DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: questões e reflexões.
Aparecida das Dores Andrade Mendes1
Mauro Parolin2
Resumo
A problemática ambiental está estampada em todos os meios de comunicação, assim como a ideia de desenvolvimento sustentável. Ideia esta nem sempre muito clara. Nesse sentido, investigou-se as diferentes concepções sobre o desenvolvimento sustentável e a análise de como esse tema vem sendo abordado pela comunidade científica e concomitantemente pela mídia. A implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica exigido pelo Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE foi efetivada na 2ª série A, do Ensino Médio do Colégio Estadual Professor Darcy José Costa- EFM (Campo Mourão/Paraná), na qual se observou como a discussão sobre o desenvolvimento sustentável faz com que o educando perca a noção dos problemas ambientais locais. A pesquisa foi metodologicamente dividida em: a) aplicação de uma redação sobre o tema; b) análise e quantificação de palavras-chave das redações; c) estudo do tema com enfoque para os conceitos e ideologias; d) visita a áreas consideradas e destinadas à preservação ambiental (com relatório); e) aplicação de uma segunda redação; f) análise e quantificação da segunda redação. Os resultados da primeira redação indicaram que os alunos tinham uma ideia e conceitos mais relacionados à visão transmitida pela mídia. Os estudos e discussões realizadas ao longo do projeto levaram os alunos a questionarem tais informações de modo mais crítico e ativo, e assim sendo, relacionando os problemas locais com os globais, situação evidenciada na segunda redação e nos relatórios da atividade de campo. No término da implementação do projeto, o resultado observado foi a mudança do foco dos alunos sobre o Desenvolvimento Sustentável, pois grande parte da turma passou de uma visão aparentemente limitada, midiática e catastrófica para uma concepção mais científica estabelecendo relações com interesses políticos e econômicos, considerando também a capacidade do homem de adaptação às mudanças ambientais.
1Professora integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), licenciada em
Geografia pela Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão (FECILCAM), Pós-
graduada em: O ensino de História no fim do século XX, pela FECILCAM, educadora do Ensino
Fundamental e Médio da Rede Pública do Estado do Paraná e lotada no município de Campo Mourão
2 Professor Doutor, Departamento de Geografia da FECILCAM (Faculdade de Ciências e Letras de
Campo Mourão) - Mauro [email protected]
Palavras - chave: Sustentabilidade, Programa de Desenvolvimento Educacional, Questões Ambientais.
Introdução
O que é desenvolvimento?
A palavra desenvolvimento nos remete a algumas indagações. E se
referirmos a uma sociedade fica implícito que se trata primeiramente de crescimento
econômico, logo relacionamos com progresso, melhoria da condição financeira, que
nem sempre condiz com a melhoria da qualidade de vida da população. Furtado
(1974) pontua que a ideia de desenvolvimento econômico é um simples mito.
Segundo o mesmo autor, é graças a essa ideia que tem sido possível desviar as
atenções da tarefa básica de identificação das necessidades fundamentais da
coletividade e das possibilidades que permitem ao homem o avanço da ciência, para
concentrá-las em objetivos abstratos, como são os investimentos, as exportações e
o crescimento. O Brasil já vivenciou diversas ondas de crescimento, uma frase
tornou-se popular “tem que crescer para dividir”. O fato é que não houve divisão, e
sim o aumento da desigualdade social. Furtado (op cit) questiona ainda que essa
ideia tenha sido de grande utilidade para mobilizar os povos da periferia e levá-los a
aceitar enormes sacrifícios, para legitimar a destruição de formas de culturas
arcaicas, para explicar e fazer compreender a necessidade de destruir o meio físico
para justificar formas de dependência que reforçam o caráter predatório do sistema
produtivo.
