Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
Gêneros jornalísticos digitaisUm estudo das práticas discursivas no ambiente digital 1
Lia Seixas
Objetivos do artigo
Este artigo sugere caminhos para a construção de um referencial teórico que seja
capaz de definir os gêneros jornalísticos digitais. O objetivo é analisar as dimensões
chamadas interdiscursivas (ou condições de êxito), que envolvem os produtos jornalísticos
digitais, através da Análise do Discurso (a princípio, trazemos Maingueneau) em relação às
características imanentes às mídias digitais (Manovich, Echevérria, Fidler, Palácios e Nora
Paul e Christina Fiebich – na pesquisa Digital Storytelling). A idéia, então, é,
primeiramente, contrapor e analisar as características da mídia digital, como no ‘Quadro de
propriedades da mídia’ e, depois relacioná-las com condições de êxito, às quais estão
submetidos os ‘atos de linguagem’: finalidade reconhecida; estatuto de parceiros legítimos;
o lugar e o momento legítimos; suporte material; organização textual (Maingeneau, 1998)2;
e, no mesmo nível, o tempo (mais interessante do que falar de momento e onde incluo
contexto) relacionado ao estatuto, à noção de papéis (ativos/inativos, autoria) e o conceito
de contrato de leitura3 (Verón, 1983).
1 Este artigo se originou do projeto de doutorado que começo a desenvolver na FACOM, a partir deste ano de 2004. A intenção é colocá-lo em discussão, na tentativa de também desenvolver um debate acerca do conceito de gêneros jornalísticos e do jornalismo digital.
2 Maingueneau, Dominique. Análise de textos de comunicação. 2ª ed., Rio de Janeiro, Cortez, 2002,
pgs. 64-70.
3 O um dispositivo de enunciação adotado por um suporte a fim de estabelecer um vínculo com o
seu público. No contrato de leitura importa o laço que se constrói com o ‘leitor’, a imagem daquele que fala
(enunciador); imagem daquele a quem o discurso é dirigido (destinatário); e, a relação entre o enunciador e o
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Introdução
Desde 1850, a idéia de divisão dos produtos jornalísticos por gêneros começou a ser
problematizada. As teorias classificatórias de gêneros jornalísticos, desenvolvidas desde o
final dos anos 50, têm sido, até os dias atuais (mais de meio século), objeto de debate
constante. São consideradas incorretas ou, até mesmo, inválidas pela academia, embora, em
grande medida, sejam utilizadas na prática pedagógica, além de estarem em sintonia com os
formatos impressos pelo mercado jornalístico. A principal crítica, hoje, é que não acomoda
a grande variedade produzida pela evolução da atividade jornalística, da qual surgem
gêneros ‘mistos’, influenciados pelas novas mídias (digitais).
Outra crítica é que os critérios de fundamentação destas teorias e classificações são
frágeis suportes e não atingem os pilares destas estruturas que são os gêneros, embora
aponte, aqui e ali, alguns nortes. Disposição psicológica do autor ou intencionalidade,
estilo, modos de escrita ou morfologia, natureza do tema ou topicalidade (conteúdo),
objetividade/subjetividade não diagnosticam as especificidades destas práticas sociais
discursivas; embora as finalidades ou funções dos textos se aproximem mais de
fundamentos válidos, como são as condições de êxito.
Já que a intenção é definir critérios de análise dos gêneros discursivos estabelecidos
na prática jornalística, propomos comparações com diferentes tipos de produção
jornalística, realizados no suporte (e ambiente) digital. Nosso objeto, a princípio, deve ser
constituído de um web site jornalístico (como, Le Monde, New York Times, JBonline), os
principais canais de um portal jornalístico (como, por exemplo, UOL ou Estadao), uma
agência de notícias (como a CNN, Reuters ou AFP) e um tipo de produção de fonte aberta
(como CMI-Brasil). O período de análise pode circunscrever acontecimentos mundiais,
naturalmente tratados pelos diversos tipos de produção, cuja atividade é jornalística (ver
“metodologia”).
Teorias de gêneros: principais correntes
destinatário proposta no e pelo discurso.
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A definição de gêneros, enquanto grupos de textos, vem desde a Grécia Antiga.
Platão propôs uma classificação baseada nas relações entre literatura e realidade: mimético,
expositivo e misto. A teoria dos gêneros surge para a literatura. Neste campo, os gêneros
sempre estiveram presentes, seja como agrupamento de obras determinado por convenções
estéticas, seja como elemento normatizador das relações entre autor, obra e leitor, elemento
de constituição de um imaginário comum, elemento de composição de uma obra ou como
‘estratégia de comunicabilidade’ (Borelli: 1995: 71-85), ou como tipos relativamente
estáveis de enunciados (Bakhtin: 1992: 279).
No jornalismo, a produção teórica em gêneros se desenvolve a partir de 1951. No
começo de 1959, surge uma disciplina chamada “Os gêneros jornalísticos” na Universidade
de Navarra, um dos primeiros centros de investigação ocidentais a trabalhar essa teoria. O
encarregado da matéria foi, nos primeiros anos, o professor Martínez Albertos4, que se torna
uma das maiores referências da área. Em 1968, quando as discussões tomavam corpo,
surgem propostas de gêneros informativos, explicativos, opinativos e diversionais. Nesse
mesmo período, o pesquisador catalão Hector Borrat sugere a divisão em textos narrativos,
descritivos e argumentativos, trabalhada também por Martínez Albertos (desde 1974). No
final da década de 70, Gonçalo Martin Vivaldi, também pioneiro nesta discussão, adianta as
dificuldades de se delinear campos e precisar gêneros. Os estudos de gêneros jornalísticos
desenvolvem tradição na Espanha.
No Brasil, estas análises surgem pelas mãos do professor Luiz Beltrão, relido, quase
15 anos depois, por José Marques de Melo5, referência bibliográfica básica em diversos
4 Parratt. Artigo citado.
5 Em entrevista a Boanerges Lopes e Luciana Gomes, da Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro,
José Marques de Melo responde a pergunta sobre suas publicações: “Publiquei 20 livros e organizei 40
coletâneas. A lista dessas publicações está no perfil bio-bliográfico incluído no meu livro "Teoria da
Comunicação: paradigmas latino-americanos". Tenho orgulho de todos eles, pois representam momentos
singulares da minha trajetória intelectual. Contudo, os mais significativos do ponto de vista bibliográfico na
área do Jornalismo são: "Estudos de Jornalismo Comparado" (São Paulo, Pioneira, 1972), "Sociologia da
Imprensa Brasileira" (Petrópolis, Vozes, 1974) e "A Opinião no Jornalismo Brasileiro" (Petrópolis, Vozes,
1985).” (http://www.metodista.br/unesco/PCLA/revista3/entrevista3-2.htm)
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programas de graduação do país6. Desde a década de 50, o jornalista e professor Luiz
Beltrão milita em favor da atividade jornalística enquanto campo social e científico7. O seu
livro Iniciação a Filosofia do Jornalismo, do final da década de 50, escrito para o concurso
do Diário de Notícias, foi premiado e teve tiragem record de 5 mil exemplares (Beltrão:
1980: 10). Em 1980, Beltrão elabora a primeira classificação do chamado jornalismo
opinativo, momento em que cria sua definição de ‘opinião’. O primeiro doutor em
Comunicação Social no Brasil8 divide o editorial por morfologia, topicalidade, conteúdo,
natureza e estilo; a crônica quanto à natureza do tema e tratamento dado ao tema; e define
charge9. Ainda hoje, seus trabalhos “Jornalismo Opinativo”, “Jornalismo Interpretativo:
ideologia e técnica” e “Iniciação à Filosofia do Jornalismo” mostram influência nas
classificações de gêneros jornalísticos. Um pesquisa avançada do nome “Luiz Beltrão”
somado à palavra “jornalismo opinativo” para páginas publicada apenas no último ano
(www.google.com.br), gera referências de pesquisadores da Universidade Beira do Interior,
Metodista, da Eca-USP, da Unesp, Universidade Federal do Maranhão, dentre outras.
Sejam as espanholas, sejam as brasileiras, as classificações destes dois séculos,
feitas por pesquisadores de jornalismo, devem ainda uma explicação geral dos princípios
dos gêneros, um conceito de gênero jornalístico e como se constitui.
