Benefícios de se preservar a harmonia da microbiota cutânea
e do uso de probióticos, para a nossa saúde e para a estética
Dra. Michele Pereira e Silva
MICROBIOTA DA PELE
ÍNDICE
i. Introdução
ii. Como começou tudo isso?
iii. Entendendo a microbiota da nossa pele
iv. O que nossa microbiota faz pela nossa saúde
e a saúde da nossa pele
v. Equilíbrio x Disbiose
vi. Fatores que alteram a microbiota da pele
vii. Benefícios de se manter a microbiota da
equilibrada
1. Proteção da barreira cutânea
2. Hidratação
3. Redução dos sinais da idade
4. Proteção contra melanomas
5. Auxílio do processo de lipólise
viii. Cosmética probiótica e a beleza do futuro
ix. Conclusão
x. Referências
APRESENTAÇÃO
Olá,
Sou a Michele, pirrrracicabana, farmacêutica e
doutora em Microbiologia. Trabalhei 12 anos
pesquisando a importância dos microrganismos nos
mais diversos ambientes. Publiquei vários trabalhos
sobre o assunto, e palestrei bastante sobre o assunto.
Eu sou simplesmente apaixonada por estudar esses
seres tão pequenos mas tão importantes, que são
capazes de causar a desnutrição de uma planta
quando ausentes no solo por exemplo. E da mesma
forma que esses ambientes não são saudáveis sem
essas minúsculas criaturas, nós também não somos. É
incrível que possamos sim traçar um paralelo entre
uma planta e o nosso organismo, quando se trata de
relações ecológicas com microrganismos.
Outra paixão minha desde a faculdade é a
cosmetologia, o estudo da pele, suas camadas, e como
ela nos protege e auxilia na manutenção da nossa
saúde. Qual a minha (boa) surpresa quando os estudos
mostraram em 2012 (estava quase defendendo o
doutorado) que nosso corpo está repleto de bactérias
e fungos e vírus. Quase um trilhão de seres
microscópicos habitando nossa orelha, nossos olhos,
boca, intestino e outras cavidades, toda a nossa pele.
Simplesmente fantástico.
O meu objetivo nesse e-book, escrito com todo
amor e carinho, é conduzir você leitor e leitora a um
passeio por esse universo, esclarecendo dúvidas e
mostrando de uma forma simples e clara o potencial
que nossa microbiota tem de nos ajudar.
Espero que aproveitem bastante a leitura.
Um grande abraço..
i. INTRODUÇÃO
O estrato córneo, a camada mais externa da epiderme,
atua como uma barreira física responsável por
proteger a pele contra as agressões externas as quais
é exposta todos os dias. Mas não se trata apenas de
uma camada de células mortas. A superfície da nossa
pele abriga uma grande quantidade de
microrganismos, biologicamente ativos, e que devem
permanecer intactos.
A microbiota da pele, por sua vez, forma uma
verdadeira barreira de defesa microbiológica, que em
equilíbrio, impede a implantação, colonização e até à
proliferação de microrganismos patogênicos ou
indesejáveis.
Da mesma forma que a natureza necessita de
proteção, a proteção do nosso ecossistema, da nossa
pele, também se faz necessária. Ela deve ser não
apenas protegida, como também estimulada e até
mesmo restaurada, já que inúmeros afecções de pele
estão relacionadas à uma microbiota desequilibrada.
Portanto, o cuidado da nossa microbiota constitui uma
nova abordagem para a higiene, para a saúde e até
mesmo a estética, e uma nova atitude deve ser
adotada no que diz respeito a uso de produtos
cosméticos e às suas interações com a pele e o meio
ambiente.
II. COMO TUDO ISSO COMEÇOU
Tudo isso começou após a finalização do Projeto
Genoma Humano em 2003, uma iniciativa do setor
público, e dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA
(NIH).
Numerosas escolas, universidades e laboratórios
participaram do projeto, que tinha como meta
entender nosso material genético, nosso genoma,
para compreender melhor alguns mecanismos entre
eles susceptibilidade a doenças, comportamentos,
etc., e quem sabe alterar alguns aspectos com objetivo
de garantir uma melhoria na qualidade de vida do
organismo.
NÓS VIVEMOS EM UM MUNDO MICROBIANO
(“Quem não gosta de microrganismos não está no
planeta correto” – Autor dsconhecido)
Ao finalizar esse projeto, os pesquisadores
descobriram que nós possuíamos uma quantidade
enorme de DNA que não era nosso, não era humano,
mas tinham origem bacteriana. Percebeu-se então
que cada um de nós é uma mistura complexa de
células humanas e células de criaturinhas
microscópicas, os microrganismos.