O dicionário Aurélio (2008) traz a palavra desenvolvimento como ato,
processo ou efeito de desenvolver-se, crescimento, progresso e prosperar. Já em
relação ao termo sustentar, são possíveis os seguintes significados: segurar para
que não caia, suportar, resistir, sendo assim, serve de escora para impedir que caia,
ou seja, consiga equilibrar-se. Logo, pode-se dizer que houve uma união perfeita
para se referir aos mais diversos assuntos para o dado momento, criando em seu
entorno uma nebulosidade. Soando como sinônimo de crescimento econômico nas
mais diversas literaturas sobre o assunto.
Segundo Veiga (2008), o crescimento econômico, ocorrido durante a década
de 1950, em diversos países, considerados como subdesenvolvidos não se traduziu
necessariamente em maior acesso de populações pobres a bens materiais e
culturais, como saúde, educação, entre outras, como ocorrera nos países
considerados desenvolvidos.
A proposta de Desenvolvimento Sustentável apresenta-se em caráter de
urgência, como um caminho seguro na construção de uma sociedade moderna e
sustentável. Seria a solução para a crise ambiental? E como manter e até mesmo
ampliar o crescimento econômico e os benefícios já conquistados pelos
conhecimentos científicos e tecnológicos? Sabe-se que todas as nações buscam
incessantemente o desenvolvimento econômico, científico e tecnológico, essa
dualidade economia/ecologia não precisa estar em lados opostos. Uma economia
produtiva e pujante exige trabalhadores educados, que se sintam motivados pelo
senso de oportunidade (PORTER apud FERNANDES e ANDRADE, 2010). A
competitividade econômica não precisa ser sacrificada para a preservação do meio
ambiente, pois a poluição decorrente das atividades empresariais resulta da
utilização improdutiva dos recursos.
Diante do exposto acima, percebe-se que a crise ambiental poderia ofuscar o
seu crescimento, então antecipar a construção de uma proposta de caráter genérico
e global que possibilite a continuação do crescimento e aproveitando esse “nicho de
mercado”, passando a ideia de que trabalha em prol do meio ambiente, seria muito
relevante. Segundo a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento (CMMAD, 1991), desenvolvimento sustentável é aquele que
atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as
gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades. Ainda para CMMAD o
desenvolvimento sustentável estrutura-se em dois conceitos-chave: o conceito de
“necessidades”, sobretudo as necessidades essenciais dos pobres do mundo, que
devem receber a máxima prioridade; e o segundo conceito que remete a noção das
limitações que o estágio da tecnologia e da organização social impõe ao meio
ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras.
Alguns questionamentos fazem-se necessários, como por exemplo, se o
desenvolvimento sustentável será o passaporte para o sucesso da existência dos
seres vivos no planeta Terra, ou só retardará o processo? Esta pergunta abre um
novo caminho e um convite à reflexão e ao julgamento crítico sobre os fundamentos
da modernidade.
A humanidade vem alterando sistematicamente a natureza, o Homem foi
fazendo e refazendo, criando e recriando, ampliando conhecimentos e modificando
seu espaço local. Desde a Revolução Industrial, tem-se o aumento exponencial do
uso de tecnologias visando aumentar à produtividade da indústria e do campo. Esse
domínio leva indubitavelmente à ideia da natureza como algo separado de sua
própria existência. Nesse sentido, a natureza torna-se algo cada vez mais sujeito à
dominação.
O discurso ambiental, e, associado a ele o do desenvolvimento sustentável, é
tema constante na mídia, no entanto, esse assunto na maioria das vezes é tratado
de maneira alarmista ou apocalíptica, carecendo de informações científicas ou
explicações fundamentadas em conhecimento científico. Diante desse fato, o
educador assume um papel extremamente importante, pois tem que “filtrar” essas
informações, e então, orientar e esclarecer o aluno sobre os fatos anunciados.
