XVI Fórum da Rede Municipal de Ensino: educação e pesquisa Secretaria de Educação de Novo Hamburgo – 23 de outubro de 2018
ESCOLA É LUGAR DE PROTAGONISMO
Claudéria dos Santos1
Resumo
Este artigo tem como principal objetivo acolher permanentemente as pessoasque habitam a escola: famílias, crianças, professores e demais funcionários.Partimos da ideia de que a participação é um indicador de qualidade. O projetoRevitalização dos Espaços e Construção de Brinquedos: o quintal da nossa infânciaé uma das ações que a escola tem realizado na proposta maior de gestãocompartilhada, protagonismo e acolhimento na escola. A metodologia doacolhimento numa experiência de gestão compartilhada neste ano deu-se com aimplementação do plano de gestão em que, nos processos democráticos, umacriança, um pai, toda pessoa que trabalha na escola, deve perceber o bem-estar aosentir-se esperado e acolhido na escola. A decisão de investir em uma gestãoqualificada que propõe uma metodologia participativa foi pautada na percepção deque é preciso escutar as vozes de todos na escola. E assim teremos uma escolaque caminha para um projeto educativo que considera a participação como um valorque identifica a importância do diálogo nos processos democráticos. Elegemos comoprioridade olhar para nosso espaço externo a partir das brincadeiras das crianças edas expectativas dos familiares em relação à proposta da escola. O projeto derevitalização dos espaços deu-se de maneira participativa com as famílias,professores, crianças e comunidade em geral. Com isso, percebemos que estamudança de atitude tem gerado um “poder dizer o que pensa” sobre a escola comoespaço para a comunidade que precisa de acesso a um lugar alegre, bonito, comintencionalidade pedagógica de qualidade para as crianças. Este projeto significouum marco na história da escola que, através da metodologia de acolhimento eplanejamento eficiente, pode efetivar mais do que a organização e embelezamentodos espaços, mas sim um encontro de muitas pessoas que buscam os mesmosobjetivos, oferecer um espaço seguro e que nele aconteçamuitas experiências, aprendizagens e interação para e entre as crianças e adultos apartir da brincadeira, atividade vital para a infância.
Palavras-chave: Acolhimento; participação; qualidade; gestão compartilhada
1 Licenciada em Pedagogia, FEEVALE. Especialista em Docência naEducação Infanil/UFRGS. Professora da Rede Municipal de Ensino,[email protected]. EMEI Professor Ernest Sarlet/Coordenação Pedagógica.
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INTRODUÇÃO
O presente artigo relata uma experiência de gestão compartilhada na Escola
Municipal de Educação Infantil Prof. Ernest Sarlet, que investe e dá condições para
o acolhimento de todos os envolvidos na cotidianidade da escola. No decorrer do
texto serão
abordados os caminhos percorridos para que crianças, famílias, professores,
estagiárias e demais funcionárias tenham voz e ação no Projeto Politico Pedagógico
da escola (PPP).
Nosso ano letivo iniciou com as entrevistas e assim organizamos os
horários de adaptação das crianças na escola. As famílias são convidadas a
permanecerem na sala referência conforme a situação apresentada. Ao se retirarem
da sala, os sujeitos que acompanham a criança na adaptação permanecem na
escola para concluir o tempo da criança e assim retornar para suas casas. A partir
da observação das professoras, percebeu-se que uma família bem acolhida na
escola, sente-se segura e isto contribui de maneira significativa para que a
adaptação das crianças se efetive de maneira mais tranquila. Com isso, as
professoras trouxeram a necessidade de organizar um espaço de acolhimento
adequado pais e responsáveis aguardassem seus filhos e suas filhas no período de
adaptação na escola. Nesse sentido, a equipe diretiva acolheu essa fala das
professoras e ao iniciar o ano letivo de 2018 inseriu no plano de gestão
compartilhada ações para um acolhimento permanente na escola com e para todos.
A decisão de investir em uma gestão qualificada que propõe uma metodologia
participativa foi pautada na concepção de que é preciso escutar as vozes de todos
na escola (BARBOSA). E assim teremos uma escola que caminha para um projeto
educativo que considera a participação como um valor que identifica e acredita na
importância do diálogo nos processos cotidianos na instituição escolar.
