David Manuel Gonalves Marques
Contributo da Climatologia para
a sustentabilidade urbana
O caso da Figueira da Foz
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra | 2012
David Manuel Gonalves Marques
Contributo da Climatologia para
a sustentabilidade urbana
O caso da Figueira da Foz
Dissertao de Mestrado em Geografia Fsica, rea de especializao
em Ambiente e Ordenamento do Territrio, apresentada Faculdade
de Letras da Universidade de Coimbra, sob co-orientao do
Professor Doutor Antnio Manuel Rochette Cordeiro e Professor
Doutor Nuno Ganho Gomes da Silva
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra | 2012
NDIC E GERAL
ndice Geral .............................................................................................................................. 5
ndice de Figuras...................................................................................................................... 9
ndice de Quadros .................................................................................................................. 11
ndice de Fotos....................................................................................................................... 13
Agradecimentos ..................................................................................................................... 15
Resumo .................................................................................................................................. 17
Abstract .................................................................................................................................. 19
Siglas e Abreviaturas ............................................................................................................. 21
PARTE I .......................................................................................................................................... 23
Captulo I | Introduo ................................................................................................................... 25
1. Objectivos e Metodologia ................................................................................................... 27
1.1. Tema e objectivos da investigao ............................................................................ 27
1.2. A evoluo da Climatologia Urbana ........................................................................... 29
1.3. Metodologia ................................................................................................................ 33
1.4. Estrutura da Dissertao ............................................................................................ 34
2. Enquadramento e caracterizao da rea de estudo: Figueira da Foz .............................. 35
2.1. Enquadramento morfolgico e topogrfico ................................................................. 36
2.2. Evoluo da cidade da Figueira da Foz ..................................................................... 42
2.3. Morfologia Urbana ...................................................................................................... 44
Captulo II | Enquadramento Terico ........................................................................................... 49
1. Especificidades do Clima Urbano ...................................................................................... 51
1.1. Escalas climticas de anlise ..................................................................................... 51
1.1.1. Escala Horizontal ................................................................................................. 52
1.1.2. Escala Vertical ..................................................................................................... 54
1.1.2.1. A Troposfera e a Camada Limite Atmosfrica .............................................. 54
1.1.3. Camada Limite Urbana ........................................................................................ 57
6 |
1.2. Balano energtico em meio urbano ......................................................................... 58
1.2.1. Ilha de calor urbano ............................................................................................. 62
1.3. Os Espaos Verdes em Meio Urbano ........................................................................ 64
1.4. A Influncia da Topografia no Topoclima ................................................................... 67
1.4.1. A Formao de Lagos de Ar Frio ......................................................................... 67
PARTE II ......................................................................................................................................... 69
Captulo III | Caracterizao Climtica ........................................................................................ 71
1. Enquadramento Climtico Regional da Figueira da Foz.................................................... 73
2. Regime Climtico Mdio da Figueira da Foz ..................................................................... 76
2.1. Insolao, nevoeiro e nebulosidade ........................................................................... 76
2.1.1. Insolao ............................................................................................................. 76
2.1.2. Nebulosidade ....................................................................................................... 77
2.1.3. Nevoeiro .............................................................................................................. 78
2.2. Humidade Relativa ..................................................................................................... 79
2.3. Temperatura .............................................................................................................. 80
2.3.1. Temperatura mnima ........................................................................................... 80
2.3.1.1. Temperatura mnima absoluta ...................................................................... 80
2.3.2. Temperatura mxima ........................................................................................... 81
2.3.2.1. Temperatura mxima absoluta ..................................................................... 82
2.4. O Vento ...................................................................................................................... 82
2.4.1. Normais de direco e velocidade do vento ........................................................ 82
2.4.2. Velocidade mdia do vento ................................................................................. 85
2.4.3. Velocidades do vento superiores a 36km/h e 55km/h ......................................... 85
2.5. Precipitao ............................................................................................................... 86
2.5.1.Precipitao em nmero de dias .......................................................................... 86
2.5.2. Precipitao acumulada....................................................................................... 87
2.5.3. Precipitao mxima diria .................................................................................. 88
Captulo IV | Contrastes Trmicos da Baixa Atmosfera ............................................................. 89
1. Metodologia........................................................................................................................ 91
1.1. Termgrafos em abrigo: localizao e representatividade espacial ........................... 91
1.2. Dados: obteno e tratamento ................................................................................... 94
1.3. Condies meteorolgicas durante o perodo-amostra .............................................. 95
2. Resultados e Discusso ..................................................................................................... 96
2.1. Anlise das temperaturas mximas e mnimas dirias .............................................. 96
2.2. Comportamento intradiurno ........................................................................................ 98
2.2.1. Frequncia de ocorrncia .................................................................................... 98
2.2.2. Intensidade mdia e variabilidade ...................................................................... 100
2.2.3. Intensidade extrema ........................................................................................... 102
2.2.4. Taxas de aquecimento ou arrefecimento horrio ............................................... 104
3. A influncia dos tipos de tempo nos contrastes trmicos ................................................ 106
3.1. Tipo de tempo perturbado de Oeste ......................................................................... 106
3.2. Tipo de tempo anticiclnico com circulao de retorno de Norte ............................. 107
3.3. Tipo de tempo anticiclnico com circulao de Leste .............................................. 110
Captulo V | Forma e Intensidade do Campo Termohigromtrico ........................................... 113
1. Metodologia...................................................................................................................... 115
1.1. Caracterizao das Campanhas de Observao Itinerantes ................................... 115
1.2. Dados: amostra, obteno e tratamento .................................................................. 117
2. Resultados e discusso ................................................................................................... 119
2.1. Campo Termohigromtrico Mdio ............................................................................ 119
2.1.1 Observaes Diurnas .......................................................................................... 119
2.1.2. Observaes Nocturnas ..................................................................................... 124
2.1.3 Campo trmico em noites de acentuado arrefecimento nocturno ....................... 129
2.2. Contrastes termohigromtricos e a influncia dos tipos de tempo ........................... 133
2.2.1 O campo termohigromtrico em dois momentos consecutivos no dia 2/6/2011 . 133
8 |
2.2.2. Exemplo do campo termohigromtrico de fracos contrastes espaciais ............. 140
2.2.3. O exemplo do campo termohigromtrico de contrastes significativos em dois
momentos consecutivos .................................................................................................... 144
Captulo VI | Definio dos Climatopos e Orientaes Climticas ......................................... 153
1. Os mapas climticos urbanos .......................................................................................... 155
2. Metodologia ..................................................................................................................... 156
2.1. Carga Trmica Potencial ......................................................................................... 158
2.2. Ventilao Potencial ................................................................................................ 160
2.3. Mapa Climtico Urbano Definio dos Climatopos ............................................... 161
3. Orientaes Climticas Gerais ........................................................................................ 170
3.1. Orientaes Climticas Espacializadas ................................................................... 171
Concluso .................................................................................................................................... 173
Bibliografia .................................................................................................................................. 181
NDIC E D E F IGUR AS
Figura 1 - Enquadramento territorial. ..................................................................................................................... 35
Figura 2 - Hipsometria. .......................................................................................................................................... 37
Figura 3 - Declives. ................................................................................................................................................ 39
Figura 4 - Ocupao e uso do solo. ....................................................................................................................... 41
Figura 5 - Evoluo do construdo com pormenor rea urbana. ........................................................................ 43
Figura 6 - Esquema das escalas climticas (verticais e horizontais) da atmosfera em meio urbano .................... 53
Figura 7 - Grficos termo-pluviomtricos. .............................................................................................................. 75
Figura 8 - Octgonos anemoscpicos (frequncia de ocorrncia para cada rumo de vento). .............................. 75
Figura 9 - Nmero mdio de horas de insolao e mdia anual no perodo 1954-1980. ...................................... 77
Figura 10 - Nmero mdio de dias de nevoeiro. .................................................................................................... 79
Figura 11 - Variao estacional mdia da frequncia de ocorrncia e velocidade mdia para cada rumo. .......... 84
Figura 12 - Nmero mdio de dias com precipitao =>1 mm e => 10 mm. ......................................................... 87
Figura 13 - Imagem dos abrigos de radiao solar utilizados e dos termhigrgrafos Tinytag Plus 2 TGP 4500. 92
Figura 14 - Localizao dos termgrafos em abrigo. ............................................................................................. 93
Figura 15 - Variao intradiurna da frequncia de ocorrncia de diferenas de temperatura superiores a 0C
(T>0C) ................................................................................................................................................................ 99
Figura 16 - Variao intradiurna das diferenas mdias de temperatura. ........................................................... 101
Figura 17 - Variao intradiurna das diferenas extremas, mximas e mnimas de temperatura do ar. ............. 103
Figura 18 - Variao intradiurna das taxas mdias de aquecimento/arrefecimento horrio. ............................... 105
Figura 19 - Situao sinptica superfcie (A) e ao nvel de 500 hPa (B) no dia 06/08/2011, s 0h UTC. ........ 106
Figura 20 - Comportamento dos contrastes trmicos entre cada par de termgrafos comparados no dia
06/08/2011. .......................................................................................................................................................... 107
Figura 21 - Situao sinptica superfcie (A) e ao nvel de 500 hPa (B) no dia 10/08/2011, s 0h UTC. ........ 108
Figura 22 - Comportamento dos contrastes trmicos entre cada par de termgrafos comparados no dia
10/08/2011. .......................................................................................................................................................... 109
Figura 23 - Situao sinptica superfcie (n.m.m) (A) e ao nvel de 500 hPa (B) no dia 10/08/2011, s 0h UTC.
