FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ECONOMIA E FINANÇAS – FUCAPE
FILIPE BRESSANELLI AZEVEDO
EFEITO DA TROCA DA FIRMA DE AUDITORIA NO
GERENCIAMENTO DE RESULTADOS DAS COMPANHIAS ABERTAS
BRASILEIRAS
VITÓRIA
2007
FILIPE BRESSANELLI AZEVEDO
EFEITO DA TROCA DA FIRMA DE AUDITORIA NO
GERENCIAMENTO DE RESULTADOS DAS COMPANHIAS ABERTAS
BRASILEIRAS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças (FUCAPE) como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências Contábeis – nível profissionalizante.
Orientador: Prof. Fábio Moraes da Costa, D.Sc.
VITÓRIA
2007
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pelo Setor de Processamento Técnico da Biblioteca da FUCAPE
Azevedo, Filipe Bressanelli.
Efeito da troca da firma de auditoria no gerenciamento de resultados das companhias abertas brasileiras. / Filipe Bressanelli Azevedo. Vitória: FUCAPE, 2007.
54p.
Dissertação – Mestrado. Inclui bibliografia.
1. Gerenciamento de resultados 2. Auditoria I.Fundação
Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças II.Título.
CDD – 657
Dedico este trabalho à minha
esposa, aos meus filhos, aos
meus pais e às minhas irmãs.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus.
À Eliane, minha esposa, pela força e perseverança apresentadas, mesmo nos
momentos mais difíceis vividos durante o período do curso, aos meus filhos Ana
Clara e Filipe Filho, pelo simples fato de existirem, aos meus pais, pelos
ensinamentos passados e pelos exemplos dados, que foram fundamentais na minha
formação pessoal, e ao restante da minha família, pelo apoio e compreensão.
Ao professor Dr. Fábio Moraes da Costa, meu orientador, e ao professor Dr.
Alexsandro Broedel Lopes, pelo incentivo e colaboração na definição e no
desenvolvimento da pesquisa.
Aos professores Dr. Valcemiro Nossa e Dr. Bruno Funchal pelas contribuições
efetuadas nesse trabalho.
Aos demais professores da FUCAPE, especialmente Dr. André Carlos
Busanelli de Aquino e Dr. Marcelo Sanches Pagliarussi, pelo profissionalismo
demonstrado na busca da excelência.
Aos demais empregados da FUCAPE, principalmente os lotados na
biblioteca, que não medem esforços no auxílio aos alunos.
Aos companheiros de turma, pela alegre convivência e pela ajuda e palavras
de apoio que não me deixaram desistir.
À Tereza Pantoja, a quem efetivamente devo a minha participação neste
curso.
Aos meus amigos e colegas de trabalho, pela ajuda direta ou indireta que me
deram e pelo amparo que nem imaginam ter me dado.
RESUMO
Este estudo examinou o efeito da troca da firma de auditoria no gerenciamento de resultados das companhias abertas brasileiras. Entende-se que a troca da firma de auditoria contribua para o aumento da independência da relação cliente-auditoria, que pode ter se deteriorado com o tempo de relacionamento. Como se espera do auditor o constrangimento à prática do gerenciamento de resultados, acredita-se que o aumento da sua independência terá como conseqüência um menor nível de gerenciamento de resultados. Usando cinco métricas e dois modelos de gerenciamento de resultados usualmente utilizados na literatura, verificaram-se evidências estatisticamente significantes de que a troca da firma de auditoria diminuiu o nível de gerenciamento de resultados das empresas brasileiras.
ABSTRACT
This study examined the effect on the audit company changes in the earnings management in Brazilians open capital companies. It is understood that the exchange in the audit company contributes to the increasing interdependency between the client-audit, which may deteriorate as time goes by. As it is expected from the auditor constraints the earnings management, the more independent the auditor, cause the reduction of the level the earnings management. Using five proxies and two models of earnings management commonly using in the literature, there are relevant statistical proofs that the change on the audit firm has diminished the amount of earnings management in Brazilian companies.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1 - Mapa da Troca do Auditor X Qualidade de Auditoria..........................21
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Tabela Resumo dos Critérios de Seleção da Amostra 33
Tabela 2: Resultado das Regressões 34
Tabela 3: Estatísticas descritivas das Métricas de Gerenciamento de Resultados para os Grupos 1 e 2
35
Tabela 4: Estatísticas descritivas das Métricas de Gerenciamento de Resultados para os Grupos 3, 4, 5 e 6
36
Tabela 5: Teste de comparação de médias (teste t) de dois grupos para as Métricas de Gerenciamento de Resultados – Grupos cujos conjuntos de valores estão distribuídos normalmente
37
Tabela 6: Teste de comparação de medianas (Mann-Whitney) de dois grupos para as Métricas de Gerenciamento de Resultados – Grupos cujos conjuntos de valores não estão distribuídos normalmente
38
Tabela 7: Média e mediana de EM1 39
Tabela 8: Estatísticas Descritivas do valor absoluto dos Accruals Discricionários
41
Tabela 9: Teste de comparação de medianas (Mann-Whitney) do grupo de empresas-ano em que houve troca da firma de auditoria e do grupo em que não houve troca – Análise por ano no período de 1998 a 2005
41
Tabela 10: Estatísticas descritivas do valor absoluto dos Accruals Discricionários - Motivação das Trocas de Empresas de Auditoria ocorridas no período de 1998 a 2005
43
Tabela 11: Teste de comparação de medianas (Mann-Whitney) do grupo de empresas-ano em que houve troca da firma de auditoria motivada pelo rodízio obrigatório e do grupo em que houve troca por outros motivos
44
Tabela 12: Estatísticas Descritivas do valor absoluto dos Accruals Discricionários - Análise do Rodízio Obrigatório da Firma de Auditoria (cinco anos de relacionamento com a firma de auditoria predecessora e dos dois anos com a firma de auditoria sucessora)
45
Tabela 13: Teste de comparação de medianas (Mann-Whitney) referente a análise do rodízio obrigatório da firma de auditoria
46
Tabela 14: Análise do valor absoluto dos Accruals Discricionários - Tipo da troca (BIG 4 ou NãoBIG 4)
47
Tabela 15: Teste de comparação de medianas (Mann-Whitney) do grupo de empresas-ano em que houve troca da firma de auditoria por tipo de troca
47
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................9
1.1 MOTIVAÇÃO ................................................................................................9
2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................ ................................................13
2.1 AUDITORIA ................................................................................................13
2.2 TROCA DA EMPRESA DE AUDITORIA .............................................................16
2.3 QUALIDADE DA AUDITORIA E GERENCIAMENTO DE RESULTADOS ....................22
3 METODOLOGIA ........................................ ........................................................24
3.1 HIPÓTESES................................................................................................24
3.2 MEDIDAS DE GERENCIAMENTO DE RESULTADOS ...........................................26
3.2.1 MÉTRICAS DE GERENCIAMENTO DE RESULTADOS ........................................27
3.2.2 MODELO DE JONES MODIFICADO ................................................................29
3.2.3 MODELO KS..............................................................................................31
3.3 SELEÇÃO DA AMOSTRA E ANÁLISE DOS RESULTADOS ...................................32
3.3.1 MÉTRICAS DE GERENCIAMENTO DE RESULTADOS ........................................35
3.3.2 MODELOS DE JONES MODIFICADO E KS......................................................40
4 CONCLUSÃO .......................................... ..........................................................49
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................... ................................................51
9
1 INTRODUÇÃO
1.1 MOTIVAÇÃO
A atividade de auditoria surgiu como parte da evolução do sistema capitalista.