E os pesquisadores viram ainda que existem muito
mais células microbianas do que células humanas, em
torno de 10 vezes mais, e isso tem mudado a forma
como nos vemos como humanos.
VOCÊ, PRATICAMENTE NÃO É VOCÊ! SOMOS SIM
UM ECOSSISTEMA, VIVENDO O TEMPO TODO EM
EQUILÍBRIO COM ESSES MINÚSCULOS SERES.
A partir daí o conhecimento foi crescente a respeito do
papel e da importância dessa imensa população
bacteriana para nossa saúde, e novas pesquisas
começaram a indicar relações antes desconhecidas
entre nossos microrganismos e várias doenças,
incluindo obesidade, artrite, autismo e até mesmo
depressão, além de doenças de pele como acne,
dermatites, psoríase, pele sensível e até mesmo o
vitiligo.
iii. ENTENDENDO A MICROBIOTA DA
PELE
Antes de tentarmos entender o papel da nossa
microbiota, vamos entender alguns termos primeiro:
Microrganismo: organismos microscópicos
encontrados praticamente em todos os locais, ao
redor de nós, em nós e mesmo dentro de nós. Inclui
vários tipos de organismos como bactérias, fungos,
vírus, ácaros.
Microbiota: conjunto de todos os microrganismos
presentes em um determinado ambiente (incluindo o
corpo humano). A microbiota humana possui
aproximadamente 10-100 trilhões de células
microbianas.
Microbioma: conjunto de microrganismos
(microbiota) e dos seus genes. Mas geralmente
falamos microbiota quando nos referimos aos nossos
microrganismos.
Patógenos: podem ser bactérias, fungos, virus ou
outros microrganismos que causam doença no seu
hospedeiro.
Comensalismo: relação ecológica onde duas espécies
diferentes de associam e uma é beneficiada sem haver
prejuízo para a outra.
Epiderme: a epiderme é a mais externa de três
camadas que constituem a nossa pele. É uma barreira
efetiva contra a perda de água na pele, impede a
absorção de substâncias tóxicas e a penetração de
microrganismos, que poderiam causam uma infecção
sistêmica. As outras camadas são a Derme e a
Hipoderme.
Barreira da pele: a barreira cutânea possuem várias
funções incluindo a manutenção do conteúdo de água
na pele, redução dos efeitos da exposição à luz
ultravioleta e suavizar os efeitos do estresse oxidativo.
Mas talvez a função mais bem conhecida seja a
barreira física contra a entrada de substâncias ou
patógenos.
Probióticos: microrganismos (geralmente bactérias)
introduzidos no corpo devido às suas propriedades
benéficas. São as chamadas boas bactérias.
Prebióticos: ingredientes alimentares não digeríveis,
como fibras e outros componentes, que promovem o
crescimento específico de boas bactérias.
Pós bióticos: produtos do metabolismo de
microrganismos probióticos que possuem uma
atividade biológica no hospedeiro.
Disbiose: termo que significa desequilíbrio da
microbiota, tanto dentro do nosso corpo quanto na
nossa pele.
PRONTO! AGORA PODEMOS APROFUNDAR UM
POUCO MAIS NOS NOSSOS COMPANHEIROS
MICROBIANOS.
Os pesquisadores começaram a estudar mais
profundamente nossa microbiota cutânea depois que
perceberam a importância dos microrganismos
presentes na nossa microbiota intestinal para nossa
saúde, algo em torno de 100 trilhões de
microrganismos. Na nossa pele pesquisas apontam
algo ao redor de 1 trilhão de microrganismos, 1000
diferentes espécies de bactérias e 80 diferentes
espécies de fungos. Existem mais de 50 milhões deles
só na ponta dos nossos dedos.
Mas precisamos mencionar que não possuímos
microrganismos apenas na superfície da nossa pele.
Estudos mostram que a microbiota da nossa pele se
extende desde a epiderme, através da derme e
alcança tecidos como a hipoderme logo abaixo da
derme. Esses resultados são bastante relevantes pois
poderemos ter uma ação das nossas bactérias nesses
tecidos.
Nossa microbiota varia bastante dependendo do local
no nosso corpo, devido a variações principalmente na
temperatura, umidade, pH, se é uma área mais seca,
úmida, oleosa ou com mais pêlos. Além disso a
microbiota da pele é diferente comparando homens e
mulheres, adultos e adolescentes, pessoas esportistas
e sedentárias, pessoas que vivem no campo e na
cidade, por exemplo.
