CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO
CURSO DE MESTRADO
EM ANÁLISE GEOAMBIENTAL
INFLUÊNCIA ANTRÓPICA EM ECÓTONOS FLORESTA E
CAMPO DA MATA ATLÂNTICA DO BRASIL: ANÁLISE DE
MICROPARTÍCULAS CARBONIZADAS EM SOLOS
SUPERFICIAIS
MARIA DA GLÓRIA SILVA BISPO PASSACANTILI
Guarulhos 2008
1
MARIA DA GLÓRIA SILVA BISPO PASSACANTILI
INFLUÊNCIA ANTRÓPICA EM ECÓTONOS FLORESTA E
CAMPO DA MATA ATLÂNTICA DO BRASIL: ANÁLISE DE
MICROPARTÍCULAS CARBONIZADAS EM SOLOS
SUPERFICIAIS
Dissertação apresentada à Universidade
Guarulhos, como pré-requisito para obtenção
do título de mestre em Análise Geoambiental.
Orientado: Prof. Dr.Paulo Eduardo de Oliveira
Guarulhos 2008
2
Bispo Passacantili, Maria da Glória Silva
Influência antrópica em ecótonos floresta e campo da Mata Atlântica do Brasil: análise de micropartículas carbonizadas em solos superficiais. Maria da Glória Silva Bispo Passacantili – Guarulhos, 2008. 74f.
Dissertação (Mestrado) - UNG – Centro de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão – Mestrado em Análise Geoambienta, 2008
Orientador: Prof. Dr. Paulo Eduardo de Oliveira.
1.Micropartículas carbonizadas; 2.Floresta; 3. Campo; 4. Mata Atântica. I. Influência antrópica em ecótonos floresta e campo da Mata Atlântica do Brasil: análise de micropartículas carbonizadas em solos superficiais.II. Uiversidade Guarulhos
3
A Comissão Julgadora dos Trabalhos de Defesa de Dissertação de
MESTRADO, intitulada “Influência Antrópica em Ecótonos Floresta e Campo da
Mata Atlântica do Brasil: Análise de Micropartículas Carbonizadas em Solos
Superficiais”, em sessão pública realizada em 16 de Abril de 2008, considerou a
candidata Maria da Glória Silva Bispo Passacantili aprovada.
A Banca Examinadora foi composta pelos seguintes pesquisadores:
Prof. Dr. Paulo Eduardo De Oliveira
Orientador
Prof. Dr. Luiz Carlos Ruiz Pessenda
Universidade Estadual de São Paulo –CENA/USP
Prof. Dr. Kenitiro Suguio
Universidade Guarulhos - UnG
Guarulhos
2008
4
AGRADECIMENTOS
À minha mãe Delzoíta pelo incentivo, dedicação, carinho e cuidado com minha
família.
Ao meu pai José Rodrigues, pelo incentivo, dedicação, proteção e cuidado com a
minha família.
Ao meu marido e companheiro Alexandre pelo incentivo, dedicação amor e por tudo
que fez por mim durante esse período.
Ao meu amado filho Vinicius pelo amor incondicional.
Ao meu orientador e amigo Paulo Eduardo de Oliveira, pela oportunidade, paciência,
apoio e dedicação ao trabalho.
A Universidade Guarulhos.
Aos companheiros de turma Gabriela, Rita, Cida, Mariângela, Mariângela Paccola,
Sandra, pela amizade e companheirismo e em especial para a Rosana pela grande ajuda
em todos os momentos.
Ao pessoal do Laboratório: Patrícia, Maria, Deinha, Carla, Raquel, Araci pela amizade
e cooperação.
Ao pessoal do Laboratório de Geoprocessamento, Márcio, William e a Sandra.
Aos professores do MAG em pelo conhecimento compartilhado amizade e carinho.
Ao amigo Marco Raczka pela grande ajuda e pela amizade.
Ao Instituto Florestal por acreditar neste trabalho.
Ao Marcos pela grande ajuda, tempo dispensado e pela grande amizade.
À Secretaria Estadual da Educação pela bolsa concedida.
À Diretoria de Ensino Regional Sul 3.
Aos amigos do programa bolsa-mestrado que dividiram comigo momentos de
angustia, tensão, alegria e emoção: Martha, Luciana, Márcio, Givanildo, Sergio, Eduardo,
Ricardo, Rodrigo e Aluísio.
Ao pessoal da oficina pedagógica em especial a Maria José, pela atenção, amizade e
carinho.
Aos amigos Lélia, Viviane, Simone, Diana, pelo apoio, incentivo e carinho.
5
RESUMO
Este estudo tem como objetivo principal quantificar, através da técnica de
micropartículas carbonizadas, a ocorrência de incêndios em três áreas da Floresta
Atlântica do Sudeste do Brasil, caracterizadas atualmente pela presença de
mosaicos de floresta e campo. Esses eventos foram correlacionados com a
fisionomia da vegetação local com intuito de testar três hipóteses relacionadas à
presença de campos em áreas cujo clima sugere o predomínio de florestas. As áreas
estudadas estão no Núcleo Curucutu, do Parque Estadual Serra do Mar, município
de São Paulo, SP; em uma área adjacente, nas proximidades do leito da Estrada de
Ferro Sorocabana (EFS), na divisa do município de São Paulo e Itanhaém e na
Reserva Natural da Companhia Vale do Rio Doce, no município de Linhares, ES. As
micropartículas carbonizadas, encontradas em solos superficiais, foram quantificadas
em três classes de tamanho: <25µm, de 26 a 50µm e >51µm. Os dados mostram
que as três áreas estiveram sujeitas a incêndios, que ocorreram tanto nos campos
como nas florestas. Das três localidades estudadas, os campos da Reserva de
Linhares aparecem como os mais afetados pelos incêndios, numa ordem de
magnitude até 10 vezes maior do que no Núcleo Curucutu, contudo suas florestas
tiveram um baixo padrão de impacto. Por outro lado duas localidades de floresta da
EFS mostraram altas taxas de incêndios. Os resultados sugerem que o fogo pode
ser um fator determinante da fisionomia da vegetação da Floresta Atlântica, contudo
não há evidência de que o mosaico floresta/campo possa ser explicado somente
pela incidência de impactos antrópicos, na forma de incêndios. Conclui-se que,
embora o fogo não seja o fator determinante na fisionomia vegetal, ele pode
contribuir com o processo de sucessão vegetal e retardar a regeneração natural das
florestas.
Palavras-chave: micropartículas, carvão, fogo, floresta, campo, Floresta Atlântica
6
ABSTRACT
The objective of this study was to quantify, through the charred particles technique,
the occurrence of fires in three areas of the Atlantic Rainforest of Southeastern Brazil,
characterized by the presence of a forest/savanna mosaic. These fire events have
been correlated with the physiognomy of the local vegetation in order to test three
hypotheses related to the presence of savannas within forest areas, in which the
climate is conducive to the presence of forest. The studied sites are located in the
Curucutu Nucleus of the Serra do Mar State Park, in the southern limits of the city of
São Paulo, São Paulo, Brazil; in an area adjacent to Curucutu, along the trails of the
Sorocabana Railway (EFS), in the border of the cities of São Paulo and Itanhaém,
and in the Forest Reserve of the Vale do Rio Doce Inc., in Linhares, State of Espírito
Santo. The charred microparticles, found on superficial soils, were quantified in three
size categories: <25µm; between 26 and 50µm and >51µm. The data suggest that
the three studied sites have been subjected to modern fires, which occurred in both
forest and savannas areas. Of the three studied areas, the savannas of the Linhares
Forest Reserve appear as the most affected by fires, in an order of magnitude until to
10 times that of the Curucutu Nucleus, however, these forests. On the other hand,
two forest localities of the EFS showed high fire regimes in recent times. The results
suggest that although fire can be a determining factor upon the physionomy of the
vegetation, there is no evidence to support the hypothesis that their forest/savanna
mosaic can be explained explained only by the incidence of antropic impacts, in the
form of fires. We also conclude that although fires is not a determingin factor in the
vegetation type of an area, it can affect the processo of plant succession and delay
the natural regeneration of forests.
