UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL - IMES PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO
NANCY ITOMI YAMAUCHI
CONSCIÊNCIA REGIONAL NO GRANDE ABC SOB A ÓTICA DA
GROUNDED THEORY
São Caetano do Sul
2006
FICHA CATALOGRÁFICA
Yamauchi, Nancy Itomi. Consciência regional no Grande ABC sob a ótica da Grounded Theory / Nancy Itomi Yamauchi – São Caetano do Sul, SP: 2006. 100 f. Orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos Gil. Dissertação (Mestrado) – Universidade Municipal de São Caetano do Sul.
1. Gestão da Regionalidade. 2. Consciência regional. I. Gil,
Antonio Carlos. II. Dissertação (Mestrado) – Universidade Municipal de São Caetano do Sul. III. Título.
CDU
NANCY ITOMI YAMAUCHI
CONSCIÊNCIA REGIONAL NO GRANDE ABC SOB A ÓTICA DA
GROUNDED THEORY
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado
em Administração da Universidade Municipal de São
Caetano do Sul como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em Administração
Área de Concentração: Gestão da Regionalidade e
das Organizações
Orientador: Professor Doutor Antonio Carlos Gil
São Caetano do Sul
2006
UNIVERSIDADE MUNICIPAL DE SÃO CAETANO DO SUL – IMES Campus II – Rua Santo Antonio, 50 – São Caetano do Sul (SP)
Reitor: Prof. Dr. Laércio Baptista da Silva
Pró-Reitor de Pós-graduação e Pesquisa: Prof. Dr. René Henrique Götz Licht
Coordenador do Programa de Mestrado em Administração: Prof. Dr. Eduardo
de Camargo Oliva
Dissertação defendida e aprovada em 17/11/2006 pela Banca Examinadora
constituída pelos Professores:
Prof. Dr. Antonio Carlos Gil (Orientador)
Universidade Municipal de São Caetano do Sul
Prof. Dr. Silvio Augusto Minciotti
Universidade Municipal de São Caetano do Sul
Profa. Dra. Sandra Lencioni
Universidade de São Paulo
Aos meus pais, Por terem me ensinado o valor do estudo.
Ao Clercio e ao Victor, Pelo amor incondicional e pela alegria da convivência.
Agradecimentos
Primeiramente agradeço ao meu orientador Prof. Dr. Antonio Carlos Gil, por quem tenho imensa admiração e carinho. Seu constante estímulo, apoio emocional e intelectual me fizeram crer que conseguiria alcançar meus objetivos. Com você aprendi que a arte de educar é acima de tudo, acreditar no potencial das pessoas. Agradeço também a todos os docentes o Programa de Mestrado em Administração do IMES, por compartilhar seu conhecimento e experiência, em especial à Profa. Dra. Priscilla Perazzo e ao Prof. Dr. Silvio Augusto Minciotti pela colaboração e incentivo para a realização desta pesquisa. Agradeço às secretárias do Departamento de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração do IMES, Marlene Forestieri de Melo, Ana Maria Nóbrega Cury e Neuza Aparecida Marques pelo carinho, presteza e atenção. A todos os colegas discentes do Programa de Mestrado em Administração do IMES que compartilharam desta trajetória, em especial à Silvia Cristina da Silva, Letícia Martinet Martone, Edson Coutinho da Silva e George Henry Millard pela amizade, preocupação e cooperação durante o curso, principalmente nas fases mais difíceis. Agradeço imensamente a todos os participantes que concederam seu tempo precioso para a realização das entrevistas desta pesquisa. Aos amigos que compreenderam minha ausência no período de elaboração do relatório final deste estudo, em especial à Helen Benito Scapolan Petrolino e Alexandre Petrolino, pela solidariedade, carinho e apoio. Ao amigo Marcelo Chanes pela amizade e pelas grounded conversas que me ajudaram a organizar pensamentos, diminuir angústias e ansiedades e clarear os caminhos em busca do conhecimento. Às amigas da Inova e Paramédica, em especial à Cibele Munhoz, pela compreensão e permissão para que me ausentasse durante as etapas finais deste projeto. A minha família, em especial à minha mãe Thereza Kuba Yamauchi pela dedicação de sempre e à minha sogra, Cleide de Souza Gonçalves por ter ajudado a manter-me informada com revistas e jornais regionais no período do estudo. E finalmente, a Clercio Gonçalves e Victor Yamauchi Gonçalves por me apoiar e entender o quanto este projeto era importante para mim. Poder contar com seu apoio, amor e compreensão foi fundamental para a realização deste sonho.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Domínios cognitivo e afetivo da Taxonomia de Bloom ......................... 82
Quadro 2 – Comparação entre a Teoria CISR e a Taxonomia de Bloom ............. 83
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Modelos de processo de pesquisa e teoria ........................................... 46
Figura 2 – O modelo de construção de conceitos e indicadores ............................ 55
Figura 3 – Fatores relacionados ao interesse e motivação para apreensão do
conhecimento regional ............................................................................................ 64
Figura 4 – Categoria central e conceitos teóricos integrados ................................. 67
SUMÁRIO
1 Introdução .......................................................................................................... 12
1.1 Origem do estudo ........................................................................................ 12
1.2 Justificativa do estudo .................................................................................. 13
1.3 Problematização .......................................................................................... 13
1.4 Objetivos ...................................................................................................... 14
1.5 Delimitação do estudo .................................................................................. 14
