O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
ROSELENE SEMPREBOM FREIRE
UNIDADE DIDÁTICA
EXPERIÊNCIAS DA ESCRAVIDÃO E FORMAÇÃO DE COMUNIDADES
QUILOMBOLAS NO PARANÁ.
MARINGÁ, 2009
2
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ - FACULDADE
ESTADUAL DE CIÊNCIAS E LETRAS DE CAMPO MOURÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
UNIDADE DIDÁTICA
EXPERIÊNCIAS DA ESCRAVIDÃO E FORMAÇÃO DE COMUNIDADES QUILOMBOLAS NO PARANÁ
HISTÓRIA
Núcleo Regional de Educação: Goioerê Escola Estadual D. Pedro II
Ensino Fundamental - 6ª Séries Município de Janiópolis
AUTOR: Roselene Semprebom Freire1
ORIENTADOR: Frank Antonio Mezzomo2
1 Professora de História e Geografia da Escola Estadual D. Pedro II – Ensino Fundamental, Núcleo
Regional de Goioerê – PR. Integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional. 2 Professor do Departamento de Ciências Sociais da Faculdade Estadual de Ciências e Letra de
Campo Mourão (FECILCAM).
3
SUMÁRIO
Introdução 4
Bloco I Pensando a rota África – Brasil
6
Bloco II Chegada dos africanos no Brasil e seu destino
11
Bloco III O trabalho escravo negro no Paraná
15
Bloco IV Quilombos – Parte I
21
Bloco V Quilombos – Parte II
26
Bloco VI Pesquisa in loco aos quilombos paranaenses
29
Bloco VII Comunidade remanescente de quilombo Serra do Apon
33
Bloco VIII Comunidade remanescente de quilombo Campinas dos Morenos
45
Bloco IX Comunidade remanescente de quilombo Bairro de São Roque
53
Bloco X Comunidade remanescente de quilombo Invernada Paiol de Telha
60
Referências 66
Fontes orais 68
Outras fontes 69
4
INTRODUÇÃO
Esta Unidade Didática contém a Produção Didático–Pedagógica do
Professor PDE 2009. Os textos, acompanhados de suas respectivas atividades,
foram elaborados com a finalidade de provocar no aluno da sexta série do ensino
fundamental, o repensar acerca das experiências da escravidão e formação de
comunidades quilombolas no Paraná. As sugestões de atividades apresentadas
serão divididas em blocos e pretendem fazer com que os alunos sejam capazes
de estabelecer as relações de domínio e resistência entre escravizadores e
negros escravizados em diferentes tempos e contextos sociais. Ao final a
proposta é explorar brevemente histórias de algumas comunidades quilombolas
paranaense.
Parte da historiografia brasileira num dado momento deu ênfase a um
ensino voltado para uma cultura europeizada esquecendo as raízes e
contribuições culturais que o povo de origem africana deu ao Brasil e ao Paraná.
Com esse incômodo intelectual inicial se propôs realizar um estudo que coloque
em foco o povo negro ressaltando as tradições culturais além das condições de
vida de algumas comunidades quilombolas paranaense.
Umas das alternativas viáveis para um estudo mais aprofundado e
ampliado foi à visitação in loco a alguns grupos familiares negros localizados nos
municípios de Castro com a comunidade quilombola Serra do Apon, no município
de Turvo na comunidade Campinas dos Morenos, no município de Ivaí a
comunidade de São Roque e, finalmente em Guarapuava, no Assentamento
Invernada Paiol de Telha.
A visitação in loco teve a finalidade explorar os conteúdos e as discussões
já expostas nos meios acadêmicos e produções bibliográficas sobre as
populações negras confirmando-os, complementando-os e, às vezes,
relativizando-as mediante a formulação de outras perguntas e outros olhares.
Esta pesquisa de campo foi fundamental para perceber e conhecer, nesses
espaços a história e a memória que ainda está presente nessas comunidades.
Pensando assim serão abordados assuntos sobre a trajetória da escravidão negra
e como as comunidades quilombolas vivem atualmente nesses espaços.
5
Para tanto iniciaremos o estudo focado na historiografia africana, período
que remonta a trajetória do tráfico de escravos da África para o Brasil, que se
inicia no século XV com o domínio português no Continente.
6
BLOCO I: PENSANDO A ROTA ÁFRICA – BRASIL
De forma lúdica iniciamos nossas atividades com o filme Maré Capoeira3,
com duração de 14 minutos que mostra os encantos da capoeira vistos nos olhos
de uma criança, em uma história de amor e de guerra. Uma tradição familiar que
atravessa várias gerações, uma dança guerreira de liberdade presentes nas
tradições culturais brasileiras.
Maré é o apelido de João, um menino de dez anos que sonha ser mestre de capoeira como seu pai, dando continuidade a uma tradição familiar que atravessa várias gerações(...) Fonte: http://portacurtas.org.br/Filme.asp?Cod=4683
Na sequência será disponibilizado um planisfério do Mapa da África,
disponível em: (http://www.africa-turismo.com/mapas/mapa-politico.htm)4 com
seus países respectivos, e o Mapa Mundo para a visualização e observação do
aluno durante a aula cujo objetivo é proporcionar ao aluno uma noção da
localização geográfica dos continentes da África e da América, compreendendo
onde iniciou toda a história que será abordada durante o estudo.
3 BARRETO, Paola. Filme Maré Capoeira, 2005. Disponível em:
http://portacurtas.org.br/Filme.asp?Cod=4683 . Acesso em: 05/05/2010. 4 Mapa Político da África. Disponível em: http://www.africa-turismo.com/mapas/mapa-politico.htm.
Acesso em: 20/04/2010.
7
Trabalhando com mapa
Observar no Mapa do Tráfico Negreiro e localizar as regiões de origem dos
principais grupos étnicos africanos trazidos para o Brasil durante a escravidão
negra, identificando as rotas do tráfico de escravos.
Mapa - O Tráfico Negreiro (Séc. XVI-XIX)5
1. Após observar as legendas e discutir sobre as rotas no mapa, responder
as questões:
a) Qual o título do Mapa?
b) Quais continentes são identificados no mapa?
2. Para onde eram levados os escravos que partiam da localidade de:
a) Lagos?
b) São Paulo de Luanda?
c) Moçambique?
3. Como eram chamados os escravos que partiam:
a) De Guiné (Lagos)?
b) Das outras regiões?
5 Mapa Tráfico Negreiro. Disponível em:
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2547-6.pdf?PHPSESSID=2010012208174796. Acesso em: 25/05/2010.
8
4. Quais eram as principais cidades da África em que se concentrava o
tráfico de escravos?
5. Em quais cidades da América portuguesa desembarcavam os negros
africanos?
6. Qual a origem da maior parte dos negros africanos escravizados no
Brasil?
Texto
Com as expedições marítimas na costa africana no século XV, os
portugueses encontraram condições favoráveis de investimentos e lucros com o
comércio de escravos, fonte inesgotável de mercadoria humana que permaneceu
por mais de 400 anos. No entendimento de Mario Maestri “milhares de cativos -
crianças, adolescentes e adultos chegavam à costa, após penosas caminhadas,
depois de capturados e vendidos, de uma aldeia a outra, às vezes durante anos.
Parte dessa população jamais vira o mar e muito menos um homem branco” 6.
Depois de capturados e arrancados do seu território, os negros eram levados para
o litoral, aguardando nas feitorias a chegada dos navios negreiros, para serem
transportados ao Brasil, jogados nos porões dos navios, depósitos espremidos de
crianças, mulheres, homens, um ambiente de calor, fétidos de sujeira, fome,
mortes, um verdadeiro amontoado de criaturas humanas que passavam meses na
travessia do Atlântico. Um grande número desses homens morriam na travessia,
de tristeza e doenças, outros tantos, antes mesmo do embarque e ainda uma
quantidade considerável nos quatros meses de vida no Brasil, nos relata Jaime
Pinsky. Os negros não podiam se comunicar com o outro, eles vinham de povos
que falavam línguas diferentes, estratégia, aliás, utilizada para dificultar a
integração e organização dos negros7.
6 MAESTRI, Mário / O Escravismo no Brasil, coordenação Maria Ligia Prado, Maria Helena
Capelato – São Paulo: Atual, 1994. p. 43 à 55. 6 PINSKY, Jaime. A escravidão no Brasil. 17 ed., São Paulo: Contexto, 2000, p. 32.
7 ALVES, Antonio de Castro. Navio Negreiro. Disponível em:
http://www.culturabrasil.pro.br/navionegreiro.htm. Ou http://letras.terra.com.br/caetano-veloso/77893/. Acesso em: 18/04/2010.
9
Castro Alves8 sintetiza essa situação no poema Navio Negreiro. Disponível
em: http://www.culturabrasil.pro.br/navionegreiro.htm. Ou na versão de Caetano
Veloso, disponível em: http://letras.terra.com.br/caetano-veloso/77893/.
Fonte: Johann Moritz Rugendas e L. Deroi
Negros no Porão9.
Atividades
Com base ao texto e a figura do Navio Negreiro responda:
1. Qual é o título da figura?
2. O texto retrata que os negros eram raptados ou arrancados de suas
famílias. Será que a atitude dos traficantes, era uma condição aceitável
pelos negros? Qual a sua opinião?
3. O que o autor quis expressar com a figura Navio Negreiro?
Trabalhando com filme
Nessa atividade ouviremos o poema Navio Negreiro de Antônio de Castro
Alves, escrito em 1869, e assistiremos a um trailer do filme Amistad (1997),
duração de 7’34’’, produzido por Steven Spielberg que retratam situações de
sofrimentos, durante a viagem dos escravos trazidos do continente africano para
a América. Para responder as questões abaixo assistir ao trailer do Filme
9RUGENDAS, Johann Moritz e L. Deroi. Negros no Porão. Disponível em:
http://www.scielo.br/img/revistas/ea/v1n46/46a15f1.jpg. Acesso em: 17/02/2010.
10
Amistad10, disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=gyuT-x6a6W8.
Acesso em: 26/02/2010.
Para uma maior compreensão veja a sinopse do filme Amistad11 no site:
http://www.megklopper.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=255005.
Após ter assistido o trailer do filme Amistad e ouvido o poema, refletir sobre
as seguintes questões:
1. Sobre o filme:
a. Qual foi a cena que mais chamou a sua atenção? Por quê?
b. Como os negros eram aprisionados em suas terras de origem?
c. Quais eram as ações praticadas pelos comerciantes de escravos
contra os negros que o filme mostra?
d. É perceptível alguma forma de resistência?
2. Sobre o poema:
a. O que mais chamou a sua atenção no poema de Castro Alves? Por
quê?
b. O poema demonstra sentimento de saudade em relação à terra-mãe
África?
3. Finalizando as aulas desse bloco, produzir um desenho de acordo com
os textos, imagens e música. Em seguida fazer a apresentação para os
demais colegas da sala.
10
SPIELBERG, Steven. Trailer do filme Amistad. 1997. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=gyuT-x6a6W8. Acesso em: 26/02/2010. 11
AMISTAD, Sinopse do filme: Disponível em: http://www.megklopper.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=255005. Acesso em: 26/02/2010.
11
BLOCO II: CHEGADA DOS AFRICANOS NO BRASIL E SEU DESTINO
Desembarque dos negros12
Texto
Desde os séculos XVI até o final do século XIX quando chegavam aos
portos do Nordeste, Norte e Sudeste os negros ficavam isolados por alguns dias,
para evitar possíveis epidemias. Depois eram destinados aos futuros donos, após
disputados pelos compradores em leilões, Pinsky assim relata: “como mercadoria,
além de comprado, vendido ou alugado, o escravo podia ser oferecido como
fiança e trocado por bens móveis ou imóveis. (...) E ter sido tratado como
mercadoria foi uma das maiores violências perpetradas contra o povo negro” 13.
Uma verdadeira humilhação, separando pais, mães, filhos, por compradores que
os levavam para lugares distantes.
Quando chegavam às fazendas, segundo Gilberto Freyre “os negros
veteranos, os ladinos, iniciavam os recém-chegados na moral e nos costumes dos
brancos. Ensinavam a língua e orientavam nos cultos religiosos sincretizados.
Eram ainda os ladinos que ensinavam aos boçais a técnica e a rotina na
plantação da cana e no fabrico do açúcar” 14. Além de outros trabalhos tanto
12
RUGENDAS, Johann Moritz. Desembarque dos negros Disponível em: http://www.cliohistoria.hpg.ig.com.br/bco_imagens/rugendas/rugendas.htm#. Acesso em: 02/05/2010. 13
PINSKY, Jaime. A escravidão no Brasil. 17 ed., São Paulo: Contexto, 2000, p. 45. 14
FREYRE, Gilberto. Org. Livro do nordeste. Pernambuco: s.e, s.d. (Livro do Nordeste, comemorativo do centenário do Diário de Pernambuco: 1825-1925. Recife: Off. do diário de Pernambuco, 1925.) Disponível em:
12
rurais quanto urbanos que exigiam técnicas e conhecimentos como na lida com o
café, com o algodão, na extração de minérios, na criação de gado, nas pequenas
manufaturas, no trabalho doméstico, nos ofícios mecânicos, no transporte de
objetos, vendedores ambulantes, quitandeiras, de toda a ordem de funções que
necessitassem os seus senhores. Freyre ainda acrescenta: “O senhor de
engenho, extremamente rico e poderoso, passava o maior parte do tempo deitado
na rede (...). O sinhô não precisava levantar-se da rede para dar ordens aos
negros, bastava gritar” segundo Freyre.