“Muito embora haja trabalhos sobre diversos gêneros do jornalismo (Vasconcelos e Cantiero, 1999), do jornal (van Dijk, 1990, Guimarães, 1992) e mesmo sobre componentes do texto de jornal (Lonardoni, 1999), tradicionalmente, quando há referência à categoria gêneros jornalísticos, cita-se uns poucos membros mais característicos, tais como a notícia, a reportagem e o editorial. Há uma carência de trabalhos que tratem o todo, de modo que fenômenos de textualização como as seções e
6 Como exemplos, podemos citar a ECA-USP, a UFSC, UFBA, entre outros.
7 Luiz Beltrão defende a tese de uma concepção de liberdade associada a uma preparação do
jornalista em nível universitário. Congresso Nacional de Jornalista em Curitiba. Beltrão, L. Jornalismo
Opinativo, Porto Alegre, Sulina, 1980.
8 Luis Beltrão tornou-se em 26 de junho de 1967 o primeiro Doutor em Comunicação Social no
Brasil ao defender na Universidade de Brasília a tese sobre Flokcomunicação.
(http://www.metodista.br/unesco/PCLA/revista1/perfis2.htm)
9 Beltrão. Op. Cit.
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as páginas de jornal permanecem praticamente uma incógnita quanto ao tratamento genérico que devamos dar-lhes, pois se, por um lado, apresentam certos comportamentos relativos à noção de gênero que detemos no momento, por outro, se distanciam bastantes dos padrões próprios de membros como notícia e reportagem.” (Bonini, 2001)
As propostas de Martínez Albertos (1991), Luiz Beltrão (1980) e de José Marques
de Melo (1985), citado por todos os pesquisadores da área no Brasil, estão fundamentadas
em critérios como: 1) finalidade do texto ou disposição psicológica do autor, ou ainda
intencionalidade; 2) estilo; 3) modos de escrita, ou morfologia, ou natureza estrutural; 4)
natureza do tema e topicalidade; e 5) articulações interculturais (cultura).
A maioria dos autores que trabalhou na classificação de gêneros jornalísticos esteve
baseada na separação entre forma e conteúdo, o que gerou a divisão por temas, pela relação
do texto com a realidade (opinião e informação) e deu vazão ao critério de intencionalidade
do autor, que realiza uma função (opinar, informar, interpretar, entreter). A função, ao invés
de ser vista como ‘intenção’ do autor, deve ser trabalhada como cumprimento dos poderes,
papéis e estatuto implicado no contrato de leitura de determinada prática social discursiva
(gênero).
Além da finalidade, estilo, estrutura (forma) e conteúdo, as tradicionais
classificações (Albertos, Beltrão) procuram estar sincronizadas com a geografia, com o
contexto econômico, social, político e cultural, com os modos de produção, com as
correntes de pensamento e ainda com as noções de objetividade e neutralidade. A
finalidade, estrutura (organização textual), o contexto, os modos de produção (modos do
discurso) apontam para direções corretas, mas são tratados superficialmente, não
desenvolvidos enquanto critérios.
“Para Marcuschi (1996), “o desafio não está tanto na classificação e sim na proposição de critérios dessa classificação”. Em seu trabalho, busca classificar os gêneros que vão da modalidade oral à escrita, para desvendar os processos que permeiam esta passagem. A classificação, então, via comparação dos gêneros, tem um objetivo inequívoco de discernir estas modalidades, levantando critérios que as diferenciam e as aproximam.(...)” (Bonini, 2001)
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O interessante é que estes elementos não satisfazem aos pares, que se vêem
impulsionados a novas divisões ainda hoje. Em texto produzido para o site Sala de Prensa,
o professor boliviano Raul Peñaranda U. elenca 13 classificações por autores: Maria Julia
Sierra, John Honhenberg, Martin Vivaldi, Jose Luis Martínez Albertos, Armando de
Miguel, Esteban Moran, Johnson y Harris, Siegfrid Mandel, Luiz Beltrão, Jose Benitez,
Juan Gargurevich, Marques de Melo, Erick Torrico e John Muller10. No final deste artigo,
Peñaranda também não resiste em fechar uma classificação, a mesma: gêneros
informativos, opinativos, interpretativos e de “entretenimento” (aspas do autor). E,
novamente, não aprofunda a compreensão de critérios.
A jornalista e pesquisadora da Universidade de Santiago de Compostela, Sonia
Parratt, analisa quatro linhas teóricas representativas dos estudos dos gêneros jornalísticos:
a teoria dos esquemas do discurso - representada por Teun A. Van Dijk – que divide o
discurso em dois grupos: os de esquema narrativo e os de esquema argumentativo; a teoria
normativa dos gêneros jornalísticos – desenvolvida por Martínez Albertos (1974) –
distingue três macrogêneros: informativos, interpretativos e de opinião; a teoria do sistema
de texto – formulada por Héctor Borrat (1981) – similar à tradição espanhola, que divide os
textos em narrativos, descritivos e argumentativos; a teoria dos gêneros – sugerida por
Lorenço Gomis em 1989 – cuja classificação separa em: informação e comentário. Destas,
o único autor que trás ao final do texto, quando apresenta novas propostas de classificação
(sugeridas por Josep Mª Casasús e Luis Nuñez Ladevéze, por José Francisco Sánchez e
Fernando López Pan) é Lorenço Gomis, que re-lê Sánchez e López Pan 11.
Casasús e Ladevéze abandonam os critérios de objetividade/subjetividade,
intencionalidade/não intencionalidade, estilísticos e centram-se na função que cumprem os
textos: 1) se transmitem a realidade segundo condições válidas estabelecidas pela
comunidade profissional e pelas audiências (atualidade do texto); 2) se proporcionam um
10 Peñaranda U. Artigo citado.
11 Parratt, Sonia. Artigo citado.
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ponto de vista pessoal ou institucional; e 3) especificidades de destinatários e autores12.
Uma perspectiva que centra na finalidade reconhecida e no estatuto de parceiros
legítimos. São dimensões exteriores ao discurso diretamente influenciadas pelo ambiente
onde se realiza, pelo contrato de leitura que se propõe aos ‘leitores’, além do horizonte de
expectativas, com o qual operam estes ‘leitores’.
Nesse sentido, as propriedades da mídia (suporte) onde surgem e se estabilizam
determinados gêneros são categorias imprescindíveis para sua compreensão:“A cultura tecnológica definida pelo circuito integrado de sistemas de escritas oferece uma outra perspectiva para a reflexão sobre os gêneros. Trata-se de considerar a organização das mensagens como organização de diferentes mídias. Como afirmamos anteriormente, a diferença entre as mídias é, igualmente, uma diferença de gênero. Isso é o que está por trás de algumas das teorias sobre a modernidade cultural. O gênero já não é uma categoria importante por oferecer uma tipologia da produção literária da cultura letrada, mas sim porque organiza as mensagens de modo a garantir um “horizonte de expectativa” que una a leitura à escritura, o leitor ao texto, o texto à mídia, a mídia à ferramenta, a ferramenta ao programa. O gênero torna-se instrumento criador da relação interativa entre texto, leitor, cultura.(...)” (Machado, 2002)
Os gêneros são práticas sociais instituídas historicamente, cujas mudanças sociais
aparecem com novas formas de produção, de linguagem, novos ambientes, novos suportes,
em última instância, envoltas e fundadas em novas “formas culturais” (Lev Manovich,
2001).
“(...) Genre, in this view, is neither na ideal type nor a traditional order nor a set of technical rules. It is in the practical and variable combination and even fusion of what are, in abstration, differente levels of the social material process that what we have Known as genre becomes a new kind of constitutive evidence” (Williams: 1977: 185)
Se um gênero de discurso é resultado de determinadas práticas sociais, a evolução
(mudança) de práticas sociais implica necessariamente uma transformação nos gêneros e o
surgimento de outros. Um suporte, por suas características intrínsecas, figura-se como
ambiente propício ao desenvolvimento de determinadas práticas. O suporte (digital, aqui)
deve ser analisado como ‘meio tecnológico’, onde se configuram certas formas culturais,
certas gramáticas discursivas. Neste meio, adota-se determinados vínculos com o seu
público (contrato de leitura).
12 Parratt, Sonia. Artigo citado.
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Propriedades da mídia digital
Uma comparação das propriedades da mídia, trabalhadas por Manovich, Echevérria,
Fidler, Palácios e Nora Paul e Christina Fiebich na pesquisa Digital Storytelling (University
of Minnesota), e entre elas e as condições de êxito às quais estão submetidos os ‘atos de
linguagem’, pode ser um primeiro passo para a identificação de critérios de gêneros
jornalísticos digitais. Um “quadro de propriedades da mídia”, como sugerido abaixo, põe
em relação características intrínsecas a este ambiente.
