Os protagonistas, o sonhador e o artista
PERSONAGENS
BLIMUNDA DE JESUS
Quanto à composição, é uma personagem modelada, dado que o seu comportamento altera-se ao longo da história.
Pode ser considerada uma personagem-tipo dado que representa um estatuto social: o povo.
É uma personagem principal, dado que possui um papel central na história e contribui para o desenvolvimento da mesma.
Caracterização física:- Os seus olhos mudam de cor;- É alta e magra;- Tem cabelo claro.
Caracterização psicológica:- Tem vinte e oito anos;- É filha única;
- Consegue ver por dentro das coisas e das pessoas quando está em jejum;
- É corajosa: vai sozinha à procura de Baltasar; mata o frade que a tenta violar;
- É uma mulher forte: assiste à condenação da sua mãe sem derramar uma lágrima, contudo quando chega a casa não aguenta mais;
- Extremamente apaixonada por Baltasar (procura-o durante nove anos);
- É religiosa, acredita em Deus.
Blimunda surge, pela primeira vez, nesta história quando é mencionada pela sua mãe, Sebastiana, que estava a ser condenada no auto-de-fé a que Baltasar estava a assistir. A sua mãe procura-a, com o olhar, pela multidão para lhe transmitir que devia procurar conhecer o homem que estava a seu lado, Baltasar.
Neste mesmo episódio, o nome de Blimunda é mencionado onze vezes. Estando tal número associado a conhecimentos mais profundos, ao ideal, às revelações, à junção de Deus com o Mundo, são facilmente notáveis as semelhanças entre o seu significado e a personalidade de Blimunda: vê por dentro, logo tem um maior conhecimento, tem revelações e é muito ligada a Deus.
O SURGIMENTO
É feito também um ênfase nos olhos de Blimunda, dando a entender que estes veriam mais do que as pessoas normais: “olha só, olha com esses teus olhos que tudo são capazes de ver”.
O FASCÍNIO CAUSADO NOS OUTROS
Blimunda atrai Baltasar devido à singularidade dos seus traços físicos: os seus olhos mudam de cor e é alta e esguia. Estes traços são tão singulares pois não era habitual vê-los: as mulheres tinham olhos de uma só cor e, geralmente, eram de baixa altura. Baltasar chega mesmo a confessar : “Não tenho forças que me levem daqui, deitaste-me um encanto”.
Blimunda causa também um certo fascínio a Scarlatti, que a compara à deusa Vénus.
Também os pais de Baltasar estranharam os traços físicos de Blimunda, nomeadamente o seu cabelo claro e os seus olhos de cor inconstante. Provoca também uma certa curiosidade à mãe de Baltasar, dado que, primeiro que tudo, não entra imediatamente na casa de Baltasar, fazendo com que a mesma se interrogasse acerca de quem seria tal mulher. Por outro lado, Marta Maria, mãe de Baltasar, impede que Blimunda comece imediatamente à procura de trabalho, pois pretende que ela fique em casa consigo, para conhecê-la melhor.
O APELIDO Devido à sua ligação com Baltasar Sete-Sóis, é
apelidada de Blimunda Sete-Luas, pelo padre Bartolomeu Lourenço. Este apelido pode ter os seguintes significados: o número sete está associado à totalidade, à perfeição, o que, de certo modo, se adequa dado que o Baltasar e Blimunda, como formam um par romântico, completam-se; por outro lado, a lua pode simbolizar a faceta submissa de Blimunda, dado que a lua reflete a luz do Sol (que neste caso seria Baltasar) e as mudanças no seu comportamento. A Lua pode também ser associada ao princípio feminino e passivo e ao sonho, ao inconsciente e ao facto de ser o complementar do Sol (ele e Baltasar completavam-se).