1.6 Vinculação à Linha de Pesquisa .................................................................. 15
2 Revisão da literatura ......................................................................................... 16
2.1 Introdução .................................................................................................... 16
2.2 O processo de regionalização e suas diferentes concepções
2.2.1 Síntese do pensamento regional ao longo da História ....................... 16
2.2.2 A região nos tempos atuais – o Novo Regionalismo .......................... 20
2.2.3 O construcionismo social e os estudos regionais ............................. 22
2.2.4 O ator social e a participação no contexto regional .......................... 25
2.2.5 O regionalismo no Grande ABC ........................................................ 27
2.3 A consciência regional na literatura
2.3.1 Como o termo “consciência regional” tem sido citado ....................... 31
2.3.2 Em busca de uma definição para consciência regional ..................... 35
3 Metodologia ....................................................................................................... 38
3.1 A escolha do paradigma de pesquisa .......................................................... 38
3.2 O método na Grounded Theory ................................................................... 42
3.3 Os princípios da Grounded Theory .............................................................. 43
3.4 Os procedimentos para a coleta de dados e amostragem ........................... 46
3.5 Procedimentos de análise ............................................................................ 50
4 Resultados ......................................................................................................... 62
4.1 A teoria substantiva “COMPREENDENDO A INTERAÇÃO SINÉRGICA
REGIONAL” e seus componentes ............................................................................ 66
4.2 Tendo interesse e motivação ....................................................................... 68
4.3 Adquirindo conhecimento regional ............................................................... 68
4.4 Aprendendo e entendendo a região ............................................................. 72
4.5 Identificando-se e valorizando a região........................................................ 73
4.6 Participando da sociedade regional ............................................................. 75
4.7 Ampliando a consciência política e regional ................................................ 76
4.8 Amadurecendo a visão crítica regional ........................................................ 78
4.9 Adotando a região como valor pessoal ........................................................ 78
5 Discussão ........................................................................................................... 79
5.1 Introdução ..................................................................................................... 79
5.2 Comparação entre a teoria encontrada e a literatura ................................... 80
5.3 Similaridades com a Taxonomia dos Objetivos Educacionais de Bloom .... 81
5.4 Análise comparativa entre a Teoria CISR e o Construcionismo Social ....... 83
5.5 Revendo o conceito de consciência regional .............................................. 86
6 Conclusão ............................................................................................................ 88
Referências ............................................................................................................ 92
RESUMO
O Novo Regionalismo vem despertando interesse em escala mundial a partir
da década de 1980 e o conceito “consciência regional” vem sendo utilizado em
literatura nacional e internacional como importante base para novos modelos
de desenvolvimento. Este estudo foi realizado com o propósito de trazer uma
contribuição para um melhor entendimento sobre o fenômeno da consciência
regional, através da utilização da Grounded Theory, um método adequado aos
propósitos e ao objeto desta pesquisa. Verificou-se que atores locais percebem
a Região do Grande ABC, uma região socialmente construída, de três formas.
No nível inferior de consciência regional, o indivíduo apresenta conhecimento
mínimo sobre o conjunto da região. No nível intermediário, existe uma
consciência parcial sobre a região, com conhecimento sobre algumas cidades,
sua história, seus aspectos econômicos, sociais e políticos, mas não
necessariamente sobre mecanismos de articulação política e administrativa na
esfera regional. No nível avançado, a consciência regional é plena, com
conhecimento amplo sobre aspectos sociais e econômicos da região como um
todo, compreensão dos mecanismos estratégicos da regionalidade e dos
potenciais efeitos sinérgicos de ações político-administrativas integradas, com
visão crítica, capacidade de reflexão e avaliação do conjunto regional. A
presente pesquisa apresenta também uma teoria substantiva concebida com o
propósito de evidenciar os conceitos relacionados ao fenômeno da consciência
regional. A Teoria COMPREENDENDO A INTERAÇÃO SINÉRGICA
REGIONAL (CISR) possui oito categorias que representam os processos
sociais interligados ao conceito central, título dado à teoria. O estudo questiona
a definição clássica de consciência regional propondo uma ampliação do
conceito, visto que seu uso em literatura toma uma relevância que as
definições atuais não conseguem retratar.