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No período inicial de adaptação escolar, organizamos uma sala com sofá e
almofadas. Nesse espaço chamado de sala de acolhimento, permeneceram as
famílias, a diretora, a coordenadora e, por vezes, as professoras, que traziam
notícias de como estavam as crianças. Essas notícias acalmavam e davam
segurança aos pais e responsáveis e, assim, percebemos que também as crianças
permaneciam mais tranquilas no novo ambiente e com a nova professora. Na sala
de acolhimento, tomamos chimarrão ao som de violão. Assim, criou-se um clima de
contentamento e compartilhamento entre todos que ali aguardavam as crianças.
Nesse grupo, tivemos avós, pais e mães, tios e tias e amigos. Escutamos a todos
sobre suas expectativas, suas dúvidas, em relação ao PPP da escola e ao
desenvolvimento das crianças. Outra estratégia que a escola adota neste período é
convidar os familiares para conhecer os espaços da escola. E com isso, já estamos
dialogando sobre a proposta da escola principalmente em relação às brincadeiras ao
ar livre e experiências na natureza que acontecem no quintal da infância da Sarlet.
Cagliari e Giudici (2014) nos ajudam a reforçar a concepção de participação dizendo
que,
Se desejar a participação, a escola deve abrir espaços, lugares,momentos em que todos os sujeitos, crianças, professores e pais,possam descobrir a possibilidade de falar e de serem escutados.(CAGLIARI, GIUDICI, 2014. p 139).
Com isso, acreditamos em uma escola da pedagogia da sensibilidade para
olhar e escutar pessoas como sujeitos protagonistas de projetos de vida coletiva ou
individual e seus pontos de vista devem ser ouvidos.
Na sequência, este texto encontra-se organizado em quatro seções: a
primeira trata dos conceitos que balisaram o desenvolvimento do projeto, a segunda,
da metodologia e da importância do planejamento para a efetivação do projeto e a
terceira, dos resultados e discussão e a quarta, das considerações finais e
conclusões.
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REFERENCIAL TEÓRICO
A Participação como indicador de qualidade
O tema da participação é um objeto de questionamentos no âmbito escolar.
Com muita facilidade, ele aparece nas propostas pedagógicas das escolas numa
perspectiva de gestão democrática. O grande desafio é transformar essas ideias
descritas “no papel” em ações cotidianas. A autora italiana Anna Bondiolli (2013),
nos ajuda a pensar sobre esta temática indicando que
O tema da participação propõe uma série de interrogativos de nãofácil solução: de quem é a responsabilidade do processo educativo?Quem são os envolvidos? De que modo? O que significa participar?Que níveis de tomada de decisões ela comporta? Quem é o fiador dodireito de participar? Quais “vozes” devem falar e ser ouvidas, e porquê? Interrogativos que se entrelaçam com outros, relativos a umdebate, ainda hoje aberto, acerca do que dá qualidade a um contextoeducativo, quais condições ajudam a defini-la, criá-la e garanti-la.(BONDIOLI, 2013, p. 25).
Pesquisas e estudos atuais revelam que algumas realidades que atendem
crianças pequenas tem as famílias não somente usuárias de um serviço, mas como
protagonistas e partícipes (BONDIOLI, 2013). A autora apresenta questionamentos
sobre a participação e sobre que é um debate em aberto. Em se tratando da
participação das famílias na escola, tradicionalmente essas entram na escola
através de um processo que envolve desde a matrícula até a reunião de pais. Ou
seja, quem define esta participação é a instituição escolar. Mas, nesse artigo,
queremos ampliar o conceito de participação para escutar as pessoas que fazem
parte da cotidianidade escolar. Para tanto, buscamos a metodologia do acolhimento
para definir o que entendemos por participação na escola. O autor Staccioli (2013)
define acolhimento como “um método de trabalho complexo”. Ainda aborda a
valorização da brincadeira, a preparação dos espaços e ambientes para a
aprendizagem das crianças. A participação das famílias na escola, segundo a autora
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Bondioli (2013), está intimamente ligada à qualidade de uma instituição educativa. E,
acolher, ouvir, olhar, perceber os gestos, os balbucios, os choros das pessoas,
sejam bebês ou adultos, é constituir uma cultura de participação. O documento
Indicadores de qualidade na educação infantil, 2009, define que,
A presença, entre familiares e profissionais da educação, do sentimento deestar em um lugar que acolhe é fundamental para garantir uma educaçãoinfantil de qualidade. E esse sentimento, naturalmente percebido ecompartilhado pelas crianças, somente pode ser fruto do respeito, da alegria,da amizade, da consideração entre todos. (BRASIL. MEC, 2009, p. 57).
