ISBN
978
-954
-07-
3731
-7
Цена 15 лв.
EDITORA UNIVERSITÁRIA SVETI KLIMENT OHRIDSKI
HORIZONTES DO
SABER FILOLÓGICO
20 anosde Licenciatura
em Filologia Portuguesana Universidade de Sófia Sveti Kliment Ohridski
�
HO
RIZO
NTE
S DO
SABE
R FILO
LÓG
ICO
HORIZONTES DO SABER FILOLÓGICO
20 anos de Licenciatura em Filologia Portuguesana Universidade de Sófia Sveti Kliment Ohridski
Editora Universitária Sveti Kliment OhridskiSófia • 2014
HORIZONTES DO SABER
FILOLÓGICO
20 anos de Licenciatura em Filologia Portuguesana Universidade de Sófia Sveti Kliment Ohridski
Yana Andreeva(Coordenação)
© 2014ЯнаАндреева,ДонкаМангачева, ВераКиркова,съставители© 2014Университетскоиздателство„Св.КлиментОхридски“
ISBN 978-954-07-3731-7
5
Índice
Nota de apresentação ...................................................................................... 9Yana Andreeva
Conferências plenárias
A paleta que lê:PaulaRegoeosclássicosoitocentistas(Herculano,Camilo,Eça) ........ 13
IsabelPiresdeLima
OensinodoPortuguêscomoLínguaEstrangeira(PLE):desafios, tendênciascontemporâneasepolíticasinstitucionais .............................. 33
EdleiseMendes
Linguística
Dacriaçãoneológica(eoutrosfenómenoslinguísticos) no pós-25 de Abril de ’74 ........................................................................... 49
Henrique Barroso
FormasdetratamentoemPortuguêsediscursotelevisivo: usos de você ................................................................................................... 62
MariaAldinaMarques
“Osstilettosãoummust have”–análisedalinguagem contemporâneadamoda .............................................................................. 74
EdytaJablonka
Perífrasesverbais comvaloraspectualingressivo–iminente................ 86JaroslavaJindrová
Quandoéagramáticaqueengana:equívocos naclassificaçãotempo-aspetualdoverboemPortuguês ......................... 95
JoséTeixeira
6
Configuraçãodasrelaçõestemporaisnossubsistemasda subjectividade e da não subjectividade do verbo português .................. 107
Vesela Chergova
AsformasdoconjuntivonaexpressãodaconsequêncianasLínguasPortuguesaeEspanhola ........................................................ 118
NataliaCzopek,AndrzejZieliński
Aproblemáticadoartigoemsintagmaspreposicionais complementoemodificadoresdenome................................................... 131
JoaquimCoelhoRamos
Acríticacontraaspressuposiçõesdoatodiretivo .................................. 146DonkaMangatcheva
Duas peculiaridades tipológicas do Português ........................................ 155IldikóSzijj
OverboauxiliartenereemPortuguêsenasLínguasRomânicas.... 165JanHricsina
DeRumillyaIrecê.Ocaminhodosempréstimosfrancesesaté ao Português do Brasil .......................................................................... 174
NadejdaSimeonova,LizianeReis
AsdificuldadesnatraduçãodetextosemLínguasEslavas paraaLínguaPortuguesa ........................................................................... 181
Priscila Quintana
Метафораилексикализация.Наблюдениявърхуглаголи задвижениевъвфренскияибългарскияезик .................................... 191
СилвияБотева Предложнотодопълнениевсъвременнияиспанскиезик ............... 202
МиленаПопова
Отношениетокъмдругите,отразеновиспанскитеи българскитефразеологичниединици,съдържащиетноними. Съпоставителенанализ ............................................................................ 210
БорянаКючукова-Петринска
7
Социолингвистичниаспектинакатегориятавежливост ................220АдрианаМиткова
Влияниетонапортугалскияезиквърху естремадурскиядиалект .......................................................................... 228
МиленаМаринкова
Номиналнатадетерминация всветлинатанаречепроизводството .................................................... 231
НиколаКръстев
Literatura e Cultura
“Havia”e“havia”e...Sobreamicro-literaturadeJoanaBértholo ..... 243SérgioGuimarãesdeSousa
AescritavigilantedeJoséCardosoPires ................................................. 255IzabelMargato
AsfacesdoduploemRio Turvo de Branquinho da Fonseca ................ 262SilvieŠpánková
A função do lar no Diário deMiguelTorga ............................................ 273LenkaKroupová
Identidadesmigrantes emGente Feliz com LágrimasdeJoãodeMelo ..................................... 283
Yana Andreeva
Umhorizonteantropológicodosaberfilológico: porumapoéticadamemóriana Literatura Brasileira ............................ 291
GabrielBorowski
Projectosliteráriosemdiálogo:GuimarãesRosaeMiaCouto............ 301Petar Petrov
“Sim,soueuamoçajudia.”Ocorporecuperado–arepresentação dapolacananarrativadeMoacyrScliarO ciclo das águas .................. 309
AnnaWolny
8
Documentosdenavegaçãomarítimaqueservemdebasepara pesquisasfilológicas:Diário da navegação de Pero Lopes de Sousanaconstruçãodaimagemdoindígenabrasileiro ........................ 321
