Governador
Vice Governador
Secretária da Educação
Secretário Adjunto
Secretário Executivo
Assessora Institucional do Gabinete da Seduc
Coordenadora da Educação Profissional – SEDUC
Cid Ferreira Gomes
Domingos Gomes de Aguiar Filho
Maria Izolda Cela de Arruda Coelho
Maurício Holanda Maia
Antônio Idilvan de Lima Alencar
Cristiane Carvalho Holanda
Andréa Araújo Rocha
SUMÁRIO Página
CAPÍTULO 1 – IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DA FRUTICULTURA .................. 01
CAPÍTULO 2 - PROPAGAÇÃO DE ÁRVORES FRUTÍFERAS ................................ 12
CAPÍTULO 3 – MANEJO DO SOLO E IRRIGAÇÃO .................................................. 29
CAPÍTULO 4 - PODA DAS PLANTAS FRUTÍFERAS ................................................. 42
CAPÍTULO 5 - PRINCIPAIS PRAGAS E DOENÇAS EM FRUTICULTURA........... 48
CAPÍTULO 6 – COLHEITA, PÓS-COLHEITA E ARMAZENAMENTO.................. 108
CAPÍTULO 7 – PERDAS PÓS-COLHEITA DE FRUTAS............................................ 119
CAPÍTULO 8 – MERCADO E COMERCIALIZAÇÃO DE FRUTAS......................... 124
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................... 136
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CAPÍTULO 1 - IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DA FRUTICULTURA
A cadeia da fruticultura está emergindo e sendo chamada no resto do mundo – e
também no Brasil – como a “indústria das frutas” e não mais “fruticultura”. Por quê? Se
hoje visitarmos um pecking house (as instalações onde são beneficiadas, por exemplo,
as maçãs no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina), verificaremos que são instalações
que já superaram a era da mecanização, e encontram-se na era da robotização. Irei
restringir a minha palestra à produção de frutas in natura devido ao tempo escasso mas,
por analogia, o que for abordado sobre as frutas frescas, refere-se também às frutas
secas, como as castanhas, além das polpas de frutas e os sucos.
O Brasil é hoje um dos três maiores produtores de frutas no mundo. Só perde
para a China e para a Índia. A produção brasileira superou 35 milhões de toneladas em
2005, o que representa 5% da produção mundial.
A fruticultura emprega hoje 5,6 milhões de trabalhadores, ou seja, 27% da mão-
de-obra agrícola. Para cada US$ 10 mil investidos, geram-se três empregos diretos
permanentes e dois empregos indiretos. A agricultura de exportação necessita de
recursos humanos qualificados e com conhecimento específico, em outras palavras,
oferece bons empregos.
A fruticultura está fundamentada em pequenas e médias propriedades e este
aspecto é extremamente importante para um país em desenvolvimento, onde se busca o
crescimento do setor rural, o aumento de renda e a fixação do homem à terra. Hoje um
produtor, produzindo frutas adequadas, na hora certa e de forma correta, tem uma
rentabilidade financeira suficiente não apenas para a sua sobrevivência, mas também
para a sua evolução socioeconômica e de sua família. Para se ter uma ideia, um produtor
de uvas sem sementes hoje, no Vale do São Francisco, pode conseguir com a sua
produção, em um hectare, renda bruta anual de US$ 20 mil.
A fruticultura está em constante evolução, sendo que a base agrícola deste setor
já ultrapassou os 2,3 milhões de hectares, gerando oportunidades de 2 a 5 postos de
trabalho na cadeia produtiva por hectare cultivado.
O Quadro 1 apresenta a produção de frutas no Brasil. Através dele, é possível se
verificar que a produção de citros mais a de banana, representam 77% da produção total
de frutas brasileiras. O país tem muito o que caminhar ainda.
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Fonte: Fernandes in 8º Congresso de Agribusiness
Apesar de serem produzidas frutas em todo o Brasil, frutas de clima temperado,
de clima sub tropical, frutas tropicais, de clima equatorial úmido, o grande consumo
deste produto ocorre na Região Sudeste brasileira que absorve 48,3% das frutas
produzidas no país. O estado de São Paulo consome os 25,53% da produção (Ilustração
1).
Este fenômeno é devido a dois fatores: o primeiro, é claro, pelo alto poder
aquisitivo, mas o outro motivo é extremamente importante: a fruticultura gera frutas,
frutas são alimentos e alimentos são consumidos proporcionalmente ao número de
pessoas. Consequentemente, há uma distribuição de consumo bastante concentrada
nesses grandes centros urbanos. Este aspecto é relevante para que haja competitividade
quando as frutas são produzidas longe desses centros de consumo. É preciso que se
cuide da logística para que se chegue aos mercados do Sudeste de forma competitiva.
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O Gráfico 1 apresenta a curva de evolução da exportação brasileira de frutas
frescas entre 1998 e 2000. Verifica-se que o Brasil chegou em 2005 com mais de 800
mil toneladas, equivalendo a US$ 440 milhões. E as perspectivas são de que, nos
próximos seis anos, o país atinja o patamar de 1 bilhão e 300 mil toneladas e ultrapasse
o patamar de US$ 1 bilhão, somente em frutas frescas.
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Com relação às exportações, o Gráfico 2 mostra que o Brasil exporta hoje para
55 países. Porém, gostaria de indagar: perante esse gráfico, qual é o país que mais
consome frutas frescas? É o Brasil? Colocamos esse gráfico para mostrar algumas
armadilhas da estatística e esta é uma delas. Realmente o maior mercado brasileiro hoje
é a Comunidade Europeia e a maior parte dos países que funcionam como entrada para
as frutas nacionais são dois: Inglaterra e Holanda. Porém, o maior consumidor de frutas
brasileiras e o qual temos mantido com muito carinho, é o alemão. Porque a maior parte
das importações alemãs são feitas indiretamente. Este é um viés que estamos
procurando modificar, porque se conseguirmos deixar essa intermediação por nossa
conta, iremos, além de uma melhor rentabilidade, termos um maior controle sobre
odestino das nossas frutas. Hoje é possível se encontrar melão na Rússia, cujo produtor,
o Rio Grande do Norte, nem imagina que seu produto esteja sendo vendido lá. É
necessário que passemos a controlar o destino e a forma como os produtos nacionais são
comercializados, pois precisamos valorizá-los. O alvo brasileiro para os próximos anos
não é nenhum desses países do Gráfico 2. Dentro dos próximos seis a oito anos, o futuro
grande mercado para as frutas brasileiras é o constituído pelos países árabes, os países
do Leste Europeu, os do Sudoeste Asiático, mais a China.
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O Quadro 2 lista as estrelas das exportações brasileiras. Verificarmos que, por
esta tabela, em termos de faturamento, a grande estrela brasileira é a uva de mesa
também seguida pelo melão. Mas, com relação ao volume exportado, a banana é a
vedete, seguida também pelo melão. Estamos vivenciando uma nova estratégia da
fruticultura de exportação, ou seja, a substituição de frutas de menor valor agregado
pelas de maior valor agregado, o que permite que seja alcançado maior faturamento com
menor volume de produção. Para se ter uma ideia, a uva sem semente produzida hoje no
Vale do São Francisco, está valendo na cotação de ontem em Rotterdam, cerca de US$
3.200 a tonelada o que não é nada ruim.
O crescimento da fruticultura nacional
Alguns indicadores dos gráficos anteriores mostravam o crescimento médio
anual da fruticultura desde 1998 a patamares de 32%, em volume exportado, e 42% em
valor. Se olharmos a avaliação de 2005 a 2004, verificaremos que esse crescimento não
foi brilhante, mas isso não deve nos preocupar, porque a fruticultura, como qualquer
outra atividade agrária, é um negócio de risco. E, normalmente, a maior parte das frutas
provêm de plantios perenes e tem ocorrido, durante estes últimos dois/três anos,
problemas bastante sérios de adversidades climáticas. Há três anos a maçã não consegue
alcançar seu potencial de produção no Rio Grande do Sul por causa de secas, e agora
por conta do granizo. O Vale do São Francisco inundou onde não chovia. Aconteceram
problemas com a uva relacionados a chuvas fora do tempo. A consequência é que foram
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obtidos, em 2005, menos 3% em volume (827,7 mil toneladas), em comparação com o
ano de 2004. Porém, houve um aumento de 19,5% em valor (US$ 440,1 milhões) que é
justamente o diferencial de valor agregado que estamos considerando.
O saldo da Balança Comercial de Frutas Frescas é crescente (US$ 315 milhões
em 2005). É evidente que a valorização do Real está desfavorecendo a fruticultura de
exportação como qualquer outro setor. Mas a fruticultura brasileira está começando a
mudar seu posicionamento negocial com uma nova filosofia de que não devemos mais
nos abater contra as adversidades, mas sim tentar contorná-las. Realmente, é com ações
pró-ativas e procurando-se conhecer melhor os mercados externos, suas atitudes e
costumes e também sabendo como negociar com cada um dos povos, inclusive com o
nosso – que precisa ser negociado para consumir mais frutas –, que teremos dias
melhores.
O Gráfico 3 apresenta as perspectivas do comércio exterior até 2008. Verifica-
se, pela cor mais escura, o crescimento médio anual do mercado internacional de frutas
como a maçã, o papaia, o melão, a manga, etc. E na cor mais clara, o crescimento médio
anual esperado para as exportações das frutas brasileiras. Constata-se que há
perspectivas de crescermos – ou de aumentarmos as nossas exportações – acima do
crescimento médio do comércio internacional. Isto significa que estamos ganhando
share de mercado e não exportando mais porque existe um mercado crescente, o que
não é verdade.
O mercado europeu, por exemplo, já há alguns anos, está saturado em termos de
consumo per capita de frutas e a única forma de conseguirmos nele entrar é com a
diferenciação, exportando para lá frutas diferentes, frutas brasileiras e tropicais. A nossa
estrela deverá continuar sendo a uva. Neste ano de 2006, já mais da metade dos
parreirais de uva de mesa para a exportação do Vale do São Francisco são de variedades
sem sementes. O produtor brasileiro está reagindo rapidamente às demandas do
mercado internacional. Hoje os melões – que inclusive estão disponíveis nos
supermercados brasileiros – são tão diferenciados que é até difícil reconhecê-los.
Conhecíamos o velho melão valenciano amarelo, e hoje o Brasil está
exportando melões nobres de todas as variedades demandadas e apreciadas no mercado
internacional.
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Peculiaridades do comércio exterior da fruticultura
Vamos agora entender um pouco o comércio exterior, que é muito falado, mas
que para a fruticultura existem uma série de peculiaridades que merecem ser tratadas e
discutidas. Como indicador referencial, a produção mundial de frutas hoje é de
aproximadamente 633 milhões de toneladas (em 2005). Qual é o destino dessa
produção? Cerca de 91,5% permanece nos mercados domésticos, ou seja, a maior parte
da produção de frutas são consumidas nos países onde são produzidas. O mercado
internacional de frutas representa apenas de 8,5% a 9% da produção. Nos mercados
externos, 30% vão para a industrialização e 70% para o mercado in natura. No Brasil, se
for feita essa análise, ela não baterá muito bem, porque grande parte de nossa produção
de laranja vai para produção de suco. Mas, se desconsiderarmos este case, verificaremos
que a regra também se aplica ao nosso país. Portanto, o comércio internacional
apresenta um volume de 53,7 milhões de toneladas, e o valor é de aproximadamente
US$ 31,5 bilhões.
As características estruturais são interessantes para a fruticultura (Gráfico 4).
Dentro do comércio internacional existem dois tipos de mercados: os de proximidade,
que hoje equivalem a 24,8 milhões de toneladas; e os mercados de longa distância, que
representam 28,9 milhões de toneladas. Infelizmente, o Brasil não tem muitos mercados
de proximidade. Os nossos mercados de proximidade se resumiriam aos nossos vizinhos
territoriais, que não compram muito os nossos produtos. Assim, os grandes mercados de
proximidade são entre os países compradores do Hemisfério Norte, do Canadá para os
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Estados Unidos; dos Estados Unidos para o Canadá; da Alemanha para a França; da
França para a Espanha; e, consequentemente, se fecham as nossas perspectivas de
entrada. O que nos resta? Os mercados de longa distância, que se subdividem em apenas
um mercado, o de banana. Só a banana representa 29,6% da comercialização mundial de
frutas, o que explica a famosa “guerra das bananas”, para a conquista desse mercado,
que não é nada desprezível. As frutas exóticas e tropicais representam somente 8,4%.
Assim, temos que nos concentrar nos mercados de contra-estação, que
representam 15,8%. Que mercados são esses? Na Europa, quando começa a esfriar, não
há mais disponibilidade de frutas, sendo necessário importá-las, se a população quiser
continuar comendo frutas. Por exemplo, a Espanha hoje é o maior produtor do mundo
de melões mas, paradoxalmente, é o nosso maior importador do produto na Europa,
justamente nos meses mais frios, ou seja, em novembro, dezembro e uma parte de
janeiro.
As uvas que estamos exportando, além de uma série de outras frutas, como a
maçã são produtos de contra-estação. Salvo a manga, as nossas estrelas de exportação
têm como estratégia buscar esse mercado de contra-estação. Por quê? Porque são
produtos normalmente já conhecidos naqueles mercados, como a uva e a maçã não
sendo necessário se investir em marketing, em promoção de forma substancial para que
as pessoas se acostumem com essas frutas. Isso já não acontece com as frutas tropicais,
apesar de termos um mercado de 8,4%, e sermos hoje o terceiro exportador mundial de
manga e o primeiro de mamão papaia. O Brasil tem 70% do mercado europeu em suas
mãos, mas ele consome pouco e precisamos ensiná-los a consumir melhor. Para isso,
precisamos aperfeiçoar nossos sistemas de promoção e nossas estratégias de divulgação
das frutas brasileiras.
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Oportunidades
O Brasil tem um grande potencial de crescimento no setor da fruticultura com o
aumento, por exemplo, do cultivo de melões nobres (outras variedades); de frutas
orgânicas – se há um país que poderá realmente abastecer, não só o Brasil, como todo o
mundo, com frutas orgânicas, esse país chama-se Brasil, não tenham dúvidas sobre isso.
Outro fator de indução desse crescimento será o aumento do cultivo de uvas sem
sementes, que hoje predominam no mercado americano; com as uvas sem sementes
voltamos também a comercializar e a vender frutas para os Estados Unidos. Há também
a possibilidade de habilitação de mais packing houses para mangas, ou seja, sistemas de
manipulação de frutas para mangas. Não sei se todos sabem mas, para vendermos para o
Japão, para os Estados Unidos, os exportadores de manga têm que fazer um tratamento
quarentenário que pressupõe colocar a manga em temperatura de 58ºC durante tantos
minutos. Então, por favor, não comam manga nos Estados Unidos ou no Japão porque
elas já estão meio cozidas. Mas é o único jeito de se vender.
Precisamos mudar este tipo de mentalidade através de negociações
internacionais, porque não vamos matar nenhuma criancinha vendendo manga tirada do
pé. Mais uma oportunidade de crescimento do setor é a expansão do cultivo de banana
no Rio Grande do Norte e no Ceará, com qualidade e logisticamente mais competitiva.
Os grandes produtores de banana estão vindo para o Brasil, aliás, já estão aqui e os
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estados para exportarmos para a União Européia chamam-se Rio Grande do Norte e
Ceará. Por quê? Os custos de produção são menores e, consequentemente,
logisticamente estão mais perto da Europa, que recentemente abriu um mercado para a
banana e todos agora deverão concorrer em igualdade de condições, desde que paguem
E$ 176 por tonelada. Mas como são todos, creio que teremos vantagens.
Outro fator é o aumento das áreas certificadas de mamão no Nordeste, que vão
nos permitir entrar nos Estados Unidos que são, sem sombra de dúvidas, o maior
mercado de papaia. Outras frutas, a médio prazo, poderão entrar nos Estados Unidos
como o limão, as laranjas e as tangerinas. Obviamente, o Brasil pode aumentar a
produção de frutas o quanto quiser. Existem também oportunidades em novos
mercados, como, por exemplo, o Leste Europeu, países árabes, Sudeste Asiático e
China.
A potencialidade de aumento de competitividade internacional é real, mas temos
muito a melhorar em termos de custos e podemos melhorar nossa competitividade mais
ainda. Para se ter uma ideia, se considerarmos o custo “SIF” da uva sem semente
colocada no mercado de Rotterdam, com os economistas fazendo detalhamento da
planilha de custos, verificar-se que 80% dos custos provêm do custo de produção e de
embalagem, ou seja, se me derem o transporte de graça, ótimo, porque o meu problema
está com a produção e com as embalagens.
Barreiras e dificuldades
Não são poucas as barreiras que dificultam a expansão da competitividade da
fruticultura brasileira. Os custos de produção altos e pouca tradição no mercado
internacional estão entre elas. Normas e exigências diferentes são mais outras barreiras.
As diversidades de exigências são realmente significativas, não só as advindas das
legislações agro-alimentares, como agora, mais modernamente, as dos compradores e
consumidores.
Quem pretende exportar para determinada rede de supermercados precisa
cumprir os requisitos exigidos. Outra barreira enfrentada pela fruticultura é a baixa
capacitação dos pequenos produtores, apesar de o setor estar fundamentado em
pequenas propriedades, há muito o que se fazer para transformá-los de produtores em
empresários, porém é um trabalho gigantesco.
Mais uma dificuldade é a ausência de sistemas de organização competitivos para
a comercialização. Este é realmente o nosso grande “calcanhar de Aquiles”: sabemos
produzir, sabemos beneficiar, mas, na hora de comercializar, somos extremamente
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individualistas e não temos a mínima capacidade de organização. Precisamos melhorar
porque, de repente, alguém liga informando que chegaram dez contêineres juntos, ou
dez navios com contêineres de manga em Rotterdam, por exemplo, e ninguém soube. E
o que acontece na prática? Exatamente o que os intermediários querem: o preço vai lá
para baixo e os produtores vão receber talvez até menos do que o custo de produção que
eles tiveram.
O conhecimento insuficiente dos mercados e nichos é outra barreira bastante
importante e hoje é fundamental este conhecimento. Os nichos estão muito relacionados
com produtos diferenciados. Atualmente, para se ganhar mercados, existem três
alternativas no setor de fruticultura: produzir mais barato, o que não é muito fácil;
produzir com a mesma, ou com uma melhor qualidade que os demais, que também é
complicado; e, a terceira, competirmos com produtos diferenciados e é exatamente por
este caminho que iremos atingir nichos em outros segmentos.
Continuando a relacionar as dificuldades, é preciso haver uma análise
empresarial para a competitividade, além do aumento da concentração dos agronegócios
no mercado interno e externo. É uma realidade a fusão das grandes empresas, é um fato
com o qual temos que começar a conviver e traçar estratégias porque veio para ficar. E,
finalmente, a existência de barreiras fitossanitárias e também o baixo consumo de frutas
comercializadas no Brasil. É preciso se consumir mais frutas. Finalizando, se eu
perguntar a cada pessoa se considera as frutas um alimento, creio que unanimamente a
resposta será afirmativa. Porém, na prática não é o que acontece. O brasileiro considera
a fruta não como um alimento principal, mas sim como um complemento. Se o
Joãozinho passar na fruteira e pegar uma maçã antes do almoço, provavelmente, sua
mãe irá dizer: “coloque esta fruta aí na fruteira porque, senão, você não almoça,
Joãozinho”. E depois ele vai comer uma feijoada ou uma rabada, coisa leve!
Então, para nós brasileiros as frutas ainda são um complemento alimentar.
Existem muitos fatores que dificultam, falácias, preconceitos, como, por exemplo, “não
se pode dar abacaxi para crianças porque dá aftas”. Alguém já viu frutas tropicais na
fruteira de uma mãe que acabou de ter neném? Não, apenas algumas frutas mais
conhecidas tradicionalmente. Eu mesmo venho de um berço onde meus avós sempre me
ensinaram que “chupar laranja de manhã é ouro, à tarde é prata, e à noite mata”.
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CAPÍTULO 2 – PROPAGAÇÃO DE ÁRVORES FRUTÍFERAS
Para se perpetuarem, as espécies se multiplicam. Os vegetais superiores
multiplicam-se naturalmente por duas vias: pelo ciclo sexuado e assexuado. No ciclo
sexuado, também denominado de ciclo reprodutivo a multiplicação ocorre pela união do
gameta masculino (grãos de pólen) com o gameta feminino (oosfera) gerando um
embrião que está presente nas sementes.
Nesse processo há recombinação genética, ocorrendo variabilidade no genoma.
Por essa razão, a nova planta que se origina da germinação da semente é denominada
indivíduo, pois será geneticamente diferente da planta matriz. Pelo ciclo assexuado
também denominado vegetativo, a nova planta gerada é oriunda de estruturas
vegetativas (propágulos) como brotos, e nesse caso não ocorre recombinação genética,
ou seja, elas possuem a mesma carga genética da planta matriz.
Essas novas plantas são denominadas clones, que são cópias perfeitas, ou seja,
geneticamente iguais à planta que lhe deu origem. Em fruticultura, que é uma atividade
com enorme potencial de crescimento, o Brasil encontra-se em posição privilegiada em
decorrência da extensão territorial, posição geográfica e condições de clima e solos, que
permite a produção de uma grande diversidade de frutas, em diferentes regiões, o ano
inteiro.
Nesse aspecto, a produção de mudas ou a multiplicação de plantas controlada
pelo homem representa um dos requisitos de maior importância para o sucesso
econômico da implantação de um pomar. Como a maioria das espécies frutíferas são
plantas perenes, que produzem por um longo período, é de suma importância que as
mudas sejam de qualidade, pois terão influência direta na produtividade e rentabilidade
do empreendimento agrícola.
Diversas técnicas são utilizadas na produção de mudas de árvores frutíferas. O
desenvolvimento dessas técnicas permite que as mudas sejam obtidas com as mesmas
características da planta que se deseja multiplicar, o que garante a uniformidade das
mesmas em campo.
Como cada espécie apresenta uma particularidade, é necessário conhecer suas
formas de propagação e, assim, utilizar o melhor método para formação das mudas. A
produção de mudas de árvores frutíferas pode ser realizada pelo uso de sementes, cujas
plantas originárias não serão idênticas. É bastante utilizada na produção de porta-
enxertos de algumas espécies, em árvores silvestres que ainda não possuem cultivares
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melhoradas e em algumas fruteiras que apresentam vantagens na produção de mudas
como maracujazeiro, mamoeiro e coqueiro. Porém, os métodos mais adequados para se
produzir mudas de plantas frutíferas são os propagativos, pois eles garantem à nova
planta as características desejáveis da planta matriz.
Razões do uso da propagação
A propagação deve ser utilizada para:
• Manter as características da variedade que se deseja propagar, como produção e
qualidade dos frutos e homogeneidade entre as plantas;
• Multiplicar em larga escala uma única planta, selecionada como planta matriz;
• Combinar duas espécies para formar uma só planta, pelo uso do método de enxertia;
• Produção precoce de frutos por evitar a fase juvenil da planta, devendo-se selecionar
propágulos de plantas adultas;
• Produção de mudas de espécies em que a propagação é o único meio de multiplicação.
Como exemplo, temos a bananeira, cujo método de propagação é por meio de rizomas.
Outras espécies como a lima ácida tahiti, laranja-de-umbigo e figueira também
dependem de alguma técnica de propagação, pois as sementes que produzem não são
viáveis;
• Multiplicar espécies em que a propagação é mais fácil, rápida e econômica.
Métodos de propagação
Os principais métodos de propagação, que proporcionam a clonagem de plantas
com características desejáveis são: estaquia, alporquia, mergulhia, enxertia e estruturas
especializadas. O que vai definir a escolha de um ou outro método será a adaptação e
facilidade de formação de mudas em cada espécie.
Um dos principais fatores para o sucesso na produção de mudas, por meio da
propagação, é a escolha da planta matriz que deve ser representativa da variedade, ter
boa sanidade, ou seja, sem pragas e doenças, ser produtiva e esteja sendo conduzida
com todos os tratos culturais recomendados para a cultura, principalmente adubação e
irrigação.
A seleção adequada do material vegetativo que será retirado da planta matriz, o
substrato, a disponibilidade de água e as condições apropriadas de luz, aeração,
temperatura e umidade são elementos fundamentais para o sucesso de qualquer método
de propagação que se deseja utilizar.
Estaquia
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A estaquia é um método de propagação simples que consiste na retirada e
utilização de partes da planta matriz que deseja-se propagar. Esse método consiste na
capacidade de regeneração dos tecidos da estaca e emissão de raízes adventícias e
brotações. Pode ser utilizada na produção direta de mudas ou para a produção de porta-
enxertos. As estacas, ou seja, partes da planta podem ser obtidas de órgãos aéreos ou
subterrâneos, tais como, folhas, ramos e raízes.
Tipos de Estacas
A preferência por um ou outro tipo de estaca irá depender da espécie, da
facilidade de enraizamento e da infraestrutura do local. Em fruticultura, as estacas de
ramos com pelo menos uma gema, são as mais utilizadas, pois precisam apenas formar
novas raízes adventícias visto que já possuem um ramo em potencial, a gema. Com
exceção de algumas espécies como figo da índia e framboesa, as estacas de folhas e de
raízes, não são utilizadas na produção comercial de mudas de espécies frutíferas (Figura
1).
Figura 1: Tipos de estacas
São diversos os fatores que afetam o enraizamento das estacas de ramos, tais
como: condições fisiológicas da planta matriz, juvenilidade, condições do ambiente de
enraizamento, posição e graus de lignificação dos ramos. Quanto ao grau de
lignificação, pode-se classificar as estacas de ramos em herbáceas, semilenhosas ou
lenhosas (Figura 2).
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As estacas herbáceas são aquelas cujos tecidos não estão lignificados, ou seja,
estão com tecidos tenros e de coloração verde. São retiradas da parte apical dos ramos
no período de primavera/verão, épocas em que ocorrem os fluxos de crescimento
vegetativo. Como é um material sensível à desidratação, a coleta deve ser feita
preferencialmente pela manhã. As folhas (inteiras ou pela metade) devem ser mantidas.
A função da manutenção das folhas é a continuação do processo fotossintético
que fornecerá fotoassimilados tanto para a manutenção da estaca, quanto para a
formação das raízes. A utilização de estacas herbáceas é muito utilizada na produção de
mudas de goiabeira.
Estacas semilenhosas são obtidas de ramos parcialmente lignificados, após o
mesmo ter completado seu crescimento. Para enraizar, essas estacas ainda com folhas,
devem ser mantidas, assim como as estacas herbáceas, em ambiente com umidade
relativa alta para reduzir a perda de água pelas folhas. É bastante utilizada na
propagação de algumas espécies tropicais e subtropicais.
As fruteiras que perdem as folhas no outono (caducifólias), como figo e uva, por
exemplo, apresentam seus ramos lenhosos com boa capacidade de enraizamento. As
estacas são obtidas de ramos lenhosos, bastante lignificados, sem folhas, com idade
superior a um ano, sendo coletadas geralmente no período de dormência da planta
(inverno).
A propagação com esse tipo de estaca é mais fácil e mais barata, pois são mais
resistentes e não exigem ambiente com controle de temperatura e umidade.
Figura 2 - Graus de lignificação de ramos de seriguela
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Após a coleta das estacas da planta matriz, faz-se o preparo das mesmas,
colocando-as para enraizar em substrato adequado que possua boa capacidade de
retenção de água, drenagem satisfatória e esteja livre de patógenos de solo, planta
daninha e nematóide. Um dos principais substratos utilizados para o enraizamento de
estacas é a vermiculita.
Nessa etapa é importante garantir que o substrato esteja bem aderido à estaca.
Então se faz uma leve compactação do substrato ao redor das estacas, para evitar a
permanência de bolsões de ar, que impeçam a aeração na base das mesmas. É
importante lembrar que para algumas espécies frutíferas o uso de reguladores vegetais
auxilia no enraizamento, principalmente os produtos com ação auxínica comercializados
no mercado com os nomes de ácido indolbutírico (AIB) e ácido naftalenoacético
(ANA).
Por apresentarem difícil diluição em água, esses produtos podem ser dissolvidos
em solução alcoólica ou hidróxido de potássio para serem aplicados na forma líquida ou
misturados em talco para serem aplicados em pó. Depois de prontas, as estacas são
levadas para ambientes propícios ao enraizamento.
Ambiente para enraizamento
Devido à evapotranspiração, estacas semilenhosas e herbáceas requerem
instalações com sistema de nebulização intermitente, que permite a emissão de
pequenas gotículas de água, de tempo em tempo, mantendo a superfície das folhas
molhadas. No caso de estacas lenhosas, essas instalações não são necessárias, podendo
ser colocadas em canteiros de areia ou saquinhos contendo substrato com no máximo
uma tela de sombreamento para evitar os efeitos do excesso de radiação solar e chuva
(Figura 3 a, b, c).