Conforme a famosa frase de Antonil: “Os escravos são as mãos e os pés
do senhor de engenho” 15. Graças ao trabalho de milhares de escravos moviam-
se os engenhos desde o roçado, plantio, cultivo, corte e carregamento até o
estabelecimento onde era feito o processo de produção do açúcar e, depois de
empacotado, ser levado até as embarcações para ser exportado para países
europeus. Esse ciclo se repetia de safra em safra e o resultado obtido também
servia para a troca ou compra de mais uns milhares de negros que eram caçados
em sua terra como animais selvagens.
Engenho de moagem de cana16
http://www2.tvcultura.com.br/aloescola/estudosbrasileiros/casagrande/index.htm. Acesso em: 02/02/2009. 15
ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. 3. ed. Belo Horizonte : Itatiaia/Edusp, 1982. 16
CALIXTO, Benedito. Final Sec. XIX. Moagem da Cana na Fazenda Cachoeira, em Campinas. Este óleo sobre tela de 105x136 cm, não datado, faz parte do acervo do Museu Paulista da Universidade de São Paulo: Disponível em: http://www.novomilenio.inf.br/santos/calixt32.htm Acesso em: 03/02/2010.
13
Atividades
1. Em equipe discutir e responder as seguintes questões:
a) Que expressão do texto demonstra que o negro era tratado como
objeto? Você concorda com essa expressão? Justifique.
b) Por que o jesuíta Antonil afirmou que: “Os escravos são as mãos e
os pés do senhor de engenho”?
c) Quais eram as principais funções desempenhadas pelos negros
escravizados durante o período do Brasil colônia?
2. Observe com atenção a imagem do engenho e descreva:
a) Que força move o engenho?
b) O que as pessoas estão fazendo?
c) O que era produzido nesse engenho?
d) Quem é o autor da imagem?
e) Quando e onde foi produzida a imagem?
3. Para pensar e discutir: Os negros escravos aceitavam essa condição de
vida pacificamente?
Trabalhando com música
A letra da música Navio Negreiro – Abadá Capoeira17 traz uma reflexão
sobre a vida cotidiana dos negros durante o período escravagista, um momento
lúdico de manifestação que é retratado através da música. São sentimentos de
dor e liberdade que os reporta para histórias de um passado remoto, e
simultaneamente estão presentes na memória dos quilombolas e afro-
descendentes em geral.
Navio Negreiro
Negro sentia saudade da África tão amada
Onde ele era rei, tinha vida respeitada (...)
Foi arrancado de sua família, sem saber nem o porquê
O negro se perguntava o que eu fiz pra merecer (...)
Um dia negro cansou de tamanha humilhação
17
Grupo: Abadá Capoeira. Composição: Farinha. Navio Negreiro, 2009. Disponível em: http://letras.terra.com.br/abada-capoeira/72922/. Acesso em: 20/04/2010.
14
Fugiu correndo pro mato, sem rumo sem direção
Assim nasceu o quilombo, o começo da vitória
Construída com suor, sangue, magia e glória.
Atividades
1. O que a música relata sobre a vida dos negros na África?
2. A música expressa momento de rebeldia? Justifique.
3. O que mais chamou a sua atenção nessa música?
4. Concluindo as atividades, produzir um desenho ou colagem que retratem
as imagens, música e os textos estudados. Em seguida fazer a
apresentação para a classe.
15
BLOCO III: O TRABALHO ESCRAVO NEGRO NO PARANÁ
Texto 1 A capital paranaense, tida como européia, desde sua fundação esconde
atrás de uma cortina, de certa forma, a história dos trabalhadores negros e de sua
participação nesse processo histórico. Jackson Gomes Junior18, em seu livro
Paraná Negro, mostra que o Paraná conta com mais de 24% de sua população
de origem negra o que representaria o maior contingente de negros dos estados
do sul do Brasil.
A presença africana em terras paranaense ocorre no inicio do século XVII,
com a procura do ouro de aluvião. A exploração dessa atividade iniciou-se pela
região litorânea e aos poucos foi se deslocando para o Segundo Planalto, com a
exploração de diamantes no rio Tibagi. Com a decadência da mineração no
Paraná, muitos mineradores migraram para Minas Gerais e Mato Grosso e outros
tantos que ficaram, passaram a participar de atividades econômicas ligadas ao
tropeirismo. Carlos Roberto A. Santos afirma que, com as atividades da pecuária
no século XVIII, houve então a necessidade do trabalho escravo, constituindo a
grande maioria nos serviços internos das fazendas no Paraná, juntamente com
assalariados livres e agregados subordinados ao seu senhor19.
Constata-se que a maioria dos trabalhos desempenhados na produção de
alimentos nas fazendas dos Campos Gerais era feitos por escravos, que se
ocupavam nos serviços de lavoura, domésticos, artesanais, carpintaria, sapataria,
alfaiataria, ferraria, na extração da madeira e erva mate, etc. Sem contar que nas
fazendas próximas a Lapa e Castro existiam escravos especializados em
atividades da pecuária como laçadores, domadores, campeiros, tropeiros e
outros.
O cronista Saint-Hilaire na fazenda de Luciano Carneiro em Jaguariaiva,
assim relata as atividades de um negro domador:
Posto o freio no cavalo que fora laçado, amarram-no a um moirão, atiram-lhe ao lombo uma sela pequena, e o negro domador
18
GOMES JUNIOR, Jackson; SILVA, Geraldo Luiz da; BRACARENSE, Paulo Afonso(orgs.). Paraná Negro - fotografia e pesquisa histórica: Grupo de Trabalho Clóvis Moura. Curitiba: UFPR/PROEC, 2008. p. 19. 19
SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. Vida material e econômica. Curitiba: SEED, 2001, p. 31.
16
montou-o. Não deixei de admirar o sangue frio e a absoluta tranqüilidade desse homem. Por mais fogoso que fosse o cavalo, quanto mais salto esse desse, quantos mais movimentos ele fizesse, não notei na fisionomia do negro domador a mínima
alteração20
.
Saint-Hilaire observou ainda que nesta fazenda contavam pouco mais de
trinta escravos para a criação de todo o gado21. Mas sem dúvida o trabalho
escravo desempenhou um papel de destaque no desenvolvimento da economia
pecuária, sendo fundamental para o poder econômico dos proprietários de terras,
gado e outros meios de produção, sustentáculo da economia vigente.
Roberto B. Martins relata que no início do século XIX, a produção do mate
necessitou muito mais trabalhadores escravos e livres para as funções
determinadas do que na pecuária, exigindo o máximo dos negros e índios,
cabendo a eles executar os trabalhos mais difíceis dos engenhos de erva-mate
como o soque no pilão22. Segundo Azevedo Macedo “Escravos e agregados, a
pé, solidários, assistindo-se mutuamente, levavam para o litoral não só congonha,
mas também alguns outros produtos e regressavam, trazendo, em troca, outras
mercadorias” 23.
No século XIX, a erva-mate tornou-se o principal produto de exportação
paranaense com 44% da produção saindo pelos portos de Paranaguá para os
mercados platinos24. Daí a importância da mão de obra livre e escrava nos
engenhos de mate quando praticamente todo o trabalho processado era
conduzido ao trabalho manual dos escravos e de trabalhadores livres aos quais
eram pagas as diárias. De maneira geral, os engenhos funcionavam a vapor
socando o equivalente a quarenta cestos de erva mate por dia, enquanto os que
20
SAINT-HILAIRE, A. Viagem à comarca de Curitiba (1928). São Paulo: Ed. Brasiliana. 1964, v. 315. Apud. SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. Vida material e econômica. Curitiba: SEED, 2001, p. 60. 21
SAINT-HILAIRE, op. cit. p. 60. 22
MARTINS, Roberto B. A economia escravista de Minas Gerais no séc. XIX. Belo Horizonte: CEDPLAR, n. 10, 1980. 23
AZEVEDO MACEDO, F. R. Conquista Pacífica de Guarapuava. Curitiba: Ed. Gerpa, 1951, p. 41. Apud. SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. Vida material e econômica. Curitiba: SEED, 2001, p. 42. A expressão con.go.nha. sf (do tupi) Bot 1 Nome de várias plantas aqüifoliáceas do gênero Ilex, como Ilex pubiflora, Ilex brevicuspis etc. 2 Erva-mate preparada somente com as folhas secas na sombra, sem o calor do fogo. 3 Nome de três plantas da família das Simplocáceas (Symplocos caparoensis, S. lanceolata e S. varíabilis), que servem para substituir e falsificar a erva-mate. 24
MARTINS, Roberto B. op. cit. p. 42.
17
eram tocados à água faziam esse processo rendendo aproximadamente trinta
cestos em média diariamente25.
Plantio de Erva mate, no município de Ivaí.
Fonte arquivo pessoal
Poucas são as informações sobre o trabalho realizado pelos escravos nos
engenhos da erva-mate, mas João de Mio descreve a carga diária desses
trabalhadores em engenhos de Curitiba e região destacando o trabalho penoso a
que estavam expostos: “o horário dos engenhos era das 6 as 6, com uma hora de
folga para o almoço. Os operários, seminus, cobertos de pó verde do mate, sendo
eles na maioria gente de cor, pareciam demônios movimentando-se naquele
turbilhão de pó e barulho ensurdecedor de pilões e do rodar das peneiras” 26.
Transformações tecnológicas aplicadas nas empresas de erva mate foram
responsáveis pela expulsão maciça da mão de obra escrava empregada nesse
processo de produção. Os engenhos de soque nesse período são movidos a
vapor, com uma produção de 400 arrobas de ervas por dia, superando os demais
produtos da economia paranaense na exportação.
Concomitantemente à produção da erva mate, deu-se também a extração
da madeira de lei para exportação. Já no final do século XVIII, instalaram-se
engenhos de serrar para produção de tábuas, vigas, pranchões para as
construções de janelas, carruagens, rodas, portas, cangas etc. Na região dos
Campos Gerais, Schmidt coloca que: “O trabalho era penoso, principalmente
25
LINHARES, Temístocles. História econômica do mate. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969. Apud. SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. Vida material e econômica. Curitiba: SEED, 2001, p. 51. 26
MIO, João de. Notícias históricas sobre a erva mate e os seus engenhos de beneficiamento em Curitiba de 1886 a 1950. Curitiba, Bol. IHGEP, Papelaria Requião, 1995, v.5. Apud SANTOS, 2001, p. 52.
18
quando se tinha que arrancar raiz de pinheiro e arar a terra sem parar, sob a
vigilância do feitor” 27.
Negros - Debret28
O foco da economia paranaense teve também destaque para a colonização
no norte, iniciando a cultura cafeeira. O café chega ao Paraná, com uma
produção em larga escala, devido à fertilidade que a terra roxa proporcionava,
trazendo para o lugar ricos proprietários com suas famílias, parentes, escravos e
mamelucos. Muitos escravos dos Campos Gerais empregados na produção local
de gêneros de subsistência foram remanejados para as fazendas de café no
Norte pioneiro e São Paulo, suprindo a demanda de mão de obra.
Colheita de café29
27
SCHMIDT, Maria Auxiliadora M. S. História do cotidiano paranaense. Curitiba – Letraviva, 1996. II. p. 44. 28
DEBRET, Jean Baptiste. Negros. Cadernos Especiais: Cultura Afro-500 x 320 pixels - 78kb http://www.colegiolacordaire.conexaopitagoras.com.br/CF//antenado/especiais/cultura_afro/negro.html. Acesso em: 26/02/2010. 29
RUGENDAS, Johann Moritz. Colheita de café. Disponível em: http://www.portalafricas.com.br/?pg=ver_artigo&id=101. Acesso em: 05/05/2010.
19
Para refletir e responder
1. Segundo o cronista Saint-Hilaire, como era realizada a atividade do
negro domador?
2. Descreva, a partir do entendimento de João de Mio, as condições de
trabalho que os negros eram submetidos na produção da erva mate.
3. Podemos afirmar que, tanto o trabalho feito nos engenhos de erva
mate como nos engenhos de açúcar era penoso para o negro escravo?
Justifique.
4. Reescreva os trechos que indicam as condições de trabalhos
realizados nas fazendas dos Campos Gerais pelos escravos.
5. Para refletir e responder: Hoje em nossa sociedade existem
trabalhos que são comparados ao do negro escravo? Você conhece?
Qual?
6. Pesquisar sobre o trabalho escravo no Paraná hoje. Em grupo expor
o que foi pesquisado, e em seguida compor um painel com figuras, fotos e
textos referente à pesquisa que denunciam o trabalho escravo no Paraná.
Texto 2
Com uma maior consciência abolicionista e as pressões internacionais
proibindo o tráfico, sobretudo a partir de meados do século XIX, fica mais difícil
adquirir escravos, pois os custos para a compra de novos escravos se tornaram
muito alto e também se corria o risco de perdas devido às fugas e as leis que
cada vez mais faziam pressão para colocá-los em liberdade. Muitos traficantes
corriam todos os riscos com a carga de navios abarrotados de negros, mesmo
sendo proibido o tráfico de escravos a partir do século XIX. A situação de
reprimenda induzia os traficantes jogarem os negros em alto mar para safar-se do
flagrante e não serem julgados.
