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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

MESTRADO EM SAÚDE PÚBLICA

ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E

ADOLESCENTES COM EXCESSO DE PESO:

RELAÇÃO COM OS COMPONENTES DA SÍNDROME

METABÓLICA

André Luiz Correia Ramos

Dissertação apresentada à Universidade

Estadual da Paraíba – UEPB, em

cumprimento aos requisitos necessários

para a obtenção do título de Mestre em

Saúde Pública.

Orientadora: Prof. Dra. Carla Campos

Muniz Medeiros

Campina Grande

2011

Page 2: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E

ADOLESCENTES COM EXCESSO DE PESO:

RELAÇÃO COM OS COMPONENTES DA SÍNDROME

METABÓLICA

André Luiz Correia Ramos

Dissertação apresentada à Universidade

Estadual da Paraíba – UEPB, em

cumprimento aos requisitos necessários

para a obtenção do título de Mestre em

Saúde Pública.

Orientadora: Prof. Dra. Carla Campos

Muniz Medeiros

Campina Grande

2011

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LISTA DE QUADROS E FIGURAS

Página

Quadro 1 Critérios para classificação de alterações histólogicas em

biópsias hepáticas realizadas em crianças e

adolescentes..............................

17

Figura 1 Avaliação diagnóstica e conduta da DHGNA(Doença

hepática gordurosa não

alcoólica) ..................................................................

20

Figura 1.1 Curva ROC das enzimas hepáticas para o desfecho

esteatose

hepática...................................................................................

...........

43

Figura 2.1 Curva ROC das enzimas hepáticas para o desfecho

síndrome

metabólica................................................................................

..

63

Page 5: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

LISTA DE TABELAS

Página

Tabela 1 Classificação da síndrome metabólica em adultos de acordo com os

critérios da OMS, NCEP/ATP-III e

IDF.........................................................

13

Tabela 2. Classificação da síndrome metabólica em crianças e

adolescentes de acordo com os critérios da Federação

Internacional de Diabetes..........

14

Tabela 1.1 Distribuição de frequências das variáveis gênero, faixa etária,

estado nutricional, circunferência abdominal, raça,

escolaridade materna e renda familiar de crianças e

adolescentes com excesso de peso entre 2 e 18 anos

atendidos no Centro de Obesidade Infantil, ISE, Campina

Grande - PB, 2009-2010 (n=152)

.........................................................

40

Tabela 1.2 Distribuição da esteatose hepática de acordo com o sexo,

idade, índice de massa corpórea, circunferência abdominal,

renda familiar, escolaridade materna em crianças e

adolescentes com excesso de peso atendidas no Centro de

Obesidade Infantil, ISEA Campina Grande-PB, 2009-2010

(n=152)............................................................

41

Tabela 1.3 Distribuição das enzimas hepáticas de acordo com a presença

de esteatose hepática segundo os pontos de cortes adotados

na literatura, em crianças e adolescentes com excesso de

peso atendidas no Centro de Obesidade Infantil, ISEA

Campina Grande-PB, 2009-

2010(n=152)...............................................................................

...........

41

Tabela 1.4 Média e desvio padrão das enzimas hepáticas, de acordo

estado com nutricional, faixa etária, sexo, circunferência

abdominal, presença ou não de esteatose hepática em

crianças e adolescentes com excesso de peso, ISEA-

Campina Grande-PB, 2009-2010.....................................

42

Page 6: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

Tabela 1.5 Valor médio e desvio padrão das enzimas hepáticas, ALT,

AST e Gama-GT de acordo com a presença e o grau de

esteatose hepática em crianças e adolescentes com excesso

de peso, ISEA- Campina Grande-PB, 2009-

2010..........................................................................

42

Tabela 1.6 Análise da Curva ROC (Receiver Operating Characteristic)

das enzimas hepáticas, ALT, AST e Gama-GT para

diagnóstico de esteatose

hepática..................................................................................

43

Tabela 2.1 Distribuição de frequências das variáveis sexo, faixa etária,

estado nutricional, esteatose hepática, síndrome metabólica,

CA, pressão arterial sistólica e diastólica, HOMA-IR, glicemia

de jejum, triglicerídeos e HDL-c de crianças e adolescentes

com excesso de peso entre 2 e 18 anos, ISEA, Campina

Grande-PB, 2009-2010

(n=152).......................................................................................

...........

59

Tabela 2.2 Distribuição da frequência de sexo, esteatose hepática e

valores médios e desvio padrão das variáveis: idade, índice de

massa corpórea, CA, pressão arterial sistólica e parâmetros

laboratoriais de acordo com o diagnóstico de SM em crianças

e adolescentes com excesso de peso entre 2 e 18 anos, ISEA,

Campina Grande-PB, 2009-2010

(n=152) ......................................................................................

..

60

Tabela 2.3 Distribuição da SM e dos valores médios e desvio padrão das

características clínicas e de exames laboratoriais de acordo

com a presença ou ausência da esteatose hepática em

crianças e adolescentes com excesso de peso, ISEA,

Campina Grande-PB, 2009-2010

(n=152) ...............................................................................

61

Tabela 2.4 Valores médios e desvio padrão das enzimas de acordo com

os componentes da

SM..............................................................................

62

Page 7: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

Tabela 2.5 Análise da Curva ROC para o desfecho SM síndrome

metabólica e testes da função

hepática ......................................................................

62

Tabela 2.6 Sensibilidade e especificidade do diagnóstico de SM para

ponto de corte de Gama-

GT..............................................................................

63

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ADA American Diabetes AssociationALT Alanina-aminotransferase

AST Aspartato-aminotransferaseATP Trifosfato de AdenosinaCA Circunferência abdominalCOI Centro de Obesidade Infantil DCV Doenças cardiovascularesDHGNA Doença Hepática Gordurosa Não AlcoólicaDM Diabetes MellitusEH Esteatose Hepática (EH),EHNA Esteatohepatite Não Alcoólica (EHNA),ENDEF Estudo Nacional da Despesa familiarGAMA-GT Gama glutamiltranspeptidase (Gama-GT),HDL Colesterol HDLHOMA-IR Homeostasis Model Assessment of Insulin ResistanceHUAC Hospital Universitário Alcides CarneiroIDF International Diabetes FederationIL-6 Interleucina-6 IMC Índice de Massa CorporalISEA Instituto de Saúde Elpídio de AlmeidaLDL Colesterol LDLNCEP-ATP III National Cholesterol Education Program - Adult Treatment Pannel

IIIOMS Organização Mundial de SaúdePA Pressão Arterial PPV Pesquisa sobre Padrões de VidaROC Receiver Operating CharacteristicSM Síndrome metabólicaTNF-α Fator de Necrose Tumoral Alfa

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ÍNDICE

Página

1. INTRODUÇÃO

…..............................................................................................

11

1.1 Síndrome

Metabólica .........................................................................................

11

1.1.1 Síndrome metabólica em

crianças...................................................................

13

1.2 Síndrome Metabólica e Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica

(DHGNA) .....................................................................................................

...........

15

1.3 Doença hepática gordurosa não alcoólica

(DHGNA)......................................

15

1.3.1

Epidemiologia...............................................................................................

...

16

1.3.2 Evolução e mecanismos da DHGNA em indivíduos

obesos ......................

16

1.3.3 DHGNA em crianças e

adolescentes...............................................................

17

1.3.4 História

natural ...............................................................................................

18

1.3.5 Diagnóstico da

DHGNA..................................................................................

19

1.3.6 Tratamento da

DHGNA...................................................................................

21

1.3.8 Estudos da DHGNA no

Brasil........................................................................

21

2. OBJETIVOS

…...................................................................................................

22

2.1 Objetivo Geral

…................................................................................................

22

2.2 Objetivos Específicos

…....................................................................................

22

Page 10: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

3. MATERIAL E MÉTODO

.................................................................................

23

3.1 Tipo do

estudo ...................................................................................................

23

3.2 População e

amostra ..........................................................................................

23

3.3 Critérios de elegibilidade.................................................................................... 23

3.4 Variáveis de Estudo............................................................................................. 24

3.5 Técnicas e método de coleta............................................................................... 26

3.5.1 Medidas

antropométricas ................................................................................

26

3.5.2 Pressão

arterial ................................................................................................

27

3.5.3 Procedimentos

laboratoriais ............................................................................

27

3.6 Definição de Síndrome

Metabólica ..................................................................

28

3.7 Diagnóstico de Esteatose

Hepática ...................................................................

29

3.8 Análises

estatísticas............................................................................................

29

3.9 Considerações

éticas .........................................................................................

30

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

…...................................................................

31

6. CONCLUSÃO

....................................................................................................

72

7. REFERÊNCIAS

….............................................................................................

73

8. ANEXOS E

APÊNDICE ...................................................................................

80

Apêndice 1. Modelo do

questionário........................................................................

81

Apêndice 2. Termo de consentimento livre

esclarecido..........................................

83

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Anexo 1. CAAE do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UEPB,

aprovando a

investigação..........................................................................................

85

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RESUMO Introdução: O excesso de peso na infância particularmente na adolescência está

relacionado com várias co-morbidades, tais como dislipidemia, hipertensão arterial

sistêmica, resistência à insulina, Síndrome Metabólica (SM) e Doença Hepática

Gordurosa Não Alcoólica. Objetivos: Avaliar a prevalência de esteatose hepática

(EH), perfil das enzimas hepáticas e sua associação com os componentes da

síndrome metabólica em crianças e adolescentes com excesso de peso.

Metodologia: Estudo transversal envolvendo 152 crianças e adolescentes atendidas

no sistema único de saúde do município de Campina Grande-PB. Para a

comparação entre os grupos de acordo com a presença ou não da esteatose

hepática ou da síndrome metabólica foi utilizado o teste do Qui-quadrado ou o de

Fisher e a análise de variância. A capacidade das enzimas hepáticas para

identificarem a esteatose hepática ou a síndrome metabólica foi avalida através da

curva Receiver Operating Characteristic (ROC). A análise estatística foi realizada no

SPSS versão 17.0 e considerado um intervalo de confiança de 95%. Resultados: A

EH foi observada em 25,9% das crianças e adolescentes com sobrepeso/obesidade,

sendo mais freqüente entre as crianças (29,2%), do sexo masculino (28,3% ) e nos

obesos graves (30,1%). Em relação às enzimas hepáticas, foi observada a

associação de EH com o Gama-GT com o ponto de corte de 24U/L (p=0,040). As

médias das enzimas hepáticas aumentaram significativamente de acordo com a

presença e o grau da esteatose. Os valores médios de ALT e Gama-GT foram

estatisticamente superiores no grupo com SM. Observou-se um maior valor médio

de insulina e HOMA-IR (p=0,001) e uma tendência de PAS mais elevada (p=0,052)

nos que tinham EH. Nenhuma das enzimas hepáticas apresentaram um bom ponto

de corte para o diagnótico da EH. Já o Gama-Gt no valor de 19,5 U/L foi um bom

preditor da SM. Conclusões: A elevada prevalência de EH na população estudada

(25,9%) e a ausência de um ponto de corte adequado das enzimas hepáticas para o

diagnóstico desta condição contribuem para levantar evidências sobre a

necessidade de se realizar a ultrassonografia em crianças e adolescentes com

sobrepeso e obesidade como critério para avaliação da esteatose hepática.

Alterações em enzimas hepáticas, principalmente a Gama-GT, apresentam

associação com a síndrome metabólica, e isoladamente com os triglicerídeos.

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Palavras chaves: Obesidade, Esteatose hepática, Síndrome X metabólica, Criança,

adolescente.

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ABSTRACT

Introduction: Childhood Overweight, especially during adolescence, is associated to

various

Introduction: Overweight in childhood especially in adolescence is associated with

various comorbidities such as dyslipidemia, hypertension, insulin resistance,

metabolic syndrome and nonalcoholic fatty liver disease. Objectives: Assessing the

prevalence of fatty liver, liver enzyme profile and its association with components of

metabolic syndrome in overweight children and adolescents. Methodology: Cross-

sectional study involving 152 children and adolescents treated in the public health

system in Campina Grande-PB. Chi-square or Fisher's test and variance were used

to compare groups according to presence or absence of hepatic steatosis and

metabolic syndrome. The ability of liver enzymes to identify hepatic steatosis or the

metabolic syndrome was evaluated through the use of a receiver operating

characteristic curve (ROC). Statistical analysis was performed with SPSS version

17.0 using the confidence interval of 95%. Results: Hepatic steatosis was observed

in 25.9% of children and adolescents with overweight / obesity, being more frequent

among children (29.2%), boys (28.3%) and severely obese (30.1 %). Gamma-GT

was associated with steatosis (p = 0.040), considering the cut off 24U / L. The

average values of the liver enzymes increased significantly according to presence

and degree of steatosis. The medium values of ALT and Gamma-GT were

significantly higher in the group with MS. There was a higher mean insulin and

HOMA-IR (p = 0.001) and a trend toward higher SBP (p = 0.052) in those who had no

hepatic steatosis in liver enzymes showed a good cutoff point for the diagnostic of

steatosis. Since the Gamma-GT in the value of 19.5 U/L was a good predictor of

metabolic syndrome. Conclusions: The high prevalence of steatosis in the population

studied (25.9%) and the absence of an appropriate cutoff point of liver enzymes for

the diagnosis of this condition contributes to collect evidence about the need to

perform ultrasonography in children and adolescents who are overweight and obesity

as a criterion for assessment of hepatic steatosis. Changes in liver enzymes,

especially Gamma-GT, are associated with metabolic syndrome, and with

triglycerides.

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Key words: Obesity, fatty liver, metabolic syndrome X, Child, adolescents.

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1. INTRODUÇÃO

A obesidade representa o problema nutricional de maior ascensão entre a população

mundial observada nos últimos anos tornando-se um dos principais problemas de saúde

pública. Evolui de forma epidêmica, atingindo todas as faixas etárias 1.

Nos últimos 35 anos, o Brasil passou por marcantes transformações demográficas,

sócio-econômicas e epidemiológicas. Observou-se um processo de transição nutricional nas

últimas décadas, com diminuição progressiva da desnutrição e o aumento da obesidade.

Comparando os dados do Estudo Nacional da Despesa familiar (ENDEF), realizado em 1974-

1975, com dados da pesquisa sobre Padrões de Vida (PPV), realizado em 1996/97, constatou-

se um aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade de 4,1% para 13,9% em crianças e

adolescentes 2.

A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada em 2008-2009,

detectou que o excesso de peso vem aumentando, estando presente em 21,7%

dos adolescentes e 34,8% das crianças entre cinco e nove anos de idade, e a

obesidade em 5,9% e 16,6%, respectivamente 3.

As conseqüências da obesidade para a saúde variam desde graves doenças não letais,

porém debilitantes e que afetam diretamente a qualidade de vida, até o risco aumentado de

morte prematura 4.

O excesso de peso na infância e particularmente na adolescência está relacionado com

várias comorbidades tais como dislipidemia, hipertensão arterial sistêmica, resistência à

insulina, problemas ortopédicos e psicossociais, apnéia do sono, síndrome do ovário

policístico, síndrome metabólica e doença hepática gordurosa não alcoólica 4.

1.1 Síndrome Metabólica

Reaven, em 1988, introduziu o conceito de síndrome X para descrever um

conjunto de anormalidades metabólicas e hemodinâmicas, frequentemente

presentes no indivíduo obeso 5. O conceito desta síndrome se expandiu e sua

denominação mudou para “síndrome metabólica” 6. Devido à inexistência de uma

definição aceita internacionalmente, algumas entidades tentaram caracterizá-la.

Além da intolerância à glicose, hipertensão arterial e dislipidemia (hipertigliceridemia

e baixa concentração sérica de colesterol HDL), obesidade central, hiperlipidemia

Page 17: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

pós prandial, microalbuminúria, hiperuricemia, hipofribrinólise e hiperandrogenismo

foram descritas como parte da síndrome metabólica 7.

A Organização Mundial de Saúde sugeriu que o diagnóstico deveria ser

estabelecido quando, em adição ao distúrbio do metabolismo da glicose (resistência

insulínica e /ou intolerância à glicose), o indivíduo apresentasse no mínimo dois dos

seguintes componentes: (1) pressão arterial > 140/90 mmHg; (2) Hipertrigliceridemia

> 150 mg/dL e/ou baixas concentrações de HDL-colesterol (< 35 mg/dL para homens

e < 40 mg/dL para mulheres); (3) obesidade central (relação cintura quadril > 0,90

cm para homens e > 0,85 cm para mulheres) e/ou índice de massa corpórea > 30

Kg/m2 e (4) microalbuminúria (≥ 20 µg/min ou relação albumina-creatinina ≥ 30

mg/g) 8.