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Figura 3 - Nebulizador com alta umidade relativa (a); canteiros de areia com
estacas lenhosas (b e c).
Alporquia
A alporquia é um método de propagação em que se faz o enraizamento de um
ramo ainda ligado à planta matriz (parte aérea), que só é destacado da mesma após o
enraizamento.
O método consiste em selecionar um ramo da planta, de preferência com um ano
de idade e diâmetro médio. Nesse ramo, escolhe-se a região sem brotação e faz-se um
anelamento, de aproximadamente dois centímetros, retirando toda a casca (floema) e
expondo o lenho. Depois disso, deve-se cobrir o local exposto com substrato
umedecido, a base de fibra de coco e envolvê-lo com plástico, cuja finalidade é evitar a
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perda de água, amarrando bem as extremidades com um barbante, ficando com o
aspecto de um bombom embrulhado. Os fotoassimilados elaborados pelas folhas e as
auxinas pelos ápices caulinares deslocam-se pelo floema e concentram-se acima do
anelamento, promovendo a formação das raízes adventícias nesse local. Recomenda-se
que a alporquia seja feita de preferência na época em que as plantas estejam em plena
atividade vegetativa, após a colheita dos frutos, com o alporque mantido sempre úmido.
A separação do ramo que sofreu alporquia da planta matriz, depende da espécie
e da época do ano em que foi feito o alporque. Após a separação, o ramo enraizado é
colocado num saco plástico contendo substrato e mantido à meia sombra até a
estabilização das raízes e a brotação da parte aérea. Quando isso ocorrer, as mudas
estarão prontas para serem plantadas no campo.
A alporquia é utilizada na propagação de muitas espécies frutíferas, e um
exemplo do sucesso do método ocorre na cultura da lichia.
Mergulhia
A mergulhia é um método de propagação semelhante à alporquia. A única
diferença é que na mergulhia, o enraizamento do ramo ainda ligado à planta matriz
ocorre no solo (Figura 4).
Figura 4 - Mergulhia natural em cajueiro/ Natal-RN
Assim como ocorre no processo de alporquia, na mergulhia a planta a ser
formada fica unida a planta matriz até o enraizamento. A mergulhia é feita no solo, vaso
ou canteiros, quando os ramos das espécies são flexíveis e de fácil manejo. O método de
mergulhia consiste em enterrar partes de uma planta, como ramos, por exemplo, com o
objetivo de que ocorra o enraizamento na região coberta. É um processo usado na
obtenção de plantas que dificilmente se propagariam por outros métodos.
19
O enraizamento ocorre devido ao acúmulo de auxinas (hormônios endógenos)
pela ausência de luz na região enterrada ou coberta, que promove a formação das raízes
adventícias e também pelo aproveitamento do fornecimento contínuo de água e
nutrientes da planta matriz.
É muito importante que o local para a realização da mergulhia esteja isento de
patógenos, pois como é utilizado o solo para o enraizamento, há sempre o risco de
contaminação das novas plantas por doenças e/ou pragas. A mergulhia é um método
bastante utilizado na obtenção de porta-enxertos de macieira, pereira e marmeleiro.
Tipos de mergulhia
Há vários tipos de mergulhia, mas em fruticultura utiliza-se principalmente a
mergulhia de cepa, também chamada de amontoa.
Mergulhia de cepa
A mergulhia de cepa é muito utilizada na produção de porta-enxertos de
macieira. Inicialmente faz-se uma poda drástica da planta matriz do porta-enxerto,
deixando somente uma pequena parte do tronco, chamada de cepa. Essa poda irá
favorecer a emissão de inúmeras brotações jovens a partir da cepa. Após o
desenvolvimento dessas brotações, realiza-se a amontoa com terra, cobrindo a parte
inferior das mesmas.
Será nessa região enterrada que irá ocorrer o enraizamento de cada brotação
individualmente. Após o enraizamento, cada brotação será destacada da planta matriz,
formando um novo porta-enxerto. A planta matriz do porta-enxerto será novamente
podada drasticamente para iniciar um novo ciclo de produção, podendo ser utilizada por
muitos anos, dependendo de como as plantas são cuidadas.
Enxertia
A enxertia é um método de propagação que consiste em unir partes de plantas,
de tal maneira, que continuem seu crescimento como uma só planta. A parte superior
que formará a copa da nova planta recebe o nome de enxerto ou cavaleiro e a parte
inferior que formará o sistema radicular recebe o nome de porta-enxerto ou cavalo.
Cada uma das partes possui suas características próprias. O porta-enxerto tem a
função de dar suporte mecânico à planta, retirar água e nutrientes do solo, e em muitos
casos beneficiar a copa pela resistência a pragas e doenças de solo, seca ou a solos
encharcados. O enxerto ou copa é responsável pela fotossíntese que irá alimentar toda a
planta para a produção.
20
A enxertia deve ser realizada para propagar espécies que não podem ser
facilmente multiplicadas por outros métodos, para obter benefícios do porta-enxerto,
mudar a cultivar copa em plantas adultas (sobreenxertia) ou substituir o porta-enxerto
(subenxertia).
O sucesso da cicatrização entre as partes após a prática da enxertia dependerá da
espécie que se estará trabalhando; da habilidade do enxertador; da atividade fisiológica
do enxerto e do porta-enxerto; das condições a que as plantas serão submetidas durante
e após a enxertia; dos problemas de pragas e doenças e da incompatibilidade que possa
ocorrer entre as partes.
É importante destacar também que existem alguns limites na enxertia
relacionados à combinação copa e porta-enxerto. A maior facilidade da enxertia ocorre
entre plantas de um mesmo clone, aumentando o grau de dificuldade à medida que se
enxertam diferentes cultivares da mesma espécie, diferentes espécies e diferentes
gêneros.
O sucesso da enxertia intergenérica (entre gêneros) é bastante limitado, sendo
conhecidos alguns casos como o de pereira sobre marmeleiro, por exemplo. Em
fruticultura não se conhece sucesso de enxertia entre plantas de famílias botânicas
diferentes.
Tipos de enxertia
São três os tipos de enxertia: borbulhia, garfagem e encostia. No primeiro caso,
o enxerto é uma borbulha, ou gema; no segundo, um pedaço de ramo ou garfo destacado
da planta matriz com uma ou mais gemas e no terceiro, a união de duas plantas inteiras.
Borbulhia
A borbulhia consiste na justaposição de uma única gema sobre um porta-enxerto
enraizado. Embora haja vários tipos de borbulhia, serão descritas as formas em “T”
normal, “T” invertido, placa ou janela aberta e janela fechada. Cada denominação varia
em função do tipo de corte efetuado e na forma de fixação das gemas (borbulhas) no
porta-enxerto (Figura 5).
21
Figura 5 - Borbulhia “T” normal (a); Borbulhia “T” invertido (b); Borbulhia em
placa ou janela aberta(c); Borbulhia janela fechada (d). Fonte: Adaptado de
Hartmann et al. (2002)
As borbulhias em “escudo” e em “T” referem-se a uma mesma técnica (“T”
designa a aparência do corte no cavalo, onde a gema será introduzida e o “escudo”
refere-se ao formato dessa gema). O corte em “T” no porta-enxerto é feito abrindo uma
incisão transversal e outra longitudinal, onde será inserida a borbulha. A borbulha é um
fragmento de forma triangular, retirada da planta matriz após o corte do ramo que a
contém, também chamado de ramo porta-borbulha. Esse fragmento deve ter dimensões
proporcionais ao corte em “T” efetuado no porta-enxerto.
Com a ponta do canivete de enxertia, abre-se a região da casca abrangida pelas
incisões, levantando-a para inserção da borbulha que é introduzida com a gema voltada
para o lado externo. Em seguida, deve-se amarrá-la de cima para baixo, com o auxílio
de um fitilho plástico ou fita biodegradável. Toda essa operação deve ser rápida, para
que não ocorra ressecamento das regiões de união dos tecidos ou cicatrização dos cortes
antes que ela seja finalizada.
O “T” invertido é muito parecido, apenas o sentido do corte que o difere do
anterior, sendo o corte horizontal feito na extremidade inferior do corte perpendicular
do porta-enxerto. O escudo retirado da planta matriz agora tem sua base invertida. O
objetivo da variação na técnica é evitar a infiltração de água na região da enxertia. É
importante observar que a posição da borbulha não muda. A amarração do escudo deve
iniciar-se de baixo para cima no porta-enxerto. A facilidade operacional é maior, além
de impedir o acúmulo de água nos cortes, por isso é o tipo mais utilizado quando
22
comparado ao corte em “T” normal. O “T” invertido é amplamente utilizado por
viveiristas, principalmente os produtores de mudas de citros.
Na produção de mudas de pessegueiro pode-se utilizar o método de borbulhia
por janela aberta ou placa, onde a gema é retirada da variedade copa com um segmento
retangular e encaixada num porta-enxerto previamente preparado com a mesma
abertura. São feitos dois cortes perpendiculares paralelos e outros dois transversais,
formando um retângulo. O pedaço da casca é retirado, com o auxílio de um canivete.
Toma-se o cuidado para que os dois retângulos sejam de tamanhos bem próximos.
Depois o escudo encaixado é amarrado com fitilho plástico ou fita biodegradável,
sempre deixando a gema do pessegueiro exposta, pois ela é muito sensível e pode se
quebrar.
Na borbulhia tipo janela fechada, o corte da copa deve permitir a abertura da
casca em duas partes, como as folhas de um portão, que serão fechadas sobre a borbulha
após sua inserção. Duas incisões transversais e paralelas são feitas no porta-enxerto, e
um corte perpendicular une as duas pelo ponto central de seu comprimento. Levanta-se
a casca entre os cortes e a borbulha retangular semelhante à janela aberta é introduzida,
ficando em estreito contato com os tecidos internos do caule. A casca deve ser fechada
contra o escudo e amarrada com fitilho plástico, aumentando o contato entre os tecidos.
Garfagem
Garfagem é um método de enxertia que consiste na retirada e transferência de
um pedaço de ramo da planta matriz (copa), também denominado garfo, que contenha
uma ou mais gemas para outra planta que é o porta-enxerto. Embora haja várias
denominações, os tipos mais comuns de garfagem são: meia-fenda, fenda cheia; fenda
dupla, fenda lateral, inglês simples e inglês complicado (Figura 6).
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Figura 6 - Garfagem fenda cheia (a); Garfagem meia fenda (b); Garfagem inglês
simples (c); Garfagem inglês complicado (d). Fonte: Adaptado de Hartmann et al.
(2002)
Na garfagem em meia fenda, o garfo é cortado em bisel duplo. O porta-enxerto
é cortado transversalmente, fazendo-se, em seguida, uma incisão igual a largura do
bisel. Aprofunda-se a incisão para baixo, por meio de movimentos com o canivete de
enxertia, então introduz-se o garfo na fenda, de tal modo que as camadas das duas partes
fiquem em contato em pelo menos um dos lados. Esse tipo de garfagem é utilizado
quando os garfos são de diâmetros diferentes do porta-enxerto, sendo necessário que
pelo menos um dos lados esteja em contato com os tecidos para que ocorra o processo
de cicatrização e sobrevivência do enxerto.
Já na garfagem em fenda cheia, a obtenção do garfo é idêntica ao caso anterior.
O porta-enxerto é cortado transversalmente à altura desejada, praticando-se em seguida
uma fenda cheia, do mesmo tamanho do garfo que será introduzido nessa fenda, de
maneira que os dois lados desse garfo coincidam por completo com o diâmetro do
porta-enxerto. Para a prática da enxertia por inglês simples é necessário que o garfo e o
porta-enxerto tenham o mesmo diâmetro. Corta-se o porta-enxerto a uma altura
conveniente do solo, talhando-o em um bisel simples enquanto o garfo também é
cortado em bisel, exatamente para encaixar no porta-enxerto, a fim de que possam
coincidir em toda sua extensão.
24
A garfagem por inglês complicado é realizada como no caso anterior, mas com
um encaixe mais perfeito. Coloca-se a lâmina do canivete um pouco acima do meio do
bisel do porta-enxerto e, a partir deste ponto, em sentido longitudinal e paralelo ao eixo,
fende-se o próprio cavalo, até que a fenda atinja o nível da base do seu bisel.
Faz-se o mesmo no bisel do enxerto. Então encaixa-se o garfo no porta-enxerto,
tomando o cuidado de fazer com que as cascas de ambos se coincidam. Os instrumentos
utilizados para a prática da garfagem são tesoura de poda e canivete.
Após a realização da garfagem, é importante amarrar bem forte o garfo no porta-
enxerto para manter as partes perfeitamente unidas. Depois, cobre-se o enxerto com um
saquinho plástico, os mesmos utilizados para sorvetes, para evitar que ocorra perda ou
infiltração de água na região de enxertia.
Quando iniciar a brotação do enxerto, retira-se o saquinho plástico o que deve
ocorrer por volta de 30 dias, dependendo da espécie. Já o fitilho plástico será retirado
após 60 dias, para garantir a união das partes enxertadas. Então é só esperar o
desenvolvimento da brotação para que as mudas possam ser plantadas em campo.
Encostia
A encostia é um método de enxertia usado para árvores frutíferas que
dificilmente se propagam por outros métodos. Em resumo é uma técnica que consiste na
junção de duas plantas inteiras, que são mantidas dessa forma até a união dos tecidos
(Figura 7).
Figura 7 - Enxertia por encostia. Fonte: Adaptado de Hartmann et al. (2002)
Após essa união, uma será utilizada somente como porta-enxerto e a outra como
copa. Para fazer essa enxertia, o porta-enxerto deve ser transportado em um recipiente
até a planta que se quer propagar sendo geralmente colocado na altura da copa, através
da utilização de suportes de madeira que o sustentarão.
25
Corta-se uma porção do ramo de cada uma das plantas, de mesma dimensão, e
encostam-se as partes cortadas, amarrando-as em seguida com fita plástica para haver
união dos tecidos.
O enxerto é representado por um ramo da planta matriz, sem dela se desligar até
que ocorra a soldadura ao porta-enxerto. Após 30-60 dias, havendo a união dos tecidos,
faz-se o desligamento da nova planta, cortando-se acima do ponto de união do porta-
enxerto.
Nessa fase, retira-se o fitilho plástico que estava amarrado e destaca-se o ramo
da planta original, formando uma nova copa. Tem-se, assim, a muda, constituída de
copa e porta-enxerto.
A primavera é a estação mais adequada para a prática da encostia e as que são
realizadas no outono desenvolvem-se muito lentamente.
Incompatibilidade entre copa e porta-enxerto
A compatibilidade pode ser definida como a capacidade que duas plantas ou
parte de plantas enxertadas possuem de se desenvolverem satisfatoriamente como se
fossem uma única planta. Já a incompatibilidade pode ocorrer devido a diferenças
fisiológicas, bioquímicas e anatômicas entre as plantas que podem ser favoráveis ou
desfavoráveis à união do enxerto.
Os problemas de incompatibilidade ocorrem principalmente em função da
enxertia entre espécies de diferentes famílias e gêneros. Os principais sintomas
associados à incompatibilidade de enxertia são:
• expansão da união do enxerto quando ocorre o super crescimento do diâmetro do
tronco acima ou abaixo do ponto de enxertia;
• quebra ou ruptura do enxerto na ocorrência de ventos fortes ou até mesmo quando a
produção de frutos na planta for muito grande;
• morte prematura da planta;
• amarelecimento e queda prematura das folhas no outono;
• aparecimento de uma linha escura na região da enxertia pela morte dos tecidos.
A presença de um ou mais desses sintomas não significa necessariamente, que a
combinação seja incompatível. Podem ser resultantes de condições ambientais
desfavoráveis, tais como falta de água ou nutrientes, ataques de pragas, doenças ou
inclusive, enxertia mal sucedida.
26
Micropropagação
A propagação “in vitro” ou micropropagação, consiste na aplicação da técnica
de cultura de tecidos para a produção de plantas idênticas a planta matriz. Este tipo de
propagação permite produzir mudas com alta qualidade genética e fitossanitária.
É feita em laboratórios a partir de pedaços de tecido vegetal. Estes fragmentos
retirados de vegetais são chamados de explantes e multiplicados em meio artificial (sem
solo), o qual fornece nutrientes e outras substâncias necessárias à multiplicação e
regeneração de novas plantas. A base para o cultivo de pequenas partes de plantas só é
possível pela propriedade da totipotência, que é a capacidade que toda célula vegetal
tem de regenerar uma planta completa, a partir de informações genéticas contidas na
mesma.
As técnicas de propagação “in vitro” permitem multiplicar vegetativamente
espécies de difícil propagação pelos métodos convencionais. Além disso, permite a
produção de um grande número de plantas a partir de um explante em menor tempo que
os métodos tradicionais de propagação. Possibilitam também, a produção de mudas
livres de patógenos causadores de doenças que pelos métodos convencionais de
propagação, podem ser transmitidos pelas mudas.
Entre as fruteiras tropicais multiplicadas pela cultura de tecidos destacam-se as
culturas do abacaxizeiro e da bananeira que estão sendo produzidas em maior escala por
algumas empresas do setor (Figura 8).
Figura 8 - Mudas de bananeira micropropagadas.
Estruturas especializadas
Algumas espécies possuem processos naturais de propagação por meio de
estruturas especializadas. Essas estruturas são caules, folhas ou raízes modificadas que
27
além de funcionarem como órgãos de reserva de alimentos podem também ser utilizadas
na propagação. Em condições adversas são esses órgãos que possibilitam a
sobrevivência das plantas.
Vários tipos de estruturas especializadas podem ser utilizadas na produção de
mudas. Em espécies frutíferas, as principais estruturas são estolões, rebentos e rizomas
que são úteis na propagação de algumas espécies, como, por exemplo, o morangueiro, a
bananeira, o abacaxizeiro, a framboeseira e a amoreira-preta.
Os estolões são definidos como caules aéreos especializados, muito comuns na
propagação do morangueiro; já os rizomas são caules subterrâneos que possuem gemas
para formação de novas brotações, as quais originarão novos pseudocaules e passarão a
ter o seu próprio sistema radicular. É o principal método de multiplicação das
bananeiras.
As mudas de bananeira são obtidas a partir do desenvolvimento das gemas do
rizoma. A denominação das mudas é dada de acordo com o desenvolvimento e peso do
rizoma. As mudas obtidas de rizoma inteiro são denominadas popularmente de:
• Chifrinho – apresentam de 20 a 30 cm de altura e têm unicamente folhas lanceoladas
(em forma de lança) com até 1,5 kg;
• Chifre – apresentam de 50 a 60 cm de altura e folhas lanceoladas, com peso variando
de 1,5 a 2,5 kg;
• Chifrão: apresentam de 60 a 150 cm de altura, com uma mistura de folhas lanceoladas
e folhas características de planta adulta, com peso superior a 2,5 kg.
28
Figura 9 - Mudas do tipo chifrão, chifre e chifrinho com folhas (a), sem folhas (b);
Pedaços de rizoma (c)
Essas mudas podem ser obtidas diretamente do bananal, tomando o cuidado de
selecioná-las de plantas vigorosas, que represente a variedade a ser propagada, esteja
isenta do ataque de pragas e doenças e com idade que não seja superior a quatro anos.
Embora a propagação por rizomas seja muito utilizada, nos últimos anos tem
crescido muito a produção de mudas de bananeira utilizando a técnica de cultura de
tecidos, ou micropropagação, como visto anteriormente.
29
CAPÍTULO 3 - MANEJO DO SOLO E IRRIGAÇÃO
O manejo do solo envolve todos os tratos culturais aplicados à camada de solo
utilizada pelas plantas frutíferas, desde o momento do plantio até a colheita. Deve ser o
mais eficiente possível quanto ao controle da erosão do solo, regulação da
disponibilidade de água, manutenção de um bom nível de matéria orgânica, redução da
competição com ervas daninhas, manutenção da fertilidade do solo, facilidade no
trânsito do homem e máquinas no pomar, levando em consideração a economicidade,
equipamentos e máquinas disponíveis na propriedade. O manejo do solo e a sua
execução estão intimamente ligados ao sistema de plantio, espaçamento adotado,
dimensão da área, espécie cultivada, clima e topografia.
Preparo do solo antes do plantio
As plantas frutíferas apresentam um sistema radicular que se concentra numa
faixa de 0 a 40cm, entretanto é possível que algumas espécies atinjam até alguns metros
de profundidade.
O solo, portanto, deve ser profundo, bem drenado e conter nutrientes e água em
quantidades adequadas para que a planta alcance um bom desenvolvimento. O solo deve
ser preparado até uma profundidade de 40 a 50cm, para que seja possível incorporar os
fertilizantes e corretivos. Para isso, é utilizada subsolagem seguida de lavração
profunda, quando as condições do terreno permitirem.
Para plantas frutíferas, o solo deve ser corrigido até uma profundidade de 40cm,
portanto a quantidade de corretivos deve ser duplicada, uma vez que a análise de solo
prescreve os corretivos para uma faixa que vai até 20cm de profundidade. Durante o
preparo do solo, antes do plantio, é a melhor ocasião para incorporar os corretivos em
profundidade, tendo-se em vista que os mesmos são pouco móveis no solo; e que,
depois de implantado o pomar, as dificuldades para colocá-los a disposição do sistema
radicular seriam aumentadas.
O preparo do solo de maneira superficial dificulta a penetração do sistema
radicular da planta e limita a disponibilidade de nutrientes e água, provocando menor
crescimento das mesmas, podendo, em algumas situações, aumentar o risco de erosão
pela menor retenção de água das chuvas. Deve-se levar em conta o tipo de solo e a
declividade do terreno, condições climáticas, recursos do fruticultor, espécie cultivada,
condução da planta e área do pomar. Em terrenos pedregosos ou muito acidentados o
preparo normalmente é feito em covas.
30
Preparo do solo com subsolagem e lavração profunda
A subsolagem é uma prática realizada a uma profundidade de 40 a 50cm no solo,
seguida de lavração e gradagem. Este sistema permite colocar os nutrientes em maiores
profundidades e a disposição das raízes das plantas, melhorando a aeração do solo, e a
infiltração de água, além de romper camadas adensadas existentes, facilitando a
penetração e o desenvolvimento do sistema radicular das plantas.
Esta forma de cultivo não pode ser utilizada em solos rasos, pedregosos ou que
apresentem horizonte com adensamento. Exige máquinas apropriadas e apresenta um
custo inicial mais elevado. O calcário e os demais corretivos podem ser aplicados em
duas etapas; metade da quantidade antes da subsolagem e a outra metade antes da
lavração.
Quando for usado um fosfato natural, como fonte de P2O5, deve-se aplicá-lo
antes da aplicação do calcário, pois em meio ácido esta fonte de fósforo se solubiliza
mais facilmente, aproveitando, desta forma, a acidez natural do solo. Os corretivos são
aplicados em toda a área e, por ocasião do plantio, faz-se abertura de pequenas covas,
com tamanho suficiente para acomodar o sistema radicular da planta, não havendo
necessidade de adubação nas covas. O plantio das mudas, dependendo da declividade,
poderá ser:
a) Em nível, quando a declividade do terreno for menor do que 3%;
b) Com construção de terraços, quando a declividade for menor do que 20% e;
c) Em patamares, quando a declividade for superior a 20%.
Preparo convencional do solo seguido ou não de abertura de covas
Neste sistema o solo é preparado e corrigido até uma profundidade de 20 a
25cm, em seguida são abertas covas de 60 x 60 x 60 ou 80 x 80 x 80cm. Os fertilizantes
são utilizados de acordo com o volume do solo e os resultados da análise do mesmo.
Este sistema pode ser utilizado em situações onde não é possível realizar o preparo do
solo, devido à presença de impedimentos à mecanização, tais como pedras e declive
acentuado, ou quando a espécie a ser cultivada não apresenta um sistema radicular
profundo. Em solos mal drenados ou muito argilosos a utilização de covas pode
provocar acúmulo de água e morte das raízes por asfixia. Em outras situações, a
adubação na cova cria um ambiente propício ao desenvolvimento da planta e não
permite que haja uma expansão lateral, quer por problemas mecânicos (parede espessa)
ou químicos (maior disponibilidade de nutrientes na cova).
31
Preparo convencional do solo seguido ou não de abertura de covas
Neste sistema o solo é preparado e corrigido até uma profundidade de 20 a
25cm, em seguida são abertas covas de 60 x 60 x 60 ou 80 x 80 x 80cm. Os fertilizantes
são utilizados de acordo com o volume do solo e os resultados da análise do mesmo.
Este sistema pode ser utilizado em situações onde não é possível realizar o preparo do
solo, devido à presença de impedimentos à mecanização, tais como pedras e declive
acentuado, ou quando a espécie a ser cultivada não apresenta um sistema radicular
profundo.
Em solos mal drenados ou muito argilosos a utilização de covas pode provocar
acúmulo de água e morte das raízes por asfixia. Em outras situações, a adubação na
cova cria um ambiente propício ao desenvolvimento da planta e não permite que haja
uma expansão lateral, quer por problemas mecânicos (parede espessa) ou químicos
(maior disponibilidade de nutrientes na cova).
Preparo convencional seguido da construção de terraços tipo camalhão
O solo é preparado até uma profundidade de 20 a 40cm, ao mesmo tempo em
que é realizada a correção de acordo com os resultados da análise do solo. Sobre o solo
previamente preparado são construídos camalhões, ou seja, terraços de base estreita com
2,0 a 3,0m de largura e 40 a 60cm de altura, sobre os quais são plantadas sobre o solo
previamente preparado são construídos camalhões, ou seja, terraços de base estreita com
2,0 a 3,0m de largura e 40 a 60cm de altura, sobre os quais são plantadas as mudas,
conforme indica a Figura.
Figura: Corte de um terraço, mostrando sua localização, bem como a do canal.
Pode ser utilizado em terrenos de até 20% de declividade. Permite um bom
desenvolvimento radicular da planta, pois aumenta a quantidade de solo arável a ser
32
explorado; preparo totalmente mecanizado; contribui para o controle da erosão e auxilia
a drenagem em solos planos.
Preparo do solo em faixas
Consiste em preparar apenas uma faixa do terreno, na qual será plantada a
espécie frutífera. A faixa de preparo, dependendo do terreno, pode ser em nível e ter
uma largura de até 2,5m. Nesta faixa são aplicados todos os corretivos e a muda é
plantada sobre solo preparado. A medida que a planta vai crescendo, a faixa de cultivo
pode ser ampliada. Entre as duas filas de plantas pode permanecer uma faixa de
vegetação nativa ceifada periodicamente.
O preparo do solo pode ser com subsolagem e lavração profunda ou ainda
lavração convencional seguida da construção de camalhões. Este sistema tem um custo
menor na instalação do pomar e permite um bom controle da erosão do solo. A
desvantagem seria que ele não permite a instalação de culturas intercalares no pomar.
Figura: Sistema de cultivo onde as linhas de plantas são mantidas limpas e as
entrelinhas com cobertura vegetal. Foto: José Carlos Fachinello
Plantio em terraços tipo patamar
Este sistema envolve grande movimentação de solo e é restrito a áreas que
apresentam riscos de erosão, com declividade superior a 20%, e para culturas de alto
rendimento econômico, devido ao elevado custo da construção.
Deve-se dar preferência para o plantio em solos planos e com outros sistemas de
preparo do solo. Este sistema é utilizado na região da serra do RS, com viticultura.
Existem três tipos de terraços em patamar: patamar contínuo, utilizado em culturas
permanentes; patamar descontínuo ou "banquetas individuais", construído para cada
33
planta do pomar a ser formado e; por último, o patamar de irrigação. Este sistema é
muito oneroso, pois implica em grandes movimentações de solo.
Outros sistemas e disposição dos carreadores
É possível, ainda, o cultivo de plantas em trincheiras, banquetas individuais,
entre outras. A escolha do melhor sistema ficará na dependência da espécie frutífera,
espaçamento, condições climáticas, solo, topografia, disponibilidade de equipamentos e
recursos financeiros.
Os carreadores, sempre que possível, devem ser planejados e em nível. Toda
água que sai do pomar deve ser canalizada para escoadouros protegidos, para evitar-se
problemas com erosão em voçorocas, principalmente.
Características do uso de máquinas no pomar
A utilização de equipamentos com tração mecânica permite grande rendimento
do trabalho e a execução das atividades dentro do menor espaço de tempo. Para que as
máquinas diminuam os riscos de erosão, adensamento do solo e danos sobre as plantas,
recomenda-se:
a) Evitar o uso de máquinas pesadas, pois provocam adensamento no solo e danificam
as plantas;
b) Evitar o uso contínuo de equipamentos que pulverizam o solo, como as enxadas
rotativas, pois contribuem para aumentar a erosão do solo;
c) O trabalho no solo com arados e grades deve ser superficial e realizado nas épocas
adequadas para cada cultura;
d) Os equipamentos devem ser apropriados para as atividades dentro do pomar.