Um episódio da mais alta desumanidade, ocorrido no século XIX,
aconteceu na baia de Paranaguá, quando perseguido pelo Cruzador britânico
Cormorant o navio tumbeiro brigue Astro refugiou-se na enseada e, para não
apreenderem a sua carga e ser devolvida a Serra Leoa, o comandante decidiu
20
afundar o navio com toda a tripulação a bordo, segundo afirmações de João
Borba de Camargo30.
Diante de acontecimentos dessa natureza que chocavam as famílias e
autoridades de toda a região, passou-se a refletir e discutir soluções favoráveis a
defesa e aos direitos dos negros, fortalecendo o movimento abolicionista no
Paraná em sintonia com campanhas que estavam ocorrendo em todo o Brasil.
Nessa perspectiva, o Paraná passa por fases transitórias que anunciam
novos tempos, ou seja, a sua Emancipação Política (1853), a Lei de Terras
(1850), Lei do Ventre Livre (1871), e finalmente a questão da Abolição da
Escravatura (1888). Foram momentos vibrantes para os escravos que estavam
sendo alforriados. A despeito desses fatos e acontecimentos já haviam no Paraná
quilombos vivendo livres nas terras que formaram comunidades. Alguns
quilombos permanecem até hoje, enquanto outros foram extintos.
Para refletir e responder
1. Porque a partir do século XIX, torna-se mais difícil adquirir escravos
africanos?
2. Comente sobre o episódio ocorrido na baia de Paranaguá em julho de
1850.
30
CAMARGO, João Borba de, História do Paraná (1500 – 1889) – Maringá-PR. Bertoni Editora, 1ª Edição – Abril, 2004 - p. 189.
21
BLOCO IV: QUILOMBOS – PARTE I
Nessa primeira parte iniciaremos um estudo mais aprofundado sobre a
palavra “quilombo” com a finalidade de refletir sobre esta experiência no Paraná.
Texto
Pois bem, vamos entender como esses conceitos e histórico do termo
“quilombo” vem sendo estudado, segundo a visão de alguns autores.
Segundo Kabengele Munanga, a palavra kilombo é originária da língua
banto umbundo, que diz respeito a um tipo de instituição sociopolítica militar da
República Democrática do Congo (Zaire) e Angola31. Apesar de ser um termo
umbundo, constituía-se em um agrupamento militar de jovens guerreiros,
composto pelos jaga ou imbangala (de Angola) e os lunda (do Zaire), na África do
século XVII.
Segundo Clóvis Moura, a primeira referência sobre o termo “quilombo” se
encontra em documentos oficiais portugueses datados de 1559, que assim define:
“toda habitação de negros fugidos que passem de cinco, e ainda que não tenham
ranchos levantados nem se achem pilões neles32”. Essa definição foi referida
pelas autoridades portuguesas aos agrupamentos de negros que se livraram do
domínio senhorial, que reproduziram logo após as investidas de destruição do
Quilombo de Palmares no século XVII.
Como acrescenta Nina Rodrigues o que aconteciam nas cidades africanas
refletiram em Palmares, uma organização constituída por agrupamentos em
pequenas vilas, contando com diferentes raças, povos ou famílias regidas por leis
e costumes diversos, sob autoridade de um único chefe. Aponta Nina Rodrigues
que nos Palmares “As habitações não formam ruas como em nossas cidades;
ficam dispersas por espaços de terrenos cultivados e cortados por rios” 33. Na
historiografia brasileira, muitos autores caracterizam quilombo como sendo uma
31
MUNANGA, Kabengele. Origem e Histórico do Quilombo na África. Revista USP, São Paulo, n. 28, 1996 p.56-63. Apud. BRASIL. Ministério da Educação. Orientações e Ações para Educação das Relações Étnico-Raciais. Brasília: SECAD, 2006, p. 145. 32
MOURA, Clóvis. Os quilombos e a rebelião negra. Brasiliense – 1981, p. 16. 33
NINA RODRIGUES, Raymundo, 1862-1906. Os africanos no Brasil. São Paulo: Madras, 2008, p. 76.
22
instituição africana que deu continuidade no Quilombo de Palmares como modelo
mais significativo.
Na opinião de Munanga a experiência brasileira dos quilombos “é, sem
dúvida, uma cópia do quilombo africano, reconstruído pelos escravizados para se
opor a uma estrutura política na qual se encontraram todos os oprimidos” 34.
Para Flávio Gomes quilombo está ligado à escravidão e “a resistência dos
quilombos era tão somente explicada na sua negação ao regime do cativeiro” 35.
Estudos historiográficos da década de 1970 procuravam focar a atenção aos
escravizados e negros livres na perspectiva de que são sujeitos de sua própria
história. A preocupação foi focada em analisar a lógica interna dos quilombos,
como se organizavam, o que percebiam, o que acontecia ao seu redor deixando
de usar como referência o Quilombo de Palmares, pois as comunidades de
fugitivos variavam nas suas formas e organização.
Na concepção de Abdias Nascimento, a expressão quilombo seria como
um programa político do negro brasileiro e, nesse sentido, “Quilombo não significa
escravo fugido conforme ensinam as definições convencionais. Significa união
livre; encontro em solidariedade, convivência, comunhão existencial” 36.
De acordo com a Fundação Cultural Palmares:
As denominações quilombos, mocambos, terra de preto, comunidades remanescentes de quilombos, comunidades negras rurais, comunidades de terreiro, são expressões que designam grupos sociais afro-descendentes trazidos para o Brasil durante o período colonial, que resistiram ou, manifestamente, se rebelaram contra o sistema colonial e contra sua condição de cativo, formando territórios independentes onde a liberdade e o trabalho comum passaram a constituir símbolos de diferenciação do
regime de trabalho adotado pela metrópole37
.
34
MUNANGA, Kabengele. Algumas Considerações sobre a Diversidade e a Identidade Negra no Brasil. 1999. Apud. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Cadernos Temáticos, p.57 Curitiba: SEED-PR. 2006. 35
GOMES, Flávio dos Santos. Histórias de quilombolas. Mocambos e comunidades de senzalas no Rio de Janeiro – século XIX. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1995, Apud Cadernos Temáticos, 2006 p. 59. 36
NASCIMENTO, Abdias do. O quilombismo: uma alternativa política afro-brasileira. In: NASCIMENTO, Elisa Larkin.v. 1. Org. Sankofa: resgate da cultura afro-brasileira, Rio de Janeiro: SEAFRO, 1994, p. 197- 215. Apud Cadernos Temáticos. 2006, p. 59. 37
Fundação Cultural Palmares: Entidade pública vinculada ao Ministério da Cultura cujo objetivo corporifica os preceitos constitucionais de reforços à cidadania, à identidade, à ação e à memória dos segmentos étnicos dos grupos formadores da sociedade brasileira.
23
Conforme relata João José Reis, “os quilombolas povoaram pesadelos de
senhores e funcionários coloniais, além de conseguir fustigar com insistência
desconcertante o regime escravista” 38. Os que assombravam os senhores de
escravos e governo estavam ligados a organização dos quilombos, que na grande
maioria não estavam distantes, mas próximos das cidades, engenhos e fazendas.
Os quilombolas mantinham redes de apoio, com informações de seus interesses
que envolviam escravos, negros livres e brancos, sobre negociação de produtos e
outros assuntos estratégicos39.
Na visão de Ruy Wachowicz o Paraná no século XVIII, sendo um sertão
bruto e cheio de matas servia de esconderijos para os negros fugitivos de São
Paulo, do próprio local e dos núcleos de Curitiba e litoral40. Em conseqüência
disso nasceram os primeiros quilombos. Continua o historiador paranaense
mencionando que “Os capões e furnas dos Campos Gerais também tornaram-se
locais de esconderijo de foragidos da lei, que regularmente eram designados
como galafreses” 41. Considerava-se que os quilombos e os galafreses eram uma
grande ameaça sendo, portanto perigosos para a sociedade dos Campos Gerais.
Para combater e aprisionarem esses fora da lei foram determinadas expedições
punitivas para a busca, comandadas por Antônio Luiz “o Tigre”, fundador da
fazenda Tamanduá.
Parece correto afirmar que o quilombo é o símbolo mais evidente de
manifestações e lutas travadas pelos negros que por muitas gerações resistiram
culturalmente a todos os conflitos e obstáculos. Nesse sentido, segundo Gloria
Moura “pode-se definir quilombos contemporâneos como comunidades negras
rurais habitadas por descendentes de escravos que mantém laços de parentesco
e vive em sua maioria, de culturas de subsistência, em terras doada, comprada ou
ocupada secularmente pelo grupo42.
38
REIS, João José. Ameaça negra. In. Revista de História. Disponível em: http:www.revistadehistória.com.br/v2/home/?go=detalh&id=1298. Acesso em: 07/11/2009. 39
REIS, João José. Ameaça negra. op. cit. 40
WACHOWICZ, Ruy. 1939-2000. História do Paraná. 10. ed. Curitiba: Imprensa Oficial do Paraná, 2002, p. 81. 41
WACHOWICZ, Ruy. op. cit. p. 81. 42
MOURA, Gloria. Os quilombos contemporâneos e a educação. Humanidades, Brasília: Editora UnB, n. 47, v. 10, Nov.1999, p. 99-116.
24
Pintura de Johann Moritz Rugendas43
(1808-
1858),pintor alemão que viajou o Brasil durante 1822 e 1825, pintou povos e costumes, e retratou moradias escravas
Atividades
Faça uma análise dos textos sobre os diferentes conceitos de quilombos e
respondam aos questionamentos a seguir.
1. O que representam os quilombos para você?
2. Podemos classificar os quilombos como uma reação ao sistema
escravista imposto? Justifique.
3. Quilombo seria uma tentativa de reconstruir o modo de vida africano aqui
no Brasil? Ou seria uma forma de protesto contra as condições impostas
pelos escravocratas?
4. Dos conceitos apresentados qual você adotaria para designar a
experiência dos quilombos no Brasil?
5. Em equipes elaborar textos, frases ou desenhos sobre quilombo que
sintetize o estudo realizado, compondo um mural de apresentação e ao
final serem juntadas ao portfólio.
Trabalhando com filme
1. Depois de debater e problematizar questões relacionadas a parte da
historiografia da escravidão negra no Brasil e no Paraná, e os conceitos de
quilombos, assista um trailer com duração 9’13’’ do filme “Quilombo44 ” de
Cacá Diegues, localizado no site:
43
RUGENDAS, Johann Moritz. Moradias escravas. Disponível em: http://leiturasdahistoria.uol.com.br/ESLH/Edicoes/10/artigo96079-1.asp. Acesso em: 04/05/2010. 44
DIEGUES, Cacá. Trailer do filme: Quilombo. 1984. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=oAeIXDbz2_Q&feature=related. Acesso em: 20/03/2010.
25
http://www.youtube.com/watch?v=oAeIXDbz2_Q&feature=related. Acesso
em: 20/03/2010.
2. Organizar grupos e discutir o filme respondendo as questões abaixo:
a. Citar as diferentes cenas e acontecimentos que retratam a vida
cotidiana dos negros quilombolas naquele período da história.
b. As cenas retratam alguma forma de rebelião entre os negros
escravizados? O que eles queriam com essa atitude? Para onde foram?
c. O que mais chamou a sua atenção? Por quê?
d. Fazer um desenho retratando cenas do filme, partilhando com a
classe, para compor o portfólio.
26
BLOCO V: QUILOMBOS – PARTE II
Texto
Segundo Lorenzo Aldé ao tratar da questão agrária já no século XXI,
aponta que: “um desconhecido Brasil negro se revelou para o historiador Ubiratan
Castro durante os quatro anos em que esteve à frente da Fundação Palmares
(2003-2006)”, neste período ele testemunhou o despertar de muitas comunidades
rurais reivindicando seus direitos. Revela ainda que a emancipação dos escravos,
de 1888, não garantiu medidas que permitissem aos negros acesso a terra45.
Darcy Ribeiro46 em seu artigo “O Óbvio” mostra claramente que o escravo
não teria condições de aquisição do seu pedaço de terra. “Apenas um século
depois, com a Constituição de 1988 e o reconhecimento dos direitos dos
quilombolas, começou-se a lançar luz sobre a existência dessas comunidades”.
Em 2003, a lei 4.887 regulamentou a titulação das áreas ocupadas por elas47. Até
2006 registraram mais de mil comunidades em todo território brasileiro.
Cerca de noventa comunidades foram mapeadas no Estado do Paraná, e
trinta e seis delas foram certificadas pela Fundação Cultural Palmares, “instituição
vinculada ao Ministério da Cultura, responsável pela identificação desses grupos
no Brasil” 48.
45
ALDÉ, Lorenzo. Brasil rural muda de cor. In. Revista de História. Disponível em: http:www.revistadehistória.com.br/v2/home/?go=detalh&id=1298. Acesso em: 06/11/2009.