Key-words: charred particles, fire, forest, savanna, Atlantic Forest
7
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Evolução da devastação da Floresta Atlântica no Estado de São Paulo
onde é possível acompanhar a marcha dos impactos antrópicos impulsionados pelo
avanço do ciclo do café, a partir do final do século IX (VICTOR, 1979 apud KRONKA
et al, 2005)...................................................................................................................20
Figura 2 - Variação da cobertura vegetal nativa no Estado de São Paulo entre os
anos de 1962 e 2001 (KRONKA et al., 2005).............................................................21
Figura 3 - Estado atual da vegetação natural no Estado de São Paulo (VICTOR,
1979 apud KRONKA et al, 2005).................................................................................21
Figura 4 - Forno abandonado no interior da floresta, usado na produção de carvão,
nas décadas de 30 e 40 do século XX.........................................................................30
Figura 5 - Túnel 26 na antiga Estrada de Ferro Sorocabana construído em 1935 que
margeia o Núcleo Curucutu.........................................................................................30
Figura 6 - Localização do Núcleo Curucutu no Parque Estadual da Serra do Mar
(KRONKA, 2005).........................................................................................................33
Figura 7 - Imagem satélite de parte da área do Núcleo Curucutu que mostra o
mosaico floresta e campo e a sede do núcleo. Fonte: Google Earth, 2007...............34
Figura 8 - Vista parcial do mosaico de campos (savanas) e florestas dentro do
Núcleo Curucutu, no Parque Estadual Serra do Mar, obtida de um mirante. Foto:
Vanda Brito de Medeiros (2006).................................................................................36
Figura 9 - Massas de ar úmidas oriundas do Oceano Atlântico são condensadas
devido à baixa temperatura, controlada pela grande elevação da Serra do Mar, e
propiciam a formação da neblina típica do local. Foto: Vanda Brito de
Medeiros.....................................................................................................................36
8
Figura 10 - Localização da RNVRD. Nota-se ao norte a RBS (Reserva Biológica de
Sooretama), que juntas formam um dos maiores remanescentes de mata primária da
Floresta Atlântica do Brasil (GARAY e RIZZINI, 2004)..............................................38
Figura 11 - Vista parcial de um campo, dentro da RNVRD, amostrado para o exame
de micropartículas carbonizadas. Foto: Dr. Luiz C. R. Pessenda (2007)...................38
Figura 12 - Fisionomia campestre dentro da RNVRD. A fisionomia campestre é
dada pela presença de um extenso extrato herbáceo, colonizados por poucos táxons
lenhosos. Foto: Dr. Luiz C. R. Pessenda (2007)........................................................39
Figura 13 - Fisionomia de áreas da Floresta Atlântica em área de tabuleiros da
Formação Barreiras da RNVRD, amostradas para a análise de micropartículas
carbonizadas.Fotos: Dr. Luiz C. R. Pessenda (2007)................................................40
Figura 14 - Reserva Natural Companhia Vale do Rio Doce, pontos amostrados
(Companhia Vale do Rio Doce)..................................................................................41
Figura 15 - Perfil de solo em área de pinheiral para coleta de amostras do solo com
micropartículas carbonizadas no Parque Estadual Serra do Mar, Núcleo
Curucutu.....................................................................................................................43
Figura 16 - Amostragem em área de campo queimado (ponto 4) no Núcleo
Curucutu, SP...............................................................................................................43
Figura 17 - Imagem de satélite da região do Núcleo Curucutu com indicação dos
pontos amostrados em relação à sede. Fonte: Google Earth (2007).........................44
Figura 18 - Imagem de satélite ao longo da Estrada de Ferro Sorocabana com
indicação dos pontos amostrados.Fonte: Google Earth (2007).................................44
Figura 19 - Micropartícula carbonizadas com diâmetro superior a 100 µm..............48
Figura 20 - Processo de decantação a que foram submetidas amostras após serem
lavadas e antes do processamento químico. O pequeno cilindro de aço inoxidável,
9
em frente aos béqueres é o amostrador de sedimentos usado para obtenção de
subamostras de 1cm3.................................................................................................50
Figura 21 - Resíduo palinológico em exame microscópico. A: esporo de Lycopodium
clavatum (exótico); B: micropartícula carbonizada com diâmetro >51µm..................52
Figura 22 - Microparticulas carbonizadas com diâmetro maior que 51µm................53
Figura 23 - Concentração total de micropartículas carbonizadas nos dez pontos
amostrais no Núcleo Curucutu. Em cada ponto observam-se os valores referentes às
três categorias de tamanho empregadas...................................................................55
Figura 24 - Concentração total de micropartículas carbonizadas nos dez pontos
amostrais no trecho da EFS. Em cada ponto observam-se os valores referentes às
três categorias de tamanho empregadas. .................................................................57
Figura 25 - Concentração total de micropartículas carbonizadas nos quatro pontos
Reserva Florestal Companhia Vale do Rio Doce. Em cada ponto observam-se os
valores referentes às três categorias de tamanho empregadas................................59
Figura 26 - Distribuição e concentração de micropartículas carbonizadas, maiores
que 50µm, em todas as amostras estudadas, das três localidades...........................61
10
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1- Dados da coleta no Núcleo Curucutu .......................................................45
Tabela 2 - Dados da coleta na Estrada de Ferro Sorocabana ..................................46
Tabela 3 - Dados da coleta realizada na RNVRD .....................................................47
11
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................13
2. OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS ................................................................16
3. JUSTIFICATIVA .....................................................................................................17
4. HIPÓTESES ............................................................................................................18
5. COBERTURA VEGETAL ATUAL DO ESTADO DE SÃO PAULO .......................19
6. ESTUDOS PALEOAMBIENTAIS NA REGIÃO SUDESTE: CONTRIBUIÇÃO AO
ENTENDIMENTO DO ECÓTONO FLORESTA E CAMPO.........................................22
6.1. Estudos paleoambientais do Núcleo Curucutu, Parque Estadual Serra do
Mar...............................................................................................................................25
7. IMPACTOS ANTRÓPICOS RECENTES E A DISTRIBUIÇÃO DO ECÓTONO
FLORESTA/CAMPO NO DOMÍNIO DA FLORESTA ATLÂNTICA............................27
7.1.Relações entre a distribuição de ecossistemas e incêndios ..........................27
7.2. Impacto ambiental recente no Núcleo Curucutu, Serra do Mar, São Paulo..29
7.3. Impactos ambientais recentes na RNVRD........................................................31
8. DESCRIÇÃO DAS ÁREAS DE ESTUDO................................................................32
8.1. Núcleo Curucutu, Parque Estadual da Serra do Mar ......................................32
8.2. RNVRD Linhares (ES).........................................................................................37
9. MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................................42
9.1. Trabalho de campo .............................................................................................42
9.2. Método das micropartículas carbonizadas ....................................................47
9.2.1. Sensitividade da técnica de micropartículas carbonizadas como
indicadora de incêndios em ambientes tropicais ..............................................49
9.3.Processamento químico das amostras de solo ...............................................49
12
9.4. Montagem de lâminas ........................................................................................51
9.5. Metodologia de contagem das partículas carbonizadas.................................51
9.5.1.Considerações iniciais..............................................................................51
9.6. Tratamento estatístico e representação gráfica dos resultados....................53
10. RESULTADOS .....................................................................................................54
10.1. Micropartículas indicadoras de incêndios regionais no
Núcleo Curucutu .....................................................................................................54
10.2. Micropartículas indicadoras de incêndios regionais na EFS ......................56
10.3. Micropartículas indicadoras de incêndios regionais na RFVRD ................58
10.4. Micropartículas indicadoras de incêndios locais nas três
localidades estudadas .............................................................................................60
11. DISCUSSÃO ........................................................................................................62
12. CONCLUSÕES .....................................................................................................64
13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................65
13
1. INTRODUÇÃO
A Floresta Atlântica que se estendia do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do
Norte, ao longo do litoral brasileiro (FERRI, 1980), soma hoje cerca de 7% de sua
extensão original, pois sofreu, ao longo dos últimos cinco séculos, uma intensa
pressão antrópica, que resultou em sua fragmentação. Esta teve início no século XVI
e se intensificou com a fixação do homem nas regiões costeiras e com o aumento das
atividades de agricultura (AGAREZ et al., 2004). Na região sudeste do Brasil, a
vegetação primitiva da Mata Atlântica encontra-se restrita, principalmente às regiões
mais elevadas da Serras do Mar e da Mantiqueira com agrupamentos remanescentes,
muitos dos quais já sofreram intervenção antrópica (KRONKA, et al., 2005). Nas
regiões sul e parte do extremo sul da região nordeste a Mata Atlântica remanescente
ocorre também em locais com topografia acentuada, ou em locais protegidos pela
legislação (RADAMBRASIL, 1987).
Um dos assuntos que cada vez mais ganham o interesse dos cientistas,
especialmente agora que a Mata Atlântica atinge sua menor área de ocorrência é a
sua história ambiental e geológica, que é sincrônica com outro evento de grande
importância, ou seja, a radiação das angiospermas, o mais importante grupo vegetal
em toda a Terra, durante o Cretáceo.
Os estudos geológicos indicam que com a fragmentação do supercontinente de
Gonduana houve grande mudança geológica na crosta terrestre, levantaram-se
inúmeros cadeias de montanhas, como os Andes na costa oeste do Continente Sul
Americano, as Serras do Mar e da Mantiqueira, no Sudeste do Brasil, além da região
de depressão continental do Pantanal Mato Grossense (ZALAN e OLIVEIRA, 2005).
Todo esse rearranjo da paisagem foi também influenciado pelas alterações nos climas
vigentes tanto no Terciário quanto no Quaternário (DE OLIVEIRA et al., 2005). Dentre
essas mudanças encontram-se as glaciações e os períodos interglaciais que
provocaram variações climáticas e podem ter favorecido e/ou controlado a expansão
da Floresta Atlântica, em seu passado. Este assunto ainda é controverso, pois carece
de estudos palinológicos mais conclusivos, especialmente na área de ocorrência da
Mata Atlântica (MOFATTO, 2005).
Um dos mais intrigantes aspectos da fisionomia da Floresta Atlântica
supostamente condicionado pelas variações paleoambientais, é a presença de
grandes áreas onde ocorre o ecótono floresta e campo. Essa situação, onde a
14
presença de ilhas de savana em áreas onde o clima reinante favorece a ocorrência de
floresta tem sido um problema ainda não resolvido pela ciência, uma vez que duas
hipóteses podem ser propostas: uma origem natural (AB´SABER, 1971, 1982; FERRI,
1955, 1980; PILLAR, 2003) ou antrópica para essas formações vegetais. A hipótese
da origem antrópica dos campos, especialmente aquelas categorias de vegetação
herbácea encontradas no domínio dos cerrados brasileiros, permeou a literatura
científica brasileira a partir do século 19 (WARMING, 1892) e essa polêmica se
desenvolveu principalmente nos anos 40, 50 e 60 (RAWITSCHER, 1944;
CHRISTOFOLETTI, 1966; AB’ SABER, 1971; RIZZINI, 1963, 1971 a, b; GOODLAND,
1979;) e continuou até o fim do século XX (EITEN, 1994). Para Warming (1892) o
fator primordial para o estabelecimento dos campos é o clima, enquanto que Eiten
(1994) explica a origem dos campos como resultado de condições edáficas, enquanto
que Rawitscher (1944) advoga o fogo como o fator primordial na formação da
fisionomia campestre.
Segundo Pillar (2003), o emprego do fogo e o uso da terra para pasto,
provavelmente, são os principais fatores para a ocorrência do ecótono floresta e
campo na região Sul do Brasil. Através de um estudo paleoecológico, embasado em
análises de isótopos de carbono, Mofatto (2005), mostrou que os campos de altitude
presentes atualmente no Núcleo Curucutu, Parque Estadual Serra do Mar, em São
Paulo, têm uma origem climática uma vez que eles estavam estabelecidos antes do
UMG (Último Máximo Glacial). Esses resultados, portanto, contrastam com a
hipótese antrópica de Pillar (2003).