A microbiota benéfica característica da pele realiza um
certo número de funções que são essenciais para
manter o equilíbrio da pele:
Proteção competitiva da pele contra todas as
formas de bactérias patogênicas. Se nós temos
muitas bactérias boas na nossa pele, elas vão ocupar
todos os espaços e não permitir que bactérias ruins
nos infectem
Envolvimento no metabolismo epicutâneo
(secreção de lipase, produção de ácido lático, etc.)
Contribuição para impulsionar o sistema
imunológico (indução das células T reguladoras locais,
evitando respostas inflamatórias exageradas ou
indesejadas)
Manutenção da integridade da pele e da
homeostase dos queratinócitos
Inibição local e sistêmica de inflamações
A microbiota residente interrompe o desenvolvimento
de espécies potencialmente patogênicas. Esta
rivalidade entre microbiota benéfica e não benéfica
mantém a homeostase - um estado que é resistente à
infecção e proliferação bacteriana.
iv. EQUILÍBRIO X DISBIOSE
Quando nós falamos em equilíbrio da microbiota, tem
duas coisas que nós precisamos guardar. A primeira é
que quanto mais tipos diferentes de bactérias (vou
usar o termo bactéria porque é o microrganismo mais
abundante no nosso corpo, mas lembrem-se que
existem outros) mais saudável e equilibrada é nossa
microbiota.
A segunda coisa é que não existe bactéria boa e
bactéria ruim. Tudo depende do equilíbrio.
NÃO EXISTE MICRORGANISMO BOM OU RUIM!
TUDO DEPENDE DA SITUAÇÃO!
A famosa bactéria relacionada à acne, o Cutibacterium
acnes (antigamente chamada de Propionibacterium
acnes) é encontrada frequentemente em peles
perfeitamente saudáveis, porém ele se torna
problemático quando em um ambiente
desequilibrado, em disbiose!! Outro exemplo é a
bactéria patogênica Staphylococcus aureus, causadora
da meningite bacteriana, e encontrada também em
pessoas saudáveis. Porém é só haver alguma baixa na
imunidade, nosso corpo entrar em disbiose, que a
infecção se manisfesta.
Os pesquisadores viram que essa disbiose da
microbiota da pele está relacionada com quebra da
barreira cutânea, acne, psoríase, dermatites. Nessas
afecções ocorre a perda da diversidade de boas
bactérias e o estabelecimento de bactérias
patogênicas.
Quando em EQUILIBRIO então nossas boas bactérias:
Protegem a pele não permitindo a entrada de
patógenos – não deixam espaços abertos
Produzem substâncias antimicrobianas (AMPs)
que matam microrganismos oportunistas
Aumentam a função barreira – evitam a perda de
água transepidérmica (Tewl) e descamação
A microbiota cutânea representa um fator importante
no sistema imunológico e proteção da pele. Qualquer
desequilíbrio desencadeia uma deficiência
imunológica funcional, que muitas vezes leva a
ocupação da região da pele por microrganismos
patogênicos adormecidos. O equilíbrio pode no
entanto ser restaurado por ações que são capazes de
restaurar as populações microbianas iniciais.
Sinais que se tornam aparentes nas diferentes regiões
do corpo em decorrência do desequilíbrio na
microbiota:
No rosto: Rica em sebo, a pele quando desequilibrada
promove o crescimento excessivo de microrganismos
lipofílicos como o Cutibacterium acnes, hidrolizando
lipídios em ácidos graxos livres irritantes.
No cabelo e no couro cabeludo: O cabelo é um incrível
colecionador de microrganismos, poeira e poluentes
que provavelmente perturbam o equilíbrio de sua
microbiota. Ele carrega leveduras como Malassezia
furfur (um fungo), que é particularmente abundante
em cabelo oleoso e promove a formação de caspa.
Nas mãos: Esta é uma das áreas mais expostas do
corpo, portanto, atualmente é um portador saudável
e um disseminador de “patógenos”. Sua microbiota é
freqüentemente ameaçada pelo desequilíbrio por
contato constante com substâncias agressivas, como
sabonetes e produtos domésticos.
Nas axilas: Esta é uma região com alta umidade, pH
elevado, secreções apócrinas e abundância de pêlo. A
densidade microbiana nesta região é considerável. O
uso de um desodorante bactericida destruindo a
microbiota pode desencadear a proliferação de
Staphylococcus aureus e o aparecimento de lesões
locais.
v. FATORES QUE ALTERAM NOSSA
MICROBIOTA
A pele está frequentemente exposta a numerosas
formas de agressão, e se torna um ecossistema frágil
quando desprovida da sua parte microbiana. Vários
fatores conseguem alterar nossa microbiota como:
poluição, temperatura, umidade, excesso de sol, uso
de surfactantes e até mesmo alimentação, estresse,
uso de medicamentos.
