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Identificação e Análise das Coberturas e Usos da Terra em áreas de elevada
Concentração Espacial do Patrimônio Geomorfológico no Geomorfossítio
Guaritas do Camaquã/RS
Márlon Madeira(a), Adriano Luis Heck Simon(b)
(a)Departamento de Geografia, Universidade Federal de Pelotas, [email protected]
(b)Departamento de Geografia e Programa de Pós-graduação em Geografia, Universidade Federal de Pelotas,
Eixo: 5. Geoarqueologia, geodiversidade e patrimônio natural
Resumo
Este trabalho teve como objetivo identificar as coberturas e usos da terra presentes nas áreas de elevada concentração espacial do patrimônio geomorfológico do geomorfossítio Guaritas do
Camaquã (RS), a fim de reconhecer possíveis conflitos ambientais. A partir do mapa
geomorfológico de detalhe (1:50.000) elaborado por Santos (2016) foram realizadas: (a)seleção dos planos de informações referentes as feições geomorfológicas, (b) conversão dos dados
vetoriais em dados raster(c) classificação dos valores associados à concentração espacial, (d)
individualização das áreas de elevada concentração do patrimônio geomorfológico.
Posteriormente ocorreu a conversão dos dados raster (referentes às áreas de elevada
concentração) para dados vetoriais do tipo polígono, permitindo estabelecer relações com as informações referentes as coberturas e usos da terra elaboradas por Von Ahn et al. (2014).
As informações obtidas possibilitaram evidenciar locais onde os processos de ocupação
podem comprometer a integridade das formas e processos do relevo na área em estudo.
Palavras chave: análise ambiental; geopatrimônio; ocupação do espaço; geoprocessamento.
1. Introdução
A fragilidade dos sistemas naturais associada a ação antrópica e a consequente
degradação dos elementos da geodiversidade foram fatores que potencializaram a importância
da conservação da natureza abiótica (geoconservação) e o desenvolvimento de estudos
teóricos e práticos que vem se desenvolvendo desde então, com maior ênfase nas geociências
onde se situa a geomorfologia (BRILHA, 2005).
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Gray (2005) conceitua a geodiversidade como a variedade de ambientes geológicos e
geomorfológicos, compostos por rochas, minerais, fósseis, formas do relevo e processos
físicos, capazes de modelar o relevo, servindo como base para a vida na Terra (GRAY, 2004;
BRILHA, 2005).Outros autores(STANLEY, 2000; NIETO, 2001; PROSSER, 2002;
SHARPLES, 2002; AUSTRALIAN HERITAGE COMMISSION, 2003; INTERNATIONAL
ASSOCIATION OF GEOMORPHOLOGISTS, 2003; GRAY, 2004; BRILHA, 2005;
PEREIRA, 2010) trazem uma versão atualizada sobre os elementos que a geodiversidade
abrange, como por exemplo, a água, os registros paleontológicos e as próprias formas e
processos criados pelo homem. Segundo Pereira (2010) os estudos da geodiversidade dão
subsídios às atividades de geoconservação, ou seja, estabelecem formas de proteção, a partir
das necessidades de uma determinada área.
Com base no conceito da geodiversidade, Borba (2011) destaca a necessidade de
definir quais os componentes da geodiversidade que requerem maior atenção no que se refere
às estratégias de geoconservação. Nesse sentido surge o geopatrimônio, definido por
Eberhardt (1997 apud Sharples, 2002) como os componentes da geodiversidade importantes
não apenas para a extração de recursos naturais, e cuja preservação possua relevância para as
atuais e futuras gerações. Paes (2009) afirma que, para ser considerado como geopatrimônio,
um local precisa apresentar uma expressão espacial significativa e possua algum tipo de valor,
seja esse estético, econômico, pedagógico, científico e/ou cultural.
Borba (2011, 2013) não distingue os elementos geológicos e geomorfológicos
definindo como geopatrimônio o conjunto de geossítios de um determinado território.
Segundo Brilha (2005) os geossítios estão relacionados com a ocorrência de um ou mais
componentes da geodiversidade, delimitados geograficamente, e que apresentem valores
singulares no ponto de vista científico, pedagógico, cultural, turístico ou outro.