Não obstante essas dissensões, um fator pouco analisado dentro da
problemática da origem das ilhas de savana, dentro de domínios florestais, de forma
natural ou pela ação do homem, é a intensidade e a freqüência de paleoincêndios
como determinantes na fisionomia vegetal contemporânea. Uma forma de avaliar o
impacto de paleoincêndios, tanto os recentes quanto os que ocorreram há milhares
de anos é pela análise de partículas carbonizadas, que, por serem inertes, se
preservam em solos, sedimentos lacustres, turfeiras e em outros locais que
favorecem a sua sedimentação.
Este estudo tem como proposta colaborar com o entendimento do impacto
antrópico nas savanas e florestas em duas localidades da Mata Atlântica do Estado
de São Paulo e em uma no Estado do Espírito Santo com o intuito de correlacionar a
intensidade de incêndios recentes na paisagem com a fisionomia predominante da
15
vegetação. Para tal empregam-se micropartículas carbonizadas preservadas em
solos superficiais como método principal de inferência de incêndios.
Neste trabalho emprega-se o termo “micropartículas carbonizadas” para
diferenciá-lo do material geológico, mais antigo, resultante do processo natural de
carbonificação.
16
2. OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS
O objetivo principal deste trabalho é quantificar a ocorrência de paleoincêndios
em três áreas da Floresta Atlântica do Sudeste do Brasil, caracterizadas pela
presença de mosaico floresta e campo.
Entre os objetivos secundários encontra-se o levantamento da influência
antrópica na possível expansão da vegetação campestre no Núcleo Curucutu, Parque
Estadual da Serra do Mar.
Outro objetivo deste estudo é comparar o padrão de concentração de
micropartículas carbonizadas obtidos no Núcleo Curucutu, com outra área de mosaico
floresta e campo em suas proximidades, com os dados obtidos na RNVRD (Reserva
Natural da Companhia Vale do Rio Doce), Linhares, Espírito Santo, onde também
existe um definido ecótono floresta e campo (GARAY e RIZZINI, 2004).
17
3. JUSTIFICATIVA
As técnicas de determinação de freqüência e intensidade de paleoincêndios
tropicais têm sido recentemente empregadas como uma excelente ferramenta nos
estudos sobre sucessão natural de florestas, assim como nos de impacto humano em
ecossistemas tropicais (HAMMOND et al., 2006). Segundo esses autores, o conceito
de que florestas tropicais altas, fechadas e densas estiveram livres de impactos
antrópicos recentes está possivelmente equivocado. Dessa forma, análises de
paleoincêndios em regiões florestais da zona tropical podem contribuir para o
entendimento de processos sucessionais, pouco compreendidos e permitir um
paradigma alternativo para a análise da paisagem.
Além disso, esta pesquisa pode colaborar com os estudos biogeográficos da
flora do Brasil e testar o paradigma vigente proposto por alguns pesquisadores
(AB’SABER, 1982; PRANCE, 1982) de que “ilhas” de savanas, inseridas em
ecossistemas florestais, podem ser interpretadas como remanescentes de uma época
supostamente mais fria e mais seca do UMG, por volta de 18.000 anos AP (antes do
presente).
São inexistentes no Brasil estudos, que utilizam a técnica de micropartículas
carbonizadas, dentro da área de ocorrência da Mata Atlântica. Os resultados do
presente estudo podem colaborar no entendimento da influência do fogo sobre a
fisionomia de tipos de vegetação tropical e fornecer subsídios para o entendimento do
processo de sucessão vegetal em florestas tropicais densas.
18
4. HIPÓTESES
Este trabalho testa, em três áreas de Floresta Atlântica, através de análise de
micropartículas carbonizadas, as seguintes hipóteses:
• H1= Hipótese 1: Não houve impacto antrópico suficiente, na forma de
incêndios pretéritos, nas áreas estudadas que possam explicar a distribuição atual
dos campos;
• H2= Hipótese 2: A distribuição do mosaico floresta e campo pode ser
explicada em termos de impactos antrópicos, na forma de incêndios, recentes nas
áreas estudadas;
• H3= Hipótese 3: Nas últimas décadas o fogo teve amplo impacto nas regiões
de estudo e pode ter afetado a distribuição do ecótono floresta e campo.
19
5. COBERTURA VEGETAL ATUAL DO ESTADO DE SÃO PAULO
O clássico mapa de Victor (1979) mostrado na Figura 1 indica a relação direta
da devastação com a expansão cafeeira no Estado de São Paulo, impulsionada pela
implantação do transporte ferroviário (KUGELMAS, 1981), rumo à região noroeste,
mais intensamente a partir dos primeiros anos do Século XX.
No “Inventário Florestal da Vegetação Natural do Estado de São Paulo”
(KRONKA et al., 2005), o levantamento dos remanescentes florestais, entre os anos
de 2000 e 2001, indica uma área total de 3.457.301 hectares que abrangem as
diferentes fisionomias da Floresta Atlântica: cerrado, cerradão, campo cerrado,
campo, vegetação de várzea, mangue e restinga. Essa área é superior em 3,8% à
área constatada no levantamento feito no período de 1990 a 1992.
Nos levantamentos anteriores (Figura 2), a vegetação natural ocupava, em
1962, 29,26% da área total do Estado (BORGONOVI & CHIARINI, 1965 apud
KRONKA et al., 2005). Entre 1971 e 1973, esta área ocupava 17,72%. Segundo o
Zoneamento Econômico Florestal do Estado de São Paulo (1975); entre 1990 e 1992
a área natural restringia-se a 13,43% da área total (KRONKA et al. 1993 apud
KRONKA et al., 2005). Entre 2000 e 2001, os autores constataram um pequeno
aumento da área florestal que atingiu 13,94%. Atualmente, a maior concentração de
vegetação florestal no Estado de São Paulo concentra-se na área litorânea, onde se
localiza o Parque Estadual Serra do Mar (Figura 3).
20
21
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
35,00%
1962 1971-1973 1990-1992 2000-2001
Figura 2: Variação da cobertura vegetal nativa no Estado de São Paulo entre os anos de 1962 e 2001 (KRONKA et al., 2005).
Figura 3: Estado atual da vegetação natural no Estado de São Paulo (VICTOR, 1979 apud KRONKA et al, 2005).
22
6. ESTUDOS PALEOAMBIENTAIS NA REGIÃO SUDESTE: CONTRIBUIÇÃO AO
ENTENDIMENTO DO ECÓTONO FLORESTA E CAMPO
A busca pelo entendimento da origem da alta biodiversidade tropical,
especialmente na Floresta Amazônica, levou o geólogo e ornitólogo alemão Jürgen
Haffer (1969) um modelo de especiação, que mais tarde tornou-se conhecido como
Hipótese dos Refúgios Florestais ou Teoria dos Refúgios (SALGADO-LABOURIAU,
1994).
Conforme esse modelo, durante a última intensificação do UMG entre 18.000
e 14.000 anos A.P., grandes extensões territoriais no Hemisfério Norte foram
cobertas por geleiras, devido a um esfriamento global. Essa grande alteração no
volume de água disponível nos oceanos é interpretada como a explicação mais
convincente para a queda dos níveis oceânicos em até 100m e esfriamento
generalizado da atmosfera (DAWSON,1992).
Segundo alguns defensores deste modelo (AB´SABER, 1982, PRANCE,
1982) o suposto aumento generalizado da aridez fez com que grandes áreas
florestais sul-americanas se fragmentassem em pequenos refúgios isolados de
florestas.
Nesses refúgios, isolados reprodutivamente, as espécies de animais e
vegetais se diferenciaram e, quando houve o degelo no hemisfério norte e o
conseqüente retorno da umidade, eles se expandiram formando a atual configuração
dos ecossistemas florestais tropicais (HAFFER, 1969; PRANCE, 1982).
Porém, algumas discussões surgiram e contestaram esta hipótese,
(COLINVAUX et al., 1996; 1999). Segundo algumas críticas, as áreas de estudo não
coincidem geograficamente (BUSH, 2002) e que a época seca que causaria a
retração da Floresta Amazônica é imprecisa em relação à escala de tempo.
Para Colinvaux et al.(1999), que refutam o modelo dos refúgios, o tempo para a
evolução das espécies arbóreas seria insuficiente para justificar a diversidade
florística atual da Amazônia. Segundo esses autores, várias regiões supostamente
tidas como “áreas de refúgios” possuíram florestas durante o período do UMG
(COLINVAUX et al. 1996; COLINVAUX e DE OLIVEIRA, 2000, 2001; FREITAS et al.
2001).
Segundo Ab’Saber (1982) as florestas tropicais teriam se reduzido a pequenos
refúgios, devido à baixa temperatura e pouca umidade durante o UMG e substituídas
23
por vegetação de cerrado. Após 10.000 anos A.P., com a elevação da temperatura
global e o aumento da umidade, as florestas tropicais voltaram a se expandir, embora,
em algumas áreas mais secas, tenha permanecido a vegetação de cerrado.
Dessa forma, para os autores que defendem essa hipótese, os campos, em
domínios de floresta tropical na Serra do Mar, poderiam ser explicados como
remanescentes de campos que se originaram no UMG.
Na região sudeste do Brasil os registros palinológicos de Botucatu e Catas
Altas (SP), indicam que entre 48.000 e 18.000 anos A.P. o clima era seco e frio, e a
região era coberta por vegetação de campo. Atualmente essa área é coberta por uma
floresta semidecídua (BEHLING e LICHTE, 1997; BEHLING, 2002; apud DE
OLIVEIRA et al., 2005).
Na região montanhosa de Campos do Jordão (SP), entre 35.000 e 17.000 anos
A.P., a paisagem era herbácea, indicadora de clima mais seco e frio. Entre 17.000 e
10.000 anos A.P. espécies da floresta Atlântica e da Floresta de Araucária migraram
para as montanhas (BEHLING, 1997).