As empresas, anteriormente familiares e de tamanho pequeno, ganharam vulto em
virtude da necessidade de se atender a expansão do mercado e combater o
aumento da concorrência. Passaram, então, a buscar fontes de financiamento junto
a terceiros, primeiramente através de empréstimos e posteriormente por meio de
aberturas de capital (ALMEIDA, 1996).
As demonstrações contábeis1 passaram a ter importância fundamental nesse
processo, tendo em vista as necessidades de informação dos credores e
investidores interessados na empresa. Entretanto, essas demonstrações eram
elaboradas pelos gestores, que a princípio eram os proprietários, havendo a
possibilidade de serem manipuladas com o intuito de atraírem capital. Em função
disso, os investidores passaram a exigir que os relatórios financeiros fossem
examinados por um profissional independente da empresa, logicamente de
reconhecida capacidade técnica (ALMEIDA, 1996).
A veracidade das informações constantes das demonstrações financeiras
passou a ser analisada por alguém não ligado aos negócios das empresas dando
oportunidade ao aparecimento do auditor independente (ATTIE, 1998).
Mautz (1980, p. 15) entende que “a auditoria procura determinar se as
demonstrações e respectivos registros contábeis de uma empresa ou entidade
merecem ou não confiança”.
1 Os termos “demonstrações financeiras”, “demonstrações contábeis”, “relatórios financeiros” e “relatórios contábeis” serão utilizados nesse estudo como sendo as informações contábeis obrigatórias e acessórias da empresas.
10
Atuando de maneira imparcial, a auditoria verifica se os relatórios financeiros
representam adequadamente a situação da empresa, propiciando confiabilidade e
influenciando nas decisões de investimento e de financiamento, funções essenciais
ao desenvolvimento das corporações modernas.
Percebe-se que a independência é atributo indispensável ao trabalho de
auditoria, porém uma questão pode comprometê-la. A contratação e a respectiva
remuneração da firma de auditoria são realizadas pela empresa que terá suas
demonstrações financeiras auditadas, podendo surgir conflitos de interesses.
Uma opinião sobre as demonstrações que, apesar de correta, não agrade aos
contratantes, pode comprometer uma renovação de contrato, e essa conseqüência
pode impactar a independência do trabalho dos auditores.
Por outro lado, sendo a empresa de auditoria conivente com escolhas
contábeis que omitam a realidade e/ou que beneficiem o contratante em detrimento
de outros stakeholders, como por exemplo credores e investidores, pode garantir um
longo período de relacionamento.
A discordância de opinião que leva algumas empresas a trocar de firmas de
auditoria pode estar associada a uma vontade oportunística do gestor, preocupando
os reguladores (DEFOND e SUBRAMANYAM, 1998).
Os longos mandatos também preocupam os reguladores, que visualizam a
possibilidade da diminuição da independência da auditoria. Defensores da
rotatividade obrigatória de firmas de auditoria argumentam que longos mandatos
levam a uma maior intimidade com o cliente, reduzindo a independência do trabalho
(DEFOND e FRANCIS, 2005; GEIRGER e RAGHUNANDAN, 2002; NAGY, 2005).
11
George (2004) diz que os críticos da profissão de auditoria têm sugerido o
rodízio obrigatório como forma de minimizar a percepção de que longos anos de
relacionamento auditor-cliente impactam na independência dessa relação.
A mudança compulsória de firmas de auditoria ganhou força devido ao
acontecimento recente de escândalos contábeis. Em 1996, em virtude das quebras
dos bancos Econômico e Nacional, ocorridas no ano anterior, o Banco Central do
Brasil instituiu o rodízio obrigatório para as instituições financeiras.
Ainda sob efeito da quebra dos citados bancos, que eram empresas de capital
aberto, em 1999 a Comissão de Valores Mobiliários implantou o rodízio obrigatório
para as companhias abertas brasileiras. Além disso, tornou proibida a prestação
concomitante de serviços de consultoria e de auditoria ao mesmo cliente.
Nos Estados Unidos, após as recentes fraudes contábeis envolvendo
companhias abertas norte-americanas, descobertas a partir de 2001, com destaque
para a falência da Enron, que culminou no desaparecimento do mercado de uma
grande multinacional de auditoria, a Arthur Andersen, foi sancionada a Lei Sarbanes-
Oxley (SOX), que aumentou a vigilância sobre o setor contábil do país, além de
outras providências (BERGAMINI JR, 2002).
O longo relacionamento existente entre a Enron e a empresa de auditoria
Arthur Andersen, uma das cinco maiores do mundo à época, que se aproximava dos
10 anos (FEIGL et al., 2005), trouxeram para o centro do debate a questão da
independência do auditor.
A SOX proibiu a prestação paralela de serviços de auditoria e consultoria,
assim como a norma brasileira, mas não instituiu o rodízio obrigatório, apesar de
haver interessados em fazê-lo (DEFOND e FRANCIS, 2005).
12
Os opositores do rodízio periódico alegam que existem custos associados a
essa troca, tanto para o cliente como para a empresa de auditoria (GEIRGER e
RAGHUNANDAN, 2002; GHOSH e MOON, 2005). Os custos de start up, como são
conhecidos, se referem basicamente ao tempo gasto, tanto pelo contratante como
pelo contratado, para a firma de auditoria conhecer o novo cliente.
Defendem que a qualidade da auditoria não é apenas decorrente da
independência, teoricamente aumentada pela troca da empresa de auditoria, mas
envolve outros fatores como o conhecimento específico sobre o cliente, diminuído
nesse processo de mudança (DEANGELO, 1981; JOHNSON, 2002 e MYERS,
2003).
Considerando que os gestores possuem incentivos para manipular os
resultados contábeis, objetivando melhorar o valor da empresa e/ou o seu próprio
bem estar (BECKER et al. 1998), entende-se ser função da auditoria independente
coibir essa prática, conhecida como gerenciamento de resultados.
Diante disso, este estudo se propõe a investigar empiricamente a seguinte
questão: A mudança da firma de auditoria impacta no gerencia mento de
resultados das companhias listadas na Bovespa?
13
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 AUDITORIA
Com o aparecimento das modernas corporações, das quais a separação
entre a propriedade e o controle é a principal característica, surgiram também os
chamados conflitos de agência. Esses conflitos são, geralmente, decorrentes do
desalinhamento entre os interesses pessoais dos proprietários do capital (acionistas)
e dos agentes contratados para administrá-lo (gestores), e, não sendo devidamente
controlados, podem levar, inclusive, ao encerramento das atividades da corporação
(FAMA e JENSEN, 1983 e JENSEN e MECKLING, 1976).
Esses problemas de agência não ocorrem somente na relação entre os
gestores principais e os proprietários, mas em todas as demais relações existentes
na corporação, sejam elas internas ou externas, tais como as com credores, com
fornecedores e com empregados (JENSEN e MECKLING, 1976).
Existem, ainda, os conflitos de agência entre os acionistas majoritários
(controladores) e os minoritários. Como os controladores contratam os agentes,
esses atuam mais alinhados aos seus interesses do que aos interesses dos demais
investidores (FAMA e JENSEN, 1983; e JENSEN e MECKLING, 1976 e ROE, 2004).
Em função desses conflitos de interesses, as organizações incorrem em
custos, conhecidos como custos de agência, que Jensen e Meckling (1976),
observando principalmente os problemas de agência envolvendo stockholders e
agentes, definem como o somatório dos(as):
• Custos de monitoramento das ações dos agentes;
14
• Custos dos incentivos para alinhamento dos interesses dos agentes com
os dos proprietários; e
• Perdas residuais em razão do desalinhamento entre os interesses dos
proprietários e dos agentes.
