleceria em frente à linha férrea

campista, no início da Rua do Gás, na Lapa. Foi nesse campo que o Goytacaz se tornou,

definitivamente, um dos maiores times da cidade, chegando a ter ali mesmo o primeiro campo

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com iluminação elétrica do interior do Estado, em 05 de junho de 1930, o que causou muita

polêmica, já que a cidade vivia sérios problemas de abastecimento de energia.

Foto 14: Estádio Ary de Oliveira e Souza na década de 50.

Fonte: <https://vivalaresenha.wordpress.com/>.

A inauguração do estádio Ary de Oliveira e Souza foi em 9 de janeiro de1938 com

uma partida entre os donos da casa, que venceram por 2 a 1 o Internacional, tendo sido um de

seus fundadores, Otto Nogueira, o autor do primeiro gol no estádio, cuja inauguração se deu

na gestão do então presidente Augusto Alexandre de Faria.

Segundo o site do Goytacaz Futebol Clube, a sua história é recheada de conquistas e

façanhas, sendo o primeiro time de Campos dos Goytacazes e o terceiro do antigo Estado do

Rio a jogar no Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã. Isso aconteceu em novembro de

1963, contra a equipe carioca do Madureira e a partida terminou empatada em 2 a 2. Ainda

segundo o site do clube, o Goytacaz foi o primeiro clube campista a ter um jogador na seleção

brasileira, Amaro da Silveira, titular absoluto no Campeonato Sul-Americano de Futebol de

1923, tendo o Goytacaz também revelado Amarildo, “O Possesso”, goleador da Seleção

Brasileira e destaque da Copa do Mundo de 1962.

O Goytacaz também foi o primeiro campeão da cidade de Campos dos Goytacazes,

isto em 1914. Conquistou vinte campeonatos campistas, sendo o de 1955 de forma invicta,

além de ter sido o primeiro tetracampeão (1940/1941/1942/1943), levantou duas taças Cidade

de Campos e cinco campeonatos estaduais (antigo Campeonato Fluminense, em

1955/1963/1966/1967/1978).

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Ourives (2008) cita em sua obra um trecho formulado pelo jornalista Hervê Salgado

Rodrigues ao Jornal Notícia de 1977, expressando as raízes de identidade do clube com sua

cidade:

Um dos maiores valores do Goytacaz FC – esse, patrimônio de nossa terra – é o seu

nome. O adepto do alvianil orgulha-se do nome do seu clube, o qual considera o

mais belo e expressivo de todo o Brasil. Nenhum mais representativo da terra a que

pertence, nenhum exprimindo com abundância igual a essa identificação com as

origens e tradições do meio e sua força telúrica.

Também nenhum outro município do Brasil dá-se ao luxo de ter uma tribo indígena

com exclusividade. E uma tribo diferente, cujas origens ninguém identifica com

convicção porque não há nada que ligue os goytacazes aos troncos principais das

nações índias do Brasil. Elas não são gês, nem tapuias, nem aruaques, nem tupis,

nem guaranis.

Os referidos feitos do time da rua do gás ao longo dos anos da história do futebol

campistas conjuntamente com os feitos do time do Parque Tamandaré como o

eneacampeonato campista entre outros títulos relevantes fizeram a rivalidade aflorar e

polarizar nestas duas agremiações.

Segundo Ourives (2008) O Goytacaz, na época, com dois anos, e o Americano

vivendo seus primeiros dias, já se apresentavam aos olhos dos campistas como as duas forças

irresistíveis do futebol local, embora o Internacional, o Campos e o Rio Branco fizessem por

merecer as atenções gerais numa fase em que o futebol não contava com o grande número de

adeptos.

Os embates entre esses dois gigantes do interior do Estado do Rio de Janeiro ao longo

da história extrapolam as dimensões geométrica do campo do futebol, a rivalidade centenária

é marcada por situações épicas e curiosas.

O ano de 1975 ilustra uma pequena passagem dessa rivalidade centenária, segundo

Ourives (2008) este ano marcou a presença do Americano Futebol Clube no certame nacional

e quando o mesmo foi estrear no estádio Godofredo Cruz, o médico Nílson Cardoso de Souza,

com raízes profundas de amor ao Goytacaz, veio da praia de Grussaí e entrou no Estádio

Godofredo Cruz com uma placa: “Rivais em Campos, unidos no Nacional”. Naquela situação

inusitada o médico expõe suas argumentações para o referido ato, “Isto não quer dizer que

mudei. Significa, apenas, que torço pela minha cidade. Agora, jamais beberei da glória que o

Americano possa alcançar” – comentou, na oportunidade, o conhecido médico.

De acordo com Granger (2013) foi na década de 70 que Americano e Goytacaz

realizaram mais confrontos, não só jogando o campeonato campista, como os estaduais e

nacionais. No Campeonato Campista, Goytacaz e Americano foram campeões por sete vezes

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e por isso os resultados destes confrontos ganharam destaque nos anos de títulos. Apesar de

terem ocorrido vários confrontos nos outros anos, a mídia da época dava destaque a campanha

do campeão e por isso, os confrontos nos anos em que eles não foram os campeões, ficaram

perdidos no tempo. Ainda segundo este autor nos sete anos em que Goytacaz e Americano

conquistaram os títulos, o Goytacaz foi o dono de um troféu e o Americano faturou os

outros seis canecos, inclusive o estadual de 1975. Nos confrontos contabilizados nestes anos

foram 6 vitórias do Goytacaz, 12 vitórias do Americano, 13 empates. Foram marcados 28 gols

pelo Goytacaz e 37 pelo Americano (65 gols no total). Várias partidas não foram

contabilizadas lamentavelmente.

Apesar de numerosos embates neste período, o que mais marcou esta rivalidade foi a

final do campeonato campista de 1975 ao qual consagrou o Americano eneacampeão. Tavares

(2014) cita que foi a maior glória do time do Parque Tamandaré, sendo o jogo decisivo do

campeonato campista realizado na noite de 17 de fevereiro de 1976 no Estádio Godofredo

Cruz.

A histórica rivalidade entre esses dois ícones do futebol campista é tanta que na

década de 80 a Revista Placar fez reportagens sobre o tema. De acordo com a matéria

publicada pela revista em 28 de abril de 1986, “com seus estádios distantes quase 20

quilômetros um do outro Goytacaz e Americano não gostam nem de ouvir a palavra união.

Sonham, isso sim, é em conquistar boas colocações, um na frente do outro de preferência”.