Nesta perspectiva, a implementação do projeto de intervenção pedagógica, a
partir desta temática é primordial, pois investigará o discurso do desenvolvimento
sustentável, tendo por base duas abordagens: a) como provável solução para os
problemas ambientais; b) mera especulação para atrair investimentos financeiros ou
impossibilitar o crescimento socioeconômico nos países em desenvolvimento.
Os estudos realizados permitem afirmar que os cientistas, os economistas, os
ecologistas e os políticos não estão em consenso sobre essa questão.
Com esta perspectiva em mente, o projeto de Intervenção Pedagógica veio ao
encontro das necessidades de atualização dessa discussão, uma vez que, a sua
implementação e resultado permitiram uma reflexão, embora ainda preliminar, sobre
a dinâmica da natureza, suas alterações pelo emprego de tecnologias de exploração
e produção.
Vale frisar que o estudo certamente levará a outros questionamentos que
passam despercebidos no momento. Sendo assim, é possível afirmar que a
discussão sobre desenvolvimento sustentável permitirá um avanço teórico e prático
para a comunidade escolar envolvida, mas também corroborará com aqueles
profissionais que irão se beneficiar com o uso dos materiais didáticos3 produzidos
por meio desta pesquisa.
É válido dizer que no desenvolvimento deste trabalho foram contemplados os
Conteúdos Estruturantes: A Dimensão Socioambiental do Espaço Geográfico, que
de acordo com as Diretrizes Curriculares de Educação Básica de Geografia - DCE
(PARANÁ, 2008), afirma que a questão socioambiental não se restringe aos estudos
da flora e da fauna, no entanto à interdependência das relações entre sociedade,
elementos naturais, aspectos econômicos, sociais e culturais. E ainda, a “Dimensão
Política do Espaço Geográfico” que engloba os interesses relativos aos territórios e
às relações de poder que as envolvem.
Fundamentação teórica
Conforme Amazonas e Nobre (2002), foi no final dos anos 1980, que surgiu o
termo desenvolvimento sustentável, um conceito vago e contraditório que como num
passe de mágica, permitiu a reunião de desenvolvimentistas e ambientalistas,
conseguindo por sob seu guarda-chuva posições de início politicamente
inconciliáveis. Em 1992, na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e
o Desenvolvimento (CNUMAD) também conhecida como ECO 92, a expressão
“desenvolvimento sustentável” consolidou-se e passou a ser utilizada
internacionalmente nos mais diversos assuntos, relacionando-a ao meio ambiente e
ao desenvolvimento das nações. Ratificando esta ideia, Montibeller (2001) escreve
que a proposta de desenvolvimento sustentável está baseada na eficiência
econômica, social e ambiental.
Segundo Faria e Carneiro (2001), o conceito de sustentabilidade está
intimamente ligado a uma questão mais política que ambiental, os reflexos dessa
dicotomia seriam os episódios de degradação ambiental. Os autores afirmam que é
um erro considerar a sustentabilidade somente do ponto de vista ecológico, e assim
também o é, se restringi-lo ao econômico, social ou ao cultural, pois a, longo prazo
3 Material Didático, parte integrante das exigências do Programa de Desenvolvimento Educacional
(PDE).
nada se sustenta por partes. Nesta mesma linha de raciocínio, Rodrigues (2006)
alerta sobre a inconsistência da concepção do desenvolvimento sustentável, cuja
fragilidade visa a ocultar uma agenda política pautada na manutenção da dominação
de classe. Ainda segundo Rodrigues (op cit), tal fato desperta certo constrangimento
entre as gerações, já que impõe limite ao crescimento, que poderia reverter-se em
melhorias na qualidade de vida, ainda tão almejadas e não conquistadas pelas
nações em desenvolvimento e subdesenvolvidas.
De acordo com Layrargues (1998):
[...] o que diferencia o desenvolvimento sustentável do desenvolvimento convencional é que esse último – leia-se as forças do mercado -, sob pressão da nova realidade ecológica e na necessidade de assumir uma nova postura, desponta sob uma nova roupagem. O mecanismo, cujo funcionamento é dependente da lógica do mercado, sequer foi abalado, ou melhor, saiu até mais fortalecido.