O registro palinológico da Lagoa do Pires, na Zona da Mata, em Minas Gerais,
indica que desde o início do Holoceno até cerca de 5.000 anos A.P. o cerrado estava
presente. Hoje existe, nessa região, vegetação de floresta semidecídua. A partir de
5.000 anos A.P. o cerrado passou a ser substituído pela floresta semidecídua, que se
estabeleceu por volta de 1.000 anos A.P. com a diminuição de paleofogos (BEHLING,
1995).
O registro polínico de Lagoa Nova (MG) indica que há 8.500 anos A.P. essa
região era coberta por vegetação campestre e florestas de galeria nas margens de
cursos d’água (BEHLING, 2003). Cerca de 7.500 anos A.P. as florestas de galerias se
expandiram pelos vales, indicando períodos mais curtos de seca, alta precipitação, e
incêndios menos freqüentes. Entre 7.560 e 6.060 anos A.P. as florestas de galerias se
retraíram e os campos se expandiram. Essas alterações, sugerem um clima mais
seco que o atual. O aumento da freqüência de incêndios nesta região de Minas
Gerais, no início do Holoceno, foi identificada através de maiores concentrações de
micropartículas carbonizadas nos sedimentos estudados. Entre 6.060 e 2.180 anos
A.P. os vales foram cobertos por florestas semidecíduas e os morros por cerrados.
Entre 6.000 e 2.080 anos A.P. o cerrado se expandiu sobre os morros, refletindo clima
mais seco. Depois de 600 anos A.P. a floresta semidecídua se expandiu por toda a
região.
24
Os registros palinológicos estudados por De Oliveira (1992) na Lagoa de Serra
Negra e de Ledru (1993), Ledru et al. (1996) em Salitre, ambos na região do Alto
Paranaíba, ao norte do Triângulo Mineiro, mostram que as florestas de Araucária
ocuparam regiões mais baixas durante o UMG. Hoje a região apresenta clima mais
seco e quente, sendo coberta por cerrado.
É importante salientar que, apesar do número razoável de trabalhos
palinológicos que compreendem a parte final do período Quaternário, a comunidade
científica está dividida quanto à interpretação dos resultados acima obtidos. Segundo
Colinvaux et al. (1996), Colinvaux e De Oliveira (2001) Bush (2002), os trabalhos que
apontam para uma suposta aridez durante o UMG no Brasil tem a falha de usar como
indicador de umidade o pólen monoporado das gramíneas. Como aponta Bush (2002)
e De Oliveira et al. (2005) este táxon é amplamente difundido na vegetação aquática
como, por exemplo no Pantanal, e também em matas fechadas secundárias, ricas em
bambus, especialmente os dos gêneros Merostachys e Chusquea, que são
amplamente encontrados nas matas brasileiras.
Estudos recentes que empregam a técnica dos isótopos de carbono em solos
têm sido realizados em ambientes de floresta e savana, tanto na Amazônia quanto na
região sudeste do Brasil. Entre eles destacam-se os trabalhos de Pessenda et al.
(1998), Gouveia et al. (1999, 2002) e Saia et al. (2007). Em Rondônia o início do
Holoceno, em áreas hoje cobertas por cerrado, é marcado pela expansão de floresta
sob clima úmido, enquanto que áreas de floresta mantiveram-se intactas durante esse
período (PESSENDA et al., 1998). Os estudos isotópicos em solos da região da
região da Floresta Atlântica, no setor sul do Estado de São Paulo mostram a
predominância de um clima mais seco com abertura da vegetação entre 20.000 e
16.000 anos atrás, seguido de clima mais úmido com expansão de floresta entre
16.000 e 14.000 anos atrás (SAIA et al., 2007). Na região central do Estado de São
Paulo, Gouveia et al. (1999) mostram evidencias de um clima seco no Pleistoceno e
úmido no Holoceno.
25
6.1. Estudos paleoambientais no Núcleo Curucutu, Parque Estadual da Serra do
Mar
O primeiro estudo paleoambiental dentro do Núcleo Curucutu foi realizado por
Garcia (2003). Através da análise isotópica da MOS (Matéria Orgânica do Solo) o
autor observou que os isótopos de carbono em amostras profundas de solo indicam
que a vegetação pretérita era supostamente mais aberta, com maior incidência de
plantas C4, típicas de vegetação campestre. Estes resultados reforçam a idéia de que
os campos dessa região são de origem climática, mas com possível expansão mais
recente devido à ação antrópica, em conseqüência do desmatamento para produção
de carvão, por uma antiga fazenda que existia na região.
Medeiros (2006) fez a análise palinológica e de micropartículas carbonizadas
de uma turfeira no Núcleo Curucutu e verificou a ocorrência de paleoincêndios na
região, que possivelmente condicionaram a ocorrência de campos entre 20.000 e
10.000 anos A.P. Esse estudo permitiu constatar a presença de elementos da
Floresta Atlântica, juntamente com elementos de campos nos últimos 28.000 anos.
Esses resultados indicam que não houve a substituição da floresta por vegetação de
clima semi-árido e descartam a Hipótese dos Refúgios Florestais para esta região da
Floresta Atlântica do Sudeste do Brasil. Segundo Medeiros (2006), a presença de
campos pode ser explicada por um clima relativamente mais seco, mas
suficientemente úmido para manter a vegetação de floresta. Segundo a autora o clima
do Curucutu se tornou mais úmido nos últimos milhares de anos e favoreceu a
substituição de campos por florestas. O declínio recente dos elementos arbóreos e o
aparecimento de elementos exóticos sugerem ação antrópica, que também está de
acordo os registros históricos recentes.
Mofatto (2005), baseada em dados palinológicos concluiu que os campos do
Núcleo Curucutu são naturais, remanescentes dos paleocampos, que cobriram, ao
lado de florestas, essa região no passado. Segundo a autora, devido às condições
climáticas, a vegetação florestal está substituindo naturalmente esses campos,
embora a influência antrópica possa estar retardando esse processo. Este estudo
mostra que o microclima, altitude, as condições geográficas e a disponibilidade
hídrica, provavelmente contribuíram de modo significativo na constituição da
paisagem passada e atual do local. Por outro lado, Nogueira (2002) acredita que os
campos naturais no Curucutu sejam condicionados por fatores edáficos, pois o relevo
26
das escarpas não oferece condições para a formação de solos mais profundos e
impede a formação de floresta. Em seu estudo sobre o mosaico campo e floresta do
Núcleo Curucutu, Garcia (2003) discorda parcialmente da conclusão relacionada ao
controle edáfico da vegetação proposto por Nogueira (2002), mas não apresenta
dados conclusivos sobre a influência das características do solo.
27
7. IMPACTOS ANTRÓPICOS RECENTES E A DISTRIBUIÇÃO DO ECÓTONO
FLORESTA E CAMPO NO DOMÍNIO DA FLORESTA ATLÂNTICA
7.1. Relações entre a distribuição de ecossistemas e incêndios
O fogo está relacionado à expansão da ocupação humana, embora o homem
não seja o único responsável pela ocorrência de incêndios, pois, alguns eventos
naturais, como descargas elétricas, podem iniciar o fogo (RAMOS NETO, 2000).
Segundo este autor, a influência do fogo na fisionomia dos ecossistemas é
determinada pela sua intensidade, freqüência e a época de queima sendo que, na
estação seca, os relâmpagos são uma das principais causas de incêndios naturais.
Assim, para limpeza de áreas cultiváveis, o homem utiliza a queima anual das áreas
de agricultura, transformando-se no principal agente da ocorrência de incêndios.
O conceito de que fogo faça parte do processo dinâmico de evolução e
sucessão vegetacional nos cerrados remonta aos estudos de Warming (1892),
segundo os quais o incêndio integraria a dinâmica do ecossistema, como um
componente essencial ao seu desenvolvimento. Desta forma, o fogo seria
considerado como um distúrbio natural do ecossistema, cujos elementos florísticos
apresentariam características adaptativas a regimes com incêndios (WARMING,
1892; HERINGER e BARROSO, 1968).
Durante a estação chuvosa, ocorre formação de grande quantidade de
biomassa no cerrado que, depois de morta e seca, favorece a ocorrência de
incêndios (KLINK e SOLBRIEG, 1996; apud FERRAZ VICENTINI, 1999).
As evidências disponíveis da presença do homem no cerrado datam de cerca
de 10.580 anos A.P. quando, estes viviam em pequenos grupos nômades, que já
faziam uso do fogo (RIBEIRO, 1983; apud FERRAZ VICENTINI, 1999).
No Holoceno médio, entre 4.000 e 2.000 anos A.P., com o aparecimento dos
paleoíndios horticultores e caçadores, com populações mais numerosas, que
habitavam em aldeias maiores, a prática do uso do fogo difundiu-se, tanto na
agricultura sedentária, como na caçada nômade (FERRAZ-VICENTINI, 1999;
KIPNIS, 2002).
Com a chegada dos europeus houve a introdução da pecuária e as
queimadas se tornaram importantes na formação de pastagens, nas práticas da
28
agricultura e nas explorações de madeira e carvão, que aumentaram as freqüências
das queimadas nas regiões de cerrados e campos (COUTINHO, 1990).
Oliveira-Filho e Fluminhan-Filho (1999) no Parque Florestal Quedas do Rio
Bonito, no sul de Minas Gerais, com o objetivo de pesquisar a vegetação, mostraram
que a fisionomia vegetal é composta de cinco categorias: floresta, candeal (nome
relacionado à espécie predominante, Vanillosmopsis erythropappa, popularmente
conhecida como candeia), cerrado sensu strictu, campo de altitude e campo
rupestre. Segundo os autores, as distribuições dessas formações vegetais estão
condicionadas a dois fatores básicos: o regime de água no solo e a freqüência de
incêndios.
Segundo os autores, o regime de água no solo está relacionado à topografia
do sítio na bacia hidrográfica e à profundidade do solo, em que as formações
vegetais como floresta, candeal e cerrado estão restritas a solos mais profundos com
maior disponibilidade hídrica ou em fundo de vale. Por outro lado, os campos de
altitude e rupestre estão associados a regiões mais altas em solos pouco profundos
com baixa capacidade de armazenar água.