Palavras - chave: Consciência regional, Gestão para o Desenvolvimento da
Regionalidade, Grounded Theory
ABSTRACT
The New Regionalism is a worldwide phenomenon that is taking place in more
areas of the world since the decade of 1980. The concept “regional
consciousness” is being used in national and international literature as an
important basis to new models of development. The aim of this study is to bring
a contribution to a better understanding of the regional consciousness
phenomenon by the adoption of Grounded Theory Method which showed
adequate to both the investigation purposes and nature of the research object.
Data revealed that regional actors perceive the Region of Greater ABC, a social
constructed region, in three manners. Those with inferior level of regional
consciousness have little knowledge about the region as a systemic concept. In
the intermediate level, the individual has a partial aware about the region, with
some knowledge about social, economic and historical aspects but not
necessarily about the political and administrative regional cooperation projects.
In the advanced level, knowledge about the regional reality is high, with broad
comprehension about social, economic aspects of the whole region, with
adequate understanding of the political articulations and administrative
integrative efforts, as the potential synergetic effects of regional cooperation.
This study also presents a substantive theory elaborated to evidence the related
concepts to the regional consciousness phenomenon. The Theory
“COMPREHENDING REGIONAL SINERGETIC INTERACTION” has eight
categories that represent the social processes interconnected to the core
category, which is the title given to this theory. This study also questions
regional consciousness definitions that are adopted in literature. It proposes a
review of the concept because it has been cited in literature as a very important
element to the success of regionalist projects and that does not fit with the
simplistic concepts in use.
Keywords: Regional consciousness, Administration for Regionality
Development, Grounded Theory
12
1 INTRODUÇÃO
Diversos trabalhos têm sido divulgados, tanto em nível nacional quanto
internacional, em torno do ressurgimento do interesse pelo regionalismo,
principalmente a partir do final da década de 1980.
Este Novo Regionalismo, que surge como reação aos efeitos gerados
pela globalização dos mercados, vem sendo objeto de pesquisas e
formulações teóricas no campo da Economia, da Geografia, da Sociologia, da
Antropologia e da Ciência Política. Mas suscita também a realização de
investigações no campo da Ciência da Administração, já que vem sendo capaz
de provocar impactos no processo de gestão tanto de organizações públicas
quanto em empresas e organizações do Terceiro Setor.
Dessa forma, a Gestão da Regionalidade, entendida como nova área de
conhecimento, vem requerendo o desenvolvimento de pesquisas e de teorias
capazes de auxiliar na melhor compreensão da dinâmica envolvida na
construção social da região.
As regiões socialmente construídas são fruto de articulação entre atores
interessados na integração de seus elementos. A sustentação e o
desenvolvimento destas depende de quanto esse “pensamento regional” é
disseminado e assimilado por outros atores sociais da região.
1.1 Origem do estudo
Este estudo teve como origem o interesse na ampliação do
conhecimento sobre o tema Gestão para o Desenvolvimento da Regionalidade,
sendo a principal motivação para sua realização a busca de um melhor
entendimento do fenômeno da consciência regional considerando-se atores
sociais como potenciais indutores do processo de construção do Novo
Regionalismo no âmbito do Grande ABC.
13
1.2 Justificativa do estudo
O conceito “consciência regional” (regional consciousness) vem sendo
utilizado tanto na literatura, nacional e internacional, quanto em discursos
políticos e acadêmicos como importante base para novos modelos de
desenvolvimento. Estes modelos focam a mobilização sistêmica dos recursos
disponíveis nas regiões para concretização do crescimento, da competitividade,
do emprego e da tecnologia.
A consciência regional, por sua vez, vem sendo destacada como
elemento essencial para a disseminação e efetivação do pensamento
regionalista, principalmente no contexto mundial contemporâneo, onde o capital
é global e as ações, locais.
Entretanto, as publicações acadêmicas mostram-se insuficientes para
oferecer conteúdos para adequada compreensão dos mecanismos e processos
sociais que influenciam a consciência regional dos indivíduos, enquanto
fenômeno subjetivo e qualitativo.
1.3 Problematização
A Região do Grande ABC Paulista, pano de fundo deste estudo, vem
desempenhando importante papel no processo de constituição das instituições
administrativas brasileiras, desde os primórdios de nossa colonização. Constitui
palco dos mais significativos no processo de industrialização e de formação do
“Novo Sindicalismo”. Provavelmente, mais do que qualquer outra região
brasileira, ressentiu-se dos efeitos da Globalização. A abertura comercial, a
emergência de novas tecnologias e a obsolescência do sistema fordista de
produção trouxeram algumas conseqüências danosas para a região, tais como
a ampliação dos níveis de desemprego. Estas conseqüências, por sua vez,
vêm determinando o empenho de gestores públicos, líderes políticos, dirigentes
sindicais, empresários, órgãos de imprensa, pesquisadores sociais e líderes da
sociedade civil no sentido de buscar novas soluções para o Grande ABC.
