“DECOMPOSIÇÃO DA IMAGEM”
CAMPOS, Marguit Sbaraini (Professora PDE/SEED)1
SIBIN, Elizabete Arcalá (UNIOESTE/Cascavel)2
RESUMO: O estudo aqui proposto teve por objetivo mostrar algumas possibilidades de trabalho a partir do conhecimento, do domínio da técnica, dos materiais, dos procedimentos e suportes empregados pelos artistas que, na sua criação, usam a imagem fragmentada para fazer uma leitura e despertar o gosto pela arte que não segue as correntes naturalistas ou idealistas. Utilizou-se como roteiro o estudo da arte naturalista, idealista, expressionista e abstracionista. Caracterizou-se como uma pesquisa bibliográfica, tendo como instrumento a execução de atividades realizadas em sala de aula aplicada em duas turmas, do turno matutino do Colégio Estadual Frentino Sackser, localizado no município de Marechal Cândido Rondon, Oeste do Paraná. Concluiu-se, após a realização das mesmas, que assim como se aprende a ler, deve-se aprender a ver, sendo necessário entender, interpretar e operar com os códigos visuais. Para tanto, deve-se utilizar todas as ferramentas disponíveis, minimizando-se as lacunas existentes na educação atual. Palavras-chave: Naturalismo, Idealismo, Expressionismo, Abstracionismo. ABSTRACT: The study proposed here aimed to show some possibilities of working from knowledge, domain of the technique, materials, processes and media used by artists, that in their creation use the fragmented image to do a reading and wake up the taste for art that does not follow the naturalistic or idealistic tendencies. It was used as a guide the study of naturalistic, idealistic, expressionist and abstractionist art. It was Characterized as a bibliographical research, having as instrument the execution of activities carried out and applied into two morning groups of Frentino Sackser High School, located in Marechal Cândido Rondon, west of Paraná. It was concluded, that just as one learns to read, one must learn to see, it is necessary to understand, interpret and operate with the visual codes. Therefore, you should use all available tools, minimizing the gaps in current education. Keywords: Naturalism, Idealism, Expressionism, Abstraction.
INTRODUÇÃO
Falar de Arte na escola não é uma tarefa fácil. Somos um povo cheio de
dificuldades e carências e parece até obsceno comentar sobre algo que vai além
1 Professora da rede Estadual de Ensino do Paraná, do NRE de Toledo. 2 Professora orientadora da UNIOESTE- Campus- Cascavel. Mestre em Lingüística e Língua Portuguesa pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.
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das nossas necessidades básicas de sobrevivência. Tantos já foram os discursos
defendendo as artes e a cultura que ficam nas palavras ou nas agendas políticas.
Sabemos que a música abastece a alma, o teatro é um mundo em que
podemos nos refugiar e o fazer poético é um dos mais belos ofícios do homem.
Mesmo o mais humilde dos mortais é insaciável em suas necessidade e infinito em
seus potenciais. A vida pressupõe o direito ao lúdico, à criatividade, à abstração. É
por meio da representação que arquitetamos uma realidade mais grandiosa. É na
experiência artística que somos capazes de entender a diferença, a semelhança, o
complemento. A Arte é uma lição fácil de aprender, difícil de esquecer, impossível de
negar. Somos melhores com ela e infinitamente menores quando privados dela.
(EDUCAÇÃO, 1988)
Uma sociedade só florescerá, quando for artisticamente desenvolvida, e,
segundo Jacob Klintowitz (EDUCAÇÃO, 1998), a arte é formadora da personalidade
individual e social da pessoa e torna significativa a vida cotidiana. Não podemos ficar
à margem do processo civilizatório, é preciso haver a compreensão por parte do
público, do povo, dos não-artistas. Segundo Maiakovski (apud BARBOSA, 2007, p
xi), “a arte não é para a massa desde o seu nascimento. Ela chega a isso no fim de
uma soma de esforços. É preciso saber organizar a compreensão”.
O homem sempre manipulou formas, cores, sons, movimentos, texturas, entre
outros, e buscou algo mais do que simplesmente suprir as suas necessidades de
sobrevivência. Ele sempre teve a intenção de se comunicar com os outros, utilizando
diferentes linguagens. Esta maneira de pensar não é neutra, está dentro de uma
cultura, de uma ideologia e supera o comum, transcende o real. É o criar que
autentica o ser, altera o seu cotidiano.
“Com a imagem, entramos em uma nova etapa histórica que tem, para a
humanidade, grandes repercussões sociais, intelectuais e religiosas. Passamos
vertiginosamente de uma civilização verbal para uma civilização visual e auditiva”.
(GUTIERREZ, 1978, p. 15)
Não há quem passe impune pela imagem, recusando-se a ser afetado por
sua presença ou a perceber os significados mais profundos nela envolvidos. Nosso
universo interno, tanto quanto a realidade objetiva, são dominados pela imagem. Por
meio dela construímos nosso pensar, assim como organizamos seus produtos. As
imagens tem um poder muito forte de impor sua presença, são uma ferramenta que
nos contagia primeiramente, nos chama a atenção e faz com que sua informação
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seja devidamente explorada e posteriormente ser lida. Um texto visual é um todo de
sentido, sendo necessário obter um conhecimento prévio da organização do sistema
de linguagem visual.
Se já era difícil definir arte estudando objetos artísticos, isto agora se ampliou.
Esse bombardeio de imagens que nos selecionam cotidianamente nos perturba a tal
ponto que aos poucos ficam banalizadas, não se sabe mais para onde dirigir o olhar,
perde-se o referencial. O gosto está sendo manipulado pela mídia. Para Dondis
(2007), o visual predomina. O verbal tem a função de acréscimo. Nossa cultura
dominada pela linguagem já se deslocou sensivelmente para o mundo icônico. Wolff
(2005, p. 20) também comenta: “uma imagem representa, torna presente qualquer
coisa ausente”. As coisas que estão ao nosso redor, tanto no passado como no
futuro, são facilmente reportadas à nossa mente pelo poder das imagens. Podemos
não saber dizer exatamente o que queremos, com palavras, mas buscamos
associações visuais para tentar chegar ao objeto ou fato proposto.
Quase tudo em que acreditamos, sabemos, aprendemos e compramos,
reconhecemos e desejamos, vem determinado pelo domínio que a imagem exerce
sobre nossa psique. A interferência do professor é de fundamental importância, mas
é preciso criar uma instabilidade para que haja uma mudança de concepção.