............................................................................................................................................................................. 110
Figura 24 - Comportamento dos contrastes trmicos entre cada par de termgrafos comparados no dia
01/10/2011. .......................................................................................................................................................... 111
Figura 25 - Contextualizao topogrfica e urbana do percurso e dos locais observao. ................................ 116
Figura 26 - Perfil topogrfico do percurso de observao itinerante. .................................................................. 117
Figura 27 - Campo trmico mdio diurno. ........................................................................................................... 122
Figura 28 - Campo higromtrico mdio diurno. ................................................................................................... 123
Figura 29 - Campo trmico mdio nocturno. ....................................................................................................... 127
Figura 30- Campo higromtrico mdio nocturno. ................................................................................................ 128
Figura 31 - Campo trmico mdio em noites de acentuado arrefecimento radiativo. ......................................... 132
10 |
Figura 32 - Situao sinptica superfcie (nmm) s 12h UTC e ao nvel de 500 (hPa) s 0h UTC no dia
06/08/2011. .......................................................................................................................................................... 133
Figura 33 - Campo trmico na tarde do dia 2/06/2011 (desvios relativos ao ponto 38). ..................................... 136
Figura 34 - Campo higromtrico na tarde do dia 2/06/2011 (desvios relativos ao ponto 38). ............................. 137
Figura 35 - Campo trmico nocturno no dia 2/06/2011 (desvios relativos ao ponto 38). ..................................... 138
Figura 36 - Campo higromtrico nocturno no dia 2/06/2011 (dados relativos ao ponto 38). ............................... 139
Figura 37 - Situao sinptica superfcie (nmm) e ao nvel de 500 (hPa) s 0h UTC no dia 19/09/2011. ....... 140
Figura 38 - Campo trmico na noite de 19/09/2011. ............................................................................................ 142
Figura 39 - Campo higromtrico na noite de 19/09/2011. .................................................................................... 143
Figura 40 - Situao sinptica superfcie (nmm) e ao nvel de 500 (hPa) s 0h UTC no dia 05/10/2011. ....... 144
Figura 41 - Campo trmico na noite de 4/10/2011. .............................................................................................. 147
Figura 42 - Campo higromtrico na noite de 4/10/2011. ...................................................................................... 148
Figura 43 - Campo trmico na madrugada de 5/10/2011. ................................................................................... 151
Figura 44 - Campo higromtrico na madrugada de 5/10/2011. ........................................................................... 152
Figura 45 - Estrutura dos mapas climticos. ........................................................................................................ 156
Figura 46 - Nveis de Informao utilizados na elaborao do mapa climtico urbano. ...................................... 157
Figura 47 - Carga trmica potencial. .................................................................................................................... 159
Figura 48 - Ventilao potencial. .......................................................................................................................... 162
Figura 49 - Mapa climtico urbano. ...................................................................................................................... 166
Figura 50 - Mapa climtico urbano com indicao dos climatopos (pormenor da rea urbana). ........................ 167
NDIC E D E QUADR OS
Quadro 1 - Caractersticas da camada Limite e da atmosfera Livre ...................................................................... 56
Quadro 2 - Principais benefcios dos espaos verdes urbanos ............................................................................. 66
Quadro 3 - Descrio das estaes meteorolgicas ............................................................................................. 73
Quadro 4 - Valores mdios de Insolao em Barra do Mondego (1954-1980) ..................................................... 77
Quadro 5 - Valores mdios de nebulosidade em Barra do Mondego (1954-1980) ............................................... 78
Quadro 6 - Frequncia (%) e velocidade do vento (km/h) para cada rumo. .......................................................... 84
Quadro 7 - Velocidades do vento 36 km/h e 55 km/h. ...................................................................................... 86
Quadro 8 - Quadro sntese da localizao e caracterizao dos termgrafos. ..................................................... 94
Quadro 9 - Parmetros estatsticos das sries horrias de diferena de temperatura mxima (Tx) e mnima
(Tn) ...................................................................................................................................................................... 97
Quadro 10 - Frequncia de ocorrncia de valores positivos das sries horrias de diferenas de temperatura .. 99
Quadro 11 - Parmetros estatsticos de tendncia central (mdia e mediana) e de disperso das sries horrias
de diferenas de temperatura | T BM-BS .......................................................................................................... 101
Quadro 12 - Parmetros estatsticos de tendncia central (mdia e mediana) e de disperso das sries horrias
de diferenas de temperatura | T FF-BS ........................................................................................................... 101
Quadro 13 - Parmetros estatsticos de tendncia central (mdia e mediana) e de disperso das sries horrias
de diferenas de temperatura | T PQ-BS .......................................................................................................... 101
Quadro 14 - Extremos mximos das sries horrias de diferenas de temperatura. .......................................... 103
Quadro 15 - Extremos mnimos das sries horrias de diferenas de temperatura ............................................ 103
Quadro 16 - Variao mdia inter-horria da temperatura (Th-Th-1) ................................................................... 105
Quadro 17 - Descrio das campanhas de observao. ..................................................................................... 118
Quadro 18 - Caracterizao dos nveis de informao ........................................................................................ 157
Quadro 19 - Classes climticas urbanas ............................................................................................................. 163
Quadro 20 - Definio e caracterizao dos climatopos. .................................................................................... 165
Quadro 21- Resumo das orientaes climticas ................................................................................................. 172
NDIC E D E FOTOS
Foto 1 - O tipo de morfologia urbana no "Bairro Velho" e a ligao ao Rio Mondego. .......................................... 44
Foto 2 - Expanso da cidade para Norte (Tavarede). ........................................................................................... 45
Foto 3 - Vista rea da cidade sobre diferentes ngulos. ....................................................................................... 46
Foto 4 - Frente Atlntica da cidade. ....................................................................................................................... 46
Foto 5 - A malha urbana em Buarcos. ................................................................................................................... 47
Foto 6 - O Parque Verde das Abadias e o Parque Municipal. ............................................................................... 47
Foto 7 Instrumentao cientfica utilizada nas campanhas de observao itinerantes. ................................... 115
Foto 8 - Nebulosidade tipo onda de relevo sobre a Serra da Boa Viagem. ...................................................... 164
AGRAD ECIMENT OS
O presente trabalho foi realizado sob a co-orientao do Professor Doutor Antnio Manuel
Rochette Cordeiro e do Professor Doutor Nuno Ganho Gomes da Silva, a quem me cabe exprimir
sincero reconhecimento pelo modo empenhado como, em todos os momentos me prestaram o apoio
cientfico necessrio. Agradeo tambm a leitura atenta do trabalho, a disponibilidade demonstrada,
as sugestes sempre enriquecedoras, as questes pertinentes e no menos importante, os incentivos
constantes ao longo do trabalho.
Aos colegas de trabalho agradeo todo o apoio prestado, em particular ao Gonalo e ao Paulo
pela ajuda na elaborao cartogrfica, Liliana pelo precioso contributo na formatao deste trabalho,
ao Fernando pela edio de algumas imagens e tambm Cristina e Lcia, pelo apoio e pela
confiana que recebi.
Agradeo, ainda e sobretudo aos meus pais, minha irm Mrcia e ao Filipe, minha av Maria
da Pureza e s minhas tias Maria de Lurdes e Pureza, por todo o apoio e carinho e por serem sempre
o meu porto de abrigo.
Tnia por todos os motivos e mais alguns. Companheira em todas as fases do trabalho e da
vida, companheira nas desgastantes campanhas de observao e no menos companheira nos
momentos de partilha de alegrias e frustraes inerentes realizao de um trabalho to absorvente
quanto este, agradeo carinhosamente a sua compreenso e fora transmitida diariamente.
Quero tambm dirigir uma palavra de apreo aos meus familiares e amigos mais prximos pelas
palavras de nimo.
Por fim, agradeo ao Instituto Porturio de Transportes Martimos da Figueira da Foz, Junta de
Freguesia de Bom Sucesso e Rdio Foz do Mondego, por se terem mostrado receptivas
colocao dos termgrafos fixos nas suas instalaes.
RESUMO
escala do topoclima urbano intervm diversos factores, tais como a densidade de construo e o
grau de impermeabilizao do solo, a morfologia urbana, a topografia, a vegetao e a proximidade a
importantes massas de gua, responsveis no s por contrastes trmicos e higromtricos espaciais,
mas tambm com efeitos nos campos de vento.
Em cidades de mdia dimenso, cujo povoamento urbano se insere num contexto morfolgico
mais ou menos acidentado, mesmo no litoral, a topografia , frequentemente e em interaco com os
demais factores, o factor preponderante. o que se verifica na nossa rea de estudo, a cidade da
Figueira da Foz, onde a Serra da Boa Viagem, o oceano Atlntico e o esturio do Mondego,
contribuem para um quadro topoclimtico muito especfico e contrastado.
Tendo como objectivo a investigao dos contrastes topoclimticos em espao urbano e peri-
urbano, efectuaram-se vrias campanhas de observao de temperatura, de humidade relativa, e de
direco e velocidade do vento, complementadas com os dados obtidos por uma rede urbana de
termgrafos em abrigo o que, em conjunto, permitiu observar os campos termohigromtricos, na sua
diversidade espacial e variabilidade temporal, intra e interdiurna.
Aps a compreenso das principais caractersticas do padro topoclimtico desta rea litoral, onde
o jogo entre os sistemas atmosfera oceano superfcie terrestre influenciado pela cidade,
identificaram-se e definiram-se as unidades de resposta climtica homognea (climatopos), para as
quais se propuseram algumas orientaes climticas numa lgica de melhoria da sustentabilidade
urbana na Figueira da Foz.
Palavras-Chave: Topoclima urbano, Climatopos, Orientaes Climticas, Figueira da Foz.