VeraKirkova
UmanoçãodecurrículoocultoapartirdeTomazTadeudaSilva:contributosfoucauldianosparaoensinodeEstudosCulturais............. 328
Francisco Nazareth
Латинскатаepistula heroicaиПисма на Ехо и НарциснаАнтониуФелисианудеКащилю ...................................................... 339
ЕлияМаринова
Ироничниятпогледна ЖилВисентев „Аутозалодкатанарая“ ... 347РадославаКирилова
Пледоариязамеждукултурноторазбирателство. Занякоиаспективтворчествотонаавстрийскатаписателка БарбараФришмут ..................................................................................... 356
МайаРазбойникова-Фратева
ЛатинскитефразивтекстоветенаMoonspell ..................................... 366ВиолетаГерджикова
„Чистилище”,ХХVІпесен:замайсторитенапоетичнотословоизачитателите........................ 375
ДаниелаЯнева
Бягствоилитвърдение:дваподходакъмлудосттавкраткатапрозанаМарияТерезаОрта ............................................... 383
ИлиянаЧалъкова
9
NOTA DE APRESENTAÇÃO
Nestevolumeeditam-seostextosapresentadosedebatidosnoColóquioIn-ternacional Horizontes do Saber Filológico que decorreu nos dias 16 e 17 de novembrode2012naUniversidadedeSófiaSvetiKlimentOhridski.OencontrofoiorganizadopeloDepartamentodeEstudosIbero-AmericanosparaassinalarovigésimoaniversáriodainstituiçãodalicenciaturaemFilologiaPortuguesa,pri-meirocursodeensinosuperiordeEstudosLusófonosnaBulgária,econgregounaUniversidadedeSófiacercade40estudiosaseestudiososde17universidadesecentrosdeinvestigaçãodaEuropaedoBrasil.
Osartigosaquireunidospropõemumconjuntodereflexõesque,cruzandoinovadoramente as fronteiras disciplinares tradicionais e expandindo assim osâmbitosepossibilidadesdosaber,ilustramumavariedadedeproblemasteóricosepráticosvinculadosàsáreasdeestudodaLinguística,daLiteraturaedaCultura,emqueseinscreveramaslinhastemáticasdocolóquio.Nacompilaçãodostextosporáreasenasuaorganizaçãonovolumepretendeu-sereproduzirassequênciastemáticasdassessõesdetrabalhodocolóquio.
Fiqueaquiaexpressãodanossagratidãoàsentidadesqueapoiaramarea-lização do Colóquio Internacional Horizontes do Saber Filológico: o Fundo de InvestigaçãoCientíficadaFaculdadedeLetrasClássicaseModernasdaUniver-sidadedeSófiaSvetiKlimentOhridski,asEmbaixadasdaRepúblicaFederativadoBrasiledaRepúblicaPortuguesaemSófiaeoCamões–InstitutodaCoope-raçãoedaLíngua,I.P.
Asúltimaseprincipaispalavrasdeagradecimentodirijo-as,emnomedosdocentesealunosdaFilologiaPortuguesa,aoscolaboradoresnestevolumequecomsuapresençanaUniversidadedeSófiaemnovembrode2012contribuíramparaoalargamentodoespaçodedifusãoefluxodeconhecimentosentreonossocentrodeensinoeinvestigaçãoeacomunidadeinternacionaldosEstudosLu-sófonos,permitindo-nosavançarmaisumpasso rumoaoshorizontesdosaberfilológico.
Yana Andreeva
49
DA CRIAÇÃO NEOLÓGICA (E OUTROS FENÓMENOS LINGUÍSTICOS) NO PÓS-25 DE ABRIL DE ‘74
Henrique BarrosoUniversidadedoMinho
The25April‘74asafactorinlinguisticchange,manifestedmainlyinthelexiconandmorphology,but also, however with lower incidence in phonological and semantic components (and onlyresidually,inthesyntactic)oftheEuropeanPortuguesegrammarinthelastthreeandahalfdecades.
PALAVRAS-CHAVE:neologismosestilísticos;empréstimos;processosmorfológicosdeformaçãodepalavras;processosnãomorfológicosdeformaçãodepalavras;línguaportuguesa.
Perdoai-me, meus queridos tetranetos, este rol de exemplos com que vos chatiarizei (esta é minha). Se vos cadeirastes para me ler mais comodamente, ide voltear pedestricamente pelo vosso bairro ou apenasmente tomar ar.
RómulodeCarvalho(2010),Memórias,p.370
Introdução
ARevoluçãodosCravos, que eclodiunodia25de abril de1974, trouxeconsigoaliberdade.Esta,porsuavez,comoénatural,umsem-númerodetrans-formaçõessociais,entreasquaisseencontram–deformabemdestacada–asocorridasnalinguagem.Comefeito,amanifestaçãodaliberdadedeexpressãonalinguagem(tantofaladaquantoescrita)verifica-sepraticamenteemtodasascomponentesdagramáticadoportuguês(aúnicaexceçãopareceserasintaxe).Porém,ondeéabsolutamentenotóriaéanívelmorfolexical(léxicoemorfolo-gia): criaram-se centenas e centenas deneologismosque, ao contrário doqueseria expectável (representarem linguisticamente realidadese/ouconceitosno-vos),serviamquaseexclusivamenteparaacentuaraliberdadedeexpressãoquehaviasidoconquistada.Taiscriaçõesneológicas,sobretudoporseremesmaga-doramenteexpressivase,ainda,porcoexistiremcomoutrositenslexicaisjádis-poníveisemportuguês,parecemestranhas.Noentanto,comoseobservará,sãoprodutos geralmente bem formados, documentandoquer processosmorfológi-cosdeformaçãodepalavras(algunsexemplos:desejabilidade,acontecimentar,
50
afastativas, apenasmente, inespecialidade, não-vale-apenismo, porta-vozeava)quernãomorfológicos(tambémalgunsexemplos:massivo;Silva’s;Apple Bar;Number One;Woman;Ivos Hamburger House;Beauty Shop;slide,slips),todosaoperaremjánagramáticadoportuguês.