De acordo com a I Diretriz Brasileira de Prevenção e tratamento da Síndrome

Metabólica (I-DBSM), a síndrome metabólica é um transtorno complexo

representado por um conjunto de fatores de risco cardiovasculares usualmente

relacionados à deposição central de gordura e à resistência à insulina 9. Em abril de

2005, a International Diabetes Federation (IDF) reformulou o sistema de

Classificação da NCEP-ATP III, apresentando critérios mais estritos para o

diagnóstico de síndrome metabólica, e ressaltando a obesidade abdominal como a

principal característica dessa condição, e a necessidade de diferenciação do risco

de acordo com a etnia populacional 8,10.

A utilidade da SM como um conjunto de fatores de risco tem sido o foco de

debates na comunidade científica. Os componentes individuais da síndrome

metabólica são fatores de risco independentes para o desenvolvimento de doença

cardiovascular aterosclerótica. As tentativas de se estabelecer critérios diagnósticos

para esta síndrome são baseadas no princípio de que estes componentes podem

agir de maneira sinérgica ou aditiva, amplificando o risco. Entretanto, deve ser

mencionado que os estudos sobre mecanismos fisiopatológicos e riscos

cardiovasculares, bem como as tentativas de definição da síndrome metabólica, são

recentes e ainda restam muitas dúvidas e indefinições sobre o assunto 11.

O Comitê de Prática Profissional da Associação Americana de Diabetes e o

Comitê da Associação Européia para o Estudo do Diabetes apontou questões

pertinentes em relação à síndrome metabólica, descritas a seguir. Os critérios

diagnósticos são ambíguos ou incompletos, e a base racional para a escolha de

limiares é mal definida. O valor de se incluir diabetes na definição é questionável. A

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resistência à insulina como hipótese etiológica unificadora (que caracterizaria o

aglomerado de fatores de risco como síndrome) é incerta. Não há uma razão clara

para se incluir ou excluir outros fatores de risco cardiovasculares. O risco

cardiovascular associado à síndrome parece não ser maior que a soma das partes

(cada fator de risco). O tratamento da síndrome não é diferente do tratamento de

cada um de seus componentes e o valor clínico do diagnóstico da síndrome não é

claro 11.

Esses questionamentos são relevantes, e ajudam a levantar questões ainda

não respondidas, assim como aprofundar a investigação sobre os mecanismos

fisiopatológicos. A possível identificação de novos componentes etiopatogênicos

deverá se somar ou complementar a resistência à insulina, e não reduzir sua

importância na síndrome metabólica 11.

A classificação de SM em adultos de acordo com os critérios da OMS,

NCEP/ATP-III e IDF está descrita na tabela 1.

Tabela 1. Classificação da síndrome metabólica em adultos de acordo com os critérios da

OMS, NCEP/ATP-III e IDF

Critérios/

componentes

OMS (1999) NCEP/ATP-III (2001) IDF (2005)

Obrigatório Resistência à insulina +

pelo menos 2 critérios

Pelo menos três critérios Obesidade central definida

por etnia + pelo menos 2

critériosDefinição de

adiposidade

IMC ≥ 30 kg/m2

ou RCQ > 0,9 (homens)

ou > 0,85 (mulheres)

CA ≥ 102 cm (homens)

ou ≥ 88 cm (mulheres)

CA ≥ 90 cm (homens)

ou ≥ 80 cm (mulheres)

Metabolismo

glicêmico

Diabetes, TDG ou GJA Glicemia de jejum

≥ 100 mg/dL

Glicemia de jejum

≥ 100 mg/dL

Dislipidemia Triglicerídeos ≥ 150 mg/dL

ou HDL ≥ 35 (homens)

ou ≥ 40 (mulheres) mg/dL

ou em uso de

hipolipemiante

Triglicerídeos ≥ 150

mg/dL

ou HDL ≥ 40 (homens)

ou ≥ 50 (mulheres)

mg/dL

ou em uso de

hipolipemiante

Triglicerídeos ≥ 150 mg/dL

ou HDL ≥ 40 (homens)

ou ≥ 50 (mulheres) mg/dL

ou em uso de

hipolipemiante

Hipertensão arterial PA ≥ 140 ou 90 mmHg

ou em uso de anti-

hipertensivo

PA ≥ 130 ou 85 mmHg

ou em uso de anti-

hipertensivo

PA ≥ 130 ou 85 mmHg

ou em uso de anti-

hipertensivo

Outros componentes Microalbuminúria

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CA=circunferência abdominal; GJA = glicemia de jejum alterada; HDL = colesterol HDL; IDF=

Federação Internacional de Diabetes (International Diabetes Federation); IMC = índice de massa

corporal; NCEP/ATP-III = Programa Nacional de Educação em Colesterol/Painel de Tratamento de

Adultos-III (National Cholesterol Education Program/Adult Treatment Panel III); OMS =

Organização Mundial da Saúde; PA = pressão arterial; RCQ = relação cintura-quadril; TDG =

tolerância diminuída à glicose

1.1.1 Síndrome metabólica em crianças

Há várias definições para SM em adultos com base no NCEP/ATPIII (National

Cholesterol Education Program / Adult Treatment Panel III), OMS (Organização

Mundial de Saúde) e IDF (International Diabetes Federation). Os critérios do NCEP/

ATPIII enfatizam critérios clínicos, enquanto a OMS considera a resistência insulínica

como etiologia subjacente para a SM 9. Recentemente, foram realizadas

modificações adicionais pelo IDF na tentativa de fazer uma definição unificadora

para SM em crianças que inclui a obesidade central mais a presença de dois

critérios adicionais entre hipertrigliceridemia, colesterol HDL baixo, hipertensão e

hiperglicemia 10.

Na faixa etária pediátrica, os critérios e seus pontos de corte para diagnóstico

de SM, ainda não estão bem estabelecidos, porém atualmente, há uma tendência a

serem mais utilizados os critérios propostos pelo NCEP/ATP III, modificados para a

idade 12.

O IDF sugeriu a definição pediátrica da SM semelhante a de adultos. Os

pontos de corte dos adolescentes acima de 16 anos seriam os mesmos utilizados

para os adultos. Em crianças de 10 a 16 anos utiliza-se o percentil 90 para a medida

de circunferência abdominal. Naquelas de seis a 10 anos, usa-se o mesmo percentil,

porém não é a condição essencial para o diagnóstico de SM, devendo-se intensificar

a suspeita clínica para história familiar positiva e demais condições predisponentes,

conforme tabela 2 7, 13.

Tabela 2. Classificação da síndrome metabólica em crianças e adolescentes

de acordo com os critérios da Federação Internacional de Diabetes

Critérios/

componentes

Idade6 a < 10 anos 10 a 16 anos > 16 anos

Definição de

adiposidade

CA ≥ percentil 90º CA ≥ percentil 90º CA ≥ 90 cm (homens)

ou ≥ 80 cm (mulheres)

Page 20: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

Metabolismo

glicêmico

Sem valores definidos

para diagnóstico de SM

Glicemia de jejum

≥ 100 mg/dL

Glicemia de jejum

≥ 100 mg/Dl

Dislipidemia Sem valores definidos

para diagnóstico de SM

Triglicerídeos ≥ 150

mg/dL ou HDL ≥ 40

mg/dL ou em uso de

hipolipemiante

Triglicerídeos ≥ 150 mg/dL

ou HDL ≥ 40 (homens) ou ≥

50 (mulheres) mg/dL ou em

uso de hipolipemiante

Hipertensão arterial Sem valores definidos

para diagnóstico de SM

PA ≥ 130 ou 85 mmHg

ou em uso de anti-

hipertensivo

PA ≥ 130 ou 85 mmHg ou

em uso de anti-hipertensivo

CA= circunferência abdominal; HDL = colesterol HDL; PA = pressão arterial

Assim, ainda não existe consenso na definição de SM em crianças. Alguns

modelos de classificação foram apresentados, e observa-se considerável

divergência entre eles. Neste contexto, torna-se necessário um melhor delineamento

para um maior entendimento dos fatores de risco e de seus limites de corte (faixas

de risco), que reflitam o risco de futura doença cardiovascular e diabetes 14.

1.2 Síndrome Metabólica e Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (DHGNA)

Apesar de não fazerem parte dos critérios diagnósticos da síndrome

metabólica, várias condições clínicas e fisiopatológicas estão associadas a essa

condição, dentre elas destaca-se a esteatose hepática (EH) que é considerada por

alguns pesquisadores como o componente hepático da SM 15,16.

A relação entre DHGNA e síndrome metabólica está cada vez mais

reconhecida, e esse fato tem estimulado o interesse no possível papel da DHGNA

no desenvolvimento da aterosclerose 17,18.

Marceau et al., mostraram que existe uma relação entre os componentes da

síndrome metabólica e DHGNA diagnosticado por exame histopatológico. Avaliou-se

a distribuição de gordura, tolerância a glicose, hipertensão e dislipidemia e

observou-se associação independente para a variação de gordura do fígado 19.

Estudo de coorte verificou que a SM é um preditor de esteatose hepática 20 e

a chance de apresentá-la aumenta de acordo com o agrupamento (ou incremento)

de fatores de risco da SM 21.

Segundo o Terceiro Relatório do Painel Nacional de Especialistas em

Educação sobre Colesterol referente à detecção, avaliação e tratamento do

Page 21: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

colesterol sanguíneo elevado em adultos, que pode ser aplicado à população geral,

a síndrome metabólica está presente em 60% de mulheres e em 30% de homens

afetados por EH. A presença da síndrome metabólica aumenta em três vezes o risco

de esteatohepatite não alcoólica (EHNA) em indivíduos com DHGNA. A síndrome

metabólica está particularmente associada a alto risco de fibrose ou cirrose hepática,

independentemente do grau de EH e da presença de enzimas de atividade

necroinflamatória 22.

1.3 Doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA)

A DHGNA representa um amplo espectro de doença hepática, caracterizada

principalmente pela esteatose macrovesicular que ocorre na ausência de consumo

de bebida alcoólica. Inclui alterações no tecido hepático, variando de uma simples

infiltração hepática de gordura denominado esteatose hepática não alcoólica (EH),

progredindo para o estabelecimento de um processo inflamatório, esteatohepatite

não alcoólica (EHNA), até a cirrose. É caracterizada histologicamente pela presença

de balonização celular, corpúsculos hialinos de Mallory, infiltrado inflamatório e

fibrose perisinusoidal 22,23.

1.3.1 Epidemiologia

A EH é considerada a desordem mais freqüente do fígado na atualidade. É,

em geral, assintomática, ocorrendo em diversos grupos étnicos, sem predileção de

sexo ou idade 24,25. Embora a EH possa ocorrer em indivíduos não obesos, a maioria

dos casos ocorre em indivíduos com sobrepeso e em obesos. Sua prevalência é de

10% a 24% na população em países ocidentais 23 e de 57% a 74% entre indivíduos

obesos adultos 26,27. Em crianças, a prevalência é de 2,6% e naquelas com excesso

de peso, varia de 22,5% a 52,8% 28.

A verdadeira prevalência de EH em obesos é ainda desconhecida e deve

estar sendo subestimada, principalmente devido à falta de um teste definitivo, além

da natural resistência em realizar biópsia do fígado nos indivíduos com sobrepeso

assintomáticos, por tratar-se de um exame invasivo.

1.3.2 Evolução e mecanismos da DHGNA em indivíduos obesos

Page 22: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

A evolução da DHGNA é progressiva, e resulta de várias alterações

metabólicas que podem ocorrer associadas a um fator genético. Apesar de não se

conhecer com exatidão as vias metabólicas desses eventos, atualmente prevalece a

hipótese de que várias etapas estariam envolvidas no progressivo dano hepático 19.

A hiperinsulinemia crônica e a resistência insulínica têm sido valorizadas em

situações como a obesidade e a síndrome metabólica. A elevação da insulina

favorece a lipogênese e inibe a lipólise, inclusive no fígado, favorecendo a infiltração

de gordura nesse órgão. Portanto, sugere-se a resistência à insulina como um

importante gatilho para o desenvolvimento da DHGNA 29.

O estado de obesidade atua como um estado pró-inflamatório, provocando

um aumento dos mediadores de fase aguda, entre eles, o fator de necrose tumoral

alfa (TNF-α) e interleucina-6 (IL-6). O acúmulo de lipídios nos adipócitos e a

expansão do tecido adiposo levam a uma liberação de citocinas pró-inflamatórias

provocando um estado de resistência insulínica 30.

A esteatose é tanto causa como resultado das vias relacionadas com a

geração de espécies reativas ao oxigênio, peroxidação lipídica e estresse oxidativo,

degradando a cadeia respiratória mitocondrial, depletando adenosina trifosfato (ATP)

e produzindo citocinas pró-inflamatórias 31.

Este ciclo auto-perpetuante de resistência insulínica e inflamação levaria à

ativação crônica do inibidor de quinase kappa beta e interação com fator nuclear de

transcrição, que regulam a expressão de genes que codificam proteínas pró-

inflamatórias 29.

Uma segunda etapa de dano hepatocelular é atribuída à peroxidação dos

lipídeos na membrana do hepatócito, e em parte pela produção de citocinas.

Alterações dos estoques de ATP do hepatócito e enzimas ativadoras do citocromo

P450 podem ser o ponto inicial da progressão da doença e da fibrogênese 31.

Além disso, estudos clínicos experimentais sugerem que níveis plasmáticos

elevados de insulina e glicose estimulam a expressão do fator de crescimento do

tecido conjuntivo levando à fibrose hepática 32.

1.3.3 DHGNA em crianças e adolescentes

Page 23: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

A esteatose hepática em crianças e adolescentes é classificada

histologicamente em tipo 1 e tipo 2, de acordo com a intensidade de degeneração

em forma de balão, fibrose perisinusoidais, esteatose, inflamação e fibrose portal,

conforme Quadro 1.

Quadro 1. Critérios para classificação de alterações histológicas em biópsias

hepáticas realizadas em crianças e adolescentes

Características diferenciais Tipo 1 Tipo 2Degeneração em forma de

balão

Presente ou ausente Ausente

Esteatose Presente ou ausente AusenteFibrose perisinusoidais Presente PresenteInflamação portal Ausente Presente ou ausenteFibrose portal Ausente Presente ou ausente

Fonte: Schwimmer, 2005.

O tipo 2 é mais comum em crianças mais jovens, onde a obesidade severa é

muito presente, acometendo principalmente os meninos, asiáticos, americanos e

hispânicos. No sexo feminino, o tipo 1 quando presente é mais frequente durante o

estágio pré-puberal de Tanner, enquanto que o tipo 2 ocorre na fase pós menarca. O

tipo 2 também tem sido encontrado em adultos com obesidade mórbida 32.

A enorme variação de estimativa de prevalência (8 a 80%) tem sido atribuída

à dificuldade de detectar a presença ou ausência de um fígado gordo usando

métodos não invasivos 33.

Estudos mostram que a média de idade para o aparecimento de esteatose

hepática varia de 11,5 a 13,5 anos, embora a doença possa ser diagnosticada a

partir dos 2 anos de idade. O estágio de desenvolvimento, hormônios sexuais e a

resistência insulínica na puberdade podem favorecer à incidência de DHGNA 28,33,34.

1.3.4 História natural

A história natural da DGHNA ainda não está bem estabelecida, devido à falta

de estudos prospectivos avaliando as crianças ao longo do tempo. Em um coorte

longitudinal retrospectivo de base hospitalar, que avaliou 66 pacientes pediátricos

com excesso de peso ao longo de um período de até 20 anos, a síndrome

metabólica esteve presente em 29% dos avaliados, e dentre aqueles que não

Page 24: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

possuíam a síndrome, 83% apresentavam pelo menos um critério; quatro pacientes

evoluíram para DM2 e quatro evoluíram para cirrose. Apesar das limitações do

estudo, a DHGNA em crianças pode ser uma doença progressiva que resulta em

cirrose e morte em uma pequena, porém significativa proporção de crianças 35.

