14/04/2015 Gramsci:ARevoluoContraoCapital
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ARevoluoContraoCapital(1*)
AntnioGramsci
24deAbrilde1917
PrimeiraEdio::Avanti,24Novembrode1917.Fonte:LaRevolucincontraelCapital,em:RevolucinrusayUninSovitica,EdicionesR.Torres,Barcelona,1976,pgs.2126.TraduoparaoportugusdaGaliza:JosAndrLpezGonlez.Junho,2007.HTMLde:FernandoA.S.Arajo,Julho,2007.Direitos de Reproduo: A cpia ou distribuio deste documento livre eindefinidamentegarantidanostermosdaGNUFreeDocumentationLicense.
A revoluo dos bolcheviques inseriuse definitivamente na revoluogeraldopovo russo.Osmaximalistas(2*)queathdousmeses foramofermento necessrio para que os acontecimentos no se detiveram, paraque amarcha emdireco ao futuro no terminasse, dando lugar a umaformadefinitivadeorganizaoqueseriaumaorganizaoburguesa,apoderaramsedopoder,estabeleceramasuaditaduraeestoaelaboraras formas socialistas em que a revoluo dever enquadrarse paracontinuar a desenvolverse harmoniosamente, sem excesso de grandeschoques,partindodasgrandesconquistasjrealizadas.
A revoluo dos bolcheviques feita mais de ideologias do que defactos. (Por isso, no fundo, importanos pouco saber mais do que jsabemos).arevoluocontraOCapitaldeKarlMarx.OCapitaldeMarxera, na Rssia, mais o livro dos burgueses que dos proletrios. Era ademonstraocrticadanecessidade inevitvelquenaRssiase formasseuma burguesia, se iniciasse uma era capitalista, se instaurasse umacivilizao de tipo ocidental, antes que o proletariado pudesse sequerpensar na sua insurreio, nas suas reivindicaes de classe, na suarevoluo.Osfactosultrapassaramas ideologias.Osfactosrebentaramosesquemas crticos de acordo com os quais a histria da Rssia deviadesenrolarse segundo os cnones do materialismo histrico. Osbolcheviques renegamKarl Marx quando afirmam, com o testemunho daacoconcreta,dasconquistasalcanadas,queoscnonesdomaterialismohistriconosotofrreoscomosepoderiapensaresepensou.
No entanto hmesmo uma fatalidade nestes acontecimentos e se osbolcheviquesrenegamalgumasafirmaesdeOCapital,norenegamoseupensamento imanente, vivificador. Eles no so marxistas, tudo no
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retiraram das obras do Mestre uma doutrina exterior feita de afirmaesdogmticaseindiscutveis.Vivemopensamentomarxistaequenomorre,a continuao do pensamento idealista italiano e alemo e que secontaminou em Marx de incrustaes positivistas e naturalistas. E estepensamentocolocasemprecomofactormximodahistria,noosfactoseconmicos,inertes,masohomem,asociedadedoshomens,doshomensque se aproximam uns dos outros, se entendem entre si, desenvolvematravs destes contactos (civilizao) uma vontade social, colectiva, ecompreendem os factos econmicos, julgamnos e adequamnos suavontade,atelasetransformarnomotordaeconomia,naplasmadoradarealidade objectiva, que vive, se move e adquire carcter de matriatelricaemebulioquepodesercanalizadaparaondeavontadequiserecomoavontadequiser.
Marx previu o previsvel. No podia prever a guerra europia, oumelhor,nopodiapreverqueestaguerradurariaotempoqueduroueosefeitos que esta guerra teve. No podia prever que esta guerra, em trsanosdesofrimentoemisria indescritveis,suscitarianaRssiaavontadecolectiva popular que suscitou. Uma vontade deste tipo precisanormalmente,paraseformar,dumlongoprocessodeinfiltraescapilares,duma longa srie de experincias de classe.Os homens so preguiosos,precisam de se organizar, primeiro, exteriormente, em corporaes, emligas depois internamente, no pensamento, nas vontades (...)(3*) dumaincessante continuidade e multiplicidade de estmulos exteriores. Eis porque,normalmente, os cnones da crtica histrica domarxismo captamarealidade, colhemna e tornamna evidente, compreensvel.Normalmenteas duas classes domundo capitalista criam a histria atravs da luita declasses,cadavezmais intensa.Oproletariadosenteasuamisriaactual,estcontinuamenteemestadodedificuldadeepressionaaburguesiaparamelhorar as suas condies de existncia. Luita, obriga a burguesia amelhoraratcnicadaproduo,afazlamaistilparaquesejapossvelasatisfaodas suasnecessidadesmaisurgentes.umaapressadacorridapara o melhor, que acelera o ritmo de produo, que incrementacontinuamente a soma dos bens que serviro colectividade. E nestacorridacaemmuitos,tornandomaiscompulsrioodesejodosqueficaram.A massa est sempre em ebulio, e do caospovo surge sempre maisordemnopensamento, tornasemais cada vez consciente da suaprpriafora,dasuacapacidadeparaassumiraresponsabilidadesocial,paraserorbitrodoseuprpriodestino.