ABST RACT
On the scale of urban topoclimate several factors are involved such as the density of buildings and
impervious surfaces, urban morphology, topography, vegetation and proximity to major water bodies,
responsible not just for hygrometric and thermal contrasts in space, but also with direct effects on wind
fields.
In medium-sized cities, where urban settlement is part of a morphological context more or less
bumpy, even on the coast, topography is often the key factor in interaction with other factors. This is
the case in our study area, the city of Figueira da Foz, where the Boa Viagem Mountain, the Atlantic
Ocean and the estuary of the Mondego, contribute to a very specific topoclimatic context.
With the aim of the research being topoclimatic contrasts in urban and peri-urban space, we have
made several observation campaigns in order to study temperature, relative humidity and wind
direction and speed, with data gathered from the field to be supplemented with data obtained from an
urban network of thermographs under protection, which together allowed us to observe the fields
thermohygrometic, in its own spatial and temporal variability, and intra interdiurnal.
After understanding the salient features of the weather pattern of this coastal area, where the
"game" between the systems atmosphere - ocean - land surface (the latter modified by the city) is a
constant, we identified and defined the units of homogeneous climate response (climatopes), for which
some guidance is offered in a climate of a logical improvement of urban sustainability in Figueira da
Foz
Keywords: Urban topoclimate, Climatopes, Climatic Guidelines, Figueira da Foz.
S IGLA S E ABR EVIATU RA S
CCU | Classes Climticas Urbanas
E | Evapotranspirao
F | gua libertada para a atmosfera por combusto
H/W Height/Width | razo entre a altura dos prdios e a largura das ruas, que pode substituir a
fraco visvel da abbada celeste (Sky View Factor, SVF)
IPCC | Intergovernmental Panel on Climate Change
K | Radiao global (directa + difusa) (pequeno comprimento de onda)
K | Radiao reflectida (pequeno comprimento de onda)
K* | Balano de radiao (pequeno comprimento de onda)
L | Radiao emitida pela superfcie da terra (grande comprimento de onda)
L | Radiao emitida pela atmosfera (grande comprimento de onda)
L* | Balano de radiao (grande comprimento de onda)
P | Precipitao
PCI | Park Cool Island, ilha de frescura num espao verde
QE | Fluxo de calor latente
QF | Fluxo de calor antrpico
QH | Fluxo de calor sensvel
SVF Sky View Factor | Fraco visvel da abbada celeste
UBL Urban Boundary Layer | Atmosfera urbana superior
UCL Urban Canopy Layer | Atmosfera urbana inferior
A Adveco de vapor de gua e gotas de gua de/para o volume de ar urbano
QA Adveco
QS Fluxo de calor armazenado no solo
r Escoamento
S gua armazenada na cidade (solo, edifcios e ar da urban canopy layer)
Tu-r Intensidade da ilha de calor urbana
PARTE I
CAPTULO I
Introduo
C A P T U L O I
Introduo
| 27
1. OBJECTIVOS E MET OD OL OGIA
1.1. Tema e objectivos da investigao
A temtica desta dissertao encontra-se relacionada com o contributo que a Climatologia urbana
deve representar na definio de polticas de planeamento e ordenamento do territrio, direccionadas
a uma melhoria, no s da qualidade do ambiente urbano mas tambm do prprio desenvolvimento
sustentvel.
O debate cientfico em torno do impacte das cidades na modificao do clima local com
repercusses ao nvel do conforto bioclimtico, da qualidade do ar e do consumo energtico, suscitou
nas ltimas duas dcadas um avano significativo na compreenso das bases do clima urbano por
parte da climatologia, assumindo-se cada vez mais como uma rea multidisciplinar que recebe
actualmente conhecimentos de um amplo espectro cientfico (OKE, 2006a).
De facto, nesta primeira dcada do sculo XXI pela primeira vez, mais de metade da populao
mundial (50.5%) concentra-se em reas urbanas, sendo que essa proporo aumentar
substancialmente num futuro prximo. Para o ano de 2050, segundo previses das Naes Unidas,
68.7% da populao mundial habitar reas urbanas, devido essencialmente s taxas de
urbanizao1 significativas dos pases menos desenvolvidos. Para Portugal e com base no mesmo
relatrio, no ano de 2010 60.7% da populao j habitava espaos urbanos, sendo que no ano de
2050 essa fatia corresponder a 80% da populao total.
A concentrao da populao e das actividades humanas em apenas 2-3% da superfcie terrestre,
coloca uma grande parte da populao dita urbana particularmente vulnervel a eventos extremos e
variabilidade climtica, constituindo desse modo um dos desafios mais importantes para as prximas
geraes, desafiando-nos na procura de um equilbrio mais sustentvel entre o ser humano e a Terra.
Alis, a rpida urbanizao ocorrida essencialmente na segunda metade do sculo XX nos pases
em desenvolvimento, no s trouxe novos imigrantes para as reas urbanas, como tambm modificou
gradualmente o ambiente fsico urbano (CHAO et al., 2010), criando o seu prprio clima - o clima
urbano -, de onde se destaca o fenmeno de ilha de calor urbano.
1 O fenmeno de urbanizao entendido aqui, no s como a transformao do meio natural em meios artificializados como tambm o movimento migratrio populacional das reas rurais para as reas urbanas.
2 Esta campanha de observao decorreu entre 17 de Julho e 2 de Agosto de 1989, nas proximidades do lugar de Leirosa (5
Contributo da Climatologia para a sustentabilidade urbana.
O caso da Figueira da Foz
28 |
Segundo uma viso sistmica, certo que as modificaes urbanas influenciam todas as escalas
de anlise, desde o local ao global, contudo no estado actual do conhecimento a comunidade
cientfica apresenta algumas reservas ou mesmo dificuldades em isolar e compreender o verdadeiro
impacte do ecossistema urbano no sistema climtico global (MILLS, 2006; CARRAA, 2008;
GRIMMOND et al., 2010).
Contudo escala local, inmeros estudos tm demonstrado que o fenmeno de urbanizao e do
crescimento das cidades paradigmtico dos efeitos antrpicos, capazes de modificar por completo
as caractersticas climticas das reas urbanas (FERREIRA, 2005).
escala do topoclima urbano intervm diversos factores, tais como, a densidade de construo e
impermeabilizao do solo, a morfologia urbana, a topografia, a vegetao e a proximidade a
importantes massas de gua, responsveis no s por contrastes trmicos e higromtricos espaciais,
mas tambm com efeitos directos nos campos de vento.
Em cidades de mdia dimenso, cujo povoamento urbano se insere num contexto morfolgico
mais ou menos acidentado, mesmo no litoral, a topografia , frequentemente, o factor preponderante,
em interaco com os demais factores.
o que se verifica na nossa rea de estudo, a cidade da Figueira da Foz, onde a Serra da Boa
Viagem, o oceano Atlntico e o esturio do Mondego, contribuem para um quadro topoclimtico muito
especfico e que tornam este estudo algo complexo, face aos meios disponveis, mas ao mesmo
tempo aliciante.
Como objectivos, esta dissertao apresenta essencialmente dois propsitos: Em primeiro lugar,
nosso objectivo analisar os contrastes topoclimticos de algumas variveis climticas (temperatura do
ar, humidade relativa, velocidade e direco do vento) na cidade da Figueira da Foz e nos espaos
peri-urbanos e rurais envolventes, tendo em considerao o quadro fsico regional e local e as
caractersticas da morfologia urbana e ocupao do solo. Em segundo lugar e s depois de
alcanados os objectivos descritos que permitiro compreender as principais caractersticas do
padro climtico desta rea litoral, onde o jogo entre os sistemas atmosfera oceano superfcie
terrestre (este ltimo modificado pela cidade) uma constante, nossa pretenso aplicar os
conhecimentos adquiridos sobre o clima local, com a finalidade de se traduzir e direccionar a
informao climtica ao planeamento e ordenamento do territrio, atravs de produo de cartografia
temtica, passvel de ser utilizada pelos vrios agentes envolvidos no processo de planeamento e de
desenho das cidades, e que represente um contributo para a melhoria da sustentabilidade da cidade
da Figueira da Foz.
C A P T U L O I
Introduo
| 29
1.2. A evoluo da Climatologia Urbana
A conscincia de que o clima uma das variveis que deve estar presente no processo de
planeamento e de desenho das cidades, remonta Grcia Antiga e ao imprio Romano, onde vrios
escritos j evidenciavam essa sensibilidade (YOSHINO, 1975; GRIMMOND, 2006).
Desde 1920 e com maior nfase na dcada de 60-70, o interesse em torno do clima urbano
verificou-se primeiramente nos pases j ento mais despertos para esta temtica, como a Alemanha,
ustria, Frana e Estados Unidos da Amrica.
De forma efectiva, a partir da dcada de 80 que a Climatologia urbana enquanto cincia comea
a definir o seu rumo, assistindo-se a uma verdadeira proliferao de estudos descritivos do clima de
diversas cidades, centrados especialmente no fenmeno da ilha de calor, o que alis est bem
presente na afirmao de OKE (1982:21), ao referir que, as Ilhas de Calor eram acima de tudo well
described but rather poorly understood.
ARNFIELD (2003:19) ao efectuar a anlise da evoluo cientfica desde os anos 80 afirma
que:Urban climatology continues to migrate methodologically from descriptive and inductive black
box approaches to process studies and process-response (simulation) modelling. This migration is a
positive aspect of the fields recent history, because it enhances the explanatory power urban
climatologists have at their disposal.