Dentro do contexto do geopatrimônio, o patrimônio geomorfológico abrange os
depósitos correlativos da evolução passada e presente do relevo, atualmente existentes na
superfície terrestre (RODRIGUES; FONSECA, 2008). Panizza (2001) define ainda o
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patrimônio geomorfológico como um conjunto de locais de interesse geomorfológico aos
quais podem ser representados de forma mais simplificada como as formas de relevo, a que
um determinado valor pode ser atribuído.No que tange as formas e processos do relevo,
pesquisadores atrelados à geomorfologia (REYNARD; CORATZA, 2007) utilizam o termo
geomorfossítio para reconhecer as áreas onde as feições geomorfológicas expressam maior
destaque.
De modo geral, Cunha (2011) evidencia que a cartografia geomorfológica se torna
uma ferramenta imprescindível para o reconhecimento dos locais de maior interesse
geomorfológico, auxiliando assim na caracterização do patrimônio geomorfológico.Von Ahn
(2017) destaca ainda a importância da cartografia geomorfológica para a análise e avaliação
temporal de geomorfossítios, possibilitando compreender a organização espacial dos
elementos geológico-geomorfológicos. Casseti (2005) afirma que a cartografia
geomorfológica permite representar a gênese das formas do relevo e suas relações se tornando
um importante instrumento de representação espacial das morfologias, sobretudo quando se
consideram as feições geomorfológicas presentes em áreas de interesse geomorfológico como
os geomorfossítios.
Desta forma, os mapas geomorfológicos concedem informações gerais em relação aos
geomorfossítios, como por exemplo, o tipo de forma e sua localização. Entretanto, na
atualidade a utilização do geoprocessamento viabiliza o refinamento destes documentos.Para
analisar as relações espaciais das formas do relevo atreladas aos estudos da geodiversidade,
dentro da perspectiva geomorfológica, podem ser utilizadas diferentes metodologias e
técnicas – atreladas ao geoprocessamento – como instrumentos de refinamento dos mapas
geomorfológicos de geomorfossítios, proporcionando a análise da concentração espacial que
compete para a organização espacial do patrimônio geomorfológico (SANTOS, 2016).
As alterações na organização espacial dos sistemas físico-ambientais causadas pela
ação antrópica se configuram a partir dos processos de ocupação, controle e uso dos recursos
naturais, desencadeando alterações da morfodinâmica e morfogênese (SIMON, 2007). As
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coberturas e usos da terra enquanto conjunto que se associa ao patrimônio geomorfológico
dos geomorfossítios pode ser vistas como ameaças à geodiversidade ou, servir como portas de
entrada para ações de geoturismo e desenvolvimento local.
A identificação das coberturas e usos da terra é de fundamental importância para se
compreender como o espaço geográfico está sendo organizado. Segundo Von Ahn et al.
(2016) a análise da dinâmica de uso da terra tem o papel de reconhecer as áreas onde a
ocupação e apropriação dos recursos naturais estão ocorrendo de forma indiferente à sua
capacidade de regeneração, auxiliando assim as ações de planejamento ambiental em
geomorfossítios, seja no sentido de averiguar a integridade ambiental do patrimônio
geomorfológico ou então reconhecer vetores de degradação deste patrimônio, em potencial ou
em diferentes estágios de ocorrência.
Diante destas considerações iniciais, este trabalho teve como objetivo identificar as
coberturas e usos da terra presentes nas áreas de elevada concentração espacial do patrimônio
geomorfológico do geomorfossítio Guaritas do Camaquã – RS,a fim reconhecer possíveis
conflitos ambientais e viabilizar o desenvolvimento de ações de geoconservação e
geoturismo.
O geomorfossítio Guaritas do Camaquã se situa entre os limites dos municípios de
Caçapava do Sul e Santana da Boa Vista, estando localizado aproximadamente entre as
coordenadas geográficas (30º 50’ 43’’ S e 53º 29’ 57’’ W)(PAIM et al., 2010) (Figura 01).
Possui 229,96 Km² e se encontra à margem esquerda do Rio Camaquã (SANTOS, 2016). Por
fazer parte da Bacia Sedimentar do Camaquã, a área em estudo compreende um grande
conjunto de formas representativas sob os aspectos geológicos e geomorfológicos de feições
sedimentares, tornando essa região importante, seja pelos aspectos dos processos naturais, ou
pela singular paisagem existente no local (PAIM et al., 2010).