Outro fato publicado na revista que exemplifica bem a rivalidade entre esses dois times, foi o

caso do zagueiro Paulo Marcos, com raízes alvianil foi contratado pelo Americano junto ao

Novorizontino. O fato era que Paulo protagonizou uma das batalhas do clássico nos seus

tempos de azul e branco, a decisão da Taça Cidade de Campos disputada em 1975 pelos dois

clubes, Paulo considerado zagueiro viril saiu da partida com o dedo mindinho quebrado,

sendo considerado o símbolo da conquista e da raça alvianil na decisão.

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Figura 7: noticia sobre a rivalidade entre americano e Goytacaz.

Fonte: <https://books.google.com.br/>.

Neste mesmo período a revista Placar propõe uma enquete a qual levantava a

possibilidade de uma fusão entre as duas instituições. A referida proposta foi levantada após

especulações do então presidente da CBF na época Giulite Coutinho, o objetivo visava o

fortalecimento de times de cidades médias brasileira como Guarani e Ponte Preta em

Campinas; Botafogo e Comercial de Ribeirão Preto (SP) e Americano e Goytacaz, Campos

dos Goytacazes (RJ). O argumento do então presidente da CBF era que a fusão seria

formatada de acordo com modelos bem-sucedidos de clubes europeus como o Napoli, único

grande da Mediterrânea cidade italiana, e o Hamburg SV, da Alemanha trazendo o fim das

dificuldades para aquisição e conservação de grandes jogadores e aposta que a rivalidade

entre cidades patrocinaria grandes espetáculos a cada visita de inimigo mesmo sabendo da

guerra existente entre dois times da mesma cidade.

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Figura 8: noticia sobre a proposta de fusão dos times, Americano e Goytacaz.

Fonte: <https://books.google.com.br/>.

De acordo com a publicação da época torcedores e dirigentes de Americano e

Goytacaz rechaçaram logo de início a hipótese. “Tentem juntar os países árabes e Israel, é

mais fácil”, diz Orlando Fonseca, funcionário orgulhoso Goytacaz. “Fusão? Já foi feita.

Pegamos os cinco melhores jogadores deles”, ironiza Salvador, chefe da torcida do

Americano.

Outro exemplo da extrema rivalidade entre os times foi no ano de 2002 que marcou a

conquista da Taça Guanabara pelo Americano, de acordo com Pardo (2010) o clube alvinegro

organizou um desfile com jogadores em carro do Corpo de Bombeiros e no trajeto, foi

obrigatório uma passagem pela Rua do Gás, local do Estádio do arquirrival. O mesmo

acontecendo com a torcida azul, na conquista da vaga na seletiva de acesso a primeira divisão

do campeonato estadual de 2006.

Atualmente Americano e Goytacaz tentam recuperar glórias do passado ambos

disputaram a série B do campeonato carioca de 2016, sendo a última partida realizada no

estádio Arizão como vitória alvinegra por dois a um, gols de Alan e Juninho Bolt para o Cano

e Diniz descontando para o time da Rua do Gás. O time alvianil foi eliminado na fase de

grupos ficando na oitava colocação no grupo A da Taça Corcovado, enquanto o time do

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Parque Tamandaré acabou perdendo na final da referida competição para o time também

campista Campos.

3.3 Glorioso do Parque Tamandaré:(des) construção de uma identidade.

Vinte quatro de janeiro de mil novecentos cinquenta e quatro (24/01/1954) e dezenove

de fevereiro de dois mil e quatorze (19/02/2014). Talvez, essas datas para alguns torcedores

de futebol que não seja da cidade de Campos dos Goytacazes não signifiquem ou simbolizem

simplesmente nada, porém para a torcida do Americano Futebol Clube tem um significado

muito especial seja de boas recordações ou talvez de lamentações.

Ao longo de 60 anos no antigo estádio Godofredo Cruz o time do Americano Futebol

Clube triunfou com vitórias épicas e títulos marcantes, porém este período simbolizou

também a perda irreparável de um símbolo arquitetônico histórico/cultural do clube e porque

não da cidade de Campos dos Goytacazes proporcionado pelo processo especulativo

imobiliário do solo urbano na cidade de Campos dos Goytacazes.

Para a torcida alvinegra campista, o antigo estádio Godofredo Cruz simbolizava o que

Assumpção (2014) considera como “um ‘lugar de memória’, local onde as lembranças se

apoiariam e poderia ser apreendida pelos sentidos, um local de história que mantinha viva as

lembranças. ” Porém o autor menciona que “a memória tende a ser esquecida e sua função

identitária ser enfraquecida pela velocidade que a vida urbana moderna impõe. ”

A história de glórias e conquistas do clube do Parque Tamandaré começa no

longínquo ano de 1914. Como descrito por Arêas (1976),

corria o ano de 1914. No mês de abril estava programado a vinda a Campos do

América Futebol Clube do Rio de Janeiro para disputar uma peleja contra um

combinado campista. Na ocasião do jogo, porém, surgiu sério impasse, pois o

professor Múcio da Paixão, presidente da Liga Campista de Desportos, exigiu que o

combinado de nossa terra tivesse em seu seio dois jogadores de cada time. Com isso

não concordaram os entendidos, uma vez que o critério melhor a ser adotado seria a

escolha dos melhores jogadores de cada time.

A partir do referido impasse de acordo com Pardo (2010) o combinado dos melhores

jogadores de Campos, liderados por Luiz Pamplona, do Rio Branco; Nelson Póvoa, do

Aliança; e Sinhô Campos, do Luso-Brasileiro se reuniram no caldo do Zezé Póvoa no centro

da cidade, para escalar o selecionado que jogaria contra o time rubro do Rio de Janeiro, fato

que foi apresentado e não aceito pela liga, que ameaçou puni-los, caso a partida fosse

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realizada, mas eles não se intimidaram e jogaram mesmo assim, tendo perdido a partida por 3

x 1, bem menos do que o time posto em campo por Múcio, que saiu derrotado por 6 x 0.

Tavares (2014) cita assim que a partir daquele momento surgiria um dos principais

clubes do Estado do Rio de Janeiro, o Americano Futebol Clube. Segundo este autor os

irmãos Bertoni, uruguaios que jogavam no time carioca, e que ficaram em Campos por uns

dias como convidados dos irmãos Pamplona, por sugestão deles o clube acabou se chamando

Americano Futebol Clube, nome de um antigo time de São Paulo, onde eles haviam jogado e

que fechou as portas sem nunca ter perdido um jogo. A ideia foi aprovada por unanimidade.