Quadro de propriedades da mídia
VER TABELA NO FINAL DO DOCUMENTO.
A primeira propriedade é a representação numérica (Fidler), que representa a
primazia, de que fala Echeverría, do digital neste novo ambiente, embora, no nível material,
dependa da energia e dos fluxos energéticos de informação (informacionalidade). O código
digital implica duas conseqüências básicas: 1) um objeto da nova mídia pode ser descrito
matematicamente, manipulado e alterado mediante ações artificiais, expressas por meio de
algoritmos matemáticos; e 2) a mídia torna-se programável.
A programação permite um sistema de busca adequado não só para a consulta, mas
também para os jornalistas no ambiente de produção ou refreshs programados, que vão
desde imagens randômicas até mudanças de conteúdo a cada período definido
matematicamente, principalmente, das chamadas hard news (últimas notícias ou plantão de
notícias). Poder programar, dá ao jornalismo, campo de produção constante, intenso e
rápido, a possibilidade de criar, por exemplo, sites, textos, objetos que entrem no ar apenas
no momento que se deseja. É o fato de ser programável que torna possível se criar sistemas
abertos ou redes, como o Centro de Mídia Independente – Brasil
(www.midiaindependente.org), que disponibiliza textos, vídeos, sons e/ou imagens de
qualquer ‘voluntário’ com acesso a computador em qualquer lugar do mundo
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(reticularidade, Echeverría). O que for enviado vai para a ‘coluna da direita’. Uma espécie
de formulário da seção ‘Publique’ pede a quantidade de arquivos multimídia que se vai
enviar, língua, título, sumário, informação para contato (campo opcional), o artigo, o título
dos arquivos e traz o botão ‘publique’. O CMI, cuja proposta é de ser uma alternativa à
mídia empresarial, tem na formação da rede a sua possibilidade de existência.
No CMI, ainda não vemos instituídas práticas discursivas, mas se pode perceber
usos diversos das diferentes linguagens. Em recente manifestação de estudantes do Rio de
Janeiro, o objeto que contava, cronologicamente, ações deste protesto era a foto legendada.
Um recurso que também pode ser produzido num meio impresso, mas não o pode por
algum voluntário ou participante, por causa, principalmente, da forma de produção
associada à propriedade digital. O estatuto do participante que poderia ser passivo, passa a
ser ativo e, mais ainda, de autor. A organização textual se configura pelo que foi possível
produzir e publicar.
Ao personalizar – opção que se dá ao usuário de configurar os produtos
jornalísticos de acordo com seus interesses individuais (Palácios) –, o usuário está
utilizando a programação. A personalização pode ser feita através apenas da escolha de
assuntos, de sua hierarquização (como o Crayon: www.crayon.net) ou da programação
visual para a máquina do usuário (como o site da CNN: www.cnn.com). Esta tecnologia
permite, portanto, que o veículo informativo conheça as necessidades de cada um dos
leitores e, de forma automática, direcione produtos que lhes interessem. A partir de um
grupo de leitores, com certa demanda, pode sugerir um tipo gênero, impossível de existir,
por exemplo, na mídia impressa.
Na news letter, o veículo programa o envio de resumo de notícias atualizadas toda
manhã (tempo determinado) para o e-mail do usuário, que assim escolheu. Entretanto, a
news letter não deixa de ser um pacote de notícias, ou seja, essa propriedade da mídia
digital, neste caso, não muda a prática, não gera um novo gênero. Quem mais entende de
‘pacotes’ do que as agências? A Agência Estado (www.estadao.com.br), que fornece, dentro
do seu serviço Mídia Cast, fotos do dia, fotos internacionais, infográficos e banco de
imagens de 1950 a 2003, pode incluir nos seus kits produtos com vídeos (imagens em
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movimento), cujo texto, simultaneamente ao correr das imagens, desça na tela do
computador em uma ou mais línguas, a depender do veículo jornalístico que demande a
compra. Uma imagem em movimento pode vir a ser estatizada com um clique ou um
apresentador pode estar na tela, não com sua imagem parada ou voz em off, mas indicando,
mostrando, explicando imagem e texto que podem se movimentar, aparecer ou desaparecer
com os comandos deste apresentador ou pelo clique do mouse. São vislumbramentos, mas
que indicam possibilidades de ‘organização textual’ a partir de contrato (estatuto),
finalidade e características do suporte.
A organização textual ganha, com a convergência/multimidialidade - diversas
tecnologias e formas de mídia convergem para um mesmo lugar, um mesmo meio
(multimídia), o que implica a convergência das indústrias e empresas, com uma mudança
estrutural do modo de produção e distribuição (Fidler) -, uma variabilidade tão grande, que
não é fácil identificar qual linguagem (texto, som, imagem ou imagem em movimento)
orienta os produtos jornalísticos digitais, e, por consequência, qual prática se firmará como
um gênero no meio digital e quais sofrerão mudanças nos meios ditos tradicionais. “(...) Com a convergência, estas novidades [textos mais curtos e diretos, palavras sublinhadas, hiperlink, enumerações, subtítulos informativos, uma idéia por parágrafo, escrita semelhante a da TV] introduzidas pelo jornalismo multimídia acabarão inevitavelmente por contaminar a linguagem dos outros meios. E difícil, pois, prever o futuro dos gêneros num quadro marcado pela generalização de tais práticas e linguagens, essencialmente porque este é um caminho ainda em pleno experimentalismo, e que se fará ao andar”. 13
Se, para a televisão, a imagem em movimento e o áudio são a linguagem
característica, na mídia digital (Internet), não há ainda um consenso. Acredita-se que o texto
orienta o produto hipermidiático ou que este texto é semelhante ao televisivo. “(...) Text on television is mere ornamantation; words appear most often to reinforce the spoken message or to decorate the packages of products being advertised. (...) In television, text is absorved into the image, but in hypermidia the televised image becomes part of the text.” (Bolter: 1991: 26)
“Simultaneamente a escrita para a Web vai acompanhar estas mutações [nos gêneros e
linguagens], privilegiando textos ainda mais curtos e directos; palavras sublinhadas ou destacadas
com cores, e o hiperlink, para facilitar o varrimento; enumerações; subtítulos eminentemente
13 Gradim, Anabela. Os gêneros e a convergência: o jornalista multimédia do século XXI. (www.labcom.ubi.pt/agoranet/pdfs2/gradim-anabela-generos-convergencia.pdf) Acesso em 13/11/02.
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informativos; uma combinação dos aspectos visuais da televisão com as características que tornam
um texto scannable; a possibilidade de deambular e ser surpreendido; uma idéia por parágrafo e o
recurso a uma ou várias pirâmides invertidas; uma escrita semelhante à de televisão e não
redundante relativamente aos restantes elementos que compõem a peça (links para outros textos,
fotos, áudio e vídeo). (...)” 14
Ou ainda, para Echeverría, há um predomínio do visual:“(...) La cultura griega y el Renascimiento trajeron consigo el predomínio de la vista, y el tercer entorno puede ser considerado como uma expansión de las culturas de la imagem, dado el endudable predomínio de lo visual em E3. (...) De ahí que E1 y E2 tengam uma enorme ventaja sobre E3 por su capacidad plurisensorial, que resulta irrenunciable desde el punto de vista del bienestar y la calidad de vida.” (Echeverría: 1999: 103)
Uma pesquisa de Jakob Nielsen e John Morkes confirma a tese de Echeverría:
mostra que 79% dos usuários praticamente não lêem, mas fazem um varrimento visual
rápido (scanning) das páginas, já que estão aptos a processar simultaneamente múltiplas
informações de origem diversa15. Nielsen dá sua receita para o texto digital: os sites
deveriam ter ‘scannable texts’ com: palavra-chave sublinhada ou destacada; hiperlink;
listas, uma idéia por parágrafo, o recurso da pirâmide invertida e metade das palavras de
um texto convencional. São aspectos que influenciam a organização textual daquelas
práticas que podem vir a se instituir.