Neste sentido podemos dizer que a escola é um lugar de protagonismo de
pessoas, em especial as crianças que na sua maioria permanecem de oito a dez
horas em uma instituição educativa. Possibilitar o protagonismo delas é pensar
numa gestão compartilhada através do “olhar que escuta” e que “educar e cuidar”
são compartilhados entre os responsáveis. Entender o protagonismo da criança é
percebê-la como curiosa e que faz hipóteses, é valorizar suas descobertas enquanto
potentes pesquisadoras. E a qualidade aqui entendida define-se pela participação
efetiva no contexto escolar. Maffini e Mello (2017), nos ajuda a pensar sobre a
gestão compartilhada ao dizer que abrir as portas é estar aberto à infância e a toda
potencialidade de sua história, de sua cultura e de suas famílias. Assim, a proposta
desta gestão é evidenciar o protagonismo de famĺias, crianças, professoras e
demias partcipantes do trabalho na escola. E, portanto, na ação exercida sobre o
Revitalização dos Espaços e Construção de Brinquedos: o quintal da nossa infância,
aconteceram encontros, diálogos e ações possíveis, a fim de qualificar a proposta
pedagógica da escola com o foco nos espaços e materias oferecidos para as crinças
brincar.
O quintal da nossa infância
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Com as crianças em adaptação já nos primeiros dias, as professoras
planejavam deslocamentos pelos espaços externos da escola. Com isso,
percebemos que alguns desses espaços precisavam de corte de grama, pintura,
limpeza, iluminação, piso adequado, organização, brinquedos e materiais. Esse foi o
olhar para espaços externos da nossa escola. Percebemos que poderíamos
qualificá-lo de maneira mais acolhedora. A equipe diretiva reuniu-se com a
professora do Projeto Espaços e Materiais que temos na escola e solicitou uma
pesquisa com as professoras, com a proposta de observar as crianças no pátio
durante suas brincadeiras e interações. Com isso, as docentes da escola tiveram
uma atitude de pesquisadoras do brincar, dos gestos, dos olhares, das interações de
todas as crianças nos espaços que habitavam na escola. Anotavam suas
observações e interpretações acerca da ação de cada criança no espaço brincante.
A partir dessa observação atenta e interessada, as professoras escreveram sobre as
observações em uma planilha, colocando sugestões de brinquedos e materiais que
pudessem estar de acordo com a pesquisa realizada e a observação das crianças
no pátio da escola. Frente ao levantamento de brinquedos e de modificação de
espaços, elaboramos o projeto intitulado “Revitalização dos Espaços e Construção
de Brinquedos: o quintal da nossa infância”. Para inserir as famílias nesse projeto,
inserimos uma pergunta na ficha de entrevista sobre as expectativas de cada família
em relação à escola e do que as crianças brincavam. Outra ação foi uma visita sócio
antropológica, que possibilitou a observação dos lugares onde a criança brincava em
casa. Nessa pesquisa, conversamos com as familias sobre a proposta pedagógica
da escola, em especial sobre o “desemparedamento” que procura dar condições
para que experiências aconteçam em ambientes abertos de qualidade, numa
proposta mais saudável e em contato com a natureza. A partir dessas ações de
escuta de todos, iniciamos o processo de tornar real o projeto.
Segundo o parecer CNE/CEB Nº 20/2009, que fixa as Diretrizes Curriculares
Nacionais para Educação Infantil,
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As crianças precisam brincar em pátios, quintais, praças, bosques, jardins,praias, e viver experiências de semear, plantar e colher frutos da terra,permitindo a construção de uma relação de identidade, reverência e respeitopara com a natureza. (BRASIL. CNE/CEB Nº 20/2009, p. 15)
A partir essa concepção, investigamos com as famílias sobre a possibilidade
de iniciarmos uma parceria efetiva no projeto de revitalização dos espaços externos
da escola como possibilidade de brincadeiras e interações das crianças.