Em adultos, estudos indicam que um terço dos pacientes com DHGNA irá

progredir para cirrose em 5 a 10 anos. A coexistência de outras doenças hepáticas

pode acelerar a progresso da doença hepática 36. A obesidade e o hiperinsulinismo

têm sido considerados fator de risco independente para carcinoma hepatocelular e

outras formas de câncer. Um estudo recente identificou 4.406 casos de carcinoma

hepatocelular e encontrou a esteatoepatite não alcoólica como o principal fator de

risco etiológico (53%), seguido por diabetes (36%) 37.

Além dos riscos à saúde, a DHGNA tem impacto na qualidade de vida das

crianças. Em um estudo da qualidade de vida, foram avaliados 239 indivíduos com

média de 12,6 anos. As crianças com DHGNA, comprovada por biópsia, obtiveram

piores escores em comparação com crianças saudáveis. Embora esse achado não

tenha sido considerado fator independente de confundimento, como por exemplo, a

obesidade, os escores não diferiram significativamente com a gravidade histológica 38.

1.3.5 Diagnóstico da DHGNA

O rastreamento é proposto nos casos de excesso de peso ou obesidade com

evidência de resistência insulínica. Assim como outras doenças hepáticas (50-

100%), a DHGNA é assintomática, e quando presente os sintomas são pouco

específicos, como dor vaga no quadrante direito do abdômen, cansaço e fraqueza 25.

O diagnóstico inicial da doença é feito por meio da elevação dos níveis de

enzimas hepáticas – aminotransferases (AST e ALT) e gama glutamiltranspeptidase

(Gama-GT), e métodos de imagem 28. Alguns autores consideram o índice AST/ALT

uma importante ferramenta no diagnóstico diferencial em relação à hepatite

alcoólica, já que na EHNA este índice tenderia ser inferior a um 39.

A biópsia hepática é considerada o padrão-ouro para o diagnóstico da

DHGNA, sendo o único meio de confirmar e estadiar a severidade do dano hepático.

Contudo, devido ao caráter invasivo, dificuldade de execução e ao risco de

complicações, métodos de exames de imagem e laboratoriais têm sido propostos

Page 25: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

como rastreamento 40,41,42. O método ultrassonográfico é um dos mais empregados

por ser menos invasivo e de fácil aplicabilidade 41.

A ultrassonografia na DHGNA é caracterizada pelo aumento da ecogenicidade

do parênquima hepático em relação ao córtex renal, redução da visibilidade dos

vasos hepáticos e da intensidade da penetração do eco dentro do parênquima. Sua

sensibilidade é de 89% e especificidade de 93% para o diagnóstico de esteatose,

quando comparado com o padrão ouro 43. Entretanto, quando a infiltração gordurosa

acomete menos de 30% do fígado, há uma perda da sensibilidade e a interpretação

torna-se mais subjetiva. É importante ressaltar que o ultrassom não pode ser

utilizado para excluir DHGNA 44.

Outros métodos podem ser utilizados para o diagnóstico da esteatose

hepática como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética. A

tomografia computadorizada apresenta problema de exposição à radiação que é

indesejável em uma população pediátrica. Por outro lado, a ressonância magnética é

o método de imagem mais sensível e promissor para quantificação de gordura do

fígado. Inclui a espectroscopia por ressonância magnética (MRS) ou elastografia por

ressonância magnética, que permitem realizar a quantificação do teor de gordura em

todo o órgão, mostrando-se como método diagnóstico promissor em alguns estudos

pediátricos 45, porém seu uso é limitado devido ao alto custo.

O diagnóstico primário de DHGNA é realizado diante da exclusão de outras

causas secundárias de esteatose, como doença hepática alcoólica e hepatites virais.

Testes sorológicos devem ser utilizados para excluir a hipótese de hepatite viral,

bem como a exclusão de consumo excessivo de álcool. A figura 1 apresenta um

algoritmo para a investigação diagnóstica de DHGNA 46.

Page 26: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

Figura 1. Avaliação diagnóstica e conduta da DHGNA Fonte:. Adaptado de CARVALHEIRA et al., 2006

Biomarcadores não invasivos tornaram-se uma prioridade para encontrar

métodos alternativos de diagnóstico e acompanhar pacientes com DHGNA,

considerando as limitações, custos e riscos da biópsia. Esses biomarcadores

incluem a medida de fibrose e apoptose de hepatócitos. O teste de fibrose hepática

avançada (ELF) engloba um painel de marcadores séricos, incluindo o ácido

hialurônico, pró-peptidio aminoterminal do colágeno tipo III (PIIINP) e o inibidor de

metaloproteinase tecidual (TIMP-1) 47.

1.3.6 Tratamento da DHGNA

O tratamento da DHGNA não está intimamente ligado ao tratamento da SM.

Vários estudos mostram que a perda de peso acarreta melhora da sensibilidade à

insulina em pacientes obesos. Entretanto, um estudo feito com 69 obesos

submetidos à gastroplastia, mostrou que, mesmo com a melhora das taxas

Page 27: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

hormonais e metabólicas dos pacientes obesos após acentuada perda de peso,

houve um aumento na prevalência de DHGNA e desenvolvimento de inflamação

portal e fibrose após a cirurgia 49, sugerindo que dieta extremamente hipocalórica

pode piorar a histologia hepática.

Dessa forma, alguns autores enfatizam o fato de que o combate à obesidade

e sobrepeso e suas complicações metabólicas por meio de aumento da atividade

física, adequação da ingestão alimentar e conseqüentemente redução de peso

gradual e sustentada, seja a melhor forma de prevenir e combater a evolução da

DHGNA 49,50.

Alguns medicamentos têm sido propostos para tratar DHGNA em crianças

sendo divididos em duas categorias, aqueles que tratam a síndrome metabólica e

aqueles que têm efeito hepatoprotetor, incluindo antioxidantes com vitamina E 47. Os

benefícios da metformina e da vitamina E em crianças estão sendo avaliados em um

estudo multicêntrico, duplo cego, controlado e randomizado (TONIC - Treatment of

nonalcoholic fatty liver disease in children) utilizando a histologia como o ponto final 50.

1.3.8 Estudos da DHGNA no Brasil

A relação entre DHGNA e obesidade na população adulta, está bem

caracterizada em vários estudos, porém são escassos os trabalhos científicos que

avaliaram a relação entre DHGNA e SM, sobretudo, em crianças e adolescentes. 21,51. Na nossa região inexistem estudos desta natureza, sendo importante o

conhecimento desse dado, uma vez que existem possibilidades de variações

regionais.

A elevada frequência de degeneração gordurosa nos pacientes obesos, na

maioria assintomática, e a possibilidade de progressão para doença crônica do

fígado, aliadas a poucos dados existentes na literatura sobre esta temática,

justificam a importância deste estudo.

Page 28: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

2. OBJETIVOS

2.1 GERAL

Verificar a prevalência de esteatose hepática e o perfil das enzimas hepáticas

em crianças e adolescentes com excesso de peso e sua relação com os

componentes da síndrome metabólica.

2.2 ESPECÍFICOS

1- Descrever a população estudada em relação aos fatores sócio-demográficos

(faixa etária, sexo, renda, escolaridade materna) estado nutricional e perfil

metabólico.

2- Verificar a prevalência das alterações das enzimas hepáticas (AST, ALT,

Gama-GT) e ultrassonográficas.

3- Verificar associação entre as alterações ultrassonográficas e as enzimas

hepáticas.

4- Avaliar o valor médio das enzimas hepáticas e dos componentes da SM

(aumento da pressão arterial, distúrbios do metabolismo dos glicídios, lipídios,

CA alterada), do HOMA-IR e insulina, de acordo com a presença ou não da

SM ou da esteatose hepática.

5- Verificar o ponto de corte das enzimas hepáticas para o diagnóstico de

esteatose hepática e da SM.

Page 29: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Tipo do estudo

Estudo transversal, com abordagem quantitativa, parte de um projeto maior

intitulado “Fatores de risco cardiometabólico em crianças e adolescentes obesos ou

com sobrepeso” desenvolvido no período de julho de 2009 a março de 2010 no

centro de obesidade infantil (COI), Instituto Elpídio de Almeida (ISEA), Campina

Grande-PB. O COI foi implantado pela equipe de pesquisadores, especificamente

para atender as demandas do projeto.

3.2 População e amostra

A captação das crianças e adolescentes foi feita através da divulgação da

pesquisa nas Unidades Básicas de Saúde do município, através da secretaria de

saúde. Os indivíduos que apresentavam os critérios de inclusão do estudo eram

convidados a participar e encaminhados pelos profissionais das equipes de saúde

ao COI, que congrega os pesquisadores e uma equipe multidisciplinar composta por

endocrinologista, nutricionista, psicóloga, enfermeira, assistente social e preparador

físico.

Foi estudada, portanto, uma amostra de conveniência que incluiu 152

crianças captadas durante o período do estudo. Considerando que esse número

representa as crianças e adolescentes obesos ou com sobrepeso, atendidos pela

demanda dos serviços de saúde do município, calculou-se através do Statcalc do

Epi info o tamanho da amostra ideal, para se verificar a representatividade do

número estudado. Para tanto, levantou-se inicialmente a população entre 2 a 19

anos cadastrados no Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) em 2008 que

correspondeu a 65.980. Considerou-se uma prevalência de sobrepeso e obesidade

de 25% 52, e de esteatose de 22,5% 28. Para um erro de 5%, o tamanho mínimo da

amostra resultaria em 139 indivíduos.

3.3 Critérios de elegibilidade

Page 30: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

3.3.1 Critérios de Inclusão

- Crianças e adolescentes entre 2 e 18 anos;

- Diagnóstico de sobrepeso ou obesidade.

3.3.2 Critérios de Exclusão

- Pacientes com doença que impliquem em prejuízo da atividade física, como por exemplo, os

portadores de paralisia cerebral e síndromes genéticas;

- Causas secundárias de obesidade, como endocrinopatias pré-existentes;

- Pacientes com doença subjacente ou em uso de medicação que interfira na pressão arterial e no

metabolismo glicídico ou lipídico;

- História de etilismo.

3.4 Variáveis de Estudo

- Esteatose hepática;

- Síndrome metabólica;

- Exames laboratoriais (Glicemia, Insulina, HOMA, AST, ALT, Gama-GT)

- Medidas antropométricas: peso, estatura, índice da massa corpórea (IMC), circunferência abdominal

(CA) e Pressão arterial;

- Variáveis sócio-econômicas: raça, gênero, idade, renda familiar e

escolaridade materna.

3.4.1 Definições de termos e variáveis

- Esteatose hepática: variável categórica obtida por ultrassonografia de abdomem superior, e

classificada em esteatose leve, moderada e grave;

- Síndrome metabólica: variável categórica definida com presente ou ausente de acordo com os

critérios da Adult Treatment Panel III (ATPIII) adaptados para faixa etária, incluindo o critério da

resistência insulínica preconizado pela OMS (1999);

- Variáveis laboratoriais:

o Glicemia de jejum: variável numérica contínua expressa em mg/dL. Foram considerados

normais valores entre 75 e 99 mg/dL;

o Insulina: variável numérica contínua expressa em µUI/mL. Foram adotados como valores

normais, os valores de insulina menores que 15 µUI/mL;

Page 31: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

o Resistência Insulínica: variável numérica categórica e contínua expressa através do HOMA- IR.

Foi considerado como ponto de corte o HOMA- IR ≥ 2,5;

o AST: variável numérica contínua e categórica expressa em U/L. Foram considerados os

seguintes pontos de corte ≥ 37 e ≥ 18;

o ALT: variável numérica contínua e categórica expressa em U/L. Foram considerados os

seguintes pontos de corte. ≥ 30 e ≥ 18;

o Gama-GT: variável numérica contínua e categórica expressa em U/L. Foram considerados os

seguintes pontos de corte ≥ 35 e ≥ 24.

- Medidas Antropométricas:

o Peso: variável contínua em quilogramas, obtido pela aferição feita pela equipe da pesquisa;

o Estatura: variável contínua em centímetros, obtida pela aferição feita pela equipe da pesquisa;

o IMC: variável numérica categórica e contínua. Para a classificação do estado nutricional,

calculou-se o IMC, e conforme recomendações do Centers of Disease Control and Prevention

(CDC) trabalhou-se, de acordo com os percentis, com as seguintes categorias: sobrepeso

(85≥IMC<95), obesidade (95≥IMC<97) e obesidade grave (IMC≥97);

o Circunferência abdominal: variável numérica categórica e contínua. Foram considerados

alterados os valores acima do percentil 90 (IDF), porém com limite máximo de 88 cm para

meninas e 102 cm para os meninos, de acordo com o National Cholesterol Education Program

Adult Treatment Pannel III (NCEP-ATPIII).

o Pressão Arterial: variável numérica categórica definida como normal a pressão sistólica ou

diastólica abaixo percentil 90 para gênero, idade e estatura, e alterada: pré-hipertensão ou

limítrofe entre o percentil 90 e 95, e hipertensão acima ou no percentil 95, de acordo com a I

Diretriz de Aterosclerose na Infância e V Diretriz Brasileira de Hipertensão.

-Variáveis sócio-econômicas:

o Cor da pele: variável nominal categórica auto-referida pelo indivíduo em branca, parda, negra

e indígena e posteriormente, dicotômica categorizada em branca e não-branca;

o Gênero: variável nominal categórica dicotômica (feminino/ masculino);

o Faixa etária: variável numérica categórica e contínua expressa em anos completos de vida

definidos em: pré-escolar (2 a 5 anos), escolar (6 a 9anos), e adolescente (10 a 18 anos);

o Renda familiar: variável numérica categórica. Foi considerado como renda o salário e auxílios

governamentais e utilizados valores de acordo com o salário mínimo de 2009 que era de R$

465,00: até 2 (R$ 930,00); e mais que 2 (maior que R$ 930,01);

o Escolaridade materna: variável nominal nas seguintes categorias: nenhuma ou ensino

fundamental; ensino médio ou superior; ensino superior completo; não soube informar.

3.5 Técnicas e método de coleta

Page 32: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

No primeiro encontro, foi realizada uma triagem para avaliar se os indivíduos encaminhados atendiam

aos critérios de inclusão do estudo. Foram excluídos aqueles que, no momento da coleta de dados, fossem

portadores de alguma doença infeciosa e que estivessem em uso de medicação que interferisse no

metabolismo glicídico ou lipídico.

Foi utilizado um formulário para registro de informação que constava de

dados sobre as crianças e adolescentes (idade, sexo), condições socioeconômicas

dos pais (escolaridade materna e renda familiar total), medidas antropométricas

(peso, estatura e circunferência abdominal), pressão arterial, resultados dos exames

laboratoriais (glicemia de jejum, triglicerídeos, colesterol HDL, insulina sérica, AST,

ALT e Gama-GT) e resultados dos exames de imagem (Ultrassonografia).

Das 160 crianças e adolescentes captadas, uma foi excluída por apresentar quadro clínico de hepatite,

uma por uso de medicação corticosteróide, e seis por não realizarem algum dos exames necessários (USG e/ou

exames laboratoriais), sendo avaliados, ao final, 152 indivíduos.

3.5.1 Medidas antropométricas

As medidas antropométricas de peso, estatura e circunferência abdominal

foram coletadas em duplicata, considerando a média das duas medidas. Para

obtenção do peso, foi utilizada uma balança digital tipo plataforma da marca

Welmy® com capacidade para 150 kg e precisão de 0,1 kg. A altura foi obtida

utilizando-se um estadiômetro da marca Tonelli com precisão de 0,1 cm, composto

de plataforma desenhada indicando a posição dos pés, régua medindo até 207 cm e

um cursor 4.

A classificação do estado nutricional foi realizada através do índice da massa

corpórea (IMC) calculado pelo quociente entre o peso (em Kg) e o quadrado da

estatura (em metros), sendo consideradas como obesas graves, as crianças que se

encontram acima ou no percentil 97; obesas, as que se encontram no percentil 95

ou acima deste, e com sobrepeso aquelas entre o percentil 85 e 95, definidos

conforme as recomendações do CDC, 2000 53.