A auditoria é amplamente vista como um mecanismo de redução dos custos
de agência (JENSEN e MECKLING, 1976; WATTS e ZIMMERMAN, 1983; FRANCIS
e WILSON, 1988). Isso ocorre por causa da assimetria de informação existente entre
os gestores e os demais stakeholders das empresas, principalmente os externos à
firma.
Os investidores de uma companhia aberta, por exemplo, não sabem se o
capital alocado na empresa está sendo aplicado pelos gestores da forma mais
vantajosa para eles e, por isso, necessitam de mecanismos que minimizem essa
assimetria informacional, sendo as demonstrações financeiras da corporação os
mais comumente utilizados.
Como os relatórios financeiros são os principais meios de comunicação com
os stakeholders externos à firma (JOHNSON et al., 2002) e a auditoria é quem
certifica a fidedignidade das informações constantes desses relatórios, é possível
entender a verdadeira importância dessa função para o mercado.
Segundo Becker et al. (1998), a auditoria reduz as assimetrias de informação
existentes entre os gestores e os demais interessados na empresa, possibilitando
que os externos aos limites da firma acreditem nas demonstrações financeiras.
Essa certificação é realizada por auditores independentes, conhecidos
também por auditores externos, que, como o próprio nome sugere, devem possuir
independência para emitir opinião sobre as demonstrações financeiras de forma
15
imparcial. A independência existe pelo fato de não serem empregados das firmas
auditadas, não possuindo, dessa forma, vinculo à estrutura organizacional das
mesmas.
Os auditores internos não têm como função emitir opinião sobre os relatórios
financeiros (JUND, 2002), pois, apesar de poderem emiti-la, não são vistos pelos
indivíduos externos à firma como profissionais capazes de dar pareceres neutros,
devido a sua menor independência. Suas funções estão mais relacionadas a
atividades de supervisão interna e de assessoramento da alta direção da empresa
da qual, geralmente, são empregados. Dessa forma, apesar da auditoria interna até
contribuir para esse fim, as citadas diminuições das assimetrias informacionais e dos
custos de agência ocorrem pela atuação da auditoria independente ou externa, que,
por isso, é o foco desse trabalho.
Além de atestar a veracidade das informações constantes das demonstrações
financeiras da organização, os auditores externos têm como obrigação verificar se
as mesmas foram elaboradas observando as práticas contábeis adotadas no
respectivo país.
Apesar da função do auditor independente ser de interesse público, ou seja,
comum a todos os stakeholders da firma, a sua contratação é realizada, geralmente,
pelos gestores da empresa, que nem sempre possuem os mesmos interesses dos
demais participantes dessa relação. Surgem, então, outros conflitos de agência, pois
a atuação do auditor no interesse de todos stakeholders pode comprometer a
renovação de um contrato, com a conseqüente perda de receita.
Por outro lado, a tolerância com algumas escolhas contábeis de gestores
pode garantir, além da manutenção do cliente por vários exercícios, aumentos
substanciais nos honorários no momento das renovações contratuais.
16
2.2 TROCA DA EMPRESA DE AUDITORIA
As empresas trocam de auditoria por inúmeros motivos. Dentre eles pode-se
citar a mudança do ambiente corporativo, a busca pela melhoria da imagem junto a
investidores e a redução de custos. Geralmente essas mudanças buscam trazer
benefícios para a empresa. Entretanto, uma possibilidade para troca da firma de
auditoria é bastante preocupante: a discordância de procedimentos entre o cliente e
o auditor.
Essa discordância pode ocorrer por diferença de entendimentos, porém pode
ocorrer em virtude de uma vontade oportunística do gestor, que preocupa
particularmente os reguladores. Existem significantes evidências de que, por causa
do risco de problemas judiciais inerente à profissão (litigation risk), os auditores
preferem escolhas contábeis mais conservadoras (DEFOND e SUBRAMANYAM,
1998) e isso faz com que alguns gestores mudem de firma de auditoria, buscando
auditores menos exigentes.
A empresa de auditoria também pode rejeitar-se a prestar serviços a
determinados clientes. Isso ocorre geralmente quando o cliente passa por graves
problemas financeiros (TURNER et al., 2005).
Talvez por esses motivos, essas mudanças não sejam muito bem vistas pelos
investidores e intermediários da informação financeira (GHOSH e MOON, 2005).
Existe, ainda, a rotatividade periódica do auditor imposta pelo regulador, que
tem o propósito de melhorar a qualidade dos serviços prestados pelas empresas de
auditoria, através do teórico aumento da independência.
17
Defensores do rodízio argumentam que, além do ganho de independência, os
auditores tendem a ser mais displicentes quando auditam a mesma empresa
durante vários anos, aumentando o risco de falha e, consequentemente, reduzindo a
qualidade do serviço de auditoria. Isso ocorre em função do conhecimento que os
auditores acreditam ter da empresa (lower skepticism), levando-os, por exemplo, a
reutilizar papéis de trabalho antigos e a não refazer testes sobre o exercício
atualmente auditado (AREL et al., 2005).
Segundo Myers et al. (2003), a proposta de limitar o mandato do auditor é
baseada na noção de que longos períodos resultam numa maior complacência e na
possibilidade de cumplicidade nas decisões relativas a apresentação dos relatórios
financeiros.
Nagy (2005) afirma que os defensores do rodízio compulsório de firmas de
auditoria argumentam que o novo auditor é mais desconfiado e realiza seu trabalho
com nova perspectiva, que talvez possa estar faltando aos profissionais com longos
anos de relação.
Os opositores do rodízio periódico alegam que existem custos associados a
essa troca, tanto para o cliente como para a empresa de auditoria (GEIGER e
RAGHUNANDAN, 2002; GHOSH e MOON, 2005). Conhecimentos específicos sobre
o cliente, como as próprias operações, os sistemas contábeis e a estrutura de
controle interno, são fundamentais para o desenvolvimento satisfatório dos
trabalhos, constituindo-se, no início do relacionamento, em um custo para a empresa
de auditoria (GHOSH e MOON, 2005).
Caso a recém contratada não possua experiência no setor econômico do
novo cliente, o que geralmente ocorre com as empresas de auditoria menores, esse
custo pode ser ainda maior. E, apesar desse investimento, os pontos críticos de
18
cada companhia, na maioria das vezes, somente são percebidos após alguns anos
de relação, aumentando o risco do auditor emitir opinião equivocada.
O cliente também incorre em custos adicionais, tanto na seleção da nova
firma de auditoria, como na mão-de-obra destacada para ajudar o novo auditor a
entender a empresa (BLOUIN et al., 2005).
Estudos empíricos internacionais, que não tratam exclusivamente da
independência, buscaram examinar a relação entre a qualidade da auditoria e o
mandato da firma de auditoria.
Nagy (2005) encontrou evidências de que longos períodos de relacionamento
não estão associados à diminuição da qualidade da auditoria, e sim à sua melhora.
Johnson et al. (2002) observaram evidências de que curtos relacionamentos
entre o auditor e o cliente (dois a três anos) estão mais associados à queda da
qualidade dos relatórios financeiros do que médios relacionamentos (quatro a oito
anos). O mesmo teste não encontrou evidências de que longos períodos (nove ou
mais anos) pioram a qualidade das demonstrações financeiras em relação aos
médios mandatos.
Myers et al. (2003) afirmam que os resultados dos testes realizados sugerem
que longos mandatos do auditor causam maiores constrangimentos a
gerenciamentos extremos dos relatórios de desempenho financeiro.