O fogo torna mais evidente a separação entre a floresta e as demais
fisionomias, pois quando o fogo chega à borda da floresta, extingue-se por falta de
material inflamável e pelo microclima mais úmido desfavorável a sua propagação. As
florestas são menos susceptíveis a incêndios e também mais resilientes, portanto
tendem a se expandir quando a ocorrência de incêndios é menos freqüente
(FURLEY et al.,1992).
Segundo Oliveira Filho e Fluminhan-Filho (1999), o candeal encontra-se na
transição entre campo e floresta, onde o solo se torna gradualmente mais raso, onde
as árvores são mais espaçadas e, portanto facilitam a penetração de luz e propiciam
o desenvolvimento de vegetação herbácea, que é mais inflamável. Dessa forma, o
fogo invade o candeal e se extingue gradualmente em seu interior e, para esses
autores, o fogo é também um fator determinante dos limites das formações
vegetacionais na região. Fogos freqüentes podem substituir gradualmente o candeal
por campo na ausência de fogos e este pode ser substituído pela floresta. Locais
com maior incidência de fogo, tendem a selecionar os organismos resistentes e
excluir os organismos sensíveis. Ainda de acordo com os autores, as árvores são
mais vulneráveis aos efeitos do fogo, do que a vegetação herbácea e arbustiva.
29
Além disso, em uma mesma espécie, podem existir populações com diferentes
potenciais de tolerância ao fogo.
Por ser uma importante ferramenta para o homem, o uso de fogo aumentou
nos últimos milhares de anos e passou a ocorrer em locais menos susceptíveis como
as florestas tropicais (GOLDAMMER, 1993).
A tolerância ao fogo está relacionada às características anatômicas,
fisiológicas e ao ciclo de vida das espécies. Além da combustão dos organismos, o
aumento da temperatura provoca alteração metabólica e desnaturação das
proteínas, mesmo em organismos que não sofreram combustão (RAMOS NETO,
2000).
7.2. Impactos ambientais no Núcleo Curucutu na Serra do Mar (SP)
Nas décadas de 30 a 50 do século passado a Fazenda Curucutu, que ocupava
a área atual do Núcleo Curucutu, do Parque Estadual Serra do Mar, era produtora de
carvão na região (Figura 4). Em 1958, o governo do Estado de São Paulo
transformou-a em Reserva Florestal e deu início ao processo de reflorestamento com
espécies exóticas. A partir de 1963, foram plantadas aproximadamente 63.000 pés de
Pinus elliotti no Núcleo Curucutu (NOGUEIRA, 2002).
O uso da terra para moradia, agricultura e criação, está concentrado no entorno
do Núcleo e também no seu interior, nas planícies dos rios Capivari, Monos e Embu-
Guaçu, ocorria antes do decreto (NOGUEIRA, 2002). A porção do núcleo, cuja
floresta sofreu impacto com a retirada das árvores para produção de carvão até cerca
de 40%, segundo Nogueira (2002), situa-se no Planalto Paulista.
No estudo palinológico realizado por Garcia (2003) todas as amostras de
solos superficiais dos campos do Núcleo Curucutu apresentaram uma concentração
relativamente alta de micropartículas carbonizadas, maiores que 20µm. Nas
amostras superficiais estudadas por Garcia (2003), as porcentagens de pólen de
elementos arbóreos foram baixas, que poderiam estar ligadas à redução de
população de árvores devido ao fogo e ao corte seletivo. Segundo o autor, o aspecto
oxidado dos sedimentos e a esterilidade das amostras, em pólen, poderiam ser
atribuídos ao efeito do fogo.
30
Figura 4: Forno abandonado no interior da floresta, usado na produção de carvão, nas décadas de 30 e 40 do século XX.
Figura 5: Túnel 26 da antiga Estrada de Ferro Sorocabana construído em 1935, que margeia o Núcleo Curucutu.
31
7.3. Impactos ambientais na RNVRD
A Floresta Atlântica ocupava cerca de 30% da região norte do Espírito Santo,
mas nos últimos 40 anos se reduziu a 5% da área original, da qual 1,5% é protegida
por lei (JESUS, 1987). Segundo Radambrasil (1983) a vegetação da RFVRD é
incluída no ecossistema da Floresta Ombrófila Densa.
Impactos antrópicos nesta região tiveram origem com a chegada de migrantes,
vindos do Norte e de Minas Gerais em busca de melhor qualidade de vida e deram
início à pecuária e à agricultura na região (GARAY e RIZZINI, 2004). Segundo esses
autores, o plantio de Eucalyptus que se concentra na porção Norte, teve início na
década de 60 e por necessitar de pouca mão de obra, sua expansão não está
associada ao povoamento da região. A exploração madeireira foi muito intensa e
afetou inclusive as matas ciliares.
Ainda de acordo com os autores, nas décadas de 40 e 50 do século XX a
procura por terras virgens para a cafeicultura, promoveu a expansão demográfica.
Mais tarde a fruticultura também se desenvolveu na região. A difusão de novas
tecnologias agrícolas exigiu o aumento na necessidade de recursos hídricos e, desta
forma, foram construídos numerosos reservatórios. A exploração de madeira, a
produção de petróleo, as atividades pecuárias e o turismo, atraído por numerosas
lagoas transformadas em verdadeiros balneários pela população local, foi responsável
pelo crescimento de Linhares (ES), deixando a RNVRD susceptível aos impactos
antrópicos.
32
8. DESCRIÇÃO DAS ÁREAS DE ESTUDO
8.1. Núcleo Curucutu
Esta área de estudo está localizada no extremo sul do Município de São
Paulo, SP, Brasil (Figura 6).
O Núcleo Curucutu foi transformado em reserva florestal, a partir da aquisição
dessa área pelo governo do Estado de São Paulo em 1958, da antiga Fazenda
Curucutu, com uma área com 12.090ha. Mais tarde, a Reserva Estadual de
Itanhaém e a Reserva Estadual de Itariru foram também incorporadas à Reserva
Estadual do Curucutu que, por sua vez, passou a fazer parte do Parque Estadual da
Serra do Mar. Hoje a área total atual de 25.409ha (GARCIA, 2003).
A sede do Núcleo Curucutu (Figura 7) localiza-se no sudeste do Estado de
São Paulo, a latitude 23º59’06’’S e longitude 46º44’36’’W, em altitudes variáveis
entre 750 e 850m (GARCIA, 2003).
33
34
Figura 7: Imagem satélite de parte da área do Núcleo Curucutu, que mostra o mosaico de floresta e campo e a sede do núcleo. Fonte: Google Earth, 2007.
Segundo Nogueira (2002) a vegetação constitui um mosaico de floresta e
campo de altitude, que freqüentemente fica coberto por neblina (Figuras 8 e 9).
Embora as condições climáticas sejam desta maneira favoráveis à vegetação
florestal, solos pobres e ácidos com concreções lateríticas e propícios à erosão,
contribuem para a manutenção dos campos na região.
Os campos apresentam padrões fisionômicos de campo limpo ou campo sujo
(sensu EITEIN, 1994). Os campos limpos, por sua vez, possuem vegetação
herbácea, arbustos e pequenas árvores isoladas, enquanto que os campos sujos
possuem vegetação herbácea com árvores de pequeno porte e dispersas, com
altura em torno de 3m (GARCIA, 2003).
Nogueira (2002) acredita que, tanto a vegetação campestre quanto a florestal
diferenciam-se de acordo com a altitude e apresentam as seguintes características:
campo alto montano, ou campos de altitude no topo da Serra do Mar, no qual o
relevo não oferece condições para a formação de solos profundos e impedem a
formação de floresta; campos de várzea em áreas planas, próximas a rios
permanentemente encharcadas; floresta ombrófila densa montana ou mata de
35
planalto que, no Curucutu, ocorre entre 700 e 900m de altitude em faixas de
transição para mata nebular. Entre os campos de altitude, no contato com a escarpa
da Serra do Mar a elevada umidade e freqüente presença de neblina condiciona a
ocorrência dessa vegetação no Curucutu; floresta ombrófila densa sub-montana ou
mata de encosta entre 50 e 500 metros de altitude, na encosta da Serra do Mar;
floresta ombrófila densa das terras baixas, ocorre no contato da escarpa da Serra do
Mar com a planície litorânea. Esta última é uma vegetação de transição entre
floresta ombrófila densa sub-montana para vegetação de restinga; mata ciliar ou
floresta de galeria que ocorre ao longo dos rios, córregos e represas.
Na Serra do Mar predominam rochas metamórficas de idade pré-cambriana
arqueozóica como gnaisses, quartzitos, ardósia, micaxistos e secundariamente,
rochas magmáticas intrusivas como o granito (BISTRICHI et al., 1981).
O clima predominante é o temperado chuvoso (Cfa) do sistema Köppen de
classificação, devido à influência das massas de ar. Os verões são quentes e
chuvosos e os invernos têm temperaturas mais brandas (SERRA, 1969 apud
MOFATTO, 2005). Os meses mais chuvosos são de dezembro a março e os menos
chuvosos são de maio a agosto (NOGUEIRA, 2002). A amplitude de variação
pluviométrica é pequena, entre 3.000 e 4.000mm anuais, segundo Sant’Anna Neto
(1990).
36
Figura 8: Vista parcial do mosaico de campos (savanas) e florestas dentro do Núcleo Curucutu no Parque Estadual Serra do Mar, obtida de um mirante. Foto: Vanda Brito de Medeiros (2006).
Figura 9: Massas de ar úmidas oriundas do Oceano Atlântico são condensadas devido à baixa temperatura, controlada pela grande elevação da Serra do Mar,que propiciam a formação da neblina típica do local. Foto: Vanda Brito de Medeiros (2006).
37
8.2. RNVRD, Linhares, ES
A reserva florestal da Companhia do Vale do Rio Doce S.A. (Figura10) está
localizada nos municípios de Linhares e Jaguaré (ES) e já foi explorada para
obtenção de madeira, mas hoje se encontra protegida por lei. A altitude varia entre
28 a 65m (JESUS 2001, apud SOUZA et al., 2002). Estende-se por uma área de
22.000 hectares sobre solos resultantes de sedimentos neogênicos da Formação
Barreiras (PEIXOTO & SILVA,1997 apud GERMANO–FILHO et al., 2000). Localiza-
se entre as coordenadas geográficas latitudes 19º06’S e 19º18’S e longitudes
39º45’W e 40º19’W.