A partir daquele momento o Americano na busca pela afirmação de um campo de

futebol passaria por uma verdadeira peregrinação até se alojar no Parque Tamandaré. Arêas

(1976) cita que “a princípio o time treinava e jogava em campo emprestado do Luso-

Brasileiro, depois de muita luta em busca de um campo”.

Pardo (2010) menciona que “o Americano conseguiu a sua primeira praça de esportes,

na Rua Rocha Leão, em um terreno que pertencia a um libanês, que ali guardava carroças e

animais. ” Ainda de acordo o autor, com pouco dinheiro para pagar pelo trabalho de

construção do campo, os próprios jogadores faziam grande parte da obra, comprar madeira

para o palanque e arame para cercar o campo, também era difícil, assim sendo, depois de uma

festa resolveram pegar madeira emprestada em uma construção na praça Barão do Rio Branco

(praça do Liceu) e nunca mais devolveram. Da Rua Rocha Leão o clube mudou- se para a Rua

de São Bento, onde teve um dos seus maiores presidentes, Luiz Cavalcanti que construiu

moderna arquibancada, daí passando para onde é hoje o Estádio Godofredo Cruz, construído

na presidência do Senhor Rubens Moll. (ARÊAS, 1976, p. 16).

Após memoráveis jogos e campeonatos conquistados, Pardo (2010) cita que a área foi

comprada do empresário Julião Nogueira, da usina do Queimado, dona do terreno onde

edificou seu estádio, batizado com o nome do ex presidente do clube Godofredo Cruz,

ganhando a partir daquele momento o carinhoso apelido “Glorioso do Parque Tamandaré”.

O Americano pagou 500 mil cruzeiros e na construção, dispendeu a diretoria mais ou

menos 1 milhão e 500 mil cruzeiros (ARÊAS, 1976, p. 24).

De acordo com Pardo (2010, p.35) O Estádio Godofredo Cruz foi oficialmente

inaugurado em 24 de janeiro de 1954 com uma rodada dupla, quando o Americano jogou

contra o Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, uma das melhores equipes do continente

americano na época e perdeu por 3 a 2, na outra partida o Goytacaz foi derrotado pelo Bangu,

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pelo placar de 4x 1. Complementa Arêas (1976) que no referido dia o Estádio Godofredo

Cruz teve a benção realizada pelo Padre Jomar Vasconcelos.

Foto15: Compra e inauguração do Estádio Godofredo Cruz

Fonte: Americano F.C, Sua história e suas glórias, de 1914 a 1975

Nas palavras de Saquet (2013, p.148) que cita “os atores sociais e históricos constroem

através de atos territorializantes, uma identidade (i) material como edificações (monumentos,

infraestrutura, cidades, ponte...), línguas, mitos, ritos e religião. ” A inauguração do Estádio

Godofredo Cruz significou o marco da identidade do clube campista ao longo de várias

décadas até a sua eminente destruição.

Neste sentido apoiando-se em Saquet (2013) que a construção da identidade territorial

é construída através de atos territorializantes de atores sociais ao longo de um processo

histórico, a do Glorioso do Parque Tamandaré foi sendo construída através de grandes

conquistas e vitórias do time alvinegro no estádio. De acordo com Ourives (2008) o

Americano conquistou 14 títulos na fase amadorista nos anos de 1915, 19, 21, 22, 23, 25, 30,

34, 35, 39, 44, 46, 47 e 50. Já após a construção do Godofredo Cruz no período profissional o

autor cita que o clube foi campeão em 1954, 64, 65, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75 e 77,

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este junto com o Goytacaz, com o qual chegou empatado e a LCD, por falta de datas, resolveu

proclamar campeões os dois tradicionais rivais do futebol campista. Pardo (2007, p.36)

acrescenta na lista de títulos além dos 26 campeonatos campistas, mais 6 campeonatos do

antigo Estado do Rio, o campeonato brasileiro de Seleções, em 1987, representando o Estado

do Rio de Janeiro, o campeonato nacional da terceira divisão também em 1987, e as Taças

Guanabara e Rio em 2002.

Para Tavares (2014) sem sombra de dúvidas o título de êneo campeão campista e do

interior do Rio de Janeiro foi a maior glória do Americano no Estádio Godofredo Cruz.

Segundo o autor “o jogo foi realizado na noite de 17 de fevereiro de 1976, com o americano

batendo o Goytacaz por 1x0 gol de Paulo Roberto, cobrando pênalti aos 40 minutos da etapa

final. Foi a terceira partida da série melhor de quatro pontos que indicou o campeão de 1975.

Foto 16: Time do Americano Eneacampeão de 1975.

Fonte: Americano F.C, Sua história e suas glórias, de 1914 a 1975.

O Estádio Godofredo Cruz ainda no ano de 1975 passaria por algumas reformas que

de acordo com Pardo (2007) a reinauguração foi realizada no dia 13 de julho recebendo

seleção brasileira de juniores que estava em fase de preparação para a disputa do Torneio Sul

Americano da categoria, o jogo terminou empatado em 1 a 1. A reforma tinha como principal

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finalidade oferecer condições de jogo para as disputas do time no campeonato brasileiro

daquele ano, Ourives (2008) cita que a cidade entrou em convulsão perante as notícias

veiculadas nos meios de comunicação da época. O Bulevar Francisco de Paula Carneiro, onde

se acotovelam industriais, fazendeiros, comerciantes, políticos, agiotas e toda uma imensidão

de homens com tempo para discutir os mais diferentes assuntos, entrou em ebulição.

O Estádio Godofredo Cruz necessitando atender as normativas da CBD de acordo com

Ourives (2008) citando os meios de comunicação da época como o Monitor Campista e Jornal

dos Sports, anunciavam em suas páginas algumas medidas de qualificação do Estádio e seu

entorno, como a ampliação de sua capacidade para 20 mil pessoas, sendo que 10 mil lugares

para populares, novas cabines para as emissoras de rádio, retoques nas bilheterias e entradas

para o público, reparos no sistema de iluminação. Já na rua, por conta da Prefeitura

Municipal, foi colocado o asfalto na Cardoso de Melo e na Dom Bosco.

