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XVI Fórum da Rede Municipal de Ensino: educação e pesquisa Secretaria de Educação de Novo Hamburgo – 23 de outubro de 2018 ESCOLA É LUGAR DE PROTAGONISMO Claudéria dos Santos 1 Resumo Este artigo tem como principal objetivo acolher permanentemente as pessoas que habitam a escola: famílias, crianças, professores e demais funcionários. Partimos da ideia de que a participação é um indicador de qualidade. O projeto Revitalização dos Espaços e Construção de Brinquedos: o quintal da nossa infância é uma das ações que a escola tem realizado na proposta maior de gestão compartilhada, protagonismo e acolhimento na escola. A metodologia do acolhimento numa experiência de gestão compartilhada neste ano deu-se com a implementação do plano de gestão em que, nos processos democráticos, uma criança, um pai, toda pessoa que trabalha na escola, deve perceber o bem-estar ao sentir-se esperado e acolhido na escola. A decisão de investir em uma gestão qualificada que propõe uma metodologia participativa foi pautada na percepção de que é preciso escutar as vozes de todos na escola. E assim teremos uma escola que caminha para um projeto educativo que considera a participação como um valor que identifica a importância do diálogo nos processos democráticos. Elegemos como prioridade olhar para nosso espaço externo a partir das brincadeiras das crianças e das expectativas dos familiares em relação à proposta da escola. O projeto de revitalização dos espaços deu-se de maneira participativa com as famílias, professores, crianças e comunidade em geral. Com isso, percebemos que esta mudança de atitude tem gerado um “poder dizer o que pensa” sobre a escola como espaço para a comunidade que precisa de acesso a um lugar alegre, bonito, com intencionalidade pedagógica de qualidade para as crianças. Este projeto significou um marco na história da escola que, através da metodologia de acolhimento e planejamento eficiente, pode efetivar mais do que a organização e embelezamento dos espaços, mas sim um encontro de muitas pessoas que buscam os mesmos objetivos, oferecer um espaço seguro e que nele aconteça muitas experiências, aprendizagens e interação para e entre as crianças e adultos a partir da brincadeira, atividade vital para a infância. Palavras-chave: Acolhimento; participação; qualidade; gestão compartilhada 1 Licenciada em Pedagogia, FEEVALE. Especialista em Docência na Educação Infanil/UFRGS. Professora da Rede Municipal de Ensino, [email protected] . EMEI Professor Ernest Sarlet/Coordenação Pedagógica.

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XVI Fórum da Rede Municipal de Ensino: educação e pesquisa Secretaria de Educação de Novo Hamburgo – 23 de outubro de 2018

ESCOLA É LUGAR DE PROTAGONISMO

Claudéria dos Santos1

Resumo

Este artigo tem como principal objetivo acolher permanentemente as pessoasque habitam a escola: famílias, crianças, professores e demais funcionários.Partimos da ideia de que a participação é um indicador de qualidade. O projetoRevitalização dos Espaços e Construção de Brinquedos: o quintal da nossa infânciaé uma das ações que a escola tem realizado na proposta maior de gestãocompartilhada, protagonismo e acolhimento na escola. A metodologia doacolhimento numa experiência de gestão compartilhada neste ano deu-se com aimplementação do plano de gestão em que, nos processos democráticos, umacriança, um pai, toda pessoa que trabalha na escola, deve perceber o bem-estar aosentir-se esperado e acolhido na escola. A decisão de investir em uma gestãoqualificada que propõe uma metodologia participativa foi pautada na percepção deque é preciso escutar as vozes de todos na escola. E assim teremos uma escolaque caminha para um projeto educativo que considera a participação como um valorque identifica a importância do diálogo nos processos democráticos. Elegemos comoprioridade olhar para nosso espaço externo a partir das brincadeiras das crianças edas expectativas dos familiares em relação à proposta da escola. O projeto derevitalização dos espaços deu-se de maneira participativa com as famílias,professores, crianças e comunidade em geral. Com isso, percebemos que estamudança de atitude tem gerado um “poder dizer o que pensa” sobre a escola comoespaço para a comunidade que precisa de acesso a um lugar alegre, bonito, comintencionalidade pedagógica de qualidade para as crianças. Este projeto significouum marco na história da escola que, através da metodologia de acolhimento eplanejamento eficiente, pode efetivar mais do que a organização e embelezamentodos espaços, mas sim um encontro de muitas pessoas que buscam os mesmosobjetivos, oferecer um espaço seguro e que nele aconteçamuitas experiências, aprendizagens e interação para e entre as crianças e adultos apartir da brincadeira, atividade vital para a infância.