Geiger e Raghunandan (2002), usando uma amostra de empresas que
entraram em falência, indicam existirem mais falhas nos relatórios de auditoria
durante os primeiros anos da relação auditor-cliente do que quando o mandato do
auditor é mais longo.
19
A percepção da qualidade da auditoria pelos investidores e intermediários da
informação (agências independentes de rating e analistas financeiros) através do
tamanho do mandato dos auditores também foi pesquisada. Ghosh e Moon (2005)
encontraram resultados consistentes de que os investidores e intermediários da
informação acreditam que maiores períodos de relacionamento entre o auditor e o
cliente são salutares para qualidade da auditoria. Sendo a troca do auditor não muito
bem vista pelo mercado, a exigência de rodízio obrigatório poderia até confundir
analistas e investidores, pois o gestor poderia utilizar o prazo do rodízio para
esconder a sua vontade de trocar a empresa de auditoria, sob uma ótica
oportunística, sem sofrer julgamento do mercado por isso.
Entre os poucos estudos empíricos encontrados sobre o assunto, que dão
suporte a existência do rodízio obrigatório estão o de Dopuch et al. (2001), que
encontraram evidências de que o rodízio obrigatório reduz a disposição do auditor
de emitir relatórios enviesados.
Gietzmann e Sem (2002), comparando os custos e os benefícios do rodízio
obrigatório de firmas de auditoria, concluíram que, em algumas circunstâncias, se
trata de um procedimento válido.
Alguns estudos verificados sugerem que o rodízio de firmas de auditoria não
seja o mais apropriado instrumento para a melhoria da qualidade da auditoria.
Um recente estudo do The General Accounting Office (órgão governamental
norte-americano) chegou à conclusão de que o rodízio obrigatório pode não ser o
mais eficiente caminho para fortalecer a independência do auditor (NAGY, 2005).
Acredita-se que ele até tenha impacto na melhora da independência do auditor, mas
não, necessariamente, na melhoria da qualidade da auditoria.
20
Myers et al. (2003) sugerem que o ponto central da discussão sobre o
mandato do auditor não deva ser a independência, mas sim a qualidade dos
resultados financeiros.
Johnson et al. (2002) entendem que a capacidade do auditor em melhorar a
qualidade dos relatórios financeiros depende da probabilidade de detectar falhas ou
omissões nas informações e o comportamento subseqüente à verificação destas. Se
após a detecção da falha, a mesma é corrigida ou relatada, a qualidade das
informações é melhorada.
DeAngelo (1981) define qualidade da auditoria como a probabilidade de
detectar e relatoriar os erros das demonstrações financeiras, que depende, apenas
em parte, da independência do auditor. Apesar da independência ser usualmente
vista como a característica fundamental do auditor, ela impacta apenas no fato de
relatar ou não os problemas encontrados. Entretanto, para detecção das falhas o
auditor necessita, dentre outros, de profundos conhecimentos sobre os clientes, que
dificilmente são agregados instantaneamente numa troca de firmas de auditoria.
Dessa forma, até entende-se que a troca do auditor impacta positivamente
sobre a independência do auditor, mas, ao mesmo tempo, impacta negativamente
sobre o conhecimento específico que o auditor possui sobre o cliente. Para melhor
entendimento do problema observe a figura 1.
21
Fonte: Adaptado de Wooten (2003) Figura 1: Mapa da Troca do Auditor X Qualidade de A uditoria
Existem várias outras variáveis que afetam a qualidade da auditoria e
poderiam estar contidas nesse mapa, como por exemplo, a execução de serviços de
consultoria paralelamente aos serviços de auditoria, que, na teoria, tem impacto
negativo sobre a independência e positivo sobre o conhecimento do cliente, mas não
fazem parte do escopo desse estudo. Como foi visto neste estudo, essa atuação
paralela, que também foi observada no caso Enron, foi recentemente proibida tanto
no mercado de capitais americano (Lei Sarbanes-Oxley/2002) quanto no brasileiro
(1999).
Afeta Positivamente
Afeta Negativamente
Troca do Auditor
Conhecimento do auditor sobre o cliente Independência
Encontrar falhas Relatar falhas
Qualidade da auditoria
22
2.3 QUALIDADE DA AUDITORIA E GERENCIAMENTO DE RESULTADOS
Sabe-se que os gestores possuem incentivos naturais para ajustar os
resultados visando melhorar o valor da empresa e/ou o seu próprio bem estar
(BECKER et al. 1998). Dentre esses incentivos se destacam a remuneração por
resultado, os covenants do passivo e os custos políticos das empresas (WATTS e
ZIMMERMAN, 1986 apud HIRST, 1994).
Aproveitando-se da assimetria de informação existente, os gestores utilizam
escolhas contábeis por razões oportunísticas e acabam por interferir no resultado da
empresa, geralmente expropriando algum outro stakeholder, como investidores,
credores ou governo. A essa prática se dá o nome de gerenciamento de resultados.
Martinez (2001) afirma que o gerenciamento dos resultados contábeis
caracteriza-se fundamentalmente como alteração proposital dos resultados
contábeis, visando alcançar motivação particular. Complementa afirmando não
tratar-se de fraude contábil, pois a atuação ocorre onde a legislação e as normas
contábeis permitem certa discricionariedade ao gestor.
Apesar do caráter legal, espera-se do auditor o constrangimento à prática do
gerenciamento de resultados, visto que essas discricionariedades podem ser
utilizadas pelo gestor em benefício próprio, como, por exemplo, nas bonificações
atreladas ao lucro do exercício, que motivam o gestor a maximizá-lo naquele
período.
Existindo a possibilidade da utilização do gerenciamento de resultados em
benefício dos gestores e/ou acionistas controladores em detrimento dos outros
stakeholders, e sendo objetivo da auditoria independente reprimir esse
23
procedimento, entende-se que quanto menor o nível de gerenciamento de
resultados apresentado pela empresa, melhor a qualidade da auditoria.
Talvez por isso, o gerenciamento de resultados contábeis tem sido utilizado
como métrica para qualidade de auditoria em vários estudos (BECKER et al., 1998;
DEFOND e JIAMBALVO, 1994; KIM et al., 2003; MYERS et al., 2003).
Martinez (2001) sugeriu a realização de pesquisas visando a verificação da
hipótese de que quanto mais independente for a firma de auditoria, menor será a
propensão para que esta tolere o gerenciamento de resultados contábeis, o que
corroboraria a visão dos reguladores brasileiros quando da instituição do rodízio
obrigatório de firmas de auditoria.
24
3 METODOLOGIA
3.1 HIPÓTESES
Considerando esses fatos e a carência desse tipo de estudo utilizando como
base informações relativas ao mercado de capitais brasileiro, o objetivo geral deste
estudo é verificar os efeitos da mudança da firma de auditoria no gerenciamento de
resultados das companhias abertas brasileiras e, assim, contribuir para toda essa
discussão, inclusive sobre a conveniência do rodízio obrigatório de auditores.
Especificamente, apesar de não se buscar nesse trabalho a obtenção e nem
a análise do motivo da troca da empresa de auditoria, pretende-se verificar se as
mudanças motivadas pelo rodízio obrigatório apresentaram alguma peculiaridade
em relação às demais.
Da mesma forma, buscar-se-á verificar se as trocas de tipos diferentes
apresentaram resultados diversos, sendo considerados os quatro tipos de mudança
a seguir dispostos:
• De grande firma de auditoria para outra grande;
• De grande firma de auditoria para uma pequena;
• De pequena firma de auditoria para uma grande; e
• De pequena firma de auditoria para outra pequena.