O predomínio da imagem não quer dizer, no entanto, que os produtos da web são
intrinsecamente audiovisuais como os da TV. A princípio, a imagem em movimento nos
parece ser, necessariamente, a linguagem intrínseca ao meio. Acreditamos, no entanto, que
para certos gêneros pode-se ter texto como espinha dorsal, para outros, imagem estática, em
movimento ou áudio. O certo é que não se pode analisar um gênero a partir, isoladamente,
de sua organização textual, de suas linguagens. Um debate de Marilena Chauí e Toni Negri
na PUC-SP, gravado pela gramática da TV analógica, está disponibilizado (para assinantes)
na TV UOL no canal ‘Entrevistas’ por trechos que, embora indicados com ‘trechos da
entrevista’, são imagens seqüenciais de duas câmeras estáticas. As entrevistas, indicadas
por outros quatro links no lado direito da página, levam para página do web site da Folha de
14 Gradim. Idem.
15 Nielsen, Jakob e Morkes, John. How Users Read on the web. 1997
(www.useit.com/alertbox/9710a.html) Acesso no dia 13 de novembro de 2002.
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S.Paulo e constituem as chamadas ‘ping-pong’. As imagens foram gravadas pela PUC, com
vários outros objetivos, ao mesmo tempo em que as entrevistas foram pensadas para o
impresso. Os produtos ficam um ao lado do outro, mas não são editados num só. Os modos
de produção não se preocuparam com o produto final. A entrevista ping-pong, por exemplo,
foi trabalhada com apenas, provavelmente, uma gravação analógica para ser transformada
em texto impresso. Entretanto, no UOL News, pode-se assistir a entrevistas e ler, perguntas
e respostas, ao mesmo tempo. Isso não implica num novo gênero, apenas por que há uma
complementaridade do texto para a imagem. Não implica porque a finalidade, os estatutos,
papéis dos participantes e o contrato são os mesmos de outras mídias. O único aspecto que
marca diferença são o tempo/espaço, já que o usuário pode rever a entrevista, realizada
numa tarde de quarta-feira, quantas vezes quiser. Neste caso, um aspecto que não influencia
a ponto de se formar um novo gênero, mas, a partir do qual, pode surgir.
No ambiente digital, o espaço é comprimido, muda sua estrutura informativa e de
documentação, no sentido de a memória coletiva tornar-se mais acessível a um maior
número de pessoas (Echeverría), ao mesmo tempo em que possibilita enorme difusão de
uma memória que, no jornalismo, se apresenta pela primeira vez como ‘memória múltipla,
instantânea e cumulativa’ (Palácios: 2002). Os arquivos não só constituem produtos (que se
vende pelo acesso), mas também são utilizados, mesmo que de maneira experimental e
incipiente, na configuração de novos ‘textos’. É a partir do banco de dados que o portal
Estadao, automaticamente (programação), disponibiliza, no canal ‘Diário do Passado’, 10
links com matérias de mesma data de 10 anos passados, além de um quadro à esquerda –
chamado ‘Linha do tempo’ – com pequenas notas, cronologicamente distribuídas, cujo
tema está relacionado ao tema do principal título link deste canal. O estatuto e o contrato de
leitura se mantém em relação a qualquer utilização de arquivos nas mídias tradicionais, em
concordância com a finalidade, de informação. E a organização textual?
Não há. Mas, potencialmente, a depender de como se efetive o modo discursivo,
pode gerar mais de um gênero. Não há descrição, narração, argumentação ou enunciação
que correspondam aos modos de relatar, comentar ou provocar (Charaudeau). A única
argumentação está na escolha programada das 10 matérias com maior grau de
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noticiabilidade publicadas há 10 anos. O jornal impresso A Tarde já faz uso de seu arquivo
há muito tempo, embora publique duas ou três notas na página de ‘Opinião’, nesse caso, de
50 anos anteriores à data da edição. Há uma relação com a atualidade (característica que
singulariza o jornalismo), já que os acontecimentos têm a mesma data do dia em que se
acessa o Diário do Passado. Potencialmente, o banco de dados pode vir a instituir uma
prática (gênero) com certo modo discursivo, modo este que exigiria, ou a subjetividade (um
jornalista) ou uma programação avançada, com finalidade e público definidos.
Este exemplo prova que o percurso de um usuário não cria sua própria narrativa, já
que a lógica semântica é controlada pelo autor, ainda que seja programada:
“(...) Thus a number of database records linked together so that more than one trajectory is possible is assumed to constitute an “interectaive narrative”. But merely to create these trajectorys is of course not sufficient; the author also has to control the semantics of the elements and the logic of their connection so that the resulting object will meet the criteria of narrative as out-lined above. (...) However, if the user simple accessses different elements, one after another, in a usually random order, there is no reason to assume that these elements will form a narrative at all. (...)” (Manovich: 2001: 225)
Embora incapaz de criar uma lógica semântica, o percurso interativo é
potencializado na mídia digital, principalmente, pela propriedade da hipertextualidade.
Como diz Anabela Gradim (citação acima), não há como um documento digital não estar
composto por diferentes blocos de informações interconectadas. Ainda que o hipertexto
trabalhe contra a unidade de ação, a narrativa hipertextual prioriza os nós. Os diversos nós
representam uma escrita não-linear, não seqüencial, constituída por blocos conectados por
nexos eletrônicos – os links (Landow: 1995, Leão: 1999). A forma como os links estão
organizados, hierarquizados e relacionados institui o tipo de narrativa.
Os links representam também a contextualização, categoria diretamente relacionada às de intertextualidade, intratextualidade, paratextualidade e, obviamente, hipertextualidade. Se, por exemplo, analisamos a charge, podemos dizer que o contexto (social imediato) está fora do texto, na intertextualidade e no saber social do leitor; já num
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artigo, o contexto é marcada e explicitamente intratextual, formatado pela organização textual. As hard news (plantão, últimas notícias) não têm link intra ou intertextual nas suas 4 ou 5 linhas, apenas como lista de arquivo, ordenada pela atualização (horário de publicação). Contextualmente, são caracterizadas por não serem, estritamente, hipertexto. É uma escolha dos autores (jornalistas), em detrimento de a tecnologia permitir ou não o uso de links. Ou seja, a forma como são ordenados, compostos, hierarquizados os links representam certa contextualização, que, por usa vez, representa o tipo de organização textual.
O interessante para o estudo dos gêneros é que o hipertexto reconfigura o conceito
de autor, portanto, o de estatuto e de papéis que podem ter os participantes. Há uma
redução da autonomia do autor em detrimento da perda de autonomia num texto multilinear
e descentralizado, o que significa perda de autoridade. (Landow: 1995: 95-103). As colunas
da mídia digital revelam a importância deste critério (estatuto) para a compreensão dos
gêneros.
As colunas são, num impresso, reconhecidas por um título ou o nome do colunista,
com espaço na página e periodicidade. No webjornalismo, são identificadas apenas pelo
nome do colunista. Quando a página não contém uma seção ‘colunas’, possui, na própria
home-page, a lista de nomes, que são links para o ‘texto’. Não importa quando, nem sobre o
que escreveu, mas quem escreveu.
“(...) No solo por la firma em el índice, sino porque su tamano, mayor que el de los textos informativos, y su presencia invariable em la cabecera del texto hacen que sea materialmente imposíbel que um lector de médios eletrônicos lea una columna sin empezar por su firma” 16 (grifo nosso)
Se no impresso procurava-se a coluna de Jânio de Freitas ou Elio Gaspari, no
webjornalismo basta clicar no nome do colunista. A escolha do nome como primeiro texto
na hierarquia hipertextual explicita (com esta nova mídia) a importância da autoridade do
jornalista neste tipo de produto. A força do estatuto do autor está na capacidade de análise
da realidade e de colher informações novas e pertinentes. A perda de autonomia do autor
devido ao hipertexto nada representa diante da autoridade que o estatuto dá ao colunista. O
16 Paniagua, Pedro. Columninmo deportivo digital: noticia, ficcion y kitsch. (www.ucm.es?info?periol/Period_I/EMP/Portad_0.htm) Acesso em 20/11/02.
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nível de autonomia do jornalista estaria sugerido também por suas escolhas quanto a links,
sublinks, externos e internos ao seu produto, além das escolhas quanto às possibilidades
multimidiáticas. Então, ainda que a mídia digital seja intrinsecamente hipertextual,
multimidiática, interativa, isso não significa que, obrigatoriamente, todos os seus resultados
materiais devam ser hipertextuais, multimidiáticos ou interativos.