Segundo Martins (1998, p. 14), “Para nos apropriarmos de uma linguagem,
entendermos, interpretarmos e darmos sentido a ela, é preciso que aprendamos a
operar seus códigos”. Somos alfabetizados, ao sermos inseridos no mundo escolar,
somente com números e palavras. Falta-nos algo mais para entendermos o mundo
que está à nossa volta, que não é mais feito somente por estes dois códigos. A
alfabetização deve ser também na área de arte, onde as imagens possam ser lidas e
interpretadas, pois possuem um código próprio de representação. Auxiliada pela
história da arte faz com que este leitor tenha um olhar ao mesmo tempo
autoconfiante e mais sensível diante do texto visual. Ler é um fazer que requer um
saber, um poder, um querer fazer.
Essa tarefa não é fácil. Negligenciamos nossos instintos e ficamos cada vez
mais limitados. Temos que ser convencidos de que somos capazes de perceber e
criar. Quanto mais se conhece algo, mais se pode apreciá-lo. Para tanto, precisamos
saber para onde e o quê olhar.
Para Canclini (1984), o estudo da arte abrange, hoje, a análise das obras de
arte tanto quanto a das transformações de seu sentido, realizadas pelos canais de
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distribuição e pela variável receptividade dos consumidores. Abrange as artes
tradicionalmente conhecidas como tais e, também, as atividades não consagradas
pelo sistema de belas-artes, como as expressões visuais e musicais nas
manifestações políticas ou aspectos da vida cotidiana. A arte, então, deixa de ser
concebida apenas como um campo diferenciado da atividade social e passa a ser,
também, um modo de praticar a cultura.
Falar de arte é falar de sociedade. É perceber que cada época cria as suas
definições e o olhar vai sendo alterado conforme as circunstâncias exigidas pelo
grupo social em que se vive. A arte é uma criação humana, está inserida no seu
trabalho e é resultado de sua expressão. Ver a arte, não só com os olhos, mas com
a mente e com o coração aproxima a nós, todos, do mundo da arte e faz com que
nos acheguemos do mundo artístico, independente da classe social na qual estamos
inseridos.
Somos produto do mundo em que vivemos, mas não estamos sendo
produtores deste, pois não estamos interferindo nele. Não conseguimos fazer a
interpretação do que está à nossa volta. Sabemos das mudanças que estão
acontecendo, mas não entendemos como elas acontecem. Mudaram os valores da
sociedade, mas ainda estamos com a visão clássica, onde criamos um mundo ideal
segundo padrões estabelecidos.
Diz Fayga Ostrower (2007, p. 6): O homem contemporâneo, colocado diante de múltiplas funções que deve exercer, pressionado por múltiplas exigências, bombardeado por um fluxo ininterrupto de informações contraditórias, em aceleração crescente que quase ultrapassa o ritmo orgânico de sua vida, em vez de se integrar como ser individual e social, sofre um processo de desintegração. Aliena-se de si, de seu trabalho, de suas possibilidades de criar e de realizar em sua vida conteúdos mais humanos.
A mídia nos coloca inúmeras informações, mas não estamos sendo capazes
de filtrá-las e nos tornamos meros consumidores sem critérios individuais de
escolha.
As transformações ocorridas na Arte, principalmente com a Arte Moderna,
causam nas pessoas primeiramente uma apatia, pois aquilo que elas não entendem
elas ignoram, posteriormente há uma banalização e tecem comentários como:
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- Meu irmãozinho desenha melhor que o artista, como ele ganha tanto
dinheiro?
- Como “isso” pode ser chamado de Arte? (referindo-se às obras abstratas).
A Arte é vista como um passatempo ou uma mercadoria dispensável, a
sensibilidade foi esquecida e o ser está se tornando cada vez mais desumano.
Segundo Fayga Ostrower (1989, p. 348), falando da sensibilidade e do
trabalho do artista, comenta: Precisamente este sentido do trabalho artístico - de crescimento humano e de realização de conteúdos de vida - é menosprezado em nossa sociedade. A obra de arte é considerada apenas uma possível mercadoria. Quanto à sensibilidade das pessoas, fonte de sua afetividade e do conhecimento intuitivo, fonte mesmo da própria criação artística, nem sequer chega a ser considerada relevante. O ser sensível parece supérfluo.
Será que o estudo da arte consegue despertar o senso estético, enfatizando a
transformação da arte do figurativo para o abstrato, distanciando-se da arte
acadêmica e proporcionando uma leitura visual que não utiliza as obras
consideradas figurativas? A destruição da imagem, distanciando-se da cópia da
natureza pode possibilitar uma leitura?
DESENVOLVIMENTO
O projeto foi realizado no Colégio Estadual Frentino Sackser – Ensino
Fundamental e Médio, localizado na cidade de Marechal Cândido Rondon, Oeste do
Paraná, com alunos do 2º ano do Ensino Médio, turno matutino.
A comunidade escolar deste colégio, atualmente, está formada por pessoas
descendentes das mais diversas etnias, com predominância das de origem alemã.
As turmas onde foi aplicado o projeto são divididas entre alunos oriundos do interior
do município, filhos de agricultores e alunos residentes na periferia da cidade, tendo
uma porcentagem de 50% de cada uma. Percebe-se que em ambos os casos, o
contato com a arte é timidamente manifestada.
Os alunos, nesta idade, perdem a naturalidade do desenho, eles são mais
críticos e rigorosos consigo mesmo e dão demasiada importância ao produto final da
criação. Não importa mais o processo, mas o produto final. Sendo assim, é de
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importância fundamental iniciar as atividades com textos que envolvam um
conhecimento sobre arte, cultura e criação, para fazer com que os alunos percebam
que fazem parte de uma cultura, que não estão isolados, que tem um contexto
histórico embasando as nossas preferências atuais e que podem como os demais,
criar. Essa visão de artista, atrelada à perfeição, é carregada desde o
Renascimento, onde era evidenciada a técnica apurada do artista. Hoje, sabemos
que para ser um artista é preciso ter 98% de trabalho e 2% de dom.
Tendo por base os escritos de Canclini, Fisher, Dalto e Martins, (MARTINS,
1998), que falam sobre questões que envolvem o fazer artístico, os alunos criaram
suas argumentações sobre o artista, a Arte e seu processo e sobre cultura. A partir
destes, os mesmos tem um referencial para poder criar as suas concepções
ampliando o seu repertório conceitual e começar a formular hipóteses.