A vegetação predominante na RNVRD é conhecida em botânica como
Floresta Atlântica de Tabuleiros Terciários e difere da Floresta Atlântica da Serra do
Mar, do Estado de São Paulo, por presença em topografia plana, com clima sempre
quente, composta de solos mais pobres e presença de poucas epífitas (RIZZINI,
1987; RIZZINI et al.; 1997; apud VICENS et al. 1998). Em sua área existem várias
ilhas de formação campestre (Figuras 11 e 12), denominadas localmente de campos
nativos (Figura 13).
A Floresta de Tabuleiro se assemelha florísticamente à Floresta de Terra
Firme da Amazônia Central, devido à presença de inúmeros táxons arbóreos, típicos
da Hiléia, como Dalbergia nigra, Cedrela odorata e outros (AGAREZ et al. 2004).
Segundo Radambrasil (1987), em um estudo preliminar, foram encontradas
na área do Rio Doce, total de 164 gêneros arbóreos, dos quais somente 39 não são
encontrados na Amazônia.
38
39
Figura 12: Fisionomia campestre dentro da RNVRD. A fisionomia campestre resulta da presença de um extenso extrato herbáceo, colonizado por poucos táxons lenhosos. Foto: Dr. Luiz C. R. Pessenda (2007).
A Companhia Vale do Rio Doce adquiriu as terras da reserva em 1951 com a
intenção de garantir madeira para dormentes na construção da estrada de ferro
Vitória-Minas (BORGONOVI 1983, JESUS, 1998). A sua área é de
aproximadamente 22.000ha e abrange parte dos municípios de Linhares e Jaguaré,
no Estado do Espírito Santo (JESUS, 1987; apud VICENS et al. 1998).
O clima é do tipo AW de Köppen, caracterizado pela acentuada sazonalidade,
com uma estação chuvosa no verão e seca ou úmida no inverno com temperatura
média em meses menos quentes, acima de 18ºC. O período mais chuvoso está
restrito aos meses de outubro a março, enquanto que o período mais seco estende-
se de abril a setembro, com precipitação inferior a 25% do total anual. A precipitação
total é cerca de 1.178mm/ano. A temperatura média anual é de 24,6ºC, variável
entre 22ºC e 27ºC. A umidade relativa média do ar é de 80,9%, sem variação
notável no decorrer do ano, em função da proximidade do Oceano Atlântico e da
atuação dos ventos alísios. Durante o inverno a evaporação ultrapassa a
precipitação e no verão a média alcança 1.246mm (JESUS, 1987).
40
O solo podzólico vermelho – amarelado, distrófico é pobre e apresenta baixo
teor de “bases trocáveis” tais como íons de cálcio, magnésio, potássio e fósforo e o
teor de alumínio é alto (GARAY, 2004).
A fisionomia da vegetação na RNVRD é de floresta alta de terra firme com
dossel de até 40m, que ocupa cerca de 68% da área total; a floresta de mussununga
com árvores esparsas e mais baixas em solo arenoso e estende-se por cerca de 8%
da reserva; floresta de várzea com árvores esparsas em solo alagável que ocupa
cerca de 4% e os campos em meio à floresta e estende-se por cerca de 6% da área
(GARAY e RIZZINI, 2004).
Figura 13: Fisionomia de áreas da Floresta Atlântica em área de tabuleiros da
Formação Barreiras da RNVRD, amostradas para a análise de micropartículas
de carvão. Fotos: Dr. Luiz C. R. Pessenda (2007).
41
42
9. MATERIAIS E MÉTODOS
9.1. Trabalho de campo
Para realizar a análise de micropartículas carbonizadas foram feitos cortes na
superfície do solo de 15cm de profundidade, 15cm de comprimento e de 15cm de
largura, em áreas de floresta e campo do Núcleo Curucutu em diferentes solos com
diversos tipos de vegetação, em uma localidade próxima ao Parque Estadual da
Serra do Mar, na divisa dos municípios São Paulo e Itanhaém e na Reserva Florestal
Vale do Rio Doce. As amostras na área da RNVRD foram coletadas, utilizando a
mesma técnica, por Marco Raczka em parceria com pesquisadores do Laboratório
de Carbono 14 do CENA/USP (Centro de Energia Nuclear na Agricultura da
Universidade de São Paulo).
Em cada trincheira foram coletadas amostras de cerca de 10 cm³/cada, em 3
profundidades diferentes: uma na parte basal (15cm), uma na região intermediária
(7,5cm) e outra na superfície (0cm) como se vê nas Figuras 16 e 17. As amostras
foram acondicionadas em sacos plásticos e foram etiquetadas com o número do
ponto de coleta e profundidade. As trincheiras foram fechadas com o próprio
solo retirado.
A distribuição dos pontos amostrais, dentro do Núcleo Curucutu, ficou restrita
à sua área central, devido à dificuldade de acesso aos setores leste e sul da região.
As características das áreas amostradas estão descritas nas Tabelas 1,2 e 3.
43
Figura 15: Perfil de solo em área de pinheiral para coleta de amostras do solo com micropartículas de carvão no Parque Estadual Serra do Mar, Núcleo Curucutu.
Figura 16: Amostragem em área de campo queimado (ponto 4) no Núcleo Curucutu, SP.
44
Figura 17: Imagem de satélite da região do Núcleo Curucutu com indicação dos pontos amostrados em relação à sede. Fonte: Google Earth (2007).
Figura 18: Imagem de satélite ao longo da EFS (antiga Estrada de Ferro Sorocabana) com indicação dos pontos amostrados. Devido à proximidade geográfica entre os pontos 3 e 4 , 5 e 6, os pontos 4 e 6 não estão indicados na figura.Fonte: Google Earth (2007).
45
Tabela 1: Dados da coleta no Núcleo Curucutu.
Pontos Vegetação
Características do solo Coordenadas Altitude
1 Pinheiral Solo arenoso, algumas
raízes de plantas, a
amostra de 15 cm contém
maior teor de argila em
relação às outras amostras
deste ponto.
23°59'24''S/46°44'27''W 774m
2 Floresta Solo argiloso marrom claro.
23°59'38''S/46°44'30''W 855m
3 Floresta Solo orgânico argiloso,
sobre laterita.
23°59'42''S/46°44'28''W 871m
4 Campo
Queimado
Vegetação queimada,
provocada por queda de
balão (segundo mateiro da
região), limite campo/mata,
solo argiloso amarelo claro.
23°59'34''S/46°44'25''W 812m
5 Campo Solo argiloso marrom claro
com laterita.
23°59'30''S/46°44'17''W 803m
6 Pinheiral Solo argiloso marrom
tendendo a marrom escuro.
23°59'22''S/46°44'21''W 794m
7 Floresta Solo orgânico sobre solo
arenoso úmido.
23°59'18''S/46°44'30''W 782m
8 Campo Solo argiloso marrom claro.
23°59'09''S/46°44'06''W 797m
9 Campo Solo argiloso marrom claro
tendendo a amarelado.
23°58'53''S/46°44'55''W 800m
10 Campo Solo orgânico, muitas
raízes de plantas.
23°58'31''S/46°43'56''W 806m
46
Tabela 2: Dados da coleta na Estrada de Ferro Sorocabana.
Pontos
Vegetação Características do solo Coordenadas Altitude
1 Regeneração
Florestal
Solo arenoso, serapilheira
com muita matéria
orgânica.
23°57'59''S/46°38'55''W 709m
2 Floresta Solo arenoso. 23°58'18''S/46°38'58''W 713m
3 Floresta Solo húmico. 23°58'43''S/46°38'42''W 673m
4 Floresta Solo argiloso, areia, muita
matéria orgânica.
23°58'43''S/46°38'42''W
Por ocasião de mata fechada,
o GPS não consegue ter a
precisão nas coordenadas.
673m
5 Floresta Solo argiloso com muita
matéria orgânica.
23°58'48''S/46°38'12''W 678m
6 Floresta Solo argiloso amarelo. 23°58'48''S/46°38'12''W
Por ocasião de mata fechada,
o GPS não consegue ter a
precisão nas coordenadas.
690m
7 Campo Solo argiloso compactado,
solo avermelhado, arenoso
e material compactado
argiloso com húmus.
23°58'57''S/46°38'13''W 698m
8 Campo Solo compactado argiloso. 23°58'59''S/46°38'15''W 677m
9 Campo/Floresta
Solo arenoso. 23°58'59''S/46°38'16''W 693m
10 Campo Solo arenoso, presença de
argila e muita matéria
orgânica na serapilheira.
23°58'57''S/46°38'12''W 687m
47
Tabela 3 : Dados da coleta realizada na RNVRD.
Pontos Vegetação Características do solo Coordenadas
C1 Campo Solo bastante arenoso (areia branca), pouca
matéria orgânica (segundo mateiro, a
vegetação já pegou fogo).
19°12'680''S/39°57'84''W
C2 Campo Solo bastante arenoso (areia branca), pouca
matéria orgânica (segundo mateiro, a
vegetação já pegou fogo).
19°09'197''S/40°03'94''W
F1 Floresta Solo vermelho com pouca areia. 19°12'33''S/39°57'63''W
F2 Floresta Solo vermelho (segundo o mateiro a
vegetação está preservada).
19°09'20''S/40°02'75''W
9.2. Método das micropartículas carbonizadas
Segundo Tolonen (1986), a queima de material orgânico, tal como: madeira,
carvão produz numerosas micropartículas carbonizadas, que, quando quantificadas
(número de partículas por cm³ de solo ou sedimento), podem revelar a intensidade
de paleofogos, tanto locais quanto regionais. A quantificação dessas micropartículas,
quando combinada com registros palinológicos, permite a compreensão de
sucessões vegetacionais especialmente após impacto causado por incêndios.
Para analisar as micropartículas carbonizadas utilizam-se, com freqüência,
lâminas preparadas pelo processo palinológico padrão (CORDEIRO, 1995;
FERRAZ-VICENTINI, 1999).