Tudoistoserácabalmentedocumentadocomaanálisedeumarecolhaefe-tuadaporRómulodeCarvalho(nomeverdadeirodopseudónimoliterárioAntó-nioGedeão),queseencontraemMemórias(umaespéciedebiografiadoautor,escritapelopróprio,massópublicadaemnovembrode2010),opontodepartidaparaestareflexão.
1. Do corpus e enquadramento teórico-descritivo
O corpus(queédaresponsabilidadedeRómulodeCarvalho,comoacabeide referir) é constituídopor 172 frases truncadas, recolhidasmaioritariamenteno Diário de Notícias,maspodiamler-see/ououvir-seemtodaacomunicaçãosocial(jornais,rádiosetelevisões),edeautoriamuitodiversificada:jornalistas,mastambémprofessores,escritores,artistasepolíticos.Destas172,153sãocon-templadasnesteensaio.Paraalémdisso,tambémobjetodeatençãonesteestudo,juntam-seváriasoutrasfrasesepalavrasinsertasnocorpodotextoemquestãoe,ainda,umrolconsideravelmenteextensodenomesdeestabelecimentosrecolhi-dosnalistatelefónica.
ApresentereflexãotemcomomarcodereferênciateóricoostrabalhosdeAronoff&Fudeman(2011)esobretudoBooij(2012)e,emtermosdedescriçãodoportuguês,vai/estánaesteiradostrabalhosdeBasílio(1989),Correia(2004),Correia&Lemos(2005),Rio-Torto(1998),Vilela(1994)eVillalva(2000,2008,2009).
2. Análise do corpus
Aliberdadetrazidapelarevoluçãopermitiuquequalquerum(i)seexpres-sassedaformaquemelhorlheconviesse,(ii)“inventasse”aspalavrasqueen-tendesse e (iii) “corrompesse”, por gosto próprio e/oudesconhecimento, as jáexistentes.Émais oumenos istooqueRómulodeCarvalho (2010: 365)nosreporta.Ouçamo-lo,pois:
[…].Transportadoistoparaalinguagemsignificaquecadaumsepodeexprimirconformelheapetecer,podeinventaraspalavrasquequiser,podecorromperaseugostoasquejáexistem.Eninguémtemnadacomisso,nemninguémselhe
51
opõe.Seeuchegaracasaemesentarnumacadeirapossodizerquechegueiacasaemecadeirei.Osoutrosouvemoulêeme,segostam,repetem,eoverbocadeirarentranodicionário.
Noqueàformacomocadaumsepodeexprimir,hádoisaspetosquemere-cemespecialdestaque.Oprimeirotemavercomasformasdetratamento,con-cretamente:ainadequaçãonousoquerdasformasderespeitooumaiordistancia-mento(o Senhor)quernasdetratamentomaisfamiliaroumenordistanciamento(você).Osegundoprende-secomorecursocrescenteatermose/ouexpressõesoriundosdelinguagensespeciais,sobretudodocalão(“termosporcos”,naspala-vrasdeRómulodeCarvalho).
Quantoà“invenção”depalavraseà“corrupção”das jáexistentes, tratar--se-á,demodoseparadoecommaiordetalhe,nosparágrafosqueseseguem.Odetalheseráparticularmenteacentuadonoquerespeitaaoaspetodacriaçãoneo-lógica,otemanucleardestacomunicação,porserdeverasofenómenolinguísticomaismarcanteentreasalteraçõesdalinguagemdesencadeadaspelo25deAbrilde1974.
Umavezquesetratadeinovaçãolexical,asfrasesdocorpussócompreen-demitenslexicaispertencentesàsquatroclassesdepalavrasquesecaracterizampelamanifestaçãodesignificadolexical/objetivoequesão,poressarazão,clas-sesabertas,asaber:nomes,adjetivos,verboseadvérbios.Vejamos,pois,oquesepassa.
2.1. Criações neológicas pós-25 de Abril pouco ou nada correntes
Comecemospelosnomes,atentandonosrespetivosprocessosdeformação:i.Casosdenominalizaçãodeverbal,ouseja,nomescriadospelaassociação
desufixos,porumlado,aradicais verbais1,comoem(1)a(3),
(1)“brincalhismo”(2)“Objectivosparaumconsumerismomoderno”.[variantedeconsum-](3)“resultandonumgloriosoentreguismodeinstituiçõesfundamentaisdademocracia”
e,poroutro,atemasverbaisdo‘infinitivo’,comoem(4)e(5),
1AscategoriasmorfológicasRadical,Tema e Palavra,queossufixosderivacionaisselecio-nam,estãoassinaladasa negrito;porseuturno,ascategoriassintáticasVerbo,Nome,Adjetivo,Ad-vérbio,sobrequeoperamestesúltimos,emtiponormal(verbais,nominais,adjetivais,adverbiais).Estaobservaçãoé,naturalmente,extensívelaocorpus,massóemrelaçãoàsprimeiraspara,assim,asdistinguirdossufixosderivacionais.