Com o Godofredo Cruz ampliado e em condições, o Americano estreou no

Campeonato Brasileiro no dia 24 de agosto, contra o Santos. A partida histórica por conta da

inédita participação alvinegra no Nacional, já seria motivo suficiente para a festa preparada

pela torcida, porém a vitória sobre o Santos por 2 a 1 fez a cidade respirar Americano naquele

domingo. (OSHIRO, 2016)

Foto 17: Estádio Godofredo Cruz na década de 70.

Fonte: http://www.robertomoraes.com.br.

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É sobre este saudoso estádio de tantas histórias, glórias e memórias foram sendo

constituídos o sentimento de pertencimento do torcedor do Americano pela sua casa. Nas

palavras de Campos (2008), os torcedores são representantes de uma identidade futebolística

vinculada ao antigo território do estádio Godofredo Cruz,

um grupo social que ao longo dos anos construiu uma identidade territorial calcada

tanto no patrimônio imaterial através de sua paixão, afetividade, culto aos símbolos

e mitos clubísticos, quanto na identificação patrimonial de seu estádio, local de

encontros em que os torcedores se aglutinavam social e espacialmente em torno do

clube, compartilhando representações sociais, gerando um sentimento de pertença,

ou seja, seu lar (CAMPOS, 2008).

Fato este que pode ser comprovado na entrevista do Sr. Robson Pessanha, 58 anos de

idade e torcedor do Americano Futebol Clube, ao conceder entrevista para o trabalho e ser

indagado sobre quais recordações tinha do antigo estádio, o mesmo relata com certo

saudosismo,

Ah, imensas, imensas! Assistia jogo ali bem encostado no alambrado, como gosto

até hoje, peguei a reforma da arquibancada social, a cobertura dela, a construção do

parque aquático, inúmeros títulos que ali a gente jogou, a inauguração da Torcida

Força Jovem dentro de um campo de futebol que se deu contra o Santos de Pelé e

tudo aqui, que a gente entrou com o estádio lotadinho e passou com a faixa da

torcida dentro do campo foi muito bacana, coisas que não se apagam da memória.

A desterritorialização/reterritorialização para o distrito de Guarus simbolizou não só a perda

de um patrimônio histórico/cultural da cidade de Campos dos Goytacazes para a especulação

imobiliária, mas principalmente para sua torcida a perda de uma identidade territorial, na qual

ficam apenas resguardadas na memória de seus torcedores as conquistas e façanhas realizadas

no antigo estádio Godofredo Cruz.

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Foto18: ruínas do estádio Godofredo Cruz.

Fonte: Agência Ururau

Foto 19: ruínas do Godofredo Cruz

Fonte: www.globo.com

Em reportagem realizada pelo Jornal o Dia em agosto de 2014, período da realização

da demolição do estádio pode ser constatada a lamentação do então presidente do Império

Americano e da associação das torcidas organizadas do clube, Vinicius Birigui de 37anos:

“É uma perda irreparável. No ano do centenário do clube, nós perdemos nosso maior

patrimônio material. O bom é que ainda temos a nossa torcida como patrimônio. ”

Apesar da esperança de dias melhores, o sentimento é de saudade da antiga casa.

“Por mais que tenhamos convicção e sejamos futuristas em acreditar que o novo

complexo vá fazer o Americano grande novamente, a gente vai sentir muita saudade

do nosso eterno Godofredo Cruz. O estádio vai ficar na memória do torcedor para

sempre. ” (BIRIGUI, 2014)

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Outros elementos que de forma direta também participaram de uma fração da história

do Glorioso do Parque Tamandaré expressaram suas opiniões e sentimentos como o ex-

jogador e ex presidente Luciano Vianna do Americano:

“Foi no Godofredo Cruz que eu brilhei com o clube. Perder o estádio é uma dor

muito forte para nós. Pelo lado da presidência, considero um crescimento. Vamos

para um lugar mais estruturado, maior, onde vamos desenvolver melhor o nosso

jogo. ” (VIANA, 2014).

Um dos maiores jogadores de todos os tempos do Americano Futebol Clube e

protagonista do memorável eneacampeonato, o ex jogador Paulo Roberto em entrevista

concedida ao blog Viva La Resenha cita que a mudança foi necessária principalmente pelos

aspectos físicos:

Eu vou falar pra você, fui a favor. O Estádio Godofredo Cruz era uma área

excelente, no Parque Tamandaré. O vestiário não existia, era pequeno. Se tivesse

seis ou sete jogadores de fora, não tinha um aposento pra dormir. Se você fosse de

carro tinha que por na rua, não tinha onde por o carro, aí a guarda pegava todo

mundo. O Americano não tinha mais como crescer, não tinha espaço para crescer.

Lá é seis vezes maior do que aqui, tanto é que tão fazendo tudo e ainda tá sobrando.

Agora tem alojamento com quarto para os meninos dormirem. Tem salão para visita,

para reunião. Tem vestiário com água quente, banheira térmica, tem dois campos

prontos, com mais um que vão fazer, serão três campos para treinamento. E tão

fazendo a área do estádio. O campo do Americano tá muito mais valorizado. Muito

lindo, eu entrei. Pra campista tudo é longe, 10 ou 11 quilômetros é longe. Mas se

tiver time não tem distância, todo mundo vai. Quando nós jogávamos, vinha muita

gente de Bom Jesus, Pádua, Santo Amaro. Onde é mais longe? Vinha e ia embora

satisfeito. Quando o negócio é bom, todo mundo vai. Quando é ruim, pode tá do

lado que você não quer ver (ROBERTO, 2017).

Pelos discursos dos dois ídolos alvinegros, além da especulação imobiliária a

dissolução do antigo estádio Godofredo Cruz obedece normativas de modernização dos

estádios de futebol atualmente. Assim de acordo com Campos (2015) desde do final do século

XX o futebol tem se transformado na mais global das mercadorias e os estádios de futebol

assumindo seu protagonismo, para atender aos novos tempos e exigências legais. Ainda

segundo a autora, esses novos equipamentos a arquitetura deve ser inovadora e enfatizar a

estética, funcionalidade, tecnologia e acessibilidade. Com ênfase nos quesitos conforto e

segurança, os assentos devem ser vendidos como mercadoria rara. O desenvolvimento comer-

cial deve ocorrer também em dias sem jogo, daí a ênfase na multifuncionalidade. A cons-

trução deve ser icônica capaz de contribuir para a regeneração urbana. Por fim, deve ser um

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atrativo turístico, de identificação coletiva, que permita a um público mais vasto vivenciar

novas e antigas experiências, reforçado por um ambiente, ao mesmo tempo futurista e

memorialista.