A circunferência abdominal foi avaliada com fita métrica inextensível com

precisão de 0,1 cm, no ponto médio entre a crista ilíaca e o último rebordo costal,

com o paciente de pé, sem roupa, com os braços posicionados ao longo do corpo e

na fase expiratória da respiração. Foram considerados como elevados, valores

Page 33: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

acima do percentil 90, porém com limite máximo de 88 cm para meninas e 102 cm

para os meninos 54,55.

A faixa etária foi categorizada em 2 a 9, pré-escolares e escolares, e 10 a 18

anos, adolescentes.

3.5.2 Pressão arterial

A pressão sistólica e diastólica foi aferida três vezes no braço direito após

descanso de 10 minutos, em intervalos de repouso de aproximadamente 2 minutos

de acordo com o método estabelecido na V Diretriz Brasileiras de Hipertensão

Arterial, com esfigmomanômetro aneróide calibrado, sendo usados manguitos de

tamanhos adequados, considerando como resultado a média das duas últimas

medidas 56.

3.5.3 Procedimentos laboratoriais

Os pacientes foram submetidos a um jejum de 12 horas para realização dos

testes bioquímicos. Coletou-se na veia antecubital em decúbito dorsal, cerca de 5

mL de sangue sem anticoagulante em tubo à vácuo, sistema VACUETTE® Greiner

Bio-one.

Para a avaliação do perfil lipídico foram realizados os exames triglicerídeos,

colesterol HDL, realizados por método enzimático colorimétrico (Biotécnica®). Foi

adotado os pontos de corte como adequado, os propostos pela I Diretriz de

prevenção da aterosclerose na infância e na adolescência, triglicerídeos < 130mg/dl,

HDL-c > 45 mg/dl 57.

Para avaliação do perfil hepático foram coletados AST, ALT e Gama-GT,

avaliados por método enzimático colorimétrico (Biotécnica®), em equipamento

automatizado - Hitachi 911 (ROCHE®). Apesar da Sociedade Brasileira de Pediatria

considerar o ponto de corte maior 45 U/L alguns estudos mostram que esse ponto

de corte está 51,58,59. Neste estudo utilizamos dois pontos de cortes conforme descrito

na literatura. Ponto de corte ≥ 37 U/L para AST, 30 U/L para ALT e 24 U/L para

Gama-GT 51. E ponto de corte de ≥ 18 U/L para AST e ALT 58 e ≥ 35 U/L para Gama-

GT 59.

Page 34: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

A insulina sérica foi dosada por quimioluminescência direta em equipamento

automatizado IMMULITE 1000 (SIEMENS® ).

A glicemia sérica foi mensurada por método enzimático colorimétrico, com o

kit Biotécnica, em equipamento automatizado, Hitachi 911 (Roche Diagnostics,

EUA). Foram diagnosticados glicemia de jejum alterada, de acordo com os critérios

da Associação Americana de Diabetes, os pacientes que obtiveram glicemia de

jejum ≥ 100 mg/dL 60.

A presença de resistência insulínica foi determinada pelo HOMA-IR

(Homeostasis model assessment of insulin resistance) que é produto da insulina de

jejum (ug/mL) e da glicemia de jejum (mmol/L) dividido por 22,5 61. Esse índice

apresenta boa correlação com os exames considerados padrão-ouro para tal

finalidade, como o clamp hiperinsulinêmico. O risco de resistência insulínica foi

definido para valores de HOMA-IR ≥ 2,5 62,63.

3.6 Definição de Síndrome Metabólica

Foram adotados os critérios da Adult Treatment Panel III (ATPIII) adaptados

para faixa etária, incluindo o critério da resistência insulínica preconizado pela OMS

(1999). Para o diagnóstico da SM, utilizou-se com critério a combinação de pelo

menos 3 dos seguintes componentes: circunferência abdominal ≥ percentil 90 para

sexo, idade e raça, triglicerídeos ≥ 130mg/dl, HDL-c < 45 mg/dl 57, pressão sistólica

ou diastólica ≥ percentil 90 para idade, sexo e estatura 55, glicemia de jejum alterada

≥ 100mg/dl e/ou resistência insulínica (HOMA-IR ≥2,5) 60.

3.7 Diagnóstico de Esteatose Hepática

O diagnóstico de esteatose baseou-se no resultado da ultrassonografia de

abdome superior, realizado no Hospital Universitário Alcides Carneiro (HUAC), por

um único médico radiologista, sem o conhecimento prévio de dados clínicos e

resultados dos exames laboratoriais. O equipamento utilizado foi da marca Medison

SonoAce 8000EX Prime com transdutor convexo multifreqüencial de 5 MHz. As

alterações do parênquima hepático foram classificadas como: fígado normal,

esteatose difusa leve, moderada e grave 64. Essa classificação utiliza como

parâmetros a ecogenicidade hepática em comparação com o córtex renal, a

Page 35: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

intensidade de penetração do eco no parênquima hepático, a visibilidade

diafragmática e a ecogenicidade das estruturas vasculares hepáticas 43

3.8 Análises estatísticas

Os dados foram registrados em planilhas Excel e transferidos para o SPSS

versão 17.0 (SPSS, Chicago, IL). Após a verificação da consistência dos dados

descreveu-se a população através das variáveis sócio-demográficas e

características clínicas. Em seguida foram realizados testes de hipóteses, nos quais

as variáveis categóricas foram analisadas através da comparação de proporções

utilizando-se o teste do Qui-quadrado ou de Fisher (dependendo do número de

casos nas categorias de análise). A comparação dos valores médios das

características clínicas e exames laboratoriais entre os grupos foi realizada através

da análise de variância (Anova table) e teste de Bonferroni. Todas as análises

estatísticas consideraram um intervalo de confiança de 95%.

Para avaliar o ponto de corte das enzimas hepáticas, ALT, AST e Gama-GT

na identificação da EH e SM foi utilizada a análise da curva Receiver Operating

Characteristic (ROC). A curva ROC é uma curva construída por meio da

representação gráfica da sensibilidade (taxa de verdadeiro-positivo) versus 1-

especificidade (taxa de falso-positivo) de um teste diagnóstico, ao longo da faixa de

possíveis valores de ponto de corte, em que o melhor é aquele que fica no “ombro”

da curva. A área sob a curva ROC determina a acurácia do teste diagnóstico e,

quanto maior a área, melhor o teste 65. Um teste totalmente incapaz de discriminar

indivíduos doentes e não doentes, teria uma área sob a curva de 0.5 (seria a

hipótese nula). Acima de 0,70 é considerado um resultado satisfatório 66.

3.9 Considerações éticas

Esta pesquisa é parte de um projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UEPB nº

0523.0.133.000-09 (Anexo1).

Do ponto de vista normativo, a pesquisa está em conformidade com a Resolução 196/96 do Conselho

Nacional de Saúde. Portanto os pais ou responsáveis foram devidamente esclarecidos sobre os objetivos,

métodos e procedimentos a serem seguidos, e após a autorização da participação das crianças e adolescentes,

assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. (Apêndice 2)

Page 36: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

Após os resultados, os participantes tiveram os encaminhamentos

necessários para o acompanhamento com a equipe multidisciplinar e tratamento,

quando necessário.

Page 37: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

5. RESULTADOS

ARTIGO 1

ESTEATOSE HEPÁTICA E PERFIL DAS ENZIMAS HEPÁTICAS EM CRIANÇAS E

ADOLESCENTES COM EXCESSO DE PESO. Submetido à Revista XXXX, vide

Carta ao Editor (ANEXO X) e Normas de Publicação (ANEXO X).

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ESTEATOSE HEPÁTICA E PERFIL DAS ENZIMAS HEPÁTICAS EM CRIANÇAS E

ADOLESCENTES COM EXCESSO DE PESO

HEPATIC STEATOSIS IN OVERWEIGHT CHILDREN AND ADOLESCENTS

André Luiz Correia Ramos

Alessandra Teixeira Ramos

Maria Aparecida Cardoso

Juliana A Fernandes Noronha

Geruza Maria Almeida Guimarães

Carla Campos Muniz Medeiros

Instituições:

1. Núcleo de estudos e pesquisas epidemiológicas / Universidade Estadual da

Paraíba – UEPB

2. Instituto de Saúde Elpídio de Almeida – ISEA/PB

3. Hospital Universitário Alcides Carneiro - HUAC/PB

Endereço para correspondência:

André Luiz Correia Ramos

Rua Tomás Soares de Sousa, 950 - Catolé.

58.410-235 – Campina Grande – Paraíba

e-mail: [email protected]

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RESUMO

Objetivos: Avaliar a prevalência de esteatose hepática (EH) e o perfil das enzimas

hepáticas em crianças e adolescentes com excesso de peso e definir o ponto de

corte das enzimas para predição da esteatose hepática. Metodologia: Estudo

transversal envolvendo 152 crianças e adolescentes usuários do serviço público de

saúde do município de Campina Grande-PB. A população foi descrita através de

frequências médias e desvio padrão das variáveis sócio-demográficas e clínicas.

Para a comparação das proporções da prevalência de esteatose hepática entre os

grupos foi utilizado o teste do Qui-quadrado ou o de Fisher, enquanto que os valores

médios das enzimas hepáticas foram testados através de análise de variância.

Utilizou-se o teste de Anova table e Bonferroni para avaliar o perfil hepático de

acordo com o grau de esteatose. A sensibilidade e especificidade das enzimas

hepáticas em predizer a EH foi avaliada através da curva ROC. Os dados foram

analisados no programa SPSS versão 17.0 (SPSS, Chicago, IL) e foi adotado um

intervalo de confiança de 95%. Resultados: A prevalência de esteatose hepática

observada foi de 25,9%, sendo mais freqüente nas crianças (29,2%) do que nos

adolescentes (24,3%), no sexo masculino (28,3%) do que no feminino (24,2%) e

entre os obesos graves (30,1%). Em relação às enzimas, apenas o Gama-GT

mostrou associação com a esteatose hepática, quando considerado o ponto de corte

de 24 U/L (p=0,040). Embora as médias das enzimas hepáticas tenham aumentado

significativamente com a presença e o grau da esteatose (p< 0,05), nenhuma delas

apresentou um ponto de corte adequado para diagnóstico da esteatose. Conclusões:

A elevada prevalência de esteatose hepática na população estudada (25,9%) e a

ausência de um ponto de corte adequado das enzimas hepáticas para o diagnóstico

desta condição contribui para levantar evidências sobre a necessidade de se realizar

a ultrassonografia em crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade, como

critério para avaliação da esteatose hepática independentemente da idade e sexo.

Palavras chaves: Obesidade; esteatose hepática; adolescente; criança; curva ROC.

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ABSTRACT

Introduction Assessing the prevalence of Non-alcoholic fatty-liver disease (NAFLD)

and liver enzyme profile in children and adolescents are overweight, and setting the

cutoff point for prediction of these fatty liver. Methodology: Cross-sectional study with

a quantitative approach, involving 152 children and adolescents users of public

health system in Campina Grande-PB. The population was described by absolute

and relative frequency, the socio-demographic and clinical medium and standard

deviation. To compare the proportions of the prevalence of fatty liver among the

groups, we used the chi-square or Fisher. A comparison of medium values of liver

enzymes between the groups was performed using the t-student. To evaluate the

hepatic according to the degree of steatosis, we used the ANOVA test and Bonferroni

table. The sensitivity and specificity of liver enzymes to predict the hepatic steatosis

was evaluated by receiver operating characteristic curve. Data were analyzed using

SPSS version 17.0 (SPSS, Chicago, IL) and it was adopted a confidence interval of

95%. Results: The prevalence of hepatic steatosis was seen in 25.7%, being more

frequent in children (29.2%) than in adolescents (24.3%) in boys (28.3%) than in girls

(24.2%) and among the severely obese (30.1%). Regarding to liver enzymes, the

association was observed only with fatty liver gamma-GT when considering the cutoff

of 24 U / L (p = 0.040). The average liver enzymes increased significantly according

to presence and degree of steatosis (p <0.05), but none of them showed an

appropriate cutoff point for diagnosis of fatty liver. Conclusions: The high prevalence

of NAFLD in the population studied (25.7%) and the absence of an appropriate cutoff

point of liver enzymes for the diagnosis of this condition contributes to collect

evidence about the need to perform ultrasonography in children and adolescents

with overweight and obesity as a criterion for evaluation of hepatic steatosis

regardless of age and sex.

Key words: Obesity; steatohepatitis; adolescents, child, ROC.

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1 INTRODUÇÃO

A prevalência de obesidade infantil e suas comorbidades metabólicas estão

aumentando a um ritmo alarmante em países desenvolvidos e em desenvolvimento 1. Estima-se mundialmente que existam pelo menos 155 milhões de pessoas com

sobrepeso/obesidade, dos quais 30 a 45 milhões são de crianças 2. Dentre as

complicações crônicas associadas à obesidade destaca-se a Doença Hepática

Gordurosa Não Alcoólica (DHGNA).

A DHGNA inclui um amplo espectro de alterações no tecido hepático,

variando de uma simples infiltração hepática de gordura, denominado Esteatose

Hepática (EH), passando pelo estabelecimento de um processo inflamatório,

Esteatohepatite Não Alcoólica (NASH), até a cirrose hepática 3,4. Casos de cirrose

em obesos, antes diagnosticados como criptogênicos, têm sido atribuídos à

evolução da esteatohepatite não alcoólica 5.

A evolução da EH é progressiva e resultante de várias alterações metabólicas

que podem ocorrer associadas a um fator genético. Apesar de não se conhecer

exatamente as vias metabólicas destes eventos, há um consenso que o excesso de

tecido adiposo atua como um estado pró-inflamatório, provocando um aumento dos

mediadores de fase aguda, entre eles o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e

interleucina-6 (IL-6). O acúmulo de lipídios nos adipócitos e a expansão do tecido

adiposo levam uma liberação de citocinas pró-inflamatórias provocando um estado

de resistência à insulina 6.

Nos casos de excesso de peso ou obesidade, o rastreamento para DHGNA é

proposto quando há evidência de resistência insulínica 6. A biópsia hepática é

considerada o padrão-ouro para o diagnóstico da DHGNA, sendo o único meio de

confirmar e estadiar a severidade do dano hepático. Contudo, devido ao caráter

invasivo, à dificuldade de execução e ao risco de complicações, o diagnóstico da

doença EH é feito por meio da elevação dos níveis de enzimas hepáticas –

aminotransferases (AST e ALT) e gama glutamiltranspeptidase (Gama-GT), e por

métodos de imagem 7.

Não há um consenso na literatura do ponto de corte das enzimas hepática

para rastreamento da EH. Apesar da Sociedade Brasileira de Pediatria considerar o

ponto de corte maior 45 U/L alguns estudos mostram que este ponto de corte está

superestimado 8,9,10.

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Dentre os exames de imagem, o método ultrassonográfico é um dos mais

empregados, por ser menos invasivo e de fácil aplicabilidade 11.

A ultrassonografia (US) na DHGNA é caracterizada pelo aumento da

ecogenicidade do parênquima hepático em relação ao córtex renal, redução da

visibilidade dos vasos hepáticos e a intensidade da penetração do eco dentro do

parênquima. Sua sensibilidade é de 89% e especificidade de 93% para o diagnóstico

de esteatose, quando comparado com o padrão ouro 12, porém quando a infiltração

gordurosa acomete menos de 30% do fígado há perda da sensibilidade e a

interpretação torna-se mais subjetiva 13.

A relação entre DHGNA e obesidade na população adulta, está bem

caracterizada em vários estudos 14,15,16,17, porém são escassos os trabalhos

científicos que avaliaram esta relação em crianças e adolescentes. Na nossa região

inexistem estudos desta natureza, sendo importante o conhecimento desse dado,

uma vez que existem possibilidades de variações regionais.

Tendo em vista a grande frequência de degeneração gordurosa hepática nos

obesos e a possibilidade de progressão para doença crônica do fígado o objetivo

deste estudo é avaliar a prevalência de esteatose hepática e o perfil de enzimas

hepáticas em crianças e adolescentes obesos ou com sobrepeso, bem como definir

o ponto de corte das enzimas hepáticas que podem indicar esteatose hepática.

2. METODOLOGIA

Estudo transversal realizado dentro de uma pesquisa maior intitulada “Fatores

de risco cardiometabólicos em crianças e adolescentes obesos ou com sobrepeso”

que avaliou 200 crianças e adolescentes com excesso de peso.