Contudo, os modelos matemticos e, apesar de todas as vantagens que naturalmente apresentam
enquanto poderosas ferramentas de trabalho que so e, por isso, importantes no avano do
conhecimento cientifico em torno do sistema climtico urbano, de assinalar que ainda existe um
longo trabalho a desenvolver nesta rea, onde o sistema climtico, devido sua inerente
complexidade, dificulta a sua modelao numrica igualmente complexa (ARNFIELD, 2003).
Recentemente GRIMMOND, et al. (2010), para alm de analisarem os principais avanos
ocorridos nas bases do conhecimento cientfico em torno do clima urbano nas ltimas duas dcadas,
identificam as reas que carecem de um desenvolvimento prioritrio e as principais linhas de
investigao para a prxima dcada em Climatologia urbana.
Por exemplo, ao nvel das observaes em meio urbano, os autores elegem como fundamental a
implementao de redes meteorolgicas urbanas (no espao urbano e peri-urbano) que possam
monitorizar vrios elementos superfcie (humidade no solo e ar/ temperatura de superfcie, do ar e
do solo) e o perfil vertical (desde a atmosfera urbana inferior at ao topo da camada limite) da
temperatura, humidade, vento, turbulncia, radiao, precipitao e qualidade do ar (gases e material
particulado), assim como, as observaes se devam prolongar continuadamente no tempo em vrios
tipos de morfologia urbana, privilegiando-se as sries longas de dados (em vez de campanhas de
Contributo da Climatologia para a sustentabilidade urbana.
O caso da Figueira da Foz
30 |
curta durao) com ampla representatividade espacial e preservando-se as estaes existentes com
sries centenrias.
Do mesmo modo, destacam a necessidade de se promover a educao ambiental dos urbanitas e
o desenvolvimento de sistemas de alerta ambientais mais eficazes, assumindo-se claramente a
informao climtica como uma mais-valia nos processos de planeamento e ordenamento das
cidades, que cada vez mais se pretendem sustentveis do ponto de vista ambiental (GRIMMOND, et
al. 2010).
neste contexto temtico que, os processos ocorridos em meio urbano, se assumem como os
principais temas de investigao em climatologia urbana e meteorologia urbana. Segundo OKE
(2006b) citado por ALCOFORADO (2010:32), a climatologia urbana deve focalizar-se no estudo das
interaces entre a atmosfera e as aglomeraes humanas (sistema cidade-atmosfera), incluindo o
impacte da atmosfera nas pessoas, infra-estruturas e actividades em aldeias, vilas e cidades, assim
como os efeitos desses locais na atmosfera. Por seu turno, cabe meteorologia urbana o estudo dos
processos fsico-qumicos, propriamente ditos, que ocorrem na atmosfera urbana.
Em Portugal, os estudos de Climatologia urbana iniciaram-se com a Tese de Doutoramento de
ALCOFORADO (1988) sobre o Clima da Regio de Lisboa. Em 1992, apresentada por GANHO
(1992) a sua Tese de Mestrado sobre O clima urbano de Coimbra Aspectos Trmicos Estivais e,
no ano seguinte, vem estampa o primeiro estudo de doutoramento em climatologia urbana dedicado
cidade do Porto (MONTEIRO, 1993).
Em 1994, dando seguimento aos estudos iniciados por ALCOFORADO (1988), so apresentadas
duas Teses de Mestrado dedicadas ao clima urbano da rea de Lisboa, nomeadamente Poluio
atmosfrica e clima em Lisboa (ANDRADE, 1994) e Padres Trmicos do Clima Local na Regio de
Oeiras (LOPES, 1994). No ano de 1998, GANHO (1998) apresenta a sua Tese de Doutoramento,
intitulada O Clima Urbano de Coimbra Estudo de Climatologia Local Aplicada ao Ordenamento
Urbano onde o autor desenvolve e consubstancia os conhecimentos sobre o clima urbano da cidade
de Coimbra.
Com o ttulo Contribuio dos Modelos Estocsticos para o Estudo da Climatologia Urbana,
GIS (2002), apresenta a sua Tese de Doutoramento Faculdade de Engenharia da Universidade do
Porto, onde segundo o prprio, pretende atravs da aplicao de uma srie de tcnicas nos domnios
da matemtica e da estatstica, aprofundar e esclarecer o comportamento de algumas das variveis
susceptveis de directamente influenciarem o clima urbano da cidade, ocupando-se da cidade do
Porto como rea de estudo.
C A P T U L O I
Introduo
| 31
Mais recentemente, ANDRADE (2003) e LOPES (2003) publicaram as suas Teses de
Doutoramento sobre a cidade de Lisboa, com os temas Bioclima Humano e Temperatura do Ar em
Lisboa e Modificaes no clima urbano de Lisboa como consequncia do crescimento urbano.
Vento, ilha de calor de superfcie e balano energtico, respectivamente.
Em 2004, VASCONCELOS (2004) apresenta a sua tese de mestrado onde aborda a influncia do
crescimento urbano no sector oriental da cidade de Lisboa na diminuio da intensidade do sistema
de brisas do esturio do Tejo, numa lgica de planeamento urbano. Tambm sobre Lisboa, NETO
(2005) apresentou Universidade de vora a sua dissertao de mestrado. Apesar de no tratar de
forma directa o clima urbano, efectua um estudo da circulao atmosfrica de Vero sobre a Regio
de Lisboa.
Para alm dos estudos de climatologia urbana sobre as cidades de Lisboa, Porto e Coimbra,
destacam-se outros estudos sobre as cidades de Bragana (KATZCHNER, 1995), vora
(ALCOFORADO e TABORDA, 1997) e Aveiro (PINHO e ORGAZ, 2000).
Relativamente Figueira da Foz, nossa rea de estudo, nenhum estudo de climatologia urbana foi
elaborado at ao presente momento. De uma forma geral, a varivel clima abordada essencialmente
em captulos de caracterizao fsica, enquadrando este territrio no clima regional (ALMEIDA, 1995;
RIBEIRO, 2001; RAMOS, 2008;) atravs da anlise de valores mdios dos principais elementos
climticos.
Contudo e, apesar de no constiturem trabalhos de climatologia urbana, destacam-se pelo seu
importante contributo na compreenso de alguns aspectos topoclimticos da Figueira da Foz, os
estudos de CARVALHO e PRIOR (1990) e ALMEIDA (1995).
O primeiro, no mbito da meteorologia, com o ttulo - Campanha Observacional da Baixa
Troposfera em Leirosa (Figueira da Foz-17 de Julho-2 de Agosto) 2-, teve como finalidade a recolha
de informao meteorolgica que permitisse caracterizar a estrutura trmica e dinmica da baixa
troposfera na regio costeira do centro de Portugal Continental, com vista essencialmente
realizao de estudos sobre o regime e estrutura das circulaes da baixa troposfera associadas s
brisas costeiras, que permitem a melhoria do conhecimento cientfico do territrio assim como o apoio
a estudos de planeamento e desenvolvimento local e regional (CARVALHO e PRIOR, 1990:7).
2 Esta campanha de observao decorreu entre 17 de Julho e 2 de Agosto de 1989, nas proximidades do lugar de Leirosa (5 km a sul da Figueira da Foz), a 13 m de altitude e a cerca de 300 metros da linha de costa, tendo tipo por base a realizao de vrias observaes meteorolgicas de superfcie, na camada limite e aerolgicas na baixa troposfera.
Contributo da Climatologia para a sustentabilidade urbana.
O caso da Figueira da Foz
32 |
Na sua Tese de Doutoramento em Geografia Fsica com o ttulo Dunas de Quiaios, Gndara e
Serra da Boa Viagem: uma abordagem ecolgica da paisagem, ALMEIDA (1995), para alm de
caracterizar a rea de estudo do ponto de vista climtico e bioclimtico (calculando vrios ndices
bioclimticos), efectua uma breve anlise topoclimtica onde procura acima de tudo salientar as
diferenas espaciais verificadas em determinados pontos caractersticos da Serra da Boa Viagem e
das dunas, abordando essencialmente os parmetros de direco e velocidade do vento e, em menor
grau, a temperatura do ar, numa rea de contrastes morfolgicos acentuados, mas excluindo da sua
anlise o sector urbano da Figueira da Foz, direccionando a sua anlise essencialmente nos efeitos
sobre a vegetao.
A anlise do campo de vento, centrada essencialmente na influncia que a Serra da Boa Viagem
Alhadas desempenha na dinmica da circulao do ar escala local, permitiu ao autor retirar algumas
concluses, nomeadamente: so os locais mais elevados, sobranceiros ao mar e despidos de
vegetao que apresentam uma maior frequncia e intensidade do vento, qualquer que seja o rumo
(Cabo Mondego, cimo da Serra da Boa Viagem); que a menor velocidade do vento se verifica no
fundo das vertentes a barlavento (Quiaios e Murtinheira); assim como se observa o aumento da
velocidade e da turbulncia do vento no fundo das vertentes a sotavento (Buarcos e Figueira da Foz)
e a diminuio da velocidade do vento nos sectores arborizados da Serra da Boa Viagem.
Para alm das medies de vento efectuadas, com base na anlise da deformao dos bio-
indicadores, ALMEIDA (1995) procurou definir a direco dos ventos dominantes na Serra da Boa
Viagem, concluindo que o grau de deformao depende da posio que o bio-indicador ocupa
relativamente topografia ou em relao com a distncia ao mar () para igual posio topogrfica,
quanto mais afastado estiver do mar, menor a deformao sofrida. Quanto s temperaturas, de
realar as temperaturas inferiores registadas no cimo da Serra da Boa Viagem, no meio da mata,
assim como, as diferenas de temperatura encontradas entre as vertentes voltadas a Norte e a Sul.