Para efeito desse trabalho serão consideradas grandes firmas de auditoria as
maiores multinacionais do setor, atualmente conhecidas como Big Four (Deloitte
Touche Tomatsu, KPMG, PriceWaterhouseCoopers e Ernst & Young). Como no ano
de 1998, período inicial da nossa amostra, existiam outras duas grandes empresas
25
multinacionais no setor (Big Six), a Coopers & Lybrand, fundida à PriceWaterhouse
em 1998/1999, e a Arthur Andersen, excluída do mercado em 2002, as mesmas,
quando verificadas, serão consideradas grandes empresas de auditoria. As demais
firmas de auditoria serão consideradas pequenas.
Apesar da maioria dos estudos internacionais pesquisados apresentarem
resultados adversos, visando testar a crença dos reguladores brasileiros de que
assegurando a independência através da mudança da firma de auditoria, a
qualidade dos serviços de auditoria é melhorada, a hipótese principal do trabalho é a
seguinte:
H1: A troca da firma de auditoria diminui o nível de gerenciamento de
resultados das companhias abertas listadas na Boves pa.
Não se rejeitando a hipótese principal, faz-se relevante testar o impacto das
trocas de firma de auditoria motivadas pelo rodízio obrigatório no gerenciamento de
resultados das companhias listadas na Bovespa, sendo uma das hipóteses
complementares do trabalho a seguinte:
H2: A troca da firma de auditoria, ocorrida em função do rodízio
obrigatório, diminui o nível de gerenciamento de re sultados das
companhias abertas listadas na Bovespa.
Essas hipóteses (H1 e H2) se baseiam na possibilidade do ganho advindo da
maior independência, causado pela troca da empresa de auditoria, ter maior impacto
na mitigação do gerenciamento de resultados do que a perda de conhecimento
específico sobre o cliente. Não sendo essas hipóteses rejeitadas, há indícios de que
os reguladores estavam corretos quando impuseram às companhias abertas
brasileiras o rodízio obrigatório de firmas de auditoria.
26
A outra hipótese complementar deste estudo trata do tipo da troca de
auditoria:
H3: Os tipos de mudança da firma de auditoria apresen tam efeitos
diferenciados na diminuição do nível de gerenciamen to de resultados
das companhias abertas listadas na Bovespa.
A hipótese (H3) será testada visando verificar se existe diferença na
magnitude da diminuição do nível de gerenciamento de resultados entre os tipos de
troca de firmas de auditoria. Espera-se que as trocas de grandes firmas de auditoria
por pequenas apresentem diminuição do gerenciamento de resultados em níveis
mais baixos, enquanto as trocas de pequenas firmas por grandes apresentem níveis
mais altos na diminuição do gerenciamento de resultados, em virtude de acreditar-se
que as grandes empresas de auditoria possuam um maior número de profissionais
qualificados e uma maior probabilidade de conhecerem as peculiaridades do setor
do novo cliente, em função da maior participação no mercado. Nas trocas de
grandes firmas de auditoria por outras grandes e de pequenas por outras pequenas,
esperam-se níveis intermediários de diminuição do gerenciamento de resultados.
3.2 MEDIDAS DE GERENCIAMENTO DE RESULTADOS
Buscando maior confiabilidade dos resultados, o gerenciamento de resultados
será medido utilizando-se as métricas usadas por Lopes et al. (2007) e dois modelos
de estimação de accruals discricionários. Um deles é o modelo de Jones (1991)
modificado por Dechow et al. (1995), conhecido como modelo de Jones Modificado,
e o outro é o modelo desenvolvido por Kang e Sivaramakrishnan (1995), conhecido
por modelo KS.
27
3.2.1 Métricas de Gerenciamento de Resultados
Lopes et al (2007) utilizaram cinco métricas, quatro com base no estudo de
Leuz et al. (2003) e uma utilizada no trabalho de Pincus e Rajgopal (2002 apud
LOPES et al., 2007), visando captar várias dimensões do gerenciamento de
resultados. O cálculo da primeira métrica (EM1) é efetuado observando a Equação
1. Foram mantidas as siglas originais, porém com a identificação do nome utilizado
usualmente no Brasil.
)(/)(11
1−−
=t
t
t
t
ATOpCashFlow
ATOpIncome
EM σσ (1)
Onde:
=tOpIncome lucro operacional em t;
tOpCashFlow = fluxo de caixa operacional2 em t;
1−tAT = ativo total em t-1.
Valores baixos de EM1 indicam a prática de suavização de resultados pelos
gestores da empresa (LEUZ et al., 2003 e LOPES et al., 2007), por meio do
gerenciamento de resultados.
A segunda métrica (EM2) é calculada de acordo com a Equação 2 e mede a
correlação entre os accruals e os fluxos de caixa da empresa. Espera-se uma
correlação negativa entre os accruals e os fluxos de caixa, sendo que altos níveis
dessa correlação indicam a prática de suavização de resultados através de
gerenciamento das discricionariedades pelos gestores (DECHOW, 1994; LEUZ et
al., 2003; LOPES et al., 2007).
)( ,11
2−−
∆∆=t
t
tt ATOpCashFlow
ATACT
EM ρ (2)
2 O fluxo de caixa operacional, por não ser de apresentação obrigatória no Brasil, foi calculado subtraindo-se os accruals totais do lucro operacional. Os accruals totais são calculados de acordo com a equação 7.
28
Onde:
tACT∆ = variação dos accruals totais em t; OpCashFlow∆ = variação do fluxo de caixa operacional em t;
1−tAT = ativo total em t-1.
A terceira métrica (EM3) mede o nível de gerenciamento de resultados
usando o tamanho dos accruals como proxy (DECHOW, 1994; LEUZ et al., 2003;
LOPES et al., 2007) e é calculada através da Equação 3.
tCashFlowACTEM tt /)/(∑=3 (3)
Onde:
tACT = accruals totais em t;
tCashFlow = fluxo de caixa em t; t = nº de exercícios utilizados.
A quarta métrica (EM4) se baseia na possibilidade do gestor utilizar o
gerenciamento de resultados com o intuito de evitar pequenas perdas,
transformando-as em pequenos lucros. Dessa forma, EM4 é calculada pela razão
entre o número de pequenos lucros e o número de pequenas perdas, sendo
considerados assim os valores resultantes da divisão do resultado líquido do
exercício pelo ativo total que se encontrarem entre 0,00 e 0,01 (pequenos lucros) e
entre -0,01 e 0,00 (pequenas perdas).
SmlossSmprofitEM /=4 (4)
Onde:
Smprofit = número de pequenos lucros (entre 0,00 e 0,01); Smloss = número de pequenos prejuízos (entre -0,01 e 0,00).
A quinta métrica (EM5), a única delas baseada nos estudos de Pincus e
Rajgopal (2002 apud LOPES et al., 2007), mostra como as discricionariedades
podem ser usadas para reduzir a volatilidade dos resultados líquidos do exercício.
29
Se EM5, que é calculada conforme a Equação 5, for maior que 1, existem evidências
de gerenciamento de resultados (LOPES et al., 2007).
)(/)(11
5−−
=t
t
t
t
ATNetIncome
ATomeNonDiscInc
EM σσ (5)
Onde:
ttt ANDOpCashFlowomeNonDiscInc += ;
tNetIncome = Lucro Líquido em t;
1−tAT = ativo total em t-1.
