MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
CURSO DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO
DISCIPLINA ELETIVA – ESTUDOS EM GESTÃO EDUCACIONAL
PROF. DR. PAULO GOMES LIMA
CAPÍTULO III
FORMA/CONTEÚDO: COMPONENTES DE CONSERVAÇÃO OU
TRANSFORMAÇÃO
SIMONE VIEIRA DE MELO SHIMAMOTO
MESTRANDA MARICLEI PRZYLEPA
Ponto nodal de diferenciação entre as matrizes consideradas: Compreensão das potencialidades e fragilidades dos estudos e proposições.
Discussão do processo forma/conteúdo: necessidade radical para a superação do modelo
posto – considerando-se que o contexto vivido pauta-se no burocratismo, na divisão de
classes, na fragmentação, coisificação e mercadorização humana.
Pensamos as relações educação/política construídas historicamente nas possibilidades
materiais apresentadas junto às complexas relações humanas estabelecidas.
Os autores âncoras exploram conceitos semelhantes que, em sua aparência demonstram
proximidades, entretanto, ao analisarmos as reflexões advindas de seus estudos e
propostas de ação sobre a efetivação de ações para a Gestão Escolar Democrática,
percebemos que tais debates direcionam as ações ou para processos de reforma ou de
transformação, aspecto este que os distancia.
O método como sítio político
No contexto atual, parece retornarmos a algumas ações fragmentadas, focadas na
dimensão técnica em detrimento da política, o que ocasiona atitudes
adaptativas, tendencialmente neutras, massificadas e homogêneas – para nós
impraticáveis.
As estratégias políticas em torno da imprescindível articulação entre o contexto
constituído, os movimentos sociais e as práxis desenvolvidas nas/pelas
instituições escolares, Gentili (1998) destaca como preocupante a condição de
passividade estabelecida.
A separação teoria-prática, forma-conteúdo, discurso-atuação, direciona os sujeitos a
ações distintas, fincadas em matrizes de análise completamente díspares.
Pensar a forma como elemento de destaque na efetivação da Gestão Escolar Democrática as ações
formatadas assumem o carro chefe, em detrimento do conteúdo.
Matrizes direcionam práticas mecanizadas, despolitizadas, (práticas mecanizadas com um modelo
de política apaziguadora dos conflitos sociais e distante tanto da contradição quanto da realidade)
distantes da realidade na qual se inserem.
A produção de homens adequados ao mercado de trabalho, adaptados à sociedade classista,
reprodutores do status quo.
Mecanismos ajustados à lógica liberal/neoliberal tendem a se fortalecer: ações pré-determinadas
por aqueles que decidem e planejam, são realizadas por espectadores, e não autores, sujeitos de
suas ações.
DÉCADA DE 1980 E 0 CONTEXTO ATUAL
• Nosella (2005), relendo Gramsci, relembra que, na década de
1980, o compromisso político do educador era visto em suas
ações absorvidas na/pela militância em partidos políticos
direcionados à transformação do modelo posto.
• Atualmente concebe o compromisso político expresso na
forma e no conteúdo do ato pedagógico, não sendo,
portanto, elementos justapostos.
A escolha do método por si já contém uma opção, decisão, envolvimento político
implícito, por menor que seja o nível de consciência do sujeito em relação ao mesmo.
Não há ação sem concepção política subjacente; não há ação desvinculada do complexo
tecido social;
Não há movimento humano estanque das construções históricas vivenciadas.
Não há como pensar a Gestão Escolar Democrática sem se conceber sua trajetória, em
todas as nuanças assumidas, pondo-as a dialogar com as questões contemporâneas em
desenvolvimento.
Toda proposta educacional escolar de uma dada sociedade possui em sua metodologia
instrumental teórico-prático, que traz em si a inerência do caráter político.
Não vemos a construção de uma escola democrática como possibilidade objetiva,
se o contexto se apresenta em moldes de desconcentração e participacionismo sem
transparência social, sem participação e autonomia, sem descentralização, pois, por mais
aprimorados que sejam os mecanismos indicados para tal implantação, a base se mantém.
A escola desvinculada da práxis sociopolítica, realiza um plantio em terreno árido ou
movediço, no qual sabemos, que a semente não originará os frutos necessários.
Pensar a escola enquanto espaço corresponsável pela transformação social exige descortinar
o real saindo do risco da relativização adaptada. Um exercício em relação a esta
possibilidade foi feito por Tragtenberg (2005), ao propor a autogestão, a autonomia do
indivíduo e a solidariedade como pilares desmistificadores do modelo posto.
Saviani (2008): educação e política são práticas diferenciadas e inseparáveis. Suas
especificidades permitem o fluir da prática social-educativa de maneira politizada e
coerente, contextualizada.
Existe um espaço de ação e produção que é exclusivo da instituição escola. Neste
espaço devem-se criar condições de problematizar a prática social e compreender
sua complexidade, donde os alunos são vistos e assumem-se agentes sociais.
Saviani (2008) propor um método que atenda ao seguinte caminho: a) prática social –
comum a alunos (caráter sincrético) e professores (síntese precária); b) problematização
da prática social; c) instrumentalização – apropriação dos instrumentos teóricos e
práticos necessários ao equacionamento dos problemas detectados na prática social; d)
catarse – incorporação de instrumentos culturais incorporados como elementos ativos
de transformação social; e) prática social – ascensão dos estados de análise: do aluno ao
nível sintético e do professor ao nível orgânico.
As lacunas teoria/prática, a universalização em detrimento das particularidades e a
técnica em detrimento do substancial, desenvolvem-se em nível macro, e obviamente
reproduzem-se em nível micro, propostas de práticas sociais competidoras,
imediatistas e desconectadas com a proposta da Gestão Escolar Democrática, mas
bastante vinculadas à proposta gerencialista.
Em nome da autonomia cria-se a fragmentação de sistemas, justificados no/pelo
crescimento aos moldes da escola de qualidade para o modelo de mercado.
Em nome da melhoria do processo educacional escolar, fortalece-se a lógica do mercado
educacional desenvolvendo-se a competição e a concorrência para enquadramento no
modelo instalado.
O modelo de participação descaracteriza-se em ação individualizada.
A desconcentração transveste-se de descentralização, exaure a participação política
efetiva dos sujeitos, distancia a possibilidade de constituição de autonomia,
burocratiza ações e, neutralizando os poderes dos sujeitos, fortalece a sociedade
implantada.
Para descentralizar, é imperativa a redistribuição de poder, a participação política e
a redefinição de papéis.
Tragtenberg (1985) a redução do político ao psíquico como instrumento de
manutenção do status quo utiliza-se da política das relações humanas para
desconstruir a consciência de classes e a análise das relações de poder
construídas e (im)postas historicamente.
Proposição de um modelo de gestão participativa como instrumento de concretização da
Gestão Escolar Democrática, adotando-se o conceito gestão como elemento superador ao
conceito administração.
A materialização de políticas transformadoras com vias à Gestão Escolar Democrática
exige alteração na raiz da estrutura social assentada.
Não vemos a possibilidade efetiva de construção de uma escola democrática, se o contexto
se apresenta em moldes de desconcentração e participacionismo.
Não existe e não há possibilidade de se constituir a Gestão Escolar Democrática na prática
social tal qual se organiza e se estrutura atualmente.
A transparência é pilar sustentador e, junto ao processo de descentralização, tende a
descortinar caminhos possíveis para a participação e a autonomia, tão necessários ao
resgate humano em sua completude.
A construção de uma práxis escolar democrática é
semente que requer outro solo, outro cultivo,
outras mãos para fertilizar.
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