FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
Bárbara Gomes HYPÓLITO
CONSERVAÇÃO DE OBRAS SACRAS: ACERVO BIBLIOGRÁFICO
São Paulo
2010
FICHA CATALOGRÁFICA
Hypólito, Barbára Gomes
Conservação de Obras Sacras: acervo bibliográfico / Barbára Gomes Hypólito. - São Paulo, 2010. 88 f.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Biblioteconomia e Ciência da Informação da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, como requisito para obtenção do título de bacharel em Biblioteconomia.
1. Conservação 2. Obras Sacras 3. Acervo documental. I. Hypólito, Barbára Gomes. II. Título.
Bárbara Gomes HYPÓLITO
CONSERVAÇÃO DE OBRAS SACRAS: ACERVO BIBLIOGRÁFICO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de
Biblioteconomia e Ciência da Informação da Fundação Escola
de Sociologia e Política de São Paulo, como requisito para
obtenção do título de bacharel em Biblioteconomia.
Orientador: Prof(a): Edna Kátia Gaiardoni
São Paulo
2010
FOLHA DE APROVAÇÃO
Autor: Bárbara Gomes Hypólito
Título: Conservação de Obras Sacras: acervo bibliográfico
Conceito:
Banca Examinadora
Prof(a):________________________________________
Assinatura:_____________________________________
Prof(a):________________________________________
Assinatura:_____________________________________
Prof(a):________________________________________
Assinatura:_____________________________________
Data de aprovação:____/____/____
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho primeiramente a Deus, pois sem Ele, nada seria
possível.
Aos meus pais Ângelo e Dilma; pelo esforço, dedicação e compreensão, em
todos os momentos desta e de outras caminhadas. Obrigada por tudo, sem vocês
não seria nada.
As minhas irmãs Heloisa, meu anjo da guarda, e a minha irmã Gabriela que
apesar da distância, sempre me incentivou e cooperou. Amo vocês.
Em especial a minha Tia Adriana Hypólito que me mostrou e me guiou por
esse caminho lindo da Biblioteconomia e Ciência da Informação.
Ao meu namorado Robson pelo apoio e compreensão. Te amo.
Aos meus amigos de sala, em especial a Natalia Apostolo, Denise Débora,
Denise Melo, Tauany e Pablo.
AGRADECIMENTOS
Aos professores, pela contribuição, dentro de suas áreas, para o
desenvolvimento da minha monografia. E em especial a minha orientadora e
professora Edna Kátia Gaiardoni pela dedicação e empenho que demonstrou no
decorrer de suas atividades para comigo.
À bibliotecária Sandra A. Martins da Rosa, do mosteiro de São Geraldo, e a
Antônio Cesar Garcia, assistente de biblioteca do Mosteiro de São Bento.
A todos aqueles que, direta ou indiretamente, colaboraram para que este
trabalho consiguisse atingir aos objetivos propostos.
EPÍGRAFE
“Se livrarias são como pequenas igrejas espalhadas pelo mundo, as bibliotecas são
como catedrais onde é necessário se ajoelhar um pouco, abaixar a cabeça e
reconhecer que o mundo pode ser guardado entre quatro paredes.”
J.R. Duran
RESUMO
Este trabalho tem como finalidade apresentar os principais procedimentos
utilizados para a conservação de Obras Sacras, salientando o valor histórico das
mesmas. Estão reunidos dados bibliográficos e os principais processos de
conservação de Obras Sacras nas Instituições visitadas, mostrando como os
mesmos conservam suas obras.
Palavras-chave: Conservação; Obras Sacras; Patrimônio Histórico; Mosteiro São
Bento; Mosteiro São Geraldo
ABSTRACT
The object of this document is to show the procedures for the preservation of
sacred works, enhancing the historical value of them. Here are the main process of
conservation in the institutions visited that showing how they preserve the sacred
works. .
Keywords: Conservation; Sacred Works, Heritage, St. Benedict Monastery,
Monastery St. Gerard.
LISTAS DE FIGURAS
Figura 1 – Patrimônio Cultural....................................................................................15
Figura 2 – Níveis de atuação em Preservação, Conservação e Restauração...........16
Figura 3 – São Bento..................................................................................................48
Figura 4 – Acervo armazenado em estantes de madeira...........................................55
Figura 5 – São Bento e Santo Américo......................................................................57
Figura 6 – Distribuição do acervo em três andares....................................................61
Figura 7 – Cópia de um manuscrito...........................................................................62
Figura 8 – Cópia de um manuscrito...........................................................................62
Figura 9 – Porta particular dos monges.....................................................................63
Figura 10 – Janelas e persianas................................................................................64
Figura 11 – Umidificador............................................................................................64
Figura 12 – Armazenamento dos livros......................................................................65
Figura 13 – Estante com as Obras Sacras.................................................................66
Figura 14 – Livros dentro da estante..........................................................................67
Figura 15 – Livros com a capa bordado a mão..........................................................68
Figura 16 – Livros com a capa bordado a mão..........................................................68
LISTAS DE TABELAS
Tabela 01 – Tabela comparativa de conservação das instituições visitadas.............70
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13
2 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 15
3 OBJETIVO ............................................................................................................. 16
3.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................... 16
4 METODOLOGIA .................................................................................................... 17
5 HISTÓRIA DOS MANUSCRITOS .......................................................................... 18
5.1 O SCRIPTORIUM ............................................................................................... 19
5.2 ILUSTRAÇÃO ..................................................................................................... 21
5.3 ENCADERNAÇÃO .............................................................................................. 22
6 CONCEITOS DE CONSERVAÇÃO PREVENTIVA ............................................... 24
7 AGENTES DEGRADANTES DO PAPEL .............................................................. 27
7.1 FATORES AMBIENTAIS ..................................................................................... 27
7.1.1 Temperatura e Umidade ................................................................................... 28
7.1.2 Iluminação ........................................................................................................ 30
7.2 AGENTES BIOLÓGICOS ................................................................................... 32
7.2.1 Fungos ............................................................................................................. 32
7.2.2 Microorganismos .............................................................................................. 34
7.2.3 Bactérias .......................................................................................................... 34
7.3 ATAQUES DE INSETOS .................................................................................... 35
7.3.1 Baratas (Blattaria) ............................................................................................ 36
7.3.1.2 Traças (Tisanuros) ........................................................................................ 37
7.3.1.3. Piolho de livro (Corrodentia) ......................................................................... 37
7.3.1.4 Cupins (Termitas) .......................................................................................... 38
7.3.1.5 Brocas (Anobiídeos) ...................................................................................... 39
7.3.1.6 Roedores ....................................................................................................... 39
7.3.2 Medidas preventivas para combater os agentes biológicos ............................. 40
7.4 A AÇÃO DO HOMEM ......................................................................................... 40
7.5 AGENTES QUÍMICOS ........................................................................................ 42
7.5.1 ACIDEZ DO PAPEL ......................................................................................... 43
7.5.1.2 Causas da Acidez.......................................................................................... 44
7.5.2 POLUIÇÃO DO AR .......................................................................................... 44
7.5.3 TINTAS ............................................................................................................. 46
7.7 DESASTRES NATURAIS .................................................................................... 46
8 MEDIDAS PREVENTIVAS..................................................................................... 50
8.1 Higienização ........................................................................................................ 50
8.2 Digitalização ........................................................................................................ 52
8.3 Encadernação ..................................................................................................... 54
8.4 Microfilmagem ..................................................................................................... 54
9 VIDA DE SÃO BENTO........................................................................................... 57
9.1 Mosteiro de São Bento ........................................................................................ 59
9.1 Visita á Biblioteca do Mosteiro de São Bento ...................................................... 61
10 VIDA DE SÃO GERALDO .......................................... Erro! Indicador não definido.
10.1 Mosteiro de São Geraldo ................................................................................... 66
10.2 Visita á Biblioteca do Mosteiro de São Geraldo ................................................ 68
11 QUADRO COMPARATIVO DOS ASPECTOS DE CONSERVAÇÃO ................. 78
12 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 79
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 80
ANEXO.......................................................................................................................85
13
1 INTRODUÇÃO
Há vários séculos, a transmissão do conhecimento e da própria história
era feita somente por meio de narrativas, seja pela inexistência da escrita e/ou pela
falta de suportes duráveis que pudessem servir para esse fim. Com o
desenvolvimento das atividades humanas, o homem criou ferramentas e
instrumentos, descobriram suportes como: pedras, ossos, placas de bronze,
tabuletas de argila ou cera, papiros, pergaminhos e papel, que poderiam ser
empregados para registrar todo o conhecimento oral.
Os livros foram feitos para serem lidos. Todo o conhecimento neles
armazenados só tem razão de ser se for utilizado e passado de geração em
geração. Caso contrário, teríamos continuado, somente, com a informação oral.
O livro é como um organismo vivo. O homem sofre a ação de inimigos
(micróbios, bactérias, insetos e agentes poluidores) que causam lesões em seu
organismo que maltratado se deteriora mais rapidamente e podem ter sua vida útil
abreviada, sem dizer, os acidentes aos quais o homem está sujeito no seu dia a dia.
A longevidade do homem vai depender de cuidados e atenções que o humano
proporcionará a si.
Idêntico ao homem, está o documento, o livro, que também, possui seu ciclo
de vida sofrendo envelhecimento natural desde que é gerado e alterações de fatores
externos que vão provocar sua degeneração.
O surgimento de materiais alternativos como os filmes, discos, microfilmes,
fitas magnéticas, não solucionam todos os problemas. Estes, materiais, vão ser
atacados pelos mesmos males que atacam o papel.
Daí, a importância das Bibliotecas que são instituições recorrentes
relacionadas à preservação dos registros do presente e do passado deixados pelo
homem, deixando um elo para as gerações futuras. Seu papel é de centro
informacional, o qual não apenas possibilita acesso à cultura escrita e material,
como também a produz.
14
Como exemplo, cito os monges, que na Idade Média se refugiaram, para uma
vida mais tranquila, e cultivaram a adoração pelos livros e a arte de fazer cópias dos
mesmos, para o enriquecimento de suas bibliotecas. A perfeição com que os
monges copistas executavam o seu trabalho fazia com que demorassem anos na
finalização de um livro.
Muitas bibliotecas monásticas foram destruídas, por invasões, guerras,
incêndios, entre outros, com o passar dos anos foram poucas as bibliotecas
monásticas que permaneceram intactas inclusive o seu acervo.
Hoje muitas instituições monásticas não cultivam a arte da cópia do livro,
tendo em seus acervos obras raras, que possuem um conhecimento inestimável,
mas que estão em péssimas condições de conservação.
A acessibilidade do acervo só será possível se este estiver em condições de
conservação, ou seja, se mantiver a sua integridade física e a sua funcionalidade de
forma a serem manuseáveis e legíveis. A conservação preventiva é desse modo,
essencial a biblioteca.
Este trabalho tem por objetivo orientar e conscientizar profissionais que lidam
com este tipo de material, divulgando e esclarecendo procedimentos à conservação
preventiva de Obras Sacras.
Para ilustrar o tema presente, foi analisado um pequeno histórico dos
mosteiros visitados e os monges que levam nome dos mosteiros com um quadro
comparativo dos aspectos de conservação de cada biblioteca.
A atividade de restauração não foi aqui estudada, por não ser o objetivo de
trabalho e por ser uma atividade específica de técnico restaurador com comprovada
experiência.
15
2 JUSTIFICATIVA
Ao considerar a importância do acervo documental de Obras Sacras, cuja
missão é ser referência cultural em termos históricos e, também, por ser considerado
Patrimônio Cultural, despertou-me o interesse pela conservação
desse acervo. Ressaltando a necessidade de adoção de uma política de
conservação, visto que estes acervos são fontes de informação e cultura de uma
época, por anos, décadas e séculos.
Os responsáveis pelos acervos de Obras Sacras devem se conscientizar de
que além de organizar, também são os responsáveis pela preservação física dos
documentos, e que a partir dessa preservação física estará garantindo o acesso à
informação contida nas obras, para todos os pesquisadores
16
3 OBJETIVO
Apresentar a importância da conservação adequada do acervo bibliográfico
de Obras Sacras, devido ao grande valor histórico desse material, e compartilhar a
aquisição de conhecimento a partir das pesquisas realizadas.
3.1 Objetivos Específicos
Fornecer subsídios ao bibliotecário sobre os procedimentos referentes à
conservação dos acervos, em relação a Obra Sacras
Esclarecer, divulgar e orientar os procedimentos adequados para
conservação de Obras Sacras.
Mostrar as condições ambientais, métodos e processos de conservação de
Obras Sacras das instituições visitadas.
17
4 METODOLOGIA
Para fundamentar minha pesquisa foram realizadas as seguintes atividades:
levantamento bibliográfico e revisão de literatura, pesquisas na Internet, reuniões
com a orientadora e visitas às instituições Mosteiro de São Bento e Mosteiro de São
Geraldo.
A partir do levantamento bibliográfico e a revisão de literatura sobre o assunto
Conservação, foram retirados os embasamentos teóricos para o desenvolvimento
deste trabalho.
Para as pesquisas da Internet foram feitas buscas nas páginas das
Instituições supracitadas, para verificar seus contextos históricos, pois isso não foi
encontrado em nenhum livro em todas as pesquisas realizadas junto às bibliotecas
autorizadas. Efetuei também pesquisas em sites especializados ao tema em
questão.
Serão relatadas as visitas realizadas ao Mosteiro de São Bento e ao
Mosteiro São Geraldo, citando suas histórias, condições ambientais, métodos e
processos de conservação dos acervos destas Instituições.
Após os dados levantados, a partir das visitas, será elaborado um quadro
comparativo dos procedimentos adotados por ambas as instituições e será verificado
se estão de acordo com os métodos descritos na revisão de literatura.
18
5 HISTÓRIA DOS MANUSCRITOS
O surgimento dos manuscritos medievais tem uma ligação estreita com as
bibliotecas que atuaram na Idade Média, sobretudo nos mosteiros, pois foi no interior
destes que a arte de copiar livros proliferou.