METODOLOGIA
O Plano de ação compartilhado, a pesquisa como inicio do caminho a ser
percorrido
A Secretaria Municipal de Educação (SMED) solicita anualmente um plano de
ação da equipe diretiva. Para a elaboração de um diagnóstico, buscou-se olhar para
o registro de uma avaliação do trabalho realizado no ano de 2017, intitulado “que
bom, que pena, que tal” realizado com professores, estagiárias e funcionárias da
escola. As respostas foram em forma de afirmação no plano de ação compartilhado
deste ano, seguida de um questionário. A partir dessa organização, iniciamos o
trabalho de gestão compartilhada, elegendo algumas prioridades juntamente com o
grupo. As perguntas foram discutidas em pequenos grupos e relatadas no coletivo.
O grupo elegeu como prioridade a discussão sobre um currículo que inclui no
cotidiano as datas comemorativas, que ainda está em construção na escola, e
também olhar para os espaços, os materiais, o tempo e a metodologia na/da escola.
As propostas a serem debatidas em relação aos espaços estão descritas no
quadro de questões abordadas e as perguntas que foram feitas.
Quadro de questões abordadas:
Presença de um animal na 1. Qual animal? Qual local? Queremos? Por
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escola quê?
Estética dos espaços 2. Qual concepção de estética? Qual aparticipação da equipe?
Criança na natureza 3. Como qualificar a ação das crianças em relaçãoao tempo, espaços, materiais? Que passeiosrealizar? Como e onde buscaremos os recursos?
Esse questionário foi um passo importante na trajetória desta gestão e teve
como objetivo a escuta de todos. Isso significou remeter para a chegada das
pessoas na escola, professoras, crianças, profissionais diversos e as famílias que
teriam que ser ouvidas sobre essa avaliação. Em relação à escuta dos professores,
tivemos um espaço no planejamento coletivo. E com as famílias, organizamos então
a “sala de acolhimento” ao som de violão, ao sabor de um chá, café e chimarrão.
Nesse espaço, puderam falar sobre suas expectativas com a nova escola, as novas
professoras. E assim, as crianças permaneceram com suas professoras, algumas
com os familiares junto, respeitada a singularidade de cada uma. No decorrer dos
primeiros dias, o clima acolhedor da escola foi contagiando a todos.
A parceria para a efetivação do projeto
Para o desenvolvimento do projeto Revitalização dos espaços tivemos como
principal objetivo a participação, estabelecendo uma parceria com vários segmentos,
como empresas locais parceiras, familiares das professoras, famílias das crianças,
professoras, estagiárias e funcionarias e vizinhança próxima da escola. Tivemos
momentos de diálogo em reunião de Associação de Pais e Mestres (APEMEM), com
as professoras em planejamento coletivo, em eventos de sábado letivo, por meio
das mídias, e principalmente de contato informal no dia a dia com todos, objetivando
a informação sobre o projeto e como poderiam participar.
Após o levantamento da pesquisa realizada com os professores sobre os
brinquedos a serem construidos, priorizamos alguns e escolhemos os espaços a
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serem revitalizados. A partir disso, contamos com a colaboração do esposo de uma
professora, arquiteto, que se disponibilizou em assessorar este projeto. Através da
sua parceria, reformamos o espaço intitulado “pátio das motocas”. Retiramos a tela
que cercava a parte coberta, colocamos piso e cercamos com uma madeira natural.
Junto a essa grande reforma, fomos desenhando os brinquedos e planejando
as modificações a serem realizadas nos espaços como a mesa de areia, o espaço
verde de aprender, o pátio de areia, a Praça Rudor Blum. Para a organização
eficaz, elaboramos planilhas com a listagem dos materiais e ferramentas
necessários para a revitalização dos espaços e a construção dos brinquedos para
cada pátio. Também escolhemos um coordenador e as pessoas que estariam no
local e no dia dedicado para a ação de participação coletiva na escola. Planejamos
grupos de trabalho, tipo de brinquedo, o local e quais as ferramentas necessárias
para cada projeto.
Após essa etapa de planejamento e busca de parcerias, propomos em
reunião de APEMEM para definir a data para o desenvolvimento do projeto. Tivemos
um coordenador geral, um coordenador para cada espaço e um arquiteto de apoio
técnico. Em reunião de APEMEM decidimos e na data escolhida tivemos uma greve
de caminhoneiros e faltou gasolina para o deslocamento das pessoas até a escola.