46 Darcy Ribeiro descreve que “A classe dominante brasileira inscreve na Lei de Terras um juízo
muito simples: a forma normal de obtenção da prioridade é a compra. Se você quer ser proprietário, deve comprar suas terras do Estado ou de quem quer que seja que as possua a título legítimo. Comprar! É certo que estabelece generosamente uma exceção cartorial: o chamado usucapião. Se você puder provar, diante do escrivão competente, que ocupou continuadamente, por 10 ou 20 anos, um pedaço de terra, talvez consiga que o cartório o registre como de sua propriedade legítima. Como nenhum caboclo vai encontrar esse cartório, quase ninguém registrou jamais terra nenhuma por essa via. Em conseqüência, a boa terra não se dispersou e todas as terras alcançadas pelas fronteiras da civilização, foram competentemente apropriadas pelos antigos proprietários que, aquinhoados, puderam fazer de seus filhos e netos outros tantos fazendeiros latifundiários. Foi assim, brilhantemente, que a nossa classe dominante conseguiu duas coisas básicas: se assegurou a propriedade monopolística da terra para suas empresas agrárias, e assegurou que a população trabalharia docilmente para ela, porque só podia sair de uma fazenda para cair em outra igual, uma vez que em lugar nenhum conseguiria terras para ocupar e fazer suas pelo trabalho”. RIBEIRO, Darcy. Sobre o óbvio. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/14347562/Sobre-o-obvio-Darcy-Ribeiro12. p. 06. Acesso em: 21/01/2010. 47
ALDÉ, Lorenzo. Brasil rural muda de cor. op. cit. 48
GOMES JUNIOR, Jackson; SILVA, Geraldo Luiz da; BRACARENSE, Paulo Afonso (orgs.). Paraná Negro - fotografia e pesquisa histórica: op. cit. p. 07 e 22.
27
O artigo 68 da Constituição de 1988, sobre as Comunidades Negras Rurais
estabeleceu que: “Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que
estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o
Estado emitir-lhes os títulos respectivos” 49.
A legislação sofreu diversas modificações desde 1988; uma situação que
se esbarra na reprodução de privilégios da elite nacional, chocando com os
interesses políticos e jurídicos, legitimando parcialmente o processo agrário de
ocupação dos negros a terra.
O Historiador Ubiratan Castro conclui que
O acesso a direitos por populações antes reprimidas implica em divisão de privilégios. É um processo muito complexo, com interesses conflitantes, mas a causa quilombola está avançando no reconhecimento da ocupação real da terra por comunidades que querem manter seu padrão tradicional de uso do solo e preservar sua identidade. A criação de entidades coletivas também facilita o acesso a serviços públicos como a Bolsa Família, programas da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) e de incentivo a agricultura familiar, como o Pronaf. Esta nova política agrária voltada à população negra retém as pessoas no campo. Jovens que foram tentar a sorte na cidade agora estão voltando. A questão dos quilombos é a questão de todo o campo
brasileiro50
.
Trabalhando com documentário
Após a leitura e reflexão sobre o texto 1, assistir o documentário Aruanda51
de Linduarte Noronha (1960) com duração de vinte minutos. Disponível em:
http://portacurtas.org.br/pop_160.asp?cod=4746&Exib=5937 e responda as
questões em grupo.
Este documentário mostra que os quilombos marcaram época na história
do Nordeste açucareiro, um período castigado pelas secas. Olho d’Água da Serra
do talhado, em Santana do Sabugi (PB), surgiu em meados do século passado,
quando o ex-escravo e madeireiro Zé Bento partiram com a sua família para esse
local. 49
BRASIL, Constituição Federal. Disponível em: http://www.dji.com.br/constituicao_federal/cfdistra.htm. Acesso em: 26/06/2010. 50
CASTRO, Ubiratan. Apud ALDÉ, Lorenzo. Brasil rural muda de cor. In. Revista de História. Disponível em: http:www.revistadehistória.com.br/v2/home/?go=detalh&id=1298. Acesso em: 06/11/2009.
51 NORONHA, Linduarte. Aruanda, 1960 (documentário). Disponível em:
http://portacurtas.org.br/pop_160.asp?cod=4746&Exib=5937. Acesso em: 13/03/2010.
28
Atividades
1. Após assistir ao documentário responda:
a. Quais eram as dificuldades enfrentadas pela Família?
b. Descreva a paisagem, observada no filme.
c. De que forma eles construíram suas moradias no quilombo?
d. Hoje existem moradias parecidas? Justifique.
e. Como eram produzidas as cerâmicas?
f. Descreva onde vendiam suas cerâmicas e compare com as feiras
feitas pelos produtores da sua cidade. Há diferenças? Justifique.
2. Em grupo de quatro alunos, elaborar um cartaz com frases ou textos que
representa toda a problemática estudada nesse bloco.
29
BLOCO VI: PESQUISA IN LOCO AOS QUILOMBOS PARANAENSES
O objetivo principal do trabalho in loco em algumas comunidades
quilombolas paranaense foi à realização de um estudo mais aprofundado e
ampliado sobre essas comunidades negras para confirmar ou rejeitar a literatura
base que nos propusemos analisar. Diante disto visitamos as comunidades: Serra
do Apon no município de Castro, São Roque no município de Ivaí, Invernada Paiol
de Telha (assentamento) no município de Guarapuava e finalmente o Quilombo
Campina dos Morenos no município de Turvo.
A pesquisa e as entrevistas feitas nessas comunidades entre os dias
10/12/2009 à 15/12/2009 foram fundamentais para perceber e conhecer, nesses
espaços a história e a memória que ainda está presente nas experiências e
manifestações culturais que os mais antigos ensinaram, mesmo impregnadas
com outras matrizes culturais, se sobressai, como referenciais históricos, as
peculiaridades dos ensinamentos herdados dos seus antepassados.
O principal enfoque foi à cultura material e imaterial desse povo, bem como
a localização geográfica e suas características físicas e as condições sócio-
culturais, econômicas e ambientais. Dentre as 36 comunidades paranaense
certificadas pela Fundação Palmares escolhemos Serra do Apon, Invernada Paiol
de Telha, São Roque e Campinas dos Morenos, por estarem localizadas
geograficamente numa região de nossa proximidade, das quais se desconheciam
a existência e o modo de vida atualmente e dos seus antepassados.
De maneira geral, as comunidades se localizam em locais de difícil acesso,
com estradas íngremes cheias de obstáculos como: buracos, estreitas, pedras
soltas, poeiras e lamaçais. A ausência de placas de sinalização dificultou a
viabilidade rápida às comunidades quilombolas, e por vezes, foi preciso solicitar
informações durante o percurso.
30
Trabalhando com mapas
Vamos agora conhecer as comunidades quilombolas paranaenses através
do Mapa dessas comunidades52, disponível em:
http://www.diaadia.pr.gov.br/dedi/cec/arquivos/File/mapaquilombos.pdf.
O mapa acima mostra as comunidades remanescentes de quilombos53 e
comunidades negras tradicionais54 do Paraná.
1. Nessa atividade observar as legendas do mapa e definir a que condição
de comunidade pertence os quilombos:
52
Mapa das comunidades quilombolas remanescentes e negras tradicionais. Disponível em: http://www.diaadia.pr.gov.br/dedi/cec/arquivos/File/mapaquilombos.pdf. Acesso em: 20/04/2010. 53
Consideram-se comunidades remanescentes de quilombos os grupos étnicos raciais, segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com formas de resistência à opressão histórica sofrida. Disponível em: http://www.palmares.gov.br/108/10802002.jsp? ttCD_CHAVE=51, Acesso em: 04/02/2010. 54
Já o conceito de comunidades negras tradicionais é mais amplo. São grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição. Nele podem ser englobados, por exemplo, os próprios quilombolas; os terreiros de matriz africana; comunidades negras rurais que não detêm modo de vida próprio de comunidades quilombolas; povos indígenas, etc. Disponível em: http://www.palmares.gov.br/108/10802002.jsp?ttCD_CHAVE=51, Acesso em: 04/02/2010.
31
a. Serra do Apon;
b. São Roque;
c. Campinas dos Morenos;
d. Invernada Paiol de Telha;
2. Acesse o mapa do Paraná55 e localize seu município, percebendo a
distância em relação às comunidades quilombolas. Disponível em:
http://www.guiageo-parana.com/mapas.htm.
3. A seguir observe o mapa da população negra e comunidades
quilombolas56 no Estado do Paraná. Disponível em:
http://www.diaadia.pr.gov.br/nerea/modules/noticias/makepdf.php?storyid=28
55
Mapa do Paraná. Disponível em: http://www.guiageo-parana.com/mapas.htm. Acesso em: 20/04/2010. 56
Mapa da população negra e comunidades quilombolas no estado do Paraná. Disponível em: http://www.diaadia.pr.gov.br/nerea/modules/noticias/makepdf.php?storyid=28 Acesso em: 20/04/2010.
32
a) Localizar no mapa as comunidades quilombolas que serão estudadas:
Serra do Apon; São Roque; Campinas dos morenos; Invernada Paiol de
Telha;
b) Em quais municípios paranaenses se localizam as comunidades
quilombolas citadas?
4. Para pensar e refletir:
a. Como se formaram os quilombos ao longo das gerações?
Formaram-se de negros do nosso próprio Estado? De outros Estados?
Ou do lugar em que habitavam?
b. Como vivem atualmente os quilombolas?
5. Para conhecer um pouco mais sobre as demais comunidades
quilombolas paranaenses acesse:
http://quilombospr.blogspot.com/2009/07/historico-das-comunidades-
quilombolas.htmla, site da Federação57 das Comunidades Quilombolas do
Paraná.
57
Federação das Comunidades Quilombolas do Paraná. Disponível em: http://quilombospr.blogspot.com/2009/07/historico-das-comunidades-quilombolas.htmla. Acesso em: 26/03/2010.
33
BLOCO VII: COMUNIDADE REMANESCENTE DE
QUILOMBO SERRA DO APON
Texto
O quilombo Serra do Apon está localizado a 60 km do Município de Castro,
com acesso por estrada de chão batido e parte de cascalhos. Segundo relatos
dos moradores da região, o local era habitado por indígenas Abapanis quando
negros fugitivos da Fazenda Capão Alto chegaram ao local. O grupo de negros
subdividiu-se para não serem perseguidos. Preferiram os lugares mais inóspitos e
de difícil acesso, com mata serrada para refugiar-se e não serem descobertos.
Assim ao fugirem da Fazenda Capão Alto, escolheram lugares conhecidos hoje
como: Serra do Apon, Limitão e Mamans.
Segundo relato de Vani Rodrigues dos Santos58, bisneta de Prudente
Rodrigues da Silva, o Quilombo Serra do Apon foi formado pelo seu bisavô e
Ambrósio da Trindade que se casou com uma índia do lugar. Os ancestrais dos
que habitam a Serra do Apon, viviam livres na Fazenda chamada Capão Alto,
situada próxima à cidade de Castro.
Essa fazenda fazia parte da primeira Sesmaria dos Campos Gerais do
Capitão-mor José de Góes e Moraes que a vendeu, em 1751, ao Convento do
Carmo de São Paulo. Nesse período, “os frades então, se instalaram na Fazenda
Capão Alto com os seus escravos e dedicaram-se à criação de gado para
abastecer de carne e couro os colégios e conventos da ordem” 59.
Em 1770 os Carmelitas retiraram-se do Paraná deixando por conta dos
escravos a fazenda Capão Alto60, tendo como administrador o escravo de alcunha
Innocêncio Não Foge. Gozando de total liberdade os negros viviam em uma
república independente, um quilombo, nas ricas terras dos Carmelitas61.
Com grande devoção a Nossa Senhora do Carmo chamada por eles de
“Sinhara” a quem se reportavam para tudo quanto fosse necessário, a ela pediam
58
SANTOS, Vani Rodrigues dos. Moradora e líder Quilombola Serra do Apon. Castro, Entrevistada em 12 de dezembro de 2009. 59
CASTRO. Prefeitura Municipal. Paraná/ Espetáculo de luz & Som: 2003. Parte IV. Posse da Fazenda Capão Alto pela Ordem Carmelita. 60
PARANÁ: Cadernos do Patrimônio. Fazenda Capão Alto. Secretaria de Estado da Cultura e do Esporte. Coordenadoria do Patrimônio Cultural- 1982. p. 26. 61
PARANÁ: Cadernos do Patrimônio. Op. cit. p. 27.
34
orientações, tinham para com ela obediência, e acreditavam que como em transe
obtinham da santa a decisão de suas solicitações.
Percebe-se que a tradição africana permanece como traço marcante na
religião pela expressão “Sinhara”, que, segundo o Dicionário eletrônico Houaiss
da língua portuguesa, significa “senhora”, “patroa”, ou simplesmente a forma com
que os escravos designavam suas donas.
Fonte arquivo pessoal (dez.2009): Ruínas da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, do século XVIII construída com taipa de pilão. Fazenda Capão Alto em Castro-Pr.
Nessa fazenda, os negros trabalhavam na produção de alimentos, criações
de gado, que deviam suprir as necessidades dos moradores e partes desses
mantimentos eram encaminhadas para abastecer os conventos Carmelitas no sul
de São Paulo. O que sobrasse, era vendido em Castro para adquirir outros
produtos como roupas, utensílios e ferramentas de uso da fazenda e dos negros.
Essa situação perdurou por mais de 100 anos (1751 a 1864) até que por
necessidade da ordem religiosa, os padres Carmelitas tiveram que arrendar a
fazenda, com seus escravos, à Casa Comercial Bernardo Gavião Ribeiro e
Gavião. “Pelo contrato de arrendamento os negros deveriam ser levados para
São Paulo” 62, mas os negros já se consideravam livres e não aceitaram
pacificamente voltar à escravidão.
62
PARANÁ: Cadernos do Patrimônio. op. cit. p. 27.
35
Os negros disseram que só obedeciam as ordens de Sinhara, portanto: “A
Sinhara não nos disse nada. Se ela mandar, iremos com gosto, senão, não” 63,
diriam eles aos seus compradores paulitas64, que queriam levá-los para São
Paulo, para serem escravizados.