Os mosteiros e conventos definiram-se, no período medieval, como
bibliotecas: até arquitetonicamente isso é verdade, que em muitos
deles os armários eram embutidos nas enormes paredes. As mais
variadas formas de estantes de leitura existiam nesses conventos
para permitir um manuseio cômodo dos grossos in-fólios medieval,
inclusive as portáteis, mas nas quais acorrentavam os livros.
(MARTINS, 1996, p. 82).
De acordo com Martins (1996), todo texto escrito a mão, seja qual for o seu
instrumento ou material, é um manuscrito, na significação direta da palavra. Mas,
uma convenção por todos admitida é que manuscrito era para papel, papiro ou
pergaminho.
O livro que conhecemos, formado de folhas ligadas a um lado só,
aparecerau muitos séculos depois dos rolos de papiro e de pergaminho.
Esta forma de livro só começou a generalizar-se no século IV da era
Cristã, quando os juristas do Baixo Império Romano verificaram que
ela era mais conveniente para os seus livros de leis do que de rolo.
No códice (codex), como se chama este tipo de livro, as folhas de
pergaminho, em vez de serem coladas pelas extremidades e depois
enroladas, dobravam-se para formar duas, e as coleções ou grupos
destas folhas dobradas ligavam-se pelos vincos. (McMURTRIE,
1965, p. 79).
Para McMurtrie (1965), durante o período da idade das trevas, que se
seguiram às invasões do Império Romano pelos bárbaros, os que queriam levar uma
vida tranquila de estudo refugiaram-se na igreja, e a adoração por livros, tornou-se
cada vez mais uma ocupação exclusivamente monástica. Os conventos e outros
lugares eclesiásticos chamaram a si a tarefa de fazer cópia de livros para
19
enriquecimento das suas bibliotecas e para uso da comunidade de leitores e
estudiosos de todo o mundo.
Para a composição de manuscritos, passava-se pelas etapas de cópia,
rubrica, iluminação e encardenação, que serão explicadas logo a seguir. Sendo
estas três últimas etapas o que dava aos manuscritos medievais o aspecto e
também o valor de verdadeiras obras de arte.
5.1 O Scriptorium
De acordo com Martins (1996), todas as abadias grandes possuíam um
sriptorium, oficina de copista, onde o número de escribas variava, naturalmente, de
acordo com a importância do convento.
Para Oliveira (1985), os copistas, ou “scribas”, dos primeiros séculos, não
utilizavam mesa, pousavam seu rolo sobre os joelhos. Ao fim do século V,
apareceram os primeiros “scribas” diante de uma mesa.
Campos, em sua obra “Breve história do livro” (1994), faz uma belíssima
descrição de um scriptorium. A oficina dos escribas era o lugar no convento onde se
copiavam os manuscritos; é um lugar amplo e pleno de claridade, compunha-se de
repartições com janelas abertas para a arcada do claustro.Havia uma janela para
cada escriba (calígrafo) e costumava se localizar perto da biblioteca ou, no inverno,
no calefactorium (lugar aquecido destinado ao religioso).
Relata ainda que os monges começavam sua jornada editorial, logo a
primeira luz da manhã, que durava cerca de seis horas. Quem coordenava os
trabalhos do scriptorium era um monge conhecido por armarius ou bibliothecarius,
ele dividia as tarefas, fiscalizava o desempenho dos colegas e providenciava todo o
material necessário: pergaminho, tinta, penas, sovelas, canivetes e réguas.
Porém, Oliveira (1985) diz que o trabalho do copista era uma tarefa
enfadonha e muitas vezes intragável, trabalhavam em condições precárias e
20
utilizavam como materiais: peles de animais, canivete de corte duvidoso, tinta preta,
vermelha, ou verde e os indispensáveis tinteiros.
Para Campos (1994), o pergaminho, que era preparado pelo pergamenarius:
era cortado em folhas de tamanhos padronizados, operação que se chamava de
quadratio. Os monges aprendizes (librarii, scriptorii) dobravam as folhas e as
pautavam levemente. Assim, o copista sentava-se diante de uma carteira inclinada,
na qual, dos lados, havia dois tinteiros de chifre, um para a tinta vermelha, outro
para a tinta preta e começava a escrever. E toda vez que um monge começava a
escrever anotava na abertura do texto a expressão hic incipit (aqui começa) e ao
terminar a cópia ele anotava explicitus est, prática essa que vem desde a
Antiguidade, quando os livros, de papiro ou pergaminho, tinham a forma de rolos. O
trabalho do copista medieval era penoso e lento, os manuscritos representavam,
quase sempre, anos de trabalho. Um dos mais competentes calígrafos de que se
tem notícia é Otholoh (século XI), de Saint-Emmeran que produziu durante toda a
sua vida 23 missais, duas obras de Santo Agostinho, um evangelho, sete
regulamentos, um saltério e dois lecionários. Alguns conventos, entretanto,
conseguiram reunir grande número de copistas, alcançando com o trabalho deles
centenas de cópias de uma mesma obra. Nesse caso o armarius ditava o texto a
vários escribas simultaneamente. Tal procedimento, conduzia a resultados
medíocres, quanto à ortografia e à integridade dos textos, já que os escribas não
estavam autorizados a alterarem o texto, mesmo que o original que copiavam
contivesse erros evidentes.
Ao escrever no pergaminho, o copista não o tocava, para evitar que as
impurezas do corpo (as gorduras naturais) denegrissem o suporte considerado o
mais duradouro para o registro da palavra de Deus. (PINHEIRO, 2000).
Quando era um texto de maior relevância recorria-se a um antiquarius,
copista culto e experiente, muitas vezes recrutado fora do convento, entre escribas
seculares. Com o passar do tempo, os conventos formaram grandes calígrafos e
revisores. A entrada de estranhos no recinto era rigorosamente interditada, com
exceção às autoridades monásticas, que possuíam passe livre. Exigia-se grande
silêncio durante o trabalho, fazendo com que os escribas se comunicassem por meio
de sinais, como os surdos e mudos, afirma Campos (1994)
21
Segundo McMurtrie (1965), era proibida a luz artificial no scriptorium, para se
evitarem perdas causadas por incêndios. Assim trabalhavam apenas durante o dia,
se houvesse claridade suficiente. Juntamente com os escribas regulares, que eram
membros da comunidade monástica, havia alguns escribas seculares que eram
levados para os mosteiros para fazer trabalhos especiais, como rubricação.
5.2 Ilustração
Quando o copista terminava o seu trabalho ele encaminhava o manuscrito
aos decoradores, ou ilustradores. Para Martins (1996) com certa incorreção, são
dois tipos de ilustrações praticadas nos manuscritos medievais: a iluminura e a
miniatura, que se reduzem a um só. A miniatura é uma técnica mais pobre que a
iluminura, sendo esta, com desenhos ilustrativos propriamente ditos, e com
variedades de cores muitos maiores.
De acordo com Campos (1994), a arte de decoração vem desde os gregos,
aparecendo em livros de ciências naturais ou de medicina, principalmente. A
ilustração não se desenvolveu na Antiguidade porque o papiro, suporte de escrita da
época, não se prestava àquela prática. O pergaminho, que era o suporte mais
adequado ao desenho, ofereceu melhores condições aos artistas, reaparecendo as
ilustrações em grande escala, a partir do século VI.
O autor afirma também que o miniaturista, ou rubricador, era o encarregado
de desenhar as letras maiúsculas, as iniciais dos diferentes parágrafos ou capítulos,
onde os copistas já deixavam um espaço livre, decorando-lhes o interior com
arabescos, floreiros e volutas, primeiramente na cor vermelha. Depois as maiúsculas
foram aumentadas, tornando-se a decoração mais complexa e mais rica em cores.
Com o passar do tempo o miniaturista evolui para a iconografia e conquista mais
espaços nas páginas, quando não as ocupava por inteiro.
Para McMurtrie (1965), as cores mais usadas no embelezamento dos
manuscritos eram: vermelho, azul, verde, e o dourado, e com menos frequência, a
22
púrpura, o amarelo, o negro retinto, e o branco. Às vezes, os manuscritos eram
caligrafados, por inteiro, com ouro ou prata.
Abaixo seguem alguns manuscritos famosos pela beleza de suas iluminuras:
• Evangeliário de Kells (Book of Kells) é um manuscrito em latim, do Mosteiro de
S. Colomba, do século VII, e atualmente se encontra na Biblioteca do Trinity
College, em Dublin.
• Evangeliário de Lindsfarme, do Mosterio de S. Colomba, produzido por volta do
ano 700, atualmente se encontra no Museu Britânico.
• Codex argenteus, contém parte da tradução gótica da Bíblia. Foi escrito na Itália
no século VI, esteve desaparecido até o século XVI e foi encontrado em um
convento alemão, passando para Praga. Atualmente, encontra-se na Biblioteca
da Universidade de Upsala.
5.3 Encadernação
Após o término do trabalho dos copistas e do iluminador, o manuscrito era
encaminhado para a encadernação. Os monges que se dedicavam à encadernação
eram chamados de ligator librorum ou encadernador.
Para Campos (1994), a arte de encadernação veio da Antiguidade, se
tornando possível quando o livro assumiu o formato de códice. As primeiras capas
duras eram feitas de chapas de madeira, amarradas por duas tiras de couro. Os
diptycha, eram retângulos de madeira cobertos de cera, utilizados pelos romanos
para sucintas anotações, posteriormente se transformaram em chapas de marfim
artisticamente trabalhadas e protegiam as folhas de textos especiais. No século V,
d.C., as chapas de madeira se transformaram em chapas de ouro ou prata,
cinzeladas, recobertas de valiosas pedras e começam a aparecer com frequência.
Os diptycha chegariam à Idade Média com encardenações de manuscritos
religiosos. No século VI, Cassidoro montou para seus discípulos um atelier de
23
encardenação com um catálogo com modelos de encardenação que eram
escolhidos de acordo com o tipo de cada livro. Ao longo do século XIV, tornaram-se
raras as encadernações em ouro e prata ficando o uso de metal restrito às
cantoneiras.
Há dois grandes tipos de encardenação na Idade Média: a
“encardenação de ourivesaria” e a “encardenação em couro”, esta
ultima subdividida em três espécies principais: o couro liso, o couro
gravado e o couro estampado à frio. A encardenação de ourivesaria,
que respondia mais a intenções artísticas e de luxo que ao desejo de
proteger o livro, consistia “em placas de madeira ornadas de marfim
esculpido, de prata ou de ouro trabalhado ou incrustado, ao mesmo
tempo, de pedras preciosas, de pérolas e de esmalte pintado”. Esse
tipo de encardenação era mais usado sobretudo para os livros de
igreja, e por isso se conhecem igualmente pelo nome de
“encardenações de altar”.(MARTINS,1996, p. 108-109).
24
6 CONCEITOS DE CONSERVAÇÃO PREVENTIVA
Conservação visa salvaguardar o que consideramos bens culturais, que são
produtos de nossa cultura, ou seja, nosso Patrimônio Cultural, sendo este, um
conjunto de bens culturais de valor para um determinado grupo ou humanidade.
O patrimônio cultural é dividido em duas categorias: os bens intangíveis e os
bens tangíveis, sendo o segundo subdividido em bens imóveis e móveis, onde atua
a conservação (CONSERVAÇÃO & RESTAURO, 2010).
Figura 1 – Patrimônio Cultural Fonte: <http://www.conservacao-restauracao.com.br>
Beatriz R. Restrepo (1985) diz que a conservação atua no meio ambiente e
elementos físicos visando deter ou adiar os processos de deterioração.
Patrimônio Cultural
Bens Intangíveis
Idéias, costumes,
crenças,tradição oral, danças
folclóricas, etc.
Bens Tangíveis
Bens Imóveis Monumentos,
edifícios, templos, sítios arqueológicos,
etc.
Bens Móveis Objetos de artes,
livros, documentos,
objetos litúrgicos, fósseis,etc.
25
Preservação Conservação Restauração
Figura 2 – Níveis de atuação em Preservação, Conservação e Restauração
Fonte: RESTREPO, Beatriz R. Bienes culturales: manual de prevención y primeiros
auxílios. 1985
Segundo Remédio (2003, p.159), a conservação é um “tratamento preventivo”
de controle e manutenção das condições ideais à sobrevivência do papel.
Segundo Silva Filho (1993, p.1), “a conservação preventiva atua na
deterioração do acervo com o objetivo de prevenir danos. São práticas de proteção.
Incluem o monitoramento das condições ambientais, higienização, procedimentos de
manutenção e planejamento de desastres”.
Durun (1999, p.9) afirma que em alguns textos aparece o termo conservação
preventiva, que está relacionado essencialmente ao controle das condições
ambientais, visando manter a integridade física dos acervos e a proteger o
documento ou pelo menos aumentar a sua esperança de vida.
Entretanto, para Carvalho (1998), a conservação preventiva não diz respeito
apenas ao controle do meio ambiente, sua atuação envolve ampliar a perspectiva
além do objeto alcançando desde o ambiente e arquitetura, aos planos de
segurança, manutenção e maneira de usar as obras.
Meio Ambiente Meio Ambiente Meio Ambiente
Elementos Físicos Elementos Físicos
Valores
Históricos e
Estéticos
Elementos Físicos
Valores
Históricos e
Estéticos
Valores
Históricos e
Estéticos
26
Compreende-se por conservação um conjunto de medidas e intervenções
periódicas ou permanentes visando evitar danos ao acervo.
27
7 AGENTES DEGRADANTES DO PAPEL
Um livro, tal como o homem, é um organismo vivo. Tal como homem
sofre de inimigos como micróbios, bactérias, insetos e agentes
poluidores que podem acarretar lesões em seu organismo. Um
organismo maltratado se deteriora mais rapidamente e pode ter sua
vida útil abreviada. A longevidade vai depender de cuidados e
atenção que o indivíduo proporciona a si mesmo e a seus
semelhantes. (VALLE, 1991, p.2)
Segundo Cassares (2000), os acervos são, em geral, constituídos de livros,
mapas, fotografias, obra de arte, revistas, manuscritos, entre outros, que utilizam o
papel como suporte da informação, sendo este, formado basicamente de fibras de
celulose provenientes de diferentes origens.