Decidimos manter o planejamento. E através de uma efetiva conversa com as
famílias durante muitos dias, o dia finalmente chegou. A greve permaneceu e as
pessoas vieram com dificuldades, tivemos professoras que vieram de táxi e famílias
que vieram de bicicleta. Professoras trouxeram seus irmãos, seus esposos.
Compareceram também avós e “dindos” das crianças. E assim, o movimento de
participação foi acontecendo. Foi bonito de ver as pessoas dialogando, perfurando
buracos, retirando a terra, escolhendo as cores, felizes com a possibilidade de
estarem na escola com esse objetivo.
Os espaços foram sendo modificados e brinquedos construídos a partir de um
planejamento qualificado da gestão compartilhada deste ano. Reformamos a mesa
de areia, o espaço verde com brinquedos de madeira, construímos uma roda com
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lugar para a fogueira, com bancos de tocos de madeira. Os brinquedos de ferro
foram transferidos para a Praça Rudor Blum ao lado da escola e flores foram
plantadas em vasos. Criamos o ateliê de arte e os brinquedos do pátio de areia
foram pintados. As árvores foram podadas, os telhados foram limpos, bancos de
madeira foram construidos, telas e paredes foram pintadas, a casinha reformada e
pintada. Todos reunidos numa grande família em clima de cooperação, diálogo,
alegria, motivação, fomos transformando e qualificando o quintal da escola para
potencializar as brincadeiras e as interações das crianças. Antes de concluir as
atividades, adultos crianças que passavam pela escola olhavam e falavam “está
tudo lindo”, “quero voltar para esta escola”, “dá vontade de vir no final de semana
tomar chimarrão”. A escola, nesse, dia foi tomada pelo prazer de participar. Foi
visível o engajamento de todos para que o projeto acontecesse. As famílias
trouxeram muitas ferramentas e materiais para essa revitalização. Após o
encerramento dessa manhã, todos foram compartilhar um almoço saboroso,
preparado pelas funcionárias da escola, e festejar esse lindo movimento de
participação no projeto da escola, revitalizando os espaços externos.
Ao chegarem à escola, as crianças logo perceberam que os espaços estavam
diferentes e diziam “a mãe, o pai veio na escola”, “que estava pintada”, “que tinha
praia”, “que tinha muita coisa linda, linda”. Logo foram brincar. Nesse dia, as
crianças continuaram a revitalização dos espaços e através da brincadeira pegaram
seus baldinhos e foram distribuir a areia que estava amontoada no pátio. Foram
preenchendo os buracos abaixo dos balanços e escorregadores. Encantados com
tudo que suas famílias haviam realizado, a cada movimento descobriam as
novidades do pátio.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para que esse projeto acontecesse com sucesso foi necessário a participação
coletiva e um planejamento compartilhado e desejado. Através de muitas parcerias
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entre diversos segmentos da sociedade e da metodologia de acolhimento de vozes
da escola, crianças e adultos o Projeto de Revitalização dos Espaços se realizou. A
escola pode ser lugar de protagonismo, tendo como balizador da ação a pesquisa,
ou seja, um olhar atento às provocações que o cotidiano nos apresenta, através das
crianças, dos adultos, do brincar e dos fazeres de cada um. Nos dias que seguiram
após essa etapa, continuamos a valorizar a participação na escola. Com a
organização dos espaços percebemos a necessidade de relembrar ou criar algumas
combinações para o uso dos espaços e dos materiais. Com isso, novamente junto
com a professora do Projeto Espaço e Materiais, realizamos uma pesquisa para
nomear os lugares revitalizados. A pesquisa orientava que:
Nossos espaços, que foram reorganizados, estão ficando prontos e que a
partir disso queremos nomeá-los, colocando placas que os identifiquem. Para
tanto, pedimos que pesquisem com as crianças sugestões de nomes ou
deem suas próprias sugestões.
Faremos uma posterior votação para escolher a nomenclatura dos mesmos”.
Escolhemos a identificação com os nomes de Mesa de areia/ praia, Ateliê de
Arte e Varanda.
Ainda temos que concluir o espaço da casinha, o espaço que ficava o gás, o
palquinho, o esverdeamento dos muros e o pátio onde estão as motocas.
Para os lugares que estão concluídos, elaboramos as combinações para
convivência e uso adequado, e que isso possa acontecer em clima de
responsabilidade de todos.