Sobre o que é arte e no que ela influencia, os alunos responderam:
Aluno 1- “Os conceitos prontos de arte ajudam a estabelecermos nosso
próprio conceito, dando idéias, fazendo com que haja a reflexão. Cada um tem o seu
conceito. A arte parte dos sentimentos próprios a partir do que fazemos ou daquilo
que criamos”.
Aluno 2 – “A arte não é o mundo, mas é através dela que se constrói e
compõe o mundo, onde contém traços, cores, construções, danças, teatros,
músicas. Todos os tipos de arte estão construindo o mundo”.
Ao falar sobre Arte, agora já com um cabedal de conhecimento, os alunos
concordam com a importância dos conceitos previamente elaborados para a
elaboração dos seus, que vem a somar, e vão além, ao afirmar que partem dos
sentimentos próprios, do seu ponto de vista, para a criação. Ao serem interrogados
se todos podemos ser artistas, foi unânime a resposta sim, pois todos já tiveram uma
longa caminhada envolvendo o conhecimento, o trabalho e a expressão artística.
Quando foram questionados sobre a influência da cultura na arte, as
respostas foram as seguintes:
Aluno 1 – “Arte é uma forma de expressar sentimentos diferentes; de outra
pessoa. Dizer o que seja arte é uma coisa difícil, mas a nossa atitude diante dela é
de compreensão”.
Aluno 2 – “Todos, independente da classe social, veem a arte com seus
olhos, mente e coração”.
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A seguir, foi iniciado o conhecimento dos elementos formais de uma obra,
como composição, linhas, luz e sombra, cores, planos e volumes, escalas e texturas,
para possibilitar uma posterior leitura visual.
A tarefa de compreender a arte se tornou mais fácil, para os alunos, quando
foi aliada com textos e músicas. As imagens devem funcionar como protagonistas e
o verbal como coadjuvante, despertando assim, nosso olhar. O sensível é capaz de
envolver os significados de determinados eventos, transformando-os em símbolos e
comunicando-os com toda a sua expressão. O artista é pessoalmente tocado por
acontecimentos, emoções e percepções que fazem parte do cotidiano humano. A
música de Zé Ramalho, “Admirável Gado Novo”, e dos Titãs, “Comida”, falam sobre
a massa e suas necessidades de vida que vão além da simples sobrevivência,
fizeram com que os alunos iniciassem a reflexão e percebessem o seu contexto,
confrontando as idéias contidas nas músicas e na frase de Maiakovski, sobre a
“massa”. Por unanimidade, definiram que a “massa”, é um todo, sem diferenciação,
que aos poucos vai sendo trabalhada até adquirir o conhecimento e começa a ser
diferenciada, aparecendo o ser individual que tem suas próprias idéias e que
percebe que pode ter mais; percebe que quer viver e não apenas sobreviver.
Após essa compreensão pelos alunos, foi possível iniciar o trabalho com a
arte naturalista, que é uma arte imitativa, de caráter descritivo e de fácil
identificação. O artista seleciona, do seu cotidiano, as formas que quer representar.
Todo artista, primeiro observa o real e o reproduz, para, posteriormente, partir para a
deformação. Trabalhamos o projeto como uma viagem e cada parte uma parada de
estação onde os alunos deverão observar suas paisagens e registrar o que
perceberam.
Partiu-se de fotos reais, de paisagens locais, figurativas que fazem com que
seja mais fácil a identificação. Estas foram coletadas pelos alunos, que mostraram a
sua visão, suas referências, a sua janela. Quando falamos de janela estamos
falando de suas referências visuais, seus padrões referenciais. Todos percebem
elementos diferenciados que mostram quem somos o que compreendemos e qual é
a nossa verdade; no que acreditamos. Esta ferramenta é muito importante, pois
torna mais fácil a apropriação de um determinado momento, com suas
particularidades. Depois de sua invenção a arte nunca mais foi a mesma.
Para Bazin (apud MENEZES, 1997, p 39), “a fotografia não cria, como a arte,
a eternidade, ela embalsama o tempo, simplesmente o subtrai à sua corrupção”.
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Ao analisar uma fotografia trazida, um dos alunos, fez o seguinte comentário: O olho da Câmera está dirigido para o portal da cidade, a uma longa distância, com um ângulo frontal ao objetivo. O enquadramento está centralizado. As linhas estão inclinadas, dando a sensação de profundidade. Suas escalas de cor estão em tons claros para os escuros, luzes de cima. Possivelmente, a fotografia foi tirada ao meio dia ou próximo, devido às suas sombras que estão debaixo do alvo principal, ou seja, do portal.
Ao ver, vivenciamos o que está acontecendo, de maneira direta, descobrimos
algo que nunca havíamos percebido, talvez nem mesmo visto, conscientizamo-nos,
através de uma série de experiências visuais, de algo que acabamos de reconhecer
e saber, e percebemos o desenvolvimento de transformações através da
observação paciente (DONDIS, 2007).
A revista Carta na Escola (mar. 2009) comenta que as imagens possuem
suas chaves de leitura, que funcionam como pequenas cunhas a escavar e revelar
camadas sucessivas de interpretação. Saber “ler” uma fotografia ou uma obra de
arte faz parte de um longo processo de treino do olhar, que deve ser exercitado com
especial atenção no ambiente escolar. O exercício inicial segue um roteiro que
identifica as coordenadas espaciais da foto: Para onde está dirigindo o olho da
câmera, a que distância, em que posição e sob qual ângulo o fotógrafo se colocou
em relação ao motivo fotografado? Como a foto está enquadrada? Quais são os
planos, linhas, direções, escalas, volumes, luzes e sombras da foto? Estes conceitos
iniciais fazem com que o observador vá se orientando e comece a despertar ao
analisar uma foto.
Encontramos suporte na História da Arte, para instrumentalizar o aluno sobre
o assunto abordado, por meio da pesquisa, que envolvia a leitura dos objetos de
arte, utilizando imagens da Pré-História, do Realismo e do Impressionismo, onde os
artistas imitam a realidade. Cada época tem suas especificidades, sua razão para
determinada expressão. Na Pré-História, pintavam nas paredes das cavernas os
animais que representavam a sua caça. Não eram desenhos simples, eram incisões
feitas nas paredes das cavernas, que já mostravam seu grande domínio técnico.