Luccas e Seripierri (1995) concluem que existem fatores que contribuem
para a degradação do papel, que se subdividem em:
• Fatores intrínsecos: que estão ligados diretamente aos elementos de composição
do papel tais como, tipo de fibras, tipo de encolagem, resíduos químicos não
eliminados e partículas metálicas.
• Fatores extrínsecos: estão ligados diretamente a agentes físicos e biológicos tais
como radiação ultravioleta, temperatura, umidade, poluentes atmosféricos,
microorganismos, insetos e roedores.
Sendo que Cassares (2000) classifica os agentes de deterioração em fatores
ambientais, fatores biológicos, intervenções próprias, agentes biológicos, furtos e
vandalismo.
7.1 Fatores Ambientais
28
Os agentes ambientais são aquele que existem no ambiente físico do
acervo: temperatura, umidade relativa do ar, radiação da luz, qualidade do ar. Na
divisão de Luccas e Seripierri, citado acima, os fatores ambientais entram na
subdivisão dos fatores extrínsecos, que estão ligados diretamente com os agentes
físicos.
Luccas, Seripierri e Cassares concordam que é possível identificar
facilmente as consequências desses fatores, quando não controlados dentro de uma
margem de valores aceitáveis. E que o papel é composto por alguns elementos
químicos que reagem sensivelmente a esses fatores.
7.1.1 Temperatura e Umidade
A umidade representa o vapor d’água contido na atmosfera
circunvizinha ao acervo bibliográfico e é resultante da combinação
dos fenômenos de evaporação e condensação da água. Esses
fenômenos estão diretamente relacionados com as variações de
temperatura ambiental. (SPINELLI, 1995, p.27)
Esses fatores contribuem significamente para a destruição dos documentos,
principalmente quando o suporte é papel, sendo que, o desequilíbrio de um interfere
no outro. O calor acelera a deterioração e a umidade alta proporciona as condições
necessárias para desencadear intensas reações químicas nos materiais, conclui
Cassares (2000). Confirma ainda que as evidências de temperatura e umidade altas
são detectadas com a presença de colônias de fungos nos documentos e umidade e
temperaturas muito baixas transparecem em documentos distorcidos e ressecados.
Para Spinelli (1995), as fontes de umidade são inúmeras como a
chuva, lagos, rios, limpeza aquosa, infiltrações por janelas, paredes e tetos
defeituosos e a transpiração do corpo humano.
Ogden (2001, p.3) recomenda que: devem-se evitar as oscilações bruscas
de umidade e temperatura, pois, elas aceleram a deterioração e acarretam danos
29
visíveis, tais como ondulações, franzimento, descamação de tintas e empenamentos
de capas. Essas oscilações fazem com que as fibras se dilatem ao absorver o
excesso de umidade e se contraiam ao perder umidade, essa dilatação e contração
causam quebras na estrutura do papel, ocasionando seu enfraquecimento.
A temperatura ideal para reservas técnicas sem trânsito contínuo de
pessoas é de 12°C, e em áreas de consulta, onde a circulação de pessoas é maior,
a temperatura pode ser estabelecida entre 18 a 22°C, sendo que variações não são
toleráveis. A umidade relativa do ar deverá estar entre 40 a 50%, mas quando tiver
encardenações de couro, que requer em um ambiente mais úmido, a umidade tem
de estar entre 45 e 55%, afirma Luccas e Seripierri (1995).
Concluindo, ainda que quando a umidade estiver abaixo de 40% recomenda-
se a utilização de umidificador. Os sistemas de ar condicionado e desumidificador
deverão estar ligados ininterruptamente para evitar oscilações bruscas sobre o
acervo.
Hoje, existem inúmeros aparelhos de controle dos fatores climáticos, que
vão desde o ar condicionado, até os sistemas centrais de filtragem, calefação,
umidificação e desumidificação.
Ogden (2001, p.22) apresenta alguns instrumentos para o controle e
monitoramento do clima:
� Ar condicionado: controla a temperatura do ambiente;
� Termômetro: fornece informações precisas sobre a temperatura;
� Higrômetro eletrônico: mede a umidade relativa do ar e a temperatura do
ambiente;
� Psicrômetro: mede a umidade relativa do ar;
� Umidificador: umidifica o ambiente;
� Desumidificador: retira a umidade do ar;
� Higrotermógrafo: registra e monitora a temperatura e a umidade relativa do ar;
30
� Dataloggers: monitora o clima.
Luccas e Seripierri (1995, p.19) dizem que quando, por algum motivo, o uso
de aparelhagens não for possível, podem-se tomar algumas providências como:
Em regiões úmidas:
• Não abrir janelas em dias úmidos;
• Não transportar para dentro do espaço do acervo guarda-chuvas, capas
molhadas e plantas;
• Evitar infiltrações e goteiras;
• Arejar o ambiente com auxilio de ventiladores.
Em regiões secas:
• Não abrir janelas em dias mais secos do que a média.
7.1.2 Iluminação
Toda fonte de luz, seja ela natural ou artificial, emite radiação nociva aos
materiais de acervos, provocando consideráveis danos através da oxidação
(Cassares, 2000, p.19)
Luccas e Seripierri (1995) afirmam que o efeito das radições ultravioletas
(UV) acelera rapidamente a degradação da lignina presente na composição do
papel, tornando-o progressivamente escuro (amarelado). Cassares (2000) conclui
que além de amarelado o papel se torna frágil e quebradiço e as cores desbotam ou
mudam de cor, alterando a legibilidade dos documentos textuais e das
encadernações.
Segundo Ogden (2001, p.11), a luz tem duas fontes: a natural (sol) e a
artificial (lâmpadas). Cada uma dessas fontes atua de maneira danosa.
31
As lâmpadas podem ser de diferentes tipos de acordo com suas
características.
� Lâmpadas incandescentes (ou de tungstênio) são extremamente quentes,
pois necessitam de altos níveis de temperatura para operarem. Ogden (2001,
p11) descreve o funcionamento desta lâmpada: a luz é produzida quando
uma corrente elétrica passa por um filamento de tungstênio, esquentando até
2.700 °C.
� Lâmpadas fluorescentes caracterizam-se por serem frias e emitirem muita
radiação ultravioleta (UV). Ogden (2001, p.11) descreve o funcionamento
dessa lâmpada: quando a eletricidade passa através da lâmpada, o vapor de
mercúrio emite radiação ultravioleta (UV) que é absorvida pelo pó
fluorescente e reemitida na forma de luz visível.
� Lâmpadas HID (high intensity descharge), produzem radiação infravermelho
(calor).
A radiação infravermelha é uma reação térmica, que causa danos
mais lentos. Tem pouco efeito sobre os materiais bibliográficos,
execeto sob o calor gerado por longa exposição a esta radiação.
(CUNHA, 1971, p.18).
Os autores afirmam que as reações iniciadas pelo efeito da luz continuam
ocorrendo mesmo depois de removida a causa. E recomendam algumas medidas
que podem ser tomadas para proteção dos acervos:
� As janelas devem ser protegidas por cortinas ou persianas que bloqueia
totalmente o sol;
� Recomenda-se substituir lâmpadas fluorescentes pelas que emitem número
menor de raios ultravioletas;
� Filtros feitos de filmes especiais também ajudam no controle da radiação UV,
tanto nos vidros de janelas quanto em lâmpadas fluorescentes (esses filmes
têm prazo de vida limitado);
32
� Quando for utilizar o acervo de obras raras não expor um objeto valioso por
muito tempo; manter o nível da luz o mais baixo possível; não colocar
lâmpadas dentro das vitrines; proteger objetos com filtros especiais e
certificar-se de que as vitrines sejam feitas de materiais que não danifiquem
os documentos.
7.2 AGENTES BIOLÓGICOS
Dentre os agentes de degradação de acervos documentais, os
agentes biológicos, notadamente insetos, fungos e roedores,
constituem certamente ameaças sérias devido aos danos que podem
gerar por vezes irreparáveis. Em razão disso, vigilância e controle de
proliferação devem constituir um cuidado permanente dentro da
política de acervos (Spinelli, 1995, p.28)
Os agentes biológicos de deterioração de acervos são, entre outros, os
insetos (baratas, brocas, cupins), os roedores e os fungos, cuja presença depende
quase e exclusivamente das condições ambientais reinantes nas dependências
onde se encontram os documentos, confirmam Cassares (2000) e Luccas e
Seripierri (1995).
Os agentes biológicos são a causa dos danos mais graves que podem sofrer
os acervos. Contudo, condições ambientais impróprias à sua conservação, podem
levar o conjunto de elementos que constituem o material bibliográfico à destruição.
A maioria dos insetos que podem infestar os acervos de papel não são
atraídos pelo papel em si, mas pelas gomas, adesivos e amidos, que são digeridos
com facilidade muito maior do que a celulose, de que efeito o papel.
7.2.1 Fungos
33
Os fungos são insetos de clorofila e incapazes de assimilar o carbono
atmosférico, vivem como parasitas em materiais orgânicos mortos, contribuindo
assim para a decomposição dos materiais. (LUCCAS; SERIPIERRI, 1995).
A palavra fungo é derivada do latim Fungus e significa cogumelo. Os fungos,
às vezes chamados de mofos ou bolores, atacam todos os tipos de acervos
independentemente dos seus materiais constitutivos.
Eles variam desde organismo microscópio até estruturas maiores e mais
complexas. A reprodução dos fungos se dá por meio de esporos assexuados.
São conhecidos mais de 100.000 (cem mil) tipos de fungos que atuam em
diferentes ambientes; em acervos de biblioteca e arquivos são mais comuns aqueles
que vivem dos nutrientes encontrados nos documentos, conforme relata Cassares
(2000).
Corujeira (1973) afirma que em temperaturas frias os fungos podem
permanecer em estado latente, germinando ou voltando a desenvolver-se e que as
temperaturas altas provocam a morte das células e, em temperaturas superiores a
40° poucos fungos se desenvolvem;
Luccas e Seripierri (1995) afirmam que a principal causa da existência dos
fungos está ligada ao alto teor de umidade e temperatura descontroladas. No
entanto, se as condições forem adversas, esses fungos se tornam “dormentes”, que
ocorre quando as condições ambientais se tornam desfavoráveis. Porém o estado
de dormência é reversível, quando as condições do ambiente se tornam adequadas,
confirma Cassares (2000).
Os danos causados pelos fungos vão desde uma simples coloração até a
deterioração da estrutura das obras como manchas de cor amarela, mais escura no
centro dos livros e mais claras nos contornos. A variação de espécie pode causar,
pela maior quantidade de esporos, a impressão de um pó ou fuligem que grande
parte deles produzem, além da pigmentação do papel, a descoloração das tintas,
pela liberação dos ácidos pelos fungos.
34
7.2.2 Microorganismo
Os microorganismos são formados por uma célula só. O desenvolvimento dos
microorganismos sobre os documentos é resultado de vários fatores que atacam o
papel tanto quanto os insetos, fungos e roedores, quando encontram condições
adequadas a sua vida.
Os microorganismos encontram nutrientes na matéria orgânica inerte,
causando sua destruição, como por exemplo, alimentos, madeiras e papéis.
Alguns microorganismos se nutrem como parasitas, adaptando-se a
organismos vivos, causando enfermidade em animais e vegetais.
Outros podem viver em simbiose com estes organismos, sem
prejudicá-los. (BECK, 1991, p.14).
7.2.3 Bactérias
As bactérias são os mais simples organismos encontrados na maioria dos
ambientes naturais. São células esféricas ou em forma de bastonetes curtos com
tamanhos variados, alcançando às vezes micrômetros linearmente.
Podem se associar a células similares formando colônias. As células das
bactérias, Ssgundo Beck (1991), não se diferenciam como as dos fungos, e se
classificam de acordo com o tipo de formação das colônias: os cocos, que são
células esféricas que, quando agrupadas aos pares, recebem o nome de diplococos.
Quando o agrupamento constitui uma cadeia de cocos estes são denominados
estreptococos; os bacilos são células cilíndricas, em forma de bastonetes, em geral
se apresentam como células isoladas, porém, ocasionalmente, podem-se observar
bacilos aos pares ou em cadeias.
As bactérias alimentam-se de materiais orgânicos extraídos do papel como a
glicose contida na massa celulósica.
35
Os danos causados pelas bactérias são uma ruptura das ligações
moleculares, levando o objeto, ou a parte atingida, à total desintegração.
A contaminação pode ser constatada mediante a olho nu. Surgem, a princípio,
manchas de diferentes colorações, atingindo o castanho escuro na fase final da
decomposição.
7.3 ATAQUES DE INSETOS
Cabe aos insetos um papel importante como agente destruidor dos
documentos bibliográficos.
Desde a mais remota antiguidade têm-se notícias dos insetos e das medidas
que se adotavam para prevenir e combater sua difusão.
Entre as folhas dos códices colocavam folhas, flores como inseticidas; sobre o
papiro; aplicava-se óleo de cedro para afastar os insetos Corujeira (171, p.36)
menciona pesquisas datadas da primeira metade do século XVIII no sentido de
identificar e isolar exclusivamente insetos daninhos aos livros.
Cada tipo de inseto age de forma diversa, porém destrutiva. Alguns produzem
galerias, outros cavam caminhos ramificados e deixam secreções que fazem as
folhas aderirem uma às outras.
Os insetos têm características que permitem sua adaptação a condições de
vida surpreendentes. Podem ser terrestres, subterrâneos e aquáticos. O clima
tropical permite ciclos reprodutivos mais numerosos.
Luccas e Seripierri (1995) dividem os insetos em cinco dos principais, que
atacam documentos de uma biblioteca ou arquivo. E subdivide-os em duas
categorias:
• Insetos roedores de superfície, que atacam documentos externamente: baratas
(Blattarias), traças (Tisanuros), piolho de livro (Corrodentia),
36
• Insetos roedores internos que atacam o inteior dos volumes: cupins (Termitas) e
brocas (Anobiideos).