Com a forte resistência dos negros, os novos proprietários tiveram que
recorrer à ajuda de Curitiba, que destacou uma força para obrigá-los a se
entregarem. Mas ao se conferir a legitimidade dos documentos referentes aos
comprovantes de pagamentos de impostos pela firma paulista, as autoridades
perceberam irregularidades, que impediam a transferência dos negros da
Fazenda Capão Alto para São Paulo.
Nesse impasse os negros ganharam mais força, convencidos de que as
autoridades policiais estavam ao seu favor. “As autoridades sabiam que a
documentação da Casa Comercial Bernardo Gavião Ribeiro & Gavião não estava
em ordem, mas não vacilaram, mesmo assim, em usar a força policial contra os
escravos de Nossa Senhora do Carmo”. Dessa forma, “a ordem foi mantida e a
lei, não”. Mesmo com os altos impostos que a firma devia à Província, os
escravos foram levados para São Paulo65.
Percebe-se que a preocupação maior das autoridades, era cortar o mal
pela raiz e o exemplo dos negros de Capão Alto seria um germe multiplicador de
insurreição que poderia se alastrar por toda a Província nessa época em que o
movimento abolicionista se fazia presente e ganhava força e adeptos no estado
do Paraná e no país.
O Quilombo de Capão Alto terminou em 1864, e nos registros da época
consta que foram levados apenas 23 escravos para São Paulo. Seguindo
determinação advinda da Santa “Sinhara”, as crianças não deveriam sofrer
qualquer tipo de maltrato. Assim, em torno de 100 ficaram em Castro e foram
distribuídas para famílias, segundo relato do historiador Eduardo Spiller Pena66.
Os mais de 200 escravos que conseguiram fugir e esconder-se nas redondezas
63
CASTRO. Paróquia. Capellas nas Fazendas. In. Livro do Tombo 3. 1919, p. 235. Apud Caderno do Patrimônio. op. cit. p. 27. 64
CASTRO. Paróquia. Capellas nas Fazendas. op. cit. p. 27. 65
PARANÁ: Cadernos do Patrimônio. op. cit. p. 29. 66
PENA, Eduardo Spiller. O jogo da face: a astúcia frente aos senhores e à lei na Curitiba provincial. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 1999.
36
fundaram os principais quilombos da região de Castro como exemplo a Serra do
Apon, Mamans e Limitão. Outros foram além, até para o Rio Grande do Sul.
Em 1870, a fazenda é vendida definitivamente pelos Carmelitas a Bonifácio
José Baptista, Barão do Monte Carmelo, que construiu o casarão atual com
técnicas refinadas e que hoje se encontra, praticamente toda saqueada, sem os
móveis e aparatos que dela faziam parte. A sua restauração “pode dar a Castro e
ao Paraná a sua primeira pousada com raízes históricas”. O casarão central é o
único exemplo no Paraná construído com técnicas em taipa de pilão, já que as
demais construções ao fundo são de tijolos e madeiras, intenção inscrita nos
Cadernos do Patrimônio67.
Fonte arquivo pessoal (dez.2009): Casarão Fazenda Capão Alto, construída em taipa de pilão no séc.XIX.
Castro foi ponto de encontro dos tropeiros a “paragem do Iapó, lugar
estratégico do pouso e passagem na Rota dos Tropeiros, que movimentou e
ativou as economias do Sul e do Centro-Sul do País nos séculos XVIII e XIX” 68.
Do casarão da fazenda se avistavam a passagem das tropas onde o rio tinha
vau69 e onde se faziam os grandes negócios com o rebanho.
Na Serra do Apon, localiza-se, atualmente, a Comunidade Negra Rural de
Serra do Apon. O relevo é íngreme com serras e percebe-se que a vegetação em
alguns pontos se sobressai à mata nativa, predominando em grande parte, as
plantações de pinos, áreas mecanizadas e criação de gado em lotes com
67
PARANÁ: Cadernos do Patrimônio. op. cit. p.50. 68
PARANÁ: Cadernos do Patrimônio. op. cit. p. 50. 69
Vau: é o trecho de um rio, lago, mar com profundidade suficientemente rasa para passar a pé, a cavalo ou com um veículo. http://pt.wikipedia.org/wiki/Vau. Acesso em: 08/02/2010.
37
pequena área rural. Segundo os moradores do lugar, no inicio do século XX,
havia uma vegetação abundante, com mata fechada de araucárias e outras
madeiras de lei. Com a introdução do agronegócio, aos poucos a paisagem foi
sendo alterada e reduzida a capões perdidos que podem ser vistos a distância.
Fonte arquivo pessoal (dez.2009): Paisagem da Serra do Apon.
Observa-se que os solos são pedregosos, os rios com pouca correnteza
nas partes plana devido ao assoreamento provocado, em parte pela mecanização
e poluídos com agrotóxicos. Comenta-se que os rios eram fundos e serviam para
os banhos sendo, hoje, possível atravessá-los a pé.
Fonte arquivo pessoal (dez.2009) Rio no interior da comunidade Serra do Apon
Diversos grupos étnicos compõem a comunidade local. Parte se dá com o
grupo de negros que vivem a mais de quatro gerações nesse lugar. Um espaço
social onde as pessoas convivem e tomam decisões de festas, reuniões, que
garante a solidariedade e convivência dos grupos culturalmente constituídos.
38
Existe na comunidade negra da Serra do Apon uma população de 87 pessoas,
das quais 49 são adultos e 38 crianças. Dentre esta população três famílias foram
entrevistadas.
Segundo Manuel Pedro Rodrigues da Silva, neto de escravos, os seus
avôs trabalhavam em fazendas como vaqueiro, capataz e carreirista, atividades
nas quais puxavam carro de boi nos diferentes trabalhos realizados. E ainda que
seus pais os criaram levando-os para lidar com a lavoura desde criança70.
A comunidade quilombola, de uma área de quase 100 alqueires de posse,
se limita hoje a um espaço mínimo de mais ou menos quatro alqueires, onde
produzem para o sustento, com o cultivo de feijão, milho, mandioca, batata, erva-
mate, criação de gado, suínos, aves e uma pequena horta, para o consumo da
família. Utilizam-se vários tipos de ferramentas para o trabalho no roçado como:
foice, machado, enxadão, enxada. Cada família quilombola tem a produção e
trabalho individual, inclusive reparte com os filhos que moram na cidade e
vendem o excedente para a compra de outros produtos de que necessitam como
o sal, açúcar, roupas e remédios.
Fonte arquivo pessoal (dez.2009): lavoura de feijão.
Segundo relatos dos moradores, essa comunidade não foi sempre assim,
cada família vivendo por si. Antes os roçados eram feitos em grupo chamados de
puxirão/mutirão, funcionando da seguinte forma: todos trabalhavam durante o dia
70
SILVA, Manuel Pedro Rodrigues da. com 88 anos, morador da Comunidade Serra do Apon. Entrevistado em 12 de dezembro de 2009.
39
com animadas conversas e cantorias e ao cair da noite festejavam com baile,
oferecido pelo dono do roçado, em pagamento do trabalho realizado na lavoura.
Alimentavam-se costumeiramente de cuscuz de milho e quirera com carne
de porco. A carne de porco era cozida e armazenada com gordura para ser
utilizado em períodos mais longo, devido à dificuldade de conservação.
Segundo relato de moradores, na década de 1960, ataques criminosos
assombravam a comunidade com invasão, paióis incendiados com mantimentos,
e tiros para intimidá-los. Conforme relata a moradora D. Maria Helena71, o rancho
no qual moravam foi queimado misteriosamente, quando saiam para a lavoura,
com todos os documentos e não se sabe se foi um ato criminoso ou acidente.
É fato conhecido e relatado, por membros da comunidade, a situação em
que latifundiários, em 2004, fizeram uso da terra para adquirir o direito da
usucapião. Diante da constatação do fato a quilombola dona da terra, entrou com
uma ação através da ONG, “Terra por Direito” assegurando sua posse, ainda em
litígio. Com esse procedimento os latifundiários não conseguiram escriturar o
documento da terra. Atualmente, a produção nesse pedaço de terra garante o
sustento da sua família.
Um episódio marcou a infância de Vani Rodrigues dos Santos, ela relata
que quando tinha apenas oito anos, o seu rancho foi invadido por 30 homens
grileiros, que derrubaram a porta e entraram no quarto para matar o seu pai,
pensando que ele estava dormindo. Quando sua mãe, que estava puxando água
da fonte, chegou foi defender as crianças com uma foice, pelo que foi aprisionada
e castigada para dizer onde se encontrava seu marido Acróbios dos Santos.
Durante três dias, os grileiros ficaram esperando a volta do pai de Vani, mas ele
foi avisado pelos vizinhos e teve o cuidado pra não ser surpreendido. Os grileiros
perseguiam-no para que ele entregasse as terras. Antes de saírem, quebraram
tudo e levaram os mantimentos.
Sabendo do acontecido, o avô, utilizando-se de uma égua cargueira, levou-
os para Santa Quitéria, aproximadamente a 16 quilômetros de distância. Durante
algum tempo, os jagunços investigaram sobre a ausência do pai. Ela e seus
irmãos sempre respondiam que o pai estava trabalhando para comprar açúcar.
71
MACIEL, Maria Helena da Silva com 75 anos, moradora do Quilombo Serra do Apon. Entrevistada em 12 de dezembro de 2009.
40
Até que um dia seu pai Acróbios dos Santos apareceu e levou a família para
morar num lugar muito feio e de difícil acesso para tudo. Tinha que pegar água
numa gruta, com muita dificuldade. Passado um tempo seus pais adoeceram e
nem podiam mais buscar água, e que tinham somente açúcar para comer. Foi
quando um advogado da cidade ofereceu ajuda, o que possibilitou o retorno às
suas terras.
Dona Vani relata ainda que eles passaram por muitas privações e
dificuldades por causa dessas terras. Seu primo e seu pai venderam um pedaço
de terra sem os demais consentirem, não se sabe como foi vendida, talvez sob
alguma forma de coação. Depois disso, houve as invasões e represálias,
derrubando-se a mata, ranchos de guardar as colheitas, soltavam animais nas
roças, e outras violências.
Os negros que viveram nessa comunidade há muitas décadas, produziam
a esteira de piri e taquara para usarem nos ranchos e servir de leito. Vendiam ou
trocavam parte das esteiras com outros produtos de que necessitavam como:
tecidos, açúcar, sal, querosene, remédio. Para chegar à vila de Socavão
caminhavam por quase dois dias levando os produtos nas costas, a pé, pelo meio
da mata fechada, retornando pelo mesmo percurso. Isso se repetia quando
faleciam membros da família, que eram levados nas costas para serem
enterrados.
Fonte arquivo pessoal: (dez.2009) Vani Rodrigues dos Santos, moradora do
Quilombo Serra do Apon.
Ao reportar-se ao tempo, Dona Vani diz que não havia estrada para se
deslocar até a comunidade de Socavão. Era feito o percurso por dentro das
41
matas, por picadas. Diz ainda que era de praxe dormir sobre as esteiras em forma
de círculo, para serem aquecidos pelo fogo, feito, geralmente, no meio da
cozinha. Lembra ainda que na época, trabalhavam descalços e só pôde ter o
primeiro chinelo aos 20 anos de idade. Hoje, estão organizando uma cooperativa
para fazer bordado em chinelo.
Na maioria das casas, o chão é de piso batido, as paredes de madeira,
com grandes frestas pelas quais atravessam os ventos frios e chuvas da região. A
mobília é bastante modesta, com fogão à lenha de taipa. Os quilombolas
aguardam a construção de casas pelo Governo Estadual. Como foi possível
observar as moradias são precárias e pequenas, necessitando de banheiros e
uma melhor infraestrutura.
O local possui um pequeno comércio, um posto de saúde, com
atendimento médico e dentário à população. A visita do médico e dentista é
quinzenal. Existe uma escola municipal de ensino fundamental de 1º a 4º séries.
Para seguir nos estudos as crianças precisam se deslocar até Socavão, vila
distante 20 quilômetros, utilizando o transporte escolar fornecido pelo município
de Castro. A escola da comunidade realiza trabalho de conscientização e respeito
aos afros descendentes. As dificuldades de transporte e mesmo a falta de
políticas públicas de educação deixou as pessoas mais velha da comunidade sem
condições de estudo, fazendo com que praticamente todos os adultos mais velhos
da comunidade sejam analfabetos.
No vilarejo as ruas ou estradas que compõe o núcleo da comunidade são
irregulares, com lamaçais e cascalhos nas partes mais íngremes. O
abastecimento de água, que parte da comunidade utiliza, é tratada e vem por
gravidade (fonte localizada num nível alto com distribuição em baixo nível), antes
utilizavam água da fonte ou do riacho. A energia elétrica chegou a pouco mais de
quatro anos na comunidade. Antes utilizavam outros recursos como lamparina a
querosene e o lampião a gás.
Muitos tipos de ervas medicinais como: sassafrás, milomen, quina,
amargosinho, camomila etc. são utilizados como remédios. A camomila é um
ingrediente frequentemente utilizada no preparo do chimarrão. Antes havia ervas
nativas e os moradores produziam o próprio chimarrão. Hoje, precisam plantar a
erva. A religião predominante na comunidade é a católica, tendo como padroeiro
42
São José. As manifestações religiosas são realizadas por novenas e festas ao
padroeiro, mas Nossa Senhora Aparecida é muito venerada. Além da religião
católica a comunidade conta ainda com a Igreja Assembléia de Deus.