A poluição (poeira, gases de escape, etc.) torna nossa
pele frágil, alterando a função de barreira epidérmica
e desestabilizando indiretamente a microbiota
residente da pele.
Seja em contato direto com a pele ou com o ar, esses
fatores agressivos tornam a superfície da pele frágil e
abre espaço ou “nichos” que facilitam a invasão de
bactérias patogênicas. Além disso, estamos
constantemente sujeitos a variações ambientais,
excesso de ar condicionado no verão, estresse, higiene
excessiva.
Na verdade, produtos de limpeza (detergente líquido
e produtos de chão, etc.) fortes são capazes de
danificar o manto hidrolipídico, desnaturar as
proteínas de superfície e eliminar a camada superior
do estrato córneo, removendo a microbiota benéfica
da pele com ele. Sabonetes ou alcalinos no banho ou
chuveiro irá desencadear mudanças.
Eles têm uma ação muito mais suave, mas são
aplicados em grandes áreas da pele, alterando assim
as condições fisiológicas da superfície da pele e
perturbando a nossa microbiota protetora. Em menor
escala, alguns produtos de cuidado corporal também
podem alterar temporariamente esse ecossistema.
Todos esses fatores agressivos desencadeiam o
desequilíbrio do ecossistema, alterando a epiderme
removendo lipídios da pele, por exemplo, e
desestabilizando a microbiota da pele, alterando o
ambiente.
vi. BENEFÍCIOS DE SE MANTER A
MICROBIOTA DA PELE EQUILIBRADA
BOM, AGORA QUE VOCÊS JÁ SABEM BASTANTE
SOBRE AS BACTÉRIAS PRESENTES NA NOSSA PELE,
VAMOS AO QUE INTERESSA. NÓS VIMOS QUE ELAS
SÃO BASTANTE BENÉFICAS PARA NOSSA PELE E
NOSSA SAÚDE. MAS O QUE EXATAMENTE ELAS
FAZEM? COMO ELAS ATUAM? O QUE ELAS NOS
PROPORCIONAM? EU LISTEI AQUI 5 MOTIVOS PARA
MANTERMOS SEMPRE NOSSA MICROBIOTA
EQUILIBRADA, E ASSIM, MANTERMOS NOSSA PELE
BONITA, JOVEM E SAUDÁVEL.
1- Proteção
O primeiro motivo é claro é proteção. Como foi
mencionado anteriormente, quando a microbiota da
nossa pele está em equilíbrio entre as bactérias boas e
as más, bactérias patogênicas que estejam transitando
ao nosso redor, não conseguem nos infectar e
colonizar nossa pele.
Nós estamos constantemente expostos a inúmeros
microrganismos, tanto bons quanto ruins. Pense
quantas mãos não passaram pelo corrimão da escada
que você usa, ou que eles estão dispersos no ar.
Porém eles só conseguirão nos prejudicar se estiver
desbalanceados de maneiro geral, tanto na saúde do
nosso organismo como por exemplo se tivermos uma
queda da nossa imunidade, como na saúde da nossa
pele.
2- Hidratação
A nossa microbiota está intimamente ligada ao nível
de hidratação da nossa pele. Quando em equilíbrio as
nossas boas bactérias produzem proteínas e várias
substâncias semelhantes ao nosso NMF (Fator de
Hidratação Natural), incluindo ácido hialurônico,
ceramidas, que irão manter nossa barreira lipídica
funcional e minimizar a perda de água transepidermal
(TEWL).
Microbiota em equilibrio Microbiota em disbiose
O ácido hialurônico é um ativo produzido
naturalmente pelo corpo que possui propriedades
hidratantes e estimulantes de colágeno, a proteína
mais abundante do nosso corpo. Ele é encontrado no
organismo, mas com o passar do tempo sua produção
diminui, precisando ser reposto em formato de
tratamento. A substância é responsável por preencher
os espaços entre as células e é bastante utilizada para
redução de sulcos na pele (o famoso “bigode chinês”),
rugas e linhas de expressão. Além disso, é uma
molécula capaz de reter alta quantidade de água,
mantendo a pele hidratada, firme e lisa.
3- Redução dos sinais da idade
Vocês sabem a partir de quando nós começamos a
envelhecer realmente??? Por mais triste que seja, nós
começamos a envelhecer assim que nascemos. Assim
que começamos a respirar, a ingerir oxigênio, se inicia
toda a cascata de reações oxidantes no nosso
organismo, que vão culminar no envelhecimento
celular. Esse é o chamado envelhecimento intrínseco,
o que inevitavelmente ocorre com todos nós. Nós
também podemos envelhecer através do
envelhecimento extrínseco, aquele causada por
fatores ambientais como exposição ao sol, poluição,
cigarro, etc.