Afirma também que cada elemento tem um hábito, ciclo de vida e
características de ataques diferenciados, bem como o controle das infestações.
7.3.1 Baratas (Blattaria)
As baratas existem há mais de 200 milhões de anos, são aproximadamente
cerca de 3.500 espécies de baratas sendo duas espécies mais frequentes, a Blatella
Germânica (baratinha caseira), pequena e avermelhada, com 2,5 cm de
comprimento e a Periplaneta Americana (cascuda), medindo 4,0 cm, exemplo mais
repugnante por ser especialista em voos.
A água é um alimento essencial para as baratas; sem ela, as recém
nascidas morrem em menos de três dias. As adultas podem resistir até 20-30 dias,
mas não conseguem se reproduzir sem água, de modo que a eliminação da água é
uma medida eficiente de controle.
As baratas atacam tanto o papel quanto o revestimento. E a sua variedade é
bem grande. Sendo o seu ataque de característica bem próprias, principalmente por
perdas de superfície e manchas de excremento, confirma Cassares (2000),
afirmando também que as baratas se reproduzem no próprio local e se tornam
infestações muito rapidamente, caso não sejam combatidas.
Todas as baratas gostam de sobra de comidas e material celulósico, como
jornais e papelão velhos. Obviamente, os acervos produzidos em papel e de livros
não podem ser eliminados, mas, por isso mesmo, devem ser guardados em salas ou
armários bem vedados. Recomenda-se trocar peças de armazenagem de madeiras
por material de aço, pois a baratas preferem as superfícies de madeira. Quanto mais
baixa a temperatura e a umidade relativa, menor é a aparecimento de insetos.
37
7.3.1.2 Traças (Tisanuros)
A traça é outro roedor de superfície; tem o corpo mole; recoberto por
minúsculas escamas finas de cor cinzenta e brilho prateado, pernas longas e não
ultrapassam 2 cm de comprimento.
“Fogem da luz e são rápidas de movimento, penetram nos livros do dorso
para dentro, vivem em temperatura de 15° a 24° e umidade de 55%” (CORUJEIRA,
1971, p.21).
Segundo Mendes (2001, p.36), as traças não gostam de luz, mas gostam de
ambientes secos, por isso o que é bom para elas é ruim para outras espécies de
insetos, ou seja, temos a habitual situação em que é impossível encontrar uma
solução comum para tudo.
As traças escondem-se dentro de papéis velhos enrolados, mapas, arquivos
de documentos, jornais ou sobre superfície de papéis gomados. A característica do
ataque deixado no material assemelha-se ao da barata, só que em menor
proporção.
7.3.1.3. Piolho de livro (Corrodentia)
Um dos insetos menos ofensivo aos livros e demais materiais bibliográficos;
são muitos pequenos e dependendo da espécie, são providos de asas, medindo de
1 a 3 milímetros de comprimento.
Segundo Luccas e Seripierri (1995), os piolhos de livro se alimentam dos
fungos presentes no papel corroendo toda a superfície onde existe este tipo de
organismo e vivem entre as páginas dos livros. Em grande número podem causar
danos aos documentos e encadernações produzindo pequenos orifícios menores
que um milímetro e de contorno irregular.
38
7.3.1.4 Cupins (Termitas)
Os cupins pertencem à ordem dos isópteros, são como as formigas, abelhas
e as vespas, insetos sociais. São pequenos, as patas minúsculas são finas, o
comprimento total atinge no máximo 2,5 cm e as vezes menos de 5,5 cm.
Segundo Cassares (2000), os cupins representam risco não só para os
livros, mas para o prédio onde se localiza o acervo. Vivem em sociedades muito
bem organizadas e sua ação é devastadora onde quer que ataquem e muitas vezes
sua presença só é detectada depois de terem causado grandes danos.
Os cupins percorrem áreas internas de alvenaria, tubulações, conduítes de
instalações elétricas, rodapés, etc., muitas vezes fora do alcance dos nossos olhos.
O seu ninho não precisa ficar dentro dos edifícios da biblioteca e arquivos, podendo
estar a muitos metros de distância, em base de árvores ou em outros prédios,
conclui Cassares (2000).
Existem dois grupos de cupins: os subterrâneos, que constroem os
cupinzeiros no solo ou em material à base de celulose, e os cupins da madeira seca
ou da madeira úmida, e são os que atacam o material celulósico dos acervos,
enquanto os subterrâneos preferem a estrutura do prédio, quando a construção é de
madeira, embora tenham sido encontrados na maioria dos materiais à base de
celulose como móveis, livros, etc.
A principal fonte de alimentação dos cupins é a celulose, vegetais e madeira.
Os cupins são uma grande ameaça para museus, bibliotecas e arquivos causando
danos consideráveis no acervo. O dano ocasionado no papel por este inseto é
irrecuperável. Diferentemente da traça que dificilmente penetra em livros fechados,
os cupins penetram em livros fechados através da capa, e até mesmo, através das
estantes de madeira.
Os cupins de solo, mais devastadores, têm preferência por
documentos úmidos e que se encontrem infestados por
microorganismo, talvez por se alimentarem de fungos, como algumas
espécies de formigas (BECK, 1991, p.18).
39
7.3.1.5 Brocas (Anobiídeos)
As brocas são insetos coleópteros é a espécie que mais frequentemente
ataca os livros. Adaptam-se a todos os climas, sendo particularmente ativos nas
regiões tropicais.
Segundo Cassares (2000), as brocas têm um ciclo de vida em 4 fases: ovos,
larva, pupa e adulta, sendo a fase larva a que ataca os livros. Esse se reproduz por
acasalamento, que ocorre no próprio acervo. Uma vez instalado, ataca não só papel
e seus derivados, como também a madeira do mobiliário, portas, pisos e todos os
materiais à base de celulose.
Para Corujeira (1971, p.24), a broca é um dos mais perigosos insetos, pois
ataca o documento em sua fase larvária. Suas larvas são de grande voracidade,
atacando madeira e papel.
Os danos causados por esses insetos caracterizam-se pelos caminhos
sinuosos que fazem ao roer o papel, ficando com aspecto rendilhado. A folha fica
fragmentada, danificando a escrita.
A presença das larvas é detectada pelo pó que se deposita na base dos
objetos atingidos. Quando os pós deixados pelas larvas são de cor marrom, as
larvas já são adultas e já deixaram os livros, quando o pó é de cor clara indica a
presença de larvas em atividade.
7.3.1.6 Roedores
Os roedores são encontrados em quase todos os lugares do mundo, sua
periculosidade é bastante significativa. Os roedores podem atacar o revestimento
isolante dos condutores elétricos, favorecendo a ocorrência de sinistros. A presença
de roedores nos acervos se dá devido à presença de resíduos de alimentos, hábito
que deve ser desencorajado junto aos funcionários e usuários dos acervos.
40
Extremamente ágeis e rápidos, são dificilmente vistos em atividades, os
estragos causados pela sua ação são muito extensos; transmitem doenças como a
leptospirose, podendo ser fatal ao homem.
Os roedores não destroem o material bibliográfico com a finalidade de se
alimentar, ele roem constantemente para a construção de seus ninhos que procriam
abundantemente até dez vezes por ano. São roedores compulsivos por essel.
7.3.2 Medidas preventivas para combater os agentes biológicos
Todos os autores pesquisados indicam que o primeiro passo para o controle
dos agentes biológicos é a prevenção, impedindo a entrada destes insetos e
mantendo a limpeza constante dos ambientes; eliminar toda e qualquer fonte de
alimento, como restos de comida e papel inutilizados; vedar todas as rachaduras;
eliminar as fontes de água; reduzir, se possível, a umidade relativa e os níveis de
temperatura.
Com relação a fungos, microorganismos e bactérias as medidas a serem
adotadas são estabelecer uma política de controle ambiental, principalmente
temperatura, umidade relativa e ar circulante; praticar a higienização tanto do local
quanto dos livros, com metodologia e técnicas adequadas; instruir os usuários e os
funcionários com relação ao manuseio dos documentos e regras de higiene do local.
O uso de fungicidas não é recomendado, os danos causados superam em muito a
eficiência dos produtos sobre os documentos; caso se detecte situação de
infestação, chamar profissionais especializados em conservação de acervos.
Os acervos acondicionados em móveis de madeira devem ser tratados e
observados constantemente, se puderem ser trocados por móveis de estantes de
metal esmaltados é melhor.
7.4 A AÇÃO DO HOMEM
41
“Uma vez na mão do homem [o livro], sofre tormentos e estragos de toda
sorte” (CORUJEIRA, 1971, p.25).
O homem é um dos maiores inimigos dos livros, pois, com sua inteligência,
deveria ser mais cuidadoso. As pessoas normalmente são descuidadas
manuseando o livro com as mãos sujas, gordurosas, suadas, deixando resíduos
ácidos que causam a deterioração do papel.
Há quem ao abrir o livro produz estragos nas margens; outros abrem os livros
forçando o dorso; alguns têm hábito de grifar, fazer sinais, anotações a lápis ou a
caneta; outros produzem manchas por negligência ou falta de atenção. Não faltam
também casos de furtos de livros e até páginas.
Segundo Corujeira (1971), o homem é o responsável para transmitir ao futuro
o mais nobre patrimônio da civilização, os testemunhos da vida e da história,
progressos e as conquistas das ciências, a santidade dos ritos e do pensamento
religioso.
Para Spinelli (2000), os critérios para se manusear um documento são
determinantes para uma vida útil e sua permanência no acervo, Recomenda-se,
portanto, a adoção de normas e procedimentos básicos, como por exemplo, o
treinamento de pessoal que contribui consideravelmente para a conservação
preventiva do acervo.
Outros procedimentos devem ser seguidos, como:
• Manter sempre as mãos limpas;
• Usar ambas as mãos ao manusear gravuras, impressos, mapas, etc, sobre
uma superfície plana;
• Os livros devem permanecer em posição vertical. Nunca acondicioná-los com
a lombada para baixo ou para cima;
• Evitar infiltrações e goteiras junto à coleção;
42
• Em dias muitos úmidos, evitar abrir as janelas;
• Usar bibliocanto para evitar o tombamento dos livros;
• Usar marcadores próprios evitando efetuar marcas e dobras;
• Evitar enrolar documentos, gravuras, etc.;
• Não retirar os livros da estante puxando-o pela borda superior da lombada;
• Nunca umedecer os dedos com líquidos para virar páginas do livro. O ideal é
virar pela parte superior da folha;
• Não fumar e realizar refeições em prédios que guardem acervos;
• Não usar espanador e produtos químicos para a limpeza do acervo e área
física da biblioteca; usar trincha em local afastado das estantes. Para evitar a
distribuição de poeira sobre os volumes, o piso deverá ser limpo com pano
úmido;
• Nunca usar fitas adesivas em virtude de composição química da cola;
• Nunca usar carimbos sobre ilustrações ou textos;
• Não dobrar o papel (orelhas), pois ocasiona o rompimento das fibras.
• Nunca manter as estantes compactadas;
• Não manter plantas aquáticas, guarda-chuvas e capas molhadas junto ao
acervo;
• Não fazer anotações particulares em papéis avulsos e colocá-los entre as
páginas de um livro;
Para os danos causados pelo homem, infelizmente, não existem medidas
preventivas a não ser a própria consciência do ser humano.
7.5 AGENTES QUÍMICOS
43
Como agentes químicos, entendem-se os fatores internos inerentes à própria
fabricação do papel, que trazem em si os elementos de sua destruição.
Os fatores externos são elementos químicos existentes no ar atmosférico,
como os oxigênios, entre outros que, em contato com os agentes físicos, irão
ocasionar a oxidação e a combustão do material; as impurezas atmosféricas e as
titãs empregadas na impressão de documentos gráficos irão proporcionar danos
muitas vezes irreversíveis. (VALLE, 1991, p.23)
7.5.1 Acidez do Papel
Os papéis brasileiros apresentam um índice de acidez elevado
(ph 5 em média) e, portanto uma permanência duvidosa. Somemos
ao elevado índice de acidez, o efeito das altas temperaturas
predominantes nos países tropicais e subtropicais e uma variação da
umidade relativa, teremos um quadro bastante desfavorável na
conservação de documentos em papel. Dentre as causas de
degradação do papel, podemos citar as de origem intrínseca e as de
origem extrínsecas. (LUCCAS; SERIPIERRI 1995, p.26)
Para Luccas e Seripierri (1991, p.27), as fabricações dos materiais
constitutivos dos documentos em si comprometem consideravelmente a qualidade
dos suportes, uma vez que os papéis modernos, à base de polpa de madeira, já
contêm substâncias ácidas, como a lignina. Apesar do aprimoramento do papel
industrializado este ainda é susceptível aos chamados agentes intrínsecos, que
comprometem a sua qualidade.
A acidez dos papéis tem sido alvo de constante preocupação por
parte de bibliotecários e conservadores. Seus efeitos nos
documentos, como aparecimento de manchas marrons,
amarelecimento. Perda da rigidez no papel tornando – o quebradiço.
(VALLE, 1991, P.23).
44
Segundo Kraemer Koller (1993) documentos antigos de 2 ou 3 mil anos de
idade, como os papiros, e de 1100 anos como os papéis árabes, muitas vezes estão
bem conservados apesar de sua acidez. Muitos ácidos são empregados no papel
com o objetivo de protegê-los dos ataques dos insetos.
7.5.1.2 Causas da Acidez
Para Irigon (1973), os ácidos podem entrar em contato com os documentos
por três caminhos:
• Restos remasnescentes da fabricação do papel;
• Pelo uso de tintas ácidas;
• Pelo depósito, sobre os documentos, de dióxido de enxofre, existentes no ar e
que se transformam depois em ácido sulfúrico.
Refletindo sobre o raciocínio de Irigon (1973), encontramos duas formas de
manifestação de acidez do papel: intrínseca e extrínseca, sendo que a de natureza
intrínseca tem origem no processo da manufatura do papel, na forma de lignina
residual deixada no papel durante sua manufatura. Acidez extrínseca, por outro lado,
emana do meio ambiente na forma de dióxido sulfúrico, produzida pelo sistema
industrial moderno.