52
(4)“Totolotodivididoportrêsacertantes.”[deacertar < certo](5)“Foi-se,eosficantesvão-lhevenderaspaixões.”
do‘passado’,comoem(6)a(24),
(6)“Litoralalentejanoemriscodealgarvização”[dealgarvizar < Algarve](7)“oatingimentodolimiar”(8)“Acrescentebancarização”[debancarizar < bancário < banco](9)“personalizaçãoecentraçãodapropagandaeleitoral[decentrar < centro](10)“emprimeirolugarporumademonização”.[dedemonizar < demónio](11)“enfrentamentodacatástrofe”.[deenfrentar < frente](12)“Compreende-seadificuldadedasuahorarização.”[dehorarizar < horário < hora](13)“Eaindaumaameaçadelunarização.”[delunarizar < lunar < lua](14)“têmcontribuídoparaamesmificaçãodoprograma.”[demesmificar < mesmo](15)“prende-secomaparoquializaçãodavidapolítica”.[deparoquializar < paroquial < paróquia](16)“optar-se-ia,porexemplo,pelapedestrianizaçãodoLargodaAnunciada.”[depedestria-nizar<doing.pedestrian](17)“premiações”[depremiar < prémio](18)“ApriorizaçãodaInformação”.[depriorizar<dolat.prior](19)“nãohaveráqualquerpunimento”.(20)“Inscrevem-senotalralentamentoderaciocínio.”[doital.ralentare](21)“Aretomaçãododiscursosobreocelibato”.[deretomar < retoma](22)“belateciduraarquitectónica.”[detecer;talvezportecedura](23)“entreoterapeutaeoterapeutizado”.[terapeutizar < terapeuta;casodeconversão](24)“Issoimplicatrabalhamentosdoidioma”[detrabalhar < trabalho]
e,ainda,do‘presente’,comoem(25),
(25)“novosângulosdeinformação,reflexãoeutência”[dolat.uti;cf.utente]
Noquerespeitaàcategorizaçãomorfossemântica,(4)e(5)são‘nomes-sujei-to’eosdemais,(1)a(3)ede(6)a(25),‘nomesdeação/resultadodeumaação’.
ii.Casosdenominalizaçãodeadjetivalounomesformadospelaassociaçãodesufixosaradicaisadjetivais,comoem(26)a(37),
(26)“Asimplicidadeeabsoluteidadedaconcepçãoegípcia”[variantedeabsolut-](27)“anãoacidentalidadedestesacontecimentos”(28)“lamentosaatitudedocoitadinhismonacional.”[decoitadinho <coitado](29)“manchadedanosidadesocial”[dedanoso < dano](30)“adiscussãosobreadesejabilidadedeumapolítica”[variantededesejável](31)“sãoinevitáveisasfacultatividades”[defacultativo < facultar](32)“julgoserum futuríveldamúsica”. [casodeconversão(oquebastaparaaquieparaagora).Umaoutraexplicaçãoterá,porém,deserprocurada.](33)“querexibi-lacomvorazimediatidade”.(34)“Umprogramadetelevisão“realizadocomalgumasinediticidadesformais”.(35)“certainermidade perante a intervenção do provedor”
53
(36)“Omalcriadismopolítico”.(37)“puderamusufruirplenamentedasuamaritimidadeparasedesenvolverem.”[demarí-timo < mar]
Quantoàtipologiamorfossemânticatemos,comoeraexpectável,opredo-míniode‘nomesdequalidadefemininos’((26),(27),(29)a(31),(33)a(35)e(37))eainda,masmenospredominantemente,‘nomesdequalidademasculinos’((28)e(36)).
iii.Casosdenominalizaçãodenominalounomesformadospelaassociaçãodesufixosaradicaisnominais,comoem(38)a(41),
(38)“critériosdedecisionismoracionalista”.[variantededecisão < decidir](39)“pecatalvezporexcessodejustificacionismo”.[variantedejustificação < justificar](40)“Desdeaafinaçãopelobomserismo,atéàglosa,”(41)“Tarrafalisfaslembramcamaradasmortos.”[deTarrafal,topónimo]
Os tiposmorfossemânticosdocumentados são ‘nomes relacionais’ ((38)a(40))e‘nomes-sujeito’((41)).