Na mídia digital, jornalistas e leitores podem trocar e-mails e operar discussões em
chats ou disponibilizar a opinião do leitor em comentários e fóruns. A troca de papéis
possibilitada pela interatividade não se apresenta num comentário, entretanto, num fórum
de discussão, as trocas de papéis são claras e necessárias. O fórum En Media, da revista
En.red.ando, de Barcelona, tem tido um aumento constante no número de acessos. Para
Luis Hermana, criador da rede - com 784 colaboradores espalhados pelo mundo em 2002
-17 o tipo de relações contribui para melhorar a formulação do pensamento em discussão:
“(...) En Media representa um espaço para debate e pesquisa que desaconselha
investigar numa única direção. Quando alguém cita um projeto interessante estimula
o usuário a conferir por si mesmo, clicando na conexão para ver de perto do que se
está falando. (...)” 18
Hermana diz que a confiabilidade nos conteúdos depende da moderação, então do
estatuto de um moderador, seus papéis e autoridade (autoria). Tanto o moderador, quanto os
participantes, sem os quais não há fórum, são ativos ‘autores’ e ‘leitores’. No CMI-Brasil
(já citado), o arquivo (com texto, fotos) que entra automaticamente na coluna da direita
ganha o mesmo espaço que uma matéria produzida por um voluntário ou participante da
rede.
A última propriedade das digitais que trataremos aqui é o tempo, multicrônico. No
jornalismo digital, os limites de espaço e/ou tempo se dissolvem (Palácios: 2002). A
atualização não mais estará determinada pela periodicidade, como num impresso ou para
17 Gonçalves, Elias M. La estructura de la noticia em as redes digitales. Um estudio de las consecuencias de las metamorfosis tecnológicas em el periodismo. Tese defendida na Universidad Autónoma de Barcelona, Facultad de Ciencias de la Comunicación, Departamento de Periodismo. Barcelona, junho de 2002.
18 Entrevista com Luis Angel Hermana in: Pauta Geral: revista de jornalismo, ano 9, nº 4, 2002, pg.
20.
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um telejornal, mas por outros fatores como linha editorial, estratégias de mercado,
condições de produção, hábito de consumo e pelo grau de atualidade19 dos acontecimentos
ou fatos. Tecnicamente, a atualização pode ser feita em qualquer lugar, a qualquer
momento. A atualização marca a existência das hard news, inseridas num valor que
persegue as sociedades atuais: a rapidez20. Já, a maioria das matérias da home de um canal
de web sites como Folha Online ou do portal Estadao é atualizada no período de 24 horas,
porque segue certo modo de produção. A atualização pode ter ou não ter um período
definido. Cada gênero pode ter um tempo de atualização próprio.
No A Tarde Online, o link Eleições 2002 foi criado no período pré-eleitoral com
informações de resultados e notícias das eleições presidenciais e parlamentares. Um site
pode estar ou não no portal de acordo com o contexto, quando se acredita haver interesse
do público consumidor. Neste site, pode-se atualizar apenas um dos gêneros. Além disso, a
atualização é influenciada pela concorrência com outras mídias. As atualizações do portal A
Tarde Online são feitas três vezes ao dia: entre 12 e 14 horas, 18 horas e depois da meia
noite. Horários de pico de acesso e, principalmente, antecedentes aos telejornais baianos
das TVs abertas, que estão programados para os períodos entre 12 e 13h30 e 18h30 e 19h.
19 “Estas diferentes dimensões sociais estão articuladas no jornalismo porque a noção de atualidade
é um eixo temático dotado de pelo menos três sentidos: num primeiro aspecto, a notícia jornalística imbricada
na atualidade possui um sentido de proximidade entre atores sociais, não limitado a um aspecto espacial,
mas de pertencimento a uma coletividade e de orientação sobre formas de agir socialmente; num segundo
aspecto, opera um sentido de imediaticidade entre o seu recorte discursivo e a ocorrência. Mas estes dois
aspectos não são suficientes para demarcar a atualidade jornalística, devendo-se destacar um terceiro: é atual
no jornalismo tanto o que ocorre no tempo presente quanto o que apresenta um sentido de relevância
pública, reconhecido pelo indivíduo como indispensável para participar da vida social.” Franciscato, Carlos
Eduardo. A atualidade no jornalismo. Texto apresentado na Compós 2000.
20 “Em primeiro lugar, a comunicação, através de seus novos objetos, como computador, acesso à
internet, telefones celulares. Hoje, o bem-estar está associado à mobilidade, ao acesso à informação e à
rapidez. O que seduz na comunicação passa, cada vez mais, por tudo que acelera as coisas, pelas
possibilidades de estar conectado com o externo, com os outros (...)” Entrevista de Gilles Lipovetsky. Revista
Veja, 25 de setembro de 2002.
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Dados sobre bolsa de valores são atualizados pelos digitais antes das tevês conseguirem
publicar.
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Artigos e entrevistaAudiência em sites de jornais americanos cresce ate 38%. Matéria do www.comunique-se.com.br, Acesso em 09 de julho de 2002Entrevista concedida por Gilles Lipovetsky a revista Veja em 25 de setembro de 2002.
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A modelizacão e o discurso de legitimação profissional do ombudsman de imprensa
Kênia Maia21
Resumo: Este trabalho se propõe a examinar a função de ombudsman de imprensa à luz da
sociologia das profissões e a analisar a ouvidoria de imprensa como um agrupamento profissional
em formação, que, para se afirmar, precisa desenvolver um importante trabalho de convicção sobre
o interesse do agrupamento, no qual a enumeração e a caracterização de dispositivos de autonomia
do ombudsman fundam a representação paradigmática do ombudsman. A retórica de legitimação e
de justificação da função de ombudsman de imprensa se centra no modelo paradigmático, na
representação ideal, e na divergência entre o discurso voltado para o público interno e o discurso
voltado para o público externo.
Para atenuar a perda de credibilidade provocada pelo escândalo de plágio e fabricação de
fatos realizados pelo repórter Jason Blair, o tradicional jornal New York Times introduziu na
sua redação, no final de 2003, um public editor, um cargo análogo ao de ombudsman.
Porém o NYT sempre foi um dos mais ferrenhos adversários da ouvidoria de imprensa.
Antes mesmo da escolha do titular do cargo, a Organization of News Ombudsman – ONO –
já discutia a ouvidoria de imprensa do New York Times e temia que ele não tivesse
autonomia suficiente; nas discussões preliminares a coluna do public editor não teria sua
periodicidade assegurada, o que, segundo a diretoria da ONO, poderia enfraquece-lo e
afasta-lo da modelização da função difundida pela ONO.
A ouvidoria de imprensa é comumente analisada e/ou descrita como mecanismo de
regulação deontológica da profissão jornalística (Aznar, 1998; Bernier, 2002; Champagne,
2000; Lavoinne, 1995; Mata, 2002; Mendes, 2002; Mesquita, 1998. Este trabalho propõe
21 Bolsista recém-doutora do CNPq no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília. Este trabalho faz parte da tese de doutorado Approche comparative de la fonction de médiateur de presse dans les quotidiens brésilien Folha de S. Paulo et français Le Monde, defendida em janeiro de 2003, na Universidade de Metz, França, sob orientação do professor Jacques Walter. E-mail: [email protected].
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uma abordagem diferente; trata-se de examinar a função de ombudsman de imprensa à luz
da sociologia das profissões e analisar a ouvidoria de imprensa como um agrupamento
profissional em formação que, para se afirmar, precisa desenvolver um importante trabalho
de convicção sobre o interesse do agrupamento, no qual a enumeração e a caracterização de
dispositivos de autonomia do ombudsman fundam a representação paradigmática do
ombudsman. A retórica de legitimação e de justificação da função de ombudsman de
imprensa se centra no modelo paradigmático, na representação ideal, e na divergência entre
o discurso voltado para o público interno e o discurso voltado para o público externo.
Os grupos profissionais dependem do sucesso de sua argumentação para conseguir impor
um estatuto profissional. Uma vez estabelecido, a durabilidade do estatuto dependerá
igualmente da aptidão do grupo profissional para “entreter a relação entre os seus
argumentos fundadores e sua prática” (Paradeise, 1985, p. 18). Os argumentos de
legitimação e de justificação da competência de um grupo profissional são fundados sobre
os eixos da necessidade, da ciência e da competência. Em caso de desestabilização,
provocada pelo questionamento de sua competência e de seu monopólio, os grupos
profissionais devem recorrer aos princípios de legitimação e de justificação que asseguram
a sua autonomia. Para tanto, eles vão se apropriar de valores não que faziam parte da
argumentação inicial.