Segundo BARRETO (s.d), ao classificar as causas da acidez, só é levado em
consideração a causa extrínseca, que pode ser provocada pela tinta à base de óxido
de ferro, cola de vários tipos, impurezas do ar e contato com outros papéis também
atacados pela acidez. Em compensação, chama atenção para outro problema: a
acidez passa de um papel para outro através do processo chamado migração.
7.5.2 Poluição do Ar
45
O controle de qualidade de ar é essencial num programa de conservação de
acervos. Os poluentes contribuem pesadamente para a deterioração de materiais
de acervos.
A poluição do ar está associada às cidades e às indústrias e constitui uma
das causas da degradação química no papel. Para Cassares (2000) há dois tipos de
poluentes - os gases e as partículas sólidas – que podem ter duas origens, os que
vêm do ambiente externo e os gerados no próprio ambiente. Os poluentes externos
são principalmente o dióxido de enxofre (SO2), óxidos de nitrogênio (NO e NO2) e o
Ozônio (O3). Os agentes poluentes que podem ter origem no próprio ambiente do
acervo são os casos de aplicação de vernizes, madeiras, adesivos, tintas etc., que
podem liberar gases prejudiciais à conservação de todos os materiais.
Segundo Corujeira (1971), a poluição é prejudicial, mesmo que os
documentos estejam em condições favoráveis de armazenamento, causando a
oxidação da celulose.
A poluição deriva-se da poeira do dia a dia que se deposita sobre os
materiais e também dos gases tóxicos que são emitidos por automóveis, fábricas,
queima de lixo, etc. Esse depósito constante de poeira sobre os livros e documentos
causa problemas de ordem estéticos, constituindo-se em um meio propício ao
desenvolvimento de microorganismos.
Um dano muito presente em livros e documentos é o aparecimento de
manchas de tom marrom ao longo de um documento, como se um líquido escuro
tivesse sido derramado sobre a superfície do papel. Essas manchas são chamadas
de mancha d’água, que são o resultado do acúmulo de poeira na superfície do
documento aliada á umidade relativa elevada.
As medidas de proteção quanto ao ar exterior, poderão ser a adoação de
filtros para eliminar partículas de poeira, microorganismos e substâncias químicas,
através de filtros próprios acopláveis ao ar condicionado, confirma Luccas e
Seripierri (1995). E devemos incentivar uma política sistemática de higienização do
acervo, evitando assim o acumulo de poeira na superfície dos livros e documentos.
46
7.5.3 Tintas
A tinta é um dos compostos mais importantes na documentação. Foi e é
usada para escrever em papéis, pergaminhos e materiais similares, desde que o
homem sentiu necessidade de registrar seu avanço técnico e cultural, e é ainda
indispensável para a criação de registros e para atividades relacionadas aos
interesses de vida diária.
Existem dois tipos de tinta, que são:
• A tinta carbono, conhecida também por “Tinta da índia”, foi amplamente
utilizada para a escrita até o século dezenove e é ainda proferida para bons
trabalhos. Seu uso foi largamente difundido por todo mundo. É feito de negro-
fumo, seu pigmento é mantido em suspensão na água por meio de cola,
gelatina ou goma. Essa tinta é permanente e não completamente prejudicial
ao material no qual foi usada, é tinta de carbono e da cor preta;
• A tinta ferrogálica é uma combinação de sais de ferro (sulfato ferroso) com a
infusão de taninos obtidos a partir de bugalhos. Quando a tinta é feita tem
pouca cor e não pode ser usada, mas durante seu armazenamento ocorre
uma oxidação e se desenvolve a cor azul – preta, podendo assim ser usada.
7.6 DESASTRES NATURAIS
Spinelli (1995, p.37) afirma que “Há muito tempo, desde os primórdios da
formação das bibliotecas, que a destruição de documentos raros ou valiosos por
causa de catástrofes é um assunto da mais alta seriedade”.
Os incêndios e as inundações estão entre as primeiras causas dos
desastres em bibliotecas. Estes danos podem ser evitados ou
minimizados à medida que as bibliotecas tenham um planejamento
47
adequado com programas de proteção contra incêndios e
inundações. (BIBLIOTECA PEDRO CALMOM, 2010)
O plano de emergência é um componente importante do planejamento da
preservação. Ele deve abranger todos os perigos, inclusive os provocados por água
e fogo que constituem uma séria ameaça para os acervos. Um plano sistemático
organizado e formalmente escrito possibilita uma resposta eficiente e rápida em
casos de desastres no acervo e no prédio.
Caso o acervo seja atingido diretamente ou indiretamente por água,
decorrente de inundações, chuva, goteira, infiltrações, etc., medidas imediatas
devem ser tomadas.
A proteção contra a água é essencial para a preservação do material de
bibliotecas e arquivos. Até mesmo um acidente menor com água, como vazamento
de um cano, pode causar danos externos e irreparáveis ao acervo. (OGDEN, 2001,
p.15).
Os seguintes procedimentos técnicos devem ser observados e acionados de
modo mais rápido possível:
• Manter os livros fechados até que toda a água ou umidade desapareça, pois
ao se abrir, aleatoriamente, as folhas do livro, a água depositada em algumas
folhas, penetra para outras não atingidas ou levemente atingida;
• Secar a obra através da circulação do ar, deixando-a em posição vertical com
as folhas levemente entreabertas em forma de leque;
• Não expor os livros ao sol para secar, nem colocá-los perto ao forno, pois
causará deformação do papel;
• Envolver os livros e/ou documentos mais encharcados com papéis mata
borrão;
Um dos piores danos, em termos de destruição de acervo, é a
ocorrência de incêndio em biblioteca. O único modo seguro de evitar esse
desastre é o trabalho preventivo.
48
O dano provocado pelo fogo pode ser ainda mais sério do que o
causado pela água, pois se de alguma forma o acervo sobreviver,
provavelmente ficará carbonizado, coberto de fuligem, fragilizado
pela exposição ao calor elevado, umedecido pela água usada para
apagar incêndio, mofado e cheirando a fumaça. (OGDEN, 2001,
p.15).
Para Spinelli (1995, p,37), de forma geral as causas do incêndio, quando não
são atos de vandalismo, ocorrem em decorrência de curtos-circuitos nos sistemas de
eletricidade causados algumas vezes por ataques de roedores, de pontas de cigarro
deixadas acessas.
Para evitar a ocorrência de incêndios em bibliotecas devem-se seguir os
procedimentos técnicos de modo mais rápido possível:
• Verificar sempre o sistema de eletricidade do prédio;
• Instalar equipamentos de detecção de fumaça e realizar a sua manutenção
constante;
• Adotar normas que priorizem a retirada do acervo;
• Sinalizar as dependências da biblioteca;
• Vistoriar constantemente os equipamentos de segurança e proteção, assim
como o espaço físico.
Os sistemas automáticos de extinção de incêndio, os “sprinkles”, são
considerados pela maioria dos profissionais de segurança como a melhor forma de
proteção para bibliotecas e arquivos.
O esclarecimento prévio dos funcionários sobre como proceder em caso de
incêndio é fundamental para a segurança e rápida evacuação do local. Deve-se
sempre ter em local visível e amplamente difundindo o número de emergência do
Corpo de Bombeiros. Criar uma brigada de incêndio dentro do estabelecimento,
formado por funcionários que ficam encarregados de vistoriar as dependências e as
áreas de guarda de acervo.
49
Um número cada vez maior de profissionais sabem que as
pequenas emergências podem ser contidas quando os membros da
equipe estão preparados para agir com rapidez. Os danos podem ser
limitados mesmo em casos de calamidade de grande alcance.
(OGDEN, 2001, p.7).
50
8 MEDIDAS PREVENTIVAS
Para começar qualquer trabalho de conservação, é necessário diagnosticar
para identificar os problemas e suas possíveis soluções. Para isso, deve-se utilizar
uma “ficha de diagnóstico” e um “guia para avaliação de coleções documentais”.
8.1 Higienização
Para Belloto e Camargo (1996), a higienização corresponde, basicamente, à
retirada de poeira e outros resíduos estranhos dos materiais bibliográficos, por meio
de técnicas apropriadas visando à preservação dos mesmos.
Um dos principais cuidados para conservação de documentos consiste em
sua limpeza. A higienização deve ser um hábito rotineiro, pois é considerada
conservação preventiva. Além de remover a poeira, sempre que for possível,
retiram-se objetos danosos aos documentos, tais como prendedores metálicos,
grampos, clipes, etc.
A higienização é um trabalho que requer paciência e dedicação. “A
higienização deve ser um hábito de rotina na manutenção de bibliotecas ou
arquivos, razão por que é considerada conservação preventiva por excelência”
(CASSARES, 200, p.30).
Segundo Luccas e Seripierre (1995, p.35), esta é sem dúvida a tarefa de
maior importância nas bibliotecas, pois permite entrar em contato direto com o
acervo, verificando sua integridade física.
O trabalho de higienização deve ser executado em um ambiente isolado de
área em que os materiais são guardados, evitando-se assim que a sujeira removida
seja transferida para outros materiais e permitindo a observação de uma possível
infestação de mofo, insetos, etc.
51
A higienização deve ser feita a intervalos regulares, numa
freqüência que é determinada pela velocidade com que a poeira se
acumula nos espaços de armazenagem. É importante assinalar que
a própria limpeza pode danificar encadernações frágeis. Nesse caso
é preciso bom senso para decidir quando os livros podem e devem
ser limpos. (OGDEN, 2001, P.15)
É perda de tempo recolocar os materiais higienizados em estantes sujas. A
limpeza dos pisos em local de armazenamento, e das estantes também é muito
importante; mantendo limpo o piso e o mobiliário, a quantidade de poeira e
impurezas que se acumulam serão reduzidas.
Gaiardoni (2010) recomenda o modo adequado de fazer a limpeza das
estantes e do espaço físico:
Estantes
� As estantes podem ser limpas com aspirador;
� Nas estantes, a limpeza das prateleiras e volumes é de cima para baixo e da
esquerda para direita;
� As prateleiras que contêm volumes são limpas com um pano levemente
umedecido em uma solução de água e antibactericida (Lysoform®) ou álcool
a 50% e em seguida, passa-se outro pano seco até a secagem total da
estante.
Limpeza do espaço físico
� A forma mais eficiente e adequada é com aspirador de pó, pois remove a
sujidade sem transferi-la para outras áreas;
� Não se recomenda qualquer tipo de solvente, cera, ou mesmo água, pois sua
interferência, por menor que seja, desequilibra a umidade relativa do
ambiente;
52
� A vassoura deve ser totalmente abolida das áreas de guarda de material.
8.2 Digitalização
Para Conway (2001, p.12) a tecnologia de formação de imagens digitais é
outra opção de reformatação. A formação de imagens implica na transformação dos
muitos conceitos acerca do formato; é mais que gerar uma imagem precisa a partir
de um livro, documento, fotografia ou mapa, sobre um suporte diferente. O poder de
aperfeiçoamento digital, as possibilidades para a organização de índices e a matéria
e a compressão e comunicação aliadas alteram o conceito de preservação.
O universo digital transforma os conceitos de preservação tradicional: no lugar
de garantir a integridade física do objeto passa a especificar a geração e a
manutenção do objeto cuja integridade intelectual é sua característica principal. Esta
transformação, juntamente com as novas possibilidades de liderança que cria,
forçará bibliotecários e arquivistas a transformar seus serviços e programas em
andamento.
Segundo Ogden (2001, p.7), o processo de digitalizar imagens é um meio de
coletar e armazenar imagens usando tecnologia de computador. As imagens digitais
armazenadas podem ser reproduzidas em papel ou em um monitor como imagens
fac-similiares dos textos originais impressos, documentos ou fotografias.
Gaiardoni (2010) lista as vantagens e desvantagens da digitalização e de
como é feita a avaliação de custos para a digitalização:
Vantagens
� Compartilhamento: os documentos podem ser vistos em qualquer lugar no
mundo e com acesso simultâneo;
� Produtividade e Tempo: redução de prazo na busca de informações;
53
� Espaço Físico: é reduzido drasticamente;
� Pesquisa: É possível fazer pesquisas amplas, com redução de tempo;
� Impressão: Impressão com boa qualidade, evita desperdícios e custos
com cópias;
� Back-up e duplicação: O custo do back-up das imagens é baixo;
� Manuseio: diminuição do manuseio dos originais.
Desvantagens
� Constantes mudanças de mídia, com custos imprevisíveis;
� Obrigatoriedade da existência de equipamento e software para
recuperação do dado;
� Inexistência de valor jurídico.
Avaliação de custos para digitalização
� Tamanho e tipo do documento
� Volume de documentos
� Software e hardwares envolvidos
� Resolução da imagem
� Tipo de scanner
� Velocidade de scanner (x páginas por minuto)
� Velocidade do processador
54
8.3 Encadernação
Segundo o Dicionário Aurélio, encadernação é o ato ou efeito de encadernar.
Ou seja, juntar os cadernos ou folhas de livros (livros), formando, manual ou
mecanicamente, um volume, ao qual se liga, mais ou menos solidamente, uma capa,
em geral rígida, coberta de couro, pano, etc.
Proteger e preservar o objeto livro são um cuidado constante desde o
início de sua história. Os egípcios, por exemplo, protegiam as bordas
de seus rolos de papiro com tiras coladas, Já os antigos gregos e
romanos costumavam envolvê-los em capas de pele ou pano.
(BRUCHARD, 1998, p.13)
A encadernação é um dos agentes de conservação de que dispomos para
evitar a degradação do livro. Fala-se hoje na necessidade de apenas utilizar na
encadernação, papelão neutro, evitando deste modo que a acidez deteriore o papel,
migrando do papelão para o livro, mas antigamente esse problema não existia, pois
o papel utilizado na confecção do papelão, sendo feito com trapos de linho ou
algodão, não apresentava risco da acidez.
A poluição provocada pelas nossas cidades, com a grande quantidade de
carros, cujos gases, combinados com a umidade do ar e oxigênio, formam o ácido
sulfúrico, danoso tanto para as encadernações, como para o papel, é um fator
preponderante de destruição da encadernação.