O estudo que agora se apresenta, no mbito da Climatologia urbana, contempla essencialmente
os contrastes termohigromtricos no espao urbano, peri-urbano e rural da Figueira da Foz,
constituindo um contributo no sentido de um melhor conhecimento das caractersticas topoclimticas,
estando conscientes de que ainda se apresenta incompleto, mas que poder servir de ponto de
partida para investigaes futuras.
C A P T U L O I
Introduo
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1.3. Metodologia
Para responder aos objectivos da investigao e tendo em conta as particularidades que um
estudo desta natureza envolve e, uma vez que, escala de anlise em que os estudos topoclimticos
so efectuados, os dados necessrios normalmente no existem, por isso necessrio para a sua
obteno recorrer-se a uma metodologia especfica, apresentando o trabalho de campo um peso
significativo.
No tendo disposio uma rede meteorolgica urbana, situao ptima para o estudo dos
padres termo - higromtricos e de circulao do ar da atmosfera urbana inferior, instalaram-se quatro
termgrafos fixos em abrigo, em diferentes contextos topoclimticos.
A par das sondas fixas, efectuaram-se vrias campanhas observacionais itinerantes em diversos
pontos do espao urbano, peri-urbano e rural da Figueira da Foz, previamente definidos ao longo de
um percurso o mais heterogneo possvel, procurando-se quanto possvel apreender a influncia da
cidade, do oceano Atlntico, do esturio do Mondego e da topografia (em particular a Serra da Boa
Viagem) no topoclima.
Neste sentido, em cada ponto efectuaram-se registos de temperatura e humidade relativa do ar,
assim como, de velocidade e direco do vento, com a finalidade de se apreender o padro espcio-
temporal das variveis climticas em estudo, sob diferentes tipos de tempo.
Para a anlise e caracterizao do regime mdio normal do ambiente climtico da Figueira da
Foz e da rea envolvente do centro-litoral de Portugal continental e, visto que os dados de 1961-1990
e de 1971-2000 no se encontram disponibilizados pelo Instituto de Meteorologia de Portugal (IM),
utilizaram-se as normais de 1951-1980, centrando a anlise nas principais variveis climticas de
particular importncia em estudos de climatologia aplicada ao ordenamento.
Em termos metodolgicos recorremos a outras tcnicas, nomeadamente: pesquisa e anlise
documental de vrias publicaes nacionais e internacionais (livros e revistas) em formato papel e
digital, versando a temtica da climatologia urbana aplicada; anlise dos resumos climatolgicos
anuais, sazonais e mensais do IM; anlise de cartas sinpticas de superfcie (nmm) e altitude (500
hPa), bem como, uma panplia de informao complementar para uma melhor compreenso das
condies climticas em cada dia que se realizaram campanhas de observao.
Contributo da Climatologia para a sustentabilidade urbana.
O caso da Figueira da Foz
34 |
1.4. Estrutura da Dissertao
A presente dissertao organizada em sete captulos, apresenta neste primeiro captulo, uma
sntese da temtica e dos objectivos do trabalho, efectuando-se uma breve reviso acerca do estado
da arte, assim como se enunciam os principais mtodos de investigao utilizados e da respectiva
organizao do trabalho. Como forma de enquadrar a rea de estudo e de facilitar a compreenso da
realidade topoclimtica investigada, efectua-se uma caracterizao dos principais traos fsicos e da
morfologia urbana da Figueira da Foz.
No segundo captulo, ainda que de uma forma sintetizada e limitada aos assuntos que sero
seguidamente objecto de estudo, aborda-se de forma terica as principais especificidades do clima
urbano, nomeadamente as caractersticas da camada limite urbana, a modificao dos balanos
energticos e de radiao, que por sua vez, se repercutem no fenmeno de ilha de calor urbano e o
papel dos espaos verdes em meio urbano. A influncia da topografia nos climas locais, assim como
as circulaes atmosfricas locais, so igualmente objecto de anlise.
No terceiro captulo, efectua-se o enquadramento da rea de estudo no contexto climtico
regional, para de seguida, com base nas normais climatolgicas de 1951-1980 se proceder ao
estudo do comportamento mdio e interanual das principais variveis climticas.
Com o quarto captulo, analisam-se os contrastes trmicos espaciais decorrentes da instalao de
quatro termgrafos em abrigo durante a poca estival, sendo que foram analisadas as temperaturas
mximas e mnimas dirias entre cada par de sondas; o comportamento intradiurno das diferenas de
temperatura do ar, nomeadamente a frequncia de ocorrncia, a intensidade mdia, variabilidade e
intensidade extrema; as taxas de aquecimento ou arrefecimento horrio e por fim, a influncia dos
tipos de tempo nos contrastes trmicos espaciais.
No quinto captulo, o enfoque centra-se essencialmente nos padres termohigromtricos escala
topoclimtica, analisando-se no s os campos mdios nocturnos e diurnos, como tambm os
exemplos de maiores contrastes. Para alm do padro termohigromtrico, neste captulo analisa-se o
de forma abreviada o campo de vento mdio resultante das medies efectuadas em cada campanha
de observao.
No sexto captulo e, com base no conhecimento adquirido nos captulos precedentes sobre o
topoclima da Figueira da Foz, definem-se as unidades de resposta climtica homognea (climatopos)
para a rea de estudo e as respectivas orientaes climticas direccionadas ao planeamento urbano.
Por fim, no stimo captulo, apresentam-se as principais concluses que se retiram de cada um
dos captulos.
C A P T U L O I
Introduo
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2. EN QUADRA MENT O E C ARAC TERIZA O DA R EA DE ESTUD O : F IGU EIR A DA FOZ
A cidade da Figueira da Foz localiza-se na faixa ocidental da Pennsula Ibrica, mais propriamente
no litoral da Regio Centro de Portugal continental (NUT II), a uma latitude de 400930N e 85135O
de longitude (Figura 1). De acordo com os resultados provisrios do XV Recenseamento Geral da
Populao e V Recenseamento Geral da Habitao, de 2011, o Concelho da Figueira da Foz no
momento censitrio apresentava uma populao residente de 62130 habitantes. Contabilizando-se os
habitantes das freguesias urbanas da margem direita do Mondego, nomeadamente, as Freguesias de
So Julio da Figueira da Foz (9714 hab.), Tavarede (9462 hab.), Buarcos (8579 hab.) e Vila Verde
(2944 hab.), ou seja, a populao do sector urbano propriamente dito era de 30699 habitantes.
Em termos hierrquicos e tendo como referncia o sistema urbano nacional, a cidade da Figueira
da Foz, afirma-se como uma cidade mdia mas de dimenses modestas, onde a questo da segunda
habitao assume alguma importncia, sendo por isso responsvel pelo aumento da rea
impermevel. Em funo da dimenso modesta da cidade, este facto pode servir como um indicador
da presso antrpica que exercida sobre o ambiente fsico em questo, o que nos leva a concluir de
forma emprica (com as devidas reservas), que a quantidade de fluxos de calor antrpico produzidos,
no represente uma importante entrada no balano energtico urbano, embora o modifique.
Figura 1 - Enquadramento territorial.
Contributo da Climatologia para a sustentabilidade urbana.
O caso da Figueira da Foz
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2.1. Enquadramento morfolgico e topogrfico
Do ponto de vista morfo-estrutural, a rea de estudo integra na sua totalidade a Orla Meso-
Cenozica Ocidental, mais precisamente o sector setentrional da Bacia Lusitaniana3, onde ao longo
dos tempos geolgicos se foram depositando ciclicamente vrias unidades geolgicas sobre os
terrenos do Macio Hesprico.
Em termos litolgicos, o substrato rochoso da rea de estudo constitudo por material
sedimentar, de onde se destacam rochas calcrias do Jurssico mdio (Dogger) de maior pureza e
compactao relativamente restante litologia presente, nomeadamente rochas calco - margosas,
arenitos vrios, areias, argilas e aluvies de idade recente.
Do ponto de vista morfolgico (Figura 2), no sector onde se encontra inserida a cidade da Figueira
da Foz, destaca-se da paisagem uma linha de relevos de origem tectnica, que apresenta uma
direco sensivelmente de ONO-ESE e que, variando entre os 100 e os 257 metros de altitude, d
corpo a um dos ex-lbris da cidade, a Serra da Boa Viagem e das Alhadas.
Esta linha de relevos contnua, composta pelas Serras da Boa Viagem, a ocidente e das Alhadas,
a oriente, constitui uma estrutura monoclinal que se vai alargando progressivamente para Oeste em
direco s arribas do Cabo Mondego e que se prolonga pelo oceano. As suas altitudes raramente
ultrapassam os 250 metros, coincidindo os nveis superiores aplanados com os afloramentos de
calcrios compactos, culminando aos 257 metros no marco geodsico da Bandeira. A prpria Serra
das Alhadas (prolongamento para oriente do arco de calcrios e calcrios margosos do Jurssico)
desenvolve-se a um patamar inferior, com uma altitude mxima de 153 metros.
Por aco de um predomnio de tectnica compressiva, com uma componente de movimentao
vertical, a qual tem sido responsvel pela subida da Serra, estes relevos terminam de forma brusca a
Norte por uma escarpa de falha (Falha de Quiaios), colocando em contacto os calcrios e margas do
Lias com areias marinhas do Plistocnico mdio a inferior (ALMEIDA, 1995).
Tanto a Norte como a Sul desta barreira orogrfica, domina a platitude por extensas superfcies de
baixas altitudes (inferiores a 50 metros), quer seja pelo plaino aluvial do Mondego, quer pela plancie
litoral, ou ainda, pelos baixos planaltos, quase todos arenosos ou cascalhentos (REBELO, et al.