Acredita-se que essas imagens tinham um grande poder. Poderiam, com elas,
dominar o espírito do animal antes da caçada. Essas imagens mostram o que o
homem deste período valorizava, que era a sua caça e, consequentemente, a sua
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sobrevivência. Utilizavam recursos simples como o carvão, pigmentos minerais
misturados com aglutinantes gordurosos, produzindo efeitos estonteantes.
No Realismo, representavam a natureza com acuidade fotográfica, imitavam a
realidade sem alterá-la. Somente o que podiam ver ou tocar era considerado real.
Representavam a vida e a materialidade do mundo em composições majestosas, de
grande densidade, dando um peso visual à própria matéria pictórica das imagens.
O Impressionismo tem como tema principal a luminosidade atmosférica, que
muda a aparência das formas com o passar das horas do dia. As cores vão sendo
alteradas de acordo com os efeitos da luz, do reflexo ou do clima sobre a superfície
do objeto. Os artistas rompem com a maneira acadêmica de representação e criam
uma nova forma de pintar. Buscavam colocar a figura, a paisagem, o mundo em
uma nova organização ditada pelas impressões que estas lhe causavam. Saíram de
seus ateliês, para o ar livre, e observavam a maneira como a luz se manifestava
sobre as formas, mudando assim, seu modo de pintar. Questionam os valores de
seu tempo fragmentando a realidade. Ao observar as obras, não temos mais a
certeza do que vemos, temos que dispor de todos nossos sentidos, não só o olhar,
para tomar consciência da modernidade, essa modernidade construída pelo homem:
ruidosa, esfumaçada e perigosa.
A contextualização foi feita com obra da artista local Rosane Rodrigues
Tomimatsu3, fazendo-se uma relação das características das obras mundialmente
conhecidas e a atual . A presença do objeto da arte como imagem e sua leitura são
fundamentais para a construção da compreensão. É importante fazer com que os
alunos percebam essa proximidade do artista, do seu cotidiano. Tudo para ele é
muito distante e acaba se tornando banal. Ao observar as características de cada
período histórico, bem como o atual, ele será seduzido pelas cores e formas que irão
caracterizar a composição naturalista.
Trabalhar com artistas locais é importante para que haja uma proximidade do
aluno com o mundo da arte. Para eles, a criação é algo muito distante e não
conseguem ver a sua importância. O grande problema é encontrar artistas que
3 Desde a infância a pintura a fascinava. Sem condições de aprender e desenvolver, foi na escola, nas aulas de arte, que seus traços fortes e as cores quentes começaram a se concretizar. Procura por em suas telas o realismo, definindo cada detalhe e destacando ao máximo a expressão do olhar, que sempre a fascinou, por ser elemento fundamental da obra. A pintura a faz fugir da rotina e proporciona momentos de relaxamento.
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tenham obras inéditas, que não sejam somente comerciáveis, reproduzindo obras de
artistas consagrados.
A expressão do aluno será iniciada tendo como base as fotografias
analisadas, que agora fazem parte do repertório visual do aluno. Será feito um novo
recorte, para iniciar o processo criativo. Ele irá fazer o “seu enquadramento” .
Não podemos simplesmente supor que o aluno vá criar formas do nada. Ele
precisa ter um referencial, um começo, que faça com que ele procure alterar o que
está posto. Um simples olhar, não fará com que ele perceba as minúcias do que
está ao seu redor. Quando achar que o caminho a ser seguido é confiável ele irá,
por si só, buscar novas opções. Devemos lembrar, sempre, que o professor deve
mostrar os caminhos cabendo ao aluno achar as opções.
Ao fazer o seu enquadramento, o aluno já estará apto para começar a pintura.
Tudo deverá ser previamente preparado para que o produto final seja uma
consequência do trabalho idealizado pelo aluno. Agora as escolhas serão
individuais. A procura de misturas para obter as cores desejadas será um estudo
prazeroso que só os que fazem podem sentir. É nestas escolhas que o indivíduo
começa a ter confiança em si e no seu trabalho. Ele deverá perceber que é no seu
trabalho, aliado ao seu conhecimento, que visualizará a sua expressão. O
acabamento da obra, como colocação de uma moldura, é importante, pois irá dar um
destaque todo especial ao trabalho.
Trabalhar com figuras, envolve linhas, cores, formas, texturas e volumes. Este
trabalho terá a sua continuidade com o ensino da perspectiva, que é a ilusão de criar
figuras tridimensionais (volume) num espaço bidimensional (plano). Ela cria o efeito
óptico da profundidade, onde as formas se alinham por meio de linhas convergentes
para um único ponto, chamado de “ponto de fuga”. Quanto maior a distância do
objeto em relação ao observador, menor será o seu tamanho. Utilizam-se alguns
conceitos como: linha do horizonte (é a linha que se forma onde o céu e a Terra
parecem se encontrar. Situa-se ao nível dos olhos do observador) e ponto de fuga (é
o ponto imaginário na linha do horizonte onde as retas convergem -pode haver mais
de um). Agora, o aluno deverá interferir no espaço observado, utilizando a técnica
para maquiar a forma.
A segunda parada, é a arte idealista, que é uma arte mais formal, isto é, não
representa aquilo que é, mas aquilo que gostaria que fosse. Percebe-se, agora,
sutilmente, o processo de deformação, pois o artista coloca formas humanas ao
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elaborar sua idéia, e busca critérios qualitativos para dar significado à mesma. Agora
aparecem conceitos como proporção e equilíbrio que anteriormente não eram
evidenciados. Proporção é a organização harmoniosa de cada uma das partes de
um todo entre si e no conjunto, observadas as relações de quantidade, tamanho,
extensão, etc., e equilíbrio é a conjugação de forças opostas. Ele pode ser simétrico
ou assimétrico.
Estas características são encontradas na arte egípcia, onde o estilo idealista
foi tão marcante que facilmente encobre os outros estilos não-idealistas. A arte tinha
uma função social, a função de mostrar o poder, destacar o majestoso e o sublime.