Os accruals não discricionários ( tAND ) são obtidos através do modelo de
Jones modificado (Equação 8). Sabendo-se que ttt ADANDACT += e tAD
(accruals discricionários) são os erros da regressão ( tε ), então tAND será calculado
de acordo com a Equação 6, utilizando os valores dos coeficientes ),( 321 ααα e
encontrados na regressão da Equação 8.
)/()/)(()/( 131211 1 −−− +∆−∆+= ttttt ATPPEATRECREVATAND ααα (6)
Onde:
tAND = accruals não discricionário em t;
1−tAT = ativo total em t-1;
tREV∆ = variação da receita líquida no período t;
tREC∆ = variação de contas a receber no período t;
tPPE = permanente no período t;
321 ααα e, = coeficientes da regressão.
3.2.2 Modelo de Jones Modificado
Apesar do modelo original de Jones (1991) para o cálculo dos accruals
discricionários ser o mais encontrado em trabalhos semelhantes a esse (DEFOND e
JIAMBALVO, 1994; DEFOND e SUBRAMANYAM, 1998), será utilizado o modelo de
Jones modificado por Dechow, Sloan & Sweeney (1995), também utilizado para
medir a qualidade da auditoria (FERDINAND et al. 2003), por ser o modelo mais
30
comumente utilizado em pesquisas envolvendo gerenciamento de resultado
(ALMEIDA, 2006).
Nesse modelo, assim como no original de Jones (1991), se calculam os
accruals totais da forma exposta na Equação 7. Foram mantidas as siglas originais,
porém com a identificação do nome utilizado usualmente no Brasil, tendo em vista
um melhor entendimento, seguindo Almeida et al. (2006).
1−−∆+∆−∆−∆= ttttttt ATDEPSTDCashCLCAACT /)( (7)
Onde:
tACT = accruals totais em t;
tCA∆ = variação no ativo circulante em t;
tCL∆ = variação em passivo circulante em t;
tCash∆ = variação em caixa e equivalentes em t;
tSTD∆ = variação em financiamento de curto prazo no passivo circulante em t;
tDEP = depreciação e amortização no período t;
1−tAT = ativo total em t-1.
Sabendo o valor dos accruals totais, monta-se a função de regressão,
disposta na Equação 8, para calcular o valor dos accruals discricionários.
tttttttt ATPPEATRECREVATACT εααα ++∆−∆+= −−− )/()/)(()/( 131211 1 (8)
Onde:
1−tAT = ativo total em t-1.
tREV∆ = variação da receita líquida no período t;
tREC∆ = variação de contas a receber no período t;
tPPE = permanente no período t;
tε = resíduos da regressão, acumulação discricionária.
321 ααα e, = coeficientes da regressão
Os accruals discricionários serão os resíduos ( tε ) da regressão. Quanto mais
distante de zero (positivamente ou negativamente) for o resíduo, maior será o nível
31
de gerenciamento de resultados. Logicamente, quanto mais próximo de zero, menor
será o nível de gerenciamento.
3.2.3 Modelo KS
O modelo KS demanda maior número de variáveis contábeis e é tido como
tecnicamente mais robusto que o modelo de Jones. Porém, esse volume maior de
dados se torna um fator redutor do tamanho da amostra (MARTINEZ, 2001).
Nesse modelo, calculam-se os accruals discricionários através da regressão
da Equação 9.
[ ] [ ] [ ] ttttttttt ATPPEATEXPATREVATAB εδαδαδα +++= −−−− 1331221111 //// (9)
Onde:
tttttt DEPCLOCAINVARAB −−++= = accrual balance no período t;
tAR = contas a receber, excluindo impostos a compensar no período t;
tINV = estoque no período t;
tOCA = outros ativos circulantes excluindo caixa, contas a receber e estoques no período t;
tCL = passivos circulantes excluindo impostos a pagar no período t;
tDEP = depreciação no período t;
1−tAT = ativo total em t-1;
tREV = receita Líquida no período t;
tEXP = despesas operacionais antes da depreciação no período t;
tPPE = permanente no Período t;
tε = resíduos da regressão, acumulação discricionária.
111 −−= tt REVAR /δ
11112 −−−− −+= tttt EXPCLOCAINV /δ
113 −−= tt PPEDEP /δ
321 ααα e, = coeficientes da regressão
Assim como no modelo de Jones modificado, os accruals discricionários
serão os resíduos ( tε ) da regressão. Quanto mais distante de zero (positivamente ou
32
negativamente) for o resíduo, maior será o nível de gerenciamento de resultados.
Logicamente, quanto mais próximo de zero, menor será o nível de gerenciamento.
3.3 SELEÇÃO DA AMOSTRA E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Este trabalho estuda as trocas de firmas de auditoria realizadas pelas
empresas listadas na Bolsa de Valores do Estado de São Paulo (BOVESPA), no
período de 1998 a 2005.
Os dados contábeis foram extraídos no software Economática e as
informações referentes às empresas de auditoria extraídas dos sites da CVM e da
Bovespa.
Foram retiradas da amostra de todas(os) as(os) métricas/modelos
utilizadas(os) as empresas do setor econômico “Finanças e Seguros” devido às
regras específicas a que estão sujeitas, seguindo a maioria dos estudos verificados
sobre o assunto (BECKER et al. 1998; DEFOND e SUBRAMANYAM, 1998; KIM et
al., 2003; MARTINEZ, 2001; MYERS et al., 2003).
Foram retiradas da amostra as empresas que não apresentaram valor para o
cálculo dos accruals totais para, no mínimo, um exercício do período analisado.
A essa amostra foram agregadas as informações referentes às empresas de
auditoria, extraídas dos sites da CVM e da Bovespa entre os dias 07 e 13 de outubro
de 2006 e revisados entre os dias 10 e 20 de janeiro de 2007. Foram excluídas as
empresas-ano onde não se pôde confirmar a manutenção ou a troca da empresa de
auditoria.
33
Por fim, foram excluídas as empresas que não possuíam no mínimo um ano
com troca de firma de auditoria e valores para o cálculo dos accruals totais. Na
Tabela 1, verifica-se o resumo dos critérios de seleção da amostra.
As amostras ao final dos critérios de corte foram utilizadas para rodar as
regressões para o cálculo dos accruals discricionários, que, no caso das métricas de
gerenciamento de resultados, foi realizada utilizando-se o modelo de Jones
Modificado seguindo Lopes et al. (2007).
Os resultados das regressões encontram-se dispostos na Tabela 2.
34
Para todas as regressões realizadas, utilizando-se os dois modelos,
considerou-se bons os resultados tendo em vista o Valor p de 0,000, o FIV (Fator
Inflacionário da Variância) próximos a 1, indicando não haver multicolinearidade
entre as variáveis explanatórias, e o teste de Durbin-Watson entre 1 e 2, significando
não haver autocorrelação entre as variáveis independentes.
35
3.3.1 Métricas de Gerenciamento de Resultados
Buscando confirmar ou refutar as hipóteses desse estudo, inicialmente
verificou-se o efeito troca da firma de auditoria no gerenciamento de resultados das
empresas, através da utilização das cinco métricas de gerenciamento de resultados
utilizadas por Lopes et al. (2007).
Primeiramente, selecionou-se, das 245 empresas da amostra para esse
método (Tabela 1), aquelas que possuíam dados contábeis nos três anos
imediatamente anteriores à troca da firma de auditoria e nos três anos
imediatamente posteriores. Com isso a amostra desse método foi reduzida para 98
empresas. Montou-se dois grupos com as mesmas empresas, sendo um deles
(grupo 1) com os dados referentes aos anos em que a empresa foi auditada pela
firma de auditoria predecessora e o outro (grupo 2) com os dados dos anos
auditados pela sucessora.