A partir desse acolhimento e gestão compartilhada, identificamos outras
prioridades na escola para a continuidade do projeto. Retiramos as pedras da praça
da rampa para dar espaço à brincadeira com terra. Também estamos realizando
uma pesquisa junto às professoras, para que observem do que as crianças brincam
para, assim, planejar o espaço com materiais, possibilitando mais enredos e
brincadeiras.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse projeto significou um marco na história da escola. De acordo com as
professoras que estão há mais tempo nesse espaço, muitas foram as vezes que as
famílias foram chamadas para um “mutirão”, mas não vieram. E este ano tivemos
uma grande surpresa, pois elas compareceram e aderiram em grande número à
iniciativa, trazendo suas ferramentas, doando materiais e mão de obra. Para nos
ajudar a avaliar essa mudança de atitude, citamos a reflexão de Barbosa (2009):
A gestão de uma escola de educação infantil defronta-se com a exigência deconsidera-la um estabelecimento de educação e cuidado em todos os seusespaços e relações. A expectativa de que todas as pessoas envolvidas noprocesso educacional, independente de seus cargos ou funções, tenhamrespeitado seu direito à participação em um ambiente que vive – e valoriza –a democracia, tem como intenção enfrentar o desafio de tanto garantir adiversidade pessoal, social e cultural quanto preservar e constituir um espaçode pertencimento e construção de singularidade. Os seres humanos, grandesou pequenos, necessitam de um ambiente acolhedor, tranqüilo, belo, alegre epromotor do prazer de viver em comunidade. A gestão da Escola da Infânciacumpre importante função ao priorizar o bem estar para todos como modo degarantir às crianças e adultos uma experiência de vida sustentável.(BARBOSA, 2009, p. 87).
Com essa afirmação, nosso grupo de trabalho, nesse evento participativo,
conclui que o que fez dar certo foi a maneira como tudo foi planejado. Ou seja, cada
passo foi devidamente pensado por um grupo de pessoas que acreditaram que
chamar as famílias na escola para a participação é possível, se elas forem acolhidas
desde sua entrada na escola. E esse movimento permanente e vivo nas ações
cotidianas da escola deu certo. As pessoas que hoje adentram na escola são
convidadas a participar, seja pai, mãe, parente de uma professora, criança, irmão.
Tal mudança de atitude tem gerado um “poder dizer” o que pensa sobre a escola
como espaço público da comunidade que precisa deixar suas crianças em um lugar
alegre, bonito, seguro, com intencionalidade pedagógica de qualidade. Os eventos
de participação na escola continuam e percebemos uma mudança expressiva na
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vinda das famílias na escola. O que estamos vendo é uma escola que necessita
estar preparada para receber as famílias, porque, segundo uma professora, “a
escola agora está “cheia”. Nesse caso, os espaços devem ser planejados, a escola
deve ser acolhedora, organizada e preparada para receber a todos seja de maneira
individual, em grupos ou de forma coletiva. Tivemos algumas falas registradas das
famílias durante o evento de revitalização, que marcam essa participação efetiva,
como “Quantos pregos, mais ou menos”?”, “Ainda não consegui levar os pincéis,
levo no sábado”, “Vamos levar dois pincéis, um rolo grande, buchas e parafusos
diversos e um saco de cimento e para empréstimo a furadeira, pás, enxada, cavador
de buraco, martelo, motosserra elétrica, serra comum, colher de pedreiro e picareta”.
Essas falas representam um pouco do grande movimento das famílias e
comunidade em geral que fizeram desse dia um evento marcante nas suas vidas.
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KINNEY, Linda. WHARTON. Pat. Tornando visível a aprendizagem: crianças queaprendem individualmente e em grupo. Coleção Reggio Emilia. São Paulo. 2013.
PPP. Projeto Político Pedagógico. EMEI Ernest Sarlet. Novo Hamburgo, 2016.SMED. Secretaria de Educação. Projeto de Acolhimento Permanente na Escola.Novo Hamburgo, 2015.
STACCIOLI, Gianfranco. Diário do acolhimento na escola da infância. Trad.Fernanda Ortale; Ilse Paschoal Moreira. Campinas, SP: Autores Associados, 2013.(Coleção Formação de Professores. Série Educação Infantil em Movimento).
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