A proposta de um novo desenvolvimento na concepção de Layrargues (1998)
é que o novo estilo de desenvolvimento, traduzido pelo desenvolvimento
sustentável, que poderia significar uma mudança de rumo, permanece na mesma
rota de sempre, o problema é acreditar em uma proposta de desenvolvimento
sustentável que pretenda preservar o meio ambiente quando na verdade preocupa-
se tão somente em preservar a ideologia hegemônica.
Diante da conceituação de desenvolvimento sustentável apresentada pelo
CMMAD (1991), já informada no início desse trabalho. Vale destacar Montibeller
(2004), citando Enrique Leff, chamando-nos a atenção para a retórica do
desenvolvimento sustentável que reconverteu o sentido crítico do conceito de
ambiente em discurso voluntarista, proclamando que as políticas neoliberais haverão
de conduzir-nos pela via mais eficaz: o crescimento econômico guiado pelo
mercado.
Nesse sentido, a humanidade ainda não se deu conta da real intenção da
proposta do desenvolvimento sustentável, principalmente as nações
subdesenvolvidas que contam com uma educação precária, sem força de
movimentação diante do cenário proposto. Para Veiga (2008), o termo sustentável,
atualmente, é usado para os mais diversos fins, havendo abusos. Ainda segundo
ele, tal fato revela-se como positivo, na medida em que provoca discussões sobre as
questões ambientais e de desenvolvimento.
O estudioso Pinto (2010) propõe que devemos pensar a sustentabilidade
ambiental com toda a sociedade, educando suas ações, estabelecendo limites de
consumo, envolvendo consumidores e empresas que devem desenvolver produtos
ecologicamente corretos a partir de materiais que não agridam o meio ambiente. É
fácil perceber que a proposta estabelecida por Pinto (op cit) implica em uma
mudança abrupta do paradigma capitalista, principalmente quando se equaciona o
aumento de custos financeiros e a restrições dos lucros.
Por outro lado, Capra (2010) enfatiza que para construir uma sociedade
sustentável é preciso fazê-la de tal forma a não interferir na já provada capacidade
de a natureza sustentar a vida, devendo entender como isso acontece.
Pode-se acrescentar que o entendimento do discurso do desenvolvimento
sustentável nem sempre é fácil, e, até mesmo governantes ou pessoas ligadas ao
poder, parecem não entendê-lo, como ficou evidente na Conferência do Clima em
Copenhagen; a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (eleita em 2010,
Presidente da República), em seu discurso afirmou que “o meio ambiente é sem
dúvida nenhuma, uma ameaça ao desenvolvimento sustentável e isso significa que
é uma ameaça para o futuro do nosso planeta e para o nosso país.” (ROUSSEFF,
2010).
Conforme Leff (2001b), as diferentes vertentes da sustentabilidade
repercutirão sobre as estratégias e conteúdos da educação ambiental. Ainda
segundo ele, serão diferentes os efeitos sobre o processo educacional, se a
transição para a sustentabilidade global privilegiar os mecanismos do mercado para
valorizar a natureza e a mudança tecnológica com o intuito de desmaterializar a
produção e limpar o ambiente.
Trevisol (2003) informa sobre os desafios da educação para a
sustentabilidade, segundo ele, cabe à sociedade atual que se moderniza e se
impulsiona pela globalização em curso esta tarefa. Pois, ela transforma
continuamente e sucessivamente o tempo, o espaço, as culturas, os indivíduos, as
paisagens e os lugares.
Ainda, Trevisol (op cit) afirma que as discussões sobre sustentabilidade vêm
produzindo mudanças significativas em muitas áreas e setores da sociedade. A
educação vem apropriando-se do debate e respondendo aos desafios que ele
coloca. Graças aos esforços dos educadores, militantes das ONGs e intelectuais, já
se obteve importantes avanços. Muitos esforços foram empreendidos para tematizar
meio ambiente, educação e sustentabilidade.
Nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica (PARANÁ, 2009) tem-se:
A concepção de meio ambiente não exclui a sociedade, antes implica compreender que em seu contexto econômico, político e cultural estão processos relativos às questões ambientais contemporâneas, de modo que a sociedade é componente e sujeito dessa problemática. (PARANÁ, 2009).
Faz-se, portanto, necessário que estas questões sejam amplamente
discutidas e avaliadas na escola, ambiente ideal para tais reflexões. Esta ideia
também é compartilhada por Trevisol (2003), quando o mesmo indica a escola como
espaço ideal para a educação ambiental, mencionando os professores como os
mentores por excelência, pois sem eles, a educação ambiental não se aprofunda
enquanto prática educativa na escola.
Por conseguinte, Leff (1999a) reitera que se faz necessário a incorporação de
valores ambientais e novos paradigmas do conhecimento, visando à formação de
novos atores da educação ambiental e do desenvolvimento sustentável. No seu
entender, a noção de sustentabilidade foi sendo divulgada e vulgarizada, até fazer
parte do discurso oficial e da linguagem comum, mas não se definiu um sentido
teórico e prático que unificasse as vias de transição para a sustentabilidade,
surgindo então, às dissensões e contradições do discurso sobre o desenvolvimento
sustentável, seus sentidos diferenciados e os interesses opostos na apropriação da
natureza.
Em conformidade com Araújo (2011), os cientistas e pesquisadores, de
maneira geral, são tomados como detentores da verdade, no entanto, os cientistas
não assumem, de forma alguma, uma posição de neutralidade científica. Pode-se,
portanto, correlacionar essa ideia à proposta do desenvolvimento sustentável, que
aparentemente e paulatinamente vem tornando-se um dogma. Herculano (2010)
afirma que vários ambientalistas queixam-se que suas propostas em prol de uma
sustentabilidade vem sendo invertidas e reinterpretadas como uma defesa da
estratégia de expansão do mercado e do lucro, tornando tais propostas como
soluções para a crise ecológica, sendo que na verdade, seria a sua causa, ou seja, o
expansionismo do sistema.
Com vista, no que foi dito, acredita-se que a educação seja a porta de saída
para a mudança de comportamento, de atitude e de um novo olhar sobre o meio
ambiente. Diferentes apropriações do conceito de desenvolvimento sustentável são
feitas na sociedade, por diversos grupos de interesses, cada qual considerando
apenas a dimensão para si mais conveniente.
Metodologia
O projeto foi desenvolvido no Colégio Estadual Professor Darcy José Costa -
Ensino Fundamental e Médio, no município de Campo Mourão – PR, com a classe
2ª série A, do Ensino Médio (escolha aleatória).
Inicialmente e com uma perspectiva diagnóstica, foi proposta aos alunos uma
produção de texto sobre o tema “Desenvolvimento Sustentável”. Sem fazer nenhuma
consideração, ou mesmo, explicação sobre o tema sugerido com a turma, também
foi solicitado que os mesmos registrassem todas as informações adquiridas até
aquele momento a respeito do tema. Após esta etapa, foi realizada a análise do
discurso com base na identificação e quantificação de palavras relevantes ao tema.
Para isso, os textos foram minuciosamente analisados e os termos correlatos foram
identificados com diferentes símbolos e cores.
Em seguida, foram realizadas as discussões e análises sobre o tema
“Desenvolvimento Sustentável”, tais discussões foram pautadas tendo em vista: a)
como o tema é abordado pela mídia; b) nas concepções e argumentações de
diversos pesquisadores do assunto como, por exemplo, Celso Furtado (1974),
Gilberto Montibeller-Filho (1999 e 2001), Mauro Odorico Pinto (2010), entre outros;
c) no material audiovisual elaborado durante a realização dessa pesquisa, disponível
na página4.
