MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO COORDENADORIA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E INTEGRAÇÃO ACADÊMICA
PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E EM DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E INOVAÇÃO
LUCAS KASIANO PEREIRA
RELATÓRIO FINAL
INICIAÇÃO CIENTÍFICA:
PIBIC CNPq ( ), PIBIC CNPq Ações Afirmativas ( ), PIBIC UFPR TN ( ),
PIBIC Fundação Araucária ( ), PIBIC Voluntária (X), Jovens Talentos ( ), PIBIC EM ( ).
INICIAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E INOVAÇÃO:
PIBITI CNPq ( ), PIBITI UFPR TN ( ), PIBITI Funttel ou PIBITI Voluntária ( );
(De 01/08/2016 a 31/07/2017)
RECICLAGEM DE MADEIRAS EM ARQUITETURA E DESIGN
Relatório Final apresentado à COOR-
DENADORIA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E
INTEGRAÇÃO ACADÊMICA da Universi-
dade Federal do Paraná – UFPR
Edital 2016/2017.
NOME DO ORIENTADOR:
Prof. Dr. Antonio Manoel Nunes Castelnou, neto
Departamento de Arquitetura e Urbanismo
TÍTULO DO PROJETO:
Green architecture: Estratégias de sustentabilidade aplicadas à arquitetura e
design
BANPESQ/THALES: 2014015431
CURITIBA PR
2017
1
1 TÍTULO
Reciclagem de Madeiras em Arquitetura e Design.
2 ALTERAÇÕES NO PLANO DE TRABALHO
Não houve alterações realizadas no cronograma da pesquisa, seguindo-se o plano de
acordo com o que foi preestabelecido.
3 RESUMO
O tema da sustentabilidade corresponde a um dos mais vigentes hoje em dia e certamente
estará presente nas principais pautas globais do futuro próximo. Ao tratar sobre ele no que se
refere à arquitetura e construção civil, a questão da madeira destaca-se, já que é uma matéria-
prima renovável e de grande e diversa aplicabilidade, a qual colabora positivamente para o
equilíbrio ecológico do planeta e, ao mesmo tempo, não deixa a desejar quanto aos seus aspectos
estruturais, funcionais e estéticos. Diante disto, este trabalho de iniciação científica, de caráter
teórico-conceitual e cunho exploratório, pertence ao Projeto de Pesquisa intitulado “Green
Architecture: Estratégias de sustentabilidade aplicadas à arquitetura e design” e busca
especificamente abordar como a madeira reciclada pode ser utilizada para esse fim.
Desenvolve-se a partir de uma revisão web-bibliográfica que apresenta um resumo
histórico sobre o conceito de sustentabilidade desde seu surgimento, passando por importantes
eventos que contribuíram para a formação do pensamento ecológico atual voltado à arquitetura,
além das formas de como o emprego da madeira pode ser considerado sustentável; suas
características, aplicabilidade e reciclagem. Em um segundo momento, a pesquisa é
complementada com a análise de 04 (quatro) estudos de caso que ilustram as discussões
anteriormente apresentadas e reafirmam as relações entre si, concluindo-se com observações
gerais sobre a concepção, construção e fabricação de espaços e/ou objetos feitos desse material
reciclado em consonância à elaboração de projetos ambientalmente responsáveis.
Palavras-chave: Sustentabilidade. Arquitetura Sustentável. Reciclagem. Madeira.
4 INTRODUÇÃO
O início das preocupações com o desenvolvimento sustentável não possui uma data
oficialmente estabelecida, mas sim alguns eventos de que se tem conhecimento, os quais
buscaram abordar o assunto de maneira pioneira. De acordo com Dias (2006), um dos
acontecimentos que impulsionaram o início dos debates a respeito da sustentabilidade foi a
publicação, em 1962, do livro Silent Spring (“Primavera Silenciosa”) de Rachel Carson (1907-64),
no qual se expunha os perigos do uso de inseticidas para o meio ambiente. A partir de então,
houve um despertar em relação ao tema que culminou na realização de uma série de
conferências que visavam discutir a conservação da biodiversidade e a melhoria da relação entre
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homem e natureza. Tais eventos foram fundamentais para a criação, em 1971, do Man and the
Biosphere Programme – MAB; um programa de pesquisa de ciências sociais e naturais criado
pela ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA (UNESCO) e
voltado à discussão da preservação ambiental.
Foi em 1972, com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
Humano – CNUMAH, ocorrida em Estocolmo (Suécia), que lideranças políticas manifestaram-se
oficialmente em favor das discussões a respeito da proteção da natureza e da sua harmonia com
relação à humanidade. Nesta ocasião, participaram líderes de 113 países e o principal produto
apresentado foi o Programa das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente – PNUMA, que se tornou
responsável por adotar planos e estratégias de longo prazo para a conservação dos recursos
biológicos do planeta. (DIAS, 2006)
Contudo, conforme Marques (2009), foi somente em 1987 que a expressão
“Desenvolvimento Sustentável” apareceu definida pela primeira vez, o que aconteceu por meio do
relatório produzido pela Comissão Bruntland1. Naquele momento, definia-se como “sustentável”
algo que permitisse satisfazer as necessidades econômicas, sociais e ambientais das atuais
gerações, sem comprometer a capacidade das gerações futuras em prover suas próprias
demandas. O relatório, ainda, buscou enfatizar a necessidade de uma relação harmônica entre
homem e natureza, além de indicar a necessidade de políticas ambientais como parte do
processo de desenvolvimento humano.
