Ficha de InformaçãoCaracterísticas do conto
(tem partes e regras definidas)
Conto Tradicional
O conto tradicional (ou popular) é uma narrativa breve, concentrada numa só situação e com um reduzido número de personagens.
É de tradição oral, tem a sua origem no povo anónimo e pertence a um património universal e intemporal. Existe nos diferentes povos e culturas, desde os tempos primitivos. Tem uma função lúdica e transmite uma moralidade.
O tempo e o espaço são indeterminados.Os temas são variados: a mulher (teimosa, desmazelada, gulosa, etc.); a
infidelidade; a fidelidade; o engano; o homem dominado pela mulher; a superstição, a feitiçaria, a magia; a crença no destino, etc.
No que respeita às personagens, encontra-se uma imensa galeria de personagens astuciosas, engenhosas, irreverentes e maliciosas, que se servem de ardis bem imaginados, de manhas e de espertezas para atingirem os seus objectivos.
O Conto Tradicional:- é de autor anónimo;- o espaço e o tempo são indefinidos;- transmite-se oralmente;- possui diferentes versões;- tem um enredo simples;- é uma história curta;- apresenta (quase sempre) formas fixas iniciais (Era uma vez…) e finais
(… casaram e viveram muito felizes.);- possui um número reduzido de personagens;- o herói/heroína sai sempre vitorioso;- o mais fraco (o mais novo, mais feio) é sempre recompensado;- diverte e entretém;- tem uma função didáctica.
Partes do Conto: (a maioria dos contos têm três partes)
1ª – Situação inicial – o herói é maltratado, é vítima de um encanto, é ameaçado…
2ª – Percurso do herói – Tem de enfrentar um perigo, há alguém que tenta maltratá-lo, é feito prisioneiro, é enfeitiçado, é forçado a viajar para longe…
3ª Desfecho – o herói usa a magia, luta e sai vitorioso, é libertado, ressuscita, é salvo, casa, tornou-se rei, o mal é vencido e castigado, o bem é recompensado…
PLANO
introdução Apresenta a personagem principal; localiza a acção no tempo e no espaço (local); prepara a acção.
desenvolvimentoDesenvolve o conhecimento das personagens; desenrola uma sequência de acções que, na sua totalidade, constituem a história; descreve situações e lugares.
conclusão
Marca o fim do texto, ou seja, aquilo em que vai dar o projecto inicial: pode ser um êxito e a história acaba bem, ou um fracasso e a história acaba mal. O fim pode, pois, ser anedótico, triste, sentimental, moralizador, filosófico.
Princípio e fim:
1
- Começos do conto – “Era uma vez…”, “Naquele dia…”, “Há muito tempo…”, “Num reino muito distante…”, “Noutros tempo…”, “Reza a história que…”, “Conta-se que…”, …
- encerramento do conto – “… e foram felizes para sempre”, “… e todos viveram felizes e contentes”, “… casaram e tiveram lindos filhos”, “… casaram e houve grandes festejos”, …
- Por vezes os contos também apresentam uma mensagem moralizante: “E assim foram todos castigados até se arrependerem e se tornarem melhores”.
Carácter Anónimo: Personagens- as figuras dos contos raramente têm nome próprio, sendo identificadas
pela sua profissão ou posição social;- As figuras dos contos são apenas pessoas boas ou más. Não têm grande
densidade psicológica, nem personalidades definidas ou rebuscadas;- O herói é revelado muito superficialmente, só raramente fica ferido, nunca
sucumbe à doença, raramente exprime os seus sentimentos (revela sempre frieza nas situações mais delicadas e perigosas);
- Os acontecimentos podem ser motivados por sentimentos como a raiva, ira, amor, ciúme ou inveja;
Espaço- O país dos contos: é anónimo, indefinido, caracterizado sempre de uma
forma muito abrangente e sem pormenores específicos que remetam para uma localidade concreta. Nada é dito sobre a cidade ou aldeia onde o herói mora, pelo contrário, o conto só começa raramente quando o herói deixa o seu “habitat”.
Tempo- Tempo indefinido, remetendo quase sempre para uma época, nunca para
um tempo concreto e real. Pode eventualmente sugerir informações acerca da estação do ano. O tempo é condensado, podendo muitos anos passar de uma forma bruscamente rápida, sem implicar o envelhecimento das personagens.
- Não temos tempo histórico real. As figuras dos contos nunca envelhecem.