Palavras-chave: Acolhimento; participação; qualidade; gestão compartilhada

1 Licenciada em Pedagogia, FEEVALE. Especialista em Docência naEducação Infanil/UFRGS. Professora da Rede Municipal de Ensino,[email protected]. EMEI Professor Ernest Sarlet/Coordenação Pedagógica.

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INTRODUÇÃO

O presente artigo relata uma experiência de gestão compartilhada na Escola

Municipal de Educação Infantil Prof. Ernest Sarlet, que investe e dá condições para

o acolhimento de todos os envolvidos na cotidianidade da escola. No decorrer do

texto serão

abordados os caminhos percorridos para que crianças, famílias, professores,

estagiárias e demais funcionárias tenham voz e ação no Projeto Politico Pedagógico

da escola (PPP).

Nosso ano letivo iniciou com as entrevistas e assim organizamos os

horários de adaptação das crianças na escola. As famílias são convidadas a

permanecerem na sala referência conforme a situação apresentada. Ao se retirarem

da sala, os sujeitos que acompanham a criança na adaptação permanecem na

escola para concluir o tempo da criança e assim retornar para suas casas. A partir

da observação das professoras, percebeu-se que uma família bem acolhida na

escola, sente-se segura e isto contribui de maneira significativa para que a

adaptação das crianças se efetive de maneira mais tranquila. Com isso, as

professoras trouxeram a necessidade de organizar um espaço de acolhimento

adequado pais e responsáveis aguardassem seus filhos e suas filhas no período de

adaptação na escola. Nesse sentido, a equipe diretiva acolheu essa fala das

professoras e ao iniciar o ano letivo de 2018 inseriu no plano de gestão

compartilhada ações para um acolhimento permanente na escola com e para todos.

A decisão de investir em uma gestão qualificada que propõe uma metodologia

participativa foi pautada na concepção de que é preciso escutar as vozes de todos

na escola (BARBOSA). E assim teremos uma escola que caminha para um projeto

educativo que considera a participação como um valor que identifica e acredita na

importância do diálogo nos processos cotidianos na instituição escolar.

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No período inicial de adaptação escolar, organizamos uma sala com sofá e

almofadas. Nesse espaço chamado de sala de acolhimento, permeneceram as

famílias, a diretora, a coordenadora e, por vezes, as professoras, que traziam

notícias de como estavam as crianças. Essas notícias acalmavam e davam

segurança aos pais e responsáveis e, assim, percebemos que também as crianças

permaneciam mais tranquilas no novo ambiente e com a nova professora. Na sala

de acolhimento, tomamos chimarrão ao som de violão. Assim, criou-se um clima de

contentamento e compartilhamento entre todos que ali aguardavam as crianças.

Nesse grupo, tivemos avós, pais e mães, tios e tias e amigos. Escutamos a todos

sobre suas expectativas, suas dúvidas, em relação ao PPP da escola e ao

desenvolvimento das crianças. Outra estratégia que a escola adota neste período é

convidar os familiares para conhecer os espaços da escola. E com isso, já estamos

dialogando sobre a proposta da escola principalmente em relação às brincadeiras ao

ar livre e experiências na natureza que acontecem no quintal da infância da Sarlet.

Cagliari e Giudici (2014) nos ajudam a reforçar a concepção de participação dizendo

que,

Se desejar a participação, a escola deve abrir espaços, lugares,momentos em que todos os sujeitos, crianças, professores e pais,possam descobrir a possibilidade de falar e de serem escutados.(CAGLIARI, GIUDICI, 2014. p 139).