Foto20: CT do Americano e sua fachada moderna

Fonte:<www.americanofc.com.br>.

Neste sentido o novo complexo esportivo e a consequente desterritorialização e

reterritorialização do clube para o distrito de Guarus faz o Americano futebol clube obedecer

a um processo hegemônico de globalização que altera os hábitos, a cultura e a identidade de

seus torcedores, assim segundo Campos (2015) “os estádios nascem com essa identificação

frouxa, principalmente que a demanda não é dada pelos torcedores, mas sim, pelos adminis-

tradores dos clubes, gestores públicos e capital imobiliário, tendo com mote o negócio e

o lucro”.

3.4 Resultados obtidos na aplicação das entrevistas.

No referido trabalho de campo foram realizadas entrevistas com 20 torcedores na faixa

etária de 20 a 65 anos de idade com o intuito de constatar qual percepção identitária tem o

torcedor do Americano Futebol Clube perante este processo desterritorialização e

reterritorialização do clube para o Distrito de Guarus.

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As entrevistas foram realizadas no dia doze de julho de 2017 no campo do Arquirrival

Americano, o Goytacaz Futebol Clube, no Estádio Ary de Oliveira e Souza, em partida válida

pela Copa Rio diante do time do Macaé.

As perguntas foram realizadas de forma oral aos entrevistados e formuladas em um

questionário pré-elaborado. Segundo Dencker (2000), este tipo de entrevista é constituída por

perguntas previamente elaboradas, diferente da entrevista semiestruturada, que permite maior

liberdade ao pesquisador.

Neste sentido foi desenvolvida uma relação fixa de perguntas, cuja ordem e redação

permanecem invariáveis para todos os entrevistados é a denominada entrevista estruturada.

(GIL, 1999).

O questionário foi formulado no intuito de obter informações dos participantes da

pesquisa as seguintes questões:

1) como começou a paixão pelo clube;

2) conhecimento sobre as origens do clube;

3) Recordações que tenham do estádio Godofredo Cruz;

4) escolha entre modernidade ou tradição

5) comparativo de identidades do clube (Glorioso do Parque ou clube de elite);

6) A ida para o distrito de Guarus e a questão da identidade.

7) perspectivas do cube para o futuro.

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1) Na análise da questão de como originou a paixão pelo clube ficou estabelecido

que:

Gráfico 1

2) Quanto ao conhecimento sobre as origens do clube:

infância 25%

familiar 25%

[NOME DA CATEGORIA]

[PORCENTAGEM]

outros 10%

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Gráfico 2

3) Recordações que tenham do Estádio Godofredo Cruz:

Gráfico 3

sim 50%

não 25%

títulos 25%

Títulos 30%

Jogo 45%

Diversas 20%

Não frequentou 5%

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4) Opção entre a modernidade do Centro de treinamento esportivo ou a tradição do

antigo Estádio Godofredo Cruz.

Gráfico 4

5) Comparativo de identidades do clube (Glorioso do Parque ou clube de elite)

Gráfico 5

Centro Esportivo 47%

Estádio Godofredo Cruz

37%

os dois 11%

indecisos 5%

80%Glorioso

10%Elite 10%os dois

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6) A ida para o distrito de Guarus e a questão da identidade.

Gráfico 6

7) Perspectivas do cube para o futuro.

Gráfico 7

Ganha 50%

perde 40%

indecisos 10%

Transparência 55%

Conquistas 45%

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De acordo com os dados obtidos na entrevista é possível observar que a torcida do

Americano Futebol Clube passa por um processo de renovação de seus torcedores, conforme

citado por Barbosa (2015) anteriormente no trabalho, mencionando o processo de

rejuvenescimento da torcida alvinegra. Porém é inegável a existência de torcedores mais

antigos que ainda sim vivenciam suas emoções nas arquibancadas incentivando o time

alvinegro, conforme pode ser observado no trabalho de campo.

Neste sentido de acordo com as entrevistas constatou-se que a paixão pelo time do

Americano Futebol clube é originada pelo local, ou seja, o verdadeiro torcedor bairrista,

principalmente por aqueles torcedores localizados nos bairros Parque São Caetano, Parque

Dom Bosco e Parque Tamandaré o que demonstra raízes identitárias territoriais.

Em relação sobre o conhecer da formação histórica do clube, cinquenta por cento dos

entrevistados diziam saber a história do clube, porém foi observado que desse quantitativo

apenas fragmentos históricos do clube foi citado e não verdadeiramente a história; seguidos de

vinte e cinco por cento que relatavam apenas conquistas marcantes e outros de igual

porcentagem não tinham conhecimentos históricos do clube.

Sobre as recordações que guardavam do antigo Estádio Godofredo Cruz quarenta e

cinco por cento dos entrevistados lembram de algum jogo específico, já trinta por cento

lembram de títulos como eneacampeonato de 75 e principalmente o título mais recente da

Taça Guanabara de 2002, outros vinte por cento lembram de diversos acontecimentos na área

social e cotidiana do clube, e por fim cinco por cento dos entrevistados não vivenciaram algo

no estádio.

Quanto a opção de escolha entre a tradição do Godofredo Cruz e a modernidade do

Complexo esportivo, quarenta e sete por cento dos entrevistados optaram pela modernidade

pois entendem que as novas normativas do futebol moderno exigem, porém foi observado que

a questão da distância é um pouco desanimadora e além de um certo saudosismo desta

porcentagem de entrevistados pelo o antigo estádio Godofredo Cruz, já na faixa dos trinta e

sete por cento observa-se um despontamento com a destruição do Estádio Godofredo Cruz e

inconformados pelo descaso a um patrimônio histórico/cultural, onze por cento da margem de

torcedores prefeririam a conjugação tradição/modernidade, enquanto outros cinco por cento

de indecisos.

No que tange a escolha de identidades a serem atribuídas ao clube, entre a

denominação “Glorioso do Parque Tamandaré” ou time elite de usineiros, oitenta por cento

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dos entrevistados se identifica com o Glorioso do Parque Tamandaré, fato este atribuído a

histórica conquista do Eneacampeonato campista e recente conquista da Taça Guanabara de

2002, porém dez por cento consideram que o Americano Futebol Clube era mais “raíz”

quando bancado pelos usineiros, além de outros torcedores nesta mesma faixa de porcentagem

considerarem as duas denominações complementares, considerando que só leva esta

denominação de glorioso graças aos investimentos dos usineiros ao longo dos anos.

