Entrevista com João Pedro Pereira, editor do weblog “Engrenagem”
por Claudio Vaz
“É preciso deixar de considerar o jornalismo online como um
jornalismo de segunda”
João Pedro Pereira nasceu no Porto, mas mora actualmente em Lisboa. Licenciou-se
em Jornalismo na Universidade de Coimbra. Lançou o seu próprio empreendimento em
2005, a editora on-line SINAPSES.NET, a qual gere enquanto actualiza o weblog
Engrenagem, dedicado a temas de Media e Tecnologia. Iniciou colaborações com o
Jornal Público em Maio de 2006, actividade esta que desempenha até hoje, e
recentemente, foi orador na conferência “Internet de Banda Larga” da Fundação para a
Computação Científica Nacional.
O que é a blogosfera para si?
A blogosfera (termo colectivo que compreende todos os weblogs) só pode ser definida
como o conjunto de blogues, e estes são, por sua vez, um determinado formato de
publicação. Nada mais. Acrescentar à definição de blogosfera qualquer outro conceito é
entrar no domínio das sub-blogosferas: a blogosfera política, a blogosfera pessoal, a
blogosfera empresarial, que está agora a dar os primeiros passos no país...
Tem alguma opinião sobre o futuro deste gigantesco enlace de weblogs espalhados
pelo mundo?
No capítulo da blogosfera pessoal, os blogues evoluirão para plataformas mais completas
de publicação pessoal, com texto, vídeo e integrando muitas das funcionalidades dos
actuais sites sociais. Quanto aos blogues nos media, provavelmente serão o formato
padrão para colunas de opinião e análise.
Nota alguma mudança significativa nas formas de fazer jornalismo desde que se
envolveu com o jornalismo online?
Não há grandes mudanças. As rotinas são as que existem nos outros meios, embora com
algumas adaptações. Há práticas jornalísticas que serão sempre válidas. A visão futurista
e sobre a tecnológica do jornalista online é um mito. Fazer jornalismo online é fazer
jornalismo para um suporte diferente, mas não deixa de ser a mesma actividade.
O que pensa sobre o jornalismo on-line em Portugal?
Em Portugal, estamos ainda muito atrasados neste aspecto e os órgãos perdem dinheiro
por isso. No Reino Unido, a Internet é a terceira plataforma de investimento publicitário, à
frente da rádio. Alguns analistas apontam para que ultrapasse os jornais já no início de
2007 e há previsões semelhantes nos EUA.
Que mudanças faria para melhorar?
A primeira mudança terá que ser feita ao nível da mentalidade das redacções. Quanto
mais não seja pela quantidade de público e pelo potencial publicitário, é preciso deixar de
considerar o jornalismo online como um jornalismo de segunda.
Acha que o fim do jornalismo impresso, prenunciado por alguns profetas da
evolução digital, será uma realidade nos próximos 20 ou 30 anos?
Daqui a 30 anos é muito provável que não haja jornais impressos. Há muitas razões para
que o argumento histórico de que um meio não mata o outro (tal como a televisão não
matou a rádio) não venha a ser válido neste caso. A pergunta é simples: “Que razão
existe para que haja tantas ou mais pessoas a comprar jornais daqui a uns anos?”
Nenhuma.
Os blogues poderão vir a afectar os jornais no futuro?
Por muito que se fale do fenómeno do cidadão jornalista, grande parte da informação
continuará na mão das empresas de media. O que acontecerá é uma migração de
suportes, que afectará não apenas os jornais, mas a rádio (que vive já à custa do “driving
time” e do desporto) e as televisões. Não se pode é ter uma visão catastrófica. O
jornalismo, provavelmente, não acabará tão cedo. Vai é assumir outras formas.
Cláudio Vaz - 4º Jornalismo
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