Com isso, acreditamos em uma escola da pedagogia da sensibilidade para

olhar e escutar pessoas como sujeitos protagonistas de projetos de vida coletiva ou

individual e seus pontos de vista devem ser ouvidos.

Na sequência, este texto encontra-se organizado em quatro seções: a

primeira trata dos conceitos que balisaram o desenvolvimento do projeto, a segunda,

da metodologia e da importância do planejamento para a efetivação do projeto e a

terceira, dos resultados e discussão e a quarta, das considerações finais e

conclusões.

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REFERENCIAL TEÓRICO

A Participação como indicador de qualidade

O tema da participação é um objeto de questionamentos no âmbito escolar.

Com muita facilidade, ele aparece nas propostas pedagógicas das escolas numa

perspectiva de gestão democrática. O grande desafio é transformar essas ideias

descritas “no papel” em ações cotidianas. A autora italiana Anna Bondiolli (2013),

nos ajuda a pensar sobre esta temática indicando que

O tema da participação propõe uma série de interrogativos de nãofácil solução: de quem é a responsabilidade do processo educativo?Quem são os envolvidos? De que modo? O que significa participar?Que níveis de tomada de decisões ela comporta? Quem é o fiador dodireito de participar? Quais “vozes” devem falar e ser ouvidas, e porquê? Interrogativos que se entrelaçam com outros, relativos a umdebate, ainda hoje aberto, acerca do que dá qualidade a um contextoeducativo, quais condições ajudam a defini-la, criá-la e garanti-la.(BONDIOLI, 2013, p. 25).

Pesquisas e estudos atuais revelam que algumas realidades que atendem

crianças pequenas tem as famílias não somente usuárias de um serviço, mas como

protagonistas e partícipes (BONDIOLI, 2013). A autora apresenta questionamentos

sobre a participação e sobre que é um debate em aberto. Em se tratando da

participação das famílias na escola, tradicionalmente essas entram na escola

através de um processo que envolve desde a matrícula até a reunião de pais. Ou

seja, quem define esta participação é a instituição escolar. Mas, nesse artigo,

queremos ampliar o conceito de participação para escutar as pessoas que fazem

parte da cotidianidade escolar. Para tanto, buscamos a metodologia do acolhimento

para definir o que entendemos por participação na escola. O autor Staccioli (2013)

define acolhimento como “um método de trabalho complexo”. Ainda aborda a

valorização da brincadeira, a preparação dos espaços e ambientes para a

aprendizagem das crianças. A participação das famílias na escola, segundo a autora

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Bondioli (2013), está intimamente ligada à qualidade de uma instituição educativa. E,

acolher, ouvir, olhar, perceber os gestos, os balbucios, os choros das pessoas,

sejam bebês ou adultos, é constituir uma cultura de participação. O documento

Indicadores de qualidade na educação infantil, 2009, define que,

A presença, entre familiares e profissionais da educação, do sentimento deestar em um lugar que acolhe é fundamental para garantir uma educaçãoinfantil de qualidade. E esse sentimento, naturalmente percebido ecompartilhado pelas crianças, somente pode ser fruto do respeito, da alegria,da amizade, da consideração entre todos. (BRASIL. MEC, 2009, p. 57).

Neste sentido podemos dizer que a escola é um lugar de protagonismo de

pessoas, em especial as crianças que na sua maioria permanecem de oito a dez

horas em uma instituição educativa. Possibilitar o protagonismo delas é pensar

numa gestão compartilhada através do “olhar que escuta” e que “educar e cuidar”

são compartilhados entre os responsáveis. Entender o protagonismo da criança é

percebê-la como curiosa e que faz hipóteses, é valorizar suas descobertas enquanto

potentes pesquisadoras. E a qualidade aqui entendida define-se pela participação

efetiva no contexto escolar. Maffini e Mello (2017), nos ajuda a pensar sobre a

gestão compartilhada ao dizer que abrir as portas é estar aberto à infância e a toda

potencialidade de sua história, de sua cultura e de suas famílias. Assim, a proposta

desta gestão é evidenciar o protagonismo de famĺias, crianças, professoras e

demias partcipantes do trabalho na escola. E, portanto, na ação exercida sobre o

Revitalização dos Espaços e Construção de Brinquedos: o quintal da nossa infância,

aconteceram encontros, diálogos e ações possíveis, a fim de qualificar a proposta

pedagógica da escola com o foco nos espaços e materias oferecidos para as crinças

brincar.