Na questão em que aborda se a ida do clube para uma nova área perde a sua

identidade, cinquenta por cento dos entrevistados consideram que com a ida do clube para o

distrito de Guarus o clube conquistará novos torcedores, podendo inclusive aumentar a

margem de maior torcida em relação ao seu arquirrival Goytacaz, em muito esta análise vai ao

encontro de Haesbaert (2007) cita que “tanto a desterritorialização do pensamento, tal como a

desterritorialização em sentido amplo, é sempre acompanhada de uma reterritorialização,

resultando em novos encontros, novas funções e arranjos.” Já quarenta por cento dos

entrevistados possuem uma visão conservadora principalmente este público que vivenciou

durante anos várias emoções no estádio Godofredo Cruz e dez por cento formulam os

indecisos.

A última questão que aborda as perspectivas de futuro do clube, cinquenta e cinco por

cento dos torcedores entrevistados anseiam por transparência administrativa, enquanto outros

quarenta e quatro por cento almeja títulos.

Lembrando Saquet (2013), que a identidade territorial pode ser compreendida através

de um processo histórico, fruto de um trabalho coletivo, no qual é considerado o território na

sua (i) materialidade por meio de edificações, monumentos, dialetos, crenças e memória.

Na análise do questionário, considerando a memória do torcedor como parte integrante

de sua identidade e um bem imaterial a ser preservado, chega-se à conclusão que a identidade

do torcedor perante o Americano Futebol Clube encontra-se fragilizada não apenas pelo

simples fato que a torcida está passando por um processo de rejuvenescimento, mas pelo fato

que tanto torcedores antigos como os mais novos saberem da história do clube de forma

fragmentada e intercalada ou seja, relacionando-a pequenos trechos da história do clube ou a

títulos relevantes do passado, neste sentido o trabalho apoia-se em Assumpção (2014) que

considera que a memória tende a ser esquecida e sua função identitária ser enfraquecida pela

velocidade que a vida urbana moderna impõe.

Apesar deste laço identitário ser fragilizado pela memória e principalmente pela

destruição de seu maior patrimônio histórico, o torcedor mais jovem do clube vê com grande

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esperança o novo complexo esportivo do Alvinegro campista, futuramente conquistando

novos torcedores, formando novas identidades materiais e simbólicas através de uma gestão

transparente que possa alavancar sua estrutura social, mas principalmente o time a alçar novas

conquistas nesta fase.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Perante os estudos realizados e de acordo com o autor Bienenstein (2003), conclui-se

que o advento da globalização no final da década de 80 e início de 90, do século XX,

significaram transformações com repercussões nas diversas esferas da vida e sociedade.

As cidades assim sucumbem aos interesses e regras de reprodução do capital

realizando transformações urbanística que atendem diretamente ao jogo do mercado

imobiliário fragmentando, hierarquizando e privatizando espaços públicos. Nesse contexto,

Carlos (2007) menciona que “o espaço público, acessível às possibilidades do uso são

destruídos por estratégia imobiliárias submetidas à mediação do mercado, transformando o

espaço em mercadoria. ” Assim de acordo com as considerações desta autora, “o valor de uso

tende a submeter-se ao de troca, trazendo como consequências, a perda de identidade em

função da destruição dos referenciais urbanos vindo do passado e a transformação dos antigos

valores que se confrontam na cidade. ”

Os estádios de futebol são exemplos confirmados por Campos (2015) deste processo

global de transformações urbanísticas especulativas imobiliárias e desterritorializadoras de

ordem global. A autora cita casos de times espanhóis como o estádio de Sarriá, em Barcelona,

sede da Copa do Mundo de 1982, campo do RCD Espanyol, não existe mais; Mestalla, em

Valência, estádio em uso mais antigo da Espanha, campo do Valencia CF, está com os seus

dias contados, bem como o estádio Vicente Calderón, em Madrid, casa do Club Atlético de

Madrid, para só citar alguns. A América do Sul padece do mesmo mal. Há o processo de

reforma/reformulação dos estádios e/ou mudança de localização, seja para atender ao mercado

imobiliário ou as novas padronizações esportivas.

O Americano F.C padeceu do mesmo mal, mudando de endereço por uma demanda

determinada entre administradores do clube e o capital imobiliário, resultando em uma

identificação frouxa por parte de seus torcedores, conforme afirmado pelo próprio presidente

do clube que “os mesmos ainda não abraçaram a causa de sua nova casa. ”

Foi percebido pelas entrevistas concedidas que embora o processo desterritorializador

do Americano F.C do bairro Parque Tamandaré tenha significado para seus torcedores a perda

dos vínculos dos laços afetivos e o rompimento de sua história, na qual apenas a memória

fragmentada de torcedores mais antigos as mantém, a reterritorialização do clube para o

distrito de Guarus, surge como uma oportunidade de crescimento principalmente na opinião

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de torcedores mais jovens, deslumbrados por uma nova formula de sucesso de clubes mundo

afora estabelecidos em suas arenas multiuso.

Entende-se assim, que o clube Americano F.C através de sua presidência e mesa

diretora precisa conjugar nesta nova fase do clube modernidade e tradição, principalmente no

momento em que o clube começa a estabelecer-se em uma nova área, permeada por

diferenças socioeconômica e culturais. Neste sentido formatando novas identidades e

fortalecendo antigas.

Assim é entendido que alavancar projetos de inserção social na nova área torna-se

importante, principalmente na abertura de escolinha de futebol que possa revelar novos

valores ao clube e consequentemente retirando jovens do local da ociosidade, estabelecer em

seu programa sócio torcedor preços módicos a camadas populares mais carentes, o que leva

consequentemente a novos torcedores, rendimentos para investimentos conjugados com o

apoio de entidades privadas.

Já quanto em manter viva a história, cabe principalmente a parte de marketing e

patrimônio do clube elaborar planos que mantenha viva principalmente na memória de seu

torcedor a grandeza do clube, não basta ter apenas salas de troféus e o manter do nome

Godofredo Cruz no novo estádio. É preciso de ações que mantenham viva a memória do

torcedor presente, antigo e futuro, como por exemplo um museu temático tido em clubes

como Barcelona e na Nova Arena Maracanã que resgatam a sua história, através de vídeos,

imagens e depoimentos de várias personalidades que contribuíram de alguma forma para com

a sua identidade.