Sistemas de cultivo do pomar depois do plantio das mudas
O sistema de cultivo ou manejo do solo refere-se às práticas culturais aplicadas à
superfície do solo e deve levar em conta:
a) Conservação da umidade e aeração do solo;
b) Adição de matéria orgânica e fertilizantes;
c) Conservação das características físicas do solo;
d) Facilitar o trânsito de máquinas e homens no pomar;
e) Controle de erosão e plantas daninhas;
f) Economicidade e possibilidade de efetuação com mão-de-obra e equipamentos
disponíveis;
g) Dimensão da área, espécie e espaçamento utilizado;
h) Topografia e clima.
34
Pomar em formação
Nos primeiros anos de vida do pomar, recomenda-se manter uma faixa de solo
limpa periodicamente ao longo da linha das plantas. Esta faixa deve ser um pouco maior
que a projeção da copa das plantas. A área entre as filas de plantas é mantida com
cobertura vegetal nativa ceifada ou, principalmente, com culturas intercalares de porte
baixo, tais como: feijão, soja, amendoim, aveia, trevo, entre outras. Este cultivo
intercalar deve receber adubação apropriada e não deve competir com a muda em luz,
umidade e nutrientes.
O cultivo intercalar é uma prática muito utilizada, pois, mantém uma cobertura
do solo, evitando problemas de erosão e propiciando melhorias nas condições físicas e
químicas do solo. Quando bem sucedidas, as culturas intercalares contribuem para
custear as despesas do pomar na fase de implantação. É importante que o solo
permaneça sempre com algum tipo de cobertura, assim diminui-se as perdas pela
erosão.
Pomar em produção
As plantas frutíferas para se desenvolverem necessitam encontrar, no solo, água,
ar e nutrientes minerais. Estas condições são básicas e precisam ser consideradas
quando se pretende estabelecer um bom sistema de manejo do solo.
Pomar permanentemente limpo
Neste sistema, toda área do pomar é mantida livre de vegetação nativa ou
invasoras, por meio de mobilizações periódicas e superficiais ou mesmo com uso de
herbicidas. Apesar desta forma de manejo evitar a concorrência das plantas daninhas,
facilitar a incorporação de nutrientes e demais tratos culturais, expõe o solo à erosão;
provoca compactação, pelo trânsito de máquinas e implementos agrícolas; além de
diminuir a matéria orgânica, deixando o solo mais sujeito às variações de temperatura
durante o dia e a noite.
O uso freqüente de equipamentos que pulverizam o solo, tais como enxadas
rotativas, além de desagregar o solo, facilita, enormemente, a erosão. A manutenção do
solo limpo, com aplicações sucessivas de herbicidas, provoca um endurecimento na
camada superficial, contribuem para aumentar os riscos de intoxicação dos aplicadores e
podem poluir os mananciais de água.
Pomar com cultivo intercalar
Neste sistema de cultivo, o pomar é mantido na entrelinha com um cultivo
intercalar, que pode ter um caráter temporário ou permanente. As espécies cultivadas
35
devem ser de porte baixo e, normalmente, leguminosas ou associação com gramíneas e
têm o objetivo de melhorar as propriedades físicas e químicas do solo, porém deve-se
considerar que, em períodos de seca, as leguminosas causam maiores prejuízos às
plantas do que as gramíneas, pois apresentam sistema radicular mais desenvolvido e,
com isso, uma maior capacidade de absorção de água do solo. Quando se mantém a
vegetação espontânea, a mesma é mantida ceifada periodicamente. Ao longo das filas é
mantida uma faixa limpa, do tamanho ou um pouco maior do que a projeção da copa
das plantas, através do uso de capinas ou aplicações de herbicidas.
Este sistema combina as vantagens do sistema que mantém o solo limpo na linha
da planta e da cobertura vegetal na entrelinha como auxílio no controle da erosão. Esta
modalidade de sistema pode ser alterada ao longo do ciclo vegetativo da planta, no caso
específico de plantas frutíferas de clima temperado. Depois que as frutas foram colhidas
pode-se deixar a vegetação espontânea crescer também ao longo da linha de plantas, até
o início da primavera seguinte.
No caso de algumas espécies de folhas permanentes, como é o caso de plantas
cítricas no estado de São Paulo, recomenda-se, na época das águas, manter a faixa limpa
periodicamente e a entrelinha ceifada ou discada através de grades. Se for utilizada uma
planta intercalar para exploração econômica, deve-se realizar a adubação da planta
independente da adubação da frutífera.
Pomar com cobertura vegetal permanente
O solo todo do pomar é mantido com uma cobertura vegetal rasteira, nativa ou
cultivada de forma permanente. Oferece vantagens para a proteção do solo no que diz
respeito à melhoria na estrutura, proteção contra erosão, trânsito de máquinas e diminui
a compactação.
Entretanto, é um sistema que a vegetação dentro do pomar concorre com a
plantafrutífera em água e nutrientes, podendo causar prejuízos em épocas de estiagem.
Este sistema pode ser utilizado em solos com grande declividade, apenas realizando um
pequeno coroamento na projeção da copa durante o ciclo vegetativo da planta, através
do uso de capinas ou herbicidas. Pode ser utilizado em plantas que apresentem um
sistema radicular profundo, como é o caso da nogueira-pecan.
Pomar com cobertura morta permanente
O solo é mantido com uma cobertura de restos vegetais, cortados de espécies
forrageiras, palha ou casca de arroz, serragem, palha de leguminosas, entre outras. A
espessura da cobertura varia de 10 a 20cm, conforme o material utilizado.
36
Através de experimentos, verificou-se que é necessário cortar até 3m2 de área de
capim gordura para cobrir 1m2 do pomar com folha seca, numa espessura de 20cm.
Apesar deste sistema ser oneroso e limitado à pequenas áreas, traz vantagens para o
desenvolvimento das plantas, tais como:
a) Redução das perdas de água, pois funciona como uma válvula que permite a
penetração da água, opondo-se, no entanto, a sua perda por evaporação direta;
b) Evita que a gota da chuva cause desagregação das partículas pelo impacto direto;
c) Aumenta as taxas de N, S, B e P no solo;
d) Contribui para o controle das ervas daninhas, possibilitando que as plantas possam
desenvolver o sistema radicular na superfície do solo.
As limitações para uso deste sistema de cultivo seriam:
a) Em solos mal drenados os problemas de aeração são acentuados;
b) Em pomares conduzidos com cobertura morta por alguns anos, o abandono da prática
pode trazer sérias consequências, pois o sistema mantém as raízes da planta na
superfície do solo;
c) A cobertura morta aumenta o risco de geadas por impedir a irradiação do calor do
solo para o ar;
d) Favorece o risco de incêndio e ataque de roedores;
e) O custo é significativo, pois necessita-se adicionar matéria seca anualmente;
f) Não deve ser estabelecida antes de três anos de vida da planta, pois estimula o
desenvolvimento superficial das raízes da planta.
A adição periódica de restos vegetais faz com que se necessite de uma adubação
suplementar de nitrogênio, na base de 50 kg/tonelada de cobertura morta, uma vez que a
mesma altera a relação C/N.
Variantes para combinar sistemas de cultivo do pomar
Na prática os sistemas de cultivos citados anteriormente são pouco utilizados
isoladamente, o que se utiliza são as combinações deles durante o desenvolvimento da
cultura, baseados na espécie vegetal, regime hídrico, declividade, disponibilidade de
mão-de-obra, equipamentos e custos. Em algumas situações, pode-se utilizar:
a) Cobertura vegetal permanente e cobertura morta na linha das plantas;
b) Cobertura com vegetal ceifado na entrelinha e limpo na projeção da copa, através de
herbicidas e/ou capinas periódicas;
c) Cultivo do solo com planta leguminosa durante parte do ano para posterior
incorporação ao solo;
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d) Vegetação nativa na entrelinha, mantida rasteira através do uso de grades que
atingem pequenas profundidades do solo;
e) Vegetação natural ceifada no período das chuvas e limpo, na época da seca, com
máquinas ou herbicidas;
f) Vegetação natural ceifada quando necessário e plantas coroadas com herbicidas.
Escolha do sistema de cultivo
É difícil recomendar um ou outro sistema de cultivo apenas a partir de
considerações teóricas, pois a escolha do sistema deverá levar em conta:
a) Aspectos relativos à planta (espécie, espaçamento);
b) Aspectos relativos ao solo (profundidade, textura, estrutura, topografia);
c) Aspectos relativos ao clima (chuvas, geadas);
d) Aspectos econômicos (custo operacional, equipamentos disponíveis);
IRRIGAÇÃO EM FRUTICULTURA
As regiões tradicionais produtoras de frutas de todo o mundo utilizam a irrigação
como um insumo importante para garantir produtividade e qualidade das frutas. Isto
acontece na Argentina, Chile, Estados Unidos, Espanha, Itália, Egito, Israel, região
nordeste do Brasil, onde se produz um grande volume de frutas tropicais e temperadas
sob irrigação.
No Sul e Sudeste do Brasil, normalmente ocorrem precipitações em torno de
1.500mm, porém nem sempre há uma boa distribuição das chuvas durante o ano. É
comum acontecerem estiagens durante os meses de dezembro e janeiro e no período de
inverno, respectivamente. Estes períodos com falta de umidade do solo, ocasionam
perdas nas colheitas, pois provocam rachaduras nas frutas e diminuição do tamanho das
frutas, além de diminuir a absorção de nutrientes do solo.
Os sistemas de irrigação disponíveis permitem que se tenham projetos eficientes,
com economia hídrica e permitindo que sejam aplicados os fertilizantes através da água
de irrigação, a chamada fertirrigação.
A fertirrigação é o processo pelo qual os fertilizantes são aplicados junto com a
água de irrigação. Esta prática se converteu em rotina e é um componente essencial dos
modernos sistemas de irrigação. Neste sistema são aplicados os macro e micronutrientes
para as plantas frutíferas, para isso é necessário que os mesmos sejam solúveis em água.
O consumo de água depende de fatores como o solo, a cultura, a umidade do ar, entre
outros. A umidade do solo é determinada por tensiômetros. Por exemplo, quando os
38
tensiômetros chegam a uma tensão de 15 a 20 centibares, em solos leves, deve-se
renovar a irrigação, pois a maior parte da água disponível no solo já foi aproveitada.
A retirada de água do solo pela planta aumenta à medida que se desenvolvem os
ramos e se amplia a área foliar. A multiplicação de células nessa fase (35 a 40 dias após
a floração) é muito grande, diminuindo após o fim da polinização. Como o número de
células irá determinar o tamanho final das frutas, a falta de água nesse período reduz o
número de células, diminuindo o tamanho da fruta e a produção. Após a divisão celular,
inicia-se a fase de aumento de volume da célula. Nesse período, a etapa mais crítica
ocorre durante a aceleração máxima do crescimento da fruta, duas a três semanas antes
da colheita. Pode-se manejar a água ao longo desse estágio, antes da etapa crítica,
reduzindo o teor de umidade do solo na fase que se inicia com a fruta no tamanho de
uma azeitona até o período de seu crescimento rápido, visando-se à economia de água e
melhoria da qualidade da fruta, sem comprometimento da produtividade.
Sistemas de Irrigação em Pomares
A escolha do sistema deve considerar o tipo de solo, clima, disponibilidade e
qualidade da água, sistema de cultivo, manejo do solo e custo da energia.
Irrigação por inundação
Este sistema requer um bom nivelamento do terreno, normalmente declives
inferiores a 1% e um grande fluxo de água, na ordem de 1,6 L seg. ha-1. É pouco
utilizado nas condições do Brasil, pois normalmente os pomares são implantados em
terrenos com declividade superiores. É um sistema que exige grandes volumes de água
e, mesmo em solos nivelados, dificilmente se consegue uma boa distribuição da água no
solo (70%).
Irrigação em sulcos
Como no sistema anterior, a irrigação em sulcos requer uma nivelação do
terreno, normalmente é recomendado para declives até 2%. Em declives superiores,
pode causar sérios problemas de erosão. O fluxo de inundação nos sulcos é da ordem de
1,2 a 1,5 L seg. ha-1 e a eficiência do sistema é da ordem de 40 a 70%. A principal
vantagem é o baixo custo de instalação em solos nivelados.
Irrigação por aspersão
Este sistema pode ser utilizado em terrenos onde os custos para nivelamentos
são elevados, em solos com topografia irregular, para controle de geadas e permite uma
boa uniformidade de distribuição da água.
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A irrigação por aspersão pode ser de dois tipos: sobrecopa e sub-copa, quando
feita por cima ou por baixo da copa das plantas. A irrigação sobrecopa apresenta como
principais desvantagens o molhamento das folhas, o que aumenta a incidência de
doenças, e maiores perdas por evapotranspiração e pela ação dos ventos. Já a aspersão
sub-copa apresenta como desvantagem principal a interferência do tronco e copa das
plantas, o que dificulta o molhamento uniforme do terreno.
Na aspersão, as vazões e pressões são, normalmente, de média a alta, exigindo
motobombas de maior potência e demandando maior consumo de energia em relação ao
gotejamento e à microaspersão. Por outro lado, os aspersores não necessitam de
equipamentos de filtragem e apresentam uma menor necessidade de manutenção.
Figura: Irrigação por aspersão em videira. Foto: Marco Antônio Fonseca
Conceição.
Irrigação por microaspersão
A irrigação por microaspersão é bastante usada em videiras e outras frutíferas,
diferindo da aspersão, basicamente, pela vazão menor dos aspersores. Este sistema
requer filtros, sendo comum, porém, empregar-se somente filtros de discos (ou tela).
Nesses sistemas podem ocorrer problemas com a entrada de insetos e aranhas nos
microaspersores, causando entupimentos e, com isso, prejudicando a aplicação de água.
Por isso deve-se optar, sempre que possível, por microaspersores com dispositivos anti-
insetos.
Na microaspersão os emissores são, normalmente, posicionados individualmente
ou a cada duas plantas, não havendo problemas de interferência dos troncos, como na
aspersão sub-copa.
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Figura: Irrigação por micraspersão em videira. Foto: Jair Costa Nachtigal
Irrigação por gotejamento
Trata-se de um sistema moderno de irrigação e consiste, basicamente, na
aplicação frequente de água a um volume de solo limitado e com um consumo inferior a
qualquer outro sistema. A água é aplicada em pontos localizados na superfície do
terreno, sob a copa das plantas. O solo é mantido próximo à capacidade de campo (CC),
o que proporciona condições mais adequadas ao desenvolvimento e à produção.
O gotejamento é uma instalação permanente, isto é, não pode ser deslocada de
uma área para outra e os gotejadores são distribuídos sob a planta ou enterrados no solo.
Este sistema utiliza pouca mão-de-obra e apresenta uma eficiência de 95% em zonas
tropicais, porém requer o uso de água de boa qualidade e de filtros eficientes,
normalmente filtros de areia.
Os gotejadores são peças especiais que dissipam a pressão da água de irrigação,
a fim de manter a vazão homogênea ao longo da linha de gotejamento. Tal dissipação de
energia se dá pela passagem da água por delgadas secções. Por essa razão ela deve ser
limpa e livre de impurezas em suspensão. Este sistema é muito utilizado na fruticultura
moderna e, normalmente, associado à fertirrigação.
42
CAPÍTULO 4 - PODA DAS PLANTAS FRUTÍFERAS
A poda, muito embora seja praticada para dirigir a planta segundo a vontade do
homem, em fruticultura, é utilizada com o objetivo de regularizar a produção e melhorar
a qualidade das frutas.
A poda é uma das práticas culturais realizadas em fruticultura que, juntamente
com outras atividades, como fertilização, irrigação e drenagem, controle fitossanitário,
afinidade entre enxerto e porta-enxerto e condições edafoclimáticas, torna o pomar
produtivo. Para que a poda produza resultados satisfatórios é importante que seja
executada levando-se em consideração a fisiologia e a biologia da planta e seja aplicada
com moderação e oportunidade.
4.1. Conceitos
Existem diversos conceitos referentes à poda, dentre eles:
a) Poda é a remoção metódica das partes de uma planta, com o objetivo de melhorá-la
em algum aspecto de interesse do fruticultor;
b) É a arte e a técnica de orientar e educar as plantas, de modo compatível com o fim
que se tem em vista.
c) É a técnica e a arte de modificar o crescimento natural das plantas frutíferas, com o
objetivo de estabelecer o equilíbrio entre a vegetação e a frutificação.
4.2. Importância da poda
A importância da poda varia com a espécie, assim para uma ela é decisiva,
enquanto que, para outra, ela é praticamente dispensável. Com relação à importância da
poda, as espécies podem ser agrupadas da seguinte maneira:
a) Decisiva - Videira, pessegueiro, figueira.
b) Relativa - Pereira, macieira, caquizeiro.
c) Pouca importância - Citros, abacateiro, nogueira-pecan.
4.3. Objetivos da poda
Os principais objetivos da poda são:
a) Modificar o vigor da planta;
b) Manter a planta dentro de limites de volume e forma apropriados;
c) Equilibrar a tendência da planta de produzir maior número de ramos vegetativos
ouprodutivos e vice-versa;
d) Facilitar a entrada de ar e luz no interior da planta, com a abertura da copa;
e) Suprimir ramos supérfluos, doentes e improdutivos;
f) Facilitar a colheita das frutas e os tratos culturais dentro do pomar;
43
g) Evitar a alternância de safras, de modo a proporcionar anualmente colheitas médias
com regularidade.
4.4. Fundamentos da poda
Sob o ponto de vista fisiológico, a poda pode ser fundamentada pelo que segue:
a) A seiva se dirige com maior intensidade para as partes altas e iluminadas da planta;
b) A circulação da seiva é mais intensa em ramos retos e verticais;
c) Quanto mais intensa for a circulação de seiva, maior será o vigor nos ramos, maior
será a vegetação e, ao contrário, quanto maior a dificuldade na circulação de seiva mais
gemas de flor serão formadas;
d) Cortada uma parte da planta, a seiva fluirá para as partes remanescentes,
aumentando-lhe o vigor vegetativo;
e) Podas curtas (severas) têm a tendência de provocar desenvolvimento vegetativo,
retardando a frutificação;
f) Diminuindo a intensidade de circulação de seiva, o que ocorre no período após a
maturação das frutas, verifica-se uma correspondente maturação de ramos e de folhas.
Nesse período, acumulam-se grandes quantidades de reservas nutritivas, que são
utilizadas para transformar as gemas foliares em frutíferas;
g) O vigor das gemas depende da sua posição e do seu número nos ramos, geralmente as
gemas terminais são mais vigorosas;
h) O vigor e a fertilidade de uma planta dependem, em grande parte, das condições
climáticas e edáficas;
i) Deve haver um equilíbrio na relação entre copa e sistema radicular. Este equilíbrio
afeta o vigor e a longevidade das plantas.
Numerosos trabalhos têm demonstrado que a poda tem um efeito ananizante
sobre o crescimento vegetativo, ou seja, as plantas podadas, além de terem uma menor
longevidade, apresentam um porte menor.
Geralmente a poda reduz os pontos de crescimento da planta, aumentando,
assim, a provisão de nitrogênio aproveitável e de outros elementos essenciais para os
pontos de crescimento que permaneceram e isto, por sua vez, aumenta o número de
células que podem ser formadas. Desta maneira, a poda da copa favorece a formação de
células e a utilização de carboidratos. Por conseguinte, favorece a fase vegetativa e
retarda a fase reprodutiva.
O estímulo à fase vegetativa pode ser ou não desejável, depende da espécie
frutífera que se está trabalhando. A redução do sistema aéreo pela poda, qualquer que
44
seja o método utilizado, leva consigo uma perda mais ou menos importante das reservas
contidas na madeira suprimida e na diminuição do número de folhas, ou seja, de órgãos
assimiladores de carbono.
Nos primeiros anos de vida, toda a energia produzida é gasta para o próprio
crescimento da planta. Depois de formada as estrutura da planta, então começa a sobrar
seiva elaborada, que se transforma em reserva e é armazenada na planta. Desta maneira,
a planta, através destas reservas, pode transformar as gemas vegetativas em botões
florais. Esta acumulação é maior nos ramos novos e finos do que nos ramos velhos e
grossos. O equilíbrio entre a fase vegetativa e reprodutiva onde se considera a relação
entre o carbono e o nitrogênio nas diferentes fases da vida da planta.
4.5. Hábito de frutificação das principais espécies frutíferas
Afim de entender as necessidades da poda das plantas cultivadas, é necessário
um conhecimento prático dos seus hábitos de frutificação. De acordo com a natureza
que possuem, as plantas frutíferas podem ser divididas em três tipos:
4.5.1 Plantas que produzem em ramos especializados
Só produzem em ramos especializados, os demais ramos dessas plantas
produzem brotos vegetativos e folhas. Ex.: macieiras e pereiras. Esses ramos
especializados são geralmente curtos e muitos deles denominados esporões, podendo
apresentarem as seguintes denominações:
a) Dardos - são estruturas pequenas e pontiagudas, com entrenós muito curtos.
Apresentam uma roseta de folhas na extremidade, pouco maior que uma gema.
b) Lamburda - ramo curto com nodosidades na base, sem gemas laterais, podendo
terminar em gemas vegetativas ou de frutas (coroadas).
c) Bolsa - parte curta, inchada, constituída por tecido pouco diferenciado, porém com
grande acumulação de substâncias nutritivas, que se formam no ponto de união da fruta
colhida com o ramo. É um órgão de transição que pode dar origem a novas gemas
florais, dardos, lamburdas, brindilas ou vários deles de cada vez. Geralmente, são
formadas a partir de um esporão depois de vários anos.
d) Brindilas - são ramos finos, com diâmetro de 3 a 5mm e comprimento em torno de
20cm. Na ponta, podem apresentar um dardo, gema vegetativa ou floral.
e) Botão floral - forma arredondada e destacado, em geral apresenta maior volume do
que as gemas vegetativas.
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Figura: Principais tipos de ramos especializados encontrados em plantas
frutíferas. Foto:José Carlos Fachinello
4.6. Modalidades de poda
A poda acompanha a planta desde o início da vida até a sua decrepitude. As
necessidades de poda vão sofrendo alterações à medida que a idade da planta vai
avançando.
Poda de formação
46
A poda de formação é realizada nos primeiros anos de vida da planta, o que, para
a maioria das plantas frutíferas, se prolonga até o 3o ou 4o ano. Durante esta etapa não
se busca a produção e sim uma estrutura de ramos suficientemente fortes para poder
resistir o peso das colheitas sem romperem-se. Assim, é essencial o desenvolvimento de
bifurcações fortes e ramos bem espaçados. Procura-se uma arquitetura que propicie um
ótimo aproveitamento da radiação solar e boa produção por planta.
Poda de frutificação
É iniciada depois que a copa está formada. Para praticá-la, tem-se a necessidade
de conhecer a constituição dos órgãos da planta para saber o que se elimina e porque se
elimina. Assim, assegura-se uma regularidade e melhora da frutificação através de um
controle rigoroso do equilíbrio entre as funções vegetativa e reprodutiva.
A importância da poda de frutificação está intimamente relacionada com o
hábito de frutificação da planta. Assim sendo, a poda de frutificação é mais importante
para aquelas espécies que produzem em ramos novos, ou seja, ramos do ano, como é o
caso da figueira, da videira e do quivizeiro. A poda de frutificação também é importante
porque é responsável pela manutenção do equilíbrio entre a parte vegetativa e a parte
produtiva da planta, com isso é possível evitar diversos problemas que ocorrem quando
as plantas apresentam produções desequilibradas.
A poda de frutificação é bastante variável com a espécie, cultivar, espaçamento,
vigor da planta, estado nutricional e fitossanitário, condições climáticas, épocas, entre
outras. Isso faz com que, para algumas espécies, como a macieira, a poda de frutificação
seja importante para algumas cultivares e, para outras, possa até não ser realizada.
Poda de rejuvenescimento
Tem por finalidade livrar as plantas frutíferas de ramos doentes, atacados por
pragas ou renovar a copa através do corte total da mesma, deixando-se apenas as
ramificações principais, com isso pode-se reativar a produtividade perdida. Este tipo de
poda é frequente em pomares abandonados, mas de vigor ainda razoável, como, por
exemplo, laranjeiras, macieiras e pereiras. Normalmente, cortam-se as pernadas
principais, deixando-se com 40 a 50cm, e, posteriormente, seleciona-se os ramos que
irão permanecer, através da poda verde. Estes cortes maiores são realizados no inverno,
ocasião em que são aplicadas pastas fungicidas no local que foi cortado.
Poda de limpeza
É uma poda leve, constituindo-se na retirada de ramos secos, atacados por
doenças, pragas ou mal localizados. É realizada em frutíferas que requerem pouca poda,
47
como é o caso de laranjeiras, jabuticabeiras, mangueiras, entre outras. Esta prática
normalmente é realizada em períodos de baixa atividade fisiológica da planta, ou seja,
durante o inverno ou, como no caso das plantas cítricas, logo após a colheita das frutas.
48
CAPÍTULO 5 – PRINCIPAIS PRAGAS E DOENÇAS EM FRUTICULTURA
PRAGAS DA MANGUEIRA
Moscas das frutas - Ceratitis capitata e Anastrepha spp. (Diptera: Tephritidae)
As moscas-das-frutas fazem parte de um grupo de pragas responsável por
grandes prejuízos econômicos na cultura da mangueira, não só pelos danos diretos que
causam à produção, como, também, pelas barreiras quarentenárias impostas pelos países
importadores. A. obliqua é a principal mosca-das-frutas que ataca a manga. No Vale do
São Francisco C. capitata (Figura 1) é a espécie mais comum, contudo, além dessa
espécie, são relacionadas onze espécies do gênero Anastrepha (Figura 2):
Fig. 1. Adulto de Ceratitis Fig. 2. Adulto de Anastrepha
Os ovos das moscas-das-frutas são introduzidos, por meio do ovipositor, abaixo
da casca do fruto, de preferência ainda imaturos. No local onde são depositados, pode
ocorrer contaminação por fungos ou bactérias, o que resulta no apodrecimento local do
fruto. Aproximadamente dois dias após a postura, eclode a larva, que passa a se
alimentar da polpa do fruto hospedeiros, reduzindo sua qualidade e tornando-o
impróprio para consumo in natura, comercialização e industrialização.
1.1. PRAGAS SECUNDÁRIAS DA MANGUEIRA
1. PRAGAS DA INFLORESCÊNCIA E DE FRUTOS
Tripes - Selenothrips rubrocinctus e Frankliniella schultzei (Thysanoptera: Thripidae)
No Vale do São Francisco, S. rubrocinctus (Figura 3) e F. schultzei são as espécies mais
comuns de tripes que atacam a mangueira. Espécies do gênero Frankliniella têm sido
relatadas ocasionando danos em panículas, por sua alimentação em nectários e anteras
de flores, que poderá resultar em perda prematura de pólen (Peña and Mohyuddin,
1997). S. rubrocinctus e F. schultzei também têm sido reportados danificando frutos.
49
Em altas infestações o dano é visível na casca dos frutos, que apresentam manchas ou
rachaduras que depreciam o seu valor com comercial (Barbosa et al., 2000a; Brandão &
Boaretto,1999).
Fig. 3. Adulto de Selenothrips
Lagartas - Pleuroprucha asthenaria (Lepidoptera: Geometridae) e Cryptoblabes
gnidiella (Lepidoptera: Pyralidae).
Alimentam-se de pétalas e ovários de flores, resultando no secamento parcial ou
total da inflorescência com consequente diminuição da frutificação. Frutos pequenos e o
pedúnculo podem, ainda, apresentar a superfície da epiderme danificada pelas larvas,
levando a queda ou amadurecimento precoce. A presença destas lagartas é maior em
inflorescências compactadas pelo uso do paclobutrazol ou, infectadas pelo fungo
Fusarium spp., (agente da malformação floral), ambiente favorável ao ataque da praga.
C. gnidiella (Figura 5) também é uma praga comum em videiras na nossa região
(Moreira et al., 2004) enquanto P. asthenaria (Figura 6) tem sido relatada em
inflorescências e grãos de sorgo, na Colômbia (Pulido, 1979).
Fig. 5. Larva de Cryptoblabes gnidiella. Fig. 6. Larva de Pleuroprucha sp.
Cochonilhas
50
As cochonilhas Aulacaspis tubercularis (Figura 7), Saissetia oleae, Pinnaspis
sp. e Pseudococus sp., infestam os frutos da mangueira, podendo ocasionar exsudação
de látex, manchas e deformações nos frutos, desqualificando-os para fins comerciais
(Peña, 2004; Icuma & Cunha, 2001; Gallo et al., 2002).
A.tubercularis é considerada a espécie mais importante nos pomares destinados
à exportação (Nascimento et al., 2002). De acordo com Souza Filho et al (2004), há
indícios de que o orifício feito para a sua alimentação no fruto, favorece a penetração de
patógenos de pós-colheita.