De fato, os grupos profissionais são “compromissos entre exigências diferentes
correspondendo a diferentes princípios de justiça […], utilidade e tecnicidade de ordem
industrial, laços quase domésticos, como nos antigos corpos de métier, exigências do
mercado ou solidariedade cívicas” (Boltanski, 1990, p. 2061). Em razão da fragilidade dos
compromissos, o grupo profissional é constantemente submetido a procedimentos de
estabilização e de desestabilização, o que faz necessário a utilização de uma argumentação
para construir, manifestar e estabilizar sua competência profissional que não pode ser
construído sobre um único princípio de justificação. Pela articulação das noções de retórica
profissional e dos princípios de justificação e de legitimação, Jean-Yves Trépos (1992)
constitui a sociologia da competência profissional e edifica um referencial teórico para
apreender a construção e a manifestação da competência profissional e a identificação dos
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mecanismos acionados pelos agentes sociais para fazer valer sua competência profissional e
escapar da avaliação a qual eles são regularmente submetidos.
Para tanto, o sociólogo tece um “vai-e-vem constante das qualificações às classificações,
que permitem de mostrar os acordos pontuais ou duráveis e os dispositivos ou instituições
nos quais eles são implantados mas também as tensões que eles suscitam e que os tornam
instáveis” (Trépos, 1992, p. 8). Trata-se de analisar certos agenciamentos que, em
circunstâncias precisas, entram na composição da competência profissional. São
identificados então agenciamentos que se harmonizam com certas situações, mas que
podem não ser adequados em outras situações. Conseqüentemente, examinar a construção e
a manifestação da competência profissional de um grupo ou de um indivíduo, é escrutar,
num conjunto de possíveis, os dispositivos – os objetos e as pessoas – que compõem a
competência profissional de um grupo.
No prolongamento dos trabalhos de Paradeise (1985) e de Trépos (1992), Jacques Walter
(1995) se interroga sobre a emergência de um modelo profissional por meio da mobilização
de dispositivos e de princípios de justificação de naturezas diferentes. Seu método de
trabalho consistiu em apreender a maneira como o agrupamento desenvolve uma retórica
profissional e como se investe na legitimação da atividade. Assim, ele distinguiu e
classificou alguns dispositivos que compõem os paradigmas, os princípios de legitimação,
as lutas de classificação, de profissionalização. Os grupos profissionais se esforçam para
colocar em circulação vários dispositivos, aos quais as pessoas e os coletivos recorrem para
construir e manifestar sua competência ; e esses dispositivos formam um ‘modelo
profissional’. A modelização designa os “princípios de legitimação e compromissos entre as
naturezas das quais eles saem que balizam a evolução dos acordos e desacordos” que
provém dos códigos de ética, textos dos agentes, das pesquisas sobre o grupo, elaboradas e
difundidas pelos agentes, e difundidos nas cerimônias de entrega de prêmios, conferências
do grupo, colóquios, etc. (Walter, 1995).
Esta postura teórica se ancora em uma perspectiva construtivista que considera a
competência profissional como uma construção social, que evolui no tempo e que é
composto por diversos elementos, por “recursos que serão mais ou menos mobilizados
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pelas pessoas as situações dadas” (Trépos, 1992, p. 16). A construção da competência
permite descobrir certos aspectos de um grupo profissional, resgatando seu discurso
legitimador, encarado como um grupo em processo contínuo de construção e de
legitimação. Ela autoriza também considerar os grupos profissionais não somente como
coesão de identidades, de valores, de práticas, de estatutos, de qualificação, movidos pelo
desinteresse e interesse geral, segundo uma abordagem funcionalista, mas também como
construção enunciativa e organizacional.
1. Os modelos de ombudsman de imprensa
Os posicionamentos dos atores na elaboração de uma representação da ouvidoria de
imprensa e nas definições da função mostram a distância entre o modelo paradigmático
difundido pela ONO22, para o público interno – os próprios ombudsmans – e para o público
externo – empresas jornalísticas, jornalistas e audiência da mídia, sociedade. De fato, a
modelização da função de ombudsman de imprensa tende a reforçar as atribuições de
recepção e de tratamento de reclamações dos leitores e de redação regular de uma coluna,
no caso dos da imprensa escrita. Distingue-se uma representação dominante segundo a qual
o traço principal da função é a autonomia em relação da direção da mídia que a contrata.
Essa autonomia é traduzida pela produção de uma análise crítica do tratamento da
informação, que toma corpo na publicação de uma “coluna não censurável [que] significa a
disposição do jornal de ‘tornar públicas’ as suas falhas”, como descreve L. E. Glaser
(1994), ex-ombudsman do diário californiano Fresno Bee.
De um lado, a representação paradigmática da ouvidoria de imprensa forjada nos Estados
Unidos pela ONO pode ser ilustrada pela definição de Mário Mesquita, professor
universitário e primeiro provedor do jornal lisboeta Diário de Notícias: o ombudsman é
“uma personalidade designada pela empresa jornalística, em vista de receber as
22 A ONO é a associação profissional dos ombudsmans de imprensa, de extensão mundial, sediada nos
Estados Unidos, cujo site Internet é www.newsombudsmen.org. Atualmente o presidente da associacão é o
turco Yavuz Baydar, do jornal Milliyet, de Istambul. Porém, sua secretaria geral fica na Califórnia, onde
trabalha Gina Lubrano, reader’s representative do San Diego Union Tribune.
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reclamações dos leitores e de criticar o diário. Ele discute o jornal nas suas próprias
páginas, explica ao leitor as decisões editoriais que são tradicionalmente mantidas no
segredo das redações. Ele possui um poder de influência e de palavra. Ele metacomunica a
fim de legitimar e de dar credibilidade ao jornal pela reflexão de sua própria crítica”
(Mesquita, 1998, p. 84). A esta definição, os agentes desse espaço profissional vão
corresponder três atribuições que são habitualmente realizadas pelos ombudsmans nos
Estados Unidos: “1) representar o leitor na Redação, 2) elaborar críticas internas ao jornal;
3) escrever uma coluna semanal relacionada crítica de mídia (ou ao noticiário)” (Xavier,
1997).
De outro lado, o modelo de ombudsman de imprensa instaurado no Japão faz concorrência
para a modelização da função, de maneira que a ONO desenvolve uma argumentação para
mostrá-lo como um conceito análogo ao modelo paradigmático da função, mas de valor
inferior. As diferenças entre o ombudsman norte-americano e o japonês começam pelo
número de ombudsman em atividade em cada país. Trata-se de uma comparação que
desfavorece os Estados Unidos, onde, em janeiro de 2004, 37 ombudsmans eram
associados à ONO, num universo de 1500 diários23. No Japão, a maioria dos diários dispõe
de um serviço de verificação do tratamento da informação. Em 1999, segundo uma
pesquisa da Nihon Shinbun Koykai – Associação de Editores de Diários – 56 dos 94
(59,5%) diários pesquisados, num total de 116 diários, tinham um comitê (Maezawa, 1999).
No Japão, as empresas jornalísticas utilizam várias designações para os programas
de ouvidoria. A mais adotada é de ‘comitê de checagem de jornais’, mas também ‘conselho
de inspeção de reportagens jornalísticas’, ‘departamento de avaliação do conteúdo das
notícias’, ‘seção de checagem de artigos’. Por conseguinte, os membros desses comitês não
são oficialmente chamados ombudsmans; eles se designam “representantes dos leitores”
(Maezawa, 1992, p. 134), uma denominação que a ONO reconhece como similar a de
ombudsman. Ao invés de um único ombudsman por jornal, eles formam um departamento
em uma empresa jornalística. Com sua tiragem de 10 milhões de exemplares, o diário
Yomiuri Shimbun, tinha, em 1999, um comitê de verificação do jornal composto por 28
23 Nem todos os ombudsmans são filiados da ONO, como o recém-criado public editor do New York Times.
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jornalistas. Todavia, o que entravaria a equivalência dos ouvidores de imprensa japoneses e
a representação paradigmática dos titulares da função, seria a falta de ‘tornar público’ (‘go
public’), a pouca disposição de “divulgar informações sobre eles mesmos e de convidar os
leitores a participarem de discussões” (Maezawa, 1999) deontológicas.