Fonte arquivo pessoal (dez.2009): Capela doméstica de Dona Vani.
A Comunidade Quilombola Serra do Apon foi certificada pela Fundação
Cultural Palmares, como Remanescente das Comunidades de Quilombos o que
legalmente lhes dá o direito de reaverem suas terras e isso se constitui na sua
maior esperança.
O maior ressentimento dos quilombolas da Serra do Apon está na falta de
apoio governamental, nos momentos em que estavam sendo achacados de todas
as formas de violências para deixarem suas terras, fazendo com que um grande
número de integrantes desta comunidade fugisse, abandonando seu pedaço de
chão. Os que conseguiram suportar todas essas dificuldades e que
permaneceram no local são pessoas humildes e gentis que esperam
pacientemente a resolução da justiça para recuperar suas terras. Hoje a maioria
das favelas de Castro é formada por pessoas oriundas da expulsão dos
quilombos. Repetindo a sua história de abandono e descaso do governo, passam,
atualmente, por muitas dificuldades, como a falta de assistência médica, a falta de
moradias dignas, o desemprego, a criminalidade, as drogas e outros tipos de
privações.
Mas a despeito disso, podemos salientar que o negro marca presença no
trabalho, na escola, no campo, na música, no futebol, nos meios artísticos, na
política, na dança e em muitas outras manifestações sócio-culturais.
43
Atividades
A atividade tem a intenção de fazer com que se perceba que os
quilombolas fazem parte do processo histórico. Assim refletiremos sobre a
importância de ser quilombola, por fazerem parte da história do Brasil e do
Paraná.
1. Leia o texto comunidade quilombola Serra do Apon, reflita e responda as
questões propostas para as discussões:
a) Onde fica localizada a comunidade Serra do Apon?
b) Relate como se formou o quilombo Serra do Apon.
c) Podemos afirmar que os negros da fazenda Capão Alto formavam um
quilombo, e viviam livres? Explique.
d) Pesquise: O que é uma construção em taipa de pilão?
2. Nessa atividade releia o texto e compare os diferentes usos e costumes
dos quilombolas que marcaram a história dos seus ancestrais relacionando
o antes e o hoje da comunidade.
Usos e Costumes Antes Hoje
Remédios caseiros/ Ervas medicinais
Artesanatos
Moradias
Mutirão/ Puxirão
Alimentação
Fogão
Luz
Água
3. Após feita a leitura e observado as fotografias, verificar as permanências
e mudanças que ocorreram entre os quilombolas, seguindo o roteiro:
a. Sobre as tradições, ensinamentos e costumes, vivenciados que foram
herdados dos antepassados. O que permaneceu entre eles?
b. Sobre a paisagem: Quais foram as mudanças em relação aos rios e
florestas? E o que permaneceu?
44
Para saber mais sobre essa história acesse:
Reportagem Educação Quilombola. Disponível em: http://www.app.com.br/portalapp/uploads/publicacoes/raca_classe_05_site.pdf. Acesso em: 22/03/2010.
PENA, Eduardo Spiller. Os escravos de “Sinhara”: trabalho, oração e escravidão nas fazendas da Ordem Carmelita - Paraná (1751-1870). Disponível em: http://www.utp.br/proppe/seminariodepesquisa/PDFs/lp16%20-%20a1.pdf. Acesso em: 26/03/2010.
Imagens da Fazenda capão Alto. Acesse em: http://www.google.com.br/images?hl=pt-BR&q=fazenda+capao+alto&rlz=1W1GGLR_pt-BR&um=1&ie=UTF-8&source=univ&ei=eN3RS4reFoWRuAfjrpT7DQ&sa=X&oi=image_result_group&ct=title&resnum=4&ved=0CBsQsAQwAw. Acesso em: 26/03/2010.
45
BLOCO VIII: COMUNIDADE REMANESCENTE DO
QUILOMBO CAMPINAS DOS MORENOS
Texto
A Comunidade Quilombola Campinas dos Morenos, localizada no
Município de Turvo, comarca de Guarapuava, encontra-se entre a divisa dos
municípios de Guarapuava e Turvo. Acesso pela estrada na região da cachoeira
dos turcos, próximo à Escola Municipal Dogg, a doze quilômetros do asfalto e a
vinte e dois da sede de Turvo. Com acesso em estrada de cascalho, apresenta
um relevo de planaltos acidentados, com plantio de pinus e pastagens para o
gado, ao longo do percurso, até a sede do quilombo. As casas dos quilombolas se
encontram, em parte, rodeadas de árvores nativas e pinheiros, o que marca a
presença de um local agradável e gostoso de viver.
A Comunidade Campina dos Morenos possui uma situação inusitada, pois
em documentos e mesmo em alguns escritos constam que receberam terras por
doação de antigos proprietários enquanto outros indicam que as terras foram
conseguidas pela posse de escravos fugidos e até que houve a aquisição por
compra, com pagamento. Essa dúvida continua. Faz-se necessário um estudo
mais detalhado para descobrir a real situação da aquisição do terreno.
Fonte arquivo pessoal (dez.2009): caminho no interior do quilombo.
46
Segundo Rui Morel Carneiro72, a formação da comunidade se deu por volta
de 1871, época em que a escravidão estava sendo abolida. E em 1872, o
Tenente Coronel Manoel Moreira de Campos, dono da Fazenda Paineiras,
possuía muitos escravos na região e resolveu ceder 40 alqueires de suas terras
aos seus ex-escravos. Que nomearam o local de Campina dos Morenos,
atualmente no Município de Turvo. E para essa localidade foram levados para
viverem em liberdade e tranqüilidade, isolados, escondidos, longe dos
preconceitos das pessoas que ainda não haviam se acostumados com a situação
de negros viverem livres. Essa comunidade aumentou com a vinda de negros
fugitivos da região de que foram sendo alforriados. Por muito tempo os ex-
escravos da comunidade viveram discretamente isolados do contato com outras
comunidades.
As informações sobre as histórias dos antepassados são imprecisas. Os
moradores dizem que muitas das histórias não foram repassadas, talvez por
viverem mais discretos e reservados por sua condição de fugitivos escondiam
suas histórias por medo e desconfiança para uma maior segurança e a harmonia
do grupo. Por essa razão, perdeu-se grande parte do legado memorial familiar.
Há também relatos de que para se livrarem da escravidão resolveram fugir
das fazendas em que eram escravos com os próprios cavalos de trabalho,
ferramentas e alguns alimentos para a fuga, deslocando-se por muito tempo até
chegarem ao destino. Acomodaram-se na imensa floresta de pinheirais, cortando
árvores para a construção dos seus ranchos que cobriam de capim e o início da
coivara para o plantio.
72
CARNEIRO, Rui Morel. Um quilombo no Paraná. Disponível em: http://aprendendoporai.blogspot.com/2008/06/curiosidades-no-paran-9.html Acesso em: 20/01/2010.
47
Fonte arquivo pessoal: (dez. 2009) João Maria Rodrigues.
Observa-se que são negros descendentes de sudaneses pelo porte alto e
físico forte. Atualmente, dois irmãos se mantêm com suas famílias nesse lugar.
Outras famílias se concentram no Distrito de Palmerinha e arredores. Os irmãos
nasceram e se criaram nas terras herdadas de seus bisavôs sendo que outras
famílias que pertenciam a esse núcleo quilombola tiveram que deixar a
comunidade. Hoje os quilombolas possuem poucos alqueires de terra. Segundo
relato o senhor Idálio, o terreno que herdaram eram 40 alqueires, o avô comprou
10 alqueires e 30 alqueires o seu pai adquiriu por compra também. Quando a mãe
do senhor Idálio faleceu seu pai vendeu os 15 alqueires que pertencia a ele e
ficou o restante que foram divididos para os cinco irmãos.
Souza relata a entrevista feita por Portella com o senhor Idálio, onde ele
recorda as lembranças das histórias contadas por seu avô:
Contei esses dia, de um causo que meu avô contava que um tar de Manuel Morera, avô de seu Raullá da Parmerinha, que no tempo da grerra ele mando tudo os negro pra wn lugar chamado Baú Velho, até perto, pra eles se esconderem. Dizia que lá ficaram tempo e que até tinha rinha de cavalo. Diziam que esse tar de Manuel Morera era muito bão pros escravo negro de antigamente. Depois do Baú, o Manuel Morera pegá os negro dele e mandá tudo pra cá. Aí então ele deu terra pros negro morá e tudo aqueles preto, Cezariano e os otro ficaram aqui e até hoje nóis vivemo aqui muito feliz, junto com os otro fio e neto e compadre e daqui é difice nóis saí. “ (PORTELLA: 2001, p.62/64- Apud SOUZA, p. 57)73.
73
PORTELA, Alecxandra Vanessa. Campina dos Morenos: um quilombo preservado. Guarapuava: Unicentro, 2001. Apud. SOUZA, Jianete Ribeiro Neves de. História, cultura e resistência de duas comunidades afro-descendentes em Guarapuava: uma proposta de intervenção pedagógica. PDE /2008: Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2463-6.pdf. Acesso 30/04/2010.
48
Nas terras de plantar, produzem uma agricultura voltada para a
subsistência de todo o grupo familiar como arroz, milho, mandioca, batata, feijão,
gado, aves, hortaliças e a coleta de pinhão. Cada família cuida do seu roçado,
desde o plantio à colheita e o que sobra vende, para adquirir outros produtos.
Atualmente, para complementar o orçamento familiar necessitam buscar trabalho
braçal nas fazendas da região.
Desde os tempos remotos, essas terras fazem parte do legado da
comunidade, raízes de uma geração que ao chegar ao local desconhecido, foram
desbravando e construindo as suas primeiras casas que foram feitas com madeira
lascada ou cortada na serra e faca, com cobertura de tabuinhas tiradas uma a
uma, ora de imbuia ou pinheiro da mata fechada do lugar.
Aparentemente vivem tranqüilos nesse local que um dia foi mata fechada,
com córregos que alimentava dois monjolos em quedas d’água, para socar o
milho, arroz, quirera, canjica e a mandioca que se transformava em polvilho. Hoje
com a energia elétrica tudo ficou mais fácil. O córrego transparente sob o solo
pedregoso que abastece os animais demonstra que os quilombolas têm
preocupação em preservar da natureza. A paisagem se encontra aberta e
rodeada com plantação de pinus. A água potável que abastece parte das famílias
vem de uma mina do alto de um morro, a outra parte utiliza água de poço. Eles
contam que hoje há mais facilidade, antes, porém, buscavam de um olho d água,
mais distante. O comércio se encontra distante da comunidade, a 30 quilômetros
no distrito de Palmeirinha. Os mais antigos do lugar contam que, para a
sobrevivência, levavam para vender na cidade casca de gramimunha, que era
usada para curtir couro. Em troca compravam produtos de primeira necessidade
como açúcar, sal, roupas, calçados que eram puxados por cavalo cargueiro.
A moradora Maria da Glória74 disse que produzia cesto de carga, balaio,
peneira, chapéu, usando como matéria prima bambu e taquara, que eram
vendidos e usados na lida diária. Além dos produtos que eram cultivados como
milho, arroz, mandioca, pescavam e caçavam para a sobrevivência.
Para a primeira sala de aula, foi utilizado um galpão cedido pelo senhor
José Luís Rodrigues, pai do entrevistado, João Maria Rodrigues, com 69 anos.
74
RODRIGUES, Maria Da Glória. Esposa de João Maria Rodrigues, moradora da comunidade Campinas dos Morenos. Entrevistada em 15 de dezembro de 2009.
49
Disse que seu pai pagava uma professora para ensinar as crianças. O irmão
Idálio relatou que os irmãos mais novos estudaram. Essa sala foi utilizada por
vários anos, até ser construída a Escola Padre Chagas Lima, sendo usado
método multiseriado de 1º a 4º séries. A escola foi desativada por se encontrar
em local inviável para professoras do município de Turvo ministrar as aulas.
Atualmente, a escola realiza o projeto Paraná Alfabetizado, que tem por
professora a descendente Rosilda do Rosário Rodrigues, que deseja cursar
ensino superior, embora comente das dificuldades pela da falta de recursos.
Fonte arquivo pessoal (dez.2009): Escola Padre Chagas Lima.
Segundo a líder da comunidade Lindamar de Fátima Rodrigues75, todas as
crianças frequentam a Educação Fundamental de 1º a 4º séries, na Escola Dogg,
do distrito de Turvo, próximo doze quilômetros de Campinas dos Morenos. Nessa
escola uma das professoras é Rosilene Rodrigues e servente Zilda Terezinha
Rodrigues, que são primas, descendentes do quilombo. Para freqüentar o Ensino
Médio os alunos se deslocam vinte e dois quilômetros até a cidade de Turvo.
É costume no dia cinco de novembro, realizarem a festa de São Martinho
de Lima. Frei Martinho nascido no Peru no século XVII, era filho de um vice-rei, D.