O quintal da nossa infância

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Com as crianças em adaptação já nos primeiros dias, as professoras

planejavam deslocamentos pelos espaços externos da escola. Com isso,

percebemos que alguns desses espaços precisavam de corte de grama, pintura,

limpeza, iluminação, piso adequado, organização, brinquedos e materiais. Esse foi o

olhar para espaços externos da nossa escola. Percebemos que poderíamos

qualificá-lo de maneira mais acolhedora. A equipe diretiva reuniu-se com a

professora do Projeto Espaços e Materiais que temos na escola e solicitou uma

pesquisa com as professoras, com a proposta de observar as crianças no pátio

durante suas brincadeiras e interações. Com isso, as docentes da escola tiveram

uma atitude de pesquisadoras do brincar, dos gestos, dos olhares, das interações de

todas as crianças nos espaços que habitavam na escola. Anotavam suas

observações e interpretações acerca da ação de cada criança no espaço brincante.

A partir dessa observação atenta e interessada, as professoras escreveram sobre as

observações em uma planilha, colocando sugestões de brinquedos e materiais que

pudessem estar de acordo com a pesquisa realizada e a observação das crianças

no pátio da escola. Frente ao levantamento de brinquedos e de modificação de

espaços, elaboramos o projeto intitulado “Revitalização dos Espaços e Construção

de Brinquedos: o quintal da nossa infância”. Para inserir as famílias nesse projeto,

inserimos uma pergunta na ficha de entrevista sobre as expectativas de cada família

em relação à escola e do que as crianças brincavam. Outra ação foi uma visita sócio

antropológica, que possibilitou a observação dos lugares onde a criança brincava em

casa. Nessa pesquisa, conversamos com as familias sobre a proposta pedagógica

da escola, em especial sobre o “desemparedamento” que procura dar condições

para que experiências aconteçam em ambientes abertos de qualidade, numa

proposta mais saudável e em contato com a natureza. A partir dessas ações de

escuta de todos, iniciamos o processo de tornar real o projeto.

Segundo o parecer CNE/CEB Nº 20/2009, que fixa as Diretrizes Curriculares

Nacionais para Educação Infantil,

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As crianças precisam brincar em pátios, quintais, praças, bosques, jardins,praias, e viver experiências de semear, plantar e colher frutos da terra,permitindo a construção de uma relação de identidade, reverência e respeitopara com a natureza. (BRASIL. CNE/CEB Nº 20/2009, p. 15)

A partir essa concepção, investigamos com as famílias sobre a possibilidade

de iniciarmos uma parceria efetiva no projeto de revitalização dos espaços externos

da escola como possibilidade de brincadeiras e interações das crianças.

METODOLOGIA

O Plano de ação compartilhado, a pesquisa como inicio do caminho a ser

percorrido

A Secretaria Municipal de Educação (SMED) solicita anualmente um plano de

ação da equipe diretiva. Para a elaboração de um diagnóstico, buscou-se olhar para

o registro de uma avaliação do trabalho realizado no ano de 2017, intitulado “que

bom, que pena, que tal” realizado com professores, estagiárias e funcionárias da

escola. As respostas foram em forma de afirmação no plano de ação compartilhado

deste ano, seguida de um questionário. A partir dessa organização, iniciamos o

trabalho de gestão compartilhada, elegendo algumas prioridades juntamente com o

grupo. As perguntas foram discutidas em pequenos grupos e relatadas no coletivo.

O grupo elegeu como prioridade a discussão sobre um currículo que inclui no

cotidiano as datas comemorativas, que ainda está em construção na escola, e

também olhar para os espaços, os materiais, o tempo e a metodologia na/da escola.