Com base na morfologia de partículas de carvão preservadas em sedimentos
é possível distinguir os produtos da queima de combustível fóssil das partículas
derivadas da queima de florestas (TOLONEN, 1986). Ao microscópio ótico, as
micropartículas carbonizadas se apresentam como fragmentos totalmente pretos,
opacos e angulosos, facilmente separados das estruturas resultantes da oxidação
48
da matéria vegetal, que se apresentam mais claras e de cor marrom (FERRAZ-
VICENTINI, 1999).
Para a contagem de micropartículas carbonizadas, foi seguida a metodologia
utilizada por Tolonen (1986), pela qual a quantificação é feita em três tamanhos
distintos: 0-25µm, 26-50µm e > 51µm. Segundo o autor, as partículas maiores que
51µm são indicadoras de incêndios locais, pois essas partículas são pesadas e
dificilmente são transportadas a longas distâncias pelo vento, enquanto que
partículas entre 26 e 50µm indicam incêndios regionais, pois, são mais leves e
podem ser transportadas a distâncias maiores. Já as partículas menores que 25µm
indicam incêndios distantes.
As micropartículas de carvão são analisadas nas lâminas palinológicas e
contadas juntamente com os esporos de Lycopodium clavatum (ver abaixo).
Figura 19: Micropartícula carbonizada com diâmetro superior a 100 µm.
49
9.2.1. Sensitividade da técnica de micropartículas carbonizadas como
indicadora de incêndios em ambientes tropicais
Até recentemente os únicos estudos realizados para calibração das
categorias de tamanho de partículas carbonizadas contra eventos de incêndios
conhecidos estavam restritos às regiões de alta latitude (MILLSPAUGH e
WHITLHOCK, 1995; ENACHE e CUMMING, 2006; TINNER et al. 2007).
O primeiro estudo sobre a sensitividade desta técnica em ambientes tropicais,
através das previsões quantitativas da proximidade do incêndio, da área e da sua
intensidade, foi realizado por Duffin et al. (2008). Os autores realizaram o trabalho
nas savanas do Sul da África e mostraram que a área fonte para micropartículas >
50µm situou-se entre 0 e 5Km e 10 a 15Km para micropartículas < que 50µm. Outra
conclusão alcançada pelos autores é que os depósitos de micropartículas
representam em geral uma somatória de vários episódios de incêndios.
9.3. Processamento químico das amostras de solo
Os resíduos usados na contagem das micropartículas carbonizadas foram
obtidos através da técnica palinológica, de acordo com o protocolo proposto por
Colinvaux et al. (1999). No laboratório, antes de iniciar o ataque químico, as
amostras foram peneiradas com malha de 250µm, para a remoção da fração areia
grossa, e posteriormente lavadas com água destilada e decantadas por dois dias.
Ao final de cada etapa do processamento químico, as amostras foram lavadas
com água destilada e centrifugadas por 5 minutos, sendo descartado o excesso de
água. Após a deposição dos sedimentos em béqueres, foi obtida subamostra de
1cm³ de cada amostra, que foi então tratada quimicamente, segundo o protocolo
abaixo descrito:
50
Figura 20: Processo de decantação a que foram submetidas amostras após serem lavadas e antes do processamento químico. O pequeno cilindro de aço inoxidável, em frente aos béqueres, é o amostrador de sedimentos usado para obtenção de subamostras de 1cm3.
• Adição do pólen exótico: Após retirada de subamostras de 1 cm3 de cada
amostra, adiciona-se uma cápsula de Lycopodium clavatum e acrescenta-se, aos
poucos, HCl (ácido clorídrico) a 10% mexendo sempre, para dissolver a cápsula
contendo esporo exótico.
• Destruição dos silicatos: Adiciona-se HF (ácido fluorídrico) em banho-
maria por duas horas. Centrifuga-se o material e verte-se o sobrenadante.
• Destruição dos fluorsilicatos: A sílica coloidal, presente nos sedimentos, é
eliminada com o uso de HCl a 10%. Nesta etapa ocorre a eliminação dos resíduos
de fluorsilicatos, que contem somente restos orgânicos.
• Ácido acético glacial: Adiciona-se CH3COOH (ácido acético glacial) às
amostras. Este procedimento é repetido duas vezes, intercalado por lavagem do
material com água destilada. Esta etapa é necessária para eliminar a água e
acidificar o meio para a reação de acetólise.
51
• Acetólise: A mistura de acetólise é composta por 9 partes de ( CH3CO)2O
(anidrido acético) e uma parte de H2SO4 (ácido sulfúrico). Ela destrói os
componentes celulósicos do interior dos grãos de pólen. Esse processo a quente
(100oC) realça as estruturas morfológicas dos palinomorfos, que são usadas no
processo de identificação.
• Ácido Acético Glacial: Após acetólise, adiciona-se CH3COOH (ácido
acético glacial). Este procedimento é repetido 2 vezes, intercalado com lavagem do
material com água destilada. Esta etapa é necessária para interromper a reação
anterior e dar início à desidratação dos palinomorfos, para a suspensão em glicerina.
• Álcool absoluto e glicerina: Os resíduos são então lavados com álcool
absoluto e colocados em suspensão na glicerina. Para a evaporação do álcool dos
resíduos, estes serão colocados por cerca de duas horas em estufa a 45º C.
9.4. Montagem de lâminas
Adiciona-se uma gota da suspensão final sobre cada lâmina, cobre-se com
uma lamínula e veda-se com parafina. De cada amostra, preparam-se 5 lâminas.
9.5. Metodologia de contagem das partículas carbonizadas
9.5.1. Considerações iniciais
Vários autores durante pesquisas paleoambientais no Brasil, aplicaram a
técnica de micropartículas carbonizadas como indicador de paleoincêndios. Entre os
mais recentes, tem-se os trabalhos de Scheel-Ybert (2001); Gouveia et al.(2002) e
Pessenda et al. (2004) e com micropartículas carbonizadas em vários ecossistemas
brasileiros como, por exemplo, na caatinga de De Oliveira et al. (1999), na Floresta
Atlântica por Behling (2003) e no cerrado por Ferraz-Vicentini (1999). Esses estudos
partem da premissa de que a queima de tecidos vegetais produz inúmeras partículas
que são depositadas em solos e sedimentos. Quando combinada com estudos
palinológicos, a quantificação de micropartículas carbonizadas é uma excelente
ferramenta para o estudo de paleoincêndios (TERASMAE & WEEKS, 1979;
TOLONEN, 1986). Como está explicitado na seção metodológica deste estudo,
52
várias classes de tamanho de micropartículas carbonizadas têm sido usadas por
diferentes autores. Segundo Mehringer et al. (1977) e Tolonen (1986), três classes
de tamanho têm sido usadas classicamente nesses estudos: <25µm (Figura 20), de
26 a 50µm e >51 µm (Figura 21). Estas últimas são indicadoras de fogos locais, pois
são transportadas através de menores distâncias por correntes de ar, como
confirmado por Duffin et al. (2008) em regiões subtropicais.
Neste estudo, adotaram-se as três classes de tamanho sugeridas por
Mehringer et al., (1977) e Tolonen (1986). A contagem foi feita em microscópio
óptico com aumento de 1000X, em óleo de imersão.
Das cinco lâminas preparadas, a contagem foi realizada em quatro delas. As
micropartículas carbonizadas foram contadas juntamente com os esporos de
Lycopodium clavatum, até 10 esporos por lâmina ou 40 esporos por amostra. Em
algumas amostras a quantidade de micropartículas carbonizadas foi tão grande que
a contagem dos grãos de Lycopodium nas lâminas tornou-se impossível e as
amostras foram reprocessadas com duas cápsulas de esporo exótico. Foi escolhido
o valor de 40 esporos de Lycopodium para a contagem das micropartículas em cada
amostra, pois esse foi o valor médio desses esporos exóticos na análise palinológica
estabelecida em Mofatto (2005) e Medeiros (2006) na turfeira do Núcleo Curucutu.
Figura 21: Resíduo palinológico em exame microscópico. A: Esporo de Lycopodium clavatum (exótico); B: micropartícula carbonizada com diâmetro > 50µm.
53
Figura 22: Microparticulas carbonizadas com diâmetro maior que 51µm.
9.6. Tratamento estatístico e representação gráfica dos resultados
Os valores de concentração de micropartículas carbonizadas (número de
partículas por centímetro cúbico) foram obtidos através do programa computacional
Tilia (GRIMM, 1987) com a inserção dos seguintes parâmetros: volume da amostra
de solo (1cm3), número de esporos de Lycopodium presente em cada pílula
introduzida, número de pílulas utilizadas e número de micropartículas carbonizadas
contadas durante a análise. Os resultados obtidos foram representados
graficamente através do programa Excel.
A concentração das micropartículas carbonizadas, realizadas pelo programa
Tília é baseada na seguinte equação:
Concentração = nº esporos (Lycopodium)
Concentração = ___EL __
x ___PC___
EC vol. (cm³)
Onde:
EL = número de esporos de Lycopodium = número de pastilhas x
concentração de esporos em cada pastilha.
EC = número contado de esporos de Lycopodim.
PC = número contado de partículas carbonizadas.
54
10. RESULTADOS
As Figuras 23, 24 e 25 mostram a distribuição de micropartículas
carbonizadas nas três profundidades, amostradas em cada ponto, no Núcleo
Curucutu, na Estrada de Ferro Sorocabana e na Reserva Florestal da Vale do Rio
Doce, respectivamente. Os valores obtidos variam entre 6.039 micropartículas/cm³ a
2.034.374 micropartículas/cm³ no Núcleo Curucutu, de 0 a 2.091.981
micropartículas/cm³ na Estrada de Ferro Sorocabana e 2.322 micropartículas/cm³ e
17.623.188 micropartículas/cm³ na RFVRD.
10.1. Micropartículas indicadoras de incêndios regionais no Núcleo
Curucutu
Os resultados da distribuição e concentração das micropartículas
carbonizadas, nas três classes de tamanho, nas amostras do Núcleo Curucutu,
encontram-se na Figura 23. Observa-se que as partículas menores que 25µm
encontram-se bem representadas em todas as amostras do Núcleo Curucutu.