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Figura 01 – Mapa de Localização do Geomorfossítio Guaritas do Camaquã – RS
Fonte – Autor
2. Materiais e Métodos
Como base para o desenvolvimento do mapa de coberturas e usos da terra nas áreas de
elevada concentração espacial do patrimônio geomorfológico do geomorfossítio Guaritas do
Camaquã – RS, foram utilizados os dados vetoriais referentes ao mapeamento
geomorfológico de detalhe na escala de 1:50.000, elaborado por Santos (2016) e os dados
vetoriais derivados do mapa de Coberturas e Usos da Terra elaborado por Von Ahn et al.
(2014).A identificação das coberturas e usos da terra nas áreas com elevada concentração
espacial do patrimônio geomorfológico ocorreu a partir de duas etapas:
Primeiramente ocorreu a seleção das feições geomorfológicas presentes na área em
estudo, derivadas dos dados vetoriais referentes ao mapeamento geomorfológico de detalhe
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(1:50.000), elaborado por Santos (2016).Logo após, foi realizada a conversão dos dados
vetoriais selecionados em dados raster a partir da ferramenta Line Density presente na
extensão Spatial Analyst/Density do software Arc.Gis 10.2 (Licença de uso da Laboratório de
Estudos Aplicados em Geografia Física da UFPEL). As feições geomorfológicas foram
classificadas com valores de concentração espacial que variaram entre nulo (quando não há a
presença de símbolos correspondentes às feições geomorfológicas), muito baixo, baixo,
regular, alto e muito alto, de acordo com as orientações de Souza et al. (2013). Essa conversão
dos dados permitiu constatar a existência de áreas com elevados valores de concentração
espacial das feições geomorfológicas no geomorfossítio Guaritas do Camaquã.
Os valores correspondentes às classes acima descritas foram definidos pelo método de
quebra natural (natural break) na qual cada valor representa agrupamentos naturais inerentes
aos dados. As quebras de classe ocorreram de maneira a agrupar valores semelhantes e
maximizar as diferenças entre as classes. Os valores então foram divididos em classes cujos
limites são definidos onde há diferenças relativamente grandes nos valores de dados (ESRI,
2017), e referem-se às concentrações dos comprimentos de linha de cada feição selecionada.
A partir da classificação foram realizados os seguintes procedimentos metodológicos:
(a) individualização dos valores altos e muito altos de concentração espacial das feições
geomorfológicas; (b) conversão dos dados raster (referentes aos valores altos e muito altos)
para dados vetoriais do tipo polígono, utilizando a ferramenta Raster to Polygon presente na
extensão Conversion Tools/From Raster.
Posteriormente, utilizando a ferramenta Clip presente na extensão Analysis
Tools/Extract foi realizada a individualização das informações de coberturas e usos da terra
(VON AHN et al., 2014) para os polígonos com elevada concentração espacial do patrimônio
geomorfológico, a fim de compreender a conjuntura do processo de ocupação e de
manutenção das coberturas da terra.
3. Resultados e Discussões
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Após realizada a associação entre as áreas de elevada concentração espacial do
patrimônio geomorfológico com os dados referentes às coberturas e usos da terra (Figura 02),
foi possível identificar as áreas de conflito ambiental entre a ocupação da área e o patrimônio
geomorfológico do geomorfossítio Guaritas do Camaquã. Este aspecto é importante para
viabilizar as ações de geoconservação e geoturismo, além de possibilitar a análise das
características das coberturas e usos da terra na área de estudo.
Figura 02 – Mapa de Coberturas e Usos da Terra existentes nas áreas de maior Concentração Espacial do
Patrimônio Geomorfológico do Geomorfossítio Guaritas do Camaquã/RS
Considerando como base o sistema de classificação elaborado pelo IBGE (2013),
adaptado por Von Ahn et al. (2014), foi possível definir que a cobertura florestal é classe que
possui maior representatividade nas áreas de elevada concentração espacial do patrimônio
geomorfológico do geomorfossítio, ocupando 47,88 Km² (35,92%) de uma área total de
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133,28 Km² (Tabela I). As áreas florestais se encontram, predominantemente, bordejando a
base dos afloramentos rochosos das feições residuais do geomorfossítio e margeando a rede
de drenagem. Foi possível ainda verificar, a partir dos trabalhos de campo, que estas
coberturas estão associadas ao acúmulo de detritos provenientes da desagregação mecânica
dos afloramentos rochosos e atualmente alterados pela ação do intemperismo químico
(SANTOS, 2016).