A captação das crianças e adolescentes foi obtida com a divulgação da

pesquisa nas Unidades Básicas de Saúde do município, através da secretaria de

saúde. Os indivíduos que apresentavam os critérios de inclusão do estudo eram

convidados a participar e encaminhados pelos profissionais das equipes de saúde

ao Centro de Obesidade Infantil (COI), que congrega os pesquisadores e uma

equipe multidisciplinar composta por endocrinologista, nutricionista, psicóloga,

enfermeira, assistente social e preparador físico.

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Assim, estudou-se uma amostra de conveniência que incluiu 152 crianças

captadas durante o período de julho de 2009 a março de 2010. Considerando que

esta amostra representa as crianças e adolescentes obesos ou com sobrepeso

atendidos pela demanda dos serviços públicos de saúde do município, calculou-se

através do Statcalc do Epi info o tamanho da amostra ideal, para se verificar a

representatividade do número estudado. Para tanto, levantou-se inicialmente a

população entre 2 a 19 anos cadastrados no Sistema de Informação da Atenção

Básica (SIAB) em 2008 que correspondeu a 65.980. Considerou-se uma prevalência

de sobrepeso e obesidade de 25% 18, e de esteatose de 22,5% 7. Para um erro de

5%, o tamanho mínimo da amostra resultaria em 139 indivíduos.

Neste período foram avaliadas 160 crianças e adolescentes entre 2 e 18

anos, com diagnóstico de sobrepeso ou obesidade. Os critérios de exclusão foram:

uso abusivo de álcool, uso de medicações que alterassem as enzimas hepáticas, o

metabolismo lipídico e glicídico, ou portadoras de doenças infecciosas que

alterassem as transaminases. Assim, dois indivíduos foram excluídos, um por ser

portador de hepatite e outro por uso de medicação corticosteróide, além de seis

indivíduos que foram considerados perda, devido a não realização dos exames (US

e/ou exames laboratoriais). Dessa forma, a amostra final foi composta por 152

indivíduos.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade

Estadual da Paraíba sob o processo n°0040.0.133.000-08. Os pais foram informados

sobre os objetivos e procedimentos do estudo, e tendo concordado assinaram o

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Neste primeiro encontro foi aplicado

um formulário que abordava dados sobre as crianças e adolescentes (idade, gênero,

cor, escolaridade materna, renda familiar), aferidas as medidas antropométricas

(estatura, peso, circunferência abdominal (CA)), solicitados e agendados os exames

(AST, ALT, Gama-GT e ultrassonografia).

As medidas antropométricas peso, estatura e CA foram coletadas em

duplicata, e calculou-se a média das duas medidas. Para obtenção do peso, foi

utilizada uma balança digital tipo plataforma da marca Welmy® com capacidade

para 150 kg e precisão de 0,1 kg. A altura foi obtida utilizando um estadiômetro da

marca Tonelli® com precisão de 0,1 cm, composto de plataforma desenhada

indicando a posição dos pés, régua medindo até 207 cm e um cursor 19.

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A circunferência abdominal foi verificada com fita métrica inelástica da marca

cardiomed® com precisão de 0,1 cm, no ponto médio entre a borda superior da crista

ilíaca e o último rebordo costal, com o paciente em pé, sem roupa, com os braços

posicionados ao longo do corpo e na fase expiratória da respiração. Foram

considerados alterados os valores acima do percentil 90, porém com limite máximo

de 88 cm para meninas e 102 cm para os meninos.

A classificação do estado nutricional foi realizada através do Índice da Massa

Corpórea (IMC) calculado pelo quociente entre o peso (em Kg) e o quadrado da

estatura (em metros), sendo consideradas como obesas graves as crianças que se

encontram acima ou no percentil 97, obesas, as que se encontram no percentil 95

ou acima deste, e com sobrepeso, aquelas entre o percentil 85 e 95 definidos

conforme as recomendações do CDC, 2000 20.

A avaliação do perfil hepático foi realizada através da coleta de sangue após

12 horas de jejum para a mensuração das enzimas hepáticas, AST, ALT e Gama-GT

do método enzimático colorimétrico (BIOTÉCNICA®), em equipamento automatizado

– Hitachi 911 (ROCHE®) no Laboratório de Análises Clínicas da Universidade

Estadual da Paraíba (LAC/UEPB). Como não existe um consenso sobre o ponto de

corte adequado para rastreamento da esteatose hepática, as enzimas hepáticas

foram avaliadas como variáveis contínuas e categóricas, adotando os pontos de

corte de Lira et al que cosideraram alterados os seguintes valores: AST ≥ 37 U/L,

ALT ≥ 30 U/L, Gama-GT 24 U/L 8 e por CHANG et al ≥ 18 U/L, ALT ≥ 18 U/L, Gama-

GT ≥ 35 U/L 10.

O diagnóstico de esteatose baseou-se no resultado da ultrassonografia de

abdome superior. Foi realizado no Hospital Universitário Alcides Carneiro (HUAC),

por um único médico radiologista, que não tinha o conhecimento prévio de dados

clínicos e resultados dos exames laboratoriais. O equipamento utilizado foi da marca

MedisonSonoAce 8000 EX Prime com transdutor convexo multifreqüencial de 5

MHz. As alterações do parênquima hepático foram classificadas como normal,

esteatose difusa leve, moderada e grave 21. Essa classificação utiliza como

parâmetros a ecogenicidade hepática em comparação com o córtex renal, a

intensidade de penetração do eco no parênquima hepático, a visibilidade

diafragmática e a ecogenicidade das estruturas vasculares hepáticas 12.

A população foi descrita através das variáveis sócio-demográficas e clínicas

(estado nutricional, circunferência abdominal, enzimas hepáticas e achados

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ultrassonográficos), através de frequências médias e desvio padrão. As variáveis

foram categorizadas da seguinte forma: estado nutricional, sobrepeso/obesidade (85

IMC < 97) e obesidade grave (IMC ≥ 97); faixa etária, pré-escolar/escolar (2 a 9

anos) e adolescente (10 a 18 anos); circunferência abdominal, normal (< percentil 90

para gênero, estatura e idade) e elevada (≥ percentil 90); esteatose hepática (sim ou

não). A comparação das proporções da prevalência de esteatose hepática com as

variáveis do estudo foi realizada através do teste do Qui-quadrado ou o de Fisher,

enquanto que, a comparação dos valores médios das enzimas hepáticas foi

realizada através da análise de variância. A avaliação do perfil hepático de acordo

com o grau de esteatose, categorizado em normal (categoria 1), leve (categoria 2) e

moderada a grave (categoria 3), foi testado através do teste de Anova table e o de

Bonferroni. Para avaliar a sensibilidade e especificidade das enzimas hepáticas em

indicar a EH foi utilizada a análise da curva ROC. Os dados foram analisados no

programa SPSS versão 17.0 (SPSS, Chicago, IL) e foi adotado um intervalo de

confiança de 95%.

3. RESULTADOS

A descrição da população estudada pode ser observada na tabela 1. A

distribuição indica que a maioria era formada por adolescentes (68,4%) e pelo

gênero feminino (60,5%). Ressalta-se que 61,6% apresentavam obesidade grave,

83,6% tinha CA alterada. A esteatose hepática foi observada em 25,9%, sendo

19,9% leve, 4,0% moderada, e 2,0% acentuada.

As características sócio-econômicas indicam que se trata, na grande maioria,

de uma população de baixa renda e baixa escolaridade. Tabela 1.

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Tabela 1. Distribuição de frequências das variáveis gênero, faixa etária, estado

nutricional, circunferência abdominal, raça, escolaridade materna e renda familiar de

crianças e adolescentes com excesso de peso entre 2 e 18 anos atendidos no

Centro de Obesidade Infantil, ISE, Campina Grande - PB, 2009-2010 (n=152).

Variáveis N %

Gênero Masculino 60 39,5%

Feminino 92 60,5%

Faixa Etária 2 a 9,9 anos 48 31,6%

10 a 18 anos 104 68,4%

IMC Sobrepeso / obesidade 58 38,4%

Obesidade Grave 93 61,6%

CA Normal 25 16,4%

Aumentada 127 83,6%

Cor da pele Branco 53 35,1%

Não-branco 98 64,9%

Escolaridade Materna

Nenhum ou EFC 62 41,1%

EMC ou ESC 89 58,9%

Renda Até 2 SM 77 52,0%

Mais de 2 SM 71 48,0%

Avaliação Ultrassonográfica

Normal 112 74,1%

Esteatose grau leve 30 19,9%

Esteatose grau moderado

6 4,0%

Esteatose grau grave 3 2,0%

AST ≥18 U/L 133 88,1%

< 18 U/L 18 11,9%

AST ≥ 37 U/L 12 7,9%

< 37 U/L 139 92,1%

ALT ≥ 18 U/L 67 44,4%

< 18 U/L 84 55,6%

ALT ≥ 30 U/L 13 8,6%

<30 U/L 138 91,4%

Gama-GT ≥ 24 U/L 61 40,4%

< 24 U/L 90 59,6%

Gama-GT ≥ 35 U/L 18 11,9%

< 35 U/L 133 88,1%

IMC – Índice de massa corpórea, CA – Circunferência abdominal,

A esteatose hepática foi mais frequente nas crianças (29,2%) do que nos

adolescentes (24,3%), nos meninos (28,3%) do que nas meninas (24,2%) e entre os

obesos graves (30,1%), porém sem significância estatística (p>0,05).Tabela 2

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Tabela 2. Distribuição da esteatose hepática de acordo com o sexo, idade, índice de

massa corpórea, circunferência abdominal, renda familiar e escolaridade materna

em crianças e adolescentes com excesso de peso atendidas no Centro de

Obesidade Infantil, ISEA, Campina Grande-PB, 2009-2010 (n=152).

Variável Achado ultrassonográfico de esteatose

RP (IC95%) p

Simn(%)

Não n(%)

Sexo Masculino 17 (28,3%) 43(71,7%) 1,24 (0,59-2,59) 0,568Feminino 22(24,2%) 69(75,8%)

Idade 2 a 9,9 anos 14(29,2%) 34(70,8%) 0,78 (0,36-1,68) 0.52210 a 18 anos 25(24,3%) 78(75,7%)

IMC Sobrepeso/obesidade 11(19,0%) 47(81,0%) 1,84 (0,83-4,06) 0,128Obesidade grave 28(30,1%) 65(69,9%)

CA Alterado 34(26,4%) 95(73,6%) 1,48 (0,51-4,25) 0,719Normal 5(22,7%) 17 (77,3%)

Renda < 2 salários 20(26,0%) 57(74,0%) 1,04(0,50-2,16) 0,914> 2 salários 19(26,8%) 52(73,2%)

Escolaridade da mãe

Analfabeto/fundamental 12 (19,4%) 50 (80,6%) 1,81( 0,84-3,94) 0,129Médio e superior 27(30,3%) 62 (69,7%)

Cor Branco 12(22,6%) 41(77,4%) 1,32 (0,60-2,88) 0,488Não-branco 27(27,8%) 70(72,2%)

IMC – Índice de massa corpórea, CA – Circunferência abdominal,

Em relação às enzimas hepáticas, foi observada a associação de esteatose

hepática apenas com o Gama-GT, quando adotado o ponto de corte de 24 U/L

(p=0,040), com uma chance duas vezes maior de apresentar esta condição (Tabela

3).

Tabela 3. Distribuição das enzimas hepáticas de acordo com a presença de

esteatose hepática segundo os pontos de cortes adotados na literatura, em crianças

e adolescentes com excesso de peso atendidas no Centro de Obesidade Infantil,

ISEA, Campina Grande-PB, 2009-2010 (n=152).

Variável Achado ultrassonográfico de esteatose RP (IC95%) pSimn(%)

Não n(%)

AST ≥18 U/L 38(97,4%) 95(85,6%) 6,40 (0,82-49,9) 0,034b

< 18 U/L 1(2,6%) 16(14,4%)

AST ≥ 37 U/L 6(15,4%) 6(5,4%) 3,18 (0,96-10,5) 0,048< 37 U/L 33(84,6%) 105(94,6%)

ALT ≥ 18 U/L 20(51,3%) 47(42,3%) 1,43 (0,69-2,98) 0,334< 18 U/L 19(48,7%) 64(57,7%)

ALT ≥ 30 U/L 6(15,4%) 7(6,3%) 2,70 (0,85-8,6) 0,083<30 U/L 33(84,6%) 104(93,7%)

Gama-GT ≥ 24 U/L 21(53,8%) 39(35,1%) 2,15 (1,03-4,52) 0,040

< 24 U/L 18(46,2%) 72(64,9%)

Gama-GT ≥ 35 U/L 8(20,5%) 10(9,0%) 2,61 (0,95-7,18) 0,057

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< 35 U/L 31(79,5%) 101(91,0%)

Teste de quiquadrado de Pearsonb teste exato de Fisher´s

A média de AST foi significativamente maior entre as crianças (p= 0,021) e

obesos graves (p=0,010) que apresentaram também uma maior média de Gama-GT

(p= 0,025). Os pacientes do sexo masculino apresentaram valores significativamente

maiores em todas as enzimas (p <0,001; p= 0,001; e p= 0,029) (Tabela 4).

Tabela 4. Média e desvio padrão das enzimas hepáticas, de acordo com o estado nutricional, faixa etária, sexo, circunferência abdominal, presença ou não de esteatose hepática em crianças e adolescentes com excesso de peso, ISEA- Campina Grande-PB, 2009-2010 (n=152).

AST p ALT p Gama-GT pIMC Obesidade 23,4 (± 6,2) 0,010 15,1 (± 8,5) 0,39 20,9 (± 12,6) 0,025 Obesidade grave 28,3 (± 13,1) 20,2 (± 17,3) 25,7 (± 12,5)Faixa etária 2 a 9,9 anos 29,4 (±7,6) 0,021 16,7 (± 9,6) 0,404 21,1 (± 6,7) 0,062 10 a 19 anos 24,9 (± 12,3) 18,9 (± 16,6) 25,3 (± 14,6)Sexo Feminino 23,4 (± 6,2) < 0,001 15,0 (± 8,2) 0,001 22,1 (± 9,4) 0,029 Masculino 31,0 (± 15,2) 23,2 (± 20,4) 26,7 (± 16,4)CA Normal 22,8 (± 7,0) 0,080 14,5 (± 8,3) 0,174 19,7 (± 9,4) 0,068 Alterada 27,1 (± 11,8) 18,9 (± 15,7) 24,8 (± 13,2)Esteatose Sim 24,8 (± 6,7) 0,004 16,2 (± 9,8) 0,003 22,9 (± 11,0) 0,114 Não 30,8( 18,5) 24,2(23,1) 26,7 (16,8)

As médias das enzimas hepáticas aumentaram significativamente de acordo

com a presença e o grau da esteatose. Foi verificado um maior valor médio da AST

quando comparados pacientes normais e esteatose grau 1 (p= 0,018), e da Gama-

GT quando comparados esteatose grau 1 e esteatose grau 2 ou 3 (p=<0,0001)

(Tabela 5)

Tabela 5. Valor médio e desvio padrão das enzimas hepáticas, ALT, AST e Gama-

GT de acordo com a presença e o grau de esteatose hepática em crianças e

adolescentes com excesso de peso, ISEA, Campina Grande-PB, 2009-2010

( n=152).

Categoria

1(n=112)

Média (dp)

Categoria

2(n=30)

Média (dp)

Categoria 3

(n=9)

Média (dp)

p a p b

AST 24,9 (± 6,7) 31,2 (± 20,3) 29,67 (± 10,6) 0,002 0,018 (1 vs. 2)

ALT 16,2 (± 9,7) 21,8 (± 21,7) 32,2 (± 27,2) 0,015 0,005 ( 1 vs 3)Gama- 16,2 (± 9,7) 21,6 (± 9,0) 43,67 (± 25,0) <0,00 < 0,0001(1 vs.

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GT 13)

< 0,001(2 vs. 3)aTeste Anova b Comparação múltipla de Bonferroni. Categoria 1 – Ultrassonografia normal; Categoria

2 - Esteatose leve ; Categoria 3 - Esteatose moderada e grave

A tabela 6 mostra a análise da curva ROC das enzimas hepáticas para o

diagnóstico de EH. A área da curva e todas as enzimas foram < 0,7. Isto indica que

nenhuma destas enzimas apresentou ao mesmo tempo uma boa sensibilidade e

especificidade para o diagnóstico de EH.