Assim, foram calculadas as cinco métricas para cada empresa dos grupos 1 e
2, estando as estatísticas descritivas expostas na Tabela 3.
Outra análise efetuada por meio das cinco métricas utilizadas por Lopes et al.
(2007) se baseou no entendimento de que, se a troca da firma de auditoria diminui o
36
gerenciamento de resultados, as empresas que mudaram de firma de auditoria mais
vezes tendem a possuir níveis mais baixos de gerenciamento de resultados.
Dessa forma, as empresas dessa amostra (245 empresas) foram divididas em
quatro grupos, sendo um com empresas que trocaram uma única vez de firma de
auditoria (grupo 3), um com empresas que tiveram duas mudanças de auditoria
(grupo 4), um com empresas com três trocas (grupo 5) e o último com empresas que
mudaram quatro ou cinco vezes de firma de auditoria (grupo 6), todos tomando por
base o período de tempo utilizado nesse trabalho, ou seja, entre os anos de 1998 a
2005.
As estatísticas descritivas dos cálculos das cinco métricas para esses grupos
se encontram disposto na Tabela 4.
37
Pelo fato de existirem conjuntos de valores para as métricas de
gerenciamento de resultados de alguns grupos que não se encontram distribuídos
normalmente, para efeito de comparação foram utilizados dois testes estatísticos,
um paramétrico e outro não-paramétrico. Para a comparação dos conjuntos de
valores que possuíam valores distribuídos normalmente, foi utilizado o teste t para
comparação das médias (Tabela 5). Para as comparações em que pelo menos um
dos grupos não possuía os valores distribuídos normalmente, foram realizados
testes não-paramétricos de Mann-Whitney para comparação das medianas (Tabela
6.
A comparação das métricas de gerenciamento de resultados do grupo 1 (três
anos com a auditoria predecessora) com as métricas do grupo 2 (três anos com a
auditoria sucessora), tanto no teste paramétrico (Tabela 5) quanto no teste não-
paramétrico (Tabela 6), não apresentaram diferença estatisticamente significante,
indicando, segundo essa análise, que a mudança da firma de auditoria não impacta
no gerenciamento de resultados.
38
A segunda análise proposta para a utilização das métricas de gerenciamento
de resultados comparou os grupos de empresas por número de trocas de firmas de
auditoria realizadas no período de 1998 a 2005. A grande maioria das comparações
das métricas dos grupos não apresentou diferenças estatisticamente significantes,
sendo que os poucos resultados estatisticamente significantes, com intervalo de
confiança de 95%, encontrados foram as diferenças das medianas entre os grupos
EM1-G3 e EM1-G6, entre os grupos EM1-G4 e EM1-G6, entre os grupos EM1-G5 e
EM1-G6, e entre os grupos EM5-G3 e EM5-G5 (Tabela 6).
39
Como dito anteriormente, valores baixos de EM1 indicam a prática de
suavização de resultados pelos gestores da empresa (LEUZ et al., 2003 e LOPES et
al., 2007), por meio do gerenciamento de resultados.
Na Tabela 7, onde a média e a mediana dos valores de EM1 dentro de seus
grupos são apresentadas com mais casas decimais do que na Tabela 4, verifica-se
que o grupo 6 (empresas que trocaram 4 ou 5 vezes de firma de auditoria) possui
maiores valores de EM1, tanto da média quanto da mediana, do que os grupos 3
(uma troca), 4 (duas trocas) e 5 (três trocas). As diferenças das medianas se
mostraram estatisticamente significantes (Tabela 6), indicando haver evidências,
segundo essa métrica, de que as empresas que trocaram de firma de auditoria
quatro ou cinco vezes apresentam níveis mais baixos de gerenciamento de
resultados do que as que trocaram uma, duas ou três vezes no período de 1998 a
2005, indo, de certa forma, ao encontro da hipótese principal deste estudo, de que a
troca da firma de auditoria diminui o nível de gerenciamento de resultados.
Na análise da métrica 5, sabe-se que quando EM5 é maior que 1, existem
evidências de gerenciamento de resultados (LOPES et al., 2007). A EM5 referente
ao grupo 3 (empresas que trocaram uma vez de auditor no período de 1998 a 2005)
tem média igual a 1,346 sugerindo gerenciamento de resultados. A EM5 referente ao
grupo 5 (empresas que trocaram três vezes de auditoria no período) tem média igual
a 0,821.
40
A diferença estatisticamente significante, com intervalo de confiança de 95%,
entre as suas medianas (Tabela 6) sugere que as empresas que trocaram uma vez
de firma de auditoria (grupo 3) gerenciaram mais os resultados do que as empresas
que trocaram três vezes (grupo 5) no período de 1998 a 2005. Com intervalo de
confiança de 90%, a diferença entre as medianas de EM5 dos grupos 4 e 5 é
estatisticamente significante, indicando que as empresas que trocaram de firma de
auditoria duas vezes (EM5-G4) gerenciaram os resultados mais do que as empresas
que trocaram três vezes (EM5-G5) no período de 1998 a 2005. Esses resultados
contribuem para a confirmação da hipótese principal deste trabalho, de que a troca
da firma de auditoria contribui para diminuição do nível de gerenciamento de
resultados.
3.3.2 Modelos de Jones Modificado e KS
Por meio da utilização dos modelos de Jones Modificado e KS buscamos
encontrar maiores evidências para confirmar ou refutar a hipótese principal deste
trabalho, bem como responder às demais hipóteses formuladas.
Inicialmente, separaram-se as amostras, para esses dois modelos, em
empresas-ano em que houve troca da firma de auditoria e empresas-ano em que
não ocorreu mudança na firma de auditoria, tentando verificar se o comportamento
do gerenciamento de resultados se diferenciava nessas duas situações.
Dessa forma, na Tabela 8, estão dispostas as estatísticas descritivas dos
valores absolutos dos accruals discricionários (resíduos da regressão), calculados
pelo modelo de Jones modificado e pelo modelo KS, distribuídos pelos anos do
período da amostra, separados por empresas-ano em que ocorreu troca de firmas
da auditoria e empresas-ano em que houve a manutenção da firma em relação ao
41
exercício anterior. Foram utilizados os valores absolutos porque, se usados os
valores reais dos accruals discricionários, as médias tenderiam a zero, dificultando a
análise.
Devido ao fato dos accruals discricionários desses dois modelos (Jones
modificado e KS) não se encontrarem distribuídos normalmente dentro de seus
grupos, para efeito das comparações de dados necessárias às respostas exigidas
neste estudo, foi utilizado o teste não-paramétrico de Mann-Whitney, cujos
resultados se encontram apresentados na Tabela 9.
42
Como se pode observar na Tabela 9, não existem diferenças estatisticamente
significantes entre os grupos de empresas-ano em que houve troca de firma de
auditoria e os grupos de empresas-ano em que não ocorreram troca de auditoria,
utilizando-se os dois modelos, com exceção do ano de 2000, referente ao modelo
KS, que apresentou diferença estatisticamente significante entre as medianas dos
accruals discricionários das empresas-ano em que ocorreram troca e das empresas-
ano em que não houve troca. Esse resultado aponta para um maior nível de
gerenciamento de resultados das empresas-ano em que não houve troca em relação
às empresas-ano em que ocorreram mudanças na firma de auditoria, utilizando o
modelo KS, no ano de 2000.