4- http://www.youtube.com/watch?v=L2WnfKhTbMw com (13: 17) 13minutos e 17
segundos; PARTE 1
Na sequência, visando aproximar às discussões empreendidas em nível
global com a realidade local, foi realizada uma visita ao Parque Joaquim Teodoro de
Oliveira (Parque do Lago) e ao Parque das Torres, na cidade de Campo Mourão.
Por fim, após as discussões, visitas, análises e estudos científicos sobre o
tema proposto, foram esperados aproximadamente 30 dias, quando então, foi
aplicada uma nova produção de texto sobre o mesmo tema da primeira produção,
produção esta que também foi analisada e quantificada nos mesmos moldes da
primeira.
Resultados/discussões
Primeira produção de texto:
Na produção de texto inicial, vinte e quatro alunos participaram, sendo
levantadas e quantificadas um total de trinta e uma palavras e ou termos
relacionados ao Desenvolvimento Sustentável (Tabela 1). As palavras foram: meio
ambiente (51), energia (35), manufatura (34), reciclagem/reutilizar (31), flora (21),
água (18), fábrica/empresa (18), fauna (14), poluição (12), população/pessoas (10),
mundo/planeta (09), desmatamento (08), queimada (07). Constatou-se que a
utilização dessas palavras estava na maioria das vezes, aliadas às informações
veiculadas pela mídia com poucas bases científicas, como pode ser percebido nos
exemplos contidos na figura 1, na redação da aluna L. P. A.: “[...] hoje em dia todas
as empresas falam sobre o desenvolvimento sustentável, exemplo a Sanepar, ajuda
no tratamento de água”.
No caso em questão, percebe-se a reprodução do discurso contido na
veiculação de anúncio informativo sobre a empresa.
4 - http://www.youtube.com/watch?v=CGe8bCis8ZQ com (15: 07) 15 minutos e 07
segundos; PARTE 2
http://www.youtube.com/watch?v=y58hugamDWk com (13: 23) 13minutos e 23 segundos, 3
PARTE 3
Também houve casos em que os alunos estabeleceram o conceito do tema
pela lógica da palavra, indicando que o desenvolvimento sustentável é aquele que
não agride a natureza, como o que escreveu a aluna M. J. T. C. (Figura 1): “[...] é um
desenvolvimento que não agride a natureza, pois ele não prejudica a natureza e
também pode consistir em uma energia sustentável”.
Na citação acima, pode-se notar as diversas nuances que o conceito causa,
como por exemplo: a ideia de desenvolvimento e energia que não prejudiquem a
natureza, como algo possível em nosso atual sistema de produção.
Tabela 1– Resultado do levantamento quantitativo da primeira e da segunda
produção de textos
Palavras Texto 1
Texto 2
Palavras Texto 1
Texto 2
Acidente do Golfo do México - 01 Lucro - 04
África - 03 Malthasiano - 04
Água 18 - Manufatura 34 01
Automóveis/Motos/Carros - 04 Máquinas - 03
Bancos - 04 Matéria-prima 2 13
Bicicleta 01 - Meio Ambiente 51 15
Brasil/Cidade/Nossa Casa 01 16 Mito/Utopia/Mentira - 05
C02/Gases 02 03 Modismo - 02
Capital Humano - 01 Mundo Capitalista - 01
Capital/Dinheiro Poder/Riqueza/Ganância
02 34 Mundo/Planeta/Globalização/Terra 09 16
Cientistas cético-especialistas - 05 Natureza 05 -
Clima 02 - Orgânicos - 02
Combustíveis Fósseis 01 - Oxigênio - 01
Conscientização - 13 Países Desenvolvido/Ricos/Poderosos - 23
Consumo/Consumismo/Comprar - 39 Países Pobres/Emergentes/Em Desenvolvimento/Terceiro Mundo/Subdesenvolvidos
- 15
Corrupção - 02 Plásticos 1 1
Crescimento zero - 01 Política - 02
Desenvolvimento/Crescer/Progresso - 30 Poluição 12 11
Desenvolvimento/Humano 01 01 População/Sociedade/Pessoas/Povo/Ser Humano
10 48
Desigualdade social - 06 Pré-sal - 01
Desmatamento 08 02 Preservar/Proteger/Cuidar 05 06
Desperdício 01 -
Destruição - 03
Emprego /Trabalho O3 07 Propaganda /Mídia/ Marketing /Fachada.