Tabela 6. Análise da Curva ROC para diagnóstico de esteatose hepática.

Variável Área Intervalo de confiança 95%Limite inferior Limite superior

AST 0,623 0,524 0,722ALT 0,613 0,507 0,719

GAMA 0,555 0,438 0,671

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Figura 1. Curva ROC das enzimas hepáticas para o desfecho esteatose hepática

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4 DISCUSSÃO

A prevalência da esteatose hepática no presente estudo foi de 25,9%. Duarte

et al encontraram uma prevalência de 42,9% sendo mais frequente entre as crianças

obesas 22. Chan et al encontraram, em 84 crianças obesas de 7 a 18 anos, esteatose

hepática em 77% 23, Franzese et al em um segmento italiano em crianças obesas

encontraram EH em 53% das crianças24. Estes autores atribuem essa frequência

elevada devido ao alto grau de obesidade e por terem sido referenciados por

cuidados médicos para atendimento especializado.

Vale ressaltar ainda que esta prevalência pode estar subestimada, pois casos

de esteatose hepática leve podem não ter sido diagnosticados uma vez que, a

sensibilidade do US para diagnóstico desta condição pode diminuir quando a

infiltração gordurosa for menos que 30% 7. Além disso, trata-se de um método

diagnóstico operador dependente, o que pode justificar a diferença entre os

resultados encontrados.

Estudos mostram que a esteatose é mais frequente no sexo masculino 25,26.

No presente estudo, houve uma predominância de esteatose no sexo masculino e

em crianças, porém sem significância. Este dado corrobora com um estudo com

crianças de até 14 anos na cidade de Recife (PE), que encontrou um predomínio de

esteatose no sexo masculino e em menores de 10 anos de idade 22. Essas

diferenças entre os sexos podem estar relacionadas aos níveis de hormônios

sexuais, expressão hepática de receptores de hormônios sexuais e secreção de GH 27.

Os fatores genéticos que predispõem à DHGNA ainda são desconhecidos,

sabe-se que hispânicos, asiáticos e indígenas americanos têm uma predisposição

maior 28. Louthan et al detectaram uma menor prevalência de esteatose hepática em

crianças obesas de etnia negra, apesar de apresentarem os fatores de risco para a

DHGNA aumentados, tais como obesidade e resistência insulínica 29. Neste estudo

apesar da esteatose hepática ter sido mais prevalente entre os não-brancos, não

foram observadas diferenças significativas.

Apesar da literatura indicar associação entre CA aumentada e resistência

insulínica, e considerar esta condição como um critério para rastreamento da doença

hepática 22, no presente estudo observou-se que havia uma associação de maiores

Page 52: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

valores das enzimas hepáticas, AST e Gama-GT apenas com a categoria de obesos

graves, não tendo sido observada associação destas com a CA alterada.

Na avaliação das enzimas hepáticas de acordo com a presença e o grau de

esteatose, foi demonstrada a associação de uma média maior de AST em pacientes

com EH leve quando comparados com pacientes normais, e do Gama-GT, quando

se comparou EH leve com esteatose moderada e grave. O fato mostra que

elevações discretas na AST podem estar associadas ao início de infiltração hepática,

e o do Gama-GT, a uma evolução do dano. O Gama-GT desempenha um importante

papel no sistema de defesa antioxidante, e níveis elevados pode ser um marcador

do estresse oxidativo e inflamação subclínica 30,31. Nesse aspecto, os valores

normais das enzimas hepáticas não excluem o risco de estresse oxidativo,

especialmente quando estas estiverem no quartil superior 32.

Duarte (2011), em um estudo com 77 pacientes entre 2 anos a 14 anos,

encontrou elevação de ALT em 9,1% das crianças que tinham esteatose hepática22.

No presente estudo, dos 13 indivíduos (8,5%) que apresentaram ALT superior a 30

UI/mL, apenas 6 (46,2%) apresentaram diagnóstico ultrassonográfico de esteatose.

Quando comparada a média de ALT em relação à presença de esteatose, o

resultado foi significativamente maior entre os normais e os com esteatose de grau

moderado e grave.

Franzese et al., em um estudo longitudinal, observaram que níveis séricos de

transaminases elevadas correlacionavam-se com os graus moderados e graves de

esteatose hepática24. Por isso tem sido recomendado que a investigação

ultrassonográfica integre a avaliação global do paciente obeso, independentemente

da idade, sexo e estado nutricional, sobrepeso ou obesidade.

A alanina aminotransferase (ALT) é um marcador usado para diagnóstico

presuntivo de esteato-hepatite, na ausência de estudo histológico. Portanto,

elevações nessa enzima podem ser interpretadas como uma evolução de EH para

estato-hepatite 7.

O presente estudo comparou alguns pontos de corte descritos na literatura, e

observou que, adotando o ponto de corte ALT, AST, e Gama-GT, alguns pacientes

com esteatose hepática deixariam de ser diagnosticados. Franzese et al.

demonstraram que apenas 10% das crianças obesas com esteatose apresentavam

a concentração de enzimas hepáticas alterada 24,33.

Page 53: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

A análise da curva ROC, não demostrou um ponto de corte adequado das

enzimas hepáticas para o diagnóstico de esteatose hepática, fortalecendo a conduta

de realização da ultrassonografia em todas as crianças e adolescentes com excesso

de peso, uma vez que os valores de enzimas normais, considerados pela literatura 8,9,10, podem coexistir com EH.

Dentre as limitações do presente estudo relatamos a perda parcial da amostra

inicial dos indivíduos que não compareceram à coleta de sangue ou à realização da

ultrassonografia e a impossibilidade de realização da sorologia para hepatites.

O estudo mostrou que as enzimas hepáticas não consistem em um bom

marcador para diagnóstico de EH, uma vez que não se chegou a um ponto de corte

adequado que pudesse ser considerado como preditor da doença, indicando a

necessidade da US para a sua detecção e intervenção precoce no sentido de

prevenir a evolução da doença para a cirrose hepática.

Este fato é preocupante uma vez que a amostra estudada reflete a população

infanto-juvenil atendida na atenção básica de saúde do município de Campina

Grande-PB, na qual grande parte é de baixa renda e de pouca escolaridade, com

acesso restrito a realização da US.

5. CONCLUSÃO

A elevada prevalência de EH na população estudada é preocupante. A

ausência de um ponto de corte adequado das enzimas hepáticas para o seu

diagnóstico limitam a sua utilização enquanto método de triagem, evidenciando-se a

necessidade de se realizar a ultrassonografia em crianças e adolescentes com

sobrepeso ou obesidade, como critério para avaliação dessa condição,

independentemente da idade e sexo. É importante ressaltar ainda que a DHGNA é

apenas umas das complicações associadas à obesidade, e que essa, na sua forma

grave, pode evoluir para a cirrose hepática.

Page 54: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

6. REFERÊNCIAS

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Page 58: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

ARTIGO 2

ALTERAÇÃO HEPÁTICA: RELAÇÃO COM OS COMPONENTES DA SÍNDROME

METABÓLICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM EXCESSO DE PESO

Submetido à Revista XXXX, vide Carta ao Editor (ANEXO X) e Normas de

Publicação (ANEXO X).

Page 59: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

ALTERAÇÃO HEPÁTICA: RELAÇÃO COM OS COMPONENTES DA SÍNDROME

METABÓLICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM EXCESSO DE PESO

LIVER DISORDERS: RELATIONSHIP WITH METABOLIC SYNDROME

COMPONENTS IN CHILDREN AND ADOLESCENTS WITH OVERWEIGHT

AUTORES:

André Luiz Correia Ramos

Alessandra Teixeira Ramos

Maria Aparecida Cardoso

Juliana A Fernandes Noronha

Carla Campos Muniz Medeiros

Instituições:

1. Universidade Estadual da Paraíba – UEPB

2. Instituto de Saúde Elpidio de Almeida – ISEA/PB

3. Hospital Universitário Alcides Carneiro - HUAC/PB

Endereço para correspondência:

André Luiz Correia Ramos

Rua Tomás Soares de Sousa, 950 - Catolé.

58.410-235 – Campina Grande – Paraíba

e-mail:[email protected]

Page 60: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

RESUMO

Objetivos: Verificar a relação entre os componentes da síndrome metabólica,

esteatose hepática e alterações das enzimas hepáticas em crianças e adolescentes

obesas ou com sobrepeso. Metodologia: Estudo transversal envolvendo 152

crianças e adolescentes entre 2 a 18 anos usuárias dos serviços públicos de saúde

do município de Campina Grande-PB. As variáveis sexo, idade, IMC, CA, PA,

glicose, TG, HDL-c, HOMA-IR assim como as transaminases AST ALT e Gama-GT

foram analisadas em relação a presença ou não da EH e da SM. Foram utilizados

testes de qui-quadrado e análise de variância. Para avaliar a sensibilidade e

especificidade das enzimas hepáticas, ALT, AST e Gama-GT em indicar a SM,

utilizou-se análise da curva ROC. Foi adotado um intervalo de confiança de 95%.

Resultados: A EH esteve presente em 25,9% e a SM em 62,9% dos casos. Não foi

observada associação entre essas condições, porém uma média maior da insulina e

do HOMA-IR (p= 0,001) e uma tendência a uma maior pressão arterial sistólica foi

verificada nos indivíduos que apresentavam EH (p= 0,052). Valores médios maiores

de ALT e Gama-GT estiveram associados à presença da síndrome metabólica (p=

0,021; p< 0,001). O ponto de corte da Gama-GT para o diagnóstico da SM foi de

19,5 U/L. Conclusões: A esteatose hepática apresenta associação com alguns

componentes da síndrome metabólica, devendo ser avaliada nas crianças e

adolescentes com excesso de peso, principalmente naquelas que já apresentam o

diagnóstico da síndrome. O Gama-GT mostrou-se um bom indicador da síndrome

metabólica.

Palavras-chaves: Obesidade; Esteatose hepática; Síndrome X metabólica; Criança;

Adolescente; Curva ROC; Transaminases.

Page 61: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

ABSTRACTS

Objectives: Assessing the relationship among the components of metabolic

syndrome, fatty liver and liver enzyme abnormalities in obese or overweight children

and adolescents. Methodology: Cross-sectional study including 152 children and

adolescents aged 2 to 18, users of the public health system in Campina Grande-PB,

Brazil. The population was described by their socio-demographic and clinical

variable. It was determined the prevalence of metabolic syndrome, and compared

with metabolic parameters. The comparison of mean values of liver enzymes and

metabolic syndrome components within groups according to the presence of hepatic

steatosis and the metabolic syndrome and its components was performed by

analysis of variance. To evaluate the sensitivity and specificity of liver enzymes, ALT,

AST and Gamma-GT in order to detect metabolic syndrome, this study used a

Receiver Operating Characteristic analysis. The dataset was analyzed through the

SPSS version 17.0 (SPSS, Chicago, IL) using a confidence interval of 95%. Results:

In the population studied, 25.7% had hepatic steatosis, and 61.2% metabolic

syndrome. It wasn't found association between these conditions but a higher

average insulin and HOMA-IR (p=0.001) and a trend toward a higher systolic blood

pressure was observed in the group with steatosis (p=0.052). Regarding liver

enzymes, higher mean values of ALT and gamma-GT were associated with the

presence of metabolic syndrome (p=.021 and<0.001respectively). Gamma-GT has

shown to be a good indicator of metabolic syndrome. Conclusions: Hepatic steatosis

was correlated with some components of the metabolic syndrome and should be

evaluated in overweight children and adolescents, especially those who already have

the diagnosis of the syndrome.

Keywords: Obesity; Steatosis hepatic; Metabolic X Syndrome, Child, Adolescent.

Page 62: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

1 INTRODUÇÃO

O aumento da prevalência mundial da obesidade infantil, juntamente com o do

diabetes mellitus tipo 2 em jovens, ressalta a importância do diagnóstico da Síndrome

Metabólica (SM) em crianças e adolescentes 1. Além da SM, várias outras co-morbidades, tais

como dislipidemia, hipertensão arterial sistêmica, resistência à insulina e Doença Hepática

Gordurosa Não Alcoólica (DHGNA) 2 estão associadas à obesidade.

Embora a DHGNA não faça parte dos critérios diagnósticos da síndrome

metabólica, várias condições clínicas e fisiopatológicas estão a ela associadas,

sendo considerada por alguns pesquisadores como o componente hepático da

síndrome 3,4.

A SM está presente em 60% de mulheres e em 30% de homens afetados por

DHGNA. A presença da SM aumenta em três vezes o risco de esteatohepatite não

alcoólica em indivíduos com DHGNA5. Um estudo descritivo com 77 pacientes entre

2 a 14 anos indicou uma prevalência de síndrome metabólica de 27,3%, dos quais

47,6% apresentavam EH 6.

Hamaguchi et al (2005) verificaram através de um estudo de coorte que a SM

é um preditor de EH. Outro estudo mostrou que a chance de apresentá-la aumenta

de acordo com o incremento de fatores de risco da síndrome 7.

A relação da obesidade com a DHGNA e com a SM, e a carência de estudos

evidenciando estas duas últimas condições, fundamentaram a realização desta

pesquisa. Este estudo pretende verificar a associação entre as alterações hepáticas

de crianças e adolescentes obesas ou com sobrepeso e os componentes da

síndrome metabólica.

2 METODOLOGIA

Estudo transversal parte de uma pesquisa maior intitulada “Fatores de risco

cardiometabólicos em crianças e adolescentes obesos ou com sobrepeso” que

avaliou 200 crianças e adolescentes com excesso de peso.

A captação das crianças e adolescentes foi obtida com a divulgação da

pesquisa nas Unidades Básicas de Saúde do município, através da secretaria de

saúde. Os indivíduos que apresentavam os critérios de inclusão do estudo eram

convidados a participar e encaminhados pelos profissionais das equipes de saúde

Page 63: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

ao Centro de Obesidade Infantil (COI), que congrega os pesquisadores e uma

equipe multidisciplinar composta por endocrinologista, nutricionista, psicóloga,

enfermeira, assistente social e preparador físico.

Assim, estudou-se uma amostra de conveniência que incluiu 152 crianças

captadas durante o período de julho de 2009 a março de 2010. Considerando que

esta amostra representa as crianças e adolescentes obesos ou com sobrepeso

atendidos pela demanda dos serviços públicos de saúde do município, calculou-se

através do Statcalc do Epi info o tamanho da amostra ideal, para se verificar a

representatividade do número estudado. Para tanto, levantou-se inicialmente a

população entre 2 a 19 anos cadastrados no Sistema de Informação da Atenção

Básica (SIAB) em 2008 que correspondeu a 65.980. Considerou-se uma prevalência

de sobrepeso e obesidade de 25% 8, e de esteatose de 22,5% 9. Para um erro de

5%, o tamanho mínimo da amostra resultaria em 139 indivíduos.

Foram avaliadas 160 crianças e adolescentes entre 2 e 18 anos, com

diagnóstico de sobrepeso ou obesidade. Os indivíduos com condição associada ao

prejuízo da atividade física, os portadores de paralisia cerebral, síndromes

genéticas, aqueles com causas secundárias de obesidade, como endocrinopatias

pré-existentes, aqueles que tivessem doença ou em uso de medicação que

interferisse na pressão arterial, no metabolismo glicídico ou lipídico, foram excluídos.

Dessa forma, dois indivíduos foram excluídos, um por ser portador de hepatite e

outro por uso de medicação corticosteróide. Além disso, seis não fizeram parte do

grupo por não realizarem os exames (ultrassonografia e/ou exames laboratoriais),

resultando uma amostra de 152 indivíduos.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade

Estadual da Paraíba sob o processo n°0040.0.133.000-08. Os pais foram informados

sobre os objetivos e procedimentos do estudo, e tendo concordado assinaram o

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Neste primeiro encontro foi aplicado

um formulário que abordava dados sobre as crianças e adolescentes (idade, gênero,

cor, escolaridade materna, renda familiar), aferidas as medidas antropométricas

(estatura, peso, circunferência abdominal (CA)), solicitados e agendados os exames

(AST, ALT, Gama-GT e ultrassonografia).