A simbologia dos números:- Quase todas as fórmulas acontecem três vezes (três tarefas, três ajudas,
algo que não aparece três vezes, três filhos, três irmãs, três gigantes, etc…);- O número sete também é recorrente (sete desejos, sete anões, sete anos,
etc…):- Os números doze e seis também são muito utilizados.
A lei dos opostos:- No conto podemos verificar grandes contrastes (novos /velhos,
grandes/pequenos, bons/maus, espertos/ tolos, seres humanos/monstros, ricos/pobres…).
- Nunca há um meio termo.
Uma só dimensão:- Nos contos as pessoas sabem fazer encantamentos e os animais sabem
falar.- As figuras dos contos não se surpreendem com o maravilhoso ou o
fantástico.- No mesmo espaço convivem seres do ar, da terra, do fogo e da água.
Metais e minerais:- O país dos contos é fértil em pedras, pedrarias, cristais e metais.- Há casas e palácios de ouro, vidro ou diamantes.- Os cavalos, bosques, duendes e pessoas transformam-se em ouro, prata,
ferro e cobre, ou então, por castigo, em pedra.- Todos estes minerais têm um significado e desempenham um papel
importante no tratamento do conto.
Repetições:
2
- Repetem-se versos e fórmulas mágicas (“Espelho mágico, espelho meu, há no mundo mulher mais bela do que eu?” – em A Branca de Neve e os Sete Anões; “Quem isto ouvir e contar / Em pedra se há-de tornar” – em Pedro e Pedrito; “Quem quer casar com a Carochinha, que é rica e bonitinha” – em A Carochinha.
Herói do conto:- Personagens são figuras isoladas, solitárias, sozinhas (o filho único, o filho
mais novo, o jovem mais pobre, as bruxas, as fadas, os animais).
A estrutura da acçãoNARRAR é contar uma ou várias histórias, ou seja, uma ACÇÃO – conjunto
de acontecimentos que constituem a história. Os acontecimentos, consoante a sua importância, podem ser considerados principais ou secundários e desenrolam-se sempre num determinado espaço e num determinado tempo.
Atenta no texto que a seguir se apresenta:
O rei ouvia sempre falar em Frei João Sem Cuidados como um homem que não se afligia com coisa nenhuma deste mundo:
- Deixa-te estar, que eu é que te hei-de meter em trabalhos.Mandou-o chamar à sua presença e disse-lhe:- Vou dar-te uma adivinha e se dentro em três dias me não souberes
responder, mando-te matar. Quero que me digas:Quanto pesa a Lua?Quanta água tem o mar?Que é que eu penso?Frei João Sem Cuidados saiu do palácio bastante atrapalhado,
pensando na resposta que havia de dar àquelas perguntas. O seu moleiro encontrou-o no caminho e lá estranhou de ver Frei João Sem Cuidados de cabeça baixa e macambúzio.
- Olá , Senhor Frei João Sem Cuidados, então o que é isso, que o vejo tão triste?
- É que o rei disse-me que me mandava matar, se dentro em três dias eu lhe não respondesse a estas perguntas: - Quanto pesa a Lua?, Quanta água tem o mar?, O que é que ele penso?
O moleiro pôs-se a rir, e disse-lhe que não tivesse cuidado, que lhe emprestasse o hábito de frade, que ele iria disfarçado e havia de dar boas respostas ao rei.
Passados os três dias, o moleiro, vestido de frade, foi pedir audiência ao rei.
O rei perguntou-lhe:- Então, quanto pesa a Lua?Saberá Vossa Majestade que não pode pesar mais do que uma
arrátel, porque todos dizem que ela tem quarto quartos.- É verdade. E agora: Quanta água tem o mar?Respondeu o moleiro:- Isso é muito fácil de saber, mas como Vossa Majestade só quis
saber da água do mar, é preciso que primeiro mande tapar todos os rios, porque sem isso nada feito.
O rei achou bem respondido, mas, zangado por ver que Frei João Sem Cuidados se escapava das dificuldades, tornou:
- Agora, se não souberes o que é que eu penso, mando-te matar!O moleiro respondeu:- Ora Vossa Majestade pensa que está falando com Frei João Sem
Cuidados e está mas é falando com o seu moleiro.Deixou cair o hábito de frade e o rei ficou pasmado com a esperteza
do ladino.
Acompanha-me na abordagem de um texto do conto “A Estrela”, de Virgílio Ferreira, que relata as várias peripécias de uma personagem (herói) ou MOMENTOS DE AVANÇO na história.