Fig. 7. Aulacaspis tubercularis
Pulgões - Aphis gossypii, A. craccivora e Toxoptera aurantii (Hemiptera: Aphididae)
A ocorrência de pulgões em mangueira, em condições de campo, não é comum.
Entretanto, em plantios comerciais no Submédio São Francisco, observam-se
infestações de afídeos causando danos às plantas. São insetos sugadores, polífagos e
podem estar em outras culturas ou colonizando plantas invasoras, localizadas próximas
ou no interior do pomar (Barbosa et al., 2005; Ferreira & Barbosa, 2002).
Ao alimentarem-se da seiva, injetam na planta substâncias tóxicas, que
provocam o o secamento e a queda de flores, reduzindo, consequentemente, a produção
de frutos. Além disso, há redução da capacidade fotossintética da planta, devido à
ocorrência de fumagina (Barbosa et al., 2001b).
Formigas cortadeiras - Atta sexdens, Atta laevigata e Acromyrmex spp.
(Hymenoptera, Formicidae)
As formigas cortadeiras podem causar severas desfolhas em mudas, ainda nos
viveiros e em pomares em formação. Quando não controladas, após a transferência das
mudas para o campo, retardam o desenvolvimento e podem causar até morte de plantas
(Cunha et al., 2000).
51
PRINCIPAIS DOENÇAS DA MANGUEIRA
As principais doenças que ocorrem na região do Submédio São Francisco estão
descritas a seguir:
Antracnose (anamorfo Colletotrichum gloeosporioides; teleomorfo
Glomerella cingulata)
É considerada uma das doenças mais frequentes e responsáveis pelas maiores
perdas econômicas em áreas produtoras de manga no mundo, necessitando, em certas
ocasiões, de tratamento pós-colheita. Alta severidade da antracnose ocorre em locais ou
épocas onde há frequência de chuvas e predominância de alta umidade relativa. No
Semiárido nordestino, sua importância é restrita às épocas em que a floração e o
desenvolvimento de frutos, coincidem com a ocorrência de chuvas.
Sintomatologia
Os períodos críticos de maior suscetibilidade da mangueira às infecções por C.
gloeosporioides são: fase de florescimento, frutificação, emissão de folhas novas e
gemas florais. São nessas ocasiões em que o patógeno pode causar queima de panículas,
mumificação de frutos e necroses em folhas (Figuras 1 e 2).
Fotos: Lopes, D. B.
Fig. 1. a) Sintoma de antracnose em frutos jovens e, b) em folhas.
Fotos: Batista, D. da C. (a); Lopes, D. B. (b).
Fig. 2. a) Sintomas de antracnose em folhas jovens e, b) em panícula.
52
Sintomas em folhas são inicialmente manchas pequenas, de contorno
arredondado ou irregular e coloração marrom escura, cerca de 1 mm a 10 mm de
diâmetro, que podem surgir tanto nas margens como o centro do limbo foliar, e em
ambos os lados da folha. Em condições de alta umidade, estas manchas ficam maiores e
podem causar o rompimento do limbo.
Infecções em brotações e/ou ramos novos, desenvolvem manchas necróticas e
escuras, que podem evoluir para um secamento descendente, da ponta para a base,
causando desfolha do ramo. Em inflorescências, surgem pontuações escuras que se
tornam alongadas e profundas, provocando a morte de flores e queda de frutos jovens.
Quando a infecção é em frutos, o patógeno pode permanecer quiescente e os
sintomas surgirem durante o amadurecimento em pós-colheita (Figura 3). Durante o
amadurecimento, manchas marrom-escuras a pretas, geralmente arredondadas e
levemente deprimidas podem se desenvolver em qualquer parte do fruto. Com a
evolução dos sintomas, as manchas se tornam maiores e mais deprimidas, com
pequenas rachaduras em certos casos, levando ao apodrecimento do fruto.
Fotos: Batista, D. da C.
Fig. 3. Sintomas de antracnose em mangas.
Aspectos epidemiológicos e controle
A disseminação da doença pode ocorrer a partir de lesões em folhas, panículas
ou frutos que servem como fonte de inóculo para infecção em órgãos sadios. Essa
disseminação ocorre, principalmente, por respingos de água (chuva, orvalho ou
irrigação). O patógeno também sobrevive sob lesões em folhas velhas, ramos verdes ou
secos, inflorescências ou panículas presas à planta. A infecção ocorre, principalmente,
na presença de água livre ou umidade relativa acima de 90%, sendo que a infecção
depende da temperatura.
Temperaturas altas, em torno de 28 oC, são mais favoráveis às infecções de C.
gloeosporioides. Períodos chuvosos e encobertos ou de orvalho prolongado coincidindo
com o florescimento são condições ideais para a ocorrência de epidemias de antracnose.
53
O patógeno possui vários hospedeiros alternativos, desde plantas silvestres a
cultivadas, a exemplo da goiabeira, abacateiro, morangueiro, maracujazeiro, mamoeiro,
etc. Além de aplicações de fungicidas (cúpricos, mancozebe, tiofanato metílico e
tebuconazole), é recomendada a adoção de práticas culturais para reduzir o nível de
inóculo e as condições favoráveis à doença. Entre as medidas recomendadas, destacam-
se: eliminar ramos doentes; indução em épocas em que a floração não coincida com
períodos chuvosos; realizar podas que propiciem boas condições de arejamento; efetuar
limpeza do pomar, retirando e queimando restos de cultura contaminados; não deixar
frutos infectados nas plantas; fazer o tratamento químico pós-colheita com procloraz ou
o hidrotérmico com temperatura de 52 oC durante 5 minutos.
Oídio (Oidium mangiferae)
O oídio denominado, pelos produtores, de cinza, é uma doença muito comum em
pomares de mangueiras. As fases críticas para ocorrência de epidemias são: emissão de
folhas novas, florescimento e início de frutificação. Na região semiárida do Vale do São
Francisco, a intensidade da doença é maior, principalmente no segundo semestre.
Sintomatologia
Inflorescências, folhas e frutos, ambos, ainda jovens são bastante suscetíveis.
Quando a infecção ocorre na inflorescência, as partes infectadas ficam recobertas por
um crescimento pulverulento branco-acinzentado (Figura 4). O pó branco-acinzentado é
formado por estruturas do patógeno (micélios, conidióforos e esporos). Com o
desenvolvimento dessas estruturas, as mesmas acabam danificando as inflorescências,
acarretando sérios abortamentos de flores e, consequentemente, comprometendo
diretamente a produção da mangueira. As ramificações das inflorescências e os frutos
jovens também ficam recobertos com as estruturas do fungo.
Fotos: Lopes, D. B.
Fig. 4. Sintomas de oídio em inflorescências da mangueira.
54
O pedúnculo de frutos, quando infectado pelo fungo, torna-se mais fino e
quebradiço, o que resulta em queda de frutos. Entretanto, os frutos à medida que se
desenvolvem, tornam-se resistentes à infecção. Folhas infectadas, além de ficarem
recobertas pelo crescimento branco-acinzentado, tornam-se deformadas e com aspecto
de queima. Quando o sintoma é muito severo pode ocorrer queda prematura de folhas.
Aspectos epidemiológicos e controle
O fungo O. mangiferae é um parasita obrigado, isto é, sobrevive apenas sob
órgãos vegetais vivos. Portanto, O. mangiferae sobrevive em tecido vivo da planta, tais
como: folhas, ramos, inflorescência, frutos ou gemas. Para epidemias de oídio as
condições favoráveis são: ambiente com baixa umidade relativa, temperaturas amenas e
ocorrência de ventos, que facilita a dispersão do fungo.
Para o controle da doença, é recomendado que o produtor intensifique o
monitoramento durante a fase de desenvolvimento das inflorescências para detecção dos
primeiros focos. Para o controle da doença, pode ser aplicado fungicida à base de
enxofre, antes da abertura das flores e início da frutificação. Aplicações de enxofre
devem ser evitadas durante as horas com temperaturas muito altas, pois o enxofre é
fitotóxico nesta condição. Produtos dos grupos químicos Triazol e Estrobilurinas são
também eficientes.
Seca-da-mangueira (anamorfo Chalara sp.; teleomorfo Ceratocystis imbriata)
Dentre as doenças que ocorrem em mangueiras, a seca-da-mangueira, causada
por Ceratocystis fimbriata pode levar à morte de plantas. A doença pode causar o
declínio de plantas em pomares de mangueira, como ocorrido em Jardinópolis, SP, onde
dizimou pomares das cultivares Haden e Bourbon nas décadas de 1950 e 1960. Em
outras regiões há registros dos mesmos prejuízos em consequência da morte de plantas
em pomares comerciais.
Sintomatologia
O sintoma mais típico da doença consiste em seca, iniciada a partir de ramos
mais finos do dossel, que progride lentamente em direção ao tronco da mangueira
causando o anelamento e a morte da planta (Figura 5). O quadro da doença em planta no
campo caracteriza-se pelo surgimento de sintomas de amarelecimento de folhas, murcha
e seca dos galhos afetados onde as folhas secas e de coloração palha ficam presas,
contrastando com galhos sadios no dossel da mangueira. O sintoma é, principalmente,
constatado nas secções transversais de ramos e troncos infectados, na forma de estrias
radiais escuras, partindo da medula em direção ao exterior do lenho e/ou da periferia do
55
lenho para a medula. Embora menos comum, o sintoma da seca-da-mangueira pode ter
início a partir de infecções pelas raízes, sem deixar sinais perceptíveis até a ocorrência
de morte repentina da mangueira.
Aspectos epidemiológicos e controle
O fungo sobrevive em ramos secos presentes no solo e em diversas plantas que
são hospedeiros naturais. A ocorrência de lesões na parte aérea pode estar associada
com a dispersão do patógeno por pequenos besouros dos gêneros Hypocryphalus. A
broca-da-mangueira, H. mangiferae é o principal vetor de C. fimbriata. Numerosos
orifícios (1 mm) podem ser constatados nos ramos e tronco da mangueira, dos quais há
liberação de resinas e/ou serragem que, após cortes longitudinais ou transversais,
revelam estrias de cor marrom. O fungo também pode ser disperso através do solo
aderido aos implementos agrícolas, pela água de irrigação e, a longa distância, através
de mudas contaminadas. Condições ambientais com temperatura alta e períodos de
precipitações prolongadas são condições que favorecem a doença.
Fotos: Batista, D. da C.
Fig. 5. a) Seca do ramo causada por Ceratocystis fimbriata; b) escurecimento do
tronco da mangueira causado pela colonização por C. fimbriata; c) mangueiras
mortas; d) presença de pequenos orifícios, próximos às lesões, feitos por
coleobrocas.
56
As medidas de controle consistem, primeiramente, na prevenção da introdução
do patógeno em áreas isentas por meio de mudas. Portanto, a aquisição de mudas em
viveiristas idôneos e registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) é essencial. Em áreas onde já ocorre o problema, devem ser realizadas
inspeções periódicas do pomar para a eliminação de plantas doentes. Ramos afetados
devem ser eliminados com a realização de cortes a 40 cm de distância da região de
contraste entre tecido sadio e doente. Materiais infectados ou plantas mortas devem ser
imprescindivelmente queimados sem nenhuma restrição, enquanto as regiões podadas
devem ser protegidas com pasta cúprica.
Ferramentas utilizadas durante a operação de remoção de ramos e partes de
plantas afetadas devem ser desinfectadas em solução de hipoclorito de sódio a 2% de
cloro ativo. A estratégia mais recomendada para conter a seca-da-mangueira é a
resistência genética, pois não há fungicidas registrados para o controle dessa doença.
Algumas variedades são citadas como resistentes: Carabao, Manga d’água, Pico, IAC
101 Coquinho, IAC 102 Touro, IAC 103 Espada Vermelha, IAC 104 Dura, Jasmim,
Rosa, Sabina, Oliveira Neto, São Quirino, Van Dyke, Keitt, Espada, Sensation, Kent,
Irwin e Tommy Atkins.
Morte descendente ou seca-de-ponteiros (Lasiodiplodia theobromae)
Essa doença já foi constatada em vários países produtores de manga do mundo, e
sua importância tem sido maior em condições semiáridas. No Vale do São Francisco, a
incidência tem aumentado nos últimos anos, o que é atribuído às condições da planta
durante a indução floral, pois altas incidências da doença são observadas em condições
de estresse hídrico e nutricional. A lista de espécies hospedeiras de L. theobromae é
bastante extensa, incluindo espécies frutíferas como cajueiro, coqueiro, goiabeira,
videira, maracujazeiro, pinha, cana-de-açúcar e etc.
Sintomatologia
O fungo causa seca-de-ponteiros (Figura 6), queima de inflorescências,
abortamento de frutos e, também, podridão peduncular em manga durante a pós-
colheita. Em ramos verdes, causa lesões escuras de forma irregular, não deprimida,
geralmente associada à base do pecíolo da folha. Sintoma semelhante pode ser
observado nas gemas apicais, com frequente exsudação de goma. Os sintomas em
ramos evoluem para uma seca e morte do ponteiro, onde as folhas secam e ficam presas
ao ramo. Caso os ramos infectados não sejam retirados da planta, a infecção pode
57
progredir lentamente de cima para baixo, deixando toda área afetada necrosada. A seca
pode progredir para os ramos mais velhos, tronco e até matar a planta. Geralmente,
quando esse tipo de sintoma é detectado, a planta já está debilitada e de difícil
recuperação.
Fotos: Batista, D. da C (a); Lopes, D. B. (b).
Fig. 6. Sintomas de seca-de-ponteiros causados por Lasiodiplodia
theobromae.(Fotos: Diógenes da Cruz Batista; Daniela B. Lopes).
O fungo pode causar morte de mudas quando a infecção se dá na região da
enxertia. Nas inflorescências, ocorrem lesões escuras e morte de frutos jovens. A
infecção ocorre frequentemente na ponta da raque e progride da ponta para a base,
causando o secamento da inflorescência. Em frutos jovens, por meio do pedúnculo, a
doença provoca podridão e queda dos mesmos. Em frutos maduros, o patógeno causa
uma podridão de aspecto mole e aquoso, deixando os frutos imprestáveis para o
consumo. Semelhante à antracnose, a infecção pode permanecer quiescente na região do
pedúnculo, em frutos maiores, manifestando-se em pós-colheita.
Aspectos epidemiológicos e controle
O fungo L. theobromae sobrevive como saprófita em ramos secos, restos de
inflorescências, frutos mumificados e material vegetal podado, onde pode se reproduzir
abundantemente, principalmente sob condições de alta umidade (por exemplo, restos de
cultura próximos aos microaspersores). O fungo penetra na planta principalmente por
ferimentos causados pela prática da poda, outras doenças e pragas. As condições mais
favoráveis ao desenvolvimento do fungo são temperaturas em torno de 30 oC a 35
oC.
Para o controle da doença, recomendam-se as seguintes práticas: realizar podas
de limpeza após a colheita; proteger as áreas podadas, com pasta cúprica; desinfectar as
ferramentas de poda; eliminar plantas mortas ou muito doentes; adubar e irrigar
adequadamente o pomar, evitando-se que a água atinja o tronco das plantas; evitar o
estresse hídrico ou nutricional prolongado; controlar insetos, principalmente a
mosquinha, que possam causar ferimentos às plantas; utilizar fungicidas à base de
cobre, tiofanato metílico ou carbendazim e mancozeb.
58
Malformação floral e vegetativa (Fusarium subglutinans)
A malformação ou embonecamento é um dos mais sérios problemas
fitossanitários da mangueira em diversas regiões produtoras em todo o mundo, podendo
ocasionar perdas na produção de até 86%. A incidência da doença na região do Vale
São Francisco é variável, mas pode afetar 100% das plantas em pomares pouco
manejados, ocasionando perdas de produção bastante significativas.
Sintomatologia
Sintoma de embonecamento ocorre por causa da redução no comprimento do
eixo principal e surgimento de ramificações secundárias na panícula, gerando um
aspecto de cacho que lembra uma boneca de pelúcia (Figura 7a), daí o nome popular
adotado pelos produtores e denominado “embonecamento”. As inflorescências
malformadas ou embonecadas não produzem frutos, pois ocorre uma alteração nas
flores que, ao invés de hermafroditas, se tornam estaminadas. Panículas malformadas
ficam retidas na planta e, se não forem retiradas, escurecem e necrosam, servindo como
fonte de inóculo para reprodução do patógeno.
Infecção em ramos vegetativos também causa um superbrotamento dos mesmos,
e decorre do grande número de brotos oriundos das gemas axilares do ramo principal.
Ramo infectado apresenta internódios curtos, folhas rudimentares e grande número de
gemas intumescidas que não chegam a brotar, gerando também uma estrutura de
aspecto compacto (Figura 7b).
Fotos: Lopes, D. B.
Fig. 7. a) Sintomas de malformação floral e b) vegetativa causados por Fusarium subglutinans.
A doença pode ser disseminada pela prática da enxertia, ao utilizar material
propagativo infectado. A disseminação da doença dentro de um pomar é favorecida pela
ocorrência de ventos, principalmente em pomares onde a inflorescência ou os ramos
malformados não são retirados.
59
O período de incubação da doença, ou seja, o intervalo entre a infecção do tecido
e a manifestação dos sintomas, pode variar de semanas a meses. Em trabalhos, sob
condições controladas, verificou-se que os sintomas surgiram entre 6 a 8 semanas.
Durante estudos realizados em fazendas de Petrolina, PE, verificou-se que a maior
dispersão de esporos do fungo ocorre após período de alta umidade associado a
temperaturas altas. Outro aspecto importante relacionado à intensificação da doença é a
associação do fungo com o microácaro Aceria mangiferae, que ao alimentar-se das
gemas apicais favoreçam a infecção do fungo, em virtude das aberturas de ferimentos.
Algumas práticas de manejo necessitam ser adotadas em conjunto para reduzir a
ocorrência da doença, tais como: fazer vistoria periódica do pomar e viveiros para
eliminar material vegetal sintomático; não usar material de propagação doente na
formação de mudas; eliminar mudas doentes; podar e destruir ramos e panículas
infectados; queimar panículas e ramos retirados das plantas. A variedade Rosa é
considerada resistente, enquanto ‘Tommy Atkins’, ‘Van Dyke’, ‘Palmer’e a
‘Haden’suscetíveis.
Mancha angular ou cancro bacteriano (Xanthomonas campestris pv.
mangiferaeindicae)
É uma doença que pode afetar ramos, folhas, inflorescências e frutos. Ocorre,
principalmente, durante períodos em que altas temperaturas coincidem com chuvas ou
períodos úmidos prolongados. Em regiões com predominância de baixa umidade e
pouca precipitação pluviométrica, sua ocorrência é baixa e não causa sérios prejuízos.
No Estado de São Paulo, onde os relatos dessa doença é mais severa, os danos podem
ser superiores a 70%. Nas condições do Submédio do Vale São Francisco, ocorrência da
bactéria é baixa e as perdas insignificantes.
Sintomatologia
Os sintomas em folhas têm início com o encharcamento do tecido, seguido do
desenvolvimento de lesões angulares e limitadas pelas nervuras, com a presença ou não
de halo amarelado. Geralmente, as lesões são menores que 0,5 cm2, podendo coalescer
e formar grandes áreas necróticas, causando a desfolha. Lesões podem surgir nas
nervuras e em pecíolos de folhas, em forma de manchas escuras irregulares e alongadas,
onde futuramente se formam cancros. Em ramos e panículas podem se desenvolver
lesões semelhantes. Nos frutos, as lesões surgem como pequenas manchas encharcadas
(aspecto úmido) sob as lenticelas. As manchas são de coloração verde-escuras que
60
posteriormente se tornam enegrecidas. Essas manchas têm um aspecto de estrela,
rompe-se e exsuda uma goma bacteriana infecciosa.
Aspectos epidemiológicos e controle
Semelhante ao fungo C. gloeosporioides, as células bacterianas de X. campestris
pv. mangiferaeindicae são dispersas por respingos de água, que pode ser oriunda da
chuva ou irrigação. A doença pode ser disseminada também, por insetos como as
moscas das frutas e por sementes contaminadas. A penetração da bactéria no hospedeiro
acontece por meio de ferimentos ou aberturas naturais (lenticelas e estômatos).
Condições ambientais como temperatura e umidade altas são favoráveis à doença;
ventos fortes ou granizos, por causar ferimentos, são fatores que também favorecem a
contaminação.
A disseminação da doença entre plantas se dá, primariamente, pelos respingos de
água da chuva ou irrigação que dispersam a bactéria para plantas vizinhas. A chuva é o
fator climático que mais se correlaciona com a incidência da doença.
Além das práticas culturais mencionadas anteriormente para as demais doenças, a
produção de mudas isentas da doença é essencial para o manejo integrado. Medidas
como o uso de quebra vento, remoção de órgãos infectados que servem como fontes de
inóculos e aplicações de produtos à base de cobre são igualmente importantes.
Entretanto, o uso de cúpricos ajuda apenas a reduzir a população epifítica
localizada na superfície da planta, porém, não tem efeito curativo. Como a presença de
água livre é um pré-requisito para infecções bacterianas, a região semiárida se destaca
pela baixa incidência da doença.
Patógenos emergentes
A utilização de práticas inadequadas de manejo no cultivo da mangueira tem
favorecido a intensificação de outras doenças que possuíam pouca importância no
Submédio do Vale São Francisco, as quais são causadas por Alternaria alternata,
Fusicoccum aesculis e Neofusicoccum parvum. Uma característica comum, entre esses
patógenos, é que eles causam perdas pós-colheita. Os sintomas em manga variam com o
fungo envolvido na infecção e com a região da manga infectada.
Normalmente, a podridão tem origem a partir da infecção do pedúnculo ou da
superfície do fruto. Mais de um fungo podem estar associados com a podridão
peduncular. Além das podridões causadas por L. theobromae e C. gloeosporioides, é
comum observar infecções por A. alternata, F. aesculis e N. parvum. Infecções em
61
manga, a partir do pedúnculo por L. theobromae, F. aesculis e N. parvum, origina
sintoma de podridão que é impossível distinguir o agente causal (Figura 8a). Por outro
lado, infecções na superfície da manga por A. alternata, F. aesculis e N. parvum
originam manchas que podem ser confundidas, pelo agricultor, com a antracnose
(Figuras 8b e 9).
Alternaria alternata afeta folhas, induzindo a formação de manchas escuras e
arredondadas, perceptíveis mais facilmente na parte inferior da folha. No fruto, lesão
similar se desenvolve ao redor das lenticelas, tendo a lesão uma profundidade inicial de
apenas 1 mm a 2 mm sem apresentar amolecimento (Figura 9). Sob condições de
umidade, a lesão se desenvolve, tornando-se deprimida com reprodução do patógeno no
centro da lesão. Sintomas de podridão de Alternaria são mais restritos que os da
antracnose.
Os fungos F. aesculis e N. parvum causam, também, sintomas de queima de
inflorescência, morte-descendente e declínio (Figura 10) da mangueira que podem ser
confundidos por aqueles causados por L. theobromae. Para esses tipos de patógenos a
eliminação de fontes de inóculos, a exemplo de órgãos infectados (frutos, ramos, folhas
e panículas) é essencial para o sucesso do programa de manejo fitossanitário, pois o
controle químico somente não proporciona resultados satisfatórios, caso a pressão de
inóculo e, consequentemente, a taxa de infecção seja alta.
Fotos: Terao, D. (A); Batista, D. da C. (B)
Fig. 8. a) Sintomas de podridão peduncular e, b) manchas em mangas
causados por Fusicoccum parvum.
62
Fotos: Batista, D. da C.
Fig. 9. Sintomas de manchas em mangas causadas por Alternaria alternata.
Fotos: Tavares, S. C. C. H.; Batista, D. da C.
Fig. 10. a) Sintomas de declínios (infecções no tronco) causados por
Lasiodiplodia theobromae e, b) Fusicoccum aesculis (B).
PRINCIPAIS PRAGAS MELÃO
A cultura do melão, Cucumis melo L., expandiu-se muito no Nordeste brasileiro,
durante os últimos anos. Trata-se de importante opção agrícola nos pólos irrigados.
Dessa forma, as maiores áreas cultivadas com melão encontram-se nos estados do
Ceará, Rio Grande do Norte (Mossoró e Vale do Rio Açu), Pernambuco (Petrolina) e
Bahia (Juazeiro). Essas regiões são reconhecidamente áridas; entretanto, apesar dessa
condição, algumas pragas têm-se destacado e causado muitos problemas aos produtores.
A cultura do melão não tem muita importância nos estados da região Centro-Sul devido,
provavelmente, às dificuldades de cultivo durante o período das águas (verão) e à
sensibilidade da cultura às baixas temperaturas.
Mosca-branca – Bemisia tabaci, biótipo B (Hemiptera: Aleyrodidae)
Trata-se de uma das pragas de maior Socioeconomia para cultura do meloeiro no
Brasil (Figura 1). Este inseto apresenta alto potencial biótico, elevada capacidade de
63
adaptação a novos hospedeiros, diferentes condições climáticas e grande capacidade
para desenvolver resistência aos inseticidas. Estes fatores fazem com que seu controle
seja dificultado.
Os fatores climáticos são condicionantes para o desenvolvimento da mosca-
branca. Altas temperaturas e baixa umidade relativa do ar favorecem seu
desenvolvimento. A disseminação da praga ocorre mais frequentemente pelo transporte
de partes vegetais de plantas infestadas de um local para outro.
Fotos: José Adalberto de Alencar
Figura 1. a) Adultos de mosca-branca em meloeiro; b) ninfas (fase jovem) de mosca-branca em
meloeiro.
Danos
A mosca-branca pode ocasionar danos diretos e indiretos na cultura do meloeiro.
Os danos diretos são causados pela sucção da seiva da planta e inoculação de toxinas
pelo inseto, provocando alterações no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo da
planta, reduzindo o peso, o tamanho e o grau Brix dos frutos e prolongando o ciclo da
cultura. Em ataques severos pode ser observado o amarelecimento das folhas mais
velhas enquanto em plantas jovens ocorre a seca das folhas e, dependendo da
intensidade da infestação, até mesmo morte de plantas.
Além disso, grande parte do alimento ingerido é excretado na forma de um
líquido semelhante a mel, que serve de meio de crescimento para um fungo saprófita de
coloração negra (fumagina) que recobre as partes vegetais interferindo no processo de
fotossíntese da planta. Contudo, o maior problema causado pela mosca-branca à cultura
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do meloeiro está relacionado com os danos indiretos, pela transmissão do vírus causador
do amarelão.
Táticas de controle
O planejamento para adoção do manejo da mosca-branca no meloeiro deve ser
feito antes da realização dos plantios, pois trata-se de uma cultura suscetível à essa
praga, e que, na maioria dos casos, segue um modelo de exploração dependente do
mercado, ou seja, realizando-se cultivos escalonados, o que dificulta um bom manejo
fitossanitário. Este manejo deve ser baseado em medidas preventivas e curativas.
As medidas preventivas visam dificultar ou retardar a entrada do inseto na área,
bem como eliminar as suas fontes de abrigo, de alimento e de reprodução. Medidas que
favoreçam o equilíbrio biológico no agroecossistema, também, devem ser consideradas
antes e após a implantação da cultura.
As principais medidas preventivas para o controle e/ou convivência com a
mosca-branca são: a) planejar os plantios de forma que sejam feitos na direção contrária
à dos ventos predominantes. Assim, os plantios novos serão menos infestados pela
mosca-branca oriunda do plantio mais velho; b) fazer plantios isolados ou utilizar como
cerca-viva, plantas não hospedeiras da praga (sorgo, capim-elefante, etc.), intercaladas,
ao redor do plantio ou do lado do vento predominante; c) eliminar fontes de inóculo
como maxixe, abóbora, melancia, ervas daninhas hospedeiras da praga ao redor da área
a ser plantada; d) iniciar o preparo do solo, mantendo a área limpa, pelo menos 30 dias
antes do plantio; e) não intercalar o plantio com culturas suscetíveis à praga; f) rotação
de culturas com plantas não suscetíveis; g) após o plantio, manter a área isenta de
plantas hospedeiras da praga, no interior e ao redor da cultura; h) não permitir cultivos
abandonados nas proximidades da área cultivada; i) eliminar os restos culturais
imediatamente após a colheita.
Como medida curativa, pode-se adotar o controle químico, porém,
considerando-se o uso das substâncias químicas dentro de um programa de manejo
integrado de pragas (MIP), pois, o uso exclusivo, não criterioso e contínuo de
inseticidas não é a solução permanente para o controle da mosca-branca. Os produtos a
serem utilizados no controle químico devem ser aqueles registrados no Ministério da
Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) para a cultura do meloeiro, respeitando-
se as doses indicadas e o período de carência de cada produto.