O faraó deveria ter a eterna juventude. Na arte grega, há o uso de cânones e
aparece a beleza idealizada. É dada ênfase à vida. E no Renascimento, há uma
mudança de estilo. Período de redescoberta da arte e da cultura greco-romana
antiga, associada à crença na dignidade humana e no potencial criador do homem,
que era visto como o centro do universo. O propósito do humanismo era desenvolver
no homem o espírito crítico e a confiança em si mesmo. A mudança da Idade Média
para o renascimento foi pela passagem do interesse do sobrenatural pelo natural.
Passaram a questionar a autoridade da igreja e atribuíram maior importância ao ser
humano e à razão. Inicia a expansão do conhecimento científico, o estudo da
anatomia, proporção, equilibrio, luz e sombra e da perspectiva. È uma perfeição
estática, onde se tem apenas um ponto de vista das coisas, o do observador.
Sobre a mudança de representação da imagem, da Idade Média para o
Renascimento, Francis Wolff (2005, p. 40) fala: [...] a perspectiva geométrica, que permite a representação do espçao natural, e que sobretudo vai inverter o ponto de vista imposto pelo ícone. O ponto de vista fixo é o olho do espectador, quer dizer, também, efetivamente o do próprio pintor, e não mais o olho de Cristo ou do santo; as linhas de fuga convergem no quadro, e não mais, como no ícone ou na estátua budista, no espectador. Doravante, o verdadeiro olhar é o do homem sobre a imagem, não mais da imagem sobre o homem.
Esta, quando trabalhada de forma gradual em sala de aula, terá seus
resultados evidenciados no Ensino Médio. Toda teoria será iniciada já no Ensino
Fundamental, para fazer com que o aluno perceba esta forma clássica de
representação. Agora, o olhar terá que estar devidamente treinado para perceber as
formas e as linhas. Aliar arte à matemática se torna prazerosa quando o
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encaminhamento do professor for de uma forma clara e objetiva, com conhecimento
técnico. Ao observar os espaços da escola, cada aluno deverá encontrar o seu
ponto de observação para posterior representação. Devemos lembrar sempre que a
perspectiva é uma técnica, desenvolvida depois da invenção da câmara escura por
Leonardo da Vinci e que está posta para auxiliar os alunos. É um recurso que pode
ser dispensado por aqueles que dele não necessitarem. Pela experiência sabemos
que muito alunos já desenvolveram o olhar para representar as formas, seguindo os
padrões acadêmicos de representação. Como é um trabalho que tem muitos
detalhes, a preferência dos alunos é de trabalhar com o grafite, pois facilita o
trabalho já feito anteriormente. Pode-se optar também, na falta de espaços
adequados na escola, pelo uso da fotomontagem, que é uma combinação de
elementos, partes ou peças, para expressar um todo que expresse uma idéia.
O trabalho só estará completo quando for feita a pintura com massa acrílica,
onde os alunos poderão vivenciar outras experiências com diferentes materiais. O
resultado deste trabalho é muito gratificante pois retoma a auto-confiança dos alunos
em relação à criação. Muitos não imaginavam que poderiam produzir trabalhos com
uma beleza tão considerável. A troca de idéias cria um clima de reciprocidade e
descontração, tornando o ambiente criativo e prazeroso.
Uma obra só estará finalizada quando for exposta. Tanto o artista como o
público é parte integrante da obra. Este é um exercício de observação, tanto de
quem faz como de quem a contempla diante de si, onde a troca de conhecimentos
irá demonstrar se os mesmos entenderam a proposta e comecem a perceber as
transfromações que as imagens irão apresentando, e, principalmente, compreender
que elas irão utilizar os mesmos elementos formais para sua construção,
independente de haver ou não figura. É só assim que a sensibilidade vai se tornando
mais desenvolvida e aguçada.
O distanciamento entre a produção artística e o publico foi acentuado com o
surgimento da arte moderna, onde o artista pode criar livremente sem a interferência
de um mecenas, conseqüência do capitalismo, acabando por ficar isolado e chega,
em muitos casos, a criar somente para outros artistas. A arte moderna foi uma arte
experimental em busca do problema do “estilo”, onde as concepções sobre o espaço
e a percepção alteram-se, daí o surgimento de tantos movimentos ou “ismos”, como
um grito de guerra. Ela é, acima de qualquer outra coisa, a arte da cor. Os artistas
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do séc XX tiveram que se tornar inventores, empenhando-se na originalidade. Assim
comenta Menezes (1997, p. 90), o espaço deixará de uma vez por todas de ser considerado como espaço físico, objetivo e exterior- um dado natural-, passando a ser, em contrapartida, intelectual, subjetivo, perceptivo. Um novo espaço que vai incorporar a um só tempo várias dimensões: física, psicológica, sentimental e temporal. A arte vai deixar de ser considerada como expressão de regras únicas e inabaláveis. Até seu próprio e inatingível fruto, o objeto artístico, passará daí em diante a ser posto constantemente em questão.
A terceira parada será a Arte Expressionista e para trabalhar em sala de aula,
terão que ser utilizadas imagens de artistas que utilizam a deformação, como é o
caso de Vincent Van Gogh, obcecado por religião e serviço social ele usou a arte
para consolar os menos afortunados. Pintava alucinadamente e utilizava a cor com
violência em formas distorcidas. Era sujeito a crises de profunda solidão, sofrimento
e colapso emocional. Ora era deprimido, ora era hiperativo, produzindo, durante dez
anos, oitocentas telas e tantos outros desenhos. Era o modelo do gênio sofrido que
se entregava totalmente à arte. Também foram utilizadas obras de Edvard Munch,
pintor norueguês que demonstrava na sua arte seus problemas psicológicos,
provenientes de uma infância traumática ocasionada pela morte da mãe e da irmâ,
sendo então criado pelo pai, fanático religioso. Chegou a ser internado, num
sanatório, por depressãoe crises nervosas. Ficava meses sem pintar, mas quando
retornava, pintava freneticamente utilizando cores violentas e ritmos lineares
perturbadores com pinceladas violentas. Interessava-se pelo ser humano, que vive,
sofre, respira e ama, como se os visse por dentro, representando seus sentimentos.
Para ele, tudo se abandona em nome da dor.
O destaque maior será nas linhas, que vão ser trabalhadas para modificar a
superfície, criando relevos e texturas. Estes exercícios têm uma importância
fundamental no trabalho, pois as linhas, num trabalho repetitivo, criarão sensações
visuais diferentes. Elas podem ser comparadas a palavras ditas por alguém, ou a
gestos. Por mais que se quisesse, nunca estas palavras ou gestos se repetiriam -
são únicos, no fluir do tempo e no espaço. Referem-se a alguma coisa; elas vêm
carregadas de emoção, e a emoção faz com que o artista se expresse de uma
maneira específica e não de outra.