João e uma escrava negra76. Entrou na Ordem dos Dominicanos e se dedicou de
corpo e alma a servir seus irmãos, nos serviços mais humilhantes e baixos. Sua
75
RODRIGUES, Lindamar de Fátima com 38 anos. Moradora e líder da comunidade Campinas dos Morenos. Entrevistada em 15 de dezembro de 2009. 76
LIMA, Frei Martinho de. Filho ilegítimo de João de Porres, nobre espanhol pertencente à Ordem de Alcântara e descendente de cruzados, e de Ana Velásquez, negra alforriada, Martinho nasceu no princípio de dezembro de 1579. De temperamento dócil e piedoso, desde pequeno foi ensinado pelo Espírito Santo na escola dos santos. http://www.lepanto.com.br/dados/HagSPorr.html. Acesso em: 21/01/2010.
50
vida foi doação para aliviar o sofrimento de negros e índios, e tinha um carinho
especial por animais e crianças. Esse Frei mulato tinha o dom da sabedoria,
humildade, caridade e conselho. Faleceu aos 60 anos depois de 45 anos de
dedicação aos doentes.
Fonte arquivo pessoal (dez-2009): Capela de São Martinho.
Lindamar afirma que a comunidade é católica tendo uma capelinha onde os
fiéis se reúnem para a festa de São Martinho. No local não possui um salão
fechado, mas um bosque com algumas mesas ao ar livre e um quiosque coberto
e uma churrasqueira.
Fonte arquivo pessoa (dez.2009): Bosque em frente à capela São Martinho da comunidade
Quilombola Campinas dos Morenos.
51
João Maria Rodrigues77 conta que na época do avô Manuel Luiz Rodrigues,
as festas religiosas de São João, se realizava nas casas, com fogueira e rezas,
culminando com a erguida do mastro. Na semana da quaresma, celebravam
também, as Recomendações das Almas, segundo o costume, passavam pelas
casas que as recebiam com cânticos e orações para os mortos.
As ervas, como hortelã, chapéu de couro, milomen, sassafrás são muito
utilizadas. Conta-se, também, com atendimento médico a cada 15 dias, no posto
de saúde, distante quatorze quilômetros. A pessoa mais idosa na comunidade
está na casa de 100 anos de idade. Todos os idosos são respeitados e cuidados
pelos familiares.
Constata-se que a comunidade tem esperança de dias melhores para a
sua gente, principalmente o reconhecimento de sua identidade como quilombolas
e o cumprimento constitucional dos seus direitos. Assim a seqüela da escravidão
marca presença de racismo ainda hoje, pois muitos dos descendentes enfrentam
essa situação constrangedora e repudiante em pleno século XXI. Segundo afirma
Beatriz Nascimento:
O quilombo representa um instrumento vigoroso no processo de reconhecimento da identidade negra nacional. O fato de ter existido como brecha no sistema em que negros estavam moralmente submetidos projeta uma esperança de que instituições semelhantes possam atuar no presente o lado de várias outras manifestações de reforço à identidade cultural78.
Atividades
1. Leia o texto comunidade quilombola Campinas dos Morenos, reflita e
responda as questões propostas para as discussões.
a) Onde fica localizada a comunidade Campinas dos Morenos?
b) Relate como se formou o quilombo Campinas dos Morenos.
c) Sobre o comércio, como eles adquiriam os outros produtos de
primeira necessidade?
d) Sobre a paisagem: Quais foram às mudanças? E o que permaneceu?
77
RODRIGUES João Maria, de 69 anos e Idálio Luiz Rodrigues com 75 anos, diz que seu bisavó Manuel Luiz Rodrigues, já era morador nessa comunidade. Moradores da comunidade Campinas dos Morenos. Entrevistados em 15 de dezembro de 2009. 78
NASCIMENTO, Beatriz. O conceito de quilombo e a resistência cultural negra afrodiáspora. 1985.
52
2. Nessa atividade releia o texto e compare os diferentes usos e costumes
dos quilombolas que marcaram a história dos seus ancestrais e hoje na
comunidade, apontando como era antes e como é hoje.
Usos e Costumes Antes Hoje
Lavoura
Moradias
Artesanatos
Festas
Monjolo
Água
Escolas
53
BLOCO IX: COMUNIDADE NEGRA TRADICIONAL DO BAIRRO SÃO ROQUE
Inicialmente vamos localizar no Mapa as comunidades quilombolas no
município de Ivaí79, disponível em: http://www.itcg.pr.gov.br/arquivos/File/IVAI.pdf
Texto
A comunidade de São Roque se localiza no município de Ivaí, distante
vinte quilômetros da sede. Esse município foi desmembrado do município de
Ipiranga. É uma região de planaltos, e a estrada que dá acesso ao local é
cascalhada com muitas curvas e declive.
A comunidade de São Roque possui muitas casas de alvenaria e de
madeira, com ruas não pavimentadas, um razoável comércio, com muitas igrejas
e um colégio de Ensino Fundamental e Médio com uma média de 600 alunos. A
população negra de 38 famílias quilombolas tem participação ativa na
comunidade, segundo Nelson Lourenço80. O Senhor Hamilton Ferreira de Lima81
79
Mapa as comunidades quilombolas no município de Ivaí. Disponível em: http://www.itcg.pr.gov.br/arquivos/File/IVAI.pdf. Acesso em: 05/05/2010. 80
LOURENÇO, Nelson. Líder religioso e da comunidade quilombola São Roque. Entrevistado dia 13 de dezembro de 2009.
54
recorda a época de menino, que mesmo sendo negro estudou no colégio católico
por dois anos. Ele afirma que uma de suas irmãs estudou também nesta escola e
tornou-se professora das crianças negras da comunidade quilombola do Rio do
Meio.
Fonte: Arquivo pessoal (dez-2009) Estrada de
acesso ao quilombo.
Senhor Hamilton afirma que São Roque e Rio do Meio eram uma única
comunidade, formada por negros. Ocupavam uma faixa extensa de terras que se
estendia desde o rio São João, passando pela Serra Pedra Branca até a Serra
São João. Foram separadas em duas comunidades: a do Rio do Meio e a de São
Roque, devido às ocupações dos imigrantes poloneses, ucranianos e alemães. As
terras que eram de posses dos negros foram distribuídas e escrituradas para os
colonos, reduzindo conseqüentemente sua área.
Segundo informações dadas pelo Sr. Hamilton, as comunidades de São
Roque e Rio do Meio remontam desde ao século XVIII, sendo várias as famílias
que compõem o núcleo das duas comunidades como Lima, Marçal, Ferreira e
Lourenço. Como diz Sr. Hamilton, “aqui abriu com os pretos que vieram como
cativos, fugindo porque a liberdade era dos homens ricos que compravam os
negros para trabalhar e era judiado, depois que pegaram a liberdade se
esparramou”82.
81
LIMA, Hamilton Ferreira. Com 81 anos (05/01/1929), morador da comunidade de São Roque. Entrevistado dia 13 dezembro de 2009. 82
LIMA, Hamilton Ferreira. op. cit.
55
Ele é filho de Brasílio Ferreira de Lima e Zulmira Ferreira de Lima, nascido
em 1929. Conta que quando sua avó, cativa, chegou do Estado da Bahia, tinha
apenas 10 anos. O dono dessas terras era o negro Paulo Ferreira que tinha 110
anos. Sua avó casou-se com um dos filhos do negro Paulo Ferreira e da união
tiveram 18 filhos que moravam na localidade do Rio do Meio. A comunidade foi
formada desde a época em que os negros cativos se refugiavam das fazendas
onde eram castigados. Os castigos e o trabalho incansável foram a razão de suas
fugas e na sua liberdade se acomodaram em terras de ninguém, tomando posse.
Há indícios de que viviam índios na região e de que membros da comunidade se
casaram com índios. Nelson Lourenço diz que sua bisavó materna foi capturada,
sendo atiçada com cachorro.
Fonte arquivo pessoal (dez. 2009): Serra da
Pedra Branca.
O Sr. Hamilton conta ainda que seu pai possuía 10 alqueires de terra e as
autoridades alegando inadimplência, por não pagar os impostos, entregaram aos
“estrangeiros” que assumiram a posse. Diz ainda que “tinha pinhão, tinham tudo,
tudo era respeitado, quando veio o município de Ivaí consumiram tudo” 83.
Trabalham em outras terras por arrendamento ou porcentagem da colheita, no
cultivo de arroz, feijão, milho, mandioca, batata, e hortaliças, vendendo o
excedente da colheita para adquirir outros produtos de primeira necessidade.
Antigamente, eram feitos mutirão para cuidar, desde o plantio até a colheita da
83
LIMA, Hamilton Ferreira. op. cit.
56
safra. Já a coleta do pinhão foi extinta junto com a mata fechada de Araucárias
Angustifólia e outras espécies em função do agronegócio.
Na época dos pais e avós do senhor Hamilton, as casas se construíam de
pau-a-pique, feita de pinheiro cortado em lasca com faca. E nas redondezas das
casas, criavam animais soltos nos faxinais, principalmente a criação de cabritos e
porcos, que produziam banha e torresmo para serem vendidos em Ponta Grossa.
Ele recorda que seu pai era carreirista apreciador e tocador de cavalos, um
esporte que envolvia corrida de cavalos em campo aberto apreciado pelos negros
da época, mas hoje as brincadeiras que envolvem os jovens e adolescentes da
comunidade é o jogo de futebol.
Fonte arquivo pessoal: (maio de 2010) Hamilton com o Missale Romanum data de 1876
Hamilton sente-se orgulhoso de ser guardião da chave da Igreja Católica
de São Roque “que existe desde a época dos Ferreira”. Nessa igreja ele guarda
com muito carinho o Missale Romanum datado de 1876, escrito em latim e um
quadro de São Roque da época dos seus ancestrais. Ele coloca ainda que a
primeira igreja, que não existe mais no local, foi construída de tábua lascada e
quem a freqüentavam eram os brasileiros “negros”. Ele começou a trabalhar
nessa igreja desde os 18 anos de idade. Depois foram chegando os poloneses,
ucranianos e alemães que construíram as suas próprias igrejas.
A participação religiosa na comunidade quilombola de São Roque é
intensa, pela presença dos templos religiosos como: Igreja Evangélica Betel,
Igreja Congregação Cristã no Brasil, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no
Brasil, Igreja Greco-Católica Ucraniana e Igreja Católica Apostólica Romana.
57
No dia 15 de agosto comemorava-se a festa da Igreja católica Ucraniana e
dia 16 de agosto realizavam festas do padroeiro São Roque. Segundo senhor
Hamilton a festa foi unificada e se realizam no dia 15 de agosto com quermesse,
churrasco e leilão com o envolvimento da maioria dos membros da comunidade.
Como de praxe as pequenas vilas giram em torno das capelas, alias como refere
Frank Antônio Mezzomo, no contexto da colonização no Oeste do Paraná, “a
organização social das comunidades ocorre em volta das capelas e escolas,
únicos centros donde se promove e organiza a vida comunitária”84.
Fonte arquivo pessoal (dez. 2009): Igreja Católica da comunidade
Conta o senhor Hamilton, que nos tempos dos negros, na comunidade Rio
do Meio, reuniam todas as famílias negras para festejarem, com muita união, ao
som do violão e da gaita. Preparavam alimentos segundo seus costumes para dar
aos convidados, utilizando-se o monjolo para produzir a farinha, quirera e outros
produtos. Era costume, também, na comunidade quilombola, a Recomendação
das Almas, no período da Quaresma. Em procissão, havia as paradas nas casas
com cantorias e rezas em homenagem aos mortos.
O fogão de taipa de pilão foi muito utilizado nas casas dos negros. Feito
com o apiloamento da terra úmida, prensada no local que era construído com a
força das próprias mãos, montando-se a estrutura de um fogão com um orifício
para colocar a panela de ferro, com pé. Segundo afirma Fernando Leal, essa
técnica “são próprias para a taipa todas as terras medianamente gordas, como as
84
MEZZOMO, Frank Antônio. Religião, nomos e eu-topia: práxis do catolicismo no oeste do Paraná. Cascavel, EDUNIOESTE, 2002, p. 90.
58
que nas escavações dão torrões, mais ou menos consistentes que só
desmancham à pancada de olho de enxada”85.
O líder da comunidade Nelson Lourenço, desabafa dizendo que “os seus
pais, avôs eram donos dessas terras e trabalhavam em mutirão, hoje não tem
mais as terras, o único espaço é o local de moradia”. Segundo Nelson, as terras
foram vendidas e aos poucos ficaram sem nada86. A comunidade quilombola
desconhece a verdadeira história e não tem certeza do que realmente aconteceu
com as terras que lhes pertenciam.
Há dois anos, a comunidade obteve a Certificação pela Fundação
Palmares, e já colhendo os benefícios por esse reconhecimento, receberam
computadores do Grupo de Trabalho Clóvis Moura que estão alojados numa das
Igrejas da comunidade por não terem espaço adequado para a instalação. Mas o
senhor Nelson, na intenção de usar esses computadores em cursos para as
crianças solicitou auxílio de uma técnica do SENAR87 que os desclassificou,
dizendo serem obsoletos, frustrando seu intento.
A comunidade de São Roque possui a Associação da Comunidade Negra
de São Roque, que tem como objetivo uma participação mais ativa e propõe
ações que contribuam para a valorização dos cidadãos quilombolas de maneira
autônoma e independente nos diferentes interesses voltados para a comunidade.
Eles esperam uma solução governamental para que a comunidade possa
desfrutar do que é de direito e se faça justiça pela retomada de suas terras, bem
como a volta dos que foram embora por falta de terra.
Atividades
1. Leia o texto comunidade quilombola São Roque, reflita e responda as
questões propostas.
a) Quais são as comunidades quilombolas existentes em Ivaí?
b) Onde fica localizada a comunidade São Roque?
c) As comunidades do Rio do Meio e São Roque formavam um único
quilombo. Como se formou? Porque se separaram?
