A CONTEMPORANEIDADE
E A POESIA CONCRETA
Profa. Lucilene Fonseca
O início
A cultura brasileira nos anos 50 e 60 acompanhou o ritmo das mudanças que estavam ocorrendo na política e na economia, novas idéias surgiam com o Teatro de Arena, a Bossa Nova, os festivais de música transmitidos pela televisão e as vanguardas concretas nas artes plásticas e na poesia.
O que chamamos de produções contemporâneas são obras e movimentos surgidos em décadas que refletem um momento histórico caracterizado inicialmente pelo autoritarismo, por uma rígida censura e enraizada autocensura só amenizados a partir de meados da década de 80, quando se verificou uma progressiva normalização da vida democrática no país. As diversas condições desse período não mergulharam o país numa calmaria cultural. Pelo contrário, assistimos a uma produção cultural bastante intensa em todos os setores. Na poesia, duas constantes: uma cada vez mais apurada reflexão sobre a realidade e a busca de novas formas de expressão.
Um movimento: Concretismo
A literatura brasileira, por meio de alguns de seus escritores, “lançou” as poesias concretas. Um movimento chamado Concretismo, iniciado em 1956, que teve a liderança de três poetas paulistas: Décio Pignatari e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos. Como porta-voz de suas idéias, o grupo criou a revista Noigandres.
Grupo Noigrantes
Das atividades e experimentos do grupo Noigandres emergiria, entre 1953 e 1956, esse movimento, cujo lançamento público iria ocorrer na "Exposição Nacional de Arte Concreta" (São Paulo, dezembro de 1956; Rio de Janeiro, fevereiro de 1957), na qual tomaram parte poetas e artistas plásticos de São Paulo e do Rio de Janeiro.
O Concretismo provavelmente foi, da década de 1950 até os nossos dias, a principal corrente de vanguarda em nossa literatura, em virtude da influência que exerceu, e ainda exerce hoje, sobre sucessivos grupos de poetas, artistas plásticos e músicos. Um movimento de vanguarda, que, após a explosão modernista de 1922, foi o que trouxe à literatura brasileira o maior impulso no sentido de uma renovação estilística.
A Poesia Concreta Foi o primeiro movimento internacional que teve, na
sua criação, a participação direta, original, de poetas brasileiros.
Os poetas concretos, baseados na ruptura com o verso e na exploração de recursos "verbivocovisuais", criaram trabalhos de natureza icônica, nos quais o poema tende a ser uma representação objetiva da própria coisa de que trata. Partindo da assertiva de que o verso tradicional já havia encerrado seu ciclo histórico, a poesia concreta propõe o poema-objeto, em que se utilizam múltiplos recursos: o acústico, o visual, a carga semântica, o espaço tipográfico e a disposição geométrica dos vocábulos na página. Trata-se do aproveitamento dos espaços em branco e dos recursos gráficos na folha de papel, a sonoridade das palavras, as relações entre significado e significante.
de sol a solsoldadode sal a salsalgadode sova a sovasovadode suco a sucosugadode sono a sonosonadosangradode sangue a sangue
(Haroldo de Campos. In: BOSI, Alfredo.História concisa da literatura brasileira.São Paulo: Cultrix, 1999. p. 479.)
“Neste poema, é possível ver o início da
desconstrução das regras formais da versificação. Nas
relações internas feitas pela colocação das
palavras é que as idéias são formadas. A
aproximação entre sol, sal, sova, suco, sono e
sangue cria uma cadeia interna ao poema, o que
acaba construindo as rimas e a lógica dele. Da
mesma forma, a derivação dessas palavras cria seus
contrapontos”. (Valenza, A)
"pós-tudo" - Augusto de Campos
Uma poesia inquieta, anárquica, que se aproxima da comunicação visual e explora
a palavra em várias dimensões.
Um dos traços mais importantes da poesia concreta é aquele que procura mexer com o leitor, exigindo dele uma participação ativa, uma vez que permite uma leitura
múltipla.
Poesia Concreta x Arte Concreta
beba coca cola babe cola beba coca babe cola caco caco cola c l o a c a "beba coca cola"
(1957), Décio
Pignatari Lygia Clark, Plano superfícies
moduladas n.3.
Considerações finais
Mesmo depois que o período da poesia concreta havia passado como uma corrente definida da tendência artística brasileira, os integrantes originais desse movimento não pararam de produzir. Sempre envolvidos em debates, discussões e críticas, continuaram marcando os rumos da arte e do pensamento estético, nacional e internacionalmente. O texto poético deixou de ser uma mera interpretação da realidade e passou a constituir sua própria realidade.
“Pode-se dizer que hoje não há uma arte, não há a poesia, mas há artes, há poesias. Cada arte se fragmenta em tantas artes quantos foram os artistas capazes de fundar um tipo de expressão original.”
João Cabral de Melo Neto
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