É na passagem entre essas duas atribuições – receber as reclamações e produzir uma crítica
– que está concentrada a caracterização da ouvidoria de imprensa. É por aí que se joga a
legitimidade da função e que se separa os ‘verdadeiros’ ombudsmans de imprensa dos
outros, segundo a modelização da função divulgada para o público interno (Xavier, 1997 ;
Maezawa, 1999). Colocar em perspectiva a evolução da definição de ombudsman de
imprensa torna mais inteligíveis as dificuldades e as vantagens da construção de uma
representação paradigmática.
2. A definição norte-americana
Quando a ONO é fundada, em 1980, a associação profissional entretém voluntariamente a
fluidez da ouvidoria de imprensa, o que torna possível o alargamento das fronteiras do
grupo. Trata-se de um trabalho de deslocamento dos “limites do reivindicável, permitido de
redefinir o terreno de intervenção” (Trépos, 1992, p.45), em um movimento de crescimento
contínuo do campo de ação do grupo que incluiu paulatinamente novas competências. Nas
diretrizes (guidelines) da ONO, adotadas no congresso anual da associação em 1982, os
ombudsmans de imprensa são caracterizados pelos objetivos de “1. Aperfeiçoar a equidade,
exatidão e responsabilidade do jornal; 2. Aumentar sua credibilidade; 3. Investigar todas as
queixas e recomendar ação corretiva quando for o caso; 4. Alertar o diretor de redação
sobre todas as queixas; 5. Fazer conferências ou escrever para o público sobre as linhas, as
posições e as atividades do jornal; 6. Defender o jornal, publicamente ou em particular,
quando for o caso” (Costa, 1991, p. 34).
No meio de outros objetivos, a redação de uma coluna regular se dissolve entre as
atribuições do ombudsman; além disso, “fazer conferências ou escrever para o público
sobre as linhas, as posições e as atividades do jornal” pode se revestir de encontro entre o
ombudsman e os leitores e não ser configurado como uma crítica. Em outras palavras, essa
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lista da ONO não torna obrigatória uma crítica externa, mas alinha o ombudsman enquanto
canal de divulgação das orientações editorias da empresa jornalística. Representar o leitor e
defender o jornal vão juntos e não são incompatíveis e os dispositivos de crítica são
enunciados para não provocar conflitos com as empresas jornalísticas. Por exemplo, as
ações de imputabilidade são restritas à recomendação de correções. Cabe exclusivamente à
direção da empresa jornalística definir o que será corrigido.
Na brochura da ONO disponível no seu site, estão explicitados os pontos definidos pelas
diretrizes, enquanto que as múltiplas maneiras de trabalhar do ombudsman de imprensa são
salientadas, sem nenhum caráter obrigatório. O titular do cargo é aquele que “recebe e
investiga as reclamações da audiência de uma mídia e indica medidas que visem a exatidão
e/ou a conformidade de certas reportagens”. Essa definição a duas implicações: a pessoa
que, numa empresa jornalística, recebe e investiga as queixas do público em relação ao
conteúdo jornalístico pode se filiar à associação de ombudsman de imprensa; e as
atividades de crítica da mídia e de publicação das avaliações das reclamações dos leitores,
por meio de uma coluna regular, não são obrigatórias. No site, as atividades profissionais
dos ombudsmans de imprensa são apresentadas assim:“Dois ombudsmans não trabalham exatamente da mesma maneira. Entretanto, eles examinam geralmente a imparcialidade, a precisão e o equilíbrio das informações, dos features, das fotografias e de outros elementos gráficos. Eles fazem relatórios para os responsáveis na redação sobre os artigos publicados que não satisfazem tais critérios.Eles investigam e respondem aos comentários e às queixas relativas às informações e aos features publicados ou difundidos. Eles obtêm explicações dos editores e de outros membros da redação para os leitores, os ouvintes ou os telespectadores.Alguns acompanham a preparação de correções. Outros redigem os boletins internos sobre as opiniões e as queixas dos leitores. Vários ombudsmans de imprensa escrevem colunas regulares que tratam de assuntos de interesse público e de agravos específicos. Quando necessário, as colunas podem criticar, explicar ou elogiar.Outros ombudsmans lançam ou animam fóruns públicos ou comitês consultivos de leitores no esforço de se conectar mais estreitamente com os leitores. Muitos dão conferências para diversos grupos públicos ou privados para explicar as práticas midiáticas. Alguns expedem questionários de exatidão para as pessoas citadas nos artigos de informação e solicitam comentários.Em empresas jornalísticas de pequeno porte, os ombudsmans de imprensa estimam necessário assumir outras obrigações relativas às informações. Mais em todos os casos, os ombudsmans de imprensa têm geralmente funções consultivas e não disciplinares” (ONO, 1999).
A atividade profissional comum aos ombudsmans de imprensa é receber e tratar as
queixas dos leitores, transmiti-las às pessoas responsáveis por categoria de informação e
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solicitar explicações e justificações à redação para poder apreciar e responder as
reclamações dos leitores. A publicação de colunas, a preparação de correções, a redação de
boletins internos, a participação em colóquios e em conferências, a animação de comitês
consultivos de leitores e a expedição de questionários de exatidão fazem parte do repertório
de atos profissionais que são variáveis e que mudam em cada ombudsman. Uma pesquisa
da ONO para identificar as atividades profissionais dos ombudsmans, realizada no final de
1996 com os seus filiados, testemunha que a atribuição unânime é a recepção de
reclamações e sugestões dos leitores. Apesar de ser realizada pela maioria dos
ombudsmans, a publicação de uma coluna não é o ato profissional comum a todos os
ombudsmans. A atividade profissional comum a todos os ombudsmans é a recepção de
ligações telefônicas dos leitores. Quanto às outras atividades, a quantidade de titulares que
as realizam é bem variável. De 28 entrevistados, 24 (85%) assinam colunas, um é
responsável por um programa de rádio semanal e outro apresentava um programa de
televisão. Assim temos um total de 26 ombudsmans (93%) que tornam público suas
avaliações das práticas jornalísticas.
Se ela constituía um ato profissional bem habitual, a coluna não era unanimemente
considerava a parte do trabalho mais significativa. Quando perguntados sobre a parte de
trabalho considerada mais importante, o acesso dos leitores aos editores e à instituição
recebeu 9 respostas. Em seguida, vieram as colunas (7) e investigar e responder as queixas”
(4).
3. Modelização pelo acesso do público
De fato, para uma parcela do grupo profissional, principalmente para certos agentes norte-
americanos, a modelização da ouvidoria de imprensa deveria privilegiar o acesso dos
leitores à mídia e não particularmente a correção do tratamento da informação e o ‘tornar
público’(‘go public’) dos erros. C. W. Bailey (1990), ex-diretor de redação de um diário
com ombudsman, concebe o ombudsman como aquele que deve principalmente “receber e
tratar as reclamações dos leitores, relatar suas conclusões para os editores, obter e relatar as
respostas” para o leitor. A elaboração de um relatório diário para a redação sobre o
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conteúdo das reclamações dos leitores e a esporádica preparação de memorandos para a
direção de redação seriam atividades secundárias, enquanto que a produção de uma coluna
para o público externo seria desejável, mais não imprescindível.
Outras apresentações da função de ombudsman enfatizam igualmente a recepção e o
tratamento das reclamações dos leitores, atividades através das quais o ombudsman facilita
o acesso do público à empresa jornalística. No artigo « Lending an ear. Whether called…
public editor, reader advocate, reader representative or ombudsman… more and more
papers are listening to readers. Should yours ? », publicado pelo boletim da ASNE –
Associação Norte-Americana de Editores de Jornais, S. Lamont (1999), então ombudsman
do diário regional americano Sacramento Bee e presidente da ONO no biênio 2001-2002,
caracteriza a ouvidoria de imprensa como representante dos leitores na direção da empresa
jornalística; são “jornalistas cuja principal tarefa é ouvir os leitores, assegurar que os
editores vão entender o que foi dito e utilizar essa informação para auxiliar a melhorar o
jornal”. O jornalista tem a ambição de convencer as empresas jornalísticas, o público-alvo
da ASNE, a contratar mais ombudsmans. Assim, o papel do ombudsman chocaria menos
com a redação e a direção da empresa jornalística e a função seria mais facilmente admitida
nas redações refratárias a essa função.