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Outro recurso utilizado foi a caricatura, que é expressionista. É uma arte que
joga com as parecenças de sua vítima e as distorce para expressar justamente o
que sente a respeito dela. O artista local utilizado foi Alexandre Roberto Schwingel –
“Alexandre Trilha”4. Deverão ser utilizados textos, que comentem essa visão interior
de cada um, esse lado subjetivo que todos nós temos. Cabe ao artista transformar
tudo isso em visualidade. Uma coisa é o que nós vemos, outra é o que nós sentimos
em relação ao que vemos.
Van Gogh, após pintar um retrato “correto”, comenta em uma de suas cartas:
“Exagerei a cor clara do cabelo, usando laranja, cromo e amarelo-limão, e por trás
da cabeça não pintei a parede trivial do quarto, mas o infinito. Fiz um fundo simples
com o azul mais rico e intenso que a paleta era capaz de produzir. A luminosa
cabeça loura destaca-se misteriosamente deste fundo azul-forte como uma estrela
no firmamento. Lamentavelmente, meu caríssimo amigo, o público apenas verá
nesse exagero uma caricatura- mas o que nos importa isso?”, e continua, “Em vez
de tentar reproduzir exatamente o que eu tenho diante dos olhos, eu uso a cor mais
arbitrariamente, de forma a expressar-me vigorosamente” (GOMBRICH, 1999, p.
564).
A arte expressionista, para alguns estudiosos é o movimento que inicia a Arte
Moderna, é aquela onde há o exagero proposital na forma. Aparecem as distorções,
onde se acentua certos aspectos formais, indispensáveis para uma maior
expressividade da imagem, em todas as épocas e estilos. Arte que apela ao
emocional utilizando o movimento das linhas, das cores vibrantes (ênfases formais).
Cada linha carrega uma qualidade expressiva que nos dá a idéia de dinamicidade,
estabilidade, paz, movimento, vitalidade, ação, alegria, graça, força, confusão. A
representação do espaço ganhou novas concepções, isto é, a natureza passou a ser
observada e representada por outros meios. Prevalecem os contrastes resultando
fortes tensões espaciais. Representa o mundo interior do artista, as suas emoções.
A expressão das cores é um apelo visual intenso, é através dela que obtemos
impacto expressivo muito maior. Ela influencia todos os setores da experiência
humana, sendo a linguagem mais simples e direta, a comunicação mais imediata
que existe.
4 O desenho está presente em sua vida desde os doze anos. Definiu-se profissionalmente pela arte aos dezoito. Trabalha com grafite, aerógrafo e pintura em tela, evidenciando sempre os temas polêmicos como os vícios, a violência, os sentimentos angustiantes e as depressões humanas.
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Encontramos estas cracterístas na arte Barroca, onde há a busca de
conhecimentos mais profundos sobre a psiqê humana; o comportamento mais livre
das imposições sócio-políticas; a valorização do interior, do cerne, daquilo que não
está visível, aparente e reconhecido de imediato. Abstrai-se, retira-se o relato que a
figura traz e incita-se o intelecto e a emoção a buscar novas relações de espaço,
tempo, cor e forma. O barroco enfatiza o movimento e a mudança, dramatiza os
fenômenos da vida. Arte exuberante, cheia de vitalidade e de ritmos triunfantes.
O Expressionismo, tem a guerra como marco divisor de duas fases: antes
dela, caracteriza-se, plasticamente pela gravura, os efeitos de luz e sombra. Depois
dela, transforma os temas motivados pela guerra, como a perda e o sofrimento em
engajamento político. Contestavam a sociedade industrial, a massificação e
pregavam o retorno à natureza. A pretensão dos artistas, não era apenas romper
com os cânones acadêmicos mas buscar uma nova maneira de viver e de fazer arte.
Achavam que ela devia expressar os sentimentos do artista. Usavam formas
distorcidas, exageradas, cores destinadas a causar impacto emocional e contornos
abruptos. Retratavam o patético, os horrores, os vícios e a guerra.Surgem cenas
que evidenciam a beleza do feio, chocando o expectador, chamando sua atenção e
causando até uma certa repulsa. Buscavam uma nova realidade.
Já os fovistas ou fauvistas, queriam comunicar a emoção e a alegria com
formas simples, ingênuas, sendo estas apenas sugeridas e não reais. Sacrificavam
a perspectiva e luz e a sombra pelo prazer da cor. Usavam cores puras, como se
fossem bárbaros, sem misturas, como o vermelho, azul e o verde, contornos com
traços largos, preto, cinza ou branco.
O registro de todas estas informações feito em forma de gravura, que é um
múltiplo de uma Obra de Arte, reproduzida a partir de uma matriz, foi a técnica
utilizada para reproduzir as linhas utilizadas pelos expressionistas. É um trabalho
artesanal, enumerado e assinado um a um, sendo revisado constantemente. A
matriz pode variar entre madeira, pedra, metal, tela de seda e hoje se utiliza
materiais alternativos, como isopor, papelão, argila, entre outros. Inicialmente os
temas foram livres para valorizar a expressão das linhas, posteriormente foram
pesquisados os problemas sociais que mais se aproximavam da realidade dos
alunos, aqueles que mais o sensibilizavam para poder ser iniciada a produção das
gravuras. Foram retratadas a pobreza, fome e solidão. Em um depoimento sobre a
tristeza, uma aluna assim se manifesta, “algum tempo ela fez parte de minha vida,
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perdi alguém que amava muito e não conseguia me conformar, mas o tempo tratou
de sarar a ferida”. Outro, referindo-se sobre a fome, comenta, “... não tenho casa e
nem comida e assim eu vivo, correndo muitos perigos. Me arrisco no sinal, peço
esmola e acabo achando isso normal”. A grande dificuldade desta etapa foi trabalhar
com a forma humana. Neste caso foram utilizadas imagens de revistas para o
modelo da forma humana. Posteriormente, foi utilizado a deformação da forma para
criar a expressão.