Basicamente, as premissas do desenvolvimento sustentável continham dois conceitos-
chave: o das necessidades básicas do ser humano e aquelas relacionadas às limitações que o
avanço tecnológico e a organização social impunham ao meio ambiente. O primeiro salienta, por
exemplo, que a pobreza é incompatível com o desenvolvimento sustentável e que, portanto, deve
ser combatida. Já o segundo indica a necessidade de uma participação integral – e não
fragmentada – das políticas ambientais nos processos de desenvolvimento. (DIAS, 2006)
Em 1988, o PNUMA e a ORGANIZAÇÃO METEOROLÓGICA MUNDIAL (OMM) se uniram para criar o Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas – IPCC, que se tornou a fonte proeminente para a informação científica relacionada às mudanças climáticas. O principal instrumento internacional neste assunto, a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – UNFCCC, foi [somente] adotado em 1992. (ONU, 2016, grifo nosso, p. 01)
Outro marco histórico da questão ambiental, de acordo com Dias (2006), foi a ECO-92, que
consistiu na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento –
CNUMAD, também conhecida como a “Cúpula da Terra”. Tal evento foi sediado no Rio de
Janeiro, em 1992; e pretendia estabelecer bases concretas para um modelo de desenvolvimento
1 A Comissão Bruntland foi o nome dado à Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – CMMAD, criada em 1983 e presidida pela médica e ex-Primeira Ministra da Noruega, Gro Harlem Bruntland (1939-), figura pública bastante ligada aos assuntos ambientais e ao desenvolvimento humano. Sua principal contribuição foi a publicação do relatório Our Common Future (“Nosso Futuro Comum”), que trouxe o conceito de Desenvolvimento Sustentável para o mundo. O documento apresentou também dados a respeito do aquecimento global e ad destruição da camada de ozônio, temáticas até então pouquíssimo exploradas. (MMA, 2016c)
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sustentável. Reunindo autoridades de 179 países, sua principal conquista foi a aprovação de uma
série de documentos de cunho ambiental, com destaque para a Agenda 21; um programa que
estabelecia parâmetros internacionais para o desenvolvimento sustentável nas vertentes
econômica, social e ambiental.
Em termos gerais, a Agenda 21 consiste em um documento de 40 capítulos que procura
promover, em escala planetária, um novo padrão de desenvolvimento: o da sustentabilidade. Seu
caráter é o de planejamento para a construção de sociedades que consigam conciliar o
desenvolvimento econômico com aqueles de cunho social e ambiental, a fim de adotar um novo e
desejado modelo, condizente com o desenvolvimento para o século XXI. (MMA, 2016a)
A realização da ECO-92 – também conhecida como Rio’92 – tomou grandes proporções e
contribuiu para a inserção dos debates ambientais nas pautas das discussões mundiais, dando
início a uma série de novas conferências que buscavam cada vez mais aprofundar as discussões
acerca do meio ambiente e enriquecer o debate em torno da questão ecológica, como por
exemplo: a Rio+5, realizada em Nova York (EUA) em 1997, que teve como objetivo analisar a
implementação da Agenda 21; a Rio+10, que aconteceu na cidade de Johannesburgo (África do
Sul) em 2002, onde se fez uma avaliação da efetividade da ECO-92, realizada 10 anos antes.
Duas décadas depois, o Rio de Janeiro voltou a sediar um evento com o mesmo intuito: a Rio+20,
ocorrida em 2012. (DIAS, 2006)
Uma das principais contribuições que vieram impulsionadas pelo pensamento ecológico foi
a – até então desconhecida – definição do princípio dos 3R’s (Reduzir, Reutilizar e Reciclar). Tal
princípio representa a busca por um caminho harmonioso entre o homem e sua produção residual.
Deve-se, portanto, procurar prever e evitar a geração de resíduos – os quais contenham
desperdícios –, adotando padrões de consumo mais sustentáveis e, ainda, procurando poupar os
recursos naturais. (MMA, 2016b)
O rebatimento desse “despertar ecológico” trouxe algumas contribuições para a
arquitetura. Um exemplo bastante importante foi a publicação das premissas básicas para uma
arquitetura sustentável, veiculadas juntamente à Agenda 21, as quais afirmavam que a mesma
deveria ser difundida por meio da eficiência energética, da correta especificação de materiais e do
respeito às condições ambientais. (CASTELNOU, 2015)
Diante dessa inserção arquitetônica aos debates ambientais, houve uma crescente
preocupação por parte de grupos de arquitetos e urbanistas em trazer as questões de
sustentabilidade para uma aplicação direta na produção de seu trabalho. Segundo Castelnou
(2015), um marco dessa inserção foi a realização, em 21 de junho de 1993, do congresso
organizado pela UNIÃO INTERNACIONAL DOS ARQUITETOS (UIA), em conjunto com o INSTITUTO
AMERICANO DE ARQUITETURA (AIA), ocorrido na cidade de Chicago, nos EUA, onde foi
estabelecida a Declaração da Interdependência para um Futuro Sustentável, a qual colocou a
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sustentabilidade socioambiental no centro da responsabilidade profissional e ética de todos os
arquitetos e urbanistas do planeta, iniciando-se, assim, as práticas da Green Architecture.
Denomina-se arquitetura sustentável ou Green Architecture aquela que visa a produção
arquitetônica em concordância com as condições ecológicas e sociais, utilizando-se de
tecnologias “verdes” a fim de minimizar os impactos ambientais da mesma. Seria uma forma de
atualizar a construção civil para as discussões de produção e consumo do século XXI. De acordo
com Edwards (2004), os habitats criados pelos arquitetos devem satisfazer tanto as necessidades
humanas quanto aquelas de outras espécies, cabendo aos profissionais, inclusive, a sensibilidade
ecológica na escolha dos materiais de construção e, além disso, favorecer ao máximo o contato
com a natureza.