4. Modelização pela crítica da mídia
Entretanto, uma tal modelização da ouvidoria de imprensa – que valoriza as atividades
profissionais de favorecimento do acesso do público à mídia – não é unanimemente
compartilhada por todos os agentes do espaço profissional. Pelo contrário, as discussões
sobre a anterioridade da ouvidoria de imprensa testemunham a falta de legitimidade de uma
fração do grupo profissional que se dedica prioritariamente à recepção e ao tratamento das
manifestações dos leitores (Maia, 2003). Pode-se encontrar freqüentemente caracterizações
da ouvidoria de imprensa que enfatizam a atribuição de crítico da mídia, principalmente nos
dispositivos voltados para o público interno.
A. C. Nauman, antecessor de S. Lamont na função de ombudsman do Sacramento Bee e ex-
secretário da ONO, considera o ombudsman como quem ‘é pago um salário consistente
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para criticar seus próprios pares, seus próprios associados e, algumas vezes, seus próprios
amigos” (Nauman, 1994). O Washington Post, segue esse configuração da ouvidoria de
imprensa: “Eu realizo outras tarefas […] de um ombudsman de imprensa, mas no Post, meu
papel principal é a crítica. […] Chego a pensar que essa é a parte mais influente do trabalho
do ombudsman” (Byrd, 1994). Mário Xavier, primeiro e único ombudsman do AN Capital,
de Florianópolis, conta que nos Estados Unidos existe um consenso segundo o qual “a
prática do ‘ombudsmanato’ de imprensa só tem valor se o profissional ombudsman tornar
público em suas colunas os erros do jornal (ou rádio, TV, veículo para o qual trabalha)”
(Xavier, 1997).
5. Dispositivos da autonomia profissional
Alguns dispositivos, como a definição, o estatuto, o perfil do titular, a lista dos atos
profissionais e a localização da sala, são empregados para distinguir as divisões internas da
função e para colocar em circulação uma definição ‘forte’ da ouvidoria de imprensa,
divulgada para os públicos interno e externo desse espaço profissional. O agenciamento
desses dispositivos permite a elaboração de uma classificação, produzida pelos próprios
ombudsmans, dos cargos que apresentam “mais independência do que os outros” (Nauman,
1994). Quanto maior ‘independência’ dispor o ombudsman, mais próximo estará da
representação paradigmática da função. São dispositivos estatutários ou não
regulamentados que têm a função simbólica de marcar a diferença da ouvidoria de
imprensa e dos serviços de atendimento ao cliente, de colocar a disposição do titular da
função “todos os meios necessários para que este cumpra a sua missão de garantir a defesa
dos direitos dos leitores” (“Estatuto do Provedor do Leitor do Público”), de reforçar a
autonomia do ombudsman em relação à direção da empresa jornalística.
A publicação de uma coluna regular na qual titular da função responde as reclamações dos
leitores e/ou aprecia o tratamento da informação é o principal dispositivo da autonomia do
ombudsman da imprensa. Como já vimos, a presença ou a ausência da coluna distingue os
cargos de ombudsman. Outros dispositivos objetivam criar condições para o ombudsman
ter autonomia da redação. Nesse trabalho, será analisado o perfil do ombudsman: percurso
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profissional e idade do titular da função.
5.1. Outsider ou insider
O ombudsman é um assalariado da empresa jornalística que implantou o cargo. Dessa
maneira, nos debates sobre as medidas para assegurar a autonomia da ouvidoria de
imprensa, as empresas podem adotar posicionamentos diferentes sobre a origem dos
ombudsmans. No primeiro caso, escolhe-se um jornalista da casa ou um de outra empresa
jornalística. É a experiência profissional e o conhecimento da empresa que funda a seleção
dos jornalistas da casa, de forma que profissionais designados ao cargo de ombudsman
seriam “sempre os mais velhos, os mais experimentados […] membros da redação”
(Jacoby, sem data). O médiateur Robert Solé estabelece a distinção entre um “assalariado
do Le Monde” e profissional “externo da empresa” que seria “totalmente independente e
perfeitamente objetivo” (Solé, Le Monde, 07/09/1998). Desse fato, a clivagem entre quem é
interno e quem vem de fora se funda na bipolaridade entre o conhecimento da empresa
jornalística – signo da competência profissional para cumprir bem as funções de
ombudsman – e a exterioridade – prova da liberdade de ação. Os jornalistas seriam os
únicos competentes para levar um controle técnico e ético das práticas profissionais.
5.2. Idade
Entretanto, para os opositores da ouvidoria de imprensa, a apreensão do futuro profissional
poderia levar os jornalistas insider a tomar posições simpáticas à mídia. Além da
exterioridade do ombudsman, a idade do ombudsman é agenciada para retorquir as
denunciações de insuficiência de independência. É com esses argumentos, por exemplo,
que os ombudsmans do Le Monde respondem as críticas dos leitores em relação das
apreciações consideradas favoráveis e/ou benevolente ao diário. A justificação resulta em
afirmar que “o médiateur estando, em regra geral, bem avançado na carreira para não se
preocupar com o seu futuro” (Ferenczi, Le Monde, 10/03/1997). É estabelecido então uma
correlação entre a estada na empresa jornalística e o engajamento efetivo, o que conduziria
a uma tendência a defender as escolhas redacionais do jornal.
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Ombudsman outsider carece também de legitimidade. O que é colocado em dúvida não é o
percurso profissional do ombudsman, mas a maneira de designar os novos ombudsmans de
imprensa. Os próprios titulares da função não podem garantir que um ombudsman vindo do
exterior de uma empresa jornalística seja incontestavelmente autônomo, neutro. Assim,
Mário Mesquita afirma que “as empresa querem apresentar os ombudsmans como
outsiders na medida em que o contrato que eles estabelecem com o diário os confere um
certo grau de autonomia. Mas o ombudsman é escolhido pela hierarquia empresarial e
redacional (Mesquita, 1998, p. 85).
Conclusões
A divergência de agenciamento da ouvidoria de imprensa se torna inteligível quando
associam-se o posicionamento dos agentes do espaço profissional e os públicos aos quais
eles se endereçam. A ONO desenvolve trabalhos de legitimação distintos: um visa o público
interno e outro toca o público externo (segmentado em dois alvos: as empresas jornalísticas
– os jornalistas, a direção e os proprietários – e o público e a sociedade). Nas discussões
internas da ouvidoria de imprensa, o modelo paradigmático é aquele que dispõe de maior
autonomia na apreciação do tratamento de informação e o ombudsman do Washington Post
aparece como o modelo ideal. É essa modelização que ultrapassou as fronteiras dos Estados
Unidos e que os ombudsmans japonês T. Maezama (1999), brasileiro M. Xavier (1997) e
português M. Mesquita (1998) ecoam. Entretanto, nos Estados Unidos, o discurso de
justificação e de legitimação da ouvidoria de imprensa toma outras dimensões quando se
trata de convencer os jornais e os departamentos de jornalismo das rádios e televisões a
adotar a função. Tende-se preferencialmente de salientar o papel de melhorar a relação
mídia-público e de afastar um pouco as atribuições da crítica da mídia.
A falta de delimitação das fronteiras da ouvidoria preenche então uma grande função
estratégica no discurso de justificação e de legitimação da função. A extensão do título
serve para responder as denunciações de que a ONO participa a uniformização das
atividades profissionais dos ombudsmans, o que é contrário à concepção liberal da
imprensa, e, em último caso, dos jornalistas. Trata-se de um argumento utilizado pelos
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opositores da criação da ONO (Jacoby, sem data). A diversidade das atribuições e das
rotinas de trabalho dos ombudsmans de imprensa responde também aos que poderiam
distinguir na associação de ombudsman um dispositivo de homogeneização do grupo e de
restrição da sua autonomia de ação. No mais, a extensão do título permite contrabalançar
certos obstáculos na mídia. Mostrar a elasticidade da função de ombudsman serve ainda
para escamotear as reservas dos diretores das empresas jornalísticas, porque ela deixa aos
próprios atores a missão de juntar as atribuições para forjar o seu ombudsman. Existiria
uma certa subjetividade no exercício da função de ombudsman de imprensa, de maneira
que poderia ser considerado como uma “entidade unipessoal” (Mesquita, 1998, p. 85). Sem
decidir irrevogavelmente sobre o título, a definição e as atribuições dos ocupantes da
função, a associação entretêm a fluidez da função. Em suma, a ONO obtém ganho
simbólico: ela pode contar nas suas fileiras com pessoas cujos títulos e atribuições são
similares, o que aumenta o número de filiados da associação.
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