Bom, aqui entra um grupo especial de enzimas, as
metaloproteinases (MMPs), também chamadas de
“enzimas do envelhecimento". Essas enzimas
compreendem uma família de proteinases que têm
sido relacionadas à remodelação da MEC (matriz
extracelular) e cicatrização de feridas, são um grupo
de enzimas catabólicas, ou seja, de quebra. No tecido
exercem o papel de catabolismo das regiões da matriz
extracelular que precisa ser reparada, mas quando
atuam de forma desorganizada, contribuem
significativamente para o envelhecimento cutâneo.
O que isso tem a ver com microbiota? Tudo na
verdade. Pesquisadores descobriram que, quando
ocorre um desbalanço na nossa pele, entre as
bactérias boas e as ruins, essa situação favorece a
instalação de microrganismos patogênicos. Bactérias
ruins que estavam por ali mas não conseguiam se
estabelecer encontram uma brecha na nossa proteção
microbiana, se instalam e começam a secretar
enzimas. Adivinhem quais!!! As proteases. Tanto
bactérias boas, comensais, quanto patogênicas
produzem essas proteases, porém com finalidades
diferentes.
Enquanto as proteases da microbiota contribuem com
o equilíbrio, as proteases das bactérias patogênicas
são utilizadas para que elas consigam permanecer ali
e penetrar na nossa pele para nos infectar. Nesse
processo de penetração na pele, elas usam essas
proteases para DEGRADAR colágeno e elastina,
componentes essenciais da nossa derme. E todos nós
sabemos o que ocorre quando perdemos colágeno e
elastina, nossa pele se torna flácida, sem elasticidade,
envelhecida.
ALGUÉM AÍ QUER CONTINUAR USANDO PRODUTOS
DE BELEZA QUE AGRIDAM A PELE E A
MICROBIOTA????
4- Proteção contra melanomas
Pesquisas recentes tem mostrado que o microbioma
de indivíduos saudáveis pode conferir proteção contra
câncer de pele, e mostram a importância da
microbiota residente da nossa pele na nossa defesa.
A bactéria Staphylococcus epidermidis é normalmente
encontrada na pele de pessoas saudáveis, ou seja, faz
parte da nossa microbiota residente. Ela também
forma um escudo protetor na pele pois produz
substâncias capazes de impedir o crescimento de
bactérias patogênicas, como o Staphylococus aureus.
Um estudo publicado na revista Science Advances
mostrou que a bactéria Staphylococcus epidermidis
também é capaz de produzir uma substância química
que inibe o crescimento de alguns tipos de células
cancerígenas, mas que não afeta as nossas células
normais.
A substância produzida pela bactéria, a 6-N-
hidroxiaminopurina (6-HAP), é uma molécula que
inibe a síntese de DNA impedindo o crescimento de
células tumorais e também o desenvolvimento de
tumores de pele induzidos por radiações UV. No
estudo, camundongos que possuíam o Staphylococcus
epidermidis na pele apresentaram redução na
incidência de tumores induzidos por UV.
Camundongos que não tinham o S. epidermidis e não
produziam então essa substância apresentaram um
supressão do crescimento do tumor in vivo após
administracao intravenosa ou aplicação tópica do
Staphylococcus epidermidis.
Estes resultados mostram como é importante
cuidarmos bem da nossa pele. É claro que não
devemos nunca deixar de usar o filtro solar, mas com
certeza cuidar e restaurar nossa microbiota se torna
cada vez mais importante e necessária.
5- Auxílio no processo de lipólise
De todos os benefícios de se cuidar da microbiota da
pele acho que é aqui que eu vou conseguir a atenção
de vocês!! rsrssr O papel da microbiota nos processos
que envolvem quebra e armazenamento de gordura
na verdade são bem amplos. Os estudos já estão bem
mais avançados com relação à obesidade mas agora
estão descobrindo esse papel também ligado à nossa
pele.
O processo de lipólise é a quebra de triacilglicerol
(TAG, forma de gordura armazenada) em ácido graxo
livre e glicerol nos nossos adipócitos, para produção
de energia. Se ocorre a quebra de TAGs mas os
subprodutos não são utilizados, eles retornam aos
nossos adopócitos, e a gordura volta a ser estocada.
O que se sabe hoje sobre influência da microbiota na
lipólise?