No que diz respeito à ecoeficiência de materiais, Venâncio (2010) afirma que, embora
ainda não exista, no Brasil, uma legislação específica que trate especificamente do assunto, já é
possível observar uma pré-disposição, por parte das indústrias, em produzir os chamados
“ecoprodutos”. Estes podem ser definidos pela reunião de uma série de condicionantes que
comprovam o caráter ecológico dos mesmos, como, por exemplo: se o produto desenvolve o
modelo socioeconômico sustentável, se ele é benéfico para o meio ambiente, se ele gera um
consumo positivo e, ainda, se ele não polui o meio ou é tóxico. (VENÂNCIO, 2010)
5 REVISÃO DA LITERATURA
Um dos materiais mais
aplicados na arquitetura e que
apresenta um caráter mais sustentável
dentro da construção civil em geral
consiste na madeira. De acordo com
Berriel (2009), “a madeira é um
material renovável. Além disto, durante
o processo de produção, as florestas
beneficiam a fauna, o ar, os rios, o mar
e, consequentemente, beneficiam a
vida humana” (p. 223). Ademais, a
madeira também é um dos materiais
que menos requer consumo de energia para seu processamento, o que reafirma seu importante
caráter ecológico de pouco impacto ao meio ambiente (Figura 01).
A madeira igualmente apresenta grande vantagem sobre os demais materiais construtivos
no que diz respeito ao seu impacto construtivo. Segundo Winter2 (1998) apud Berriel (2009), seu
2 WINTER, W.. Economical and ecological aspects of multistory timber building. In: WORLD CONFERENCE OF TIMBER ENGINEERING, VI. Montreaux (Swittzerland), August 17-20, 1998. p.664-668.
FIGURA 01
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uso nas construções pode apresentar algumas vantagens, como, por exemplo, devido à sua
capacidade biológica em realizar a absorção da energia solar – por meio da fotossíntese –, assim
como graças ao baixo consumo de energia para a usinagem da mesma; ou ainda por apresentar
um alto grau de aproveitamento energético de seus resíduos. Forest Stewadship Council (FSC)
corresponde à entidade que regulamenta o uso e o manejo sustentável da madeira, sendo a
responsável por emitir o mais importante selo verde no segmento da madeira: o Cerflor.
(VENÂNCIO, 2010)
A certificação FSC tem como intuito reconhecer produtos madeireiros e não-madeireiros
oriundos do bom manejo florestal. Atualmente, possui três modalidades de certificação: Manejo
Florestal, Cadeia de Custódia e Madeira Controlada. A primeira é destinada às florestas
manejadas de forma responsável e que seguem os princípios e critérios estipulados pelo FSC,
podendo ser destinado a produtos oriundos da madeira, como toras e pranchas; ou mesmo
produtos não-madeireiros, como óleos, sementes e castanhas. Já a segunda – que se refere à
cadeia de custódia, também conhecida como CoC – garante a rastreabilidade do material desde a
sua produção até chegar ao consumidor final. Para isto, é necessário que o material venha de
florestas certificadas, cabendo às serrarias, fabricantes e gráficas, por exemplo, utilizarem o
certificado FSC para a sua correta utilização. Por fim, as normas de madeira controlada do FSC
têm como principal objetivo o controle para que materiais de origem não-responsável venham a
ser difundidos no mercado. Assim, busca-se evitar casos de madeira colhida de forma ilegal e
que, portanto, apresentam riscos quanto à responsabilidade do uso da mesma. (FSC, 2016)
Para que a madeira aplicada à arquitetura e ao design seja certificadamente sustentável,
ela deve seguir duas principais formas referentes à sua procedência: a madeira de
reflorestamento e a madeira de demolição. A primeira é oriunda do plantio de espécies de árvores
de rápido desenvolvimento e que, portanto, permitem uma colheita mais breve e com um
espaçamento de tempo mais curto (CASA DA ÁRVORE, 2012). Ela pode ser utilizada de várias
maneiras na arquitetura. Para estruturas, as melhores opções são madeiras com alta densidade e
resistência. Neste caso, de acordo com Costa, Apsan et Medeiros (2011), destacam-se espécies
como: Cumaru, Jatobá, Pequiá, Roxinho, Itaúba e Tatajuba. A madeira oriunda de reflorestamento
também é propícia para ser utilizada em telhados, desde que protegida de intempéries. Neste
caso, indica-se as espécies de: Garapeira, Cupiúba, Angelim-Pedra e Cambará. Ademais, as
madeiras de reflorestamento podem ser também utilizadas em vedações, esquadrias (portas e
janelas), pisos e mobiliários, entre outros.
Já a madeira de demolição tem esse nome, pois se refere a madeiras – geralmente nobres
– que são reaproveitadas de desmanches e passam a ter um novo uso, assim como um aspecto
totalmente diferente. Sua fonte principal é oriunda da demolição de casas, tulhas e outras
construções. Ela também pode ser empregada nos mais diferentes casos, seja em revestimentos,
pisos, forros e móveis. Por vir através de demolição, é possível adquirir madeiras que hoje são
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indisponíveis no mercado, como, por exemplo: Ipê, Peroba Rosa, Jacarandá, Jatobá, Carvalho e
Castanheira, entre outras. (BRISTOL MÓVEIS, 2013; APSAN et CAPELLO, 2014)
A madeira reciclada chega ao consumidor após
passar por processos que podem variar de acordo com
a necessidade e adequabilidade do material.