3
viu
não aguentou/
meteu-se
abriu / saltou
desatou
conseguiu
olhou
empurrou / viu
meteu-se / entrou
pôs-se / pisou
começou
olhou
chegou
não olhou / deu
reparou
segurou-se / viu
subiu
empoleirou-se
ergueu
apoiou-se
despegou
Situaçãoinicial
Visão da Estrela
Desejo de possuí-la
Peripécias
Aventura
dePedro
Ponto culminante
Atinge o ponto mais alto da
torre
Desenlace
Posse da
estrela
Situação inicial
Breve apresentação das personagens principais
Peripécias
Acontecimentos que levam à modificação da
situação inicial
Ponto Culminante
Situação final
Acontecimento final que revela a situação
Um dia, à meia-noite, ele viu-a. Era a estrela mais
gira do céu, muito viva, e essa hora passava mesmo por
cima da torre. Como é que a não tinham roubado? Ele
próprio, Pedro, que era um miúdo, se a quisesse empalmar,
era só deitar-lhe a mão. Na realidade, não sabia bem para
quê. Era bonita, no céu preto, gostava de a ter. Talvez
depois a pusesse no quarto, talvez a trouxesse ao peito. E
daí, se calhar, talvez a viesse a dar à mãe para enfeitar o
cabelo. Devia-lhe ficar bem, no cabelo.
De modo que, nessa noite, não aguentou.
Meteu-se na cama como todos os dias, a mãe levou a luz,
mas ele não dormiu. Foi difícil, porque o sono tinha muita
força. [...] E quando calculou que o pai e a mãe já dormiam,
abriu a janela devagar e saltou para a rua. A janela era
baixa. […] Assim que se viu na rua, desatou a correr pela
aldeia fora até à torre […]. A igreja ficava no cimo da aldeia
e a aldeia ficava no cimo de um monte. De modo que era
tudo a subir. Mas conseguiu – e agora estava ali. Olhou a
estrela para ganhar coragem […]. A torre era muito alta e
tinha uma porta para a rua. Pedro empurrou-a um pouco e
viu que estava aberta. […] Meteu-se de lado e entrou.
[…] Como estava escuro, pôs-se a andar às apalpadelas.
[…] Até que pisou o primeiro degrau e começou a subir.
[…] À última volta da escada em caracol, olhou ao alto o
céu negro, muito liso. […] Agora tinha de subir por uma
escadinha estreita que começava ao lado; e depois ainda
por uma outra de ferro, ao ar livre, e com o adro lá em
baixo. Mas quando chegou à de ferro, não olhou. Deu foi
uma olhadela à estrela, que já se via muito bem. Todavia,
quando a escada acabou, reparou que lhe não chegava
ainda com a mão. Tinha pois de subir o resto de gatas,
dobrando e desdobrando as pernas como uma rã. Mesmo
no cimo da torre havia uma bola de pedra e enterrado na
bola havia um ferro e ao cimo do ferro estava um galo com
os quatro pontos cardeais. Pedro segurou-se ao varão e
viu que tinha ainda de subir até se pôr mesmo em cima do
galo. Subiu devagar, que aquilo tremia muito, e
empoleirou-se por fim nos ferros cruzados dos quatro
ventos. Enroscando as pernas no vão, tinha agora os braços
livres. E então, ergueu a mão devagar. […] Fez força ainda
nas pernas, apoiou-se na mão esquerda, e com a outra,
finalmente, despegou a estrela.
4
Estrutura da acçãoUma ACÇÃO organiza-se sempre em vários momentos.
MOMENTOS DA ACÇÃO
Introdução
Situação inicial
Desenvolvimento
Várias peripécias
Conclusão
Situação final
Localização espácio-temporal.
Breve apresentação da(s) personagem(ns) principal(ais).
Conjunto de acontecimentos que levam à modificação da situação inicial e que constituem uma progressão ordenada da acção.
Acontecimento que encerra uma acção e que resolve a situação que foi modificada.
Qualquer acção se organiza em vários momentos.
O quadro que se segue vai ajudar-te a fazer a verificação das partes fundamentais do TEXTO NARRATIVO.
MOMENTOS
DA
ACÇÃO
Situação inicial(introdução)
Ponto de partida (visão da estrela) e:- localização espácio-temporal
(“Um dia, à meia-noite…”; em casa)- breve apresentação da personagem principal
(“Pedro, que era um miúdo…”)
Peripécias
Ponto culminante(desenvolvimento)
Conjunto de acontecimentos que levam à modificação da situação e que constituem uma progressão ordenada da acção (andanças de Pedro do seu quarto até ao ponto mais alto da torre).
Situação final(conclusão)
Acontecimento que encerra uma acção e que resolve a situação que foi modificada (Pedro apodera-se da estrela).
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