O AMOR VIVIDO
Ao longo de toda a obra, vive um amor pleno com Baltasar, apesar de todas as dificuldades pelas quais ambos passaram. Contudo, nem com a morte de Baltasar este amor acaba, dado que Blimunda recolhe a vontade de Baltasar. Deste modo, ficarão juntos para sempre, tendo esta história de amor o seu final estranhamente feliz.
AS DIVERSAS FACETASA mulher do povo, retratada com realismo:
- Quando vai para Mafra com Baltasar, consegue reunir todos os seus pertences numa única trouxa - à semelhança do povo, não tinha muitos bens materiais. - Não se importa de trabalhar no campo.
A mulher de excecional intuição e excecionais capacidades
de “compreensão da complexidade do mundo”:- Blimunda vê uma nuvem fechada na óstia e interroga-se acerca do que é a religião.- Baltasar comenta a possível semelhança entre as nuvens que se encontram no céu e as nuvens fechadas que Blimunda vê, ao que esta diz que tal semelhança não existe.
A visionária, guardadora de vontades, habitante do
fantástico: - Blimunda não come para conseguir ver as vontades quando sai de casa para as apanhar. - Consegue apanhar muitas vontades ao visitar a casa dos doentes.- Descobre um local onde existia água para os habitantes de uma aldeia que, na altura, estavam a passar por uma seca.
A VITORIOSA
Como tinha poderes sobrenaturais, era, à partida e de entre Baltasar e o padre, a que mais probabilidades tinha de ser condenada pelo Santo Ofício, tal como a sua mãe. Contudo, tal não acontece, o que pode ser visto como, por um lado, a vitória do amor (as vontades de Baltasar e Blimunda ficam juntas para sempre), e, por outro lado, como a vitória daquela que via por dentro, o que lhe permitiu ter uma vida mais “clara”.
BALTASAR SETE-SÓIS É uma personagem
principal, dado que possui um papel central na história e contribui para o desenvolvimento da mesma.
É uma personagem plana.
É, também, uma personagem-tipo dado que representa um estatuto social: o povo.
SURGIMENTO NA HISTÓRIA
É apresentado na história quando a mãe de Blimunda diz a esta para perguntar o nome ao rapaz que estava ao seu lado, Baltasar.
CARACTERIZAÇÃO Baltasar acaba por ser uma das personagens
principais mais simples de toda a história, pois este é um soldado que perdeu a mão na guerra, acabando por ser a crítica do narrador à desumanidade existente na guerra, pois assim que Baltasar perdeu a mão foi mandado embora. Não tem uma atitude ou feitio muito complicados.
É um homem pragmático, simples e apaixonado por Blimunda. Quando faz algo gosta que fique tudo perfeito e está sempre disposto a ajudar, sendo bastante humilde e honesto.
Ao longo da história, Baltasar acaba por ser quem constrói a passarola, para realizar o sonho do Padre Bartolomeu, e ajuda na construção do Convento.
Baltasar questionava muito os dogmas e lutava por realizar sonhos, assim como o fez quando se tratou de construir a passarola, pois apesar do sonho não ser seu, ele teimou em fazer tudo perfeito, chegando até a desmanchar o que já havia feito para construir de novo e com mais rigor.
O APELIDO
Baltasar é conhecido por Sete Sóis, pois este apenas consegue ver à luz, ou seja só consegue ver o normal e o que é visível, ao contrário de Blimunda.
O AMOR POR BLIMUNDA
É uma pessoa muito apaixonada, neste caso por Blimunda, pois estava disposto a correr todos os riscos que fossem necessários para estar com Blimunda, mesmo sabendo que esta tinha poderes que podiam ser mal interpretados aos olhos dos outros e até quando ela tinha de ir colher as vontades, na altura de uma grande doença, Baltasar foi com ela correndo o risco de adoecer também.