- proteases bacterianas são capazes de se ligar à L-
carnitina. A L—carnitina está envolvida na beta
oxidação dos ácidos graxos livres, bloqueando a beta
oxidação e inibindo a degradação dos ácidos graxos,
que dessa forma retornam aos adipócitos
- proteases bacterianas podem inibir a adenil ciclase,
inibindo todo o processo de quebra dos TAGs em
ácidos graxos e glicerol
Mais recentemente um estudo mostrou que um
desequilíbrio na microbiota que leve a um aumento na
população de Staphylococcus aureus leva também a
uma rápida proliferação de pré-adipócitos,
expandindo assim a camada de gordura sub-dérmica,
devido a produção pelo S. aureus de ácidos graxos de
cadeia curta (SCFAs – short chain fat acids), como
butirado, propionato, acetato, que estimulam o
processo de adipogênese. Essas substâncias só são
produzidas quando a população de S. aureus é maior
que a normal.
Essas e outras pesquisas nos indicam uma das
prováveis razões de tratamentos para diminuição da
gordura corporal e celulite não se mostrarem tão
efetivos como esperados, ou funcionarem bem em
uma pessoa mas não na outra. É claro que o fator
alimentação é muito importante. Porém precisamos
lembrar que a nossa microbiota é biologicamente
muito ativa. As bactérias que se encontram ali não
estão apenas “paradas”, mas em constante atividade,
sintetizando substâncias, enzimas, metabólitos que
poderão atuar de forma benéfica ou maléfica ao nosso
organismo e nosso metabolismo.
vii. COSMÉTICA PROBIÓTICA E A BELEZA DO FUTURO
Ultimamente as pessoas andam muito mais
preocupadas com a saúde e, portanto, estão mais
interessadas em assuntos relacionados ao tema. Elas
estão em busca de soluções mais saudáveis, que
tratem o problema sem causar outros danos ou efeitos
colaterais. A intenção é aumentar a vitalidade física e
garantir a manutenção da saúde, porém com
segurança.
Um cosmético convencional que apresenta uma ação
benéfica aparente pode causar outros danos que só
vão aparecer no futuro. Por isso, investir no natural
não só é mais saudável, como também é uma forma
de prevenção. E nada mais natural do que utilizar algo
que nosso corpo já possui para restaurar a beleza e
saúde da nossa pele.
Produtos contendo probióticos e afins (prebióticos e
pós-bióticos) têm a habilidade inteligente de
reconstruir e fortalecer a barreira da nossa pele. Eles
ajudam a pele a criar suas próprias defesas. Eles
também representam uma alternativa natural aos
tradicionais cosméticos antienvelhecimento, pois
potencializam o estímulo às fibras de colágeno e
elastina, aumentam a hidratação da pele, e melhoram
a proteção natural, promovendo uma recuperação de
barreira mais rápida, sendo praticamente um escudo
contra agentes nocivos.
EU VOU MOSTRAR PARA VOCÊS AGORA ALGUNS
EXEMPLOS DE COMO COSMÉTICOS PROBIÓTICOS
PODEM AGREGAR VALOR NA NOSSA ROTINA DE
BELEZA.
1. Auxílio no tratamento da acne
A formação de acne depende de uma série de fatores,
incluindo hiperqueratinização folicular, excesso na
produção de sebo, colonização por Propionibacterium
acnes (renomeado para Cutibacterium acnes), além de
uma cascata inflamatória que causam pele seca e
irritada. Dessa forma, é de fundamental importância
no tratamento acalmar a pele inflamada, mantê-la
hidratada e restaurar sua barreira.
Estudos tem mostrado que probióticos também
podem auxiliam o tratamento da acne. Foi
demostrado que probióticos inibem diretamente C.
acnes através da produção de proteínas
antibacterianas. Por exemplo, cepas de Lactococcus
sp. mostraram ser capazes de inibir o crescimento de
Staphylococcus aureus, Streptococcus pyogenes e C.
acnes através da secreção de bacteriocinas. Estudos
clínicos também tem mostrado que probióticos
melhoram a função barreira da pele através do
aumento de substâncias antimicrobianas, inibindo a
colonização por bactérias ruins para nossa pele.
Vários outros estudos também tem mostrado o papel
dos probióticos na produção de ceramidas,
importante na retenção de umidade na pele.
Pesquisadores aplicaram um creme contendo
Streptococcus thermophiles, uma bactérias benéfica
presente na nossa pele, por 7 dias e notaram aumento
na produção de ceramidas tanto in vitro como in vivo.