1990). No sector central do territrio concelhio, destaca-se o esturio do Rio Mondego, que aqui
desagua no oceano Atlntico.
3 A Bacia Lusitaniana pode ser definida como uma bacia sedimentar que se desenvolveu na Margem Ocidental Ibrica, durante parte do Mesozico, e a sua dinmica enquadra-se no contexto da fragmentao da Pangeia, mais especificamente da abertura do Atlntico Norte. Caracteriza-se como uma bacia distensiva, pertencente a uma margem continental do tipo atlntico de Rift no vulcnica (KULLBERG et al., 2006: 317).
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Figura 2 - Hipsometria.
Contributo da Climatologia para a sustentabilidade urbana.
O caso da Figueira da Foz
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Quando se efectua a anlise dos declives gerais (Figura 3) e em especial dos declives
preferenciais (
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Figura 3 - Declives.
Contributo da Climatologia para a sustentabilidade urbana.
O caso da Figueira da Foz
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Analisando o uso do solo, destaca-se a importncia da rea territorial ocupada pela mancha
florestal, a qual segundo o Cos 90, cobria sensivelmente 51.4% do territrio municipal. Nesta,
destaca-se a forte implantao do pinheiro bravo com mais de 86% de representatividade nas
espcies florestais do concelho (Figura 4). Todo o sector ocidental dominado por esta espcie,
particularmente nas Freguesias de Bom Sucesso, Quiaios e Lavos, sendo que apenas nos sectores
mais orientais que aparecem povoamentos mistos. A este facto no alheia a importncia da
actividade florestal no tecido econmico municipal, embora a forte presena de Matas Nacionais se
apresente como um dos factores fundamentais do seu predomnio, sendo que ao longo dos tempos
tem desempenhado uma importante aco na fixao das areias dunares ao longo da plancie litoral.
As reas agrcolas, com uma representatividade aproximada de 32% do territrio do Concelho,
assumem grande destaque nas Freguesias de Alqueido e Maiorca, aqui fortemente relacionadas
com os arrozais, na Freguesia de Alhadas associada a uma agricultura de sequeiro, e tambm na
Freguesia de Bom Sucesso com uma significativa prtica agrcola de regadio.
As reas artificiais, de um modo geral, representam 6.6% do territrio municipal, com particular
destaque na freguesia nuclear da sede de Concelho, So Julio, quase exclusivamente ocupada por
estas reas, com forte presena de espao urbano. De realar tambm a importncia da zona
porturia para os ndices de ocupao da freguesia de So Pedro e os espaos industriais
principalmente para a Freguesia de Marinha das Ondas. Os meios semi-naturais que representam
cerca de 5.6% do territrio, devem-se maioritariamente presena de reas de praias, dunas, areais
e tambm a alguma vegetao arbustiva.
Quanto aos meios aquticos, com uma ocupao de 2.5% do territrio, assumem particular
importncia na rea administrativa da freguesia de Vila Verde devido ao esturio do Mondego. Por
sua vez, as superfcies com gua, apresentam uma representatividade espacial de 1.9% a nvel
municipal, devendo-se especialmente ao plano de gua representado pelo rio Mondego (em particular
do seu sector estuarino), mas tambm devido presena das lagoas da Vela e das Braas, nas
freguesias de Bom Sucesso e Quiaios respectivamente.
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Figura 4 - Ocupao e uso do solo.
Contributo da Climatologia para a sustentabilidade urbana.
O caso da Figueira da Foz
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2.2. Evoluo da cidade da Figueira da Foz
A cidade da Figueira da Foz, historicamente ligada ao mar, cresceu de forma gradual, podendo
identificar-se vrias fases de evoluo da cidade atravs da existncia de vrias zonas
funcionalmente individualizadas e que se foram traduzindo em alteraes significativas na importncia
relativa entre os principais lugares Tavarede, Buarcos e Figueira da Foz.
O crescimento da Figueira da Foz d-se no decorrer do sculo XX na direco de Buarcos,
aglomerado que aglutina em meados desse mesmo sculo, em funo da construo da Avenida
Marginal. Com a acelerao do perodo de edificao dos ltimos trinta anos e com a ocupao de
reas do interior, o ncleo urbano principal aproximou-se e englobou tambm Tavarede. A histria da
cidade , inicialmente, a histria das relaes com o seu porto, qual, a partir do fim do sc. XIX,
acresce a histria da cidade de veraneio. Todos os desenvolvimentos irregulares e faseados criaram o
aspecto actual da morfologia da Figueira da Foz, proporcionando um contorno recortado, resultante
do desfasamento cronolgico dessas diferentes morfologias, sendo facilmente perceptvel a relao
diferenciada da cidade com o rio, o mar e a serra (BATISTA, 1999).
Nestes ltimos anos, o desenvolvimento urbano de Tavarede, Quiaios ou Buarcos (assim como
outros lugares mais perifricos) tem estado na origem da sada de muitos residentes do centro da
cidade, que em funo de uma melhoria dos acessos s redes de equipamentos e infra-estruturas,
tm procurado nesses locais habitaes menos dispendiosas, o que no caso de Tavarede e Buarcos,
se tem traduzido num crescimento da cidade para Norte e ao longo da vertente meridional da Serra da
Boa Viagem. No entanto, e se os tipos de crescimento observados em torno dos eixos virios e do
fenmeno turstico so comuns, pelo contrrio, o construdo do territrio da Freguesia de Tavarede
um dos melhores exemplos encontrados em toda a regio sobre a forma pouco conseguida de um
urbanismo moderno. A necessidade de se encontrar terrenos a custo mais reduzido relativamente s
zonas urbanas de So Julio e Buarcos (onde os custos dos terrenos prximos da frente de mar se
tornaram proibitivos para muitos dos residentes) levou exploso da construo no territrio a
Nordeste do ncleo histrico de Tavarede, com os ncleos de Ch, Carritos, Qta. do Pao ou mesmo
Saltadouro e Vrzea a verem o seu crescimento, dos ltimos 50 anos, a ocupar uma significativa
superfcie de territrio.
Ao efectuar-se uma anlise diacrnica do espao construdo no perodo compreendido entre 1947
e 2009 (Figura 5), verifica-se um ntido crescimento da cidade e consequente aumento da presso
antrpica, nas Freguesias de So Julio, Buarcos e particularmente na de Tavarede. Nas ltimas
dcadas, a cidade tem crescido para Norte, no sop e ao longo da vertente meridional da Serra da
Boa Viagem. Para alm de um aumento da impermeabilizao dos solos, o crescimento urbano, tem
sido feito essencialmente em altura, com edifcios entre 7 e 10 pisos.
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Figura 5 - Evoluo do construdo com pormenor rea urbana.
Contributo da Climatologia para a sustentabilidade urbana.
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2.3. Morfologia Urbana
De seguida descrevem-se os aspectos gerais da morfologia urbana da Figueira da Foz, com
particular incidncia na anlise da densidade de construo, da geometria urbana e dos espaos
verdes inseridos na malha urbana, com a finalidade de se descrever o melhor possvel as
caractersticas da cidade.
O sector da Freguesia de So Julio da Figueira da Foz (Foto 1), definido inicialmente em torno da
Igreja Matriz de So Julio e em estreita relao com a frente ribeirinha, constitui o designado Bairro
Velho ou Figueira Velha. Aqui, a densidade de construdo muito elevada, com edifcios dispostos
numa malha urbana orgnica e ortogonal (nas construes mais recentes associadas implantao
da Estao de Caminho de Ferro). Os edifcios no muito altos, apresentam uma altura varivel (entre
3 a 5 pisos), com ruas de orientao geral NNE-SSW e W-E e com nveis de ocultao do horizonte
elevados em determinadas ruas, principalmente onde a malha urbana irregular com ruas muito
estreitas (R. dos Combatentes da Grande Guerra; R. Dr. Santos Rocha e R. dos Bombeiros
Voluntrios). Quanto vegetao existente, para alm de se verificarem alguns logradouros, a
vegetao de porte arbreo (do tipo caduciflias), encontra-se mais presente nas ruas de malha
ortogonal (metade oriental), nomeadamente nas Ruas Bartolomeu Dias, Afonso de Albuquerque e
Vasco da Gama.
Foto 1 - O tipo de morfologia urbana no "Bairro Velho" e a ligao ao Rio Mondego.
Fonte: Ildio Santos e Antnio Cruz.
A Norte da Rua Heris do Ultramar e ao longo do interflvio aplanado e definido entre as Abadias
(a Oeste) e a Vrzea de Tavarede (a Este), a cidade cresceu em direco a Tavarede, sendo esse
facto bem visvel na modificao da morfologia urbana, a qual perdeu a compacidade caracterstica do
seu ncleo antigo, passando a predominar uma construo recente em blocos, com um nmero de
pisos entre 5 e 10. As ruas so mais largas, o que se traduz em fracos nveis de ocultao do
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horizonte, sendo igualmente de assinalar que a densidade de construo aumenta medida que nos
aproximamos de uma das principais artrias com mais trfego, a Av. Dr. Francisco S Carneiro que se
prolonga para Oeste pela Av. Dr. Mrio Soares e que efectua a ligao deste recente plo urbano da
Figueira da Foz avenida atlntica.
O processo de urbanizao recente de Tavarede, constitui um exemplo tpico de um crescimento
difuso, sendo evidente na Foto 2 a invaso de espaos eminentemente agrcolas relativos ao sector
setentrional da Vrzea de Tavarede, prolongando-se pelo interflvio dos Condados. Neste sector, de
caractersticas peri-urbanas, notria a construo em altura, com blocos habitacionais de 10 pisos,
apresentando estes edifcios uma excessiva volumetria e provocando por isso, uma poluio da
paisagem, dado o contexto natural em que se encontra inserido.