8.4 Microfilmagem
Gaiardoni (2010) afirma que a microfilmagem é uma mídia analógica de
armazenamento para livros, periódicos e desenhos e sua expectativa de vida é de
500 anos e que foi inventada em 1927, pelo francês, René Dragon.
55
As microfilmagens têm muitas funções em uma biblioteca ou arquivo. Por
exemplo, as bibliotecas e os arquivos fornecem cópias em microforma de seus itens
mais raros e frágeis, proporcionando, desta forma, segurança e preservação ao
reduzir o manuseio do item original. As microformas produzidas por bibliotecas,
arquivos e outras organizações proporcionam acesso remoto a coleções que não
podem ou não deveriam ser transportadas devido à sua raridade, fragilidade ou
volume.
Fox (2001, p.8) afirma que muitas bibliotecas de pesquisa produzem
microfilme em vez de emprestar alguns de seus itens a usuários de outras
localidades.
As informações armazenadas em microfilme ocupam 1,0% do espaço
requerido para a cópia em papel correspondente. Assim, o microfilme é
especialmente útil para séries extensas de jornais e outros periódicos cujo uso não
justifica o espaço de estante que requerem.
A microfilmagem para preservação possui algumas características e
benefícios únicos. Gaiardoni (2010) lista as vantagens e desvantagens da
microfilmagem, que são:
Vantagens
� Durabilidade;
� Reprodução fácil;
� Fidelidade do original;
� Padronizado mundialmente;
� Suporte seguro e confiável;
� Digitalização;
� Viabilizar o acesso aos documentos;
56
� Preservar os originais;
� Garantir a longevidade das informações
Desvantagens
� Custo inicial elevado;
� Resistência do usuário;
� Difícil manuseio;
� Especificações técnicas rígidas;
� Danificação do documento ao microfilmar.
O material do filme é classificado de acordo com sua expectativa de vida. A
classificação em termos de expectativa de vida (EV) mede por quantos anos o filme
durará quando manufaturado, processado e armazenado sob condições definidas
por normas técnicas nacionais (USA). Quando bibliotecas ou arquivos reformatam
suas coleções com propósitos de preservação, deve ser utilizado o filme com uma
expectativa de vida de quinhentos anos. Apenas o filme de gelatina e prata oferece
este grau de longevidade, mas nem todos os filmes de gelatina e prata são assim.
Desta forma, o filme deve ser utilizado com uma classificação EV-500 e este filme
deve ser processado e armazenado de acordo com as suas especificações técnicas.
Independente do formato escolhido a microfilmagem não é um meio de
substituição perfeito. Ela não pode reproduzir a informação intelectual e histórica das
características físicas do volume, como as marcas e linhas d’água, técnicas de
costura, materiais de encardenação, lacres ou outros aspectos tridimensionais do
trabalho, ou mesmo a impressão.
57
9 VIDA DE SÃO BENTO
Figura 3 – São Bento Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Bento_de_N%C3%BArsia
Por ocasião da dedicação do Mosteiro de Monte Cassino, em 1964, após sua
reconstrução, o Papa Paulo VI proclamou São Bento1 (ca. 480 - ca. 547) patrono
principal de toda a Europa. O título, apesar de um pouco exagerado, é verdadeiro
sob vários aspectos. São Bento não construiu o Mosteiro de Monte Cassino com a
intenção de salvar a cultura, mas, de fato, os mosteiros que depois seguiram a sua
Regra foram lugares onde o conhecimento e os manuscritos foram preservados. Por
mais de seis séculos, a cultura cristã da Europa medieval praticamente coincidiu
com os centros monásticos de piedade e estudo.
São Bento não foi o fundador do monaquismo cristão, tendo vivido quase
três séculos depois do seu surgimento no Egito, na Palestina e na Ásia Menor.
Tornou-se monge ainda jovem e, desde então, aprendeu a tradição pelo contato
com outros monges e lendo a literatura monástica. Foi atraído pelo movimento
monástico, mas acabou dando-lhe novos e frutuosos rumos. Isto fica evidente na
1 Histórico retirado do site Igreja online. Endereço: <http: // WWW.cot.org/igreja/sao-bento.php>
58
Regra que escreveu para os mosteiros, e que ainda hoje é usada em inúmeros
mosteiros e conventos ao redor do mundo.
A tradição diz que São Bento viveu entre 480 e 547, porém, do ponto de
vista histórico, não se pode afirmar com certeza que essas datas sejam precisas.
Seu biógrafo, São Gregório Magno, Papa de 590 a 604, não registra as datas de seu
nascimento e morte, mas se refere a uma Regra escrita por Bento. Há discussões
com relação à datação da Regra, mas parece haver consenso de que tenha sido
escrita na primeira metade do século VI. São Gregório escreveu sobre São Bento no
seu Segundo Livro dos Diálogos, mas seu relato da vida e dos milagres de Bento
não pode ser encarado como uma biografia no sentido moderno do termo. A
intenção de Gregório ao escrever a vida de Bento foi a de edificar e inspirar, não a
de compilar os detalhes de sua vida cotidiana. Buscava mostrar que os santos de
Deus, em particular São Bento, ainda operavam na Igreja Cristã, apesar de todo o
caos político e religioso da época.
São Bento nasceu na pequena cidade de Norcia, por volta de 480 d.C., e foi
considerado o patriarca do monaquismo ocidental, porque foi o principal legislador,
reformador e unificador. Foi mandado pelos pais a Roma, porém, temendo se
perverter devido aos maus exemplos dos seus companheiros, se retirou em solidão
antes a Enfide, cidade em Sabina, e depois perto de Subiaco onde um monge,
romano, o revestiu da veste religiosa.
Os monges de Vicovaro, com a morte do Abade, o convidaram a assumir a
direção da comunidade. Não conseguiu, porém, reconduzir esta comunidade a uma
vida mais regular, voltou na solidão, a uma vida eremítica. Construiu doze pequenos
mosteiros que com o passar do tempo foram todos destruídos, com exceção do
atual mosteiro de Santa Escolástica. Em Subiaco, começou a escrever a sua Regula
em latim vulgar, conforme a exigência espiritual e material dos leigos que queriam
tê-la como guia.
Bento se estabeleceu sobre no monte, acima da planície do vale do Liri;
abateu os altares das falsas divindades, cortou os bosques sagrados e com assídua
dedicação conversava com os roceiros que eram ainda pagãos. A fama de
santidade de São Bento e em virtude de seus seguidores, logo o fez célebre no
59
cenóbio, que recebeu grandes doações do patrício Tertullo e da Gesulfo. No monte,
houve um contínuo vai e vem de pobres pessoas para pedir ao taumaturgo ajuda e
proteção: de eclesiásticos para pedir conselhos ao santo; de potentes do século,
para pedir ao vegente sábios ensinamentos.
A Régula que disciplina a vida interna e externa da comunidade monástica,
até o séc. XII, durou sem contraste. Ela propõe ao religioso um programa de vida
baseada na oração e no trabalho, a estabilidade do lugar, a conversão dos costumes
e a obediência ao governo patriarcal do Abade.
Mais ou menos quarenta dias após que São Bento ter visto a alma da irmã
voar ao céu, em forma de pomba, comunicou a alguns discípulos o dia da sua morte.
Seis dias antes fez abrir o túmulo, depois, com violenta febre, no dia 21 março quis
ser conduzido ao oratório.
Depois de ter recebido a Eucaristia, enquanto rezava em pé, entregou o seu
espírito a Deus, entre os braços dos seus discípulos. O seu corpo foi colocado perto
daquele da irmã, no sepulcro que tinha feito preparar debaixo do altar de S. João
Batista.
Bento foi de várias maneiras tentado pelo diabo e sempre saiu vitorioso.
Exortava a fazer o sinal da cruz no coração para ser liberado das sugestões
diabólicas.
Com este sinal de salvação, S. Bento se liberou do veneno que alguns maus
monges lhe ofereceram em um recipiente de vidro que continha a mortal bebida.
Bento levantou a mão e fez o sinal da cruz. O santo reduziu em pedaços aquele
vaso de morte, como se ao lugar de uma benção, tivesse sido atirada uma pedra. O
episódio, segundo o conto de São Gregório Magno, teve que inspirar as palavras do
exorcismo referidas à bebida que é oferecida pelo maligno, assim como a proteção
atribuída ao sinal da cruz.
9.1 Mosteiro de São Bento
60
A fundação do Mosteiro de São Bento2, localizado no Largo de São Bento,
no centro de São Paulo, data do fim do século XVI, ou mais exatamente, de 14 de
julho de 1598. Segundo documentação da época, foram concedidas duas sesmarias
(áreas de terra) pelo Capitão-Mor Jorge Correia, as quais seriam à base da
fundação beneditina na pequena vila.
O terreno cedido a São Bento era o mais bem localizado, depois daquele do
Colégio dos Jesuítas, ficando exatamente no alto da elevação, entre as águas do
Anhangabaú e do Tamanduateí, abrangendo de um lado até o Vale do Anhangabaú
e, do outro, até a atual 25 de Março.
O Mosteiro teve como fundador um paulista de nome Simão Luís, nascido
em São Vicente, o qual mais tarde passou para a história com o nome de Frei Mauro
Teixeira. Discípulo do Padre José de Anchieta, ele conheceu o cacique Tibiriçá e,
anos depois, construiu, no mesmo local onde existira a taba do glorioso índio, uma
igreja em homenagem a São Bento. Aí levantou um pequeno santuário, que
conservou, durante algum tempo, sob seus cuidados.
É interessante destacar o papel do Mosteiro de São Bento na aclamação de
Amador Bueno, como rei de São Paulo, episódio histórico que assinala o primeiro
grito de independência em terras do Brasil. Evitando aqueles que queriam fazê-lo rei
apressadamente, rumou em direção ao templo onde pretendia refugiar-se. Os
paulistas seguem em seu encalço gritando: "Viva Amador Bueno, nosso rei", ao que
ele replicou muitas vezes "viva o senhor D. João IV nosso rei e senhor, pelo qual
darei a vida".
Graças a Fernão Dias Paes, foi construído um novo templo. Em janeiro de
1650, foi lançada a pedra fundamental para sua construção. As imagens de São
Bento e Santa Escolástica que vemos hoje na atual basílica, de autoria de Frei
Agostinho de Jesus, datam desta época. Os restos mortais de Fernão Dias Paes e
de sua esposa se encontram na cripta do Mosteiro.
Em julho de 1900, D. Miguel Kruse assume a direção do Mosteiro e, com
atividade ímpar, inicia um novo período na história de São Paulo. Seus primeiros
2 Histórico retirado do site do Mosteiro de São Bento. Endereço: <http://
culturageralsaibamais.wordpress.com/biblioteca>
61
esforços são no sentido de dotar o Mosteiro de um bom colégio secundário. Surge
assim, em 1903, o Colégio de São Bento. Logo após, em 1908, é fundada a
faculdade de Filosofia, que seria a primeira do Brasil. Em 1911, é instalada a
primeira abadia de monjas beneditinas da América do Sul, o Mosteiro de Santa
Maria.
É também de iniciativa de D. Miguel Kruse a construção de uma nova abadia
e um novo mosteiro. Em 1910, teve início a nova construção segundo projeto do
arquiteto Richard Berndl da cidade de Munique, Alemanha. Quatro anos mais tarde,
em 1914, estava completado o conjunto beneditino que conhecemos hoje, abrigando
a Basílica de Nossa Senhora da Assunção, o Mosteiro e o Colégio de São Bento,
marco histórico, cultural e turístico da maior importância para a cidade de São Paulo
e para o Brasil.
9.1.2 Visita á Biblioteca do Mosteiro de São Bento
A visita à Biblioteca do Mosteiro foi realizada no dia 23 de setembro de 2010,
orientada pelo Assistente de Biblioteca Antônio Cesar Garcia, que está cursando
Biblioteconomia e Ciência da Informação, mas infelizmente pelas regras do
Mosteiro, pesquisadores não têm acesso ao acervo bibliográfico; sendo assim, a
visita ficou limitada até a sala de pesquisa.
A Biblioteca do Mosteiro de São Bento pertence a uma instituição
eclesiástica empenhada na salvaguarda e na conservação de um valioso patrimônio
documental, assegurando aos usuários, os meios indispensáveis ao estudo e à
investigação.
O setor da Biblioteca conta com um Bibliotecário Monástico, o Ir. João
Baptista Barbosa Neto, e com uma equipe de 05 pessoas: Adílio Ferreira Soares,
Antônio César Garcia, Hercules Morais, João Gabriel B. Sarachinni e Rafael
Meneses.
A biblioteca iniciou com uma pequena coleção de livros , em 1598, junto com
a fundação Mosteiro de São Bento. Hoje o seu acervo bibliográfico é constituído por
obras impressas que revelam aspectos da cultura beneditina de São Paulo, por
62
exemplares de livros antigos, desde incunábulos, do Séc. XV, obras do Séc. XVI ao
XVIII, e um grande acervo dos Séc. XIX e XX que totalizam, junto com as coleções
de periódicos, aproximadamente 100.000 volumes.
Há um grande número de obras de arte dispostas pelos corredores, paredes
e salas da biblioteca. São peças de Escultura, Pintura, Fotografia, Desenho e
Aquarela que, com sua importância artística e histórica, embelezam a mais antiga
biblioteca da capital paulista.
Trata-se de uma biblioteca especializada, já que as áreas de concentração
que a compõem são: Teologia, Patrística, Escritos Monásticos, História Geral,
História da Igreja, História do Brasil, Filosofia, Literatura, além de outras áreas das
Ciências Humanas em geral.
A missão da Biblioteca do Mosteiro é contribuir para as atividades de ensino,
pesquisa e extensão, tornando disponíveis informações científicas nas diversas
áreas do conhecimento, por meio de prestação de serviços de informação;
procurando integrar, valorizar e estimular a difusão cultural junto à comunidade. A
biblioteca é constituída por Setor de Referência, de Estudo e de Apoio à Pesquisa;
Sala de Leitura Individual; Acervo e Processamento Técnico.