As medidas antropométricas peso, estatura e CA foram coletadas em

duplicata, e calculou-se a média das duas medidas. Para obtenção do peso, foi

Page 64: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

utilizada uma balança digital tipo plataforma da marca Welmy® com capacidade

para 150 kg e precisão de 0,1 kg. A altura foi obtida utilizando um estadiômetro da

marca Tonelli® com precisão de 0,1 cm, composto de plataforma desenhada

indicando a posição dos pés, régua medindo até 207 cm e um cursor 2

A circunferência abdominal foi verificada com fita métrica inelástica da marca

cardiomed® com precisão de 0,1 cm, no ponto médio entre a borda superior da crista

ilíaca e o último rebordo costal, com o paciente em pé, sem roupa, com os braços

posicionados ao longo do corpo e na fase expiratória da respiração. Foram

considerados alterados os valores acima do percentil 90, porém com limite máximo

de 88 cm para meninas e 102 cm para os meninos. 10,11.

A classificação do estado nutricional foi realizada através do Índice da Massa

Corpórea (IMC) calculado pelo quociente entre o peso (em Kg) e o quadrado da

estatura (em metros), sendo consideradas como obesas graves as crianças que se

encontram acima ou no percentil 97, obesas, as que se encontram no percentil 95

ou acima deste, e com sobrepeso, aquelas entre o percentil 85 e 95 definidos

conforme as recomendações do CDC, 2000 12.

Para a avaliação do perfil lipídico foi realizada coleta de sangue após 12

horas de jejum para a mensuração do triglicerídeos, colesterol HDL, realizados por

método enzimático colorimétrico (Biotécnica®). Foram adotados os pontos de corte

como adequados, aqueles propostos pela I Diretriz de prevenção da aterosclerose

na infância e na adolescência, triglicerídeos < 130mg/dl, HDL-c > 45 mg/dl 13.

A glicemia sérica foi mensurada por método enzimático colorimétrico, com o

kit Biotécnica, em equipamento automatizado, Hitachi 911 (Roche Diagnostics,

EUA). Foram diagnosticados como glicemia de jejum alterada, de acordo com os

critérios da Associação Americana de Diabetes, os pacientes que obtiveram glicemia

de jejum ≥ 100 mg/dL 14.

A insulina sérica foi dosada por quimioluminescência direta em equipamento

automatizado IMMULITE 1000 (SIEMENS®), sendo considerada alterada, valor ≥ 15

ug/mL.

A presença de resistência insulínica foi determinada pelo HOMA-IR

(Homeostasis Model Assessment of Insulin Resistance) que é produto da insulina de

jejum (ug/mL) e da glicemia de jejum (mmol/L) dividido por 22,5 15. Esse índice

apresenta boa correlação com os exames considerados padrão-ouro para tal

Page 65: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

finalidade, como o clamp hiperinsulinêmico. O risco de resistência insulínica foi

definido para valores de HOMA-IR ≥ 2,5 16,17.

Para o diagnóstico de SM foram adotados os critérios da Adult Treatment

Panel III (ATPIII) adaptados para faixa etária 11, incluindo o critério da resistência

insulínica preconizado pela OMS (1999). A SM foi diagnosticada na presença de

pelo menos 3 dos seguintes componentes: circunferência abdominal ≥ percentil 90

para sexo, idade e raça, triglicerídeos ≥ 130mg/dl, HDL-c < 45 mg/dl 13, pressão

sistólica ou diastólica ≥ percentil 90 para idade, sexo e estatura 18, glicemia de jejum

alterada ≥ 100mg/dl e/ou resistência insulínica (HOMA-IR ≥2,5) 14.

O diagnóstico de esteatose baseou-se no resultado da ultrassonografia (US)

de abdome superior. Foi realizado no Hospital Universitário Alcides Carneiro

(HUAC), por um único médico radiologista, que não tinha o conhecimento prévio de

dados clínicos e resultados dos exames laboratoriais. O equipamento utilizado foi da

marca Medison SonoAce 8000EX Prime com transdutor convexo multifreqüencial de

5 MHz.

As alterações do parênquima hepático foram classificadas como normal,

esteatose difusa leve, moderada e grave 19. Essa classificação utiliza como

parâmetros a ecogenicidade hepática em comparação com o córtex renal, a

intensidade de penetração do eco no parênquima hepático, a visibilidade

diafragmática e a ecogenicidade das estruturas vasculares hepáticas 20.

A população foi descrita através das variáveis sócio-demográficas e clínicas,

através de frequências médias e desvio padrão. Em seguida, foi determinada a

prevalência de síndrome metabólica, sendo comparado com os parâmetros

metabólicos. A comparação dos valores médios das características clínicas e

exames laboratoriais entre os grupos foi realizada através da análise de variância.

Para avaliar a sensibilidade e especificidade das enzimas hepáticas, ALT, AST e

Gama-GT em predizer a SM foi utilizada a análise da curva ROC. Os dados foram

analisados no programa SPSS versão 17.0 (SPSS, Chicago, IL) e foi adotado um

intervalo de confiança de 95%.

3 RESULTADOS

A distribuição da população de acordo com as características clínicas e

metabólicas pode ser observada na tabela 1. A maioria era formada por

Page 66: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

adolescentes (68,4%) e pelo sexo feminino (60,5%). Foi detectada obesidade grave

em 61,6% dos casos enquanto que 83,6% tinham CA alterada.

A prevalência de esteatose foi de 25,9% sendo 19,9% leve, 4,0% moderada, e

2,0% acentuada (Tabela 1). A SM foi diagnosticada em 62,9%, e não foi observada

associação estatisticamente significante entre esteatose hepática e síndrome

metabólica (Tabela 3)

Page 67: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

Tabela 1- Distribuição de frequências das variáveis sexo, faixa etária, estado

nutricional, esteatose hepática, síndrome metabólica, CA, pressão arterial sistólica e

diastólica, HOMA-IR, glicemia de jejum, triglicerídeos e HDL-c de crianças e

adolescentes com excesso de peso entre 2 e 18 anos, ISEA, Campina Grande-PB,

2009-2010 (n=152).

Variáveis N %Gênero Masculino 60 60,5%

Feminino 92 39,5%Faixa Etária 2 a 9,9 anos 48 31,6%

10 a 18 anos 104 68,4%

Estado NutricionalSobrepeso / obesidade

58 38,4%

Obesidade Grave 93 61,6%Avaliação Normal 112 74,1%Ultrassonográfica Esteatose grau leve 30 19,9%

Esteatose grau moderado

6 4,0%

Esteatose grau grave

3 2,0%

Síndrome metabólica

Ausente 56 37,1 %

Presente 95 62,9%CA < p90 25 16,4%

≥ p90 127 83,6%PAS < p 90 119 78,3%

≥ p 90 33 21,7%PAD < p 90 89 58,6%

≥ p 90 63 41,4%Avaliação Normal 112 74,1%Ultrassonográfica Esteatose grau leve 30 19,9%

Esteatose grau moderado

6 4,0%

Esteatose grau grave

3 2,0%

Resistência Insulínica

< 2,5 µUI/mL 78 51,7%

≥ 2,5 µUI/mL 73 48,3%Glicemia de jejum < 100mg/dL 150 99,3%

≥ 100mg/dL 1 0,7%Triglicerídeos < 130 mg/dL 76 50,1%

≥ 130 mg/dL 75 49,9%Colesterol-HDL ≥ 45 mg/dL 44 29,3%

< 45 mg/dL 106 70,7%CA – Circunferência Abdominal; PAS – Pressão Sistólica; PAD – Pressão Diastólica;

AST - ; ALT - ; Gama-GT - ; SM – Síndrome Metabólica.

Page 68: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

A comparação do valor médio dos parâmetros metabólicos e das enzimas

hepáticas de acordo com a presença ou não da síndrome metabólica pode ser

observada na tabela 2. Entre os componentes da SM apenas a glicemia em jejum

não apresentou diferença estatisticamente significantes. Por outro lado, em relação

às enzimas hepáticas, observou-se associação de valores mais altos de Gama-GT e

ALT com os portadores de SM (p< 0,001; p=0,021).

Tabela 2 Distribuição de frequências das variáveis sexo e esteatose hepática, e

valores médios e desvio padrão das variáveis idade, índice de massa corpórea, CA,

pressão arterial, e parâmetros laboratoriais de acordo com o diagnóstico de SM em

crianças e adolescentes com excesso de peso entre 2 e 18 anos, ISEA-Campina

Grande, 2009-2010 (n=152)

Variáveis > 3 critérios da SM

NORMAL < 3 critérios da SM

P

MasculinoFeminino

67,8%59,8%

32,2%40,2%

0,320b

Idade (anos) 11,1 (± 3,7) 11,9 (± 3,5) 0,201IMC (Kg/m2) 28,2 (± 4,7) 26,1 (± 4,16) 0,008

CA (cm) 88,5 (± 14,6) 82,4 (± 12,2) 0,008PAS (mmHg) 111,5 (± 11,3) 107,0 (± 9,9) 0,015PAD (mmHg) 74,2 (± 7,9) 70,8 (± 7,9) 0,014

Glicose (mg/dL) 83,2 (± 7,0) 82,5 (± 7,9) 0,535Triglicerídeos (mg/dL) 169,6 (± 69,2) 103,2 (± 52,4) < 0,001

Colesterol – HDL (mg/dL)

38,8 (± 6,5) 45,0 (± 7,9) < 0,001

Insulina (µUI/mL) 16,1 (± 8,1) 9,1 (± 6,7) < 0,001HOMA-IR 3,3(± 1,8) 1,8 (± 1,3) < 0,001AST (U/L) 27,7 (± 13,0) 24,1 (± 7,2) 0,057ALT (U/L) 20,4 (± 17,2) 14,7 (± 8,5) 0,021

Gama-GT (U/L) 27,1 (± 14,7) 18,8 (± 6,3) < 0,001Teste Anova table. b Qui-quadrado

Uma maior média de insulina de jejum e do HOMA-IR esteve associada à

presença de EH (p=0,001). Os resultados também mostraram uma tendência a uma

maior pressão arterial sistólica no grupo com EH (Tabela 3).

Page 69: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

Tabela 3. Distribuição da SM, dos valores médios e desvio padrão das

características clínicas e de exames laboratoriais, de acordo com a presença ou

ausência da esteatose hepática em crianças e adolescentes com excesso de peso,

ISEA, Campina Grande-PB, 2009-2010 (n=152).

Variáveis Esteatose Ultrassonográfi

ca

Ultrassonografia normal

p

MasculinoFeminino

28,3%24,2%

71,7%75,8%

0,568 b

SMPresenteAusente

28,7%21,4%

71,3%78,6%

0,325b

Idade (anos) 11,2(±2,8) 11,4 (± 3,9) 0,696

IMC (Kg/m2) 27,8 (4,5) 27,3(± 4,6) 0,608

CA (cm) 87,1 (± 12,5) 85,8 (± 14,6) 0,624

PAS (mmHg) 112,6 (± 12,8) 108,6 (± 10,2) 0,052

PAD (mmHg) 73,3 (± 9,8) 72 (± 7,3) 0,715

Glicose (mg/dL) 83,9 (± 6,5) 82,6 (± 7,7) 0,373

Triglicerídeos (mg/dL) 140,0 (± 71,7) 144,7 (± 70,6) 0,722

Colesterol – HDL (mg/dL)

40,5 (± 9,2)) 41,4 (± 7,2) 0,525

Insulina (µUI/mL) 17,1 (± 10,6) 12,1 (± 6,9) 0,001

HOMA-IR 3,6 (± 2,3) 2,4 (± 1,4) 0,001

Teste Anova table. b Qui-quadrado

A análise entre as médias de enzimas hepáticas e os componentes da

síndrome metabólica mostrou uma associação entre a média do Gama-GT (p<0,001)

e triglicerídeo alterado, e a resistência insulínica avaliada pelo HOMA-IR associou-se

com ALT e Gama-GT (p= 0,047; p= 0,001).

Page 70: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

Tabela 4- Valores médios e desvio padrão das enzimas de acordo com os

componentes da SM.

AST P ALT p Gama-

GT

p

CA < p90 23,4 0,191 15,9 0,287 19,5 0,078≥ p90 26,8 18,7 24,7

Trigliceríde

os

<130mg/dL 26,4 0,933 18,1 0,908 20,3 <0,00

1≥130mg/dL 26,2 18,4 27,6

Colesterol –

HDL

≥45mg/dL 25,4 0,472 16,9 0,462 22,6 0,388<45mg/dL 26,8 18,8 24,6

Glicemia <100mg/dL 26,4 0,634 18,2 0,882 23,99 0,588≥100mg/dL 21,0 16,0 17,00

PAS <p90 25,7 0,533 17,4 0,242 23,6 0,533≥p90 28,4 20,9 25,18

PAD <p90 26,9 0,445 19,2 0,296 23,1 0,366≥p90 25,5 16,6 25,1

HOMA-IR <2,5µUI/m

L

26,5 0,862 15,9 0,047 20,6 0,001

≥2,5µUI/mL 26,2 20,7 27,4CA – Circunferência Abdominal; PAS – Pressão Sistólica; PAD – Pressão Diastólica;

A tabela 5 e a figura 1 mostram a análise da curva ROC das enzimas

hepáticas para a avaliação da capacidade de diagnosticar a SM. A área da curva da

enzima Gama-GT foi > 0,7. Isso indica que o Gama-GT apresentou uma boa

sensibilidade e especificidade para o diagnóstico de SM.

Tabela 5. Análise da Curva ROC para o desfecho SM síndrome metabólica e testes

da função hepática

Variável Área Intervalo de confiança 95%Limite inferior Limite superior

Gama-GT 0,729 0,646 0,813ALT 0,613 0,520 0,706AST 0,580 0,482 0,678

Page 71: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

Figura 1. Curva ROC de pontos de corte para diagnóstico da síndrome

metabólica.

A sensibilidade e especificidade de alguns valores de Gama-GT no

diagnóstico de síndrome metabólica são descritos na tabela 6. Na análise da curva

ROC, o melhor ponto de corte encontrado do Gama-GT para o diagnóstico da SM foi

19,5 U/L para sexo masculino e 20,5 para feminino.

Tabela 6. Sensibilidade e especificidade do diagnóstico de SM para ponto de corte

de Gama-GT.

Sexo Gama-GT (UI/mL) Sensibilidade Especificidade

Acurácia

Feminino 20,5 70% 53%66,6%

(IC95% 51,9%-81,2%)

Masculino 19,5 69% 70%75,6%

(IC95%-65,4%85,8%)

Page 72: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

4. DISCUSSÃO

A relação entre DHGNA e SM é abordada em vários estudos clínicos 3,7,21,22.

Marceau et al., mostraram que existe uma relação entre os componentes da SM e

DHGNA diagnosticado por exame histopatológico. Crianças com SM apresentam

cinco vezes mais chances de ter DHGNA quando comparadas com crianças com

sobrepeso e obesidade sem SM 23 .

A prevalência de SM verificada neste estudo foi de 62,9%, superior a outros

relatados na literatura. Silva et al encontraram uma prevalência de 26,1% em

crianças com histórico familiar de diabetes tipo II 8 enquanto que Weiss et al.

revelaram taxas de 38,7% em crianças moderadamente obesas e 49,7% em

crianças gravemente obesas 24. As variações nas taxas de prevalência devem-se,

por um lado, aos diferentes pontos de corte utilizados na definição dos

componentes da SM nos diversos estudos, e por outro, à inclusão da resistência

insulínica no presente estudo como um dos critérios da SM. Tais discrepâncias na

prevalência ressaltam a necessidade de uma definição universal da síndrome

metabólica em crianças.

No presente estudo o único critério que não apresentou diferença significativa

nos valores médios dos que tinham ou não a SM foi a glicemia de jejum, enquanto

que os demais componentes (CA, triglicerídeos, Pressão arterial, e HOMA-IR)

apresentaram valores maiores nos casos que apresentavam a SM, e o HDL-c,

valores menores. Em relação à glicemia de jejum, a ausência de associação pode

ter sido devido a baixa prevalência de glicemia de jejum alterada encontrada neste

estudo (0,7%) semelhante ao estudo de Genuth et al no qual apenas 1% das

crianças com excesso de peso apresentavam elevação na glicemia 25.