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Amostragem
O processo de amostragem deve ser realizado de preferência em horário com
temperatura do dia mais amena, geralmente, de 6h às 9h. Para o adulto, amostrar uma
folha do terceiro nó, a partir do ápice do ramo, observando-se, a parte inferior da folha.
Para as ninfas, amostrar uma folha do oitavo ao décimo nó do ramo, observando-se,
com auxílio de uma lupa de bolso, uma área de uma polegada quadrada na face inferior
da folha, próxima à nervura central.
Nível de controle
Dois insetos adultos, quando na presença de sintomas de ataque do vírus do
amarelão e dez insetos adultos, na ausência de sintomas do amarelão. Pelos resultados
de pesquisa com a mosca-branca, constataram-se que o nível de controle encontra-se
dentro de uma faixa que é definida em função da variedade e/ou híbrido utilizado,
condições climáticas, bem como condições nutricionais da planta.
Brocas-das-cucurbitaceas – Diaphania nitidalis e Diaphania hyalinata
(Lepidoptera: Pyralidae)
As lagartas podem atingir até 20 mm de comprimento (Figura 2). Contudo,
Diaphania nitidalis e Diaphania hyalinata, são espécies que diferem quanto à coloração
dos adultos. D. nitidalis tem coloração marrom-violácea, com as asas apresentando uma
área central amarelada semitransparente e os bordos marrom-violáceos (Figura 3),
enquanto que a D. hyalinata tem asas com áreas semitransparentes, brancas e a faixa
escura retilínea nos bordos (Figura 4).
A postura é feita nas folhas, ramos, flores e frutos. O período larval é de
aproximadamente 10 dias. O ciclo evolutivo completo é de 25 a 30 dias.
Fotos: José Adalberto de Alencar.
Figura 2. Lagartas da broca-das-cucurbitáceas.
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Figura 3. Adulto de Diaphania nitidalis.
Figura 4. Adulto de Diaphania hyalinata
Danos
As lagartas atacam folhas, brotos, ramos, flores e frutos. Quando o ataque é
severo, observa-se na polpa dos frutos abertura de galerias tornando-os inviáveis à
comercialização. A espécie D. nitidalis ataca os frutos em qualquer idade, enquanto D.
hyalinata ataca, geralmente, as folhas, causando desfolha total da planta, quando em
altas populações (Figura 5).
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Figura 5. Folha de meloeiro apresentando danos pelo ataque de lagarta da broca-das-
cucurbitáceas.
Táticas de controle
O controle das brocas-das-cucurbitaceas é efetuado, basicamente, com uso de
inseticidas. A ação desses agroquímicos no controle de D. nitidalis é dificultada, pela
preferência das lagartas pelas flores e frutos, onde penetram rapidamente. As lagartas de
D. hyalinata são controladas mais facilmente, pelo fato de terem preferência pelas
folhas. Vários princípios ativos são registrados pelo Ministério da Agricultura Pecuária
e Abastecimento (MAPA) para o controle dessas lagartas e, poderão ser encontrados no
site http://agrofit.agricultura.gov.br.
Na presença de lagartas nos primeiros estádios de desenvolvimento, a
pulverização com Bacillus thuringiensis pode apresentar elevada eficiência sem
acarretar impacto negativo sobre os inimigos naturais e sem deixar resíduos nos frutos.
Amostragem
Avaliar 20 pontos em ziguezague, com cada ponto correspondendo a uma planta.
Nível de controle
O nível de ação é alcançado quando se registrar a presença de três lagartas por
planta, em média, nos 20 pontos amostrados.
Pulgão – Aphis gossypii (Hemiptera: Aphididae)
Esse inseto apresenta um potencial biótico elevado, formando colônias em
brotações e folhas novas da planta. Porém, na escassez de alimento, há o aparecimento
de formas aladas que migram para outras plantas em busca de alimento e formação de
novas colônias.
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Danos
Os pulgões atacam brotações e folhas novas do meloeiro, sugando
continuamente uma grande quantidade de seiva. Em elevadas infestações, essas partes
da planta tornam-se deformadas, comprometendo o desenvolvimento da mesma. No
entanto, o maior dano causado pela praga ao meloeiro é a transmissão do vírus-do-
mosaico, que compromete totalmente o desenvolvimento da planta, principalmente se a
transmissão ocorrer nas primeiras fases de desenvolvimento da cultura.
Amostragem
Avaliar em cada ponto do total de 20, uma folha do quarto nó a partir do ápice
do ramo.
Nível de controle
Sugere-se a presença de 10 insetos, em média, nos 20 pontos amostrados.
Táticas de controle
A aplicação de inseticidas para o controle do pulgão requer alguns cuidados e
precauções, pois, esse inseto é preso preferencial para os inimigos naturais das pragas.
Recomenda-se a não aplicação de produtos do grupo dos piretroides nas primeiras fases
de desenvolvimento da cultura, período no qual a presença de inimigos naturais começa
a ocorrer. Os produtos registrados pelo MAPA para o pulgão em meloeiro poderão ser
encontrados no site http://agrofit.agricultura.gov.br.
A eliminação de ervas daninhas hospedeiras do pulgão é uma importante medida
de controle cultural. No polo Petrolina, PE/Juazeiro, BA, constatou-se como ervas
daninhas hospedeiras deA. gossypii: beldroega (Portulacaoleracea L.), bredo
(Amaranthus spinosus L.), pega-pinto (Boerhaavia diffusa L.) e malva branca (Sida
cordifolia L.).
Outras medidas alternativas de controle são citadas como auxiliares na redução
populacional da praga, tais como: a) efetuar os plantios em sentido contrário aos ventos;
b) culturas atrativas aos inimigos naturais, como o sorgo, que é uma das fontes de
desenvolvimento para a fauna benéfica; c) manutenção da vegetação nativa entre os
talhões para preservar a fauna e a flora benéfica; d) eliminação de plantas atacadas pelo
vírus-do-mosaico a fim de reduzir as fontes de inóculo dentro do cultivo e, e) utilização
de quebra-vento com plantas não hospedeiras da praga.
Moscas minadoras – Liriomyza sativae e Liriomyza huidobrensis (Diptera:
Agromyzidae)
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Os adultos da mosca-minadora são insetos pequenos, com aproximadamente 2
mm de comprimento, coloração preta, com manchas amarelo-claras na cabeça e na
região entre as asas. A larva da espécie L. sativae tem coloração amarelo-intensa, ao
passo que a larva de L. huidobrensis tem coloração branco-creme e é mais robusta. O
período chuvoso é o mais favorável para essa praga, ocorrendo o inverso em períodos
com temperaturas elevadas.
Danos
A fase larval é a que causa prejuízos, pois o inseto abre galerias em formato de
ziguezague nas folhas, formando lesões esbranquiçadas (Figura 6). As galerias
aumentam de tamanho à medida que as larvas crescem. Um número elevado de minas
nas folhas pode causar a seca das mesmas e resultar na queima dos frutos pela
exposição aos raios solares.
Figura 6. Folha de meloeiro apresentando danos pelo ataque de L. sativae.
Táticas de controle
Em pesquisas realizadas na Embrapa Semiárido, observou-se uma eficiência de
100% no controle da mosca-minadora em melão com a utilização do princípio ativo
abamectin na dose de 100 ml para 100 L de água, efetuando-se três pulverizações em
intervalos de 10 dias, sendo a primeira quando foi observado as primeiras folhas
minadas na área. No entanto, outros produtos registrados no MAPA para o meloeiro,
poderão ser encontrados no site http://agrofit.agricultura.gov.br.
Como controle cultural recomenda-se a destruição dos restos culturais e a não
implantação da cultura próxima de culturas hospedeiras da mosca-minadora, tais como,
(feijão, ervilha, fava, batatinha, tomateiro, berinjela, abóbora, melancia, pimentão, entre
outras).
70
Amostragem
Avaliar a folha mais desenvolvida do ramo em 20 pontos amostrados.
Nível de controle
Sugere-se a presença de cinco larvas vivas, em média, nos 20 pontos
amostrados.
Mosca-das-frutas – Anastrepha grandis (Diptera: Tephritidae)
Os adultos são de coloração amarela e medem cerca de 10 mm de comprimento.
Apresenta duas manchas nas asas, tendo a mancha anterior o formato de "S", enquanto a
posterior assemelha-se a um "V" invertido. Acredita-se que apenas as cucurbitáceas
sejam hospedeiras dessa espécie de mosca-das-frutas, pois, diversas e contínuas
prospecções foram, e estão sendo realizadas no Brasil, tendo sido verificada a presença
de A. grandis em apenas três espécies de cucurbitáceas.
A presença dessa espécie de mosca-das-frutas em áreas de produção de melão
pode inviabilizar a exportação da fruta. Pois trata-se de uma praga de importância
quarentenária.
Danos
As larvas, além de se alimentam da polpa dos frutos, danificando-os pela
abertura, facilitam a entrada de patógenos oportunistas, deixando-os impróprios tanto
para o consumo in natura, como para a industrialização. Os frutos atacados amadurecem
prematuramente.
Amostragem
A. grandis deve ser monitorada com o uso de armadilhas do tipo McPhail.
Devem ser utilizadas três armadilhas por hectare, tendo como atrativo alimentar,
proteína hidrolisada, na proporção de 500 ml para 10 L de água e 200 ml desta solução
por armadilha.
PRINCIPAIS DOENÇAS DO MELÃO
OÍDIO – Oidium spp. [Podosphaera xanthii]
O oídio do meloeiro é causado principalmente pelo fungo Oidium sp., fase
imperfeita de Podosphaera xanthii (=Sphaerotheca fuliginea). No Brasil ocorre apenas
a forma imperfeita do patógeno. O fungo afeta grande número de cucurbitáceas, tanto
cultivadas quanto selvagens, e existem várias raças fisiológicas que diferem quanto a
capacidade de infectar diferentes espécies de cucurbitáceas ou variedades de melão.
Aparentemente, a raça 1 predomina no Brasil, contudo as raça 2, 3 e 4 já foram
71
identificadas no Distrito Federal (Kobori et al.;2002; Reis & Buso, 2004; Reis et al.,
2005).
Figura 1. Sintomas de oídio em folhas de meloeiro com abundante esporulação na face superior das
folhas.
MÍLDIO - Pseudoperonospora cubensis
O míldio é causado por Pseudoperonospora cubensis, um oomiceto biotrófico
pertencente à família Peronosporaceae. Essa doença é considerada uma das mais
importantes do meloeiro no Brasil e ocorre também em outras cucurbitáceas cultivadas
(pepino, melancia e abóbora) e selvagens. A doença ocorre de forma endêmica durante
o período seco e limita a produção de melão no período chuvoso.
Os sintomas iniciam-se na face superior das folhas mais velhas, na forma de
manchas cloróticas, angulosas e encharcadas, que se desenvolvem no limbo foliar
(Figura 2). Com o progresso da doença, as manchas tornam-se marrons ou bronzeadas,
e sob alta umidade, crescem e se unem (coalescem), formando áreas necróticas de maior
tamanho (Figura 3). A folha torna-se completamente seca, porém continua aderida à
planta.
Nestas áreas, na face inferior da folha, formam-se frutificações do patógeno
(esporangióforos e esporângios) de coloração verde-oliva a púrpura. A alta intensidade
da doença resulta em desfolhamento precoce e, consequentemente, em crescimento
reduzido da planta.
72
Figura 2. Manchas necróticas causadas por Pseudoperonospora cubensis em folhas de meloeiro.
CRESTAMENTO GOMOSO - Didymella bryoniae (sin. Mycosphaerella melonis)
O crestamento gomoso, conhecido também como cancro da haste, é considerado
uma das mais importantes doenças do meloeiro, a qual pode ser encontrada em todas as
regiões produtoras de cucurbitáceas. É causada pelo fungo Didymella bryoniae,
Anamorfo de Phoma cucurbitacearum. O fungo ataca todos os órgãos aéreos da planta
em qualquer estádio de desenvolvimento. Em mudas, provoca necrose na região do colo
e seu tombamento. Nos cotilédones, provoca manchas necróticas circulares, que em
pouco tempo destroem o órgão e atingem o caule da plântula.
73
Figura 4. Crestamento-gomoso causado por Didymella bryoniae na haste e no colo do meloeiro.
COLÁPSO ou MORTE SÚBITA – Monosporascus cannonballus
Dentre as principais doenças radiculares que afetam a produção comercial de
melão, destaca-se o colapso ou morte súbita, ocasionada pelo ascomiceto
Monosporascus cannonballus, considerada um dos fatores limitantes ao cultivo desta
cucurbitácea em diversos países. Perdas variam de ano para ano, de 10 a 25%, mas a
safra de campos individuais pode ser destruída completamente.
A doença inicia com uma podridão da raiz que evolui para uma súbita morte ou
colapso das plantas no campo, pouco antes da colheita. O fungo sobrevive no solo, onde
os esporos (ascósporos) germinam e penetram nas raízes secundárias, causando a morte
destas. Nesta fase a planta já começa a apresentar sinais de estresse hídrico,
amarelecimento e murcha das folhas. Com o progresso da doença ocorre a necrose
progressiva de folhas e toda a parte aérea da planta ou parte dela entra em colapso,
podendo a planta morrer a qualquer momento. Esse sintoma geralmente ocorre
momentos antes da colheita, quando a planta necessita de uma maior quantidade de
água e o sistema radicular está apodrecido, não podendo suprir a necessidade de água da
planta. As raízes atacadas adquirem uma coloração pardo escurecida, com o córtex
totalmente destruído.
74
CANCRO-SECO OU PODRIDÃO-DO-COLO – Macrophomina phaseolina
O cancro-seco ou podridão-do-colo é causado pelo fungo Macrophomina
phaseolina e ocorre principalmente na região do coleto das plantas e nas partes baixas
das ramas. Os sintomas iniciais da doença assemelham-se aos provocados por D.
bryoniae, aparecendo lesões aquosas de coloração marrom clara, com presença de
gotículas de exsudado translúcido de coloração marrom, que com o passar do tempo
tornam-se de coloração mais escura. Com o progresso da doença, a área afetada seca e
adquiri um aspecto esbranquiçado, com fendas longitudinais, dando a impressão de que
a epiderme se separa do restante da rama.
Para distinguir o cancro-seco do cancro-gomoso, fricciona-se o colo da planta na
região afetada. Tratando-se do cancro-seco ocorre o desfiamento dos tecidos, sendo o
cancro-gomoso, o colo da planta se despedaça. Em uma fase mais desenvolvida da
doença podem-se observar numerosos pontos negros, que são estruturas de resistência
do patógeno (esclerócios).
Na parte aérea, ocorre o amarelecimento das folhas, podendo apresentar
manchas necróticas das folhas, seguido do completo secamento destas. Assim como em
míldio, as folhas permanecem aderidas ao pecíolo. Raramente os sintomas podem ser
encontrados nos frutos. No entanto, quando ocorre a penetração pelo pedúnculo, em
poucos dias o fungo invade todo o fruto e surgem inúmeras pontuações negras; os
esclerócios.
FUSARIOSE - Fusarium oxysporum f.sp. melonis
A murcha de Fusarium é causada pelo fungo Fusarium oxysporum f.sp. melonis.
A doença é caracterizada por murcha e necrose nas folhas que, inicialmente, afetam a
planta unilateralmente e mais tarde atinge toda a planta. Outro sintoma característico é a
redução no desenvolvimento e o escurecimento vascular. Em plantas jovens a infecção
pode levá-las a morte.
A doença pode ocorrer sozinha ou juntamente com o cancro-gomoso. Neste
caso, os danos às plantas são bem mais sérios. As estruturas do patógeno sobrevivem
durante vários anos no solo e dão origem a novas infecções. A disseminação do
patógeno pode ocorrer por meio de partículas de solo transportadas por implementos
agrícolas, irrigação e por outras práticas agrícolas. Sementes infectadas podem
disseminar o patógeno a longas distâncias.
75
RHIZOCTONIA – Rhizoctonia solani
Além de Didymella bryoniae e Fusarium oxysporum, Rhizoctonia solani
também pode causar podridão do colo em meloeiro. A doença é favorecida por altas
temperaturas e alta umidade do solo. Nas plantas atacadas por R. solani, os sintomas
iniciam-se por uma clorose e posterior necrose das folhas basais. Posteriormente ocorre
rápido murchamento ou declínio da rama. Em ataques severos é possível que o fungo
afete o colo da planta, causando murcha.
BANANA
Principais pragas e métodos de controle
Broca-do-rizoma - Cosmopolites sordidus (Germ.) (Coleoptera: Curculionidae)
É um besouro preto, que mede cerca de 11 mm de comprimento e 5 mm de
largura. Durante o dia, os adultos são encontrados em ambientes úmidos e sombreados
junto às touceiras, entre as bainhas foliares e nos restos culturais. Os danos são causados
pelas larvas, as quais constróem galerias no rizoma, debilitando as plantas e tornando-as
mais sensíveis ao tombamento. Plantas infestadas normalmente apresentam
desenvolvimento limitado, amarelecimento e posterior secamento das folhas, redução
no peso do cacho e morte da gema apical.
Figura 1. Adulto da broca-do-rizoma da
bananeira. Foto: Nilton F. Sanches
Figura 2. Danos provocados pela larva da
broca-do-rizoma da bananeira.
A utilização de mudas sadias (convencionais ou micropropagadas) é o primeiro
cuidado a ser tomado para controle dessa praga.
76
O emprego de iscas atrativas tipo telha ou queijo é bastante útil no
monitoramento/controle do moleque. Estas devem ser confeccionadas com plantas
recém-cortadas (no máximo até 15 dias após a colheita). Recomenda-se o emprego de
20 iscas/ha (monitoramento) e de 50 a 100 iscas/ha (controle), com coletas semanais e
renovação quinzenal das iscas. Os insetos capturados podem ser coletados manualmente
e posteriormente destruídos. As iscas também podem ser tratadas com inseticida
biológico à base de um fungo entomopatogênico (Beauveria bassiana), dispensando-se,
nesse caso, a coleta dos insetos.
Quanto ao emprego de inseticidas, estes podem ser introduzidos em plantas
desbastadas e colhidas através de orifícios efetuados pela lurdinha. Também podem ser
aplicados na superfície das iscas e em cobertura. A utilização de quaisquer produtos
químicos deve ser realizada de acordo com os procedimentos de segurança
recomendados pelo fabricante.
O controle por comportamento preconiza o emprego de armadilhas contendo
Cosmolure, o qual atrai adultos da broca para um recipiente do qual o inseto não
consegue sair (Fig. 3 e 4).
Figura 3: Armadilhas de feromônio. (Fonte:
http://www.biocontrole.com.br/bio_cosmolure.htm)
77
Figura 4: Armadilhas de feromônio. (Fonte:
http://www.biocontrole.com.br/bio_cosmolure.htm)
Recomenda-se o uso de quatro armadilhas/ha para o monitoramento da broca,
devendo-se renovar o sachê contendo o feromônio a cada 30 dias.
Tripes
Tripes da erupção dos frutos - Frankliniella spp. (Thysanoptera: Aelothripidae)
Apesar do pequeno tamanho (cerca de 1 mm de comprimento) e da agilidade,
são facilmente vistos por causa da coloração branca ou marrom-escura. Os adultos são
encontrados geralmente em flores jovens abertas. Também podem ocorrer nas flores
ainda protegidas pelas brácteas. Os danos provocados por esses tripes manifestam-se
nos frutos em desenvolvimento, na forma de pontuações marrons e ásperas ao tato (Fig.
5), o que reduz o seu valor comercial, mas não interfere na qualidade da fruta. A
despistilagem e a eliminação do coração reduzem a população desses insetos.
Recomenda-se a utilização de sacos impregnados com inseticida, no momento da
emissão do cacho, para reduzir os prejuízos causados aos tripes da erupção dos frutos.
Tripes da ferrugem dos frutos - Chaetanaphothrips spp., Caliothrips bicinctus
Bagnall,Tryphactothrips lineatus Hood (Thysanoptera: Thripidae)
São insetos pequenos (1 a 1,2 mm de comprimento), que vivem nas
inflorescências, entre as brácteas do coração e os frutos. Seu ataque provoca o
aparecimento de manchas de coloração marrom (semelhante à ferrugem) (Fig. 6). O
dano é causado pela oviposição e alimentação do inseto nos frutos jovens. Em casos de
forte infestação, a epiderme pode apresentar pequenas rachaduras em função da perda
de elasticidade. Para o controle desses insetos, deve-se efetuar o ensacamento do cacho
e a remoção das plantas invasoras, tais como Commelina sp. e Brachiaria purpurascens,
hospedeiras alternativas dos insetos.
78
Figura 5. Danos provocados pelo tripes da
erupção dos frutos.
Figura 6. Danos provocados pelo tripes da
ferrugem dos frutos.
Lagartas desfolhadoras - Caligo spp., Opsiphanes spp. (Lepidoptera: Nymphalidae),
Antichloris spp. (Lepidoptera: Arctiidae)
As principais espécies de Caligo que ocorrem no Brasil são brasiliensis, beltrao
e illioneus. No estágio adulto, Caligo sp. é conhecida como borboleta corujão. As
lagartas, no máximo desenvolvimento, chegam a medir 12 cm de comprimento e
apresentam coloração parda.
No gênero Opsiphanes, registram-se no Brasil as espécies invirae e cassiae. Na
fase adulta, são borboletas que apresentam asas de coloração marrom, com manchas
amareladas. Na fase jovem, as lagartas possuem coloração verde, com estrias
amareladas ao longo do corpo, alcançando cerca de 10 cm de comprimento. O terceiro
grupo de lagartas que atacam a bananeira pertencem às espécies Antichloris eriphia e A.
viridis.
Os adultos são mariposas de coloração escura, com brilho metálico. As lagartas
apresentam fina e densa pilosidade de coloração creme, medindo 3 cm de comprimento.
As lagartas pertencentes ao gênero Caligo e Opsiphanes provocam a destruição de
grandes áreas, enquanto que as do gênero Antichloris apenas perfuram o limbo foliar
(Fig. 7). A aplicação de inseticidas no bananal ser realizada com cautela, para evitar a
destruição dos inimigos naturais.
79
Figura 7. Danos causados por lagartas desfolhadoras. a) Caligo spp. e Ospiphanes spp. b)
Antichloris spp.
Pulgão da bananeira - Pentalonia nigronervosa Coq. (Homoptera: Aphididae)
Outras espécies de pulgões podem transmitir viroses à cultura, entretanto apenas
Pentalonia nigronervosa desenvolve-se na bananeira. As colônias desse inseto
localizam-se na porção basal do pseudocaule, protegidas pelas bainhas foliares externas.
Medem cerca de 1,2 a 1,6 mm de comprimento, sendo que as formas adultas apresentam
coloração marrom, enquanto que as formas jovens são mais claras. Os danos diretos são
devidos à sucção de seiva das bainhas foliares externas (próximo ao nível do solo),
levando à clorose das plantas e deformação das folhas. Em altos níveis populacionais,
podem ser encontrados no ápice do pseudocaule, provocando o enrugamento da folha
terminal. Os danos indiretos são devidos à transmissão do mosaico da bananeira
(CMV). Os inimigos naturais são fundamentais para a manutenção das populações do
pulgão da bananeira em níveis não prejudiciais à cultura.
Ácaros de teia - Tetranychus spp. (Acari: Tetranychidae)
Na forma adulta, medem cerca de 0,5 mm de comprimento. Apresentam
coloração avermelhada, com pigmentação mais acentuada lateralmente. Os ácaros
formam colônias na face inferior das folhas, tecendo teias no limbo foliar normalmente
em torno da nervura principal (Fig. 8). São favorecidos por umidade relativa baixa. O
ataque dessa praga torna a região infestada inicialmente amarelada; posteriormente,
torna-se necrosada, podendo secar a folha. Sob alta infestação, podem ocorrer danos aos
frutos. Não há produtos registrados para o controle desta praga em bananeira.
80
Figura 8. Danos causados pelos ácaros tetraniquídeos (de teia).
PRINCIPAIS DOENÇAS DA BANANEIRA
Sigatoka Negra
A Sigatoka-negra é causada pelo fungo Mycosphaerella fijiensis, cuja fase
anamórfica é o fungo Paracercospora fijiensis.
A doença foi constatada em fevereiro de 1998, nos Municípios de Tabatinga e
Benjamin Constant, região fronteiriça do Brasil com a Colômbia e o Peru. Atualmente
encontra-se disseminada em toda a Região Norte do Brasil e no Estado do Mato Grosso.
Com relação ao progresso da doença, trabalhos de epidemiologia mostraram que, no
Amazonas, durante todo o ano não ocorre nenhuma restrição com relação a fatores de
ambiente, tais como temperatura, umidade relativa e duração do molhamento foliar,
favoráveis à ocorrência da doença.
As principais vias de disseminação têm sido folhas infectadas colocadas entre os
cachos ou pencas de banana para prevenir ferimentos, utilização de mudas infectadas
e/ou oriundas de região com histórico da doença e principalmente vento, que carrega os
esporos do agente causador a longas distâncias. Além disso, os esporos do patógeno
podem ser disseminados a longas distâncias aderidos à superfície de frutos, madeira,
papelão, plásticos, tecidos e veículos.
Sintomas
Inicialmente são observadas, na fase abaxial, via de regra na margem esquerda e
próximas à extremidade distal, pequenas pontuações claras ou áreas despigmentadas
(Fig. 9). Essas pontuações progridem dando origem a estrias de coloração marrom-clara,
que podem atingir de 2 a 3 mm de comprimento. Com o progresso da doença, essas
81
pequenas estrias expandem radial e longitudinalmente, ainda com coloração marrom-
clara, e já podem ser visualizadas na face adaxial, podendo atingir até 3 cm de
comprimento. A partir desse estádio, as estrias só expandem radialmente e adquirem
coloração marrom-escura na face abaxial. Em estádio mais avançado da doença, as
estrias de coloração marrom-escura assumem o formato de manchas escuras. Via de
regra, o coalescimento de várias manchas, as quais correspondem às lesões da doença,
dá ao limbo foliar uma coloração próxima à negra, justificando, dessa forma, o nome
atribuído à doença: Sigatoka-negra.
Nos estádios finais da doença, as lesões podem, às vezes, em função do
genótipo, apresentar-se com um halo interno proeminentemente marrom-escuro
circundado por um pequeno halo amarelo. Ocorre, pela coalescência de várias lesões,
morte prematura do limbo foliar que adquire coloração branco-palha. Em geral, pode-se
visualizar nas regiões do limbo, na face adaxial, pontuações escuras representadas pela
frutificação do agente causal na sua fase teliomórfica.
Figura 9. Sintomas iniciais da Sigatoka-
negra, com estrias de coloração marrom-
clara. (Foto: L. Gasparotto).
Figura 10. Estrias de coloração café
expandindo-se radial e longitudinalmente,
causadas pela Sigatoka-negra. (Foto: L.
Gasparotto)
82
Figura 11. Sintomas da Sigatoka-negra,
com coalescência das lesões e manchas
escuras. (Foto:L. Gasparotto)
Figura 12. Folha com áreas necróticas e
manchas escuras causadas pela Sigatoka-
negra. (Foto: L. Gasparotto).
Danos
A Sigatoka-negra é a mais grave e destrutiva doença da bananeira em quaisquer
regiões do mundo onde ocorre. Pelo fato de a bananeira não emitir mais folhas após o
florescimento, não ocorrendo, portanto, compensação, a doença torna-se extremamente
destrutiva após o florescimento (Fig. 13).
As perdas devidas ao ataque da Sigatoka-negra podem atingir 100% na produção
de bananas dos subgrupos Prata (Fig. 14) e Cavendish (Fig. 15), já a partir do primeiro
ciclo produtivo, e 70% na produção de plátanos a partir do segundo ciclo produtivo.
Devido à sua maior agressividade, a Sigatoka-negra substitui a Sigatoka-
amarela num curto período de tempo que pode variar de seis meses até três anos. Além
de infectar cultivares que são resistentes à Sigatoka-amarela, a Sigatoka-negra causa
elevação do custo de produção do bananal na medida em que são necessárias até 52
pulverizações por ano com fungicidas protetores ou até 26 pulverizações com
fungicidas sistêmicos para o efetivo controle da doença em cultivares suscetíveis como
aquelas dos subgrupos Prata e Cavendish, o que significa um custo quatro a cinco vezes
maior do que o necessário para controlar a Sigatoka-amarela.
83
Figura 13. Planta da cultivar Maçã com as folhas totalmente
destruídas pela Sigatoka-negra. (Foto: L. Gasparotto).
Figura 14. Cacho da cultivar Prata afetada pela Sigatoka-negra com
bananas pequenas, maturação precoce e desuniforme.
(Foto: L. Gasparotto)
84
Figura 15. Planta da cultivar Nanica com as
folhas totalmente destruídas pela Sigatoka-
negra.(Foto: L. Gasparotto).