Passemosaosadjetivos,eoperandodomesmomodo,ouseja,tendoigual-menteematençãoosseusprocessosformativos:
i.Casosdeadjetivalização deverbal,istoé,adjetivoscriadospelaassociaçãodesufixos,tantoaradicaisverbais(deocorrênciarara,enãodocumentadosnocorpus)quanto,sobretudo,atemas verbais (todas as ocorrências do corpus)de‘infinitivo’,de interpretação tipicamenteativa (Villalva,2008:124), comoem(42)a(54),
(42)“pormenorizaçõestécnicasafastativas do interesse”(43)“asproporçõesatazanantes”(44)“mensagematerrantedooutromundo”.(45)“desejantedefuturosdias”.(46)“umadesvairantevisitadosjornalistas”.(47)“discutente”(48)“Seriadolorosoeenvergonhante”(49)“astempestadesdeumsonhoequanimizador”.[deequanimizar < equânime](50)“ascausasescusantesdaspenas”.(51)“podiamnãousarestratagemastãofracativos”[talvezde(a)fraca(r)](52)“dosquaisserecordamosgargalhantes erros de tradução”(53)“eraumhomemrealizativo”(54)“quesefizerarequeimanteosoldatarde”[derequeimar < queimar]
ede‘passado’,destafeita,deinterpretaçãotipicamentepassiva(Villalva,2008:124),comoem(55)a(69),
(55)“umpaísserátantomaisameaçável”
54
(56)“economicizado”[deeconomicizar < económico](57)“mulherfrágil,vulnerável,enganável”.(58)“provocaçãoenvelopadadeingenuidade”.[deenvelopar < envelope](59)“numaleiturapontuada,virgulada,estanquecizada.”[deestanquecizar < estanque](60)“umaintervençãoinaligável”.[de?](61)“ocorpodabonecainflável”.(62)“Pegaránaflautamarfinada”[demarfinar < marfim](63)“agrupamento[teatral]talvezmaismaturado”.(64)“semdinheiroobtíveldeumfundoqualquer”(65)“Sóseráperfilávelapósaseleiçõesautárquicas”[deperfilar < perfil](66)“Otremendoprazerdetocar[...]nãoésimulável”.(67)“tesesumarizadanoartigoquesesegue.”[desumarizar < sumário](68)“Osactoresjáestãotarimbados”[detarimbar < tarimba](69)[...]“poetatravestizadodecronistamundano”.[detravestizar < travesti]
ii.Casosdeadjetivalizaçãodenominalouadjetivosformadospelaassocia-çãodesufixosaradicaisnominais,comoem(70)a(89),
(70)“nãoomanternumasituaçãoasilar.”[deasilo](71)“Oseudiscursobonómico”[debonomia](72)“aluzcitrinosa”[decitrino](73)“foiumdiaclaridoso”[declaridade](74)“apanópliadepetrechoscocinais”[decocina por cozinha(?)](75)“comadrístico”[decomadre](76)“programasinfantismaisoumenosconcursísticos”[deconcurso](77)“modelomeramentecrescimentista”[decrescimento < crescer](78)“Sãomenosdoloristasdoquenós.”[dolat.dolor](79)“horáriodomingal”.[dedomingo](80)“maisdoqueumrelevoefemeredístico”[deefeméride](81)“Lisboaimaginal”[deimagem](82)“seguindooexemploliquidacionista”[variantedeliquidação](83)“avontadenacionalitáriadosSérviosedosCroatas.”[dolat.nationalita(s)?](84)“éprazerosoconversarcomoescritor.”[deprazer](85)“emissão[televisiva]satelital”[desatélite](86)“aCiênciatornou-seficcionalesimulacral”[desimulacro](87)“osseusvaloressocietais”.[dolat.societa(s)?](88)“insondáveisevaticanescasespiraisderetórica”.[deVaticano](89)“adaptartodoumespaçovélicoàmelhorrotaevento”[devela]
Morfossemanticamente,estamosnapresençade‘adjetivosrelacionais’,umaclassificaçãoquecompreendeumvastolequederelações(percorra-seocorpus,de(70)a(89),paraoconfirmarimediataeinequivocamente).
iii.Casosdeadjetivalização deadjetival ou adjetivos criados pela concatena-çãodesufixoscomradicaisadjetivais,comoem(90)a(92),
55
(90)“resultadodeumamentalidadeadversarial”.(91)“espéciedeterritórioíntimoeperegrinal.”(92)“ocenáriotremendista da instabilidade”
Trata-sedeumprocessoconsideravelmentemarginal.Antesdemais,porqueossufixosdisponíveis(-al e -ista)sãoosformadorestípicosdeadjetivosdenomi-nais.Depois,porqueoganhosemânticoépraticamentenuloemrelaçãoàbase.2
Continuemos,comosverbos,eàsemelhançadoquesefezparaascategoriassintáticasjátratadas(nomeseadjetivos):
i.Casosdeverbalizaçãodenominal,ouseja,verbosproduzidospelaassocia-çãodesufixosaradicaisnominais,comoem(93)a(113),
(93)“acontecimentarosfactos”[deacontecimento < acontecer](94)“Equeanedotaràsuavolta,”[deanedota](95)“Caboverdiando”[deCabo Verde,top.](96)“Chacotizar”[dechacota](97)“quaseumacentenadeartistasciceroneavam”[decicerone](98)“supunha-sequeanódoapudessesair semqueo fatoeodonodo fato tivessemquecolapsar”[decolapso](99)“vãoco-autorarumasériedetelevisão”.[deco-autor](100)“pôrosmaisnovitosaconcursar”[deconcurso](101)“Nãoépossívelconsensaracirculaçãodeinformaçãocomumregimetotalitário.”[deconsenso](102)“Jácompletamenteseguroquenãodemenciou[...]maisdoquevulgar”[...].[dede-mência](103)“aindahápoucosmesesdiabolizavamomultipartidarismo”.[dolat.diabolus](104)“duelar”[deduelo](105)“garantizar”[degarante](106)“háumcentroamaniganciarcoisas”[demanigância](107)“intentaránovelizar-nosocasodeamor”.[denovela](108)“periplandopeloNorte,MinhoepelaBeiraAlta”.[depériplo]
2Compare-se,porexemplo,adversarialcomadversário,peregrinalcomperegrino e tremen-distacomtremendo.Qualadiferença?