A quarta e última parada deste longo caminho, é a Arte Abstrata. Abstrair é
retirar, separar ou eliminar certas características ou certos elementos de um todo
originalmente integrado, apartar. Considerar isoladamente coisas que se acham
unidas, concentrar-se mais em determinados aspectos que são semelhantes. Na
arte tem o sentido de retirar a forma figurativa e manter apenas os elementos
formais, ou seja, as linhas, as formas, as cores, os volumes e as texturas. O gesto
traduz a intenção e sua liberdade permite também a expressão interior
transformada. A arte abstrata propõe a reflexão. É uma arte que surge de maneira
informal, sem preocupação com imposições rigorosas. Tinha como objetivo
abandonar a expressão fotográfica, repudiando o real, descartando a perspectiva e
os jogos de luz e sombra. Criavam imagens alterando valores formais, passando do
mundo concreto para o subjetivo, contando fortemente com a natureza dinâmica da
cor. Muitas vezes faziam relação entre cor e música, onde as “sensações “ do olho e
do ouvido, alcançavam uma nova significação, sem nenhuma indicação explícita,
levando o ouvinte apenas sentir a proposta do compositor. Sonhavam com uma
música puramente visual.
Kandinsky, Mondrian e, no Brasil Volpi, entre outros, foram artistas que
refletiram de forma muito profunda sobre o conteúdo de uma pintura. Estes artistas
começam com a arte figurativa e caminham para a abstração. Este processo foi aos
poucos sendo desenvolvido. Para o aluno esta é a parte difícil da compreensão,
pois eles, nesta idade são imediatistas. Para tanto é necessário mostrar todo
processo de desenvolvimento criativo do artista. Falar de cada fase, mostrar
imagens, fazem com que o aluno perceba que na arte o trabalho do artista não é
imediato.
Kandinsky observou que as formas e cores, quando não estão ligadas à
representação real, podem despertar mais a sensibilidade do que nossa percepção
intelectual. Ele via na cor a expressão mais pura do espírito humano, sendo o ponto
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e a linha a base de seu desenho. Sendo abstrata, a imagem não tem uma
representação figurativa. Embora não representem nada, não se pode dizer que não
signifiquem nada. Para Kandinsky, a cor podia despertar emoção independente de
conteúdo. Suas obras apresentam dinamismo, movimentos visuais explosivos. Essa
grande agitação pode ser vista como alegre, triste ou dramática. Comparava as
cores com a intensidade dos sons. Quanto mais intenso o som mais saturada a cor e
automaticamente as linhas utilizadas eram grossas. Diferentes timbres para
diferentes tons das cores e para altura dos sons diferentes cores e traços
ascendentes e descendentes. Associa o azul ao som da flauta e à medida que vai
escurecendo chega ao violoncelo e por fim chega ao órgão, tom mais escuro. O
verde é o violino, o amarelo do trompete, o vermelho das tubas e tambores, o violeta
do baixo e o branco ao silêncio. O preto é a ausência, a depressão e a morte.
A relação entre formas e cores também é explorada. Assim cada cor terá uma
sensação diferente dependendo da forma que a circundar. Podem ser círculos,
triângulos ou formas pontiagudas.
Menezes (1997, p.139) comenta sobre a obra de Kandinsky e nos diz: Assim, a pintura de Kandinsky não fala aos olhos, nem à mente ou ao intelecto. Deve soar como a música de Schönberg, diretamente nas profundezas do ser, tocando as finas cordas da alma. Sua ressonância será tão mais forte e sensível quanto mais cultivado for o espírito que o recebe. Esse princípio da necessidade interior (ineer need) constitui-se, segundo ele, por três necessidades místicas. O artista como criador, deve exprimir sua própria personalidade; como homem de seu tempo, falar a linguagem de sua época, de seu povo; como artista, deve expressar o que é próprio da arte, seu elemento puro e eterno, que existe em todos os povos e todas as épocas.
Essa sensibilidade que nos fala Menezes é a base de todo percurso da arte.
Para que você tenha uma resposta dos alunos é preciso que a sensibilidade dos
mesmos seja trabalhada. É preciso que ele perceba o mundo ao qual está inserido
e fazer uma leitura. É preciso aceitar o diferente, permitir, aos poucos novas
possibilidades de criação para começar a se expressar.
Mondrian simplificou progressivamente as formas naturais, suas árvores
passam pelo cubismo e culminam em uma teia de linhas que se tornam
praticamente irreconhecíveis. Para Strickland, no equilíbrio do quadro, o espaço
entre as linhas vem a ser tão importante quanto as próprias linhas, posteriormente
estes dois elemntos tornam-se o tema único de sua obra. Baseou seu estilo em
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linhas e retângulos. Teorizando que as linhas não existem na natureza, ele decidiu
usá-las exclusivamente para criar uma arte de ordem e harmonia-qualidade
ausentes no mundo revirado pela guerra. Para ele, as linhas verticais representam
vitalidade e as horizontais, tranqüilidade. O cruzamento das duas era o ponto de
equilíbrio dinâmico.
Volpi também tem a sua trajetória, brincando com a cor. Seus trabalhos
partem de paisagens, festas e fachadas e tendem para a esquematização,
brincando com formas e cores. As fachadas lembram casas geminadas, presentes
nos centros velhos das grandes cidades. Estas casas coladas, nos lembram falta de
privacidade, tal qual é vivenciado nos cortiços. Criava suas tintas em suas formas
bem brasileiras, que nos lembram as festas de São João e retratava as bandeirinhas
com muita alegria, dança e musica.
Assim como Mondrian, com seus quadriláteros e cores puras, Volpi trabalha
inúmeras possibilidades com suas bandeirinhas e começa a trabalhar o espaço
pictórica utilizando apenas este elemento geométrico.
Estes artistas reavaliaram alguns conceitos e construiram outros a respeito do
fazer artístico, onde as cores tem um destaque especial, sendo consideradas como
o centro da obra abstrata.
A artista local foi Maria Conceiçao Höfling5, que com sua sensibilidade
conseguiu transformar as imagens ao seu redor reduzindo-as a cores, linhas e
texturas.