02 30
Energia limpa - 01 Queimada 07 -
Escravo - 01 Recursos Naturais - 03
Exploração - 01 Reflorestamento 03 -
Fábrica/Empresa/Multinacionais 18 19 Relatório Brundtland - 01
Fauna 14 - Reutilizar/Reciclagem 31 07
Flora 21 - Revolução/Científica e Tecnológica - 01
Fome - 03 Socialismo - 01
Geração Futura - 13 Solo 03 -
Honestidade/Justiça/Igualdade - 06 Substituição de Sacolas Plásticas - 01
Lei/Governo - 07 Terremoto - 01
Lixo 09 07 Tratamento de Esgoto - 01
Vida 03 -
Total de palavras 31 57
Figuras 01: Textos produzidos pelas alunas (L. P. A. e M. J. T. C.) durante a
primeira fase do processo de implantação do projeto. Observa-se na figura a
demarcação em cores das palavras - chave.
Aplicando o material didático
Para a aplicação do material didático produzido,vídeos, textos e atividade
extraclasse foram base para as discussões e para as produções dos alunos. Foram
necessárias 32 aulas, as discussões foram norteadas de forma crítica, envolvendo o
conceito de desenvolvimento sustentável, como pôde ser observado pela figura 2. A
base teórica de discussão foi elaborada a partir das obras dos autores: Enrique Leff
(1999 e 2001), Gilberto Montibeller-Filho (2001 e 2004), José Eli da Veiga (2008),
dentre outros.
Figura 2 – Alguns exemplos dos temas discutidos com base no material
didático produzido e discutido em sala.
Atividade extraclasse
Passados trinta dias desde a discussão do assunto, foi realizada uma
excursão ao Parque Joaquim Teodoro de Oliveira (Parque Lago) e ao Parque das
Torres, na cidade de Campo Mourão, com essa atividade as discussões foram
retomadas, fazendo com que os alunos começassem a questionar o porquê da falta
de compromisso da sociedade e do poder público quanto à preservação e a
conservação dos recursos naturais, como pôde ser observado nos relatórios
produzidos (Figura 3).
No contexto da visitação, os alunos concluíram que a preservação do meio
ambiente é sempre relegada a segundo plano. Isto é, só vem à tona quando há
interesse de algum grupo, portanto, pode-se afirmar que ocorreu o aprimoramento
do conhecimento, ficando mais claro nos relatórios de visitação aos parques (Figura
03), visto que os alunos passaram a questionar a falta de manutenção dos mesmos,
contou-se também, a especulação imobiliária nas proximidades do lago e nas
margens dos rios do Campo e Km 119, sendo o primeiro utilizado para
abastecimento de água à população.
Sobre esse assunto, o aluno G. M. S. relatou que além do loteamento, a falta
de mata ciliar e o abandono do governo Municipal, os parques só são lembrados em
época de campanha política, e ainda, constatou que há muito lixo à beira dos rios,
esses questionamentos também foram levantados pelo o aluno G. L. Z., na (figura
03).
A visitação trouxe outros questionamentos como, por exemplo: a) falta de
vegetação ripária ao longo das margens dos rios visitados; b) legalidade em relação
à criação de parques em áreas de preservação ambiental, por se tratar de fundo de
vale; c) especulação imobiliária; d) questões de cunho político no tocante a criação
de parques para fins eleitoreiros; e) má conservação.