Jáagora,porquevemapropósito,vouexplicitaroquemencioneinaIntroduçãosobreacoe-xistênciadeitenslexicais(osjáexistenteseoscriadosnopós-25deAbrilde’74).Ouseja:porformaapodervisualizar-seaexpressividade(e,porconsequência,tambémalgumaestranheza)depraticamentetodasascriaçõesneológicasocorridasapósaRevoluçãodosCravos,apresenta-sedeseguidaumalista-confrontomeramenteilustrativa(incompleta,portanto)porcategoriassintáticas(doladoesquerdo,emtiponormal,apalavrajádisponívelemportuguêse,doladodireito,em itáli-co,acriaçãoneológicacorrespondente):NOMES:consumo/consumerismo,horário/horarização,prioridade/priorização,punição/punimento,trabalho/trabalhamento,brincadeira/brincalhismo,dano/ danosidade, desejo/ desejabilidade, ineditismo/ inediticidade, má-criação/malcriadismo;ADJETIVOS:desejoso/desejante,estanque/estanquecizada,sumariada/sumarizada,claro/clari-doso,dominical/domingal;VERBOS:concorrer/concursar,envelhecer/velhecer,endireitar/en-direitarizar;ADVÉRBIOS:devagar/devagarosamente,apenas/apenasmente.
56
(109)“porta-vozeava”[deporta-voz](110)“Talvez[...]precisede,urgentemente,reviravoltaroprograma”.[dereviravolta](111)“ainformaçãorotiniza-se”[derotina](112)“Parasequenciaracarreiradosautores”[desequência](113)“osnórdicosqueporaquiandamturistando”[deturista]
ii.Casosdeverbalização deadjetival ou verbos criados por associação de sufixosaradicaisadjetivais,comoem(114)a(122),
(114)“enormizar”[deenorme](115)“Aactuaçãode”[fulano]“impertinizandoomédico”[deimpertin(ente)](116)“Oprimeiro-ministroimportantizouasituação”.[deimportante](117)“aDirecçãoGeraldoEnsinoSecundáriocontinuou[...]alicealizaro10.º,o11.ºeo12.ºanosdeescolaridade.”[deliceal](118)“terádesejosdeseoriginalizar”[deoriginal](119)“tudosepassionalizou”[depassional](120)“Foiháumaeternidade,depoisomundopequenou.”[depequeno](121)“velhecendocomoestátuas”.[develho](122)“Europeusvoluntarizam-separaaforçanorte-americana.”[devoluntário]
iii.Casosdeverbalização deverbalouverbosformadospelaassociaçãodesufixosaradicaisverbais,comoem(123),
(123)“AEspanhaestá-seaendireitarizar”.[deendireitar < direito]
Trata-sedeumprocessodemuitobaixaprodutividadeemportuguês.Eterminemos,comosadvérbios,procedendoprecisamentecomoatéaqui:i.Casosdeadverbialização deadjetival,istoé,advérbiosformadospelaas-
sociaçãodosufixo-menteaumadjetivo(umapalavra,portanto),maisprecisa-mente:ouàformafemininadeste,comoem(124)e(126)a(129),ouàformainvariável(génerosubespecificado),comoem(125),
(124)“corsariamente”[fem.decorsário](125)“comoédesarmantementesimplesaresposta”.[invariável](126)“Retemos,(de)vagarosamente,asaltascúpulas.”[fem.de(de)vagaroso](127)“horariamentefalando”[fem.dehorário](128)“letristicamente”[fem.deletrístico](129)“seguidisticamenteapoiados”[fem.deseguidístico]
ii.Casosdeadverbializaçãodenominal ou advérbios criados pela associação dosufixo-menteaumnome(umapalavra),comoem(130),
(130)“apresentanoitamentetrêsespectáculos”[denoite.Aqui,porém,noita.Estaformatal-
57
vezseexpliqueporanalogiacomoprocessoregulardeformaradvérbiosem-mente,comoseviunoparágrafoprecedente]
iii.Casosdeadverbialização deadverbial ou advérbios produzidos pela asso-ciaçãodosufixo-menteaumadvérbio(umapalavra),comoem(131),
(131)“serefereúnicaeapenasmenteaoauto-elogio”.
Estesdoisúltimosprocessos,pornãoseremtípicosdagramáticadoportu-guêsdaatualidade,ajudamsobremaneiraapercebereexplicaraexpressividade(e,emparte,aestranheza)dosprodutosassimformados.
Vimos,atéagora,oscasosqueexibem‘estruturasdesufixação’,quesãoosmaisdocumentados.Jádeseguida,vamosconsideraroutros,menosdocumen-tados,começandopelosquemanifestam‘estruturasdemodificaçãomorfológi-ca’,realizadanocorpusexclusivamentepor‘prefixação’.Porquesetratadeumprocessomorfológicoquenãoalteraacategoriasintáticadabase,temosapenascasos de nominalizaçãodenominal,comoem(132)a(137),adjetivalização dead-jetival,comoem(138)a(146)everbalização deverbal,comoem(147)e(148).