Atualmente, os resultados da reciclagem da madeira
podem se dividir em dois principais grupos: os
aglomerados e os compensados. Os primeiros
consistem em uma mistura de madeira moída e resina
sintética que são coladas sob métodos de aquecimento
e pressão. Isto faz com que tal tipologia assemelhe-se
às características da madeira maciça, sendo a mais
comumente encontrada no mercado, destacando-se o
Medium-Density Fiberboard3(MDF) e o Oriented
Styrand Board4 (OSB), além de chapas duras. Estas
últimas tendem a ser bastante resistente às pragas,
porém, geralmente apresentam uma incompatibilidade
em relação a pregos, além de necessitarem de um
acabamento por polimento e pintura já que as mesmas tendem a apresentarem bordas grosseiras.
Já o MDF (Figura 02) permite maior flexibilidade em
relação a pregos, parafusos e colas, embora também
necessite de acabamento e se adeque muito bem ao
revestimento com lâminas. Por sua vez, o OSB (Figura
03) destaca-se por sua alta resistência à umidade,
enquanto que as características de trabalhabilidade e
necessidade de acabamentos muito se assemelham
aos demais aglomerados. [FERREIRA, s.d.]
3 O Medium-Density Fiberboard (MDF) consiste em um material derivado da madeira, cuja tradução para português equivaleria a uma "placa de fibra de madeira de média densidade". Trata-se de um material uniforme, plano e denso, não possuindo nós e geralmente empregado em móveis, embora não apresente grande rigidez. O MDF é fabricado através da aglutinação de fibras de madeira de pinus e/ou eucaliptus e resinas sintéticas, além de outros aditivos, o que permite ser usinado tanto nas bordas como em suas faces, substituindo a madeira maciça. A madeira é desfibrada e depois cozida à vapor e pressão, separando-se uniformemente suas fibras. Posteriormente, estas são ligadas por resinas e passam por um processo de calor e prensagem que lhe dá o tamanho desejado. O MDF é oferecido ao mercado basicamente em três acabamentos: chapas in natura, que podem ser pintadas, revestidas com PVC ou hot stamping; chapas com revestimento laminado de baixa pressão, que recebem a sobreposição de uma folha de papel especial, impregnada com resina melamínica; e chapas com revestimento finish foil, que são produzidas por adição de uma película de papel colada de melhor acabamento, impressa em padrões madeirados ou em cores. (PAIM et SCOTTON, 2007)
4 Denomina-se Oriented Styrand Board (OSB) a chapa estrutural de tiras de madeira orientadas perpendicularmente, em diversas camadas, o que aumenta sua rigidez e resistência mecânica. Essas tiras são unidas com resinas aplicadas sob altas temperaturas e pressão, resultando em um produto de grande resistência mecânica. As chapas são compostas predominantemente de madeira reflorestada e destinadas ao uso na construção civil, em especial para pisos, forros e paredes internas e externas, além de mobiliário. Recentemente, tem-se empregado cada vez mais o Medium Density Particleboard (MDP) – ou aglomerado de média densidade – que é indicado particularmente para a confecção de móveis residenciais e comercias de formas orgânicas e linhas retas, que não requerem entalhes, usinagens em baixo relevo ou entalhes como prateleiras, divisórias, portas, lateiras e frentes de gavetas retas, entre outros, sem restrições de uso. Possui características superiores e completamente diferentes de outros painéis de madeira aglomerada. (MADEREIRA BH, 2015)
FIGURA 02
FIGURA 03
FIGURA 04
7
Por sua vez, ainda de acordo com a mesma fonte, os compensados são obtidos através da
colagem de várias lâminas de madeira sobrepostas, sendo uma tipologia muito empregada na
construção civil e na indústria naval, entre outras, além de ser bastante utilizada em mobiliários.
Diferente dos aglomerados, a madeira compensada (Figura 04) subdivide-se através do seu uso,
que pode ser interno ou externo, diferenciando-se
conforme o tipo de cola usada para sua fabricação e,
ainda, na maior resistência ou não à umidade.
Geralmente, os compensados para uso interno
utilizam uma cola menos nociva e recebem um
acabamento mais bem elaborado. Já a madeira
compensada para uso externo apresenta uma grande
resistência relativa à umidade e não necessariamente
necessita de um acabamento minucioso.
Uma das aplicações em madeira que vêm
crescendo significativamente na construção civil é a
chamada Wood Frame (Figuras 05 e 06). Esta
tecnologia proveniente de madeira reflorestada tratada
consiste em um sistema construtivo altamente
sustentável, o qual Silva (2010) descreve como uma
estrutura de perfis leves de madeira maciça de pinus
spp, contraventados com chapas estruturais de
madeira transformada tipo OSB.
As chapas de OSB são constituídas de tiras de madeira reflorestada, orientadas em três camadas cruzadas, perpendiculares entre si. Essas tiras de madeira são unidas com resinas e prensadas. A espessura da placa LP OSB a ser utilizada é determinada conforme espaçamento entre montantes e tipo de revestimento. O mais comum é a utilização de painéis de 11,1 mm nas paredes e telhados e painéis de 18,3 mm para pisos e lajes. A principal função das chapas de OSB é contra ventar estruturas de paredes, de construções de até dois pavimentos, e auxiliar na rigidez da estrutura, compondo diafragmas horizontais na laje de piso. (SILVA, 2010, p. 01)
Nesse sistema, os perfis de madeira, as chapas de madeira estruturais e as de
contraventamento formam o conjunto estrutural, sujeito às cargas verticais permanentes e
acidentais, cargas de ventos e cargas eventuais devidas a sismos. Ainda de acordo com Silva
(2010), as chapas estruturais de contraventamento auxiliam na estabilidade da edificação,
reduzindo o comprimento de flambagem dos montantes, fazendo com que, por exemplo, uma
unidade típica térrea ou assobradada, de pé-direito da ordem de 2,60 m, o comprimento de
flambagem dos montantes possa ser reduzido para um valor próximo de 30 cm.