Diante do exposto, é possível afirmar que o aprendizado ocorreu, pois os
alunos aparentemente passaram a ter uma posição diferente daquela do senso
comum. É possível afirmar também que as questões ambientais foram analisadas
sob uma nova perspectiva, a partir de um posicionamento crítico em relação às
informações veiculadas.
Figuras 03: Exemplos de relatórios das visitas aos Parques do Lago e das Torres.
Segunda produção de texto
Já na segunda produção de texto (Figura 4), vinte e três alunos participaram,
sendo que foram levantadas e quantificadas um total de cinquenta e sete palavras.
Percebeu-se que essas produções apresentavam maior conhecimento científico e
crítico em comparação com a produção inicial (Tabela 1); tomando como base o total
de (26) novas palavras acrescidas na segunda produção, dentre elas destacam-se:
consumo/consumismo/comprar (39), capital/ dinheiro/poder/riqueza/ganância (34),
desenvolvimento/crescer/progresso (30), propaganda/ marketing/fachada (30),
países desenvolvidos/rico-poderosos (23), países pobres/
emergentes/subdesenvolvidos (15), cientistas cético-especialistas (05).
Figuras 04: Textos produzidos pelos alunos (E. H. S. e A. O.) durante a segunda fase do processo de implantação do projeto.
Com o conhecimento mais aprofundado sobre “Desenvolvimento
Sustentável”, os alunos passaram a relacionar os problemas ambientais locais com
os globais, e a entender como os interesses políticos e econômicos estão atrelados
a essas questões. Eles passaram a questionar o porquê da falta de compromisso da
sociedade e do poder público quanto à preservação e a conservação dos recursos
naturais, e ainda, relacionar o longo processo de construção do Planeta pela
natureza com a rapidez como vários elementos vêm sendo destruídos,
principalmente pela ação humana e a busca incessante pelo ‘lucro’. Uma prova da
aquisição dessa nova forma de pensar pôde ser observada nos textos (Figura 4), por
exemplo, o aluno E. H. S. escreveu: “Desenvolvimento Sustentável nada mais é que
uma fachada para ganhar mais dinheiro e mais cliente [...].”
E o aluno A. O. escreveu que “O desenvolvimento sustentável é uma palavra
que os países desenvolvidos inventaram depois que em seus países acabaram com
as fontes de matéria-prima e se desenvolveram bastante [...].”
Considerações finais
Comparando os resultados das produções, não restaram dúvidas quanto à
eficácia da proposta. O aprendizado dos alunos envolvidos foi evidenciado ao
comparar a primeira e a segunda produção de textos.
Vale ressaltar que durante o desenvolvimento do projeto houve mudança
(sentida subjetivamente pela autora) no comportamento dos alunos em relação ao
assunto, os mesmos demonstraram mais interesse, e, passaram a relacionar os
fatos locais com os nacionais e os globais. Outro fato que merece destaque, é que
os termos de senso comum deixaram de fazer parte de seus vocabulários.
Merece menção que durante a visitação aos parques, a disposição para o
aprendizado aflorou nos alunos com a indignação demonstrada na forma de crítica à
falta de vegetação ripária, especulação imobiliária, questões de cunho eleitoral,
questões legais e de conservação.
Ao término desta pesquisa empreendida, verificou-se mais uma vez que o
aprendizado ocorre a partir da interação entre professor e aluno, e, que não é difícil
ou mesmo impossível realizar uma educação de qualidade em áreas desprovidas de
recurso. Se o propósito não foi plenamente alcançado, ao menos forneceu subsídios
aos alunos e a diversos personagens da sociedade local para uma desalienação,
motivando-os a uma participação mais efetiva no meio onde estão inseridos
buscando uma melhor qualidade de vida a todos os envolvidos.
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