Controle
Com relação às estratégias de controle da Sigatoka-negra, a ênfase tem sido dada
à utilização de técnicas de controle econômicas e socio-ambientalmente corretas para
reduzir ou impedir a introdução de resíduos de defensivos agrícolas na cadeia trófica,
principalmente em regiões e/ou bananais com baixa adoção de tecnologia e também
próximos a lagos e mananciais como na Região Amazônica.
a) Utilização de cultivares de bananeiras resistentes
A utilização de cultivares resistentes constitui-se na estratégia de controle mais
econômica e socio-ambientalmente correta, pois é de fácil aplicação, não depende de
ações complementares por parte dos bananicultores e é estável do ponto de vista de
preservação do meio ambiente.
As cultivares recomendadas são: Caipira, Thap Maeo, Prata Zulu, Prata
(Pacovan) Ken, FHIA 18, FHIA 01, FHIA 02 AM e Pelipita. As reações dessas
cultivares e genótipos às principais doenças são apresentadas na Tabela 1.
85
Tabela 1. Reação de cultivares às principais doenças da bananeira.
Cultivar Grupo
Genômico Sigatoka-
negra Sigatoka-amarela
Mal-do-panamá
Moko
Caipira AAA R* R R S Thap
Maeo AAB R R R S
Prata Zulu AAB R R S S Prata Ken AAAB R R R S FHIA 18 AAAB R MS S S FHIA 01 AAAB R MS - S FHIA 02
AM AAAA R R R S
Pelipita ABB R R R S *R = Resistente; S = Suscetível; MS = Moderadamente suscetível.
b) Controle químico
Apesar de existirem vários fungicidas eficientes, testados e avaliados pela
pesquisa, no controle da Sigatoka-negra, para o Estado do Amazonas não se recomenda
a adoção do controle químico. Essa decisão está embasada nos seguintes pontos: no
Amazonas, as cultivares resistentes recomendadas atendem plenamente os
consumidores; os plantios são constituídos por pequenas áreas; a maioria dos produtores
não tem tradição no uso de defensivos e, além disso, o Amazonas é rico em mananciais
e conta com exuberante biodiversidade que poderão ser afetados pelo uso
indiscriminado de defensivos agrícolas.
c) Controle cultural
A utilização de medidas culturais que reduzem as condições favoráveis ao
progresso da doença ou pela redução do molhamento foliar ou pela redução de luz
incidente, bem como pela redução da formação de ventos convectivos, os quais
disponibilizam os esporos do agente causal nas correntes de fluxo de ventos horizontais,
permite um convívio harmonioso com a doença. Nesse sentido, os resultados de
pesquisa e observações em propriedades rural têm demonstrado que plantas cultivadas
sob condições de sombreamento apresentam pouca ou nenhuma doença. Não obstante
plantas mantidas sob condições de sombra apresentarem maior período de ciclo
produtivo e menor peso de cachos, a utilização de sombreamento pode viabilizar o
cultivo de bananeiras, do ponto de vista de comercialização, como as cultivares Maçã,
Prata Anã, D´Angola e Terra, para pequenos produtores, inclusive em sistemas
agroflorestais.
86
Além de melhorar o crescimento geral das plantas, a drenagem rápida de qualquer
excesso de água no solo reduz as possibilidades de formação de microclimas adequados
ao desenvolvimento da doença.
Sigatoka Amarela
A Sigatoka-amarela ou mal-de-Sigatoka ainda constitui-se em uma das
principais doenças da bananeira nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste. Na Região
Amazônica, mais especificamente no Estado do Amazonas, a Sigatoka-amarela tem sido
rapidamente substituída pela Sigatoka-negra, ocorrendo atualmente em poucas micro-
regiões e/ou na periferia das cidades. A doença é causada pelo fungo Mycosphaerella
musicola, cuja fase anamórfica é o fungo Pseudocercospora musae.
Sintomas
Embora as infecções ocorram nas folhas um, dois ou três, a partir da folha
bandeira ou vela, os sintomas só são observados a partir da quarta ou quinta folha.
Inicialmente, são observados pontos apresentando leve descoloração entre as nervuras
secundárias. Estas áreas despigmentadas expandem-se e tomam o formato de estria de
coloração marrom-escura (Fig. 16). Com o progresso da doença, as estrias expandem-se
radialmente e assumem o formato de manchas necróticas, elíptico-alongadas e se
dispõem paralelas às nervuras secundárias (Fig.17). A partir desse estádio, a mancha
apresenta o centro deprimido, com a parte central acinzentada e um halo amarelo
proeminente.
Em geral, as lesões concentram-se a partir do primeiro terço médio, no sentido
da bordadura no limbo, existindo, portanto, poucas lesões próximas à nervura principal.
Embora a freqüência de infecções seja menor (em relação à observada para Sigatoka-
negra), com o progresso da doença, as lesões tendem a coalescer, podendo causar a seca
total da folha. A menor freqüência de infecções (lesões por centímetro quadrado de área
foliar) e as manchas de formato oval alongado (elíptico), com halo amarelo
proeminente, permitem distinguir a Sigatoka-amarela da negra.
87
Controle
As mesmas cultivares resistentes recomendadas para o controle da Sigatoka-
negra são resistentes à Sigatoka-amarela, exceto a FHIA 18, que é suscetível.
Mal-do-Panamá
O mal-do-Panamá é causado por Fusarium oxysporum f. sp. cubense. É uma
doença endêmica por todas as regiões produtoras de banana do mundo. No Brasil, o
problema é ainda mais grave em função das cultivares plantadas, que na maioria dos
casos, são suscetíveis. No Estado do Amazonas, a doença prevalece em solos de
ecossistema de terra firme, não sendo detectada em solos de várzea.
As principais formas de disseminação do patógeno são o contato dos sistemas
radiculares de plantas sadias com esporos liberados por plantas doentes e, em muitas
áreas, o uso de material de plantio contaminado. O fungo também é disseminado por
água de irrigação, de drenagem, de inundação, assim como pelo homem, por animais e
equipamentos.
Sintomas
As plantas infectadas por F. oxysporum f. sp. cubense exibem externamente um
amarelecimento progressivo das folhas mais velhas para as mais novas, começando
pelos bordos do limbo foliar e evoluindo no sentido da nervura principal.
Posteriormente, as folhas murcham, secam e se quebram junto ao pseudocaule (Fig. 18).
Em conseqüência, ficam pendentes, o que confere à planta a aparência de um
guarda-chuva fechado. É comum constatar-se que as folhas centrais das bananeiras
permanecem eretas mesmo após a morte das mais velhas. É possível notar, próximo ao
solo, rachaduras do feixe de bainhas (Fig. 19), cuja extensão varia com a área afetada no
rizoma.
Internamente, observa-se uma descoloração pardo-avermelhada na parte mais
externa do pseudocaule provocada pela presença do patógeno nos vasos (Fig. 20).
88
Figura 18. Planta afetada pelo mal-do-
Panamá, com amarelecimento das folhas,
murcha e colapso do pecíolo junto ao
pseudocaule. (Foto: L. Gasparotto)
Figura 19. Parte do pseudocaule de
bananeira afetada pelo mal-do-Panamá,
apresentando rachaduras na bainha.
(Foto: L. Gasparotto).
Figura 20. Corte transversal do
pseudocaule de bananeira,
apresentando necrose dos tecidos
disposta em anéis concêntricos, causada
pelo mal-do-Panamá.
(Foto: L. Gasparotto)
89
Danos
O mal-do-Panamá, quando ocorre em cultivares altamente suscetíveis como a
banana Maçã, provoca perdas de 100% na produção. Já nas cultivares tipo Prata, que
apresentam grau de suscetibilidade bem menor do que a ‘Maçã’, a incidência do mal-
do-Panamá, geralmente, situa-se num patamar de 20% de perdas. Por outro lado, o nível
de perdas é também influenciado por características de solo, que em alguns casos
comporta-se como supressivo ao patógeno. Como se trata de uma doença letal, não há
porque comentar sobre distúrbios fisiológicos.
Controle
O melhor meio para o controle do mal-do-Panamá é a utilização de cultivares
resistentes, dentre as quais podem ser citadas as cultivares do subgrupo Cavendish e do
subgrupo Terra, a Caipira, Thap Maeo e Prata (Pacovan) Ken. Como medidas
preventivas recomendam-se as seguintes práticas:
Evitar plantios em áreas com histórico de ocorrência do mal-do-Panamá.
Utilizar mudas comprovadamente sadias e livres de nematóides.
Corrigir o pH do solo, mantendo-o com níveis ótimos de cálcio e magnésio, que
são condições menos favoráveis ao patógeno.
Dar preferência a solos com teores mais elevados de matéria orgânica; isso
aumenta a concorrência entre as espécies, dificultando a ação e a sobrevivência
de F. oxysporum f sp. cubense no solo.
Manter as populações de nematóides sob controle; eles podem ser responsáveis
pela quebra da resistência ou facilitar a penetração do patógeno, através dos
ferimentos.
Manter as plantas bem nutridas, guardando sempre uma boa relação entre
potássio, cálcio e magnésio.
Nos bananais já estabelecidos e que a doença comece a se manifestar, recomenda-se
a erradicação das plantas doentes, utilizando herbicida glifosate na dosagem de 1 ml do
produto comercial injetado no pseudocaule de plantas adultas e/ou chifrão. Isso evita a
propagação do inóculo na área de cultivo. Na área erradicada, aplicar calcário ou cal
hidratada.
90
Mancha de Cordana
Doença causada pelo fungo Cordana musae, de importância secundária,
normalmente associada a alguma forma de estresse na planta. Via de regra, a mancha de
cordana está associada à outra doença, principalmente à Sigatoka-amarela e/ou à
deficiência mineral.
Os sintomas, no início da doença, podem ser confundidos com os da Sigatoka-
amarela. Às vezes, ocorre superposição de lesões de ambas as doenças. No caso
específico da mancha de cordana, as lesões apresentam, devido ao maior crescimento
radial, um formato piriforme, com zonas concêntricas e circundadas por um halo
amarelo (Fig. 21).
No controle, recomenda-se o plantio de cultivares resistentes e o uso de
adubações balanceadas. Em geral, as cultivares resistentes às doenças do tipo Sigatoka
também o são à mancha de cordana.
Figura 21. Folhas com manchas piriformes,
esbranquiçadas e halo amarelo, causada por Cordana
musae. (Foto: L. Gasparotto)
Antracnose
Causada pelo fungo Colletotrichum musae, é considerada o mais grave problema
na pós-colheita da banana.
O controle deve começar no campo, com boas práticas culturais, ainda na pré-
colheita. Na fase de colheita e pós-colheita, todos os cuidados devem ser tomados a fim
de evitar ferimentos nos frutos, que são a principal via de penetração dos patógenos. As
práticas de despencamento, lavagem e embalagem devem ser executadas com manuseio
extremamente cuidadoso dos frutos e medidas rigorosas de assepsia. Em último caso, o
controle químico pode ser feito por imersão ou por atomização dos frutos. Os seguintes
princípios ativos têm sido utilizados: thiabendazole; benomil, tiofanato metílico e
91
imazalil. O agricultor pode, ainda, optar pelo uso do fungicida natural Ecolife na
dosagem de 1,5 ml/l. As dosagens recomendadas para thiabenzole, benomil e tiofanato
metílico variam de 200 a 400 mg do ingrediente ativo/ l de água, dependendo da
distância do mercado consumidor. Essas recomendações são válidas também para o
controle da podridão-da-coroa.
Podridão-da-coroa
Os fungos mais freqüentemente associados ao problema são: Fusarium roseum,
Verticillium theobromae e Gloeosporium musarum (Colletotrichum musae). Outros
fungos também têm sido isolados, porém com menor freqüência.
DOENÇAS BACTERIANAS
Moko
A doença é causada pela bactéria Ralstonia solanacearum, raça 2. Na Região
Norte do Brasil, o moko ou murcha bacteriana da bananeira está presente nos Estados
do Amazonas, Pará e Amapá. No Estado do Amazonas, a doença prevalece em solos do
ecossistema de várzea; apenas seis por cento dos casos ocorrem em solos do
ecossistema de terra firme.
A disseminação da bactéria pode ocorrer de diferentes formas, dentre as quais se
destacam o uso de ferramentas infectadas nas várias operações que fazem parte do trato
dos pomares, bem como a contaminação de raiz para raiz ou do solo para a raiz. Outro
veículo importante de transmissão são os insetos visitadores de inflorescências, tais
como as abelhas (Trigona spp.), vespas (Polybia spp.), mosca-das-frutas (Drosophila
spp.).
Sintomas
O moko ou murcha bacteriana da bananeira, por ser uma doença vascular, pode
atingir todas as partes da planta.
Os sintomas da doença em plantas jovens caracterizam-se pela má- formação
foliar, necrose e murcha da folha cartucho ou vela, seguidos de amarelecimento das
folhas baixeiras (Fig. 22). Em plantas adultas, ocorre amarelecimento das folhas basais
e murcha das folhas mais jovens, progredindo para as folhas mais velhas (Fig. 23). Em
solos férteis, com bom teor de umidade, ocorre quebra dos pecíolos junto ao
pseudocaule, dando à planta o aspecto de um guarda-chuva fechado. Além desses,
internamente, ocorrem os seguintes sintomas:
92
No pseudocaule, escurecimento vascular, não localizado, de coloração pardo-
avermelhada intensa, atingindo inclusive a região central (Fig. 24). O escurecimento
vascular também ocorre no engaço (Fig. 25).
No rizoma, além do escurecimento vascular na região central, ocorre também na
região de conexão do rizoma principal com o rizoma das brotações.
Nas ráquis masculina e feminina pode ocorrer escurecimento vascular, na forma
de pontos avermelhados dispostos uniformemente.
Nos frutos, além do amarelecimento precoce, observa-se o escurecimento da
polpa, seguido de podridão seca (Fig. 26). Exsudação de pus bacteriano de coloração
pérola clara, logo após o corte de órgãos infectados.
Para um teste rápido, destinado a detectar a presença da bactéria nos tecidos da
planta, utiliza-se um copo transparente com água até dois terços de sua altura, em cuja
parede se adere uma fatia delgada da parte afetada (pseudocaule ou engaço), cortada no
sentido longitudinal, fazendo-a penetrar ligeiramente na água. Dentro de
aproximadamente um minuto ocorrerá a descida do fluxo bacteriano.
Figura 22. Planta jovem afetada pelo moko,
apresentando as folhas baixeiras murchas e
o cartucho com necrose e murcha.
(Foto: L. Gasparotto)
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Figura 23. Bananeira afetada pelo moko, com
algumas folhas basais mortas, outras
amarelas apresentando colapso do pecíolo.
(Foto: L. Gasparotto)
Figura 24. Pseudocaule de bananeira com
escurecimento dos feixes vasculares, inclusive os
localizados no cilindro central, causado pelo moko.
(Foto: L. Gasparotto)
94
Figura 25. Engaço do cacho de banana com
escurecimento dos feixes vasculares causado pelo moko.
(Foto: L. Gasparotto).
Figura 26. Frutos de bananeira
afetados pelo moko, apresentando
polpa escurecida e podridão seca.
(Foto: L. Gasparotto)
Danos
As perdas causadas pela doença podem atingir até 100% da produção, mas com
vigilância permanente, é possível conviver com a doença e mantê-la em baixa
percentagem de incidência.
Controle
A base principal do controle do moko é a detecção precoce da doença e a rápida
erradicação das plantas infectadas como das que lhes são adjacentes, as quais embora
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aparentemente sadias podem ter contraído a doença. Para tanto, é indispensável que um
esquema de inspeção de cada planta seja cumprido por pessoas bem treinadas e repetido
a intervalos regulares de duas a quatro semanas, dependendo do grau de incidência da
doença.
A erradicação é feita mediante a aplicação de herbicida como o glifosate,
injetado no pseudocaule na dosagem de 1 ml do produto comercial por planta adulta
e/ou por chifrão.
É importante que a área erradicada permaneça limpa durante o pousio (12
meses). Nas áreas virgens onde houver infestação de espécies de Heliconia, estas
deverão ser destruídas com herbicidas, mantendo-se a área em pousio durante 12 meses.
Outras medidas importantes para o controle do moko:
Desinfestação das ferramentas usadas nas operações de desbaste e colheita com
hipoclorito de sódio a 2,5%, formol 5%, ou com germicidas comerciais do tipo
pinho.
Eliminação do coração em cultivares com brácteas caducas, assim que as pencas
tiverem emergido. Essa prática visa impedir a transmissão pelos insetos. A
remoção deve ser feita quebrando-se a parte da ráquis com a mão.
Plantio de mudas comprovadamente sadias.
Na medida do possível, o uso de herbicidas ou a roçagem do mato deve
substituir as capinas manuais ou mecânicas.
Podridão-mole
A podridão-mole é causada pela bactéria Erwinia carotovora subsp. carotovora.
O número de casos de podridão-mole tem aumentado no Brasil nos últimos anos. Na
Região Norte do País, notadamente no Amazonas, raramente tem ocorrido. O problema
pode ser observado em todas as regiões produtoras, mas aparece com maior freqüência
nas áreas irrigadas, provavelmente por deficiência no manejo da irrigação, que tem
possibilitado o excesso de umidade em pontos localizados dentro da plantação.
Sintomas
A doença inicia-se no rizoma, causando seu apodrecimento, progredindo
posteriormente para o pseudocaule. Ao se cortar o rizoma ou pseudocaule de uma planta
afetada, pode ocorrer a liberação de grande quantidade de material líquido fétido, daí o
nome podridão aquosa. Na parte aérea, os sintomas podem ser confundidos com os do
moko ou mal-do-Panamá. A planta normalmente expressa sintomas de amarelecimento
e murcha das folhas, podendo ocorrer quebra da folha no meio do limbo ou junto ao
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pseudocaule. Os sintomas são mais típicos em plantas adultas, mas tendem a ocorrer
com maior severidade em plantios jovens estabelecidos em solos infectados, devido à
presença de ferimentos gerados pela limpeza das mudas.
Danos
Não existem dados a respeito das perdas. Geralmente as plantas afetadas entram
em colapso devido à murcha, seguida de podridão, provocada pela bactéria.
Controle
As medidas de controle não incluem intervenções com agrotóxicos, e sim
algumas práticas que mantenham as condições menos favoráveis ao desenvolvimento da
bactéria, tais como:
Manejar corretamente a irrigação, de modo a evitar excesso de umidade no solo.
Eliminar plantas doentes ou suspeitas, procedendo-se vistorias periódicas da
área plantada.
Utilizar, em lugares com histórico de ocorrência de doenças, mudas já
enraizadas, para prevenir infecções precoces.
Utilizar práticas culturais que promovam a melhoria da estrutura e aeração do
solo.
Viroses
No Brasil, assim como no mundo, há poucos dados sobre as perdas ocasionadas
por viroses em bananeira. Geralmente os danos causados por uma virose são pouco
visíveis e passam despercebidos.
Até o momento, já foram encontrados infectando bananeira no Amazonas o
vírus das estrias da bananeira (Banana streak virus, BSV) e o vírus do mosaico do
pepino (Cucumber mosaic virus, CMV).
Virose das estrias da bananeira
Esta doença é causada pelo vírus das estrias da bananeira (Banana streak virus,
BSV), transmitido de bananeira para bananeira pela cochonilha Planococcus citri, e por
meio de mudas infectadas.
Esse vírus possui uma importância potencial muito grande, uma vez que, até o
momento, não existe um método que permita eliminá-lo de plantas infectadas. A cultura
de tecidos não permite obter mudas sadias a partir de matrizes infectadas.
O BSV produz inicialmente estrias amareladas nas folhas (Fig. 27), que
posteriormente ficam escurecidas ou necrosadas (Fig. 28). Pode ocorrer a deformação
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dos frutos e a produção de cachos menores. As plantas apresentam menor vigor,
podendo em alguns casos ocorrer a morte do topo da planta, assim como a necrose
interna do pseudocaule. Geralmente os sintomas são percebidos apenas em alguns
períodos do ano. No Estado do Amazonas, quatro estirpes do BSV têm sido detectadas,
ocorrendo nas cultivares Thap Maeo, Prata Zulu, FHIA 21 e FHIA 20.
Figura 27. Folha afetada pela estria da
bananeira, causada pelo BSV (Banana streak
virus).
(Foto: L. Gasparotto)
Figura 28. Folha velha de bananeira com
estrias amarelas e escuras, causada pelo BSV
(Banana streak virus).
(Foto: L. Gasparotto)
Mosaico, clorose infecciosa ou “heart rot”
Esta virose é causada pelo vírus do mosaico do pepino (Cucumber mosaic virus,
CMV), que é transmitido por várias espécies de pulgões. A fonte de inóculo para a
infecção de novos plantios provém geralmente de outras culturas ou de plantas
daninhas, especialmente trapoeraba ou maria-mole (Commelina diffusa).
Os sintomas variam de estrias amareladas (Fig. 29), mosaico, redução de porte,
distorção foliar até necrose do topo; pode haver também distorção dos frutos, com o
surgimento de estrias cloróticas ou necrose interna; necrose da folha apical e do
pseudocaule, quando ocorrem temperaturas abaixo de 24ºC.
Presente nas principais áreas produtoras de bananeira, essa virose pode provocar
perdas elevadas em plantios novos, especialmente quando eles são estabelecidos em
áreas com elevada incidência de trapoeraba e alta população de pulgões. No Amazonas,
o CMV ocorre nas cultivares FHIA 02, FHIA 18, SH 3640 e PV 0344.
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Figura 29. Folha afetada pelo mosaico da bananeira, causado pelo
vírus do mosaico do pepino (Cucumber mosaic virus, CMV).
(Foto: L. Gasparotto)
Controle das viroses
Utilizar mudas livres de vírus.
Evitar a instalação de bananais próxima a plantios de melancia, pepino, abóbora
ou jerimum e maxixe (hospedeiras de CMV).
Controlar as plantas daninhas dentro e em volta do bananal.
Erradicar, nos plantios já estabelecidos, as bananeiras com sintomas.
Nematóides
Os nematóides são micro-organismos tipicamente vermiformes que, em sua
maioria, completam o ciclo de vida no solo. Sua disseminação é altamente dependente
do homem, seja por meio de mudas contaminadas, deslocamento de equipamentos de
áreas contaminadas para áreas sadias, ou por meio da irrigação e/ou água das chuvas.
O resultado dessa doença pode ser observado pela redução no porte da planta,
amarelecimento das folhas, seca prematura, má-formação de cachos, refletindo em
baixa produção e reduzindo a longevidade dos plantios. Nas raízes, podem ser
observados o engrossamento e as nodulações, que correspondem às galhas e massa de
ovos, em decorrência da infecção por Meloidogyne spp. (nematóide-das-galhas) ou
mesmo necrose profunda ou superficial provocada pela ação isolada ou combinada das
espécies Radopholus similis (nematóide cavernícola), Helicotylenchus spp. (nematóide
espiralado), Pratylenchus sp. (nematóide das lesões) ou Rotylenchulus reniformis
(nematóide reniforme), que são os mais freqüentes na bananicultura brasileira e
mundial. Esses nematóides contribuem para a formação de áreas necróticas extensas que
podem também ser parasitadas por outros microorganismos.
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Os danos causados pelos fitonematóides podem ser confundidos ou agravados
com outros problemas de ordem fisiológica, como estresse hídrico, deficiência
nutricional, principalmente deficiência de fósforo, ou pela ocorrência de pragas e
doenças de origem virótica, bacteriana ou fúngica, devido à redução da capacidade de
absorver água e nutrientes, pelo sistema radicular. A sustentação da planta é também
bastante comprometida. A diagnose correta deve ser realizada por meio de amostragem
de solo e raízes e do conhecimento da cultivar utilizada.
Controle
Após o estabelecimento de fitonematóides no bananal, o seu controle é muito
difícil. Portanto, a medida mais eficaz é a utilização de mudas sadias, micropropagadas,
em áreas livres de nematóides. O descorticamento do rizoma, combinado com o
tratamento térmico ou químico, pode reduzir sensivelmente a população de nematóides
nas mudas infectadas. Nesse caso, após limpeza, os rizomas devem ser imersos em água
à temperatura de 55oC por 20 minutos.
Em solos infestados, a utilização de plantas antagônicas, como crotalária
(Crotalaria spectabilis, C. paulinea), incorporadas ao solo antes do seu florescimento,
pode reduzir a população dos nematóides e favorecer a longevidade da cultura. Em
pomares já instalados, a eficiência dessa estratégia está relacionada principalmente ao
nível populacional, tipo de solo e idade da planta, sendo recomendado o plantio dessas
espécies ao redor das bananeiras. A utilização de matéria orgânica junto ao rizoma é
mais benéfica que a matéria orgânica depositada entre as linhas de cultivo. Para evitar a
disseminação dos nematóides, por meio de equipamentos de desbrota ou capinas,
recomenda-se a lavagem completa e a desinfestação superficial dos equipamentos com
solução de formaldeído (20g/l). Esses tratos culturais devem, sempre que possível, ser
iniciados em áreas de melhor condição nutricional e sanitária. Dessa forma, evita-se a
disseminação de pragas e doenças passíveis de serem encontradas em áreas menos
vigorosas.
No controle químico dos nematóides em bananais em formação, recomenda-se a
aplicação dos nematicidas 30 dias após o plantio, quando as mudas já possuem raízes
que facilitarão a absorção do produto. São recomendados os produtos Furadan 50 G e
Counter 50 G, nas dosagens de 80 a 60 g/planta, respectivamente. Posteriormente, no
desbaste que ocorre mais ou menos seis meses após o plantio, realiza-se outra aplicação.
Nessa aplicação, o nematicida será colocado na abertura do furo deixado pela
100
“Lurdinha”, na remoção do perfilho, utilizando-se 20% a 30% da dosagem
recomendada para aplicação no solo.
PRINCIPAIS PRAGAS E DOENÇAS DO CAJU
PRAGAS
Broca-das-pontas (Anthistarcha binocularis Meyrick)
Fig. 1. Ramo atacado pela broca-das-pontas.
Sintomas: ocorrência de galerias no interior dos ramos e inflorescência atacados,
presença de orifícios de saída do adulto e secamento da inflorescência. Na maioria dos
casos ocorre quebra do ramo da inflorescência no orifício de saída do adulto. Esses
sintomas permitem distinguir entre o ataque da praga e o da antracnose, que também
causa a seca da inflorescência.
Controle: quatro pulverizações em intervalos de dez dias, na época da floração e início
da frutificação. Recomenda-se o fenitrothion e o malathion na dosagem de 150 a 200 g
ou ml para cada 100 L de água.
Traça-da-castanha (Anacampsis phytomiella Busck)
101
Fig. 2. Sintomas de ataque da traça-da-castanha.
Sintomas: a lagarta recém emergida penetra na castanha no estágio de maturi e destrói
toda a amêndoa. Antes de se tornar pupa, abre um orifício circular na castanha,
geralmente na parte distal, por onde sairá posteriormente o inseto adulto (pequena
mariposa). A presença da praga, portanto, só é notada quando os maturis apresentam um
pequeno furo circular na sua parte inferior.
Controle: os inseticidas cartap, triazophos e monocrotophos mostraram-se eficientes no
controle dessa praga.
Pulgão da inflorescência (Aphis gossypii Glover)
Fig. 3. Ataque do pulgão-da-inflorescência.
102
Sintomas: o inseto, ao mesmo tempo em que suga a seiva da planta, expele uma
substância açucarada denominada "mela", que recobre principalmente as inflorescências
e folhas, servindo de substrato para o crescimento da fumagina, que é um fungo de
coloração negra. O ataque intenso às inflorescências do cajueiro tem como
conseqüência a murcha e a seca, com reflexos diretos na produção.
Controle: os produtos etoato ethyl, monocrotophos, ometoato, dimetoato e pirimicarb,
são também recomendados.
Tripes (Selenothrips rubrocinctus Giard)
Fig. 4. Ataque de tripes.
Sintomas: o inseto ataca principalmente a face inferior das folhas, preferindo as de
meia idade, ponteiros, inflorescências, pedúnculos e frutos. As partes atacadas tornam-
se cloróticas a princípio, passando depois para uma coloração prateada, com
ressecamento e queda intensa das folhas, diminuindo a área foliar da planta, ocorrendo
também secamento da inflorescência e depreciação dos frutos.
Lagarta saia-justa (Cicinnus callipius Sch.)
103
Fig. 5. Ataque de lagarta-saia-justa.
Sintomas: o ataque ocorre principalmente em época de início de floração, prejudicando
a produção pela redução da área foliar e brotações novas, como também pela destruição
parcial ou total das inflorescências.
Controle: os inseticidas listados como eficientes no controle desta praga são triclorfon,
malathion, fenthion, parathion, diazinon, monocrotophos, phosphamilon e methidathion.
Broca-do-tronco e das raízes (Marshallius anacardii Lima e M. bondari Rosado Neto)
Fig. 6. Sintoma de ataque da broca-do-tronco.