Quando a questão da sustentabilidade é levantada, o sistema de construção em Wood
Frame destaca-se por vários motivos, como pelos fatos de: seu material ser composto por
FIGURA 05
FIGURA 06
8
diversas camadas de materiais renováveis e sua
execução ser capaz de reduzir em até seis vezes o
prazo da entrega da obra, além de haver a diminuição
de resíduos que vão diretamente para o lixo, sendo
seu emprego limpo e seco. Outra vantagem
interessante é o conforto térmico ocasionado por suas
paredes, tanto em regiões mais frias quanto em locais
mais quentes. (CONSTRUINDO DECOR, 2016)
O emprego da reciclagem da madeira na
arquitetura pode ser exemplificada por diversas obras
espalhadas pelo mundo todo, cujos programas variam
desde residências unifamiliares até pavilhões de
exposição. Em 2012, a empresa holandesa Architecten
construiu uma moradia somente com materiais
reaproveitados, como guarda-chuvas quebrados e
restos de madeira encontrados em lixões (Figura 07).
No ano seguinte, a arquiteta norte-americana Macy
Miller construiu sua própria casa (Figura 08) de apenas
18 m2 em Idaho (EUA) utilizando somente painéis de
madeira reciclada (ARCOWEB, 2013). Já a Casa
Manifesto (Figura 09), criada pelos arquitetos
espanhóis Jaime Gaztelu e Maurício Galeano Mau em 2014 nas colinas de Curacaví, na região
metropolitana de Santiago (Chile), foi feita em apenas 90 dias a partir da reutilização de containers
e pallets de madeira, além de vigas de demolição e madeira certificada. (RANGEL, 2014). Durante
a Exposição Universal de Milão, ocorrida em 2015, muitos pavilhões destacaram-se pelo uso
sustentável da madeira, além de ações ambientalmente conscientes, como pôde ser observado,
por exemplo, no pavilhão espanhol (Figura 10), criado pelo escritório catalão b720 arquitectos.
Simbolizando a fusão entre tradição e inovação na gastronomia espanhola, a estrutura em pórtico [era] dividida em duas partes, unidas pela repetição das formas [...] De um lado, a estrutura de madeira em forma de galpão [representava] a tradição gastronômica do país. Uma série de espaços externos [eram] pontuados por programas com revestimentos diversos. O outro lado, um espaço fechado revestido de aço inoxidável, [representava] a inovação na gastronomia espanhola [...] Feito a partir de materiais reciclados e naturais, o "pavilhão ecológico" [foi] composto por uma série de pórticos de madeira de 1,50 metros, unidos por uma sequência de volumes prismáticos de madeira laminada. (ROSENFIELD, 2014, p. 01)
Paralelamente, a aplicação de madeira reciclada no ecodesign vem aumentando cada vez
mais, resultando em trabalhos que se destacam pela economia, praticidade e beleza. Tanto
utilizando a madeira in natura como reprocessada, o mobiliário mostra-se leve e criativo, como,
por exemplo, a poltrona criada em 2011 por Anders Johnsson e Petter Thorne (Figura 11).
FIGURA 07
FIGURA 08
FIGURA 09
9
No Brasil, deve-se salientar o pioneirismo de
arquitetos e designers que souberam inovar com o
reuso da madeira na produção de um mobiliário mais
sustentável. Desde a década de 1970, o ex-surfista e
agora designer Carlos Motta (1953-) fazia poltronas
criadas a partir de restos de madeira trazidas pelo
oceano. Hoje, possui onze coleções de móveis, que
incluem bancos, cadeiras, mesas, sofás e outros
projetos especiais feitos por pedido tanto do país como
do exterior. Uma de suas criações mais famosas é a
Poltrona Astúrias (Figura 12), criada em 2002.
(RECICLA E DECORA, 2016)
Reconhecidos internacionalmente, os irmãos Campana – que são Humberto (1953-) e
Fernando Campana (1961-) – têm seu trabalho em design voltado à experimentação de novos
materiais, tecnologias e propostas, as quais entram em sintonia com as últimas tendências em
mobiliário e interiores. Portanto, não é nenhuma novidade terem contribuído com a reciclagem de
produtos e a criatividade formal. Criada em 1991, sua famosa Cadeira Favela (Figura 13),
produzida pela Edra, reflete a nossa brasilidade, sendo feita de pequenos sarrafos de madeira
fixados em uma base de metal, de forma assimétrica tal qual as estruturas de uma favela.