Um tipo específico de ceramidas, as fitoesfingosinas,
conseguem inibir o crescimento de C. acnes. Dessa
forma, os probióticos atuam no tratamento da acne
em duas frentes, através da inibição da colonização
por C. acnes, e através da indução da síntese de
ceramidas e gorduras boas da pele,
contrabalanceando efeitos adversos de alguns
tratamentos.
Os probióticos também podem auxiliam através de
efeitos imunomodulatórios. Estudos mostraram que
culturas de pele humana tratadas com um cepa de
Lactobacillus mostraram diminuição na resposta
inflamatória, percebida pela redução na
vasodilatação, edema, e liberação de fator de necrose
tumoral alfa (TNF-alfa). Também minimizaram a
gravidade, o tamanho e a vermelhidão das manchas.
2- Ação antipoluição
É sabido que radicais livres provenientes da exposição
à poluição têm a capacidade de acelerar o
envelhecimento da pele. O uso de probióticos
aumenta a defesa natural da pele, pois eles inibem
uma resposta imunológica exacerbada, reduzindo
danos que o estresse e a poluição causam ao colágeno
e à elastina. Eles são como um escudo protetor contra
os agressores.
3- Proteção contra radiação ultravioleta
A irradiação ultravioleta (UV) do sol é o principal fator
ambiental que causa o envelhecimento da pele
humana, pois induz a expressão de enzimas capazes
de degradar várias substâncias no nosso organismo.
Dentre essas enzimas, chamadas de
metaloproteinases de matriz (MMPs), está a enzima
MMP-1, uma colagenase intersticial que degrada a
tripla hélice do colágeno.
Um estudo demonstrou o papel de Lactobacillus
plantarum, bactéria benéfica já conhecida como
probiótica, na inibição da expressao desses genes de
degradação de colágeno. Os pesquisadores
descobriram que uma substância componente da
estrutura celular do L. plantarum, o ácido lipoteicóico
(LTA), inibe a expressão da metaloproteinases MMP-
1. Além disso, o LTA promoveu a síntese de
procolágeno tipo 1 e reduziu a produção de espécies
reativas de oxigênio (ROS) induzidas pela radiação UV.
Os pesquisadores concluiram que LTA obtido de L.
plantarum possui potencial de prevenir e tratar o
envelhecimento da pele. Assim, produtos contendo
esses lisados capazes de não apenas restaurar o
equilíbrio da microbiota mas também de atuar
prevenindo o envelhecimento da nossa pele.
4- Recuperação da pele após tratamentos estéticos
Os primeiros sinais de envelhecimento são logo
percebidos na pele, e são resultado de uma mistura de
causas de natureza étnica, cronológica e hormonal.
Tratamentos anti-aging visam reativar o metabolismo
do colágeno, principal proteína envolvida no
envelhecimento, melhorando a qualidade da pele.
Um dos tratamentos mais eficazes contra o sinais do
envelhecimento é o laser de CO2 fracionado. Ele é um
laser ablasivo ou seja, provoca queimaduras na pele,
que ao cicatrizar, estimulam a produção de colágeno e
retração da pele, melhorando rugas finas. Como
resultado do pós tratamento, causa vermelhidão e
inchaço da pele, com tempo longo de inatividade
geral, exigindo algumas vezes até mesmo a
administração de esteroides para redução desses
sintomas. Muitas vezes o paciente deixa de fazer o
tratamento devido ao sintomas ocasionados no pós
tratamento.
Nossa microbiota cutânea desempenha papel
fundamental contra a colonização e infecção da pele
por patógenos e no metabolismo de várias proteínas,
ácidos graxos e sebo. Assim qualquer agressão externa
que cause uma alteração na microbiota pode acarretar
inúmeras afecções de pele, como acne e dermatite
atópica, entre outras.
Baseado nisso, pesquisadores testaram a aplicação
tópica de um creme contendo substâncias bioativas
derivadas de probióticos, que possuem a capacidade
de modular a resposta inflamatória pós tratamento,
diminuendo a vermelhidão e o inchaço, e diminuindo
o tempo de inatividade do paciente. Eles compararam
a resposta inflamatória após o uso de um creme
contendo princípios ativos probióticos, um creme
comum antibiótico e um creme a base de ácido
hialurônico somente. Os pacientes seguiram o
tratamento por duas semanas.
Os resultados obtidos mostraram que o creme
probiótico levou a uma redução mais rápida de
eritema (em média 14 dias mais rápido) e inchaço (em
média 9 dias mais rápido) pós-operatório, quando
comparado a tratamento padrão, mostrando que sua
indicação no pós tratamento traz enormes benefícios
para os pacientes, que sentem menos desconforto nos
dias que se seguem ao tratamento.