O FINAL TRÁGICO
Baltasar tem um fim bastante trágico pois acaba queimado, condenado pelo Santo Ofício. Apesar de tudo, ele e Blimunda continuaram juntos para sempre, pois quando Blimunda o encontra (depois de procurá-lo durante 9 anos), esta acaba por só o ver já quase todo queimado pelas chamas mas ainda a tempo de recolher a sua vontade e a juntar à dela, pois o lugar da vontade de Baltasar era na Terra, dado que era aí que estava Blimunda.
PADRE BARTOLOMEU LOURENÇO DE GUSMÃO
É uma das personagens principais, dado que contribui bastante para o desenvolvimento da ação.
É também uma personagem modelada, visto que é uma personagem dinâmica, complexa e com densidade psicológica. Também o seu comportamento se altera ao longo da ação.
É conhecido como “OVoador”, por afirmar que tinha voado.
Caracterização física:- mais baixo do que Baltasar, contudo com um aspeto mais novo.
Caracterização psicológica:
- tem vinte e seis anos;- dono de uma enorme capacidade de memorização;
- ambicioso.
DADOS BIOGRÁFICOS
Nasceu no Brasil, contudo veio ainda novo para Portugal.
Aos 15 anos, já tinha bastantes estudos, principalmente na área da Filosofia.
Aos 24 anos, já tinha feito um balão que chegou mesmo a voar.
AS FACETAS DO PADRE BARTOLOMEU
Membro da corte O rei dá-lhe proteção e apoio em relação à construção
da passarola; ouve as confissões do rei.
Orador Dá sermões na igreja.
Bacharel e doutor em cânones
Tem dúvidas teológicas, apesar de ser padre. Por exemplo, interroga-se acerca da existência da mão esquerda de Deus, acabando por concluir que Deus é maneta.
Cientista Interessa-se pela ciência. Este interesse é, em
parte, provocado pela necessidade de adquirir conhecimentos de modo a fazer a passarola voar. É tão interessado que chega a viajar para a Holanda de modo a adquirir mais conhecimentos acerca do éter, que iria fazer a passarola voar.
Ambicionava voar. Esta ambição, por si só e naquele tempo, é herética, contudo, ao vir de um padre, torna-se ainda mais grave, dado que este toma conhecimento que as vontades humanas eram um dos elementos necessários para a passarola voar. Ora, não só este padre se aventura por campos desconhecidos e facilmente considerados heréticos, como também utiliza vontades humanas para atingir o seu objetivo
O amigo Sente grande afeto por Baltasar e Blimunda,
pois, para além de lhes dar abrigo, ainda afirma que os casou (para estes não serem mal vistos), mesmo não sendo verdade
A DUPLA DESIGNAÇÃO A designação Bartolomeu Lourenço é utilizada
em momentos de menor ficcionalização, enquanto a designação Bartolomeu de Gusmão é utilizada em momentos de maior ficcionalização.
CURIOSIDADE
Esta personagem é baseada numa figura real, o Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão.
Ambos nasceram no Brasil, eram interessados pela ciência, possuíam uma grande memória, dedicavam-se ao invento de engenhos (ambos diziam ter inventado uma máquina que voava), estudaram na Faculdade de Cânones da Universidade de Coimbra, pediram a proteção do rei D. João V em relação à sua máquina de voar e escreviam sermões.
DOMENICO SCARLATTI
É uma personagem secundária e plana.
A sua primeira referência, dá-se quando é chamado para dar aulas de piano à filha dos reis.
Embora contratado pelo rei, é também um representante de contra-poder devido à sua liberdade de espírito e pelo seu poder libertador e subversivo da sua música.
PRIMEIRO CONTACTO COM O PADRE
O primeiro contacto entre Domenico e o Padre Bartolomeu deu-se no dia em que a princesa teve uma lição com Domenico, à qual estaria a realeza e o padre a assistirem.
Depois da lição, o músico ficou a tocar e o padre Bartolomeu ficou impressionadíssimo com a música e acabaram, então, por falar um com o outro, chegando até a irem ao Terreiro do Paço onde depois acabaram por seguir cada um o seu caminho. Dias depois foi Domenico quem foi falar com o Padre que se encontrava na capela.