Schwimmer et al demonstraram que a DHGNA está fortemente associada à

SM, independente do IMC e da hiperinsulinemia 4. Outros estudos verificaram

associação da EH com alguns componentes da síndrome metabólica como a

hipertrigliceridemia, baixos níveis de colesterol HDL, e hipertensão arterial

comparando com grupo controles de obesos sem SM 7,26. Verificou-se também

associação entre a resistência insulínica avaliada pelo HOMA-IR e DHGNA 27,28 .

No presente estudo não foi observada a associação entre a EH e SM, porém

observou-se um maior valor médio de insulina e HOMA-IR e uma tendência de uma

PAS mais elevada nos que tinham EH. Os mecanismos biológicos que estão

Page 73: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

envolvidos em maior risco de desenvolver distúrbios metabólicos em pacientes com

esteatose hepática ainda não são totalmente compreendidos, no entanto, a

resistência insulínica parece ser o evento chave. 7,21. Alguns autores consideram a

resistência insulínica como a manifestação precoce hepática da SM 21,28.

A elevação da insulina favorece a lipogênese e inibe a lipólise, inclusive no

fígado, favorecendo a infiltração de gordura nesse órgão. 29,30. Desta forma a

esteatose pode ser considerada tanto causa como resultado das vias relacionadas

com a geração de espécies reativas ao oxigênio, peroxidação lipídica, estresse

oxidativo, e produção de citocinas pró-inflamatórias 31. Estudos clínicos

experimentais sugerem que níveis plasmáticos elevados de insulina e glicose

estimulam a expressão do fator de crescimento do tecido conjuntivo levando à

fibrose hepática 6.

Este comprometimento no metabolismo lipídico secundário a resistência

insulínica pode levar a alterações bioquímicas e clínicas na qual pode desenvolver a

síndrome metabólica 21.

Festi et al mostraram que a presença da síndrome metabólica aumenta em

três vezes o risco de esteatohepatite não alcoólica (EHNA) em indivíduos com

DHGNA, associando-se a um alto risco de fibrose ou cirrose, independente do grau

de EH e da presença de enzimas de atividade necroinflamatória 5.

Este estudo, além de enfocar a EH, comparou os níveis de enzimas hepáticas

nos indivíduos em relação à presença da SM. As médias de ALT e Gama-GT foram

significativamente maiores em pacientes com SM e com a presença de resistência

insulínica 5. Além disto, um maior valor de Gama-GT esteve associado a valores de

triglicerídeos alterados. Não houve diferença significativa com o AST. Isto pode ser

devido a produção do AST em outros locais além do fígado (músculo cardíaco,

musculo esquelético, rins, pâncreas, cérebro, pulmões, leucócitos e eritrócitos),

desta forma o AST não pode ser considerado um marcador específico de lesão

hepática 34 .

Kasapoglu et al mostraram em um estudo controlado com pacientes adultos

com e sem SM que o Gama-GT, AST e ALT tiveram valores significativamente

maiores em pacientes com a síndrome 35. Além disso, Wannamethee et al em um

estudo prospectivo com 3.500 pacientes não diabéticos com idade entre 60-79 anos

revelaram que níveis elevados de ALT e Gama-GT mesmo dentro da normalidade

foram encontrados como preditores independentes de diabetes mellitus tipo II 36.

Page 74: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

No presente estudo, a capacidade preditiva das enzimas hepáticas em

relação a SM foi descrita na análise da curva ROC, e mostrou que apenas o Gama-

GT tem uma boa capacidade para o diagnóstico de SM. O ponto de corte

encontrado para o diagnóstico de SM foi 20,5 em mulheres e 19,5 U/L em homens.

Semelhantemente ao encontrado por Kasapoglu et al adultos obesos. Verificaram

um maior poder preditor do Gama-GT para SM do que alguns dos seus

componentes clássicos (Triglicerídeos, CA, Glicemia, e Pressão arterial diastólica) 35

Estes autores identificaram um ponto de corte adequado para diagnóstico da

síndrome de 20,5 U/L para mulheres e de 26,5 U/L para homens 35.

Altos níveis de Gama-GT têm sido associados ao risco aumentado de

Doenças cardiovasculares aterosclerótica. Lee et al relataram que, em 3451

participantes do estudo de Framinghan, níveis no quartil superior de Gama-GT

foram preditores do desenvolvimento SM e esteve associado ao aumento de 67% na

incidência de doenças cardiovasculares; esta associação permaneceu significativa

mesmo após ajuste para fatores de risco cardíaco e Proteína C reativa 37.

O Gama-GT é uma glicoproteína encontrada não só no fígado, mas em

tecidos de outros órgãos, incluindo endotélio vascular e líquido extracelular ligado a

lipoproteínas e albumina. Em níveis fisiológicos, o Gama-GT atua como catalizador

protéico na degradação da glutationa, um dos principais antioxidante 38. Portanto, o

Gama-GT desempenha um papel importante no sistema de defesa antioxidadante.

Níveis elevados dessa enzima podem ser um marcador de estresse oxidativo e

inflamação sub-clínica 35.

O mecanismos de como o Gama-Gt está associado a SM ainda não foi bem

esclarecido, Ortega et al (2006) propões que a EH pode causar danos

hepatocelulares que simulam a síntese de Gama-GT 39. Alternativamente, o excesso

de gordura no fígado pode aumentar o estresse oxidativo, levando ao consumo

excessivo do catabolismo da glutationa extracelular, e um aumento compensatório

na síntese de Gama-GT. Desta forma, uma maior produção de Gama-GT poderia ser

secundária a uma inflamação hepática de baixo grau induzida por esteatose

hepática 40.

Este estudo teve como limitação o corte transversal impedindo a avaliação da

causa/efeito entre a EH, alterações da enzimas hepáticas e a SM e a não realização

da biópsia hepática, exame padrão ouro para diagnóstico da EH, por se tratar de um

procedimento invasivo e de alto custo. No entanto, estudos mostram que a USG

Page 75: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

pode ser utilizada como uma ferramenta de rastreamento para EH com razoável

precisão 6,21,41.

Diante dos resultados pode-se inferir apesar da esteatose hepática não estar

associada a SM na população estudada, o Gama-GT mostrou-se um bom marcador

da síndrome, devendo ser considerado como um dos componentes da SM. Portanto,

sugerem-se estudos longitudinais prospectivos que possam melhor esclarecer a

causalidade e os fatores envolvidos no processo de formação e desenvolvimento da

síndrome metabólica e EH em crianças e adolescentes com sobrepeso ou

obesidade.

4 CONCLUSÃO

A prevalência da SM e de EH foi elevada entre a população estudada. A

resistência insulínica e um maior valor médio de insulina estiveram associados a EH.

O Gama-GT mostrou-se como bom marcador da síndrome metabólica devendo fazer

parte dos exames laboratoriais de triagem em crianças e adolescentes com excesso

de peso. Esses achados ressaltam a importância do rastreamento para

complicações metabólicas da obesidade, em crianças e adolescentes.

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Page 81: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

6. CONCLUSÃO

A prevalência de esteatose hepática e da síndrome metabólica na população

estudada foi elevada.

Valores médios mais elevados da Gama-GT e ALT estiveram associados a

esteatose hepática, porém nenhuma das enzimas apresentaram um ponto de corte

que fosse preditor da presença da esteatose hepática, fortalecendo as evidências

sobre a necessidade de se realizar a ultrassonografia em crianças e adolescentes

com excesso de peso como critério para avaliação da esteatose hepática

independentemente da idade, sexo e estado nutricional sobrepeso ou obesidade.

Não foi verificado a associação entre a síndrome metabólica e a esteatose

hepática, mas uma maior média de insulina e HOMA-IR foi encontrada nas crianças

e adolescentes com esta condição.

Houve associação de um maior valor médio da ALT e Gama-GT entre os

indivíduos com SM e com resistência insulínica. O Gama-Gt também mostrou-se

associado aos triglicerídeos elevados.

O Gama-Gt mostrou-se um bom preditor da Síndrome Metabólica

fortalecendo a hipótese que esta enzima pode desempenhar um papel no

diagnóstico precoce da síndrome metabólica com um alto valor preditivo para esta

condição.

Os achados reforçam a relação entre a síndrome metabólica e alterações

hepáicas fortalecendo a proposta de inclusão da esteatose e das alterações das

enzimas hepáticas entre os componentes da síndrome metabólica.

Estudos longitudinais são importantes para elucidar a relação entre a

Síndrome Metabólica e esteatose hepática, duas condições crônicas associadas a

obesidade e o papel do gama-Gt como marcador da síndrome metabólica.

Políticas públicas e estratégias de prevenção devem ser implementadas

principalmente entre a população de baixa renda para identificar as complicações

associadas a obesidade entre elas a DHGNA através da realização da Ultra-

sonografia e da mensuração das enzimas hepáticas, particulamente da Gama-GT,

uma vez, na sua forma grave, pode evoluir para a cirrose hepática.

Page 82: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

7. REFERÊNCIAS

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8. ANEXOS E APÊNDICES

Page 90: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

APÊNDICE 1 – MODELO DE QUESTIONÁRIO

Esteatose hepática em crianças e adolescentes com excesso de

peso: relação com a síndrome metabólica e seus componentes

Nº QUEST: DENTREV: ENTREVISTADOR:

DADOS PESSOAIS DA CRIANÇA/ADOLESCENTENome:Data de Nascimento (DN): Idade (IDCRI): Gênero: ( ) M ( ) FRua: Nº:Bairro: Cep:Cidade / UF: Telefone residencial: Celular:Escola (ESCOLA):

(1) Pública (2) Privada

Faixa etária: (1) Pré-escolar (2) Escolar

(3) Adolescente

CDC - Diagnóstico (CDC): (1) Sobrepeso (2) Obesidade Percentil: ______________

Nome do responsável (nome da pessoa que está acompanhando a criança / adolescente no momento da entrevista) (RESP):

Nome do pai (PAI):Nome da mãe (MAE):

ANTROPOMETRIA

Peso 1:Peso 2: Média peso:

Percentil Peso:

Estatura 1: Estatura 2: Média estatura: Percentil Estatura:

Circunf. Abdominal 1: Circunf. Abdominal 2: IMC:

PAS 1: PAD 1: PAS 2: PAD 2: PAS 3: PAD 3:

Média PA: Percentil PAS: Percentil PAD:

Presença de acantose nigrans: (1) Sim (2) Não

Local: ( ) Axila ( ) Pescoço ( 0 Outros ___________

Menarca: (1) Sim (2) Não Idade:_________

Estágio puberal: ______________

EXAMES LABORATORIAIS

Data CT HDL LDL VLDL TG GLI

Page 91: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

Data TGO TGP Ac. Úrico Creatinina Uréia Ferro

Data Hb IBC Insulina Leptina PCR Gama GT

Data TOTG

DISLIPIDEMIA: (1) TIPO I (2) TIPO II (3) TIPO III (4) TIPO IV

Síndrome Metabólica: (1) Sim (2) Não Componentes alterados:

FATORES DE RISCO CDV

( ) Hipertensão Arterial ( ) Dislipidemia ( ) Hiperglicemia

( ) Hereditariedade ( ) Sedentarismo ( ) Resistência à insulina

( ) Obesidade Abdominal

ULTRASSONOGRAFIA

( ) Normal ( ) Esteatose Grau 1 ( ) Esteatose Grau 2 ( ) Esteatose

Grau 3Diagnóstico:_______________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

________________________

Critica - Nome: __________________________________________ Data: ____________

Page 92: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

APÊNDICE 2 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO

Você está sendo convidado(a) como voluntário(a) a participar da pesquisa:

Esteatose hepática em crianças e adolescentes com excesso de peso: relação

com a síndrome metabólica e seus componentes. O motivo que nos leva a

estudar este problema a síndrome metabólica é a repercussão que esta doença

pode levar a saúde futura das crianças e dos adolescentes. A Síndrome Metabólica

é a associação de obesidade com alteração na glicemia, triglicerídeos alto ou

colesterol HDL (fração protetora) baixo e hipertensão arterial. Os indivíduos

portadores desta síndrome têm uma probabilidade maior de desenvolver esteatose

hepática, doença cardiovascular, diabetes tipo 2, aumentando a mortalidade geral

em cerca de 1,5 vezes e a cardiovascular em cerca de 2,5 vezes.Justificativa: Esta

afecção ocorre cada vez mais na infância, principalmente naquelas com excesso de

massa corporal ou seja gordura. A detecção precoce, seguida pela mudança no

estilo de vida e hábito alimentar, é importante para evitar a progressão da SM,

proteger a saúde futura das crianças e dos adolescentes. Objetivo: Nossa pesquisa

tem como objetivo: Verificar a prevalência de esteatose hepática em crianças e

adolescentes com excesso de peso e sua relação com a síndrome metabólica e

seus componentes. Procedimentos: os pacientes com diagnóstico de obesidade ou

sobrepeso obtido através da relação peso dividido pela altura ao quadrado, serão

submetidos inicialmente a entrevista onde será pesquisados os antecedentes

familiares de fatores de risco para SM, posteriormente será realizado avaliação

antropométrica: peso e estatura, aferição de pressão arterial e medida da

circunferência abdominal. Posteriormente, os pacientes serão submetidos a coleta

de sangue (5ml) em jejum para a análise bioquímica de glicemia de jejum,

insulinemia de jejum, colesterol total, HDL-c e LDL-c, triglicerídeos, ALT, AST, e

Gama-GT e a realização da bioimpedância. Os exames serão realizados no

laboratório de análises clínicas (LAC) da UEPB e a insulina em um laboratório

terceirizado. Existe apenas um desconforto mínimo na coleta de sangue o que

justifica pela importância da detecção precoce das alterações metabólicas. A

Ultrassonografia será realizado no setor de imagem do Hospital Universitário Alcides

Carneiro. Uma vez detectado alguma alteração em seus exames o paciente

continuará sendo acompanhado e tratado em serviço especializado.

Page 93: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

A criança ou adolescentes e seus responsáveis serão esclarecidos(as) sobre

a pesquisa em qualquer aspecto que desejar. O pacientes será livre para recusar-se

a participar, retirar seu consentimento ou interromper a participação a qualquer

momento. A sua participação é voluntária e a recusa em participar não irá acarretar

qualquer penalidade ou perdas de benefícios.

Os pesquisadores irão tratar a sua identidade com padrões profissionais de

sigilo. Os resultados do exame clínico, complementares e da pesquisa serão

enviados para o responsável pela criança ou adolescentes e permanecerão

confidenciais. Seu nome ou material que indique a sua participação não será

liberado sem sua permissão. A criança ou o adolescente não será identificado (a) em

nenhuma publicação que possa resultar deste estudo. Uma cópia deste

consentimento informado será arquivado no NEPE (Núcleo de Estudo de Pesquisa

Epidemiológica) da Universidade Estadual da Paraíba.

A participação no estudo não acarretará custos para o paciente e não será

disponível nenhuma compensação financeira adicional.

DECLARAÇÃO DA PARTICIPANTE OU DO RESPONSÁVEL PELA

PARTICIPANTE

Eu,__________________________________________ fui informada(o) dos

objetivos da pesquisa acima de maneira clara e detalhada e esclareci minhas

dúvidas. Sei que em qualquer momento poderei solicitar novas informações e

motivar minha decisão se assim o desejar. A professora Dra Carla Campos Muniz

Medeiros certificou que todos os dados desta pesquisa serão confidenciais. Também

sei que os exames laboratoriais (glicemia de jejum, colesterol total, HDL-c, LDL-c,

triglicerídeos, insulinemia de jejum, ALT, AST e Gama-GT) e a bioimpedância e a

ultra-sonografia serão absorvidos pelo o orçamento da pesquisa. Em caso de

dúvidas poderei chamar Dra Carla Campos Muniz Medeiros no telefone : 083-3315-

3415. Declaro que concordo participar desse estudo. Recebi uma cópia deste

consentimento livre esclarecido e me foi dada a oportunidade de ler e esclarecer

minhas dúvidas.

Nome do responsável:________________________________________________

Assinatura do responsável______________________________________________

Nome do pesquisador:_________________________________________________

Page 94: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

Assinatura do pesquisador:-

________________________________________________

Data

Pesquisadora do Núcleo de Estudos em Pesquisa Epidemiológica da

UEPB

Dra Carla Campos Muniz Medeiros

CRM 4792

Page 95: ESTEATOSE HEPÁTICA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM …

ANEXO 1 – OFÍCIO AO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA (CEP) DA UEPB,