As propostas a serem debatidas em relação aos espaços estão descritas no

quadro de questões abordadas e as perguntas que foram feitas.

Quadro de questões abordadas:

Presença de um animal na 1. Qual animal? Qual local? Queremos? Por

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escola quê?

Estética dos espaços 2. Qual concepção de estética? Qual aparticipação da equipe?

Criança na natureza 3. Como qualificar a ação das crianças em relaçãoao tempo, espaços, materiais? Que passeiosrealizar? Como e onde buscaremos os recursos?

Esse questionário foi um passo importante na trajetória desta gestão e teve

como objetivo a escuta de todos. Isso significou remeter para a chegada das

pessoas na escola, professoras, crianças, profissionais diversos e as famílias que

teriam que ser ouvidas sobre essa avaliação. Em relação à escuta dos professores,

tivemos um espaço no planejamento coletivo. E com as famílias, organizamos então

a “sala de acolhimento” ao som de violão, ao sabor de um chá, café e chimarrão.

Nesse espaço, puderam falar sobre suas expectativas com a nova escola, as novas

professoras. E assim, as crianças permaneceram com suas professoras, algumas

com os familiares junto, respeitada a singularidade de cada uma. No decorrer dos

primeiros dias, o clima acolhedor da escola foi contagiando a todos.

A parceria para a efetivação do projeto

Para o desenvolvimento do projeto Revitalização dos espaços tivemos como

principal objetivo a participação, estabelecendo uma parceria com vários segmentos,

como empresas locais parceiras, familiares das professoras, famílias das crianças,

professoras, estagiárias e funcionarias e vizinhança próxima da escola. Tivemos

momentos de diálogo em reunião de Associação de Pais e Mestres (APEMEM), com

as professoras em planejamento coletivo, em eventos de sábado letivo, por meio

das mídias, e principalmente de contato informal no dia a dia com todos, objetivando

a informação sobre o projeto e como poderiam participar.

Após o levantamento da pesquisa realizada com os professores sobre os

brinquedos a serem construidos, priorizamos alguns e escolhemos os espaços a

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serem revitalizados. A partir disso, contamos com a colaboração do esposo de uma

professora, arquiteto, que se disponibilizou em assessorar este projeto. Através da

sua parceria, reformamos o espaço intitulado “pátio das motocas”. Retiramos a tela

que cercava a parte coberta, colocamos piso e cercamos com uma madeira natural.

Junto a essa grande reforma, fomos desenhando os brinquedos e planejando

as modificações a serem realizadas nos espaços como a mesa de areia, o espaço

verde de aprender, o pátio de areia, a Praça Rudor Blum. Para a organização

eficaz, elaboramos planilhas com a listagem dos materiais e ferramentas

necessários para a revitalização dos espaços e a construção dos brinquedos para

cada pátio. Também escolhemos um coordenador e as pessoas que estariam no

local e no dia dedicado para a ação de participação coletiva na escola. Planejamos

grupos de trabalho, tipo de brinquedo, o local e quais as ferramentas necessárias

para cada projeto.

Após essa etapa de planejamento e busca de parcerias, propomos em

reunião de APEMEM para definir a data para o desenvolvimento do projeto. Tivemos

um coordenador geral, um coordenador para cada espaço e um arquiteto de apoio

técnico. Em reunião de APEMEM decidimos e na data escolhida tivemos uma greve

de caminhoneiros e faltou gasolina para o deslocamento das pessoas até a escola.

Decidimos manter o planejamento. E através de uma efetiva conversa com as

famílias durante muitos dias, o dia finalmente chegou. A greve permaneceu e as

pessoas vieram com dificuldades, tivemos professoras que vieram de táxi e famílias

que vieram de bicicleta. Professoras trouxeram seus irmãos, seus esposos.

Compareceram também avós e “dindos” das crianças. E assim, o movimento de

participação foi acontecendo. Foi bonito de ver as pessoas dialogando, perfurando

buracos, retirando a terra, escolhendo as cores, felizes com a possibilidade de

estarem na escola com esse objetivo.