O Padre Bartolomeu acabou por levar Domenico até à sua invenção, a passarola, mas este, ao chegar ao local, permaneceu bastante calmo e sereno sem mostrar grande excitação, e após ver a máquina assim permaneceu, sempre muito calmo mas um tanto curioso com o que via, especialmente por ver que as asas eram fixas e este achava que com asas fixas a máquina nunca voaria.
A amizade deste com o padre Bartolomeu, originada pela compreensão e pela partilha das mesmas ideias e sonhos, representa a articulação entre a cultura e o humano, entre o saber e o sonho, entre o conhecimento e o desejo.
PRIMEIRA IDA À ABEGOARIA
SIGNIFICADO DA PARTICIPAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DA
PASSAROLA
O facto de este estar envolvido, indirectamente, na construção da passarola serve para unir a ciência e a arte mostrando que ambas revelam um espírito de inovação, tolerância e abertura para o modernismo.
A MÚSICA NA CONSTRUÇÃO E NA CURA
Domenico ia tocar para a abegoaria algumas vezes enquanto a passarola era construída e quando Blimunda ficou doente, todos os dias Domenico tocava para ela, acabando por curar a frágil e quase sem forças Blimunda.
Isto serve para mostrar que os sonhos aliados à música permitem a cura e ajuda na conclusão da passarola, simbolizando o ultrapassar, por parte do homem, de uma materialidade excessiva e o atingir da plenitude da vida.
PRESENÇA NO DESCOLAR E NO ÍNICIO DO VOO DA PASSAROLA
Quando a passarola descolou, Domenico viu-a a levantar voo pois dirigia-se naquele momento para a quinta, e ao ver que não iria com eles o que este decidiu fazer foi mandar o cravo pelo poço abaixo para que não houvessem provas de que ele estaria envolvido em tal obra e não podendo assim ser condenado ao santo ofício.
O facto de não ter ido com eles na passarola deixou o músico bastante triste, ao ponto de, antes de mandar o cravo pelo poço abaixo, se ter sentado a tocar mas quase nada tocou, foi mais um passar de dedos.
PARTICIPAR A MORTE DO PADRE
Passado um bom tempo, o músico vai ao encontro de Blimunda e Baltasar sem que ninguém saiba disso, pois este pediu ao rei para ir ver como iam as obras do convento para assim ter uma desculpa para poder ir a Mafra, a fim de os informar que o Padre Bartolomeu havia morrido em Espanha, devido à loucura.
Isto mostra que Domenico era alguém fiel e que não teria ficado tão chateado como era suposto com o facto de o terem deixado em terra em vez de o levarem com ele na passarola no momento da partida.
ÚLTIMA REFERÊNCIA A última referência que se faz ao músico é ao
serviço da corte real, quando este é chamado para distrair a rainha e sua filha após a conversa sobre o sofrimento a que as mulheres acabam sempre por ser sujeitas devido aos homens.
A música de Domenico, funciona, neste caso, como uma espécie de calmante, transmitindo plena harmonia e serenidade, daí o próprio músico ser uma pessoa serena e calma.
BIBLIOGRAFIA
Fontes webgráficas http://www.slideshare.net/Mariazinha/categorias-da-narrativa-
412346
http://moodle.eshn.net/mod/forum/discuss.php?d=442
http://www.numerologo.com.br/simbologia.htm#s11
http://pt.wikipedia.org/wiki/Memorial_do_Convento
Fontes bibliográficas PINTO, Elisa Costa (2011), Plural, 6ª edição, Lisboa Editora, Lisboa
SARAMAGO, José (2010), Memorial do Convento, 47º edição, Caminho, Alfragide
TRABALHO REALIZADO POR:
Nº8 Filipa MonteiroNº13 Miguel Rodrigues
Top Related