Download - deba2

Transcript
Page 1: deba2

Santa - O que a demolição do Deba significa para você?

Rafael Bernardes - Não só eu, como todos os que foram lá para juntar pedras e pintar arqui-bancada, estamos muito tristes. É uma sensação esquisita. Tentamos com todas as nossas forças resgatar o nosso time e o nosso estádio, foram muitas tardes empur-rando a equipe e, agora, tudo foi por água abai-xo. O sentimento é de tristeza, mágoa e sauda-de. Foi uma apunhalada nas costas, uma falta de

consideração.

Santa - Você acredita na volta do BEC?

Bernardes - Todo torce-dor apaixonado acre-dita. Todos os sábados, há encontros para achar apoio e alternativas. To-dos sabem que é muito difícil, mas não impos-sível. Enquanto houver torcedores, haverá espe-rança.

Santa - De quem foi a culpa pelo fim do BEC?

Bernardes - Os dirigen-tes foram incapazes de

manter o time. O poder público não tem a obri-gação , mas acho que deveria haver bom sen-so. É inaceitável uma cidade como Blumenau não ter o BEC, não ter um estádio. E o pior: hoje o único t ime da cidade (Metropolitano) tem que jogar em Tim-bó. Parece brincadei-ra. Tudo isso poderia ser diferente, com um projeto pra resgatar o Deba. As pessoas não sabem, mas havia dor-mitórios, cozinha, sala de troféus.

Santa - Os troféus passam a ser agora a maior lembrança do clube? Vocês ainda os guardam?

B e r n a r d e s - S i m , e l e s estão na sede da BEC Manguaça (outra torci-da organizada) e agora são a maior lembrança concreta do clube. Tudo o que passamos, o que fizemos, o que tenta-mos, o que lutamos, isso ninguém tira.

SEGUNDA-FEIRA, 24 DE SETEMBRO DE 2007 23JORNAL DE SANTA CATARINA

ENTREVISTA RAFAEL BERNARDES, MEMBRO DA TORCIDA ORGANIZADA BLU RAÇA

Esportes

Osmar Irineu Battis-ti , 44 anos, chegou às 7h15min ao Estádio Ader-bal Ramos da Silva. Saiu de casa logo depois de a filha ter ligado para ele avisando sobre o início da demolição. Torcedor do Blumenau Esporte Clube há quase 30 anos, ele em-barcou na bicicleta e foi correndo ao estádio. Cho-rou quando encontrou a máquina trabalhando.

– Fico indignado. Parti-cipei dessa história, vinha com a família aqui. O BEC

vai continuar no coração – contou Battisti, ao baixar a cabeça e tapar o rosto com as mãos.

Perto das 11h, ele escalou a grade que cerca o estádio na Rua Alwin Schrader.

– Quantas vezes eu subi nessa grade, meu Deus!– disse, ao relembrar os ve-lhos tempos.

– É triste ver algo que a gente sempre gostou ser demolido – completou Glauco Bugmann, 23 anos, integrante da Torcida BEC Manguaça.

O futuro do Estádio Aderbal Ramos da Sil-va ainda está indefinido. Ontem, o responsável pe-lo trabalho de demolição, Eduardo Floriani, da em-preiteira Tec Ter, de Curi-tiba, disse somente que foi contratado pelo proprie-tário do estádio para de-molir e limpar o terreno. O empresário paranaense Aílton Borba, que arrema-tou o estádio por R$ 1,305 milhão no ano passado, não foi localizado para co-mentar o assunto.

O diretor da Praça do Cidadão, Fábio Fiedler, afirmou que Borba ainda não apresentou projeto pa-ra ser aprovado pela pre-feitura. Fiedler comentou que o pedido de demolição foi feito há duas semanas.

O vice-presidente do Sindicato de Habitação de Blumenau (Secovi) e inte-grante da diretoria do Me-tropolitano, José Antônio Roncáglio, diz que o pro-prietário pretende vender o terreno:

– Ele não quer inves-tir no estádio. Há duas semanas, o Metrô tentou alugar o terreno, mas ele (Borba) não quis. Dis-se que não quer nenhum negócio ali porque quer vender o terreno.

Roncáglio, que tam-bém ficou emocionado ao saber da derrubada do estádio, acredita que o pedido de demolição e limpeza tenha sido uma estratégia do proprietário para facilitar a negocia-ção do terreno.

Chorando, torcedores assistiram às máquinas

“Enquanto houver torcedores, haverá esperança”

T orcedor de carteirinha do Blumenau desde os 15 anos de idade, quando foi ao Deba pela primeira

vez para assistir à vitória do time da casa sobre o Tu-barão por 1 a 0, Rafael Bernardes mora atualmente em São Paulo, onde trabalha como administrador. A distância, porém, não aliviou o sofrimento que a de-molição trouxe. Membro da torcida organizada Blu Raça, ele ainda acredita na volta do time do coração.

Década de 20 - O Brasil Sport Club manda os jogos em um campinho na Rua das Palmeiras.

Década de 40 - O estádio ganha o nome de Aderbal Ramos da Silva, homenagem ao governador que deu local ao Palmeiras.

Década de 50 - O Deba estava fora dos padrões exigidos pela Liga Blumenauense. A torcida faz mutirão para reformá-lo

Década de 80 - O Palmeiras vira Blumenau Esporte Clube. É campeão da Segunda Divisão do Estadual em 1987 e vice da Primeira em 1988.

1998 - O BEC fecha as portas. Volta em 2002, mas só dura dois anos.

2006 - Em março, o estádio é leiloado.

2007 - Ontem, ele começou a ser demolido.

A história

Local pode ter novo dono

Demolição do estádio na Rua das Palmeiras começou às 7h de ontem e seguiu durante todo o dia

JOSÉ WERNER

Memórias que ficam: em 2 de setembro de 1980, o BEC estreava contra o Joaçaba (E e C). Em 1991, o Aderbal Ramos da Silva recebia o Vasco de Bebeto (D)

Osmar foi um dos que chorou em frente ao local

JANDYR NASCIMENTO

FOTOS BANCO DE DADOS