Os espaços foram sendo modificados e brinquedos construídos a partir de um

planejamento qualificado da gestão compartilhada deste ano. Reformamos a mesa

de areia, o espaço verde com brinquedos de madeira, construímos uma roda com

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lugar para a fogueira, com bancos de tocos de madeira. Os brinquedos de ferro

foram transferidos para a Praça Rudor Blum ao lado da escola e flores foram

plantadas em vasos. Criamos o ateliê de arte e os brinquedos do pátio de areia

foram pintados. As árvores foram podadas, os telhados foram limpos, bancos de

madeira foram construidos, telas e paredes foram pintadas, a casinha reformada e

pintada. Todos reunidos numa grande família em clima de cooperação, diálogo,

alegria, motivação, fomos transformando e qualificando o quintal da escola para

potencializar as brincadeiras e as interações das crianças. Antes de concluir as

atividades, adultos crianças que passavam pela escola olhavam e falavam “está

tudo lindo”, “quero voltar para esta escola”, “dá vontade de vir no final de semana

tomar chimarrão”. A escola, nesse, dia foi tomada pelo prazer de participar. Foi

visível o engajamento de todos para que o projeto acontecesse. As famílias

trouxeram muitas ferramentas e materiais para essa revitalização. Após o

encerramento dessa manhã, todos foram compartilhar um almoço saboroso,

preparado pelas funcionárias da escola, e festejar esse lindo movimento de

participação no projeto da escola, revitalizando os espaços externos.

Ao chegarem à escola, as crianças logo perceberam que os espaços estavam

diferentes e diziam “a mãe, o pai veio na escola”, “que estava pintada”, “que tinha

praia”, “que tinha muita coisa linda, linda”. Logo foram brincar. Nesse dia, as

crianças continuaram a revitalização dos espaços e através da brincadeira pegaram

seus baldinhos e foram distribuir a areia que estava amontoada no pátio. Foram

preenchendo os buracos abaixo dos balanços e escorregadores. Encantados com

tudo que suas famílias haviam realizado, a cada movimento descobriam as

novidades do pátio.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para que esse projeto acontecesse com sucesso foi necessário a participação

coletiva e um planejamento compartilhado e desejado. Através de muitas parcerias

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entre diversos segmentos da sociedade e da metodologia de acolhimento de vozes

da escola, crianças e adultos o Projeto de Revitalização dos Espaços se realizou. A

escola pode ser lugar de protagonismo, tendo como balizador da ação a pesquisa,

ou seja, um olhar atento às provocações que o cotidiano nos apresenta, através das

crianças, dos adultos, do brincar e dos fazeres de cada um. Nos dias que seguiram

após essa etapa, continuamos a valorizar a participação na escola. Com a

organização dos espaços percebemos a necessidade de relembrar ou criar algumas

combinações para o uso dos espaços e dos materiais. Com isso, novamente junto

com a professora do Projeto Espaço e Materiais, realizamos uma pesquisa para

nomear os lugares revitalizados. A pesquisa orientava que:

Nossos espaços, que foram reorganizados, estão ficando prontos e que a

partir disso queremos nomeá-los, colocando placas que os identifiquem. Para

tanto, pedimos que pesquisem com as crianças sugestões de nomes ou

deem suas próprias sugestões.

Faremos uma posterior votação para escolher a nomenclatura dos mesmos”.

Escolhemos a identificação com os nomes de Mesa de areia/ praia, Ateliê de

Arte e Varanda.

Ainda temos que concluir o espaço da casinha, o espaço que ficava o gás, o

palquinho, o esverdeamento dos muros e o pátio onde estão as motocas.

Para os lugares que estão concluídos, elaboramos as combinações para

convivência e uso adequado, e que isso possa acontecer em clima de

responsabilidade de todos.