14
Mas para que transformações se efetivem, não bastam apenas mais
investimentos e adequação de normas políticas, econômicas e jurídicas. É
necessário que atores locais percebam-na como locus privilegiado para
ocorrência de mudanças, uma vez que representam agentes com potencial
para influenciar os rumos da regionalização socialmente construída.
Daí a justificativa para a realização de estudos com a finalidade de se
verificar que conhecimentos, idéias, informações, pensamentos, interesses e
motivações os atores expressam ao falar sobre a Região do Grande ABC. Em
outras palavras, que região “aparece” na consciência dos atores?
Assim, a presente pesquisa se propõe a fornecer resposta para a
seguinte indagação:
- Que conceitos são revelados por atores sociais da Região do Grande
ABC ao expressar sua consciência regional?
1.4 Objetivos
Com vistas a proporcionar resposta ao problema proposto, foram
formulados os seguintes objetivos:
- Verificar de que forma atores locais concebem a Região do Grande ABC
enquanto estrutura sócio-econômica e político-administrativa revelada
através de conceitos presentes em seus discursos;
- Desenvolver uma ordenação conceitual que possibilite a construção de
um modelo teórico representativo do fenômeno da consciência regional,
baseado no discurso de atores sociais regionais.
1.5 Delimitação do estudo
Este estudo delimitou-se territorialmente às sete cidades que compõe a
Região do Grande ABC (Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano
do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra), tendo sido
realizado através da participação de atores sociais da região, durante o período
compreendido entre Dezembro de 2004 a Janeiro de 2006.
15
1.6 Vinculação à linha de pesquisa
Este trabalho vincula-se à linha de pesquisa “Gestão para o
Desenvolvimento da Regionalidade” do Programa de Mestrado em
Administração da Universidade Municipal de São Caetano do Sul –
IMES/USCS, já que constitui a rigor, um estudo sobre consciência regional.
16
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Introdução
A presente revisão de literatura objetiva situar o objeto desta pesquisa, a
consciência regional, no contexto histórico e situacional, procurando
compreender os fatores que levam indivíduos aos esforços de regionalização
em torno de seus interesses. Além disso, procura entender como o termo
“consciência regional” tem sido utilizado em literatura.
2.2 O processo de regionalização e suas diferentes concepções
2.2.1 Síntese do pensamento regional ao longo da História
Desde a Antigüidade, os seres humanos tiveram a necessidade de
representar sua concepção de mundo caracterizando-o através de suas partes.
Deve-se ao povo grego uma melhor sistematização do saber regional da época
ao utilizar descrições ordenadas e comparativas, sínteses e explicações acerca
dos lugares e dos trajetos conhecidos (LENCIONI, 1999).
O termo região (regio, em Latim) remonta aos tempos do Império
Romano. A palavra regione era usada para designar a extensão das áreas de
administração local que, embora possuíssem certa autonomia, estavam sob
domínio do Império, mostrando de forma ampla uma relação entre poder e
território. (GOMES, 1995).
Entretanto, o conhecimento sobre a noção de região difundiu-se com o
desenvolvimento da Geografia, que o adotou como um dos seus conceitos
centrais no século XVIII, quando despontou como disciplina científica
independente. Apesar de alguns segmentos pertencentes às ciências sociais
terem se preocupado em estudar a realidade sob o prisma regional, foi na
17
Geografia que se desenvolveram as bases e os principais conceitos
relacionados à região, mais especificamente na Geografia Regional
(LENCIONI, 1999; GIL, 2001).
Conforme Lencioni (1999), na linguagem comum o termo região é claro,
sendo normalmente utilizado pelas pessoas em seu cotidiano. No entanto,
como conceito científico apresenta ambigüidades e constitui-se em uma noção
problemática, pois pode variar segundo a percepção de mundo concebido
dentro de um determinado contexto histórico cultural ou situacional.
De forma geral, uma região pode ser conceituada como uma
determinada porção da superfície terrestre que, por algum critério, pode ser
reconhecida como diferente de outra. Ou, de forma mais genérica ainda, a
noção de região contém a idéia de parte de um todo (LENCIONI, 1999, p. 23).
As acepções de região, entretanto, diversificaram-se desde a
institucionalização da Geografia. Desde o início do último quartel do século XIX
até 1970 aproximadamente, três grandes acepções de região foram
estabelecidas entre os geógrafos (CORREA, 1997).
A primeira foi uma acepção de região natural concebida como uma
porção da superfície terrestre identificada pela combinação de elementos da
natureza, como clima, vegetação e relevo.