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APÊNDICE

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APÊNDICE 1: Questionário para coleta de dados da torcida do Americano Futebol

Clube

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Curso de Licenciatura em Geografia

Orientador da Monografia

Professor: Gustavo Sirqueira

Aluno: Claudio Vinicius da Silva Moreira

1- Como começou a sua paixão pelo Americano Futebol Clube?

2- Conhece a história do clube, suas origens?

3- Quais recordações tem do antigo estádio Godofredo Cruz?

4- O Americano administrativamente vive uma nova fase sanando suas dívidas e mudando de

endereço para o distrito de Guarus. Neste sentido entre a modernidade do novo complexo

esportivo e a tradição do antigo Godofredo Cruz, qual você optaria?

5- O Americano simbolicamente sempre foi considerado como o Glorioso do Parque

Tamandaré pelas conquistas e um clube de elite pelo patrocínio de vários anos dos usineiros?

O que acha das duas colocações?

6- A ida do clube para o distrito de Guarus você acha que o clube perde a sua identidade?

7- O que espera daqui para frente do clube como um todo?

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APÊNDICE 2: Entrevista com o presidente do Americano Futebol Clube Carlos Abreu

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Curso de Licenciatura em Geografia

Orientador da Monografia

Professor: Gustavo Sirqueira

Aluno: Claudio Vinicius da Silva Moreira

Esta entrevista com o presidente do Americano Futebol Clube, Carlos Abreu tem como

finalidade buscar informações específicas que contribuam para o trabalho a respeito da

reterritorialização do clube para o distrito de Guarus.

1- Como começou a sua relação com o Americano de Campos?

A relação ela já tem mais ou menos uns 17 anos, eu não sou natural de Campos né, vim pra

Campos com 17 anos para estudar e logo assim eu entrei para as categorias de base do

Americano treinava lá e aí já ganhei um carinho muito grande pelo clube desde dessa época.

2- O que representou o Estádio Godofredo Cruz em sua vida?

Era o que tinha de melhor né em termos de estádio na cidade, era uma referência do interior

né! Com grandes partidas aqui dos grandes clubes do país, é o eterno parque Tamandaré, o

eterno estádio.

3- Antes da permuta do Estádio Godofredo Cruz, chegou a se cogitar uma possível

revitalização do Estádio, ou seja, algum projeto específico com parcerias?

Não que seja do meu conhecimento, eu não integrava nesta época a direção enfim, a diretoria

do clube, então, mas que eu saiba não. Eu sei que o estádio tinha uma parte que estava

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interditada né! Como outros estádios do país estão também, enfim por conta de estrutura

mesmo, por falta de segurança, e uma boa parte do estádio estava interditada e ele já estava

ficando deficitário para as partidas que o Americano jogava lá.

4- E o novo Centro Esportivo localizado do distrito de Guarus que representa para o clube?

É a redenção né? É o futuro, o Americano renasceu das cinzas, dos escombros e todo mundo

que vai lá fica impressionado com a estrutura que está sendo construída lá, com o que já tem e

o que tá por vir né, e vai ser um complexo esportivo de primeiro mundo e a gente está

esperançoso que até o final do ano que vem, 2018, a gente possa estar inaugurando isso.

5- Para a escolha da referida área foi realizada algum tipo de estudo, inclusive sobre o

impacto da construção Complexo Esportivo na referida área?

Foi, foi...inclusive essa negociação não foi na nossa gestão, mas essa negociação ela é pra quê

a obra pudesse ser autorizada tem licença da obra, tem autorização de INEA né! Foi feito

estudo de impacto ambiental, uma série de coisas que foram feitas e que a gente tem mantido

lá né!?

6- Na época da permuta do Godofredo Cruz veiculou uma reportagem no Rj Tv em 2013

sobre protestos de uma parte da torcida em frente ao estádio principalmente pelo que ele

simbolizava, você acha que a torcida irá se identificar com a nova área? Hoje existe algum

projeto para chamar o torcedor a frequentar com mais intensidade o clube?

Ainda não! A realidade é que ainda não abraçou, a gente dentro do nosso planejamento

estratégico, estamos examinando essa questão de como a gente vai promover ações que

auxiliem nessa parte, mas o mais importante que o clube esteja bem, se o time estiver bem eu

acho que a torcida vai chegar junto, aonde estiver né, pois é assim que ela sempre faz, ela é

uma torcida apaixonada e a distância do Parque Tamandaré pra Guarus lá vai ser levada a

segundo plano.

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7- Quais as projeções de futuro para a referida área em Guarus?

Olha nosso complexo é uma área muito grande né! Para você ter uma noção

comparativamente a Granja Comary onde a seleção treina tem 148 mil m² e a gente tem

200mil, então a gente tem muito a crescer ainda lá, depois de ser entregue o complexo a gente

ainda tem lá uma área de quase 60 mil m², para você ter uma noção o Parque Tamandaré que

a gente tá falando aqui, tem 23 mil e quinhentos onde era o Godofredo Cruz antigamente

então a gente ainda vai ficar com uma área lá para construir quase quatro Godofredo Cruz se a

gente quiser, então se fosse o caso, a gente tem muita área e a gente tem que estudar né! O

impacto que vai trazer para a região ali, mas a idéia é fazer um plano de expansão sim, no

futuro.

8- O estádio está incluindo no meio, para capacidade de quantas pessoas mais ou menos?

O estádio ele vai ser inicialmente para uma capacidade de oito mil pessoas, né! Podendo

aumentar para 18 mil, essa é a proposta inicial que a gente tem.

9- E na área local existe algum nome que remeta ao antigo estádio Godofredo Cruz?

A gente vai manter o nome do estádio Godofredo Cruz, isso a gente não vai mudar né! Acho

que a gente não pode abdicar de nossa história né, das pessoas que fizeram o Americano ser o

Glorioso e tanto o ginásio vai ter o mesmo nome que tinha Doutor Eduardo Luiz Póvoa,

quanto o estádio vai ficar com o nome Godofredo Cruz.

10- Em relação ao time do Americano, como está sendo realizado o trabalho para que o clube

possa brilhar novamente em cenários nacional e estadual?

A gente tem uma série de projetos, mas o primeiro deles é promover essa reaproximação com

a torcida, o Americano já teve 18 mil sócios pagantes, e é esse projeto que a gente tem,

conseguir trazer de volta a credibilidade ao clube e trazendo de volta tenho certeza que as

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pessoas vão participar, vão querer ajudar e o momento econômico é também um momento

difícil, a gente sabe, reconhece até para pleitear um patrocínio e tudo, então o objetivo é a

gente conseguir colocar o clube no cenário nacional e ai começar a dar uma visibilidade a ele

maior.