A partir desse acolhimento e gestão compartilhada, identificamos outras

prioridades na escola para a continuidade do projeto. Retiramos as pedras da praça

da rampa para dar espaço à brincadeira com terra. Também estamos realizando

uma pesquisa junto às professoras, para que observem do que as crianças brincam

para, assim, planejar o espaço com materiais, possibilitando mais enredos e

brincadeiras.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse projeto significou um marco na história da escola. De acordo com as

professoras que estão há mais tempo nesse espaço, muitas foram as vezes que as

famílias foram chamadas para um “mutirão”, mas não vieram. E este ano tivemos

uma grande surpresa, pois elas compareceram e aderiram em grande número à

iniciativa, trazendo suas ferramentas, doando materiais e mão de obra. Para nos

ajudar a avaliar essa mudança de atitude, citamos a reflexão de Barbosa (2009):

A gestão de uma escola de educação infantil defronta-se com a exigência deconsidera-la um estabelecimento de educação e cuidado em todos os seusespaços e relações. A expectativa de que todas as pessoas envolvidas noprocesso educacional, independente de seus cargos ou funções, tenhamrespeitado seu direito à participação em um ambiente que vive – e valoriza –a democracia, tem como intenção enfrentar o desafio de tanto garantir adiversidade pessoal, social e cultural quanto preservar e constituir um espaçode pertencimento e construção de singularidade. Os seres humanos, grandesou pequenos, necessitam de um ambiente acolhedor, tranqüilo, belo, alegre epromotor do prazer de viver em comunidade. A gestão da Escola da Infânciacumpre importante função ao priorizar o bem estar para todos como modo degarantir às crianças e adultos uma experiência de vida sustentável.(BARBOSA, 2009, p. 87).

Com essa afirmação, nosso grupo de trabalho, nesse evento participativo,

conclui que o que fez dar certo foi a maneira como tudo foi planejado. Ou seja, cada

passo foi devidamente pensado por um grupo de pessoas que acreditaram que

chamar as famílias na escola para a participação é possível, se elas forem acolhidas

desde sua entrada na escola. E esse movimento permanente e vivo nas ações

cotidianas da escola deu certo. As pessoas que hoje adentram na escola são

convidadas a participar, seja pai, mãe, parente de uma professora, criança, irmão.

Tal mudança de atitude tem gerado um “poder dizer” o que pensa sobre a escola

como espaço público da comunidade que precisa deixar suas crianças em um lugar

alegre, bonito, seguro, com intencionalidade pedagógica de qualidade. Os eventos

de participação na escola continuam e percebemos uma mudança expressiva na

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vinda das famílias na escola. O que estamos vendo é uma escola que necessita

estar preparada para receber as famílias, porque, segundo uma professora, “a

escola agora está “cheia”. Nesse caso, os espaços devem ser planejados, a escola

deve ser acolhedora, organizada e preparada para receber a todos seja de maneira

individual, em grupos ou de forma coletiva. Tivemos algumas falas registradas das

famílias durante o evento de revitalização, que marcam essa participação efetiva,

como “Quantos pregos, mais ou menos”?”, “Ainda não consegui levar os pincéis,

levo no sábado”, “Vamos levar dois pincéis, um rolo grande, buchas e parafusos

diversos e um saco de cimento e para empréstimo a furadeira, pás, enxada, cavador

de buraco, martelo, motosserra elétrica, serra comum, colher de pedreiro e picareta”.

Essas falas representam um pouco do grande movimento das famílias e

comunidade em geral que fizeram desse dia um evento marcante nas suas vidas.

REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE Nº20/ 2009. Revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.Brasília, 2009.

______. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Parecer Nº20/2009. Revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.Brasília, 2009.

______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Critérios para umatendimento em creches que respeite os direitos fundamentais das crianças.Brasília, 2009.

_____. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Indicadores deQualidade na Educação Infantil. Brasília, 2009.

______. Ministério da Educação. Formação para o docência na educação infantil:pedagogias, políticas e contextos. Porto alegre: EIPUCRS,

______. Secretaria de Educação Básica (SEB). Práticas cotidianas na educaçãoinfantil: bases para a reflexão sobre as orientações curriculares. Brasília. 2009.

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