Outra acepção desenvolveu-se a partir da década de 1920 como reação
às idéias positivistas que sustentavam a leitura determinista da região natural.
Para os autores ligados a esta tendência, para a compreensão do presente
seria necessária a perspectiva histórica. Assim, a região deveria ser vista como
área de ocorrência de uma mesma cultura, como o resultado de um longo
processo de transformação da paisagem natural em paisagem cultural.
Uma terceira acepção de região desenvolveu-se a partir da década de
1950, em virtude principalmente da chamada revolução teórico-quantitativa. A
região passou a ser considerada a partir de propósitos específicos, não tendo
como no caso da região natural e da região paisagem, uma única base
empírica. Tornou-se possível, então, identificar regiões climáticas, regiões
18
industriais, regiões nodais, ou seja, tantos tipos de regiões quantos fossem os
propósitos do pesquisador.
Os recortes que são feitos na realidade são provenientes do exercício
intelectual. Dessa forma, as divisões regionais são produzidas pelo intelecto,
segundo objetivos determinados pelo pesquisador (HARTSHORNE, 1978;
LENCIONI, 1999). Também para Hilhorst (1981 apud BOISIER, 1999), a região
é provavelmente mais uma construção mental do que uma realidade objetiva.
Nas três últimas décadas do século XX, o debate acerca do regionalismo
acentuou-se e novas concepções foram acrescentadas. Gilbert (1988)
estabelece a distinção entre três abordagens acerca do conceito de região na
“nova geografia regional”.
A primeira delas, conhecida como “materialista” entende a região como a
organização espacial dos processos sociais associados ao modo de produção
capitalista. Esta concepção tem sido comum entre geógrafos que adotam um
ponto de vista marxista estruturalista, já que enfatiza a divisão social do
trabalho, a lógica da circulação do capital, a reprodução da força de trabalho e
os processos políticos e ideológicos.
A segunda acepção entende a região como um cenário para interação
social, o qual desempenha um papel fundamental na produção e reprodução
de relações sociais. Essa abordagem emerge do fato de o espaço, suas
dimensões simbólicas e ideológicas e suas bases materiais serem construtos
sociais e culturais. O espaço, assim como os padrões sociais, vinculam-se
estreitamente com os processos sociais, culturais e naturais, mas não pode ser
entendido como um poder causal capaz de determinar processos sociais. O
social e o espacial são entendidos como constituintes e produtos ao mesmo
tempo.
A terceira acepção, por fim, enfatiza a cultura como o primeiro ponto de
partida, concentrando-se em problemas como identificação regional e
identidades regionais. A região é entendida primariamente como um conjunto
de relações entre um grupo específico e um lugar particular, como uma
apropriação simbólica de uma porção do espaço por um determinado grupo. A
19
região é perceptual, é um construto que reflete sentimentos e atitudes humanas
sobre as áreas e é definida como imagens subjetivas daquelas áreas.
Gil, Garcia e Klink (1999) também reforçam a idéia de que a cultura e a
identidade regional exercem papel relevante na formação da percepção acerca
da região, sendo a subjetividade, os sentimentos e as atitudes humanas
elementos a serem considerados nos estudos regionais.
Constata-se que as concepções de região têm sido afetadas pelas
concepções filosóficas dominantes nas mais diversas épocas. É evidente a
influência do Positivismo ao longo do século XIX, do Neokantismo no final
desse século e três primeiras décadas do século XX e do Positivismo Lógico na
segundo metade de século XX. Mas constata-se também a incorporação da
Fenomenologia e do Marxismo nos estudos regionais (LENCIONI, 1999).
Sob a influência da Fenomenologia, a ênfase dos estudos geográficos
passa a ser sobre o espaço vivido, aquele que é construído socialmente a partir
da percepção das pessoas e revelador das práticas sociais. Assim, o lugar
cultural torna-se o centro e o objetivo do conhecimento geográfico. Segundo a
perspectiva fenomenológica, o conceito de região ultrapassa a idéia de espaço
material, pois incorpora valores psicológicos que as pessoas têm em relação à
região, que não pode, por isso mesmo, ter limites fixos. E, à medida que os
objetos e fenômenos são tratados como aparecem na consciência, o modo do
espaço ser percebido e os valores modelados pela cultura e pela estrutura
social atribuídos a este espaço passa a ser analisado com o objetivo de
compreender o sentimento que as pessoas têm por pertencer a uma
determinada região (LENCIONI, 1999).
O final do século XX foi marcado historicamente pelo movimento da
Globalização, e vasta literatura tem sido produzida desde então, no sentido de
analisar, descrever e discutir suas repercussões no modo de vida
contemporâneo. A unificação da economia e a política de abertura dos
mercados mundiais trouxeram pressões internas e externas, impondo reações
e novas reflexões acerca dos mecanismos estratégicos de desenvolvimento
local. Uma destas reações foi um novo interesse pelo regionalismo como forma
20
de enfrentamento aos desafios globais. Esta revalorização da esfera regional
não vem desprovida de influências dos mais diversos segmentos da sociedade.