(DESIGN INNOVA, 2011)
6 MATERIAIS E MÉTODOS
Esta pesquisa, de caráter exploratório e teórico-conceitual, é baseada em revisão
bibliográfica e análise de estudos de caso que buscam corroborar para o entendimento da
madeira como material sustentável que pode ser empregado na arquitetura e design. A coleta de
dados foi feita através de fontes impressas, como livros e artigos, além de fontes on line, como
sites e outras publicações, sempre associadas à aspectos ligados tanto à sustentabilidade quanto
à madeira. Em suma, a metodologia de pesquisa seguiu as seguintes etapas:
a) Revisão web/bibliográfica e coleta de dados:
Esta etapa consistiu em uma pesquisa sobre sustentabilidade, desde o momento de suas
discussões iniciais até a sua percepção e impacto atuais. Foi a partir disso que surgiu o princípio de
FIGURA 10
FIGURA 11 FIGURA 12 FIGURA 13
10
materiais recicláveis aplicados à arquitetura e design, aqui explorado através da madeira. Foram
necessárias informações de como a madeira pode ser reciclada e reutilizada em projetos.
b) Seleção, descrição e análise dos estudos de caso:
Nesta etapa, identificou-se e analisou-se 04 (quatro) exemplares do uso de madeira reciclável na
arquitetura (em dois estudos de caso) e no design (outros dois estudos de caso). Os exemplos
buscaram apoiar a revisão web-bibliográfica, através da análise funcional, técnica e estética, além
de serem devidamente ilustrados.
c) Análise e avaliação dos casos:
Fase que se consistiu na reflexão crítica das obras selecionadas através de suas descrições,
características e relevâncias para a arquitetura e o design. A exposição dos exemplos ilustrados
buscará reafirmar a importância de materiais recicláveis – como é o caso da madeira – e suas
aplicações na construção civil.
d) Conclusão e redação final:
O fechamento da pesquisa deu-se por meio da elaboração do Relatório Final de Pesquisa, além da
apresentação expositiva do material por ocasião do 25º Evento de Iniciação Científica (EVINCI), na
9ª Semana Integrada de Ensino, Pesquisa e Extensão (SIEPE), prevista para outubro de 2017.
7 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir dos estudos realizados, fez-se a busca e seleção de 04 (quatro) obras em
concordância tanto com o reuso quanto à reciclagem da madeira aplicados à arquitetura e ao
design. Todas as obras selecionadas buscam ilustrar as aplicabilidades de ambas as técnicas,
seja na escala arquitetônica – aqui exemplificadas por meio de projetos residenciais – seja na
escala do mobiliário, de modo a, principalmente, reforçar seu grande potencial estético e
funcional.
O 2012Architecten é um estúdio de arquitetura sediado em Roterdã, na Holanda (Países
Baixos), que tem como seu principal objetivo o reaproveitamento de materiais considerados, por
muitos, como desperdício. O escritório, criado em 1997, busca se abastecer sempre de matéria-
prima local, a fim de potencializar o fluxo de materiais e energia. (DURAN et HERRERO, 2010)
O projeto da Villa Welpeloo (Figura 14),
executado na cidade holandesa de Enschede,
Província de Overijsse, consiste em uma
habitação que apresenta estrutura em aço e
fachadas que utilizam ripas de madeira em larga
escala, ambos reaproveitados de outras
construções. Para a escolha desses materiais, o
escritório procurou fazer um aprofundado estudo
FIGURA 14
ESTUDO DE CASO I Villa Welpeloo (2009, Enschede – Holanda)
2012Architecten
11
da relação entre o impacto ambiental dos mesmos em detrimento do seu custo. Segundo Duran et
Herrero (2010), “o resultado final, do ponto de vista ambiental, foi claramente a favor do material
reutilizado” (p. 365). Além disso, os materiais reaproveitados permitem formas e técnicas de
construção inovadoras. A estrutura principal da edificação é oriunda de perfis de aço retirados de
uma antiga máquina de produção têxtil da região enquanto que as madeiras utilizadas nas
fachadas vieram de bobinas carretéis, as quais apresentavam algum tipo de dano (Figura 15). Ao
todo, foram reaproveitadas milhares de bobinas para a confecção da casa.
No total, a edificação possui 250 m² distribuídos em 02 (dois) pavimentos. O programa –
referente à moradia de um casal proprietário de uma coleção de arte – possui dois quartos, um
estúdio-cozinha, uma área aberta no centro e um quarto de hóspedes. Diante disso, os
dormitórios configuram-se em espaços bastante amplos e iluminados, uma vez que são utilizados
como expositores de obras artísticas. Já o mobiliário é bastante colorido e remete a estilos de
diferentes épocas. O coração da casa é representado pela sala de estar (Figuras 16 e 17), que se
encontra entre o hall e a cozinha, além de possuir um grande plano aberto que proporciona
visuais para grande parte da residência. A cozinha (Figura 18) é composta por uma série de
armários embutidos, os quais também são feitos de materiais reciclados. (ARCHELLO, 2011)
FIGURA 15
FIGURA 16 FIGURA 17 FIGURA 18
12
O escritório estadunidense In.Site-
Architecture desenvolveu, através de seu
arquiteto Rick Hauser, um projeto de certificação
LEED Platinum: a BARNagain Home (Figura 19).
A edificação notabilizou-se pelo uso de materiais
reciclados a pedido da própria família que
encomendou o projeto. Além disso, o escritório
propôs uma nova leitura da tradicional arquitetura
das zonas agrícolas do Estado de Nova York.
(MEINHOLD, 2013)
Dentre as principais características que levaram essa casa a receber o certificado LEED,
de acordo com Alperovich (2014), estão: o aquecimento da água através de painéis fotovoltaicos e
o uso de materiais reciclados em praticamente toda a sua composição. Tais materiais foram
provenientes de um antigo celeiro da família, localizado a sudoeste da região de implantação da
obra (Figura 20). Iniciou-se uma grande logística envolvendo a demolição do antigo celeiro e,
depois disso, toda a madeira retirada foi moída e transportada para a cidade de Lima NY,
localizada a 65 km de distância.