Foto 2 - Expanso da cidade para Norte (Tavarede).
Notar a importncia das novas vias de comunicao na construo do espao geogrfico e a invaso do rural pelo urbano.
Fonte: Ildio Santos e Rui Loureno.
A Oeste, do Parque Verde das Abadias e limitado a Norte pela Quinta de Santa Catarina e a Sul
pela Av. da Foz do Mondego (frente ribeirinha), define-se o Bairro Novo de Santa Catarina da
Figueira da Foz, com uma malha urbana de cariz ortogonal, onde predominam edifcios de Arte Nova
e Art Dco at 3 pisos e que no conjunto definem uma malhar urbana harmoniosa, sendo que neste
aglomerado se localiza o Casino Figueira, o antigo Casino Oceano, a esplanada e o castelo Silva
Guimares, o Forte de Santa Catarina e a Torre do Relgio.
Associado a um crescimento na segunda metade do sculo XX, a Norte do Bairro Novo a
morfologia urbana dominada por construo em altura, destacando-se neste caso particular a R. do
Rancho das Cantarinhas, ladeada por edifcios de 10 pisos dispostos em banda e com uma relao
H/W de aproximadamente 30 a 25 (Foto 3). Neste sector e de forma mesclada, proliferam habitaes
unifamiliares de 2 pisos, rodeadas por jardins, facto particularmente evidente ao longo da R. Joaquim
Sotto Mayor.
Contributo da Climatologia para a sustentabilidade urbana.
O caso da Figueira da Foz
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Foto 3 - Vista rea da cidade sobre diferentes ngulos.
Fonte: Rui Loureno.
A ocidente do Bairro Novo, define-se a Figueira da Foz de frente atlntica e com ligao a
Buarcos, com um arranjo urbanstico de caracterstica balnear. As Avenidas do Brasil e 25 de Abril
apresentam edifcios de altura varivel, destacando-se alguns prdios com mais de 15 pisos,
principalmente os condizentes com as principais unidades hoteleiras e duas torres habitacionais
localizadas no fim da Av. do Brasil (Foto 4).
Foto 4 - Frente Atlntica da cidade.
Fonte: Antnio Cruz e Ildio Santos.
Na Freguesia de Buarcos, a malha urbana nitidamente orgnica, tendo-se estabelecido o
aglomerado urbano no interior do Forte de So Pedro de Buarcos, destacando-se essencialmente os
elevados nveis de ocultao do horizonte neste sector devido s ruas muito estreitas, com edifcios
de 2 e 3 pisos, no sop da vertente meridional da Serra da Boa Viagem (Foto 5). Actualmente verifica-
se um aumento de construo neste sector, no s ao longo da marginal mas tambm na encosta Sul
da Serra da Boa Viagem.
C A P T U L O I
Introduo
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Foto 5 - A malha urbana em Buarcos.
Fonte: Antnio Cruz e Ildio Santos.
Relativamente aos espaos verdes existentes no seio da malha urbana, destaca-se pela sua
dimenso o Parque Verde das Abadias, onde predomina uma cobertura vegetal herbcea, ladeado
por rvores no seu flanco ocidental. A Sul deste espao verde, define-se o Parque Verde Municipal,
que devido ao predomnio de espcies de porte arbreo, representa um espao importante nas tardes
de Vero pela sombra que proporciona (Foto 6). Para alm destes espaos verdes pblicos,
destacam-se algumas reas com vegetao de porte arbreo e que correspondem a vrias
propriedades privadas, como a Quinta de Santa Catarina, a Quinta de Sotto Mayor, a Quinta da Bela
Vista e a rea florestal do Parque de Campismo.
Foto 6 - O Parque Verde das Abadias e o Parque Municipal.
A Norte da Serra da Boa Viagem a paisagem modifica-se por completo, diminuindo drasticamente
a densidade de construo, predominando extensas reas florestais na vertente Norte e na
Plataforma Litoral.
CAPTULO II
Enquadramento Terico
C A P T U L O I I
Enquadramento Terico
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Como suporte terico ao nosso trabalho, neste segundo captulo faz-se uma breve abordagem em
torno das principais caractersticas do clima urbano e da importncia dos espaos verdes em meio
urbano e da influncia da topografia na formao de lagos de ar frio.
1. ESPECIF ICIDAD ES D O CLIMA URBAN O
Segundo OKE (1987:272), the process of urbanization produces radical changes in the nature of
the surface and atmospheric properties of a region. It involves the transformation of the radiative,
thermal, moisture, and aerodynamic characteristics and thereby dislocates the natural solar and
hydrologic balances.
Neste sentido, as principais transformaes topoclimticas decorrentes do processo de
urbanizao, esto na base dos principais contrastes climticos existentes entre o espao urbano e a
sua periferia e podem resumir-se a temperaturas do ar mais elevadas na cidade, em particular durante
o perodo nocturno (fenmeno de Ilha de Calor Urbano); aumento da turbulncia; menor velocidade
mdia do vento (apesar de poderem ocorrer situaes pontuais de forte acelerao) e modificao da
direco dos ventos regionais; diminuio da radiao solar recebida e da humidade atmosfrica;
aumento dos fluxos de calor antrpico (OKE, 1997).
1.1. Escalas climticas de anlise
A compreenso de um clima complexo onde interferem vrios factores e a vrias escalas de
anlise, como o subsistema climtico urbano, implica que se tenha em considerao o seu
enquadramento escala global, regional e local.
Se por um lado aceite que escala global e regional, o clima urbano influenciado por factores,
tais como, latitude, continentalidade, dinmica atmosfrica geral e regional, topografia envolvente e a
proximidade a massas de gua, por outro lado ainda no esclarecedora a forma como o clima
urbano interage com o clima regional e mesmo a forma como os vrios microclimas urbanos se inter-
relacionam, na medida em que os fenmenos atmosfricos so na sua essncia espacialmente
contnuos (LOWRY, 1977; ANDRADE, 2005; GRIMMOND, et al. 2010).
Contributo da Climatologia para a sustentabilidade urbana.
O caso da Figueira da Foz
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neste contexto, onde a complexidade dos vrios subsistemas climticos , por demais evidente,
que a noo de escala (transversal a qualquer estudo geogrfico), ganha uma importncia acrescida
em estudos de climatologia urbana, alis como so bem reveladoras as palavras de ARNFIELD
(2003:2) ao afirmar que, the concept of scale is fundamental to understanding the ways in which
elements of the urban surface interact with adjacent atmospheric layers ou mais ainda as de OKE
(2006:182) ao proferir que recognition of scale differences in cities is a central key to the design of
meaningful field, laboratory or computer studies and also to create valid conceptualizations, models or
interpretations of data.
Deste modo, muito do sucesso de uma investigao em meio urbano, passa pelo correcto
entendimento das escalas espcio-temporais que caracterizam os fenmenos e os elementos
urbanos, analisando-se de seguida as escalas climticas horizontais e verticais.
1.1.1. Escala Horizontal
Com base na Figura 6 que representa as escalas climticas caractersticas dos meios urbanos,
com base em OKE (1987, 2006a, 2006b), este autor define trs nveis de anlise horizontal,
nomeadamente: Meso-Escala, Escala Local ou Topoclimtica e Micro-Escala, descrevendo-se de
seguida de forma sucinta as particularidades de cada escala de anlise.
Ao nvel da meso-escala, apesar de se encontrar sujeita s condies atmosfricas de macro-
escala, a prpria cidade influencia as caractersticas dos elementos climticos em toda a rea da
cidade e nas reas envolventes, numa extenso que pode ser da ordem das dezenas de quilmetros
(consoante a dimenso da cidade), sendo que a instalao de uma nica estao meteorolgica no
de todo representativa das caractersticas climticas desta escala de anlise.
Quanto escala topoclimtica ou local, que se desenvolve entre os 100 metros at alguns
quilmetros, corresponde nas reas urbanas, s reas de morfologia urbana homognea, de
semelhante metabolismo urbano e situao topogrfica, para as quais, as estaes meteorolgicas
convencionais se encontram preparadas para monitorizar. Cada topoclima, assim, o resultado de
um mosaico de microclimas, que no conjunto definem as caractersticas climticas de um determinado
local (OKE, 2006b; ALCOFORADO, 2010).
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Enquadramento Terico
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Figura 6 - Esquema das escalas climticas (verticais e horizontais) da atmosfera em meio urbano
(Adaptado de OKE, 1997).
No domnio da micro-escala, que se define desde a escala milimtrica at a algumas centenas de
metros, analisam-se as caractersticas climticas de cada elemento que constitui a morfologia urbana
(edifcios, rvores, ruas, praas, jardins, etc.) ao nvel da atmosfera urbana inferior. Cada superfcie ou
objecto tem o seu prprio microclima, sendo que a temperatura e a humidade do ar podem apresentar
variaes significativas em pequenas distncias ou mesmo interferir nos padres locais de circulao
do ar (OKE, 2006b).
Em termos de escala temporal, os fenmenos meteorolgicos podem ocorrer em curtos perodos
de segundos (como por exemplo, a turbulncia de pequena escala), ou desenrolar-se ao longo de
dias, semanas ou mesmo meses. No caso dos processos que ocorrem em meio urbano, apresentam
uma amplitude diria.
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O caso da Figueira da Foz
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1.1.2. Escala Vertical
1.1.2.1. A Troposfera e a Camada Limite Atmosfrica
Dos vrios subsistemas que definem o sistema climtico, a Atmosfera constitui o sistema rpido,
aquele que evidencia modificaes significativas no prazo de poucos dias, apresentando as mais
visveis indicaes do comportamento turbulento e catico do sistema climtico global (MIRANDA,
2009).