Nem segue um único padrão, pois difere de acordo com as diferentes
manifestações de grupos e coalizões que as sustentam (VAINER, 1995).
Um aparente paradoxo global-local passou a ser alvo de interesse de
pesquisadores e estudiosos e frases como “pensar global e agir local”
(BOISIER, 2002) ou neologismos como “glocalização” (Courchene 1995 apud
ABRUCIO; SOARES, 2001) ou “glocal” (BOISIER, 2002) e “regionalidade” (GIL;
GARCIA; KLINK, 1999) vem demonstrando que a propagação deste tipo de
pensamento se faz presente nos debates contemporâneos sobre políticas e
projetos de desenvolvimento local.
Nesse contexto emerge no cenário mundial o movimento denominado
em literatura como Novo Regionalismo despertando interesse de economistas,
geógrafos, sociólogos, administradores públicos, acadêmicos e políticos.
Este ressurgimento do interesse em torno das configurações regionais
suscitou a atenção não somente dos cientistas sociais cuja especialidade era o
tema regional, mas também daqueles que chegaram à conclusão de que o
conceito regional era importante, pois poderia representar mais do que um
simples padrão de localização. Seria uma questão central na coordenação das
formas mais avançadas da atividade econômica da atualidade (STORPER,
1997).
2.2.2 A região nos tempos atuais - o Novo Regionalismo
Apesar do regionalismo apresentar-se em diversos momentos da
história, nacional e internacional, é o período compreendido entre 1950 e 1970
que a literatura recente toma como referência para comparar o ressurgimento
do interesse atual em torno do tema.
Dessa forma, denominou de “Velho Regionalismo” este período marcado
mundialmente pela Guerra Fria e seus impactos e de “Novo Regionalismo” o
21
movimento que aparece na década de 1980. O que os diferencia é o seu
contexto histórico (HETTNE; SODERBAUM, 2000), pois o Novo Regionalismo,
um fenômeno considerado mundial, nasce em decorrência das transformações
estruturais impostas pelo processo de globalização dos mercados.
Apesar da visão aparentemente dialética, o debate sobre o global e o
local faz sentido na medida em que o papel das novas fronteiras econômicas e
os mecanismos de mobilização de recursos vêm sendo questionados em todo
o mundo. Afirmações polêmicas como a de que o Estado-Nação vem sofrendo
um enfraquecimento e perdendo seu papel como protagonista na economia
global (OHMAE, 1999), aquece debates em torno do assunto. Em outras
palavras, discute-se que o Estado-Nação mostra-se grande e lento demais
para a agilidade e flexibilidade necessárias à competitividade atual e por outro,
um espaço econômico reduzido demais para as exigências deste mercado
capitalista. Bell (1998 apud ABRUCIO e SOARES, 2001) coloca que o Estado-
Nação está se tornando muito pequeno para os grandes problemas da vida e
muito grande para os pequenos problemas da vida.
Neste contexto, emerge também um novo papel para as cidades,
sobretudo para as regiões metropolitanas que necessitam se reorganizar para
alocar serviços produtivos que atendam empresas globais.
Para Borja (1997), os processos econômicos, sociais e culturais tendem
a globalizar-se, mas seus impactos e conseqüências se darão em nível local,
concentrados nas aglomerações urbanas. Requer assim, uma política de ação
integrada.
As cidades passam então a representar espaços privilegiados para as
novas regras econômicas estabelecidas, de acordo com um sistema baseado
em redes de cidades (KLINK, 2000; GIL; GARCIA; KLINK, 1999).
De acordo com estes autores, as principais diferenças entre o antigo
regionalismo e o novo são: o antigo desenvolveu-se no contexto histórico da
Guerra Fria, foi criado de cima para baixo, foi protecionista e ocupava-se das
relações entre Estados-Nação, enquanto o novo surgiu em resposta à
globalização, constituiu-se de um processo mais voluntário, motivado pela
22
cooperação em prol da manutenção da competitividade frente aos novos
desafios mundiais, aberto em termos econômicos e resultado de um processo
social que engloba diversos atores não estatais.
Diante destas novas tendências, surgem também novos termos e
conceitos na tentativa de se delinear um campo de conhecimento específico
para os estudos sobre os fenômenos regionais. O neologismo “Regionalidade”
se constitui em um deles e pode ser conceituado como “qualidade de ser de
uma região”. (GIL; GARCIA; KLINK, 1999). Para estes autores, a regionalidade
seria um tipo de consciência coletiva, que une os habitantes de uma dada
região em torno de sua cultura, sentimentos e problemas comuns, viabilizando
assim a cooperação e o esforço solidário em torno do seu desenvolvimento.