Se a premissa de que as amostras mais profundas (7,5 cm e 15 cm)
representam condições mais pretéritas que as amostras superficiais estiver correta,
os dados mostram três padrões distintos de distribuição das partículas menores que
25µm: amostras com valores altos no presente e baixo no passado, baixo no
presente e alto no passado e valores relativamente iguais nessas duas épocas. Na
primeira categoria estão os pontos 2 (floresta), 4 (campo queimado), 6 (pinheiral) e 9
(campo). Na segunda categoria, ou seja, valores baixos no presente e alto no
passado, estão os pontos 1 (pinheiral), 5 (campo), 7 (floresta), 8 (campo) e 10
(campo). Com valores relativamente parecidos, tanto nas amostras superficiais,
como nas mais profundas, está o ponto 3 (floresta).
A menor concentração de partículas <25µm no Núcleo Curucutu foi
encontrada no ponto 1 (pinheiral) na profundidade de 15 cm.
55
56
10.2. Micropartículas indicadoras de incêndios regionais na EFS
Os resultados da distribuição e concentração das micropartículas
carbonizadas, nas três classes de tamanho, nas amostras da área da EFS,
encontram-se na Figura 24. As micropartículas carbonizadas <25µm, aparecem em
todos os pontos, nos diferentes tipos de vegetação.
A menor concentração de micropartículas carbonizadas de todas as classes
de tamanho aparece no ponto 8 (campo), na profundidade 15cm. A maior
concentração de micropartículas carbonizadas <25µm de 26-50µm e >51µm
aparecem no ponto 10 (campo) na amostra superficial (0cm).
57
58
10.3. Micropartículas indicadoras de incêndios regionais na RNVRD
Ao contrário dos resultados obtidos no Núcleo Curucutu, as micropartículas
carbonizadas menores que 25µm, na RNVRD, encontram-se melhor representadas
nas amostras de campo (pontos 1 e 2), como mostra a Figura 25.
Comparando-se os valores dessas micropartículas, precipitadas nos pontos
de campo com maior valor de micropartículas partículas <25µm nas duas regiões
estudadas, percebe-se que os valores do campo 1 da RNVRD estão numa ordem de
magnitude até 10 vezes maior do que na amostra 10.
59
60
10.4. Micropartículas indicadoras de incêndios locais nas três localidades
estudadas
A distribuição de micropartículas carbonizadas maiores que 51µm, usadas
neste estudo como indicadores de incêndios locais, nas três áreas estudadas é
mostrada na Figura 26.
A maior concentração de micropartículas carbonizadas indicadoras de
incêndios locais se concentra, de uma forma geral, nas amostras de campos das
três localidades estudadas, como por exemplo o ponto 4 (campo queimado) do
Núcleo Curucutu, o ponto 7 da EFS e nos dois pontos de campo da RNVRD (C1 e
C2).
61
11. DISCUSSÃO
As áreas de florestas do Núcleo Curucutu selecionadas para este estudo já foram
impactadas pelo fogo, provavelmente causado pelo uso e ocupação da Fazenda
Curucutu, antes da implantação do Parque Estadual. Da mesma forma, suas áreas de
campo sofreram com incêndios locais. Contudo, tendo como base a alta concentração
na amostra superficial do campo queimado (ponto 4) pode-se afirmar que o impacto
desses incêndios nesses dois tipos de vegetação foi relativamente pequeno. Por outro
lado, o solo superficial do ponto 6 (pinheiral), possui uma concentração levemente maior
que a do campo queimado. O padrão de micropartículas nos campos dos pontos 8, 9 e
10 do Núcleo Curucutu, mostram que, com exceção do ponto 10, não mostram uma
significativa queima no passado recente. Observa-se assim, nesta primeira análise
preliminar, que o impacto antrópico através da queima da vegetação foi pontual na área,
no passado recente e que em geral, pode-se dizer que não há evidência através das
micropartículas de carvão indicadoras de incêndios locais, que a área atual de campos
possa ter sido favorecida por uma maior freqüência de incêndios. Desta forma este
estudo está em sintonia com a conclusão de Medeiros (2006), Mofatto (2005) e Garcia
(2003) que os campos do Núcleo Curucutu são naturais e não antrópicos.
Os pontos de floresta 1,2, 3 e 5 da região da antiga Estrada de Ferro Sorocabana
(EFS) também mostram baixas concentrações de micropartículas >51µm, o que sugere
uma menor incidência de incêndios. Por outro lado, os pontos 4 e 6 mostram-se com
valores de concentração parecidos com o do ponto 4 (campo queimado do Núcleo
Curucutu), o o que sugere a ocorrência de grandes incêndios em sua história recente.
Esses dados são importantes, pois mostram que a alta incidência de fogo não
conseguiu alterar ou impedir a cobertura da área por vegetação de floresta,
provavelmente devido às altas taxas de precipitação reinantes nessa região.
As áreas de campo da antiga EFS, assim como a maioria dos campos analisados
do Curucutu mostram-se com menor taxa de incêndios do que as florestas dos pontos 4
e 6. Esses valores são parecidos com os de campo e floresta do Curucutu.
Os resultados para a RFVRD mostram que as duas áreas de florestas escolhidas
para o estudo sofreram pouco com incêndios no passado recente, pois seus valores são
praticamente similares aos das florestas 1, 2 e 3 do Curucutu, e 1, 2, e 3 da antiga EFS.
Contudo, os campos da RNVRD possuem valores mais altos dos que os campos 8,9 e
10 do Curucutu e dos campos 7, 8 e 9 da antiga EFS. Esses resultados sugerem que os
63
campos da RNVRD sofrem com a queima, num grau de intensidade maior do que os
campos da Serra do Mar de São Paulo, com exceção do campo 4, resultante de uma
queima acidental por um balão. Esta interpretação é apoiada em relatos dos botânicos e
mateiros que trabalham na RNVRD que afirmam que essa vegetação sofre queima
freqüente nos meses secos. Aliado a esse fato, está o fácil acesso a área através da
Rodovia Federal BR 101, e a topografia local favorável á ação antrópica.
Este estudo mostra que as florestas tropicais da região da Mata Atlântica, apesar
de sua localização em uma das áreas mais úmidas do Brasil, onde a precipitação anual
média é superior a 1.500mm, sofrem esporadicamente com incêndios. Uma conclusão
similar foi obtida por Hammond et al. (2006) nas Guianas, devido a impactos antrópicos,
por Carcaillet et al. (2002) nos últimos 2.000 anos na Amazônia, também pela influência
antrópica. A ocorrência de incêndios florestais antropogêncios em locais hiperúmidos da
Amazônia observada em florestas modernas por Nelson e Irmão (1998) sugere que sem
a presença humana, dificilmente as regiões florestadas seriam queimadas naturalmente.
Em seus estudos de paleoincêndios na região Sudeste do Brasil, Pessenda et al. (2004)
mostram que esta região sofre com a influência antrópica há pelo menos 9.000 anos.
Se compararmos a concentração de micropartículas de carvão nos sedimentos
turfosos estudados por Medeiros (2006) no Núcleo Curucutu, percebemos que os
valores encontrados por essa autora em suas análises palinológicas são irrisórios
quando comparados com a precipitação moderna de micropartículas carbonizadas, das
três categorias, nos solos superficiais atuais do Núcleo Curucutu. Os resultados
apresentados aqui sugerem que durante os últimos 28.000 anos a cobertura vegetal do
Curucutu não foi impactada pelo fogo. Esta conclusão é apoiada em conclusões obtidas
por Mofatto (2005) a partir dos isótopos de carbono de que o Último Máximo Glacial foi
bastante úmido nessa região. Desta forma, mesmo com o grande recuo da linha de
costa nesse setor do atual território do Estado de São Paulo, impulsionado pela redução
do nível do mar durante a última glaciação, altos valores de umidade continuaram a
penetrar nessa região oriundos do mar e/ou da intensificação das massas de ar de
origem polar, como foi sugerido por De Oliveira (1992).
Devido ao fato deste trabalho ter usado um número restrito de amostras devido à
dificuldade proporcionada pela topografia do local, e de um número reduzido de
amostras da RNVRD, recomenda-se, para trabalhos futuros, um número maior de
amostras.
64
12. CONCLUSÕES
Nos últimos anos, a região do Núcleo Curucutu sofreu impacto antrópico
acompanhado de incêndios.
Medeiros (2006) utilizou a mesma técnica de contagem de micropartículas
carbonizadas empregada neste trabalho e constatou a ocorrência de paleoincêndios
no Núcleo Curucutu no UMG, embora o seu sinal polínico fosse indicador de
espécies de clima úmido. Se compararmos o número de micropartículas
carbonizadas encontradas por esta autora com o número de micropartículas
encontradas nas amostras de solos superficiais do Núcleo Curucutu podemos
sugerir que não houve incêndio durante o UMG, nesta localidade, como concluiu a
autora, pois o número de micropartículas encontrado nesse período é muito inferior
ao constatado no solo superficial do ponto 4 (campo queimado).
Mesmo com o recuo do mar no UMG (SUGUIO et al. 2005) houve umidade
suficiente na região e o número de micropartículas carbonizadas é pequena para
inferir a ocorrência de incêndio nessa época.
Em relação às hipóteses escolhidas para este estudo, pode-se afirmar que a
hipótese nula deve ser rejeitada, pois há evidência suficiente de impactos antrópicos
nas três áreas escolhidas para este estudo.
Tampouco há evidência para a hipótese 2 de que o mosaico floresta e campo
possa ser explicado somente pela incidência de impactos antrópicos, na forma de
incêndios, recentes nas regiões estudadas.
Há evidência para a hipótese 3, pois em tempos recentes o fogo teve amplo
impacto, principalmente na Reserva Florestal da Companhia Vale do Rio Doce.
Acreditamos que embora o fogo não seja provavelmente o fator determinante na
fisionomia vegetal das localidades estudadas, ele pode contribuir com o processo de
sucessão vegetal e retardar a regeneração das florestas.
65
13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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