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APÊNDICE 3: Entrevista com Roberto Pessanha Diretor do Americano Futebol Clube.

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Curso de Licenciatura em Geografia

Orientador: Gustavo Sirqueira

Aluno: Claudio Vinicius da Silva Moreira

Entrevista com o Sr. Roberto Pessanha, 62 anos, Diretor do Americano Futebol Clube.

1- Como começou a sua relação com o Americano de Campos?

R: Nascido e criado próximo ao Estádio, desde cedo acompanhava o Americano FC criando

uma identificação e paixão pelo mesmo, comecei a participar ativamente do clube como atleta

das escolinhas de base nos meados da década de 1960, que era chamada de Dente de Leite,

onde prossegui até a década de 1970, onde optei pelos estudos, devido às dificuldades e

disponibilidade de tempo para dedicar-me exclusivamente ao futebol.

2- O que representou o Estádio Godofredo Cruz em sua vida?

R: Foi onde acompanhei as glórias e inúmeros títulos do Glorioso Americano, foi também o

diferencial para a escolha da compra de minha residência (em frente a bilheteria e entrada

social do Estádio), pois queria estar sempre por perto e acompanhar os treinamentos e jogos

do meu clube de coração

3- Nos meios de comunicação foram divulgados que a permuta do Godofredo Cruz foi

determinada pela crise econômica que o clube atravessa ao longo dos anos, o que o senhor

tem a dizer a respeito desta afirmativa?

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R: Isso não procede, a justificativa da Diretoria na época, era em virtude do mesmo por estar

em uma área nobre e central, necessitaria de ampliar sua capacidade de estacionamento para

atender as novas recomendações da FIFA/CBF, pois as ruas ao redor já não comportava a

quantidade de carros e ônibus em dias de jogos, principalmente quando recebia os quatros

clubes dito grandes da capital. Isso para nós, também não era uma justificativa muito

plausível, pois o acesso dos torcedores era facilitado pelas linhas regulares de ônibus

circulante, taxis e até mesmo o caminhar, pois ficava perto de tudo.

4- Antes da permuta do Estádio Godofredo Cruz chegou a se cogitar uma possível

revitalização do Estádio, ou seja, houve algum projeto específico com parcerias para a sua

permanência?

R: Positivo, porém sem nenhuma ajuda do poder público. Eu nesta época fazia parte de um

grupo divergente da Administração daquela Diretoria, chegamos a propor um projeto grátis de

autoria do grupo, idealizado pelo abnegado torcedor Júlio Manhães, que transformava o

Estádio em uma Arena, incluindo áreas com lojas e escritórios para aluguel, o que ajudaria ao

Clube financeiramente para no seu sustento, porém a proposta não foi levada à diante.

5- O senhor como antigo vizinho do estádio Godofredo Cruz, o que perde a área com ausência

do estádio? E o clube perde um pouco de sua identidade?

R: Como torcedor, perco o contato mais íntimo e a facilidade de estar mais presente, além

alterar a identidade do Clube de Parque Tamandaré, não só para mim como para a maioria de

seus torcedores, esta mudança não seria benéfica.

R: Como cidadão, apesar de gostar do alvoroço em dias de jogo, ganho a tranquilidade,

segurança familiar, ganho também com a valorização de meu imóvel, pois poucas pessoas

gostariam de morar ao redor de um estádio, principalmente em dias de grande movimento,

pelo mau comportamento das torcidas organizadas se digladiando, exemplos é o que não

faltam pelo Brasil a fora.

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6- Na época da permuta do Godofredo Cruz veiculou uma reportagem no RJ TV em 2013

sobre protestos de uma parte da torcida em frente ao estádio principalmente pelo que ele

simbolizava, o senhor acha que a torcida irá se identificar com a nova área? Hoje existe algum

projeto para chamar o torcedor a frequentar com mais intensidade o clube?

R: O protesto era geral, quase ninguém aceitava esta permuta, porém a luta foi ingrata, pois

quem decidia, comparecia em massa nas assembleias. Más como o Americano anteriormente

ficava localizado em outra área da cidade e foi para o Parque Tamandaré e os torcedores se

adaptaram, acho que acontecerá o mesmo com a sua ida para Guarus. Nós da Diretoria atual,

nos preocupamos e muito com o deslocamento de nossos torcedores para o novo endereço

pela sua distância e dificuldade de acesso por ônibus, porém estamos solicitando às

autoridades competentes, o aumento de linhas regulares para transporte coletivo passando

pelo novo endereço.

7- Quais as projeções de futuro para a referida área em Guarus?

R: O CT como um todo é uma novidade, pois sabemos das dificuldades de manutenção de um

complexo desta grandiosidade, estamos trabalhando junto ao poder público e privado na

obtenção de parcerias/patrocínios para a sustentação de nossa casa. Além disso, estamos

investindo forte nas divisões de base, para que possamos “fabricar” talentos, que vão nos

ajudar na composição do elenco e também nas negociações desses atletas para gerar capital e

com isso ajudando na manutenção e sustentação do Clube.

8- E na área local existe algum nome que remeta ao antigo estádio Godofredo Cruz?

R: Nada, na área de Parque Tamandaré nas negociações nem uma pequena sala foi prevista,

só ficando as lembranças. Já na nova área, nos preocupamos em levar o nome do Estádio que

continuará a se chamar Godofredo Cruz, agora de Parque Guarus.

9- Em relação ao time do Americano, como está sendo realizado o trabalho para que o clube

possa brilhar novamente em cenários nacional e estadual?

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R: Temos feito um trabalho forte, montando time e comissão técnica competitiva, o que nos

resultou nos últimos dois anos a bater na trave, perdendo a ascensão por pequenos detalhes.

Este ano seguimos com o trabalho forte e estamos realizando um excelente campeonato,

visando o retorno à primeira divisão e ao cenário da elite do futebol brasileiro.

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APÊNDICE 4: Fotos do Trabalho de Campo

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Torcedor do Americano presença no Arizão, estádio do Goytacaz

Torcida no jogo entre Americano e Macaé válido pela Copa Rio

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Trabalho de campo realizado em 12/07/2017, partida no Estádio do Goytacaz.

Torcida organizada La Guarda Alvinegra

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Entrevista com o presidente do Americano Carlos Abreu.