Em outras palavras, regionalidade seria a formação social que surge da
articulação de esforços conjuntos das autoridades públicas, dos empresários,
dos representantes de segmentos da sociedade civil e dos representantes de
outras organizações, no espaço da região que pode ser geográfico,
administrativo, econômico, político, social e cultural. Baeza (1996) enfatiza que
o conceito de regionalidade é diferente do conceito de regionalização uma vez
que entende a regionalidade como a configuração de uma mentalidade própria
da região aludida. Essa mentalidade compreende o compartilhamento da
percepção de viabilidade do “projeto regional” por parte das autoridades
regionais e dos atores sociais desta região, elementos fundamentais no esforço
de construção conjunta da questão regional.
2.2.3 O construcionismo social e os estudos regionais
A abordagem denominada social construtivista (ou construcionismo
social), surgiu como resposta às abordagens puramente materialistas e
defende a premissa de que as idéias têm significado para os atores sociais.
Para Hollis e Smith (1991 apud PRIETO, 2003), as ações das pessoas
dependem do tipo de idéias que elas tem em seu pensamento. O
construtivismo reconhece a importância das bases materiais para a
23
compreensão da realidade. Entretanto considera que a relação entre condição
e interesse determina em grande parte a atitude do indivíduo.
O social construtivismo, por sua vez, tem suas raízes no interacionismo
simbólico, que tem como pressuposto central a afirmação de que os seres
humanos agem em direção às coisas com base nos significados que as coisas
têm para eles (BLUMER, 1969).
Vários autores têm considerado o construtivismo em seus estudos
regionais (HURREL, 1995; BOISIER, 1999; HETTNE, SODERBAUM, 2000;
PRIETO, 2003; VÄIRINEN, 2003; WUNDERLICH, 2004). Para Hurrel (1995),
não existem regiões naturais. A definição de uma região é sempre uma idéia
ligada a um processo de regionalismo específico que varia conforme os
interesses econômicos, políticos, sociais, culturais ou administrativos dos
atores envolvidos. Para este autor, a abordagem social construtivista permite
caracterizar o fenômeno da região através da inter-relação entre incentivos
materiais, estruturas intersubjetivas, identidade e interesse de atores. Regiões
são construções sociais e a regionalização é um processo (HETTNE;
SODERBAUM, 2000).
Segundo Berger e Luckmann (1966), a construção da realidade
constitui-se em um fenômeno eminentemente social. A ordem social existe
somente como produto de atividades humanas. Sendo assim, esta realidade
socialmente construída se dá através da interação e da negociação de diversos
grupos sociais, que a interpretam segundo critérios pré-existentes,
característicos de sua cultura e do conhecimento que possuem. A
reinterpretação e reconstrução da realidade se dão de forma dinâmica, onde o
indivíduo e os grupos ora influenciam, ora são influenciados.
O social construtivismo tem seu interesse nas formas em que os
fenômenos sociais são criados, institucionalizados, aceitos e sedimentados
como hábito ou tradição na consciência das pessoas. A forma como pensam os
indivíduos, suas idéias e concepções, tem conseqüências sociais, uma vez que
são expressas em palavras e discursos que servem de veículo para a troca de
conhecimento no cotidiano e assim, influenciam o meio por ter papel
fundamental na construção da realidade social em que se está inserido.
24
A linguagem representa o sistema simbólico mais importante para a
sociedade humana, uma vez que comunica significados e experiências
acumuladas, preservadas através do tempo e capaz de ser transmitidas a
outras gerações. A linguagem é o sistema de sinais mais relevante para o
interacionismo simbólico. Em outros termos, é o mais importante sistema de
sinais da sociedade humana (BERGER; LUCKMAN, 1985, p. 56).
Para estes mesmo autores, a realidade se constrói a partir do
conhecimento cotidiano dos atores sociais nela envolvidos, o chamado
conhecimento pré-teórico, pois permeia os ambientes antes mesmo das teorias
serem desenvolvidas para explicar os fenômenos. A linguagem dos atores
sociais traz os significados que fazem sentido no cotidiano deste indivíduo ou
grupo social. Esta realidade do “aqui e agora” é o foco da sua atenção e
representa a realidade presente na sua consciência. Alguns dos elementos que
são significativos para o indivíduo em seu cotidiano são: o lugar em que ele
mora e sua delimitação geográfica, a utilização de determinadas ferramentas
para executar o seu trabalho, o emprego de vocabulário próprio de seu grupo
social e profissional, o seu relacionamento com grupos de pessoas com quem
tem afinidade, entre outros. As experiências do dia-a-dia e o seu conhecimento
também são fortemente influenciados pela atividade relacionada ao trabalho
profissional. Para Marx o pensamento funda-se na atividade humana e no
mundo produzido por esta atividade.