ESTUDO DE CASO II BARNagain Home (2012, Lima NY – EUA)
In.Site-Architecture
FIGURA 19
FIGURA 20
FIGURA 19
13
Segundo Meinhold (2013), a moradia
unifamiliar busca empregar a linguagem do antigo
celeiro por meio dos telhados íngremes, espaços
bastante amplos e pés-direitos altos. Além disso,
as angulações da cobertura permitiram a
instalação de painéis de captação de energia solar
(Figura 21).
O projeto conta ainda com uma ampla
garagem, e uma cozinha com pequena varanda, a
qual é utilizada para refeições, além de sala de estar, sala de jantar, lavabo, banheiro, suíte e um
dormitório, localizado no segundo pavimento. A planta é bastante ortogonal (Figuras 22 e 23) e
toda a edificação conta com um amplo sistema de eficiência energética (Figuras 24 e 25).
FIGURA 21
FIGURA 22 FIGURA 23
FIGURA 25 FIGURA 24
14
Os designers israelenses Yoav Avinoam e Gil
Sheffi são fundadores do Producks Design Studio e
desenvolvem, em seus trabalhos, um diálogo
constante entre o mundo físico e filosófico, ou seja,
uma busca constante pelo equilíbrio entre as técnicas
de fabricação, materiais, contexto cultural e identidade.
(PRODUCKS DESIGN STUDIO, 2017)
Uma de suas principais obras consiste na linha
denominada Shavings (Figuras 26 e 27), que tem
como matéria-prima a serragem de vários tipos de
madeira descartados pela indústria moveleira. O pro-
cesso de produção é bastante simples, tratando-se da
mistura de serragens a uma resina que, em conjunto,
são pressionadas sobre um molde com um formato
específico. Além disso, são introduzidas eventuais
partes em madeira para a estruturação dos móveis
(CASA E JARDIM, 2009). A fabricação dos mobiliários (Figuras 28 a 31) é basicamente feita de
forma bastante artesanal e o resultado são produtos que fazem um uso extremamente
sustentável no que tange as questões de reciclagem de material, técnica construtiva e mínimo
impacto ambiental. (NAIDOO, 2009)
ESTUDO DE CASO III Shavings (2009, Tel Aviv – Israel) Producks Design Studio
FIGURA 28 FIGURA 29
FIGURA 30 FIGURA 31
FIGURA 26
FIGURA 27
15
O arquiteto e designer paulista Carlos
Motta (1932-) sempre procurou utilizar como
matéria-prima de seus trabalhos as – chamadas
por ele mesmo – “madeiras de redescobrimento”.
Tal ideia veio desde a época em que o artista era
praticante de surf e via uma série de dejetos de
madeira boiando na superfície do mar. Disposto
a trabalhar com a questão do menor impacto
ambiental possível, Motta começou a trabalhar
com arquitetura e mobiliários sustentáveis com o
emprego predominante de madeira renovável
proveniente de demolição e utilizando o mínimo
possível de materiais químicos. (MOTTA, 2012)
Abrindo seu escritório em 1978, na Vila Madalena (São Paulo SP), Motta passou a
desenvolver diversos trabalhos com madeira reciclada. Atualmente, possui 23 linhas de móveis
em seu portfólio, dentre as quais se destaca a poltrona giratória Radar (Figura 32). O projeto foi
concebido em 2008 e utiliza-se de peroba rosa proveniente de madeira de redescobrimento e
lustração especial (Figura 33). A poltrona é giratória e possui ferro oxidado fixado em uma base
com quatro pernas (Figuras 34 e 35), dando um caráter de simplicidade e conferindo ergonomia
à obra. (BRASIL BROKERS, 2014)
De acordo com o site oficial do profissional (MOTTA, 2017), a obra foi especialmente
produzida para a exposição Used and Reused Wood: Furniture by Carlos Motta, realizada em
Nova York, no ano de 2010, tendo sido também escolhida para participar da exposição Design
Brasileiro Hoje: Fronteiras, que ocorreu em São Paulo, em 2009. Suas dimensões são de 67cm x
61cm e altura de 72cm, sendo executada em peroba rosa rústica lixada com seladora e cera.
FIGURA 32
FIGURA 33 FIGURA 34 FIGURA 35
ESTUDO DE CASO IV Poltrona Giratória Radar (2008, São Paulo SP – Brasil)
Carlos Motta
16
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos estudos realizados por meio da revisão de literatura a respeito da reciclagem
da madeira e de suas aplicações nos casos descritos anteriormente, pôde-se observar a
intrínseca relação da madeira como um material renovável e de grande aplicabilidade à
arquitetura e ao design, em especial no que se refere ao seu potencial para sua reutilização.
Para tanto, foi necessário um entendimento a respeito dos conceitos básicos de sustentabilidade
desde o momento em que surgiram até os mais atuais controles e certificações concedidos por
órgãos especializados.
A madeira, como um dos principais materiais mais utilizados na construção civil, desde
tempos remotos, possui grandes potencialidades ecológicas que a credenciam como uma forte
aliada da chamada Green Architecture. Atualmente, existem uma série de especificações que a
madeira deve atender para obter seu certificado como matéria-prima sustentável e, assim,
contribuir para um ciclo saudável no que tange às questões socioambientais. De modo geral,
pode-se dizer que a reciclagem da madeira pode se dar através de 02 (duas) formas
fundamentais: a madeira de reaproveitamento e a madeira de reuso, diferindo-se no fato de
haver ou não sua aplicação in natura. Diante disso, buscou-se abordar nos estudos de caso
apresentados exemplares destas duas categorias, sendo, para cada uma, um caso na escala
arquitetônica e outro na escala do mobiliário.