(132)“ajudouacriarumclimadedescrispação”.(133)“essafímbriasedosadodeslimite”(134)“desretratação”(135)“nempodiadeixardeserarazãodoimpoder”(136)“inespecialidade”(137)“paraareconfecção deputadora”(138)“Condutordesencartadoatropeloumenorefugiu.”(139)“umdesfatiganteachadopoético.”(140)“obolsodesfornido”(141)“noplásticobamboedesviçoso”(142)“amulherpodeserfrancamenteingrávida”.(143)“Odilemapareceintorneável”(144)“Lisboanãotemcolinasintrepáveis”(145)“Livrosinvendidos”(146)“Istoé,invendável”.(147)“osportuguesestêmodefeitodese auto-pequenar.”(148)“admitiramahipótesedese desfiliar[dospartidospolíticos].
A‘negação’(des- e in-/im-têmessafunção)éotipomorfossemânticoquepredomina:em(132)a(136)e(138)a(146).Paraalémdeste,estãodocumenta-dosmaistrês,comumaocorrênciacada,asaber:‘repetição’,re-,em(137);‘simesmo’,auto-,em(147);e‘oposição’,des-,em(148).
Porfim,menosdocumentadosainda,oscasosqueostentam‘estruturasdecomposiçãomorfológicaemorfossintática’.Aprimeira(‘composiçãomorfoló-
58
gica’),quesecaracterizaporconcatenardoisoumaisradicais,predominantemasnãoexclusivamenteneoclássicos(gregoselatinos),encontra-seem(149)e(150).
(149)[…]“comoqueumaingredienci(o)logia”[…](150)[…]“cidadesondesósereferemconspirações,magn(i)cídios,divisões,revoltas,”[…]
Porseuturno,a‘composiçãomorfossintática’,queconsistenaconcatenaçãodeduasoumaispalavras, estápresente em (151),que ilustraum item lexicalproduzidopor reanálise deuma estrutura sintática:não-vale-apenismo < “nãovale(r)apena”.
(151)[…]“umnão-vale-apenismodeprimido.”
Em(152)e(153),temosaquiloaquetalvezsepudessechamar‘estruturasmorfológicashíbridas’,poisnemsãocompostosmorfológicosnemmorfossintá-ticosnem,ainda,palavraslexicalizadas,masparecempartilharpropriedadesdastrêsestruturas.Concretizemos:(i)formaram-seàimagemesemelhançade,res-petivamente,cabisbaixa e quotidiana;(ii)gordo e no(c)turnosãoitenslexicaisdoportuguês,masnão*cabisnem*quoti;e(iii)cabisgorda e quotino(c)turna significam,respetivamente,‘cabeçagorda’e‘detodasasnoites’.Eis,maisumavez,amanifestaçãoinequívocadaexpressividade(eestranheza)destascriaçõesneológicas.
(152)“Quandoseaproxima,cabisgorda,umacadela.”(153)“Poesiaàsvezesjornalística,quotidianaequotinocturna,”[…].
Comoacabadesever,estamos,compouquíssimasexceções,diantedacria-çãoneológicadetipoestilístico(nãodenominativo)porquesetratadeitenslexi-caisquecorrespondem,naspalavrasdeCorreia&Lemos(2005:13),«àprocuradeumamaiorexpressividadedodiscurso,paratraduzirideiasnãooriginaisdeumamaneiranova,ouparaexprimirdemodoinéditocertavisãodomundo.»
Aindasegundoasautoras,estesneologismos,ditos‘estilísticos’,têmexis-tênciaprimeiraaoníveldodiscurso;sãogeralmenteformaçõesefémeras;sómui-toraramenteéqueentramnosistemadalíngua,ouseja,sãounidadeslexicaisquetendemadesaparecerrapidamente;eocorremcomconsiderávelfrequêncianodiscursohumorístico, jornalístico,bemcomoaindanacrónicapolíticaque,suponho,sãonasuaesmagadoramaioriaasfontesdequeseserviuRómulodeCarvalho.
59
2.2. Criações neológicas pós-25 de Abril que já se tornaram correntes
Vamosproceder,nestasecção,aoalinhamentodeduasparticularidadesquefazemjusaoseutítulo.Aprimeiradizrespeitoacasosde‘empréstimos’adap-tados cempor cento à gramática do português.Comefeito, estão nesta situa-ção,entreoutros,implementar e implementação(verboenomequesignificam‘criar’/‘realizar’ e ‘criação’/‘realização’), do inglês, como em (154);massivo (emvezde‘maciço’),muitoprovavelmenteporinfluênciadofrancês,em(155);desa(c)tivado,paraindicarque‘nãofunciona’,em(156),esuicidário(por‘sui-cida’),em(157).
(154)“[…]contribuiçãodocomitéparaaimplementação[…]doDecénioInternacional”(155)“emtermosmassivos”(156)“Apraxeestevemuitotempodesactivada”(157)“Osuicidário”[títulodeumapeçadeteatro]
Asegundaprende-secomousopraticamenteinstitucionalizadodeumpardelocuções,asaber:a nível de(quecorrespondemaisoumenosa‘noqueres-peita a’), em (158);em termos de (comsignificado semelhante aoda locuçãoanterior),em(159);edar pelo nome de(aplicadaaobjetos,emvezdeaseresanimados),em(160).
(158)“[…]aguerraIrão-Iraquepoderácausarproblemasa nível deabastecimentode[pe-tróleo]”(159)“Em termos demotor,comoestáocarro?”(160)“Dá pelo nome deMensagem”[…]
2.3. Fenómenos de natureza fonético-fonológico-morfológica
Nestaoutrasecção,comosededuzdoprópriotítulo,reúnem-sefenómenosqueafetame/ouimplicamsimultaneamenteascomponentesfonológicaemor-fológicadagramáticadoportuguês.Taisfenómenos,numaprimeiraarrumação,podemagrupar-seemduascategorias:(i)confusão/convergênciadeformas,co-moem(161)a(164),e(ii)pluralizaçãodenomespornaturezanãopluralizáveis,comoem(165)e(166).