IX. CONCLUSÃO
Após anos de pesquisa nessa área, sempre lendo e
estudando, eu ainda me surpreendo com tantos
benefícios causados pela nossa microbiota, tanto
intestinal quanto na nossa pele, e pelas inúmeras
formas com que eles podem nos ajudar e atuam.
Vimos que nós não somos humanos, ou pelo menos
não apenas humanos. Mas uma mistura de células
humanas e de uma infinidade de microrganismos que
habitam todos os cantos do nosso corpo, que estão
sempre trabalhando, nos ajudando, mantendo nossa
homeostase e equilíbrio.
O tema “microbioma de pele” é um dos campos com
mais desenvolvimento científico da atualidade. Foi até
recentemente apresentado como a quarta camada da
pele, algo inerente à nós, ao nosso corpo. Ela pode e
deve ser mantida, cuidada e quando possível
restaurada. Só assim teremos uma pele mais jovem,
mais bonita, mais viçosa mas principalmente mais
saudável e protegida.
VENHAM FAZER PARTE DA COSMÉTICA DO FUTURO,
EM BUSCA DE UMA BELEZA NATURAL, REAL E
EFETIVA AO LONGO PRAZO. POIS ACREDITAMOS
QUE NÃO VALE A PENA DANIFICAR NOSSA PELE,
NOSSO MAIOR ÓRGÃO, EM BUSCA DE RESULTADOS
IMEDIATOS E NÃO DURADOUROS.
www.lavizcosmetica.com.br
REFERÊNCIAS
Divirtam-se!! ;-)
• Byrd, Allyson L., Yasmine
Belkaid, and Julia A. Segre. "The human
skin microbiome." Nature Reviews
Microbiology 16.3 (2018): 143.
• Grice, Elizabeth A., and Julia A.
Segre. "The skin microbiome." Nature
Reviews Microbiology 9.4 (2011): 244.
• Heintz, Caroline, and William
Mair. "You are what you host:
microbiome modulation of the aging
process." Cell 156.3 (2014): 408-411.
• Hong, Y. F., young Lee, H., Jung,
B. J., Jang, S., Chung, D. K., & Kim, H.
(2015). Lipoteichoic acid isolated from
Lactobacillus plantarum down-regulates
UV-induced MMP-1 expression and up-
regulates type I procollagen through the
inhibition of reactive oxygen species
generation. Molecular immunology,
67(2), 248-255.
• How probiotics are fueling a
toxin-free skincare revolution | Guardian
Sustainable Business | The Guardian.
Wed 26 Oct 2016 20.43 BST.
https://www.theguardian.com/.../oct/...
/probiotic-bacteria-products-skincare-
acne-agin...
• Kimura, Ikuo, et al. "The SCFA
receptor GPR43 and energy metabolism."
Frontiers in endocrinology 5 (2014): 85.
• Lew, Lee-Ching, Chee-Yuan
Gan, and Min-Tze Liong. "Dermal
bioactives from lactobacilli and
bifidobacteria." Annals of Microbiology
63.3 (2013): 1047-1055.
• Maguire, Mia, and Greg
Maguire. "The role of microbiota, and
probiotics and prebiotics in skin health."
Archives of dermatological research
309.6 (2017): 411-421.
• Morrison, Douglas J., and Tom
Preston. "Formation of short chain fatty
acids by the gut microbiota and their
impact on human metabolism." Gut
microbes 7.3 (2016): 189-200.
• Nakatsuji, T., Chen, T. H.,
Butcher, A. M., Trzoss, L. L., Nam, S. J.,
Shirakawa, K. T., ... & Gallo, R. L. (2018). A
commensal strain of Staphylococcus
epidermidis protects against skin
neoplasia. Science Advances, 4(2),
eaao4502.
• Nakatsuji, Teruaki, et al. "The
microbiome extends to subepidermal
compartments of normal skin." Nature
communications 4 (2013): 1431.
• Rocha, M. A., and E. Bagatin.
"Skin barrier and microbiome in acne."
Archives of dermatological research
310.3 (2018): 181-185.
• Sárdy, Miklós. "Role of matrix
metalloproteinases in skin ageing."
Connective tissue research 50.2 (2009):
132-138.
• Zoccali, G., Cinque, B., La Torre,
C., Lombardi, F., Palumbo, P., Romano, L.,
... & Giuliani, M. (2016). Improving the
outcome of fractional CO2 laser
resurfacing using a probiotic skin cream:
Preliminary clinical evaluation. Lasers in
medical science, 31(8), 1607-1611.
Top Related