Assim, enquanto a edificação holandesa (Caso I) foi resultado do reprocessamento da
madeira de carreteis, a casa que foi realizada nos EUA (Caso II) utilizou-se de madeira de
demolição. Da mesma forma, enquanto o trabalho dos designers israelenses (Caso III) emprega
uma mistura de resina a serragem de madeira, o design proposto por Carlos Motta (Caso IV)
trabalha com o reuso de madeira descartada, a que ele chama de “madeira de descobrimento”.
Em todos os casos, nota-se a potencialidade do material, que pode ser reaplicado em sua forma
original – ou trabalhado na produção de novos materiais, seja na íntegra ou através de seus
resíduos.
Com isso, a pesquisa, embora de caráter introdutório e abrangente, permitiu definir,
descrever e ilustrar as possíveis aplicabilidades sustentáveis da madeira tanto em uma
arquitetura de qualidade quanto em um mobiliário eficiente e esteticamente reconhecido. Isto,
sem dúvidas, abre precedentes para que, cada vez mais, haja um crescimento de uma prática
em construção civil mais consciente social e ecologicamente e, portanto, mais condizente com as
demandas atuais do século XXI. Como desdobramentos dessa pesquisa, sugere-se a
investigação mais detalhada sobre os métodos de reprocessamento da madeira e seus
fragmentos (retalhos, serragem, etc.), assim como das estratégias de demolição e descarte da
madeira que não comprometam sua potencial reutilização nas áreas de arquitetura e design
sustentável.
17
9 REFERÊNCIAS
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FONTES DE ILUSTRAÇÕES
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01 http://images.slideplayer.com.br/8/2358252/slides/slide_11.jpg 1º nov. 2016
02 http://www.madeireirabh.com/madeireiras-blog/wp-content/uploads/2015/05/mdf-cru.jpg 1º nov. 2016
03 http://www.madeireirabh.com/madeireiras-blog/wp-content/uploads/2015/05/mdp.jpg 1º nov. 2016
04 http://www.madeireirabh.com/madeireiras-blog/wp-content/uploads/2015/05/madeira2-2.jpg 1º nov. 2016
05 http://catalogodearquitetura.com.br/img/produtos/10631/13766-sistema-construtivo-wood-frame-lp-brasil-g.jpg
1º nov. 2016
Continua
19
Continuação
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1º nov. 2016
07 http://3.bp.blogspot.com/-wr6h9N7axM4/ToCAZRGYO_I/AAAAAAAAAHA/ zlQsK1TVR_o/s1600/foto+1.jpg
1º nov. 2016
08 http://assets.inhabitat.com/wp-content/blogs.dir/1/files/2013/12/Macy-Miller-Tiny-House-2.jpg 1º nov. 2016
09 http://sustentarqui.com.br/wp-content/uploads/2014/04/Dust.jpg 1º nov. 2016
10 http://images.adsttc.com/media/images/5565/d3d0/e58e/ceeb/8d00/0188/large_jpg/Spanish-Pavilion-at-Milan-Expo-2015-B720-Arquitectura-Ferm%C3%ADn-V%C3%A1zquez-0024.jpg?1432736713
1º nov. 2016
11 http://blog.linhaceira.net/wp-content/uploads/2011/02/fagelbo_liten1.jpg 1º nov. 2016
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13 http://3.bp.blogspot.com/-JgU2tBw23YE/TjHoXGNSCzI/AAAAAAAAPo0/ Y4RTKLxWH6U/s1600/favela.jpg
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14 http://www.archidesignclub.com/images/miniatures/mini.php?src=http://muuuz.com/wp-content/uploads/2010/01/582-villa-welpeloo-2012-architects-1.jpg&w=610
17 abr. 2017
15 http://www.homedesignfind.com/wp-content/uploads/2011/06/Villa_Welpeloo_3.jpg 17 abr. 2017
16 https://www.mimoa.eu/images/20657_l.jpg 17 abr. 2017
17 http://www.archello.com/sites/default/files/imagecache/header_detail_large/2_957.jpg 17 abr. 2017
18 http://www.archello.com/sites/default/files/imagecache/media_image/story/media/d4_4.jpg 17 abr. 2017
19 http://assets.inhabitat.com/wp-content/blogs.dir/1/files/2013/09/BarnAgain-InSite-Architecture.jpg 17 abr. 2017
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24 http://assets.inhabitat.com/wp-content/blogs.dir/1/files/2013/09/BarnAgain-InSite-Architecture-13.jpg 17 abr. 2017
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34 http://www.upcycledzine.com/wp-content/uploads/2016/03/Carlos_Motta_Radar_Chair_04.jpg 15 maio 2017
35 http://www.upcycledzine.com/wp-content/uploads/2016/03/Carlos_Motta_Radar_Chair_05.jpg 15 maio 2017
9 PARECER DO ORIENTADOR
O acadêmico realizou adequadamente as tarefas previstas no plano de trabalho inicial da
pesquisa, apresentando alguma dificuldade em conciliar essas atividades com as demais obrigações
escolares, dificultando o adequado cumprimento do cronograma previamente definido. De qualquer
forma, conseguiu chegar a um resultado satisfatório com a conclusão do Relatório Final e a possibilidade
de apresentação com qualidade no Encontro de Iniciação Científica da UFPR, previsto para ocorrer em
outubro de 2017.
20
10 DATA E ASSINATURAS
Curitiba, 25 de maio de 2017.
Acadêmico Lucas Kasiano Pereira
Prof. Dr. Antonio Manoel Nunes Castelnou Nt
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