Sintomas: os danos às plantas são causados pelas larvas que são encontradas formando
galerias abaixo da casca, no caule e nas raízes. À medida que se desenvolvem,
aprofundam-se cada vez mais em seu interior. Quando completamente desenvolvidas,
penetram no lenho. Ao abandonarem a planta, deixam a marca de sua presença por meio
de vários furos visíveis ao longo do caule seco. Outros sintomas: queda parcial ou total
das folhas ou morte completa da planta.
104
Controle: derrubada e queima de galhos das plantas atacadas no local de ocorrência,
evitando a disseminação do inseto.
Mosca Branca (Aleurodicus cocois)
Fig. 7. Sintoma de ataque de mosca-branca.
Sintomas: presença de colônia de insetos envolvidos por secreção pulverulenta branca
na face inferior da folha e ocorrência de fumagina na face superior da folhas. O adulto é
completamente branco e se assemelha á uma minúscula "borboleta".
Controle: Os produtos que controlam a Mosca Branca são os seguintes: diazinon,
metidathion, fenthion, endosulfan, parathion metil, dimetoato, monocrotophos.
DOENÇAS
Antracnose (Colletotrichum gloeosporioides (Penz) Pez. & Sacc.)
Fig. 8. Sintomas de Antracnose nas Folhas e Frutos.
Sintomas: lesões necróticas, irregulares, inicialmente de cor parda em folhas jovens e
posteriormente de coloração avermelhada em folhas mais velhas. As folhas jovens
ficam enegrecidas, retorcidas e posteriormente caem, quando o ataque é muito severo.
Também causa queda das flores e frutos jovens, com enormes prejuízos no pomar.
Controle: pulverizações semanais alternadas com benomil, na dosagem de 100 g/ 100L
d’água, cujo intervalo de segurança é de 21 dias; e com mancozeb (150 g/ 100L
d’água), cujo intervalo de segurança também é de 21 dias. Ambos são enquadrados
105
como pouco tóxicos. O oxicloreto de cobre, em dosagens que variam de 200 a 400 g/
100L d’água, dependendo do produto comercial, apresenta excelentes resultados quando
aplicado preventivamente.
Mofo-preto (Pilgeriella anacardii von Arx & Miller)
Fig. 9. Sintomas do mofo-preto.
Sintomas: ocorre geralmente no início da floração, atacando preferencialmente as
folhas mais velhas, produzindo um bolor negro de aspecto similar ao feltro, que se
forma na parte inferior das folhas, daí a denominação de mofo-preto. É encontrado mais
comumente no cajueiro anão precoce do que no tipo comum.
Controle: pulverizações quinzenais alternadas com oxicloreto de cobre (3 g/ L de água)
e benomil (1 g/ L de água).
Mancha angular (Septoria anacardii Freire)
Fig. 10. Sintomas da mancha-angular.
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Sintomas: em folhas de plantas adultas as manchas são pretas, circundadas por um halo
amarelado. Ataques muitos severos podem provocar a queda de folhas.
Controle: os mesmos produtos utilizados para a antracnose.
Oídio (Oidio anacardii Noack)
Fig. 11. Sintomas de oídio.
Sintomas: presença de um revestimento pulverulento, branco-acinzentado, nas folhas.
A ocorrência é centralizada nas folhas adultas, ocasião em que não é tão prejudicial
como quando ataca as inflorescências. No Brasil é considerada de importância
secundária, não necessitando medidas de controle. Entretanto, pulverizações com
produtos à base de enxofre e benomil podem controlar o fungo.
Resinose (Lasiodiplodia theobromae (Pat.) Griffon & Maubl)
Fig. 12. Sintomas de resinose.
Sintomas: em plantas adultas, caracterizam-se pelo escurecimento, intumescimento e
rachadura da casca, formando cancros no tronco e ramos, seguidos de intensa exsudação
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de goma. Abaixo da casca, observa-se um escurecimento dos tecidos o qual se prolonga
até a parte interna do lenho. Ocorrem também amarelecimento e queda foliares.
Prevenção: evitar ferimentos na planta; desinfetar os instrumentos de corte, remover e
destruir plantas ou tecidos infectados.
Controle: proceder a uma cirurgia de limpeza por meio de um canivete ou faca bem
afiada. Retirado todo o tecido atacado, aplicar uma porção de pasta bordalesa ou de um
fungicida comercial à base de cobre na área lesionada. A pasta bordalesa deve ser
preparada no dia anterior, misturando-se uma solução feita com 2 kg de sulfato de cobre
em 5 L de água com outra solução feita com 3 kg de cal virgem em 5 L de água.
Queima-das-mudas (Phytophthora heveae Thompson e P. nicotiana Tucker)
Fig. 13. Sintomas de queima-das-mudas.
Sintomas: Inicialmente surgem manchas foliares arredondadas, com aspecto
encharcado, de coloração marrom-clara. As folhas necrosam rapidamente e podem cair.
Em mudas enxertadas ocorre morte das brotações novas. A infecção pode se iniciar
também pelas raízes, provocando murcha, seca e morte das mudinhas.
Controle: Pulverizações semanais com metalaxyl (1 g/ L de água). Eliminar as mudas
mortas ou com sintomas avançados da doença.
108
CAPÍTULO 6 – COLHEITA, PÓS-COLHEITA E ARMAZENAMENTO
A maturação é a fase do desenvolvimento da fruta em que ocorrem diversas
mudanças físicas e químicas, tais como alterações na coloração, no sabor, na textura,
mudanças na permeabilidade dos tecidos, produção de substâncias voláteis, formação de
ceras na epiderme, mudanças nos teores de carboidratos, de ácidos orgânicos, nas
proteínas, nos compostos fenólicos, nas pectinas, entre outros.
A determinação do grau de maturação adequado, por ocasião da colheita da
fruta, é de grande importância para que o produto atinja o mercado ou a indústria em
perfeitas condições. O grau de maturação ideal é bastante variável com a espécie e,
também, com a cultivar. Outro fator que determina o ponto de colheita é o destino que
será dado à fruta, assim frutas destinadas ao consumo “in natura” devem ser colhidas
maduras ou ligeiramente firmes, enquanto que as destinados à industrialização ou
armazenamento podem ser colhidas com um grau de maturação menos avançado.
As mudanças ocorridas durante a fase da maturação são desencadeadas,
principalmente, pela produção de etileno e, em consequência, aumento na taxa
respiratória. A respiração consiste na decomposição oxidativa de substâncias de
estrutura química mais complexa, como amido, açúcares e ácidos orgânicos, em
estruturas mais simples, como CO2 e água, havendo produção de energia.
O processo respiratório continua a ocorrer mesmo com a colheita da fruta e está
intimamente ligado com a temperatura. Em geral, temperaturas mais elevadas, tanto
antes como após a colheita, aumentam a taxa respiratória, reduzindo, com isso, a
longevidade da fruta.
De acordo com o modelo de respiração apresentado na figura 85, as frutas
podem ser classificados em dois grupos:
a) Frutas Climatéricas - são aquelas que apresentam um período em que ocorre uma
elevação na taxa respiratória, devido à produção autocatalítica de etileno. Esta produção
de etileno, ácido ribonuclêico (RNA) e proteínas, juntamente com aumento na taxa
respiratória e com a decomposição de certas estruturas celulares, marcam a transição
entre a fase de maturação e senescência.
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Figura: Caracterização da respiração em frutas climatéricas
As frutas climatéricas podem ser colhidas mesmo que ainda não estejam
maduros, pois a maturação é atingida após a colheita. No entanto, as frutas não devem
ser colhidas muito jovens, devido a perdas nas qualidades organolépticas. As principais
frutas climatéricas são maçã, pêra, pêssego, ameixa, goiaba, figo, caqui, abacate,
mamão, manga, maracujá, banana, cherimólia, damasco, melão e tomate.
b) Frutas Não Climatéricas - são aquelas que não apresentam elevação na taxa
respiratória próximo ao final do período de maturação, ou seja, a taxa respiratória
apresenta um declínio constante até atingir a fase de senescência.
110
Figura: Caracterização da respiração em frutas não climatéricas
As frutas não climatéricas devem permanecer na planta até atingirem a fase de
maturação, visto que não ocorrem modificações nos parâmetros físicos e químicos após
a colheita. Dentre as principais frutas não climatéricas destacam-se os citros em geral, a
uva, o morango, o abacaxi, a cereja, a romã, a nêspera e a carambola.
6.1. Parâmetros para determinação do ponto de colheita
Os principais parâmetros utilizados para determinação do ponto de colheita
podem ser divididos em dois grupos:
6.1.1 Parâmetros de indicação direta
a) Mudanças na coloração da casca
A mudança na coloração da casca (epiderme) e/ou da polpa é devido à
degradação da clorofila e síntese de novos pigmentos, como, por exemplo, carotenóides
(amarelo) e antocianinas (vermelho e roxo). É o parâmetro mais utilizado para a maioria
das frutas. É uma medida empírica que requer experiência do fruticultor, pois a
mudança na coloração da casca é característica individual de cada espécie e/ou cultivar.
b) Firmeza da polpa
A firmeza da polpa é dada pelas substâncias pécticas que compõem as paredes
celulares. Com a maturação, tais substâncias vão sendo solubilizadas, o que ocasiona o
amolecimento dos tecidos das frutas.
111
A medida da firmeza da polpa é feita com um aparelho denominado
penetrômetro (Figura), cuja leitura indica o grau de resistência da polpa. Recomenda-se
a realização de duas ou mais leituras em cada fruta, em posições opostas, devido ao fato
de que a maturação não ocorre de maneira uniforme na fruta.
Figura:Penetrômetro utilizado para medir a firmeza da polpa das frutas. Foto:
José Carlos Fachinello
c) Crescimento da fruta
O crescimento das frutas, tanto com como sem caroço, é caracterizado por um
crescimento final rápido, ocorrendo declínio com início da fase da maturação. Assim, o
acompanhamento do crescimento pode ser um parâmetro para determinar o início da
maturação, já que as frutas atingem o peso e o tamanho máximos antes do
amadurecimento. O crescimento pode ser avaliado pelo peso ou pelo diâmetro das
frutas.
d) Teor de Sólidos Solúveis Totais (SST)
Embora outros compostos também estejam envolvidos, o teor de sólidos solúveis
totais nos fornece um indicativo da quantidade de açúcares presente nas frutas. Com a
maturação, os teores de SST tendem a aumentar devido à biossíntese ou à degradação
de polissacarídeos. A medição do teor de SST é feita utilizando-se um aparelho
denominado de refratômetro (Figura), sendo a leitura dada em °Brix. Como a
solubilidade dos açúcares é dependente da temperatura da fruta, recomenda-se fazer a
correção do teor de SST para a temperatura de 20°C.
112
Figura – Refratômetros utilizados para a determinação do teor de sólidos solúveis
totais (SST) das frutas. Foto: José Carlos Fachinello
e) Acidez Total Titulável (ATT) e pH
A ATT é medida, num extrato da fruta, por meio de titulação com hidróxido de
sódio e representa o teor de ácidos presentes (Figura 96). Normalmente a ATT diminui
com a maturação da fruta. O pH apresenta comportamento inverso ao da ATT, ou seja,
aumenta com a maturação da fruta.
Figura – Medição da acidez titulável em frutas. Foto: José Carlos Fachinello
113
f) Relação entre SST/ATT
A relação SST/ATT é um importante indicativo do sabor, pois relaciona os
açúcares e os ácidos da fruta. Durante o período de maturação a relação SST/ATT tende
a aumentar, devido à diminuição dos ácidos e aumento dos açúcares, sendo que o valor
absoluto depende da cultivar utilizada.
g) Teste Iodo-amido
Este teste é utilizado, principalmente, para determinação do ponto de colheita de
maçãs e mede, pela reação do iodo como o amido, a quantidade de amido que foi
hidrolisada. É um teste de fácil execução e bastante preciso, porém é influenciado pela
cultivar, condições da cultura e condições climáticas.
A execução do teste é feita pela imersão das frutas durante 1 minuto, cortadas ao
meio, em uma solução de 12g de iodo metálico e 24g de iodeto de potássio, diluídos em
1 litro de água destilada. Os resultados são expressos em percentagem de área que não
reagiu com o iodo, sendo que já existem tabelas específicas para as principais cultivares
de maçãs.
Além dos parâmetros acima mencionados, existem outros como, por exemplo,
ressonância magnética, liberação de etileno, CO2 e complexos aromáticos, os quais
necessitam de equipamentos e de técnicos especializados, o que restringe a utilização a
nível de instituições de pesquisa.
Figura Teste iodo-amido em maçãs. Foto: José Carlos Fachinello
6.1.2. Parâmetros de Indicação Indireta
a) Dias após a plena floração
114
O número de dias desde a plena floração até a colheita é relativamente constante
para uma mesma cultivar, dentro de uma dada região. Assim, é possível saber-se, com
antecedência, a época em que as frutas de uma determinada cultivar iniciarão o estágio
de maturação. Tal fato é importante, nem tanto para determinar o início da colheita
propriamente dito, mas sim para fazer um planejamento de atividades.
Existem outros parâmetros indiretos para determinar o ponto de colheita, como,
por exemplo, dias após o estágio T, soma das temperaturas a partir dos 40 dias após a
plena floração, entre outros, porém não são comumente utilizados.
6.2. Colheita
Uma vez determinado o ponto de maturação mais adequado, inicia-se o processo
de colheita, que, normalmente, é feita manualmente, colhendo-se as frutas
individualmente. Embora a colheita seja uma operação realizada por mão-de-obra
menos qualificada, é necessário que sejam tomados alguns cuidados básicos para que as
frutas cheguem ao destino final com boas qualidades. Dentre os principais cuidados que
devem ser tomados estão:
Não provocar qualquer tipo de dano mecânico à fruta, quer seja devido à
utilização de ferramentas, como tesouras de colheita, ou a unhas
demasiadamente compridas; ao choque da fruta com a embalagem (caixas, bins,
entre outras); à queda da fruta no chão, devido a sacudidas nos galhos; entre
outras. Tais danos favorecem a entrada de patógenos, principalmente de fungos
que causam o apodrecimento das frutas;
A colheita normalmente é feita em 3 ou 4 operações, devido à
maturaçãodesuniforme das frutas. Portanto, deve-se tomar o cuidado de não
colher frutas verdes, não danificar os frutas que permaneceram na planta e não
causar a quebra de galhos;
Em plantas muito altas, pode-se utilizar escadas, varas de colheita ou máquinas
apropriadas, porém deve-se tomar o cuidado para não lesionar as frutas, nem
deixá-las cair no chão;
A colheita deve, sempre que possível, ser realizada nas horas mais frescas do
dia, sendo que as frutas colhidas devem ser colocadas em local protegido do sol,
seja no galpão ou mesmo na sombra das plantas do pomar, pois o sol pode
provocar sérios danos à película das frutas, bem como aumentar a temperatura
das mesmas, com aumento na taxa respiratória e na transpiração;
115
As frutas devem ser colhidas com pedúnculo, isto é conseguido através de uma
leve torção das frutas. No caso dos citros, a colheita com pedúnculo é facilitada
pela utilização de tesouras de colheita;
Para cada tipo de fruta existem embalagens mais apropriadas, porém o
importante é que a embalagem proporcione o máximo de rendimento ao
operador, com um mínimo de dano às frutas. O tipo de embalagem é variável
com o tipo de fruta, assim, por exemplo, a colheita do pêssego é feita em caixa
de madeira ou de plástico, com capacidade aproximada de 20kg; para a maçã, a
colheita é feita utilizando-se bolsas presas ao corpo do operador e, depois, as
frutas são colocadas em caixas grandes de madeira (bins), com capacidade de
350 a 400kg, que são transportados por tratores;
Deve-se fazer a desinfecção do material utilizado para a colheita das frutas,
principalmente das embalagens de transporte e armazenamento, para tanto,
pode-se utilizar o hipoclorito de sódio (água sanitária), na concentração de
400mg.L-1, para embalagens de plástico, e 800mg.L-1, para embalagens de
madeira;
Antes do início da colheita, deve-se fazer a manutenção das estradas internas do
pomar, eliminando-se tocos, pedras e buracos que possam provocar saltos
bruscos nos veículos que transportam as frutas colhidas;
As frutas são, na maioria, produtos bastante perecíveis, isto faz com que o
intervalo de tempo, entre a colheita e o destino final, deva ser o mais reduzido
possível.
6.3. Seleção e classificação
Por seleção, entende-se a separação das frutas quanto à sanidade, forma,
coloração, defeitos, entre outras. Já classificação é a separação das frutas quanto ao
tamanho, que pode ser representado pelo peso ou pelo diâmetro.
A seleção e a classificação das frutas são processos que podem iniciar na
colheita, onde já são eliminados aquelas demasiadamente verdes, podres, manchadas,
muito pequenas, entre outros. Após a colheita, as frutas são levadas para os galpões de
beneficiamento (packing house).
Ambos os processos podem ser realizados manual ou mecanicamente, sendo
que, neste último, o rendimento é bastante superior. A operação realizada manualmente
apresenta bons resultados, porém é um processo lento que exige mão-de-obra com
experiência e em quantidade. A utilização de máquinas normalmente é restrita pelo
116
elevado custo de aquisição e pela inviabilidade de utilização para mais de um tipo de
fruta, o que praticamente limita o seu uso a grandes empresas monocultoras.
A maçã é, hoje, a fruta que mais tem evoluído tecnicamente, no Brasil, na parte
de pós-colheita, sendo que algumas empresas já realizam a classificação e seleção
simultaneamente através de máquinas que separam as maçãs eletronicamente pela cor e
tamanho, perfazendo, em torno, de 24 toneladas/hora.
A padronização e a rotulagem das frutas, de acordo com a finalidade desejada, é
feita através de portarias específicas para cada cultura, expedidas pelo Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
6.4. Armazenamento
A colheita da maioria das frutas se dá num espaço de tempo relativamente curto,
isso faz com que haja necessidade de conservá-los além da época de produção, o que
proporciona benefícios tanto para o produtor, que obtém melhores preços, quanto para o
consumidor que pode dispor das frutas em épocas em que não é possível produzí-las.
Dentre os diversos métodos de conservação de frutas e hortaliças, somente será
abordado o método de conservação pela utilização do frio ou frigoconservação ou
armazenamento refrigerado, embora existam outros também importantes.
A frigoconservação é o método mais utilizado para conservação de frutas, que
podem ser destinadas tanto ao consumo “in natura” quanto para a industrialização, daí
sua grande importância.
Tipos de armazenamentos refrigerados
a) Atmosfera Normal (AN)
A atmosfera normal é o sistema mais utilizado para prolongamento do período
de armazenamento da maioria das frutas, principalmente as de clima temperado. Baseia-
se na combinação de baixas temperaturas, geralmente de -1 a 4°C, com alta umidade
relativa do ar (UR), geralmente superior a 85%.
A temperatura baixa reduz a velocidade do metabolismo respiratório, sendo que
o valor mínimo tolerado é variável com a espécie e cultivar. Por outro lado, frutas com
atividade respiratória alta, como as frutas de clima tropical, não se adaptam ao
armazenamento com temperatura muito baixa.
A utilização de UR alta no armazenamento dificulta a desidratação das frutas,
porém demasiadamente alta, favorece a proliferação de microrganismos patogênicos.
b) Atmosfera Modificada (AM)
117
A atmosfera modificada é um método de conservação que visa modificar a
concentração de gases ao redor e no interior da fruta, associada ou não à utilização de
baixas temperaturas, porém sem um controle preciso dos teores gasosos.
A alteração da atmosfera pode ser conseguida colocando-se as frutas em
embalagens de polietileno ou PVC, aplicando-se ceras, ésteres de sacarose, Na-
carboximetilcelulose, ácidos graxos não saturados de cadeia curta, entre outros. Alguns
materiais plásticos são pouco permeáveis ao vapor d’água, o que provoca aumento
excessivo da umidade relativa (95%), favorecendo a ocorrência de fungos. Para evitar
este problema, pode-se fazer pequenas perfurações nos plásticos, que impedem,
também, o acúmulo excessivo de CO2.
As ceras não alteram a transpiração, mas reduzem as trocas de O2 e CO2 com a
atmosfera e podem induzir a produção de alcoóis, aldeídos e outros compostos
indesejáveis.
c) Atmosfera Controlada (AC)
O armazenamento em atmosfera controlada é uma técnica que vem sendo
utilizada com bastante sucesso em algumas frutíferas, principalmente em maçãs. Baseia-
se na manutenção das frutas em uma câmara fria com uma proporção definida de O2 e
CO2, aliada à baixa temperatura.
O ar atmosférico é composto por, aproximadamente, 78% de N2, 21% de O2 e
0,03 de CO2. Com a utilização de câmaras frias hermeticamente fechadas, se pode
alterar os teores de O2 e CO2 para 1 a 3% e 1 a 5%, respectivamente. Com isso, se reduz
o processo respiratório da fruta, reduzindo, consequentemente, os processos de
degradação.
O O2, na atmosfera e no interior da fruta, atua no seu metabolismo, porém
concentrações muito baixas fazem com que ocorra a respiração anaeróbia e a produção
de etanol, acetaldeído e outros compostos que prejudicam as qualidades organolépticas
das frutas. Com relação ao CO2, concentrações altas (acima de 5%) provocam
alterações estruturais, como desintegração das membranas e do citoplasma.
Os níveis de O2 e CO2 a serem utilizados são bastante variáveis com a espécie e
com a cultivar utilizadas, sendo que se controle é feito por computadores que analisam a
composição do ar no interior da câmara, fazendo automaticamente a correção. A
proporção adequada do ar atmosférico no interior da câmara pode ser conseguido pela
eliminação de O2 e aumento de CO2, através da respiração natural das frutas. Caso os
níveis de CO2 ultrapassem os limites máximos, passa-se o ar por soluções de Ca(OH)2,
118
NaOH ou H2O, que absorvem o gás. Caso os níveis de O2 diminuam muito, a
recomposição é feita através da injeção de ar no interior da câmara. Para retirar o
excesso de etileno, passa-se a atmosfera da câmara numa solução de permanganato de
potássio (KMnO4).
Outras maneiras mais rápidas de rebaixar a concentração de O2 e aumentar a de
CO2 são a combustão do gás propano ou através da purga da câmara com nitrogênio. Os
grandes inconvenientes deste sistema são a exigência de câmaras frias praticamente
herméticas, equipamentos complexos e mão-de-obra especializada o que aumentam os
custos de utilização.
Condições de armazenamento
A manutenção da qualidade das frutas durante um período mais prolongado
depende de uma interação entre as condições envolvidas no armazenamento. As
principais condições que influenciam na qualidade das frutas são a temperatura, a
umidade relativa e o período de armazenamento. Tais condições são bastante variáveis
com as espécies e também com as cultivares.
119
CAPÍTULO 7 – PERDAS PÓS-COLHEITA DE FRUTAS
Poliana Cristina Spricigo – Doutoranda – CPG Biotecnologia – UFSCAR.
Aumentar a produção de frutas é uma solução primária para atender a futura
demanda global de alimentos, seja aumentando a área plantada ou o rendimento das
culturas. Viabilizar a chegada do alimento produzido até a população, através da
redução de perdas e desperdícios com a adoção de soluções eficientes ao longo da
cadeia produtiva, configura uma das formas de garantir segurança alimentar e
nutricional a todo o mundo. Neste sentido, a integração das partes componentes da
cadeia produtiva passa a ser ação essencial para o gerenciamento das perdas, uma vez
que cada parte isolada tem efeito positivo ou negativo sobre a outra (FAO, 2011).
"Segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao
acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem
comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas
alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e sejam
ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis (art. 3º da Lei nº 11.346, de
15 de setembro de 2006)."
Segundo Chitarra e Chitarra (2005) as perdas pós-colheita podem ser definidas
como aquelas que ocorrem após a colheita em virtude da falta de comercialização ou do
consumo do produto em tempo hábil; ou seja, resultante de danos à cultura, ocorridos
após a sua colheita, acumulada desde o local da produção, somando-se aos danos
ocorridos durante o transporte, armazenamento, processamento e /ou comercizalização
do produto vendável.
As tecnologias aplicadas em pós-colheita de frutas e hortaliças buscam manter a
qualidade através da aparência, textura, sabor, valor nutritivo, segurança alimentar e
também reduzir perdas qualitativas e quantitavas entre a colheita e consumo. No
entanto, perdas pós-colheita podem ocorrem em número expressivo e representam gasto
de valiosos e escassos recursos utilizados na produção, como água e energia (Fig. 1).
Produzir alimentos que não são consumidos leva a emissões desnecessárias de dióxido
de carbono, além de perda do valor econômico dos alimentos produzidos (FAO, 2011).
120
Figura 1: Perda ou desperdício de frutas e hortaliças em diferentes etapas da
cadeia produtiva em diferentes regiões do mundo. Fonte: FAO, 2011.
Em países em desenvolvimento mais de 40% das perdas de alimentos ocorrem
nas etapas de pós-colheita e processamento. Nestes países, medidas de controle devem
ser adotadas da perspectiva do produtor, por meio de técnicas pós-colheita adequadas,
programas de conscientização, melhoria das instalações de armazenamento e cadeia do
frio. Em países industrializados mais de 40% das perdas ocorrem nas etapas do varejo e
consumo e as soluções direcionadas ao produtor passam a ter importância apenas
marginal, uma vez que os consumidores perdem grandes quantidades de alimentos (Fig.
2) (FAO, 2011).
Figura 2. Perda ou desperdício de alimento per capita (kg.ano-1
) no consumo e
etapas pré-consumo em diferentes regiões do mundo. (FAO, 2011).
121
Origem das Perdas
Perdas pós-colheita variam muito entre produtos, áreas de produção e época de
cultivo além de estarem relacionadas com a colheita de frutos imaturos, controle
inadequado de qualidade nas etapas da produção, incidência e gravidade de danos
mecânicos, exposição a temperaturas inadequadas e demora no consumo (Kader, 1986).
Os padrões de qualidade, preferências e poder de compra variam muito entre países e
culturas e essas diferenças influenciam a comercialização e a magnitude das perdas pós-
colheita (Kader e Rolle, 2004).
As perdas podem ser classificadas em quantitativas, qualitativas e nutricionais.
Perdas qualitativas e nutricionais, valor calórico e aceitação pelos consumidores, são
muito mais difíceis de avaliar do que perdas quantitativas. As causas primárias das
perdas podem ser fisiológias, fitopatológicas e por danos mecânicos (Chitarra e
Chitarra, 2005).
As causas fisiológicas são perdas relacionadas a elevada taxa de respiração,
produção de etileno, atividade metabólica, perda de massa, amaciamento dos tecidos,
perda do flavor e valor nutritivo.A adoção de práticas que controlem esses parâmetros
contribui para a conservação dos alimentos. Por exemplo, Silva et al. (2011)
trabalhando com aplicação de ceras na pós-colheita de caquis verificaram menor perda
de massa durante o armazenamento com relação aos caquis não tratados. A aplicação de
cera mostrou-se efetiva na conservação da qualidade pós-colheita do caqui
cv.Fuyudurante armazenamento, com melhor conservação da massa, coloração externa
e firmeza além dos parâmetros químicos.
As perdas fitopatológicas são resultado do ataque de microrganismos que
causam o desenvolvimento de doenças provocadas por fungos, bactérias e vírus. As
perdas fitopatólógicas podem deteriorar apenas a aparência do produto levando a perdas
qualitativas ou então levar a destruição total dos tecidos (Chitarra e Chitarra, 2005). Um
trabalho realizado com mamões e laranjas comercializados em Recife-PE indicou
elevada incidência de diferentes doenças fúngicas pós-colheita, que atingiram 82,53%
dos frutos amostrados de mamão e 21,85% dos frutos de laranja (Dantas et al. 2003).
Esses resultados alertam sobre a importância econômica das doenças em pós-colheita de
frutos de mamão e laranja, pois essas doenças desqualificam a fruta para
comercialização.
O alto teor de umidade e textura macia de frutas e hortaliças as tornam
suscetíveis ao dano mecânico (FAO, 1989). Danos mecânicos são as principais causas
122
de perdas em qualidade e quantidade de produtos hortícolas in natura. A incidência e
gravidade das lesões podem ser minimizadas reduzindo o número de etapas envolvidas
até o consumidor e educando os profissionais envolvidos sobre a necessidade de
manipulação cuidadosa (Kader e Rolle, 2004). Neste ponto, as pesquisas desenvolvidas
para o aprimoramento da cadeia produtiva contribuem para a manutenção da qualidade
dos produtos hortícolas. Em tomates, Ferreira et al. (2006a) avaliaram o efeito do
manuseio e transporte dos frutos em várias etapas da colheita tendo como objetivo
apontar pontos críticos.