O mosteiro não possui scriptorium, sendo assim, não existem monges
copistas; há manuscritos originais que ficam guardados no arquivo, que é um setor
separado da biblioteca. Os funcionários, ali lotados, não têm acesso a esse setor,
somente pessoas autorizadas podem entrar.
Segundo Antônio, a biblioteca nunca teve problemas com ataque de insetos,
sendo que a mesma é sempre dedetizada, porém, de vez em quando, sempre
aparece alguma praga e quando surge eles retiram o livro do acervo e fazem a
limpeza do mesmo, ou, dependendo da praga, o procedimento utilizado por eles é o
congelamento do livro, que é quando o livro afetado é colocado dentro de um
plástico, tirando todo o ar de dentro e colocado dentro de um freezer para o seu
congelamento. Depois de três dias desliga-se o freezer e deixa-se o livro voltar à
temperatura ambiente e só depois é retira do dentro do freezer, eliminando a praga
existente.
63
A Biblioteca é constituída por acervo “fechado”, de modo que apenas é de
livre acesso a Sala de Leitura Individual e o Setor de Referência, de Pesquisa e de
Estudo em Grupo. O acesso à Sala de Leitura e serviços conexos da Biblioteca é
destinado aos alunos regularmente matriculados no Curso de Licenciatura Plena em
Filosofia e no Curso de Pós-Graduação em Filosofia, professores, funcionários,
alunos dos cursos de extensão oferecidos pela Instituição e aos monges. Em casos
justificados, pode ser concedido o acesso aos pesquisadores reconhecidos e
devidamente autorizados
Para o empréstimo de livros, o usuário deve preencher uma requisição para
cada obra – após consultar a base de dados e/ou o fichário, entregá-la ao
monitor/funcionário do setor de referência e aguardar, no lugar atribuído, a entrega
da obra ou qualquer informação sobre a mesma. Este procedimento é imprescindível
para a consulta das obras.
O usuário fica responsável pelas obras requisitadas desde a recepção até a
devolução e conferência; deve também atender às informações e às observações
dos monitores/funcionários da Biblioteca em tudo o que diz respeito ao seu
funcionamento e à consulta das obras e nenhum material pode ser consultado fora
das dependências da Biblioteca.
O material bibliográfico retirado das dependências da Biblioteca, somente
para ser reproduzido (Xerox), deve ser autorizado e registrado pelo
monitor/funcionário e tem prazo máximo de uma hora para ser devolvido, sendo que,
é o próprio aluno que retira o material. A consulta de obras raras e especiais
necessita de autorização prévia, a qual pode ser feita mediante fundamentação do
objetivo da pesquisa. Para estas obras, em especial, não é permitida qualquer forma
de reprodução, seja xerográfica ou fotográfica.
Como já foi dito acima, a biblioteca faz empréstimo de livros para os monges,
funcionários e alunos, não tendo grandes problemas quanto ao manuseio
inadequado.
Os monges possuem uma porta particular para a biblioteca, sendo aberta só
por eles, dando livre acesso à biblioteca. Antônio diz que aos poucos eles estão
tendo o hábito de retirar um livro e deixar um bilhete, dizendo o seu nome e o nome
do livro que foi retirado, quando não há ninguém na biblioteca.
64
Os livros são armazenados em estantes de madeira, o que não é
recomendável, pois a mesma atrai cupins, menos que as estantes sejam tratadas
com produtos contra cupins. A higienização da biblioteca é sempre orientada pelo
bibliotecário monástico; ele recomenda que não se usem vassouras. E como a
higienização é feita todos os dias, eles nunca tiveram problemas com ratos ou
baratas.
Figura 4 – Acervo armazenado em estantes de madeira
Fonte: http://culturageralsaibamais.wordpress.com/2010/02/17/a-biblioteca-do-
mosteiro-de-sao-bento-de-sao-paulo-e-as-obras-de-arte/
A biblioteca não possui nenhum plano de conservação; as janelas da
biblioteca não possuem cortinas, permitindo os raios ultravioletas chegarem aos
livros. Quando eles percebem que um livro precisa de um restauro, eles o
encaminham para o Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, onde há um monge
especializado em restauro. Antes de o livro ser encaminhado para o Rio de Janeiro
passa pela avaliação dos monges e somente se o livro for de grande importância
para os mesmos é encaminhado para tal finalidade.
65
10 VIDA DE SÃO GERALDO
Figura 5 - São Bento e Santo Américo
Fonte: Abadia São Geraldo: meio século de uma história milenar 1953-2003. São
Paulo: Abadia São Geraldo, 2002
São Geraldo3 nasceu em Veneza, no ano de 980, e foi educado em um
mosteiro beneditino. Por sua vida exemplar, com 30 anos de idade, tornou-se abade
de San Giorgio de Veneza. Quatro ou cinco anos depois, retirou-se para empreender
uma viagem de peregrinação à Palestina. Para escapar de um naufrágio, seu navio
aportou na ilha de Santo André, na altura da Dalmácia, onde Geraldo encontrou
Dom Gaudencius, Abade de Pannonhalma, que estava a caminho da Hungria e que
o convenceu a segui-lo. Foi, então, convidado pelo Rei Estevão a permanecer no
país e ajudá-lo em seu trabalho de cristianização do povo.
Foi difícil para o beneditino reconhecer os novos caminhos que Deus lhe
havia reservado, tão diferentes de seus planos originais. Mesmo assim, aceitou
3 Histórico retirado do livro Abadia São Geraldo: meio século de uma história milenar 1953-2003. São
Paulo: Abadia São Geraldo, 2002
66
permanecer e, auxiliado por seus dotes extraordinários de pregador, entregou-se à
sua obra com ardor. Viveu também sete anos no palácio real como mestre e
educador de Santo Américo, filho do Rei.
Mais tarde, tornou-se bispo de Csanád e assumiu a tarefa de consolidar a fé e
extirpar os restos de idolatria que ainda existiam na Hungria.
Com a morte do Rei Estevão, que não deixou herdeiros, pois Américo havia
falecido em uma caçada, diversos candidatos ao trono começaram uma guerra entre
si. Entre os pretendentes havia inimigos da Igreja que não aceitavam a presença do
bispo. Em uma viagem de cataquezição, Geraldo foi preso e apedrejado, vindo a
falecer no dia 24 de setembro de 1046.
São Geraldo foi um estudioso e um dos raros escritores de sua época, tendo
deixado diversos trabalhos teológicos e ensaios sobre a Sagrada Escritura.
10.1 Mosteiro de São Geraldo
A história da Congregação Húngara4 da Ordem Beneditina no Brasil, remonta
à milenar arquibancada de Pannonhalma, na Hungria. Denominada inicialmente
Abadia do Monte São Martinho de Tours, santo nascido em Panônima, atual Hungria
–, a abadia fundada em 966, após a conversão do povo húngaro ao Cristianismo,
criou a geração de monges beneditinos húngaros cujo trabalho, ao longo de todos
esses anos e disseminados por setenta mosteiros na Hungria, passa a se realizar
sob a inspiração dos santos Estevão, Geraldo e Américo canonizados em 1083.
Hoje, Pannonhalma, sede da Congregação Húngara, mantém sete casas
dependentes na Hungria, Eslováquia, Áustria e Brasil.
No dia 21 de março de 1931, dia de São Bento, chega ao Brasil Dom Arnaldo
Szelecz primeiro monge beneditino da Congregação Húngara, que, antes de se
tornar monge, foi soldado na Primeira Guerra Mundial. Seu superior, Dom 4 Histórico retirado do livro Abadia São Geraldo: meio século de uma história milenar 1953-2003. São
Paulo: Abadia São Geraldo, 2002
67
Crisóstomo Kelemen, estava preocupado com o atendimento religioso dos milhares
húngaros que haviam emigrado para a América do Norte e América do Sul.
Dom Arnaldo Szelecz chegou ao Brasil sozinho e foi acolhido no Mosteiro de
São Bento, em São Paulo, onde permaneceu por sete anos, aonde viriam se juntar
outros monges beneditinos húngaros. Enquanto seus companheiros não chegavam
Dom Arnaldo parte ao encontro de vários grupos de imigrantes húngaros dispersos
em bairros da cidade de São Paulo e no interior do Estado e no norte do Paraná.
Em sua busca, dos imigrantes húngaros, observa a extensão das
necessidades urgentes de apoio espiritual que a realidade desvenda. Nos núcleos
funcionavam escolas, faltavam igrejas, as cerimônias religiosas eram realizadas nas
casas dos imigrantes e colonos, e é em Vila Anastácio que uma pequena escola
passa a receber crianças durante a semana. Avaliando o aspecto importante do
aprimoramento do ensino, Dom Arnaldo pede aos seus superiores, na Hungria, o
envio de mais monges professores e de livros.
Nos anos subseqüentes, chegam Dom Anselmo Horváth, professor, em 1934,
e Dom João Markos, recém-ordenado, em 1937. Simultaneamente, uma igreja
começa a ser erguida na Vila Anastácio, dedicada a Santo Estevão Rei, a qual seria
concluída em 1939. Nesse ano, juntam-se mais dois monges, formando assim a
Nova Pannonhalma, onde iriam atuar em quatro diferentes vertentes: a atividade
pastoral, a educação, as atividades culturais e as obras sociais.
Os anos de convivência e trabalho passados na Vila Anastácio foram as
raízes da permanência e do fortalecimento da comunidade beneditina húngara no
Brasil. A Nova Pannonhalma tornara-se pequena para a família beneditina em
crescimento. Essa é uma das razões que levaram os monges a procurar um lugar
maior onde pudessem se estabelecer e assim ampliar os trabalhos, pois tinham em
vista a ação social e em especial a educação dos jovens.
Em 1951, a comunidade se transfere para um prédio da Pontifícia
Universidade Católica na Rua Imaculada Conceição, n°71, bairro Santa Cecília. Na
nova habitação foi instalado o Mosteiro de São Geraldo e fundou-se o colégio que se
tornaria tradicional pela alta qualidade do ensino e ao qual deram o nome do
príncipe Húngaro Santo Américo. Porém, a necessidade de ampliação logo se fez
68
sentir, e Dom Emílio, primeiro reitor, e sua comunidade se empenharam na compra
de uma sede. Em 1963 foi inaugurado o primeiro prédio do atual conjunto do
Morumbi e posteriormente do Mosteiro
Após vinte e dois anos da chegada do primeiro monge beneditino húngaro ao
Brasil, foi obtida, por decreto da Santa Fé, no dia 8 de dezembro de 1953, festa da
Imaculada Conceição, a elevação a Priorado Conventual.
Desde seus primeiros anos, a vida da comunidade da Abadia São Geraldo
estrutura-se na prática do Ofício Divino, um ciclo diário de louvor, com orações
obrigatórias às quais nada se deve antepor, sempre de acordo com o que
estabelece a Regra de São Bento. Para proporcionar um ambiente tranquilo para
cultivar o espírito e a formação monacal, a Abadia adquiriu um terreno de 10
hectares na zona rural do município de Itapecerica da Serra, onde foi construída a
Cela São José.
10.2 Visita à Biblioteca do Mosteiro de São Geraldo
A visita à Biblioteca da Abadia de São Geraldo foi realizada no dia 26
de setembro de 2010 orientada pela Bibliotecária Sandra A. Martins da Rosa, que
facilitou o acesso ao acervo documental. Sandra trabalha sozinha na biblioteca.
A Biblioteca da Abadia São Geraldo é especializada principalmente em
Filosofia e Religião, porém, em seu acervo há obras de outras áreas do
conhecimento, tais como Educação, Sociologia, Literatura e História. Com um
expressivo acervo com mais de 60 mil volumes, em diversos idiomas - inglês,
francês, alemão, espanhol, italiano e latim - congrega quase todas as obras
existentes no prédio do Mosteiro no Morumbi, pois, além das aquisições, os monges,
depois de concluírem os estudos, enviam seus livros à Biblioteca, para serem
incorporados à coleção.
69
Além deste, há o acervo em húngaro; são cerca de doze mil volumes sobre a
Hungria e sua história e é considerado como importante referência neste idioma no
Brasil.
O acervo está distribuído em três pisos:
� 1º piso - Obras Gerais: Enciclopédias, Dicionários, Filosofia e Religião
� 2º piso - Periódicos religiosos, retrospectivos e correntes
� 3º piso - Livros e periódicos húngaros
Figura 6 – Distribuição do acervo em três andares
O mosteiro não possui scriptorium, sendo assim, não existem monges
copistas, e não há manuscritos originais; o que eles possuem são cópias, scaneadas
de manuscritos originais. Abaixo segue a ilustração de um exemplar.
70
Figura 7 – Cópia de um manuscrito
Figura 8 – Cópia de um manuscrito
O público da biblioteca é a comunidade húngara, funcionários e
pesquisadores, com agendamento prévio. Os alunos do colégio Santo Américo não
71
têm acesso à biblioteca, só com visitas orientadas pela bibliotecária e
acompanhados pelos professores. Os monges possuem uma porta particular para a
biblioteca, sendo aberta só por eles, dando livre acesso a biblioteca.
Figura 9 – Porta particular dos monges
A biblioteca nunca teve problemas com poluição de ar, pois as janelas da
biblioteca não ficam viradas para a rua e sim para um jardim e também não ficam
abertas o dia inteiro. Com relação à iluminação, as janelas possuem persianas, não
permitindo a entrada de raios ultravioletas. E quando o dia está muito seco, usa-se o
umidificador.
72
Figura 10 - Janelas com persianas
Figura 11 - Umidificador
Com ataques de insetos a biblioteca nunca teve grandes problemas e quando
um livro é detectado com alguma praga, a bibliotecária responsável retira o livro do
73
acervo e faz uma higienização. Dependendo da praga, faz o processo de
congelamento do livro, o mesmo procedimento utilizado no Mosteiro de São Bento.
O empréstimo de livros é mais utilizado pelos monges; sendo assim, não há
muitos problemas de manuseio inadequado. Segundo Sandra, o que mais acontece
é que, sendo muitos livros doações de monges, a maioria já vem grifado, riscada ou
com algumas folhas amassadas.