Por sua vez, estes subsistemas heterogneos do ponto de vista termo-hidrodinmico, com
propriedades fsicas distintas, apresentam uma forte interaco atravs de processos que implicam a
troca de importantes fluxos de energia, movimento e massa.
Na base de todos estes processos encontra-se a radiao electromagntica proveniente do Sol
que nos chega sob a forma de vrios comprimentos de onda, constituindo a principal fonte de energia
que alimenta todos os mecanismos do sistema climtico, no qual a atmosfera desempenha um papel
fundamental no equilbrio energtico da Terra.
A estrutura vertical da atmosfera, tende a apresentar-se em camadas horizontais, as quais so
definidas em funo de diferentes variveis, tais como, presso, temperatura, densidade, composio
qumica, estado molecular elctrico e magntico.
Considerando como critrio a temperatura, vrias observaes conduzidas ao longo da atmosfera,
tm indicado uma variao em altitude, dividindo-se a atmosfera em vrias camadas (troposfera,
estratosfera, mesosfera e termosfera) para simplificar a sua compreenso e anlise, no entanto, a sua
estrutura complexa, apresentando variaes no tempo e no espao.
A troposfera, corresponde assim camada inferior da atmosfera, estando desse modo em
contacto directo com a superfcie terrestre. Com uma espessura mdia de 10-11 km (8km nos Plos
at 17km prximo ao Equador), nesta camada que a maioria dos fenmenos meteorolgicos ocorre.
PDELABORDE (1982:34) referindo-se troposfera caracteriza-a como sendo agite de
mouvements dsordonns, la fois verticaux et horizontaux. Cest une couche extrmement trouble.
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Enquadramento Terico
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A turbulncia4 constitui o processo primrio pelo qual a quantidade de movimento, calor e
humidade so transferidos na troposfera.
No essencial, a troposfera dominada por regimes de escoamento turbulentos que se manifestam
inclusivamente a vrias escalas, desde os pequenos turbilhes de microescala aos fenmenos de
mesoescala, passando pelas perturbaes sinpticas, at s grandes perturbaes planetrias
(PEIXOTO, 1979).
Tendo em conta os diversos processos fsicos e qumicos que ocorrem no sistema terra
atmosfera, a troposfera divide-se num primeiro nvel de anlise em duas camadas: Camada Limite
Atmosfrica (CLA) tambm designada de Camada Limite Planetria (CLP), com caractersticas
turbulentas e a Atmosfera Livre (AL), dominada por processos associados aos sistemas de larga
escala (OLIVEIRA, 2001).
STULL (1988) citado por LOPES (2003), define a CLA como sendo a camada de ar
imediatamente acima da superfcie da Terra, cujos efeito do atrito, aquecimento e arrefecimento so
sentidos directamente escala temporal inferior a um dia e onde os fluxos de quantidade de
movimento, energia (nomeadamente calor) e massa so transportados e difundidos por movimentos
turbulentos.
A CLA pode tambm ser definida e entendida como a regio do escoamento atmosfrico na qual
se verifica um elevado gradiente de velocidade. A diminuio da velocidade do escoamento5 a partir
de um ponto crtico (superior a 2000 Reynolds), tornam-no turbulento. Tal facto, deve-se no s ao
cisalhamento do campo de velocidade imposto pela fora de atrito da superfcie terrestre (relevo,
edifcios, vegetao, etc.), mas tambm aos ciclos dirios de aquecimento e arrefecimento na baixa
troposfera, da que esta fora seja superior em reas continentais (particularmente nas reas urbanas)
comparativamente s ocenicas e aos meios rurais.
4 Turbulncia tipo de transporte atmosfrico convectivo, isto , resulta do movimento vertical de parcelas de ar ou turbilhes. O atrito entre o ar que se desloca por aco do vento e a superfcie, provoca a rotao do ar e a formao de um conjunto de turbilhes irregulares cujo movimento aleatrio causa a mistura do ar. Quando a turbulncia resulta apenas do atrito entre o ar que se desloca por aco do vento e a superfcie rugosa designada por turbulncia mecnica. Por sua vez, quando a turbulncia consequncia da aco de diferenas de densidade do ar (resultantes sobretudo de diferenas de temperatura do ar), designa-se por turbulncia trmica (STULL, 1988).
5 Consoante as propriedades do escoamento, o regime de escoamento laminar ou turbulento. Quando laminar, o fluido escoa em camadas que deslizam uma sobre as outras. Neste caso, no h trocas de propriedades macroscpicas entre estas camadas do escoamento. Por sua vez, quando a velocidade do escoamento atinge um valor crtico este escoamento passa por um processo de transio onde as simetrias do escoamento laminar so quebradas e o regime de escoamento converge para um regime de escoamento turbulento (excepto para uma fina camada do fluido em contacto directo com a superfcie terrestre que continua a ser laminar camada superficial laminar). Quando a turbulncia se apresenta completamente desenvolvida caracteriza-se por um comportamento espacial e temporal desordenado nas caractersticas dinmicas e termodinmicas que descrevem o escoamento (PUHALES, 2008).
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O caso da Figueira da Foz
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Quadro 1 - Caractersticas da camada Limite e da atmosfera Livre
Propriedades Camada Limite Atmosfrica Atmosfera Livre
TurbulnciaDominam flux os turbulentos contnuos em
toda a espessura da camada.
Turbulncia espordica associada a
nuv ens conv ectiv as.
DispersoIntenso regime turbulento de mistura tanto
na v ertical como na horizontal.
Reduzida difuso molecular. Transferncia
de massa por conv eco dev e-se a
flux os geostrficos.
VentoPerfil logartmico da v elocidade do v ento
na camada limite (fora de atrito).Ventos geostrficos/v entos de gradiente.
Transporte Vertical Predomnio de turbulncia atmosfrica.
Predomnio do transporte v ertical atrav s
dos v entos de gradiente e de nuv ens do
tipo cmulus.
EspessuraVaria entre os 100 m e os 3 km no tempo
e no espao. Ciclo diurno sobre a terra.
Menos v ariv el (8-18 km). Reduzidas
v ariaes temporais.
Atrito
Efeito de retardamento determinado pelo
atrito ex istente entre a superfcie terrestre e
o ar colocado em mov imento. Elev ada
dissipao de energia.
Reduzida dissipao.
Fonte: Adaptado de STULL (1988).
Na medida, em que a fora de atrito perde intensidade na vertical, a partir de determinada altitude
a sua influncia insignificante e a velocidade de escoamento iguala o vento de gradiente. Esse nvel,
traduz o topo da CLA, determinando a sua espessura, sendo que acima da camada limite, entramos
na Atmosfera Livre. A turbulncia de origem trmica ou mecnica, constituem as principais
caractersticas dos fluxos atmosfricos da camada limite.
Em termos convencionais a CLA apresenta uma espessura mdia de 600 - 800 metros, no entanto
pode oscilar entre umas dezenas de metros a 1 ou 2 km. As caractersticas desta camada esto
dependentes de factores to variados como a velocidade do vento, temperatura do ar e da superfcie,
condies de estabilidade atmosfrica, propriedades aerodinmicas da superfcie, nomeadamente a
rugosidade.
Com um ciclo dirio bem definido, durante o dia, a entrada de energia no sistema e a consequente
mistura do ar, incrementam a termoconveco no interior da Camada Limite, alcanando a sua
espessura mxima s primeiras horas da tarde; pelo contrrio, durante a noite o arrefecimento do ar
junto ao solo impede a turbulncia e a espessura da camada diminui (STULL, 1988, GARRATT,
1994).
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Enquadramento Terico
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A prpria camada limite atmosfrica apresenta uma estrutura vertical organizada em vrias sub-
camadas, definidas em funo das caractersticas termodinmicas dos fluxos na camada limite. Em
contacto directo com a superfcie e com apenas milmetros de espessura, define-se a camada laminar
molecular, onde dominam os efeitos da viscosidade superficial. Acima desta estabelece-se a camada
turbulenta de vrias centenas de metros de espessura e caracterizada por uma intensa turbulncia do
ar. Nesta camada os fluxos resultam do movimento turbilhonar do ar, isto , so o resultado do
movimento vertical de parcelas de ar ou de turbilhes gerados pelo atrito entre o ar que se desloca
pela aco do vento e a superfcie, designadas por MIRANDA (2009) como trmicas6. So esses
turbilhes que transportam convectivamente quantidade de movimento, energia e massa entre a
atmosfera e a superfcie (FERREIRA, 2007). No nvel superior da camada limite (Camada de Ekman),
a fora de Coriolis manifesta cada vez mais energia sobre o vento at se atingir o equilbrio
geostrfico (Espiral de Ekman), passando o vento a ser quase paralelo s isbaras (vento
geostrfico).
1.1.3. Camada Limite Urbana
As cidades so fontes geradoras de energia antrpica e poluio, factores que alteram o balano
energtico e, por conseguinte, modificam as condies de estabilidade ou instabilidade atmosfrica na
camada limite que se lhes sobrepe (LOPES, 2003:23).
O estudo da camada limite sobre reas urbanas de particular interesse, pois nesta sub-
camada da troposfera que a maioria das campanhas de observao climtica so efectuadas e acima
de tudo onde a maioria da populao mundial se concentra e desenvolve as suas actividades.
Em comparao com os espaos rurais, a superfcie urbana devido sua volumetria usualmente
mais rugosa, com temperaturas do ar e de superfcie superiores e de maior secura (ROTH,
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