85
LEAL, Fernando Machado. Estabilização e conservação das edificações. In: Restauração e conservação de monumentos brasileiros. Recife. Universidade Federal de Pernambuco. 1997. Apud PARANÁ: Cadernos do Patrimônio. Fazenda Capão Alto. op. cit. p. 55. 86
LOURENÇO, Nelson. Líder religioso e da comunidade quilombola São Roque. Entrevistado dia 13 de maio de 2010. 87
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural.
59
d) Como era construído o fogão taipa de pilão?
e) Sobre as tradições dos antepassados, quais eram as festas e outras
diversões praticados na comunidade? Hoje seguem a mesma tradição?
f) A vegetação sempre foi igual? Houve mudança?
60
BLOCO X: COMUNIDADE REMANESCENTE DE QUILOMBO INVERNADA PAIOL DE TELHA
Texto
A Comunidade Quilombola Invernada Paiol de Telha e Fundão está
dividida em quatro localidades denominadas Núcleos que são: Núcleo de
Guarapuava (na sede do município), Núcleo de Pinhão (na sede do município),
Núcleo de Assentamento Perpétuo Socorro, organizado pelo INCRA, está a 35
km de Guarapuava, no distrito de Entre Rios, próximo a Colônia Vitória, e Núcleo
do Barranco, em frente à sede da Fazenda Paiol de Telha, a 50 km de
Guarapuava, no município de Reserva do Iguaçu.
A história da Comunidade Quilombola Invernada Paiol de Telha, também
conhecida por Fundão, começa em 1860 quando a herdeira da fazenda Balbina
Francisca de Siqueira88, deixou de herança para seus 11 escravos 3.600 alqueires
de terra. Na época a área estava situada no interior de Guarapuava, no distrito de
Pinhão. No decorrer dos anos houve desmembramentos, e hoje a Invernada Paiol
de Telha pertence ao município de Reserva de Iguaçu, antes pertencente à
Guarapuava.
Essa comunidade foi formada há mais de 150 anos. Naquele local
nasceram e se criaram os filhos, netos, bisnetos e tataranetos dos escravos
herdatários. Dona Balbina Francisca de Siqueira fez a doação em documento
para os escravos das famílias Ferreira, Santeiros, Ezídio e Soares. Acrescentam-
se a esses negros herdeiros, os escravos que vieram da Bahia, Mangueirinha,
Coronel Vivida e outros locais próximos, formando a grande comunidade
quilombola negra, hoje denominada Invernada Paiol de Telha89. Contando com
uma população de 800 famílias esparsas por vários locais, depois de serem
expropriados.
88
“...que a Invernada denominada Paiol de Telha, que possuo na Fazenda do Capão Grande, e que principiada desde o Pontão, até o Rio da Reserva, com terras de cultura nella existentes, ficam pertencendo por meu fallecimento a todos os escravos acima mencionados e às suas familias, para nella morarem, sem nunca poderem dispor, disto, como fica patrimonio dos mesmos”. Fotografias e fatos: Resumo do Texto da antropóloga Miriam Hartung. Disponível em: http://nedier.sites.uol.com.br/. Acesso em: 30/04/2010. 89
Projeto Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil. Fascículo 1/ Núcleo de Guarapuava: Comunidade Quilombola Invernada Paiol de Telha e Fundão. Guarapuava-PR, março 2009.
61
Durante quase cem anos viveram nessa fazenda os descendentes,
desfrutando da produtividade e das tradições que foram herdados dos ancestrais.
Por volta de 1960, os alemães chegaram à região e com o apóio da elite local
fundaram a atual Cooperativa Agrária Mista Entre Rios Ltda. As terras dos
quilombolas foram tomadas pelo processo de grilagem sob forma violenta90. Os
negros não conseguiram resistir à pressão que vinha do delegado, dos jagunços e
dos alemães quando, em 1975, foram expulsos das suas legítimas terras. Por
mais de trinta anos de luta, os quilombolas receberam a certidão de auto-
reconhecimento, que é concedida pela Fundação Cultural Palmares, vinculada ao
Ministério da Cultura, comprovando que os negros da Comunidade Paiol de Telha
são descendentes de escravos91.
Segundo comenta Ilka Boaventura Leite
Já a primeira Lei de Terras, escrita e lavrada no Brasil, datada de 1850, exclui os africanos e seus descendentes da categoria de brasileiros, situando-os numa outra categoria separada, denominada “libertos”. Desde então, atingidos por todos os tipos de racismos, arbitrariedades e violência que a cor da pele anuncia – e denuncia –, os negros foram sistematicamente expulsos ou removidos dos lugares que escolheram para viver, mesmo quando a terra chegou a ser comprada ou foi herdada de antigos senhores através de testamento lavrado cartório. Decorre daí que, para eles, o simples ato de apropriação do espaço para viver passou a significar um ato de luta, de guerra92.
A maioria das famílias se encontra nas periferias de Guarapuava, enquanto
outros permanecem trabalhando em fazendas do município de Pinhão. Parte dos
descendentes negros, aproximadamente 31 famílias, vive, atualmente, em um
90
As atrocidades praticadas na época estão vivas na memória de quem sobreviveu ao terrorismo da desocupação. Um dos bisnetos de escravos, seu Domingos Guimarães, 71 anos, lutou por sua herança até o fim, em 1975, quando foi atingido por uma bala que ainda hoje está alojada em seu corpo. Ele foi um dos últimos a deixar a Invernada Paiol de Telha. Eles chegavam com armas, tratores e iam destruindo tudo o que viam pela frente. Na madrugada, chegavam a cavalo ateando fogo por tudo e disparando. Ficamos recolhidos em casa, com medo de morrer. No dia seguinte, nossas benfeitorias e nossa produção estavam destruídas, relembra seu Domingos. Ele conta que os alemães destruíram 400 alqueires que os negros haviam plantado. 91
Comissão Pastoral da Terra. Disponível em: http://www.cpt.org.br/?system=news&action=read&id=304&eid=128: Acesso em: 21/02/2010. 92
LEITE, Ilka Boaventura – 2000 – Os Quilombos no Brasil: questões conceituais e normativas. Etnográfica. Vol. IV (2): 335. Apud. BARROS, Edir Pina de. Quilombos e Direito Agrário. Disponível em: http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/viewFile/ 32596/31806. Acesso em: 28/12/2009.
62
assentamento organizado pelo INCRA93, no distrito de Entre Rios, colônia Socorro
a 35 km de Guarapuava próximo da Colônia Vitória. São pequenos agricultores
que produzem para a sua subsistência. A área de 1051 hectares era do Banco do
Brasil e foi comprada pelo INCRA em 1996. No inicio abrigou 64, porém a
organização conforme assentamentos de sem-terras dificultou a adaptação de
muitos negros acostumados a viver em comunidade. Além disso, segundo a
Comissão Pastoral da Terra (CPT), apenas 90 hectares são cultiváveis 94. Outra
parte das famílias está acampada, nos barrancos da Fazenda Invernada Paiol da
Telha desde 1995, vivendo sob tetos de lonas, com chão batido, com falta de
água encanada, sem energia elétrica, falta de serviços básicos como a segurança
e saúde, enfim sem nenhuma infraestrutura. Estão aguardando o desfecho de
ação judicial sobre suas terras expropriadas por invasores, que está tramitando
em Brasília.
Situação atual dos barracos no acampamento
do Barranco95.
Segundo Mariluz Marques Follman: “A luta pela retomada do Fundão, já
existe há 70 anos. Por mais que os poderosos da época não admitissem a
93
O Incra é uma autarquia federal criada pelo Decreto n. 1.110, de 9 de julho de 1970 com a missão prioritária de realizar a Reforma Agrária, manter o cadastro nacional de imóveis rurais e administrar as terras públicas da União. Está implantado em todo o território nacional por meio de 30 Superintendências Nacionais. http://www.mda.gov.br/portal/index/show/index/cod/142. Acesso em: 13/01/2010. 94
Comissão Pastoral da Terra. op. cit. 95
Projeto Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil. Fascículo 1/ Núcleo de Guarapuava: Comunidade Quilombola Invernada Paiol de Telha e Fundão. Guarapuava-PR, março 2009
63
presença de negros e negras no Estado do Paraná, mesmo assim, nossos avós e
bisavós já vinham buscando seus direitos. O negro e a negra nunca teve voz nem
vez na região, com isso a suas lutas foram ignoradas(...)96
Reportando aos tempos dos seus pais e avós, todos os membros da
comunidade participavam unidos no sistema de puxirão/mutirão. Como expressa
Anália Gonçalves dos Santos:
Tinha puxirão dos homens e das mulheres na lavoura, era tudo combinado, cada semana era um puxirão e baile também, ali matava porco, matava galinha e enchia aqueles tachos de quirera com carne de porco, suco de limão e pica–pau, a cachaça com mel. Nas rezas erguia o mastro, fazia procissão, quando chegava na casa erguia o mastro. Nós festejávamos o Anjo da Guarda, mas tinha outros que festejavam o dia de Todos os Santos: São Sebastião, São Pedro, Santo Antônio; em todos esses se fazia
festa. A nossa vida era boa, era trabalhar97.
As práticas e tradições religiosas e de cura marcam presença na
comunidade Perpétuo Socorro localizada na sede do INCRA que contam com
duas igrejas evangélicas: Batista Conservadora e Assembléia de Deus e a Igreja
Católica que têm por padroeira Nossa Senhora das Graças.
Em Reserva do Iguaçu que fica aproximadamente a 10 quilômetros, de
onde as famílias estão acampadas no barranco em frente às terras da fazenda
Invernada Paiol de Telha, a Santa venerada é a Nossa Senhora Aparecida
festejada no dia 08 de dezembro.
As comunidades contam também com benzedeiras, curandeiras e rezas
como o ritual da Recomendação das Almas, que acontece na quaresma iniciando
na quarta feira de cinzas e encerrando-se na sexta feira da paixão. Os
participantes saem à noite atraídos pelos cânticos e pelo som da matraca, e
caminham no escuro fazendo orações pelas almas dos mortos. A visitação segue
pelas casas sempre em número ímpar finalizando-se na igreja, segundo relato
dos moradores. Há outras festas e divertimentos como bailes, cantigas, festas
juninas, danças do grupo afro, jogos de futebol.
96
FOLLMANN, Mariluz Marques. Projeto Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil. Fascículo 1/ Núcleo de Guarapuava: Comunidade Quilombola Invernada Paiol de Telha e Fundão. Guarapuava-PR, março 2009, p.09. 97
SANTOS, Anália Gonçalves dos. Projeto Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil. Fascículo 1/ Núcleo do Barranco em reserva do Iguaçu.: op. cit. p. 04.
64
São práticas tradicionais de produção dessa comunidade quilombola à
conservação de sementes crioulas e confecção do artesanato como as esteiras
de taquara, de palha de milho, também fazem tapete de tiras de pano, crochê,
tricô e outros. Eles fazem usos de ervas medicinais como a erva-doce, milomen,
sassafrás, principalmente a camomila que é usada no chimarrão. As comidas
típicas são a quirera com frango caipira, couve, feijão preto, mandioca e bolinho
de polvilho.
Segundo informações dos moradores a ação das religiões está voltada
mais para a oração do que a assistência social embora haja a participação da
pastoral da criança. O atendimento hospitalar e da saúde é precário e o
atendimento domiciliar às famílias quilombolas deixa a desejar. Os tipos de
doenças mais comuns entre eles são a diabetes e a pressão alta, mesmo assim,
a expectativa de vida está na casa de mais de cem anos para as mulheres e
oitenta anos para os homens.
Praticamente todas as pessoas do Assentamento Perpétuo Socorro são
alfabetizadas, inclusive os adultos que freqüentam o EJA – Educação para
Jovens e Adultos e CEBJA – Centros de Educação Básica de Jovens e Adultos.
Não há escola no local, sendo necessário se deslocarem para Colônia Vitória
distrito do município de Guarapuava utilizando-o o transporte escolar. O
assentamento Perpétuo Socorro recebeu cinco computadores do Estado, para as
crianças serem assistidas, mas que segundo relato de moradores estão parados
por falta de recursos para a manutenção.
Os quilombolas possuem a Associação Comunitária que luta pelos direitos
da comunidade como, por exemplo, retorno ao território tradicionalmente
ocupado, resgate da cultura, religiosidade e práticas tradicionais da comunidade,
educação adequada à realidade quilombola, acesso a moradia e ainda
reconhecimento da sociedade da forma de vida e da cultura negra quilombola,
possuem ainda um Conselho de Anciãos e uma Coordenação Geral dos
Quilombolas localizados em Guarapuava.
Atividades
1. Leia o texto comunidade quilombola Invernada Paiol de Telha, reflita e
responda as questões propostas para as discussões:
65
a) Onde fica localizada a comunidade Invernada Paiol de Telha?
b) De onde vieram os ancestrais que habitam a comunidade Invernada
Paiol de Telha?
c) Quais os motivos dos negros não estarem mais morando nas terras
que receberam por herança?
d) Onde estão morando hoje? Como vivem?
e) Por que os quilombolas da comunidade Invernada Paiol de Telha
estão lutando até hoje?
f) Aponte quais tradições e ensinamentos herdados dos antepassados,
se manifestam ainda entre eles?
66
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OUTRAS FONTES
Figuras
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