Nesta etapa do projeto o estudo do espaço pictórico se faz necessário. Ele
determina as diferentes impressões que podem ser sugeridas. Dependendo da
posição em que as formas estarão dispostas no plano, seu conteúdo expressivo irá
sofrer alterações. É uma arte que deve ser muito mais elaborada, pois exige do
autor uma organização mais aprimorada e do observador uma atenção mais
minuciosa e exigente. Descobrir o espaço é descobrir-se nele. É pensar-se dentro
do meio ambiente em que se vive. Através de nossa sensação de estarmos contidos
num espaço e de o contermos dentro de nós, de o ocuparmos e o transpormos, de
nele nos desequilibrarmos e nos reequilibrarmos para viver, o espaço é vivência
5 Natural de Rio Claro, estado de São Paulo. Filha de pais com pouco estudo, mas com muita visão de o que é cultura. Iniciou aulas de pintura aos 10 anos e viveu numa família de maestros, artistas plásticos, músicos e modelistas. A expressão da arte em sua vida reflete o seu jeito de ser e pensar, cultivando sempre o belo externo, mas valorizando realmente o interior. Gosta de pintar, escreve livros, realiza o artesanato nas suas várias formas e desenvolve o figurinismo.
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básica para todos os seres humanos. Tudo aquilo que nos afeta intimamente em
termos de vida precisa assumir uma imagem espacial para poder chegar ao nosso
inconsciente.
A culminância da atividade foi a realização de uma obra com a pintura em
spray sobre tela. É um material que chama a atenção dos alunos por ser um material
muito utilizado nos grafites urbanos, realizado em muros ou paredes. É feito em um
espaço coletivo e deixa uma marca pessoal do artista que o criou. Deve-se deixar
bem claro para o aluno que o grafite tem uma grande diferença das pichações, muito
comuns em grandes cidades.
Este material exigiu um aprimoramento técnico dos alunos, pois a sua correta
orientação evitou problemas durante o andamento da atividade. Foram utilizados
materiais com diferentes texturas para produzir efeitos os mais variados, A euforia
motivada pelo material foi muito grande. Todos queriam participar e produzir a sua
obra.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a finalização da implementação do projeto na sala de aula, com base
nos objetivos propostos no presente estudo, concluiu-se que assim como se
aprende a ler, deve-se aprender a ver. É preciso entender, interpretar e operar com
os códigos visuais. Para que isso aconteça efetivamente, deve-se utilizar todas as
ferramentas disponíveis, como textos, músicas, imagens de obras de artistas locais
e mundiais, minimizando-se as lacunas existentes na educação atual, que não é
mais só verbal, mas também visual.
Trabalhar com a arte moderna é mostrar ao aluno o meio de uma caminhada.
Esta ruptura só será entendida quando se parte de uma arte idealizada, do real, das
formas de fácil identificação. O aluno deverá passar por toda essa caminhada que
passou o artista até chegar ao trabalho não figurativo, ou seja, a abstração. Todas
as etapas do projeto tiveram como prioridade o conhecimento artístico, que é a base
de todo o trabalho com arte e faz com que o aluno perceba toda a riqueza cultural da
humanidade e comece a criar as suas próprias concepções sobre o processo
criativo.
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A escolha dos materiais utilizados, para que seja um suporte nas aulas, deve
ser muito bem realizada. Deve-se utilizar todos os argumentos disponíveis, como
textos, músicas e imagens inseridos na História da arte bem como aqueles da
atualidade. Esta contextualização é importante para que o aluno encontre
significados para o que está sendo estudado.
Esta tarefa exige muito do professor, que deverá ter a formação específica
dentro das áreas artísticas. Ele é insubstituível, pois terá que ter um conhecimento
da História da Arte, das técnicas utilizadas, bem como das possibilidades de
trabalho e de expressão da turma. É ele quem dará o direcionamento das aulas,
tendo um planejamento bem estruturado, baseado em conteúdos, metodologias e
objetivos bem organizados, sempre tendo como prioridade o conhecimento, o
trabalho e a expressão do aluno.
O uso de materiais diferenciados, durante o projeto na elaboração das
diferentes atividades, possibilitou a ampliação do repertório criativo dos alunos.
Estes perceberam que a arte poderá ser realizada com possibilidades variadas,
mudando as suas concepções em relação às aulas. Foi possível agradar a todos os
gostos, não permanecendo em uma só técnica, como é o costume na sala de aula.
Cabe ao professor a tarefa de buscar, constantemente, novas alternativas
para tornar as aulas de arte instigantes e prazerosas. Este deve ficar atento às
novas manifestações que surgem diariamente e incorporá-las nos seus conteúdos. É
ele quem deve ser criativo, descobrir novas possibilidades para poder passar isso
para os seus alunos, encontrar espaços que possam ser utilizados para a realização
das atividades. Para isso faz-se necessário o aperfeiçoamento constante, a leitura e
o domínio de novas técnicas. Estas serão as ferramentas indispensáveis a cada um
que se propõe ser um educador. O aluno irá colher as sementes deixadas. Se forem
plantadas, darão bons frutos, caso contrário, a semente ficará sem germinar e estará
perdida.
Esta responsabilidade é sabida pelo professor de arte. Diante de uma carga
horária excessiva com aulas, planejamentos, reuniões e cursos, para que tenha uma
progressão na carreira, este mesmo professor se vê diante de muitos desafios que
vão cada vez mais se acentuando e percebe que não tem muitas possibilidades de
realizar as mais simples tarefas e acaba achando que todos têm responsabilidade
pelas suas deficiências. Falar de criatividade e novas opções exige espaço, tempo,
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dinheiro e disposição. A leitura exige reflexão e novas possibilidades que o professor
não está percebendo.
O presente projeto abriu algumas possibilidades que até então não estavam
sendo vistas. Deram ao professor uma luz que estava sendo apagada aos poucos.
Pode-se constatar que com tempo, muita leitura e uma boa orientação as
opções vão sendo encontradas. Sabe-se que há ainda muito a ser feito, mas o
caminho foi traçado e é preciso que todos vivenciem esta situação para poder
perceber que a arte é um patrimônio da humanidade e que o aluno tem o direito de
adquirir este conhecimento.
REFERÊNCIAS
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PEREIRA, Kátia Helena. Como usar artes visuais na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2007. REVISTA CARTA NA ESCOLA. São Paulo: Ed. Confiança, 2009. Edição n. 34 REVISTA EDUCAÇÃO. Abr. 1998 STRICKLAND, Carol. Arte comentada: da pré-história ao pós-moderno. Tradução de Ângela Lobo de Andrade. 15. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. WOLFF, Francis. Por trás do espetáculo: o poder das imagens. In NOVAES, Adauto (org.) Muito além do espetáculo. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2005.
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