(161)interviu (por interveio)[confusãoentrevir e ver](162)aperca(masnãonomedepeixe),poraperda[confusãoanalógicacomas1.ªe3.ªpess.dosing.dopres.doconj.deperdereonomedeverbal(a)perda](163)perdamos (por percamos)[idem](164)reavê(pretensaformadereaver,quenãoexiste)[confusãocomver](165)asidades médias das pessoas (por a idade médiadaspessoas)(166)osPais Natais (por o Pai Natal)
60
2.4. Empréstimos absolutos
Porfim,sobarubrica“empréstimosabsolutos”(quepoderiacompletarcom“oudousoexcessivo/abusivodalínguainglesa”),elencoumconjuntodesitua-ções emque esta língua parece impor-se ou sobrepor-se à portuguesa.Ei-las,pois:(i)emdeclaraçõesdeamorescritasnasparedesdosprédiose/ounosabrigosdasparagensdosautocarros,comoem(167);(ii)emfrasesreivindicativas(emmanifestações,porexemplo),comoem(168);(iii)naescritadediversosapelidosportugueses,comoem(169);(iv)emnomesdeestabelecimentos:bares(170),boites e dancings (171), “boutiques” (172), restaurantes (173) e cabeleireiros(174);e(v)substituiçãodepalavrasportuguesas,jáexistentes,pelasestrangeirascorrespondentes,comoem(175).
(167)“Andrélove Sandra”(168)“Nãopagamosuntil the end of the world” (Diário de Notícias,15demaiode1992)(169)SILVA’S(oSr.Silva,leiloeirodelivros)(170)Apple Bar, Arizona Bar, Baco’s Bar, Bally Bally Pub, Bar Drink’s Club, Bar Green Gate, Bar John Bull, Bar Liverpool, Bar Mary John Pictures, Bar Old Vic, Feelings Pub, Founder’s Inn, Friend’s Pub,etc.(171)Down’s, Green Gate, Lorde Jim, Night and Day, Queens Club, Silver Gold, Top Spin, Whispers, Grey Up Down, Number One,etc.(172)Anthony Shop, Between, Big Ben, Bugs Bunny, Bugsy, Fashion, Jet-shop, Kids, Kisses and Love, Milady, Palace Shop, Picky, Pink, Pink Fly, Sloop, Swinger, Three Girl’s-Sport, Top-Ross, Woman,etc.(173)Blitz Burger, Chester Steak House, Club Grey Hound, Charles Martin Gold, Coffee Shop, Crazy Nuts, Crep’s Grill, Deck-Bar, Golden Chopstick, Goodies, Great American Di-saster, Ivos Hamburger House,etc.(174)Beauty Shop, Beauty, Beauty Line, Belhair, Butterfly, Darling, Felling, Flash, Fourty Two, Hair, Lucy, Milady, New Look,etc.(175)filme por fita de cinema;slide por diapositivo;slips por cuecas;etc.
Conclusões
Doexpostopodem,pois,retirar-seduasconclusões.Umagenérica:o25deAbrilde’74comofatordemudançalinguística,manifestadasobretudonoléxi-coemorfologia,mastambém,todaviacommenorincidência,nascomponentesfonológicaesemânticae,apenasdeformaresidual,nacomponentesintáticadagramáticadoportuguêseuropeudastrêsúltimasdécadasemeia.Eoutraespe-cífica: a liberdadedeexpressãocomo fatordecriaçãoe/ou renovação lexical,nomeadamentedeneologismosestilísticos.
61
Referências bibliográficas
Aronoff,Mark&Fudeman,Kirsten(22011).What is Morphology?Oxford:Wiley-Blackwell.Basílio,Margarida(21989).Teoria lexical.SãoPaulo:EditoraÁtica.Booij,Geert(32012).The Grammar of Words. An Introduction to Linguistic Morphology.Oxford:
OxfordUniversityPress.Carvalho,Rómulode(2010).Memórias.Lisboa:FundaçãoCalousteGulbenkian.Correia,Margarita(2004).Denominação e construção de palavras: o caso dos nomes de qualidade
em português.Lisboa:EdiçõesColibri[ColeçãoEstudosLinguísticos,7].Correia,Margarita&Lemos,LúciaSanPayode(2005).Inovação lexical em português.Lisboa:
EdiçõesColibrieAssociaçãodeProfessoresdePortuguês.Rio-Torto,GraçaMaria(1998).Morfologia derivacional. Teoria e aplicação ao português.Porto:
PortoEditora.Vilela,Mário(1994).Estudos de lexicologia do português.Coimbra:LivrariaAlmedina.Villalva,Alina(2009).Palavrascomplexascomplicadas.–In:ReVEL,vol.7,n.12[www.revel.
inf.br].Villalva,Alina(2008).Morfologia do português.Lisboa:UniversidadeAberta.Villalva,Alina(2000).Estruturas morfológicas. Unidades e hierarquias nas palavras do português.
Lisboa:FundaçãoCalousteGulbenkianeFundaçãoparaaCiênciaeaTecnologia.
Top Related