Apesar de ser única nessa análise, essa evidência ajuda a confirmar a
hipótese de que o nível de gerenciamento de resultados diminui com a troca da firma
de auditoria, mesmo com o fato das demais comparações, utilizando-se os dois
modelos, inclusive do total de empresas-ano em que houve troca com as empresas-
ano em que não houve mudança, não apresentarem diferenças estatisticamente
significantes.
Buscando confirmar uma das hipóteses complementares desse trabalho, de
que a mudança da firma de auditoria imposta pelo rodízio obrigatório diminui o nível
de gerenciamento de resultados, extraiu-se das amostras, para os dois modelos
analisados, somente as empresas-ano em que ocorreram trocas de firma de
auditoria, separando-as em empresas-ano em que houve troca compulsória (rodízio
obrigatório) e empresas-ano em que ocorreram mudanças causadas por outros
motivos.
Na Tabela 10, estão dispostas as estatísticas descritivas dos valores
absolutos dos accruals discricionários, referentes aos dois últimos anos de mandato
43
da firma predecessora e ao primeiro ano de mandato da firma de auditoria
sucessora, das empresas-ano em que ocorreram trocas de firmas de auditoria.
Além da totalização dos dados inerentes às empresas-ano que houve troca
da firma de auditoria, na Tabela 10 esses dados também estão discriminados por
empresas-ano que efetuaram a troca motivada pelo rodízio obrigatório e empresas-
ano que realizaram a mudança por qualquer outro motivo.
Novamente as análises comparativas foram realizadas utilizando o teste não-
paramétrico de Mann-Whitney, devido ao fato dos accruals discricionários desses
dois modelos (Jones modificado e KS) não se encontrarem distribuídos
44
normalmente, dentro de seus grupos, estando os resultados apresentados na Tabela
11.
Buscou-se verificar se as mudanças de firma de auditoria ocorridas em função
do rodízio obrigatório possuíam alguma particularidade em relação às trocas
realizadas por outros motivos. As informações estatisticamente significantes
apresentadas foram a diferenças entre os grupos ROD(-2) e OUT(-2) e entre os
grupos ROD(-1) e OUT(-1), conforme a Tabela 11. Na comparação do nível de
gerenciamento de resultados entre o último ano do mandato da firma de auditoria
predecessora com mudança motivada pelo rodízio (ROD(-1)) com o nível
apresentado no último ano de mandato da auditoria predecessora com a troca
motivada por outros motivos (OUT(-1)) e na mesma comparação utilizando-se o
penúltimo ano (-2), utilizando o modelo de Jones modificado, verificou-se que nos
dois anos anteriores à mudança compulsória de firma de auditoria existe um nível de
gerenciamento de resultados superior aos dois anos anteriores às trocas motivadas
por outros fatores.
Esse resultado pode significar que, como a mudança motivada pelo rodízio é
conhecida pelos gestores e pelos auditores em razão do limite de cinco anos,
45
algumas escolhas contábeis menos conservadoras são toleradas nos primeiros anos
da relação, sendo coibidas apenas nos últimos anos do relacionamento, em virtude
do risco de ter o trabalho questionado pela firma de auditoria sucessora. Esse ajuste
pode impactar o gerenciamento de resultados nesses períodos, pois ocorre através,
por exemplo, de um aumento de provisões.
Por outro lado, motivadas por uma postura mais conservadora por parte da
firma de auditoria em relação às suas escolhas contábeis, as empresas podem optar
pela troca do auditor antes de completar o período de cinco anos, provavelmente,
buscando tratamento menos exigente e, talvez por isso, os dois anos anteriores às
mudanças voluntárias de firma de auditoria apresentem níveis mais baixos de
gerenciamento de resultados.
Visualizando a Tabela 12, observa-se um nível maior de gerenciamento de
resultados, pelo modelo de Jones modificado, nos dois últimos anos da relação (-2 e
-1) em relação aos três anos anteriores (-5, -4 e -3).
Buscando confirmações estatísticas para essa análise, realizaram-se algumas
comparações, também utilizando-se o teste não-paramétrico de Mann-Whitney,
46
devido ao fato dos accruals discricionários desses dois modelos (Jones modificado e
KS) não se encontrarem distribuídos normalmente dentro de seus grupos. Os
resultados estão contidos na Tabela 13.
A diferença no comportamento do gerenciamento de resultados durante os
anos do relacionamento cliente-auditor não se mostrou estatisticamente significante.
Dessa forma, não encontrou-se evidências de que a troca da firma de
auditoria, ocorrida em função do rodízio obrigatório, diminui o nível de
gerenciamento de resultados.
Por fim, tentou-se buscar subsídios para testar a hipótese complementar
deste trabalho, que trata especificamente dos tipos de troca de firmas de auditoria.
Na Tabela 14, estão presentes os dados dos accruals discricionários, em
valores absolutos, utilizando os dois modelos, referentes às empresas-ano em que
houve troca de firma de auditoria, no período de 1998 a 2005, discriminadas por tipo
de troca, sendo eles a troca de uma grande firma de auditoria para outra grande
(BB), a troca de uma grande firma para uma pequena (BN), a troca de uma firma
pequena de auditoria para uma grande (NB) e a troca de uma firma pequena para
outra pequena (NN).
47
Essas análises comparativas foram realizadas utilizando o teste não-
paramétrico de Mann-Whitney, devido aos accruals discricionários desses dois
modelos (Jones modificado e KS) não se encontrarem distribuídos normalmente,
dentro de seus grupos, estando os resultados apresentados na Tabela 15.
48
Nessa análise, verificou-se que as diferenças não foram estatisticamente
significantes, indicando que a diminuição do nível de gerenciamento de resultados
na mudança da firma de auditoria não é influenciada pelo tipo da troca.
49
4 CONCLUSÃO
Na análise do gerenciamento de resultados através das cinco métricas
utilizadas por Lopes et al. (2007) e dos modelos de Jones modificado e KS, durante
o período de 1998 a 2005, acredita-se existirem resultados estatisticamente
significantes de que a mudança da firma de auditoria diminui o nível de
gerenciamento de resultados, não havendo, dessa forma, evidências para rejeitar a
hipótese principal (H1) desse trabalho.
Complementarmente, verificou-se que as mudanças motivadas pelo rodízio
obrigatório de firma de auditoria não apresentaram diferenças estatisticamente
significantes em relação às demais trocas, rejeitando, dessa forma, uma das
hipóteses complementares desse estudo (H2).
Porém, pôde-se observar que o nível de gerenciamento de resultados das
empresas que realizaram a mudança motivada pelo rodízio obrigatório foi maior, nos
dois últimos anos do relacionamento com a firma de auditoria predecessora (-2 e -1),
do que o nível verificado nas empresas que realizaram a troca de firma de auditoria
voluntariamente, nesses mesmos períodos, sugerindo uma tolerância maior da firma
de auditoria com escolhas contábeis do cliente, nos primeiros anos de
relacionamento, que, provavelmente, são ajustadas nos últimos dois anos de
relacionamento, causando um aumento do nível de gerenciamento de resultados.
Esse assunto aparenta ser uma oportunidade bastante interessante para pesquisas
futuras.
Foi possível verificar ainda, que a diminuição do nível de gerenciamento de
resultados não apresentou diferença estatisticamente significante entre os tipos de
trocas de firma de auditoria (de grande firma para grande, de grande firma para
50
pequena, de pequena firma para grande e de pequena firma para pequena),
sugerindo que o impacto da troca da firma de auditoria no gerenciamento de
resultados independe do tipo de troca ocorrido. Assim, rejeita-se a outra hipótese
complementar desse estudo (H3).
51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, J. E. F., COSTA, F. M., FARIA, L. H. L., BRANDÃO, M. M. Earnings
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