O armazenamento, ou seja, o mobiliário que acomoda os livros, são estantes
de metal esmaltado, que é o material ideal; os livros estão posicionados na vertical,
e todas as prateleiras possuem bibliocantos, para evitar a queda dos livros.
Figura 12 – Armazenamento dos livros
A higienização da biblioteca é feita pelas faxineiras do Mosteiro; Sandra diz
que tenta orientá-las na hora da limpeza como, por exemplo, não usar vassouras ou
espanadores. Como a higienização é sempre feita, nunca houve problemas com
ratos ou baratas.
74
Todas as Obras Sacras da biblioteca estão depositadas em uma estante de
madeira com porta de vidro, como se pode ver na ilustração abaixo.
Figura 13 – Estante com as Obras Sacras
Sandra contratou uma restauradora para diagnosticar os livros e a mesma
disse que, pelo fato de elas estarem fechados e com pouco manuseio, isso acabou
conservando o material. Mas podemos observar que o armazenamento dos mesmos
está incorreto, os livros deveriam estar em caixas de portfólios de papel alcalino,
para proteger o material contra agentes externos ou ambientais e para manter a
integridade física do material.
75
Figura 14 – Livros dentro da estante
Apesar de os livros se encontrarem em posição vertical, pode-se observar
que os mesmo estão desgastados; a maioria está com a borda do livro desgastada,
apresentando manuseio inadequado.
Com relação à estante ser de madeira, recomenda-se que a mesma passe
por um tratamento específico para não atrair cupim, sendo que, nunca houve
problemas com esse tipo de praga.
Mas foi nessa pequena estante que se encontra grandes surpresas, como o
menor livro do Brasil e dois livros com a sua capa toda bordada a mão.
77
O ideal seria que esses livros ficassem em uma sala fechada, com
temperatura controlada, por ar-condicionado e termômetro, com umidificador e
desumidificador para se manter em termos regulares a unidade relativa do ar.
79
12 CONCLUSÃO
A Conservação Preventiva de Obras Sacras vem sendo amplamente
difundida, para a conscientização de que, somente por meio deste trabalho
preventivo se efetuará a consolidação da salvaguarda do acervo.
Conservação abrange pelo menos três ideias: preservação, proteção e
manutenção. Conservar bens culturais (livros, documentos, objetos de arte, etc.) é
defendê-los da ação dos agentes físicos, químicos e biológicos que os atacam.
O principal objetivo, portanto, da conservação é o de estender a vida útil dos
materiais, dando aos mesmos o tratamento correto. Para isso, é necessária a
permanente fiscalização das condições ambientais, manuseio e armazenamento.
Com essa monografia, procura-se explicar e apresentar soluções viáveis a
problemas cotidianos enfrentados por bibliotecários e por aqueles interessados em
manter os seus livros de modo seguro e duradouro. Conhecendo os fatores que
causam a degradação do acervo, podemos protegê-lo, indo à fonte do problema, e,
sem dúvida alguma, prolongando-se a vida útil destes bens culturais.
80
REFERÊNCIAS
ABADIA DE SÃO GERALDO. Histórico: Abadia São Geraldo e da Cela São José.
Disponível em: <http://www.asg.org.br>. Acesso em: 16 ago. 2010.
BECK, Ingrid (Coord.) Manual de preservação de documentos. Rio de Janeiro:
Arquivo Nacional / The Commission on Preservation & Access, 1991. (Caderno
Técnico).
BELLOTO, Heloísa Liberalli; CAMARGO, Ana Maria de Almeida. Dicionário de
terminologia arquivística. São Paulo: Associação de Arquivistas Brasileiros, 1996.
BENTO de Núrsia. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Bento_de_N%C3%BArsia>. Acesso em: 25
nov. de 2010
BIBLIOTECA PEDRO CALMOM FORUM DA CIÊNCIA E CULTURA. Conservação
preventiva de acervos bibliográficos. Disponível em:
<http://www.forum.ufrj.br/biblioteca/artigo.html> . Acesso em: 18 out. 2010
BRANDI, C. Teoria da restauração. Tradução Beatriz Mugayar Kühl. Cotia: Ateliê,
2004. 261 p. (Artes & Ofícios, 5).
CAMPOS, A. A. Breve história do livro. Porto Alegre: Mercado aberto, 1994. 234
p.
CASSARES, N. C.; MOI, C. Como fazer conservação preventiva em arquivos e
bibliotecas. São Paulo: Arquivo do Estado de São Paulo/Impressa Oficial, 2000.
80 p. (Como Fazer, 5).
81
CONSERVAÇÃO & RESTAURO. O que é conservação e restauro. Disponível
em: <http://www.conservacao-restauracao.com.br/o_que_e.htm>. Acesso em: 22
ago. 2010.
CONWAY, Paul. Preservação no universo digital. 2.ed. Rio de Janeiro: Projeto de
Conservação Preventiva em bibliotecas e arquivos, 2001
CORUJEIRA, Lindaura Alban. Conserve e restaure seus documentos. Salvador:
Itapuã, 1971.
CUNHA, G. M. Conservation of library materials: a manual and bibliography na the
car, repair and restoration of library materals. 2. ed. Metuchen, Scarecrow, 1971.111
GAIARDONI, Edna Kátia. Conservação e preservação de acervos documentais.
2010. p.15. Apostila usada do curso de Biblioteconomia e Ciência da Informação no
8° semestre.
IDADE MÉDIA. Escrita, monges copistas: escrita medieval. São Paulo, 2008.
Disponível em: <http://idademedia.wetpaint.com/page/Escrita+%2F+Monges+
Copistas>. Acesso em: 04 mar. 2010.
IGREJA ONLINE. A vida de São Bento. Disponível em:
<http://www.cot.org.br/igreja/sao-bento.php>. Acesso em: 16 ago. 2010.
IRIGON, J.A. Conservação de documentos. Mens. Arq. Nac., 4 (5): 13-7, maio 1973
KRAEMER KOELLER, S. Tratado de prevision del papel y de la conservación de
bibliotecas y archivos. 2.ed. Madrid, Ministério de Educación y Ciência Servicío de
Publicaciones..
LUCCAS, L.; SERIPIERRI, D. Conservar para não restaurar: uma proposta para
preservação de documentos em bibliotecas. Brasília: Thesaurus, 1995. 128 p.
82
MARTINS, W. A palavra escrita. 3. ed. il. rev. atual. São Paulo: Ática, 1998. 519 p.
MATRIZ DE SÃO GERALDO. Vida de São Geraldo. Disponível em:
<http://matrizsaogeraldo.vilabol.uol.com.br/vidasg.htm>. Acesso em: 07 maio 2010.
McMURTRIE, D. C. O livro: impressão e fabrico. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 1965.
MENDES, Marylka (Org.) Conservação: conceitos e práticas. Rio de Janeiro: UFRJ,
2001.
MOSTEIRO DE SÃO BENTO DE SÃO PAULO. Biblioteca. Disponível em:
<http://culturageralsaibamais.wordpress.com/biblioteca>. Acesso em: 01 mar. 2010.
________________. As obras de arte. São Paulo, 2010. Disponível em:
<http://culturageralsaibamais.wordpress.com/ 2010/02/17/a-biblioteca-do-mosteiro-
de-sao-bento-de-sao-paulo-e-as-obras-de-arte>. Acesso em: 02 mar. 2010.
DURAN, J.R. Meu botequim do Baixo Gávea. Brasil Econômico: zoom. São Paulo:
Brasil Econômico. 2010. p.12
OGDEN, Sherelyn. Administração de emergências. Rio de Janeiro: Arquio
Nacional / The Commission on Preservation & Access, 2001. (Caderno Técnico).
______________. Monitoramento da temperatura e umidade relativa. Rio de
Janeiro: Arquio Nacional / The Commission on Preservation & Access, 1997.
(Caderno Técnico).
______________. A proteção contra danos provocados pela luz. Rio de Janeiro:
Arquio Nacional / The Commission on Preservation & Access, 1997. (Caderno
Técnico).
83
______________. Reformatação. 2. ed. Rio de Janeiro: Arquio Nacional / The
Commission on Preservation & Access, 1997. (Caderno Técnico).
______________. Temperatura, umidade relativa do ar, luz e qualidade do ar:
diretrizes básicas de preservação. Rio de Janeiro: Arquio Nacional / The
Commission on Preservation & Access, 1997. (Caderno Técnico).
OLIVEIRA, J. T. A fascinante história do livro: Idade Média. Rio de Janeiro:
Kosmos, 1987. v. 2.
PINHEIRO, A. V. Da sacralidade do pergaminho à essência inteligível do papel. In:
DOCTORS, M. (Org.). A cultura do papel. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 1999.
v. 1 p. 65-89.
Remédio, Maria Aparecida. Conservação Preventiva e Higienização de
Documentos. São Paulo, 2003
RESTREPO, B. R. Bienes culturales: manual de prevención y primeiros auxilios.
Bogotáa: Colcultura, 1985. 116 p.
SÃO BENTO: biografia. Disponível em: <http://digilander.libero.it/rexur/benedetto/
porto/biografia.htm>. Acesso em: 16 ago. 2010.
Silva Filho, José Tavares; Almeida, Marilene S. F. de; Gonçalves, Paulo
Roberto. Manual de conservação de acervos bibliográficos. Rio de Janeiro:
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Sistema de Bibliotecas e Informação-SiBI,
1993.
SPINELLI JÚNIOR, Jayme (autor principal). Introdução à conservação de acervos
bibliográficos: experiência da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro, RJ: Fundação
Biblioteca Nacional, 1995. 66 p. (Pesquisa e prática; v. 1). ISBN 85-333-0032-8.
84
VALLE, Clarimar A. Subsídios para uma política de preservação e conservação
de acervos em bibliotecas universitárias brasileiras. Brasília, 1991. (Tese)
VEIGA, E. Quatrocentona, biblioteca dos monges passa por informatização.
Estadão.com.br, São Paulo, 22 nov. 2008. Disponivel em:
<http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20081123/not_imp282135,0.php>.
Acesso em: 02 mar. 2010.
85
ANEXO
Bárbara Gomes Hypólito
OBJETIVO
Atuar na área de bibliotecas jurídicas. Coloco-me à disposição
para participar de uma entrevista, onde poderei dar maiores
informações.
EXPERIÊNCIA
• 2010 – L.O. Baptista Advogados Associados – SP Auxiliar de Biblioteca
• Atendimento aos usuários
• Guarda de Material
• Organização dos materiais nas estantes
• Catalogação dos materiais
• Inserir periódicos no sistema
• Correção do material no sistema da Biblioteca
• Pesquisas
• 2008 – 2009 Associação Alumine São Paulo – SP Auxiliar de Biblioteca.
• Atendimento aos usuários.
• Guarda de Material
• Organização dos materiais nas estantes
• Catalogação dos materiais
• Inserir periódicos no sistema
• Correção do material no sistema da Biblioteca
• 2007- 2008 Universidade Presbiteriana Mackenzie - São Paulo – SP
Estagiario de Biblioteca.
• Atendimento aos usuários.
• Guarda de Material
• Organização dos materiais nas estantes
• Organizar a mapoteca
• Correção do material no sistema da Biblioteca.
86
FORMAÇÃO
Faculdade de Sociologia e Política de São Paulo São Paulo
� Bacharelado de Biblioteconomia e Ciência da Informação, 7º semestre, curso matutino, ano de formação 2.010.
CURSOS • 7° ENCONTRO SOPHIA – REALIZADO NO NOVOTEL JARAGUÁ
SÃO PAULO CONVENTIONS.
PERÍODO 22 E 23 DE OUTUBRO / 2009 – CARGA HORÁRIA - 13 HORAS.
• PARTICIPOU COMO MEMBRO DA COMISSÃO ORGANIZADORA
DA SEMANA COMEMORATIVA DO DIA DO BIBLIOTECÁRIO NA FUNDAÇÃO DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO.
PERÍODO MARÇO / 2009.
• PALESTRA SOBRE O TEMA “BLOGS E FERRAMENTAS DE
REDES SOCIAIS” MINISTRADO PELO SR. TIAGO RODRIGO MARÇAL MURAKAMI.
PERÍODO MARÇO / 2009.
• PEC – PROGRAMA DE ENRIQUECIMENTO CURRICULAR –
RODA DE LEITURA.
PERÍODO OUTUBRO / 2007 – CARGA HORÁRIA – 3 HORAS.
• PEC – PROGRAMA DE ENRIQUECIMENTO CURRICULAR –
CONSERVAÇÃO: ACONDICIONAMENTO DE LIVRO.
PERÍODO OUTUBRO/ 2007 – CARGA HORÁRIA – 3 HORAS.
• PEC – PROGRAMA DE ENRIQUECIMENTO CURRICULAR –
ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO MINISTRADA PELO SR. GUILHERME REIS.
PERÍODO AGOSTO/ 2007 – CARGA HORÁRIA – 3 HORAS.
• SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE BIBLIOTECAS DIGITAIS
BRASIL - REALIZADO NO CENTRO DE CONVENÇÕES
87
REBOUÇAS, SÃO PAULO.
PERÍODO 18 A 20 DE SETEMBRO/ 2007.
• 3º SEMINÁRIO – COMPARTILHAMENTO DE EXPERIÊNCIA DAS
BIBLIOTECAS DO CRUESP
PERÍODO DEZEMBRO/ 2006 – CARGA HORÁRIA - 08 HORAS.
• EQUIPE DE APOIO DO 3°SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE
BIBLIOTECAS DIGITAIS – REALIZADO NO CENTRO DE CONVENÇÕES REBOUÇAS.
PERÍODO 28 NOV. A 01 DEZ. DE 2005.
CURSOS DE APERFEIÇOAMENTO * Informática – nível intermediário. * Inglês – intermediário. * Kumon – matemática
CEL (011 ) 75390292 • EMAIL ba_hypol i [email protected]
RUA FERNANDO PEREIRA, 111 • MAIRIPORÃ, SÃO P AULO. • TELEFONE (011 ) 4604-3454
Top Related