Istonormalmente.Quandoosfactosrepetemcomcertoritmo.Quandoahistriasedesenvolvepormomentoscadavezmaiscomplexosericosdesignificado e valor, mas em concluso, semelhantes. Mas, na Rssia aguerra serviu para despertar as vontades. Estas, atravs dos sofrimentos
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acumulados ao longo de trs anos, unificaramse com muita rapidez. Acarestia estava iminente, a fame, a morte de fame podia tocar a todos,esmagandodummomentopara o outromilhes dehomens.As vontadesunificaramse, mecanicamente primeiro, activamente, espiritualmente,depoisdaprimeirarevoluo.(4*)
As prdicas socialistas puseram o povo russo em contacto com asexperincias dos outros proletrios. A prdica socialista faz reviver numinstante, dramaticamente, a histria do proletariado, a sua luita contra ocapitalismo, a prolongada srie de esforos que tem de fazer para seemancipar idealmentedosvnculosdoservilismoqueo tornavamabjecto,para ser uma conscincia nova, testemunho actual do mundo futuro. Aprdica socialista criou a vontade social do povo russo. Porque deveriaesperaressepovoqueahistriadeInglaterraserepetissenaRssia,quenaRssiaseformasseumaburguesia,quesurgissealuitadeclassesparaquenascesseaconscinciadeclasseesedessefinalmenteacatstrofedomundocapitalista?Opovorussopassouporestasmagnficasexperinciascom o pensamento, embora polo pensamento dumaminoria. Ultrapassouestas experincias. Servese delas para se afirmar, como se servir dasexperincias capitalistas ocidentais para se pr rapidamente altura daproduodomundoocidental.AAmricadoNorte,sobopontodevistacapitalista,maisevoludadoqueaInglaterra,porquenaAmricadoNorteos anglosaxes comearam imediatamente no estdio a que a Inglaterrachegara depois duma longa evoluo. O proletariado russo, educadosocialisticamentecomearasuahistrianoestdiomximodeproduoaquechegouaInglaterradehoje,porquetendodecomear,floapartirdaperfeiojatingidanoutroslados,edessaperfeioreceberoimpulsopara atingir a maturidade econmica que, segundo Marx, condionecessriadocolectivismo.Foramrevolucionriosquecriaramascondiesnecessriasparaa realizaocompleta eplena do seu ideal. Criaramnasemmenostempodequeoteriafeitoocapitalismo.
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Ascrticasqueossocialistastmfeitoefaroaosistemaburgus,parapr em evidncia as imperfeies, o esbanjamento de riquezas, serviramaosrevolucionriosparafazermelhor,paraevitaresseesbanjamento,parano carem naquelas deficincias. Ser em princpio o colectivismo damisria, do sofrimento. Mas as mesmas condies de misria e desofrimentoseriamherdadasdumregimeburgus.
Ocapitalismonopoderia fazer jamais imediatamentenaRssiamaisdoquepoder fazerocolectivismo.Fariahojemuitomenos,porque teriaimediatamente contra ele um proletariado descontente, frentico, incapaz
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Incluso 01/10/2007
desuportarpormaistempoeparaoutrosasdoreseasamargurasqueomalestar econmico traz consigo. Mesmo dum ponto de vista absoluto,humano, o socialismo imediato tem na Rssia a sua justificao. Ossofrimentos que viro aps a paz s podero ser suportados se osproletrios sentirem que est na sua vontade e na sua tenacidade polotrabalhoomeiodeosuprimirnomenorespaodetempopossvel.
Temse a impresso que os maximalistas so neste momento aexpressoespontnea,biologicamentenecessria,paraqueahumanidaderussa no caia no abismo, para que, entregandose completamente aotrabalho gigantesco, autnomo, da sua prpria regenerao, possa sermenos solicitada polos estmulos do lobo esfameado de modo a que aRssia no venhaa ser umaenorme carnificina de feras que se devoramumassoutras.
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Notas:
(1*) Assinado Antnio Gramsci, Avanti, edio milanesa, 24 de Novembro de 1917 foireproduzidopor IlGridodel Popolo em5deNovembrode1918, comanota:A censuratorinesajumavezmutiloucompletamenteesteartigoemIlGrido.ReproduzimoloagoradoAvanti,passandopolocrivodascensurasdeMiloeRoma.(retornaraotexto)
(2*)Destaformaeramchamados,naaltura,oscomunistas.(retornaraotexto)
(3*)Lacunanotexto.(retornaraotexto)
(4*)ArevoluodeFevereiro(Maro)de1917.(retornaraotexto)
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