Tabela I – Quantificação dos dados de Cobertura e Uso da Terra do Geomorfossítio Guaritas do Camaquã – RS
Fonte: Autor
Área do Geomorfossítio Área Km² Porcentagem
229,96 100%
Área dos polígonos com as maiores
concentrações espaciais do patrimônio
geomorfológico
133,28 57,95%
COBERTURA E USO DA TERRA Área Km² Porcentagem
Afloramentos Rochosos 41,04 30,79%
Campo Limpo 13,42 10,06%
Campo Sujo 30,48 22.86%
Florestal 47,88 35,92%
Culturas Temporárias 0,05 0,04%
Instalações Agrícolas 0,42 0,33%
VIAS DE ACESSO Km
Malha Viária 141,42
Os afloramentos rochosos ocupam 41,04 Km² (30,79%). Segundo Santos (2016) estas
formações estão associadas às partes expostas das feições geológico-geomorfológicas
residuais do geomorfossítio e possuem representatividade por destacar as áreas onde o
patrimônio geomorfológico pode ser aproveitado, considerando seu destaque na paisagem
(Figura 03).
As áreas de campo limpo e campo sujo (Figura 02) ocupam 13,42 Km² (10,06%) e
30,48 Km² (22,86%) respectivamente. De forma geral, próximo a estas áreas estão localizadas
instalações agrícolas, que ocupam 0,42 Km² (0,33%) da área com elevada concentração do
patrimônio geomorfológico)(Tabela I). Santos (2016) destaca que as instalções agrícolas estão
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associadas à práticas da pecuária (bovinocultura e ovinocultura) desenvolvidas nas áreas
campestres e se aproveitam das gramíneas de boa qualidade, impedindo assim a retirada das
coberturas naturais para a implantação de pastagens(Figura 04). As maiores ocorrências das
áreas de campo limpo e campo sujo são observadas em porções doSetor Oeste e do Setor
Central do geomorfossítio (Figura 01) associados às áreas de menor altimetria.
Figura 03 – Afloramentos rochosos associados
com as coberturas florestais presentes nos depósitos de tálus das feições residuais.
Figura 04 – Instalação agrícola cercada por áreas
de culturas temporárias e campo limpo (utilizado para prática pecuária) em meio às feições
residuais do geomorfossítio.
Quanto às culturas temporárias, estas formações ocupam o menor espaço na área de
elevada concentração espacial do patrimônio geomorfológico do geomorfossítio,
correspondendo à 0,05 Km² (0,04%). Durante os trabalhos de campo foi possível entender que
este uso da terra se refere aos cultivos de subsistência, associados às propriedades rurais que
tem na pecuária sua principal fonte de renda (Figura 04). Grande parte das culturas
temporárias se encontra afastada dos afloramentos rochosos, fator positivo no que tange à
preservação da geodiversidade, pois estas atividades antrópicas seriam capazes de alterar a
morfodinâmica, desencadeando processos capazes de afetar as feições geológico-
geomorfológicas que concedem aspectos de singularidade paisagística à área.
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No que tangeas vias de acesso, vale ressaltar que a organização da malha viáriaé
fortemente influenciada pela localização das Instalações Agrícolas, totalizando 141,42 Km.
Outra questão importante a ser destacada é a existência destas vias de acesso próximas às
áreas com maior concentração espacial do patrimônio geomorfológico, fato que possibilita a
chegada até as áreas de interesse geoturístico, viabilizando a criação de trilhase seu acesso por
parte dos geoturistas.
4. Considerações Finais
Após a identificação e análise dos resultados oriundos do mapa de coberturas e usos da
terra existentes nas áreas de elevada concentração espacial do patrimônio geomorfológico no
geomorfossítio Guaritas do Camaquã, torna-se possível realizar algumas considerações finais
ligadas à pesquisa e aos objetivos apresentados.
A seleção das áreas de maior representatividade dos elementos geológico-
geomorfológicos explicitou a concentração das formas do relevo no geomorfossítio, onde a
aplicação de metodologias e técnicas de análise espacial apresentaram dados importantes
sobre a complexidade do arranjo espacial das informações referentes as coberturas e usos da
terra no geomorfossítio Guarita do Camaquã – RS, viabilizando assim, ações de
geoconservação nas principais áreas de interesse geoturístico e pedagógico/científico.
As informações derivadas deste produto possibilitam compreender as relações
existentes entre os elementos geomorfológicos atrelados à geodiversidade e evidenciar os
locais onde os processos de ocupação podem comprometer a integridade das formas e
processos do relevo que ocorrem de forma mais abrangente na área em estudo.
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