Também para tomate Ferreira et al. (2009) verificaram danos por impacto em
linhas de embalagem de tomates frescos, bem como determinaram a qualidade dos
frutos submetidos a danos por impactos em diferentes tipos de superfície. Estudos
semelhantes, detectando pontos de queda e níveis críticos de impactos também foram
conduzidos com outros produtos, como citros e caqui (Ferreira et al., 2006b; Valentini
et al., 2009), afim de colaborar para o desenvolvimento de estratégias que sejam melhor
adaptadas a cada tipo de fruta ou hortaliça ao longo de seu beneficiamento.
Segundo Ferreira et al. (2008) uma intervenção através de cursos e treinamentos
das pessoas envolvidas na cadeia produtiva pode auxiliar na diminuição das perdas e
melhoria da qualidade do produto final.Os danos mecânicos podem acelerar a perda de
água, reduzir os teores de vitamina C e aumentar a suscetibilidade a patógenos. Durigan
et al. (2005) concluiram que houve perda significativa da qualidade das limas ácidas
'Tahiti' em função de diferentes injúrias mecânicas, principalmente naquelas submetidas
às injúrias por impacto.
Os danos que deixam o tecido intacto, mas causam injúrias internas podem
causar aumento na respiração, descoloração interna e off-flavors por causa de reações
fisiológicas anormais (FAO, 1989). As desordens fisiológicas causadas por impactos
alteram, por exemplo, o sabor e aroma do tomate, reduzindo assim a potencial aceitação
deste produto (Moretti e Sargent, 2000). Moretti et al. (1997) estudaram a aceitação de
tomates com danos internos pelos consumidores através de análise sensorial.
Verificaram que os consumidores diferenciaram o sabor em homogeneizados
preparados com frutos que apresentavam danos internos.
Custos das Perdas
Cerca de um terço dos produtos hortícolas produzidos nunca são consumidos
pela população mundial (Kader e Rolle, 2004). Essas perdas refletem de forma
significativa na quantidade de produto ofertado e na formação de preços finais. Ricarte
123
et al. (2008) avaliando o desperdício de alimentos em um restaurante universitário de
Fortaleza-CE, por um período de dois meses, identificaram que de 642 kg de frutas e
hortaliças recebidos, foram perdidos 203 kg entre armazenamento e pré-preparo,
representando 31,6% de desperdício. Silva et al. (2003) constataram que o volume de
perda anual de três variedades de banana, na cidade de Botucatu, somou 39 toneladas,
representando um valor de R$ 35.038,00 mil reais.
As perdas colaboram para que haja aumento no custo da pós-colheita. Muitas
vezes, esse custo representa o maior gasto ao longo da pós-colheita e comercialização,
como o que ocorre no caso da banana, ou então o valor sobrepõe o custo de alguma
etapa muito importante para a qualidade do produto, caso que ocorre com a manga, que
apresenta o custo de perda mais elevado do que o próprio beneficiamento. As perdas
significativas que ocorrem durante a produção, colheita, pós-colheita, armazenamento e
transporte ao canal distribuidor também contribuem fortemente para a redução da oferta.
124
CAPÍTULO 8 – MERCADO E COMERCIALIZAÇÃO DE FRUTAS
A globalização leva ao livre mercado sem fronteiras, com os concorrentes mais
próximos, com integração cada vez maior dos mercados e dos meios de comunicação e
transporte, permite que o abastecimento de uma empresa possa ser feito por
fornecedores que se encontram em diversas partes do mundo, cada um oferecendo
melhores condições de preço e qualidade. Esse mercado exige volume, constância na
oferta, diversidade e produtos de qualidade com rastreabilidade.
Quando o mercado se torna altamente excludente cabe a mediação por parte do
Estado. O acesso ao mercado e à comercialização de produtos agrícolas da AF
(Agricultura Familiar) constitui um dos principais gargalos dessa categoria de
produtores. A escolha do mecanismo de comercialização envolve ações que se adaptem
à pequena escala, ao tipo de qualificação do trabalho, ao relacionamento com
fornecedores, clientes e prestadores de serviços e à existência de estratégias
competitivas.
O processo de comercialização tem início com a produção, mas não se limita a
isso, passando pelo beneficiamento, embalagem, compra, venda e atividades de
logística. Essa dinâmica de produção, para permanência no mercado, implica que os
produtores tenham volume, qualidade, diversidade e regularidade de oferta, pois os
consumidores precisam se alimentar diariamente e os fornecedores devem estar
estruturados para isso.
No momento de vender a produção, a maioria dos agricultores sofre deságio de
preços em seus produtos, por desconhecer as regras de mercado, principalmente quando
se trata de produtos perecíveis (frutas, legumes e verduras). Há deságio por ser
perecível, por ser colhido fora do ponto ideal de colheita, por não ser classificado, não
ser devidamente embalado, não ter rastreabilidade e não ser transportado corretamente.
A redução das perdas na comercialização começa no planejamento da atividade,
antes de iniciar a produção, através do estudo de mercado e verificação de suas
exigências em relação aos produtos que se quer produzir. O ideal é vender o produto
antes de produzi-lo e, quando possível, formalizado via contrato.
Geralmente ao se falar em mercados como áreas geográficas (mercado local,
regional, estadual, internacional etc) pode-se segmentá-lo em mercados geográficos,
incorporando a utilidade de lugar, mercados de um produto, incorporando a utilidade de
forma (mercado de milho, como exemplo) e mercados temporais, como utilidade de
125
tempo (mercado de feijão em junho). O problema a ser analisado na comercialização é
que define o tipo de mercado. Como exemplo, tem-se o preço do tomate praticado na
CEASA ou o preço da soja no mercado internacional.
As atividades da comercialização devem facilitar respostas aos problemas
econômicos: o que, quanto, quando, e onde e como produzir, e de que forma distribuir
os produtos. O papel da comercialização está centrado em orientar a produção e o
consumo e produzir utilidades.
1. PLANEJAMENTO DA PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO
O primeiro passo de qualquer empreendimento é o planejamento para verificar
os riscos que estão embutidos no negócio e como implementá-lo com segurança. O
planejamento, ou plano de negócio, quando bem feito, permite identificar os riscos,
analisá-los e tomar a decisão antes de fazer os investimentos, reduzindo, assim, as
possibilidades de prejuízo.
Numa breve reflexão é possível verificar que na comercialização de frutas,
legumes e verduras (FLV) existem alguns riscos tais como: risco de produção, de preço,
de crédito, risco de conduta e dos contratos, como se pode observar na figura.
1.1 CONHECER PRIMEIRO O MERCADO A QUE SE DESTINA O PODUTO
PARA DEPOIS PRODUZIR
A questão é amadurecer a idéia de que a comercialização não pode mais ser
deixada para depois da colheita. Tornou-se necessário dedicar tempo e atenção às
cotações e às oportunidades de negócios antes mesmo do plantio. Esse monitoramento,
à base de informação qualificada, é que permite as avaliações particulares.
Figura: riscos que ocorrem na comercialização de frutas.
Em ano de incerteza climática, amadurecer as vendas dá mais resultado do que
reclamar do clima e da produtividade.
126
- Antes de decidir o que e quanto produzir, é preciso conhecer o mercado ao qual se vai
vender o produto (indústria, cooperativa, intermediário, atacadista, varejista,
consumidor), a sua localização e a sua infraestrutura e área disponível para produção;
- Analisar as potencialidades, dificuldades, oportunidades e ameaças;
- Que quantidade o mercado está disposto a comprar;
- Qual a estimativa de preço que o mercado está disposto a pagar;
- De quem o mercado compra atualmente e qual a forma de pagamento;
- Qual a periodicidade de compra e qual a qualidade exigida (classificação,
padronização, embalagem, rotulagem desejada do produto).
A pesquisa de mercado pode ser feita junto aos canais locais de comercialização,
tais como: agroindústrias, supermercados, armazéns, mercearias, açougues, padarias,
sacolões, feiras, restaurantes, cooperativas e hotéis, entre outros.
Planejamento é o ato de pensar, analisar, refl etir, organizar e exercitar
antecipadamente o que deve ser feito para alcançar os resultados esperados. O que
produzir, quanto produzir, quando produzir, para quem produzir e como produzir.
O que produzir
Uma vez estudado o mercado é necessário definir:
- O que produzir e a tecnologia a ser usada, considerando as exigências dos
consumidores;
- Verificar se existem recursos produtivos suficientes;
- Verificar para qual mercado em que quantidade produzir.
O mercado de frutas, legumes e verduras é exigente em quantidade, qualidade,
preço, regularidade de oferta, padronização da mercadoria e embalagem, além de exigir
a nota fiscal dos produtos. Diante dos possíveis mercados (municipal, regional,
nacional) é preciso que o produtor defina do qual deles irá participar e a capacidade de
produção a ser ofertada em função da demanda existente. Fazer o cadastramento dos
possíveis compradores e iniciar os contatos na perspectiva das futuras vendas:
- Que qualidade a produção deverá ter;
- Com que frequência o produto vai chegar ao mercado: diária, semanal, mensal, anual
ou, ainda, na safra ou na entressafra. Conforme a frequência será preciso todo um
esforço no planejamento da infraestrutura da propriedade, da logística e do processo de
comercialização;
- Aumentar o valor do produto.
127
2. DIAGNÓSTICO/PROBLEMAS DO AGRONEGÓCIO FRUTI-OLERÍCOLA
- Baixa produção/produtividade, baixa qualidade e alto custo de produção;
- Produção segmentada e inconstante (desequilibrada);
- Deficiência na qualifi cação dos produtos pós-colheita (seleção, limpeza, classifi
cação, acondicionamento, embalagens, rotulagem e identifi cação do produtor e do
produto);
- Muitos produtores sem casas de embalagens (“paking house”), ou local apropriado
para o processamento pós-colheita;
- Problemas ambientais e sanitários, tanto na produção e no processamento, quanto na
comercialização;
- Deficiência na logística de armazenamento, transporte e comercialização;
- Baixo consumo e hábito alimentar restrito;
- Escassez de tecnologia mais avançada e de conhecimento do mercado;
- Deficiência no “marketing”;
- Desorganização do setor produtivo com deficiência na oferta de produtos e serviços
diferenciados;
- Espírito imediatista e ganância dos agentes da cadeia.
3. OS VÍCIOS DO MERCADO
- Produtores desunidos, desorganizados, fragmentados e desvinculados dos
consumidores;
- Comerciantes (atacadistas e atravessadores) com visão oportunista;
- Setor varejista inexperiente, embora perceba necessidade de mudanças;
- Inexistência de dados oficiais e/ou confi áveis para se determinar o mercado no Brasil.
4. ONDE ESTÃO OS MERCADOS
Dependendo do planejamento e do sistema de produção, do produto e do volume
de produção, o mercado pode estar no próprio município ou nos municípios
circunvizinhos. Pode estar nos estados, principalmente junto aos grandes centros
urbanos. No Brasil, o mercado localiza-se nas capitais, regiões metropolitanas e cidades
mais populosas.
5. OPORTUNIDADES DO SETOR DE FRUTAS E HORTALIÇAS
- Efetivação e surgimento de novos canais de distribuição e de demanda e novas formas
de comercialização forçarão o desenvolvimento de novas organizações, melhorando o
lucro da cadeia;
128
- Surgimento de formas para encurtar o caminho até o consumidor final, reduzindo as
intermediações;
- Possibilidade de agregação de renda através da melhoria na qualidade, da qualificação
pós-colheita e do uso de embalagens adequadas e padronizadas;
- Novos nichos de mercado: produtos orgânicos; produtos hidropônicos; produtos
isentos de agrotóxicos e de agentes biológicos nocivos à saúde humana; produtos
desdobrados, diferenciados; produtos pré ou minimamente processados (lavados,
higienizados, cortados, descascados, picotados, ralados) e produtos
agroindustrializados;
- Redução do desperdício médio, que gira, na pós-colheita, em torno de 30%.
6. GRANDES ESTRATÉGIAS PARA AS MUDANÇAS DO SETOR DE FRUTAS,
LEGUMES E VERDURAS
- Produção e comercialização programada, visando constância de oferta, em volume
adequado (de acordo com o mercado ou o cliente);
- Instalações em conjunto de infraestrutura (“paking house”) de classificação,
processamento pós-colheita, de armazenamento e/ou de agroindústrias;
- Compra conjunta de insumos, venda conjunta da produção e transporte em conjunto;
- Melhoria na qualidade e na qualificação pós-colheita (reconquistar a credibilidade);
- Aumento na produtividade e redução de custo;
- Educação alimentar junto ao consumidor final;
- Desenvolvimento de polos de produção programada, transporte, aquisição de insumos
e agroindústria conjunta, para maximizar a comercialização;
- Organização da classe produtora para produção e comercialização conjunta e/ou
ordenada, visando lucros a médio/longo prazo com oferta diversificada e em escala, a
preços competitivos e através de produtos e prestação de serviços diferenciados.
7. MERCADOS
7.1. CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO OU DE COMERCIALIZAÇÃO DISPONÍVEIS
Entende-se aqui canais de comercialização como os vários espaços e
oportunidades nos quais se praticam as transações comerciais, desde locais até
internacionais.
Canais de marketing ou de distribuição podem ser entendidos como “um
conjunto de organizações interdependentes envolvidas no processo de tornar o produto
ou serviço disponível para o consumo ou uso”(STERN, 1996). O conceito indica que
129
várias empresas estão evolvidas no processo, a fim de satisfazer os usuários finais no
mercado, sejam eles consumidores ou compradores empresariais.
Os canais de comercialização desempenham, cada vez mais, papel importante
para o agricultor, podendo ser o fator mais relevante para o desenvolvimento efetivo da
participação de mercado. Os canais de distribuição eficientes vêm se tornando mais
importantes para garantir que os agricultores alcancem sucesso em mercados altamente
competitivos. É preciso conhecer os canais de comercialização para:
- Entender o processo de formação de preços;
- Identificar pontos de estrangulamento da comercialização;
- Identificar possíveis oportunidades;
- Identificar possíveis parcerias e alianças;
- Organizar estratégias para participar de mercados mais competitivos.
Os principais canais de comercialização utilizados pelos agricultores familiares
estão relacionados a seguir, com a predominância do intermediário, o que demonstra um
longo caminho a ser percorrido na organização dos agricultores e da produção para que
passem a ser protagonistas de seus negócios, através do cooperativismo. Principais
canais de comercialização: Intermediário, Cooperativas, Indústria, Mercado atacadista
(Centrais de Abastecimento – CEASA), Operadores independentes e Produtores
expedidores), Mercado Institucional (PAA E PNAE), Comércio Justo etc.
7.2. QUEM SÃO OS CONCORRENTES E COMO SE COMPORTAM
O agricultor precisa identificar quem são os concorrentes que atuam no mercado
de seus produtos, como eles operam, qual a qualidade apresentada, como são feitas as
transações, forma de pagamento e qual a fatia de mercado ocupada pelos concorrentes.
Tais observações permitem detectar os pontos fortes e fracos e identificar novas
oportunidades de mercado.
7.3. COMO SÃO PRATICADAS AS TRANSAÇÕES DE COMPRA E VENDA
Entendendo a cadeia produtiva dos produtos
Um desafio para os agricultores familiares é entender como estão estruturadas as
cadeias produtivas de seus produtos e de seus negócios, como interagem os agentes
nessas cadeias, como estão compostas as forças de mercado, como a cadeia é
coordenada e identificar o mercado apropriado para cada produto, os canais de
comercialização, as estratégias específicas para cada grupo de produtos e como
fortalecer o poder de barganha dos produtores para enfrentar a força dos compradores.
130
Sem dúvida é uma tarefa difícil, quase impossível, para os agricultores
enfrentarem individualmente, sem o espírito cooperativo. As cadeias produtivas são
entendidas como um conjunto de componentes interativos, compreendendo desde os
fornecedores de serviços e insumos, sistemas produtivos agropecuários e agroflorestais,
processamento e transformação, distribuição e comercialização, até os consumidores
finais de produtos e subprodutos.
Figura: Representação de uma cadeia produtiva hortifrutícola.
Segundo (Batalha et al, 1997) a cadeia produtiva pode ser analisada sob diversos
enfoques:
Técnico - A cadeia de produção é uma sucessão de operações de transformação
dissociáveis, capazes de serem separadas e ligadas entre si por um encadeamento
técnico;
Econômico - A cadeia de produção é também um conjunto de relações comerciais e
financeiras que estabelecem, entre todos os estados de transformação, um fluxo de troca
situado de montante a jusante, entre fornecedores e clientes;
Estratégico - A cadeia de produção é um conjunto de ações econômicas que presidem a
valoração dos meios de produção e asseguram as articulações das operações.
Forma de comercialização
A comercialização é complexa, dinâmica e processual. Ela possui as seguintes
funções:
- Função comercial – refere-se às informações e decisões de venda;
- Função logística – inerente ao transporte e à entrega de mercadorias;
131
- Função financeira – trata da forma de pagamento e de como serão formalizados os
contratos entre as partes.
A forma de comercialização do produto, venda “in natura”, produto
minimamente processado e produto processado irá implicar no investimento em
infraestrutura e na legislação a ser seguida no processo de comercialização.
Estratégia de comercialização
No contexto do mundo globalizado, as relações comerciais são caracterizadas
pela alta competitividade. Somente haverá espaço para quem:
Buscar, permanentemente, informações sobre o mercado consumidor de seus
produtos e sobre o mercado fornecedor de suas matérias-primas;
Dominar técnicas de gerenciamento da atividade rural e aplicá-las no seu
negócio; analisar, rotineiramente, os preços praticados pelo mercado, os custos
de produção e os preços de seus produtos.
A comercialização pode ser efetuada de várias formas:
- Venda individual;
- Venda associativa;
- Organização de rede.
Para inserção dos agricultores familiares no mercado é necessário melhorar o seu
poder de competição com organização em cooperativas, centrais de associações,
formando redes de comercialização e parcerias formalizadas, como forma de superar
mais facilmente as barreiras de sua inserção no mercado, para atenderem as demandas
dos diversos canais de comercialização públicos e privados, para que possam organizar
a oferta de produção, a diversidade de alimentos, a logística de beneficiamento,
armazenagem, processamento, embalagem, padronização, transporte, distribuição,
aquisição de insumos, caminhões, máquinas de beneficiamento e marketing. As
transações devem ocorrer do informal para o formal, através de contratos, alianças e
outros mecanismos. Instituições, devidamente registradas, observando os amparos
legais tornam-se “o braço” dos produtores no mercado.
O agricultor sozinho dificilmente consegue acessar bons mercados e manter a
regularidade na oferta de produtos também, na maioria dos casos, não dispõe da
infraestrutura necessária. Portanto, o associativismo é uma estratégia competitiva de
acesso ao mercado.
A tendência de monopolização no sistema de abastecimento agroalimentar tem
dificultado a inserção de alguns segmentos tradicionais ao mercado. O resultado tem
132
sido a exclusão de pequenos e médios empreendimentos agrícolas, industriais e
comerciais.
Paralelamente, novas possibilidades são abertas à comercialização para produtos
diferenciados, como os artesanais, orgânicos e “naturais”, que apresentem valor
econômico, social e cultural. Dentre as estratégias de inserção no mercado destacam-se
duas: verticalizar a comercialização ou fazer parcerias. Na verticalização é necessário
criar “uma marca para obter a fidelidade dos consumidores”. É preciso conhecer os
consumidores pois, normalmente, nesse caso as margens de ganho são pequenas.
Isso tem implicações na eficiência em termos de redução dos custos de produção
e transação. Já no caso das parcerias, o ideal é buscar produtores parceiros já
estabelecidos. É fundamental ter uma coordenação das atividades, que também realizam
o controle dos custos dessa transação e uma postura associativista madura de forma a
reduzir o oportunismo, evitando criar a fi gura do intermediário.
7.4. TIPOS DE MERCADOS
Mercado atacadista (basicamente três canais)
1) Centrais de abastecimento (CEASA): Existem nos principais centros urbanos, de
propriedade do estado e/ou municípios e, por não terem acompanhado a evolução da
globalização e da modernização, começam a perder forças para outros canais;
2) Operadores Independentes: São os intermediários ou atravessadores operando dentro
e fora das Centrais de Abastecimento, atendendo pequenos varejistas localizados nas
pequenas cidades. De modo geral, esses intermediários não têm qualquer
comprometimento com o produtor e assumem poucos riscos;
3) Produtores Expedidores: Representam uma classe nova de distribuidores, resultado
da demanda de mercado, gerado por varejistas em busca de melhor serviço e menor
custo, além da constância de entrega em volume e qualidade. São originários de
operadores independentes, com a diferença de que também são produtores. Esses
mecanismos substituem a dificuldade de operacionalização de associações e
cooperativas, na área de perecíveis.
Mercado varejista
Composto pelos canais tradicionais como as feiras livres os varejões, as
quitandas, as mercearias, os ambulantes, sacolões, mercados municipais e os canais que
englobam as grandes redes de super e hipermercados.
Mercado consumidor institucional
133
É constituído de inúmeros canais como: cozinhas industriais de grandes fábricas,
exército, merenda escolar, rede de restaurantes e de hotéis e outros. Pontos de
estrangulamento para os produtores venderem seus produtos neste mercado:
a) Baixa produção, tanto em volume como em diversidade de produtos;
b) Descontinuidade na oferta;
c) Falta de padronização da qualidade ofertada;
d) Fraca infraestrutura de produção e comercialização;
e) Baixa disponibilidade de recursos produtivos (capital e mão de obra);
f) Pouca organização dos pequenos agricultores;
g) Baixa remuneração.
Os super e hipermercados, sacolões, quitandas, mercearias, varejões, feiras livres
e os ambulantes representam o setor varejista de frutas e hortaliças no Brasil. Os
estabelecimentos acima citados, exceto os super e hipermercados, ainda participam com
considerável fatia de mercado na distribuição de frutas e hortaliças.
Entretanto, o aumento da concorrência aliado a baixos custos (economia de
escala) e o incremento da eficiência fará com que os super e hipermercados (que hoje
detêm aproximadamente entre 45-50% da fatia do mercado) continuem a ganhar maior
fatia de mercado (podendo atingir, nos próximos 5 anos, em torno de 70-80 %).
As redes recentes (de cadeias internacionais) e as antigas redes de super e
hipermercados estão submetendo os seus departamentos de frutas e hortaliças a
substanciais mudanças, realocando e atualizando o setor, transformando-o num
elemento muito importante para atrair o consumidor, considerando-o como “ponto
chave diferencial” entre todos os outros produtos. Eficiência operacional e baixo custo
são as chaves da sobrevivência.
Os segmentos da cadeia de frutas e hortaliças que os antecedem (produtores e
distribuidores) estão muito longe de atender os requisitos necessários para garantir uma
efi ciente operacionalidade desse setor, excessivamente segmentado, oportunista, com
inadequada tecnologia de classificação, manuseio, armazenagem pós-colheita e
transporte de distribuição.
É necessário na cadeia o incremento e a organização de empresas e associações
independentes de distribuição, com adequada infraestrutura de armazenamento, classifi
cação, acondicionamento, armazenamento e de transporte para, de forma efi ciente,
constante e preço competitivo (ganho por escala) poder suprir o moderno setor varejista
(principalmente, super e hipermercados e consumidores institucionais).
134
Mercado institucional
Nas imperfeições do mercado o Estado deve interferir para proteger as
populações excluídas desse processo. Nesse sentido, o mercado institucional aparece
como alternativa para inclusão dos agricultores, especialmente os mais descapitalizados
e para distribuição de alimentos seguros e saudáveis, para grupos de pessoas com
insegurança alimentar.
É um canal de comercialização no qual o agricultor familiar e/ou suas
organizações comercializam a produção com instituição governamental ou não, desde
que permitida uma relação direta com o consumidor final. A utilização desse canal pela
agricultura familiar é comumente fomentada pela ação extensionista em diversas
experiências no estado, e tem como propósito oportunizar a inclusão social e sua
inserção nas políticas públicas locais de abastecimento, bem como contribuir com a
promoção da soberania alimentar.
É responsabilidade coletiva fortalecer esse canal de comercialização como
estratégia de promoção do desenvolvimento rural sustentável e solidário, o que depende
da ação organizada dos agricultores familiares, dos demais atores sociais e do interesse
do poder público, sendo de fundamental importância relacionar o mercado institucional
com as compras governamentais de alimento, do ponto de vista da construção e
fortalecimento de políticas públicas de abastecimento.
7.5. AGREGAÇÃO DE VALOR AO PRODUTO
Existem diversas formas de agregar valor às frutas pela sua diferenciação. A
estratégia de diferenciação dos produtos para a agricultura familiar compreende o grau
em que um determinado produto é considerado diferente pelos compradores e
consumidores. As frutas podem diferenciar-se por meio de diversas estratégias, tais
como:
- Diferenciação de produto (tecnologia, rotulagem, desempenho, conformidade,
confiabilidade, durabilidade, estilo e design);
- Diferenciação de serviços ao cliente (facilidade de pedido, consulta e consultoria ao
consumidor, prêmios oferecidos aos adquirentes dos produtos, compra pela internet);
- Diferenciação por meio do canal de distribuição (rapidez de entrega, entrega em
domicílio e cobertura geográfica ampliada do canal de entrega);
- Diferenciação pela imagem da marca (conhecimento, tradição, segurança, garantia de
qualidade);
135
- Diferenciação de pessoas no atendimento aos clientes (vantagens competitivas pela
qualificação das pessoas, cortesia, credibilidade, confiabilidade, responsabilidade e
comunicação);
- Diferenciação por atributos especiais de qualidade do produto (orgânico e
agroecológico, alimento funcional e assemelhado);
- Diferenciação pela rastreabilidade, certificação e denominação de origem;
- Diferenciação pelo respeito socioambiental e não emissão de gases de efeito estufa;
- Diferenciação pela transformação dos produtos e processamento mínimo
(Agroindústria Familiar) – segue uma estratégia de comercialização específica para cada
produto, em função da tributação e outras exigências legais para acesso ao mercado.
136
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Hino do Estado do Ceará
Poesia de Thomaz LopesMúsica de Alberto NepomucenoTerra do sol, do amor, terra da luz!Soa o clarim que tua glória conta!Terra, o teu nome a fama aos céus remontaEm clarão que seduz!Nome que brilha esplêndido luzeiroNos fulvos braços de ouro do cruzeiro!
Mudem-se em flor as pedras dos caminhos!Chuvas de prata rolem das estrelas...E despertando, deslumbrada, ao vê-lasRessoa a voz dos ninhos...Há de florar nas rosas e nos cravosRubros o sangue ardente dos escravos.Seja teu verbo a voz do coração,Verbo de paz e amor do Sul ao Norte!Ruja teu peito em luta contra a morte,Acordando a amplidão.Peito que deu alívio a quem sofriaE foi o sol iluminando o dia!
Tua jangada afoita enfune o pano!Vento feliz conduza a vela ousada!Que importa que no seu barco seja um nadaNa vastidão do oceano,Se à proa vão heróis e marinheirosE vão no peito corações guerreiros?
Se, nós te amamos, em aventuras e mágoas!Porque esse chão que embebe a água dos riosHá de florar em meses, nos estiosE bosques, pelas águas!Selvas e rios, serras e florestasBrotem no solo em rumorosas festas!Abra-se ao vento o teu pendão natalSobre as revoltas águas dos teus mares!E desfraldado diga aos céus e aos maresA vitória imortal!Que foi de sangue, em guerras leais e francas,E foi na paz da cor das hóstias brancas!
Hino Nacional
Ouviram do Ipiranga as margens plácidasDe um povo heróico o brado retumbante,E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,Brilhou no céu da pátria nesse instante.
Se o penhor dessa igualdadeConseguimos conquistar com braço forte,Em teu seio, ó liberdade,Desafia o nosso peito a própria morte!
Ó Pátria amada,Idolatrada,Salve! Salve!
Brasil, um sonho intenso, um raio vívidoDe amor e de esperança à terra desce,Se em teu formoso céu, risonho e límpido,A imagem do Cruzeiro resplandece.
Gigante pela própria natureza,És belo, és forte, impávido colosso,E o teu futuro espelha essa grandeza.
Terra adorada,Entre outras mil,És tu, Brasil,Ó Pátria amada!Dos filhos deste solo és mãe gentil,Pátria amada,Brasil!
Deitado eternamente em berço esplêndido,Ao som do mar e à luz do céu profundo,Fulguras, ó Brasil, florão da América,Iluminado ao sol do Novo Mundo!
Do que a terra, mais garrida,Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;"Nossos bosques têm mais vida","Nossa vida" no teu seio "mais amores."
Ó Pátria amada,Idolatrada,Salve! Salve!
Brasil, de amor eterno seja símboloO lábaro que ostentas estrelado,E diga o verde-louro dessa flâmula- "Paz no futuro e glória no passado."
Mas, se ergues da justiça a clava forte,Verás que um filho teu não foge à luta,Nem teme, quem te adora, a própria morte.
Terra adorada,Entre outras mil,És tu, Brasil,Ó Pátria amada!Dos filhos deste solo és mãe gentil,Pátria amada, Brasil!
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