A realidade que está ao alcance do indivíduo tem elementos
pragmáticos relativos ao trabalho que ele exerce, manipula, planeja e domina.
Portanto, a sua ocupação profissional influencia fortemente os seus interesses
(que estão envolvidos nesta realidade cotidiana) e a forma com que este
indivíduo faz a sua leitura sobre o mundo que o cerca. Existiriam então,
diferentes realidades para diferentes indivíduos ou grupos, conforme o contexto
do cotidiano vivido por eles. Em outros termos, é a partir da experiência de vida
que o indivíduo apreende a realidade, de acordo com suas próprias limitações.
A disseminação do conhecimento também ocorre sob influências sociais,
ou seja, ele é socialmente distribuído. Segundo Berger e Luckmann (1966),
25
este se constitui em um problema relevante, que perpassa pelas esferas
econômica, educacional e social e merece estudos acerca do tema.
Boisier (2002) também enfatiza a importância da disseminação social do
conhecimento. Para este autor conhecer supõe informação, porém
compreender supõe conhecimento. Esse conhecimento pertinente seria então
fundamental para uma gestão social do processo de desenvolvimento
territorial.
2.2.4 O ator social e a participação no contexto regional
Para Max Weber (1991) a ação social é um comportamento humano que
se dá quando o indivíduo (ator) atribui à sua conduta um significado ou sentido
próprio, relacionado ao comportamento de outras pessoas. Para Weber,
compreender o sentido que cada ator dá a sua conduta, sua percepção, suas
intenções e motivações ao vivenciar as diferentes situações sociais são o ponto
chave das investigações sociológicas.
Para os interacionistas simbólicos, a sociedade é um processo, fruto da
inter-relação de indivíduos que por serem capazes de descrever, explicar e
justificar suas ações, constituem-se em atores sociais. A motivação destes
atores sociais, assim como seus objetivos e simbolismos são indispensáveis
para a compreensão das situações de interação. As pessoas aplicam suas
próprias perspectivas para definir estas situações e as vêem de uma maneira
que só elas conseguem ver (CHARON, 1989).
Para Parsons (1970), de forma simplificada, pode-se entender um
sistema social como um sistema de interação, onde um conjunto diverso de
atores individuais relacionam-se de forma mútua, numa situação que tem pelo
menos um aspecto físico ou ambiental, utilizando-se para isso de símbolos
provenientes de sua cultura. Para este autor, o mundo dos objetos classifica-
se em objetos físicos, sociais e culturais. Ele considera o ator como o objeto
social, que pode ser representado pelo indivíduo ou por uma coletividade.
26
Matus (1993) considera o ator social como uma personalidade, uma
organização ou um coletivo de pessoas que de forma estável ou transitória,
tem capacidade de atuar em uma dada situação, sendo capaz de transformá-
la, acumulando força, desenvolvendo interesse e produzindo fatos na situação.
Klink (2000) ao discorrer sobre política e desenvolvimento regional
segundo a visão de Michael Storper, ressalta a importância da construção da
confiança através da conversação entre os atores. Esta confiança mútua entre
os atores, facilitaria a resolução dos conflitos e a remoção das barreiras,
estimulando um processo de entendimento da posição do outro. Coloca ainda
que deve-se levar em conta a posição e as aspirações de cada um dos atores
envolvidos.
Adler e Barnett (1998 apud HETTNE; SODERBAUM, 2000) apresentam
as regiões como projetos sociais desenvolvidos por atores que objetivam
proteger ou transformar estruturas existentes.
Para Oliveira e Lima (2003) o desenvolvimento regional no longo prazo
acontece como resultado da interação de três forças. Uma se refere à alocação
de recursos, outra à política econômica e a terceira, à ativação social. Estes
autores colocam que esta ativação social da população local é considerada
uma força endógena e relaciona-se à capacidade da região em criar um
conjunto de elementos políticos, institucionais e sociais que possam direcionar
o crescimento e o desenvolvimento da região de forma integrada.
Bandeira (1999) também argumenta a favor da participação da
sociedade civil e da articulação de atores sociais para a promoção do
desenvolvimento regional. Aponta inclusive que a falta de participação da
comunidade destaca-se como uma das principais causas de fracasso de
políticas, programas e projetos de diversas áreas, afetando assim a eficácia
das intervenções governamentais.
27
2.2.5 O regionalismo no Grande ABC
A Região do Grande ABC localiza-se na Região Metropolitana de São
Paulo, em uma posição estratégica entre a Capital do Estado e o Porto de
Santos, importante infraestrutura portuária de escoamento de produção
industrial. A Região é composta por sete municípios: Santo André, São
Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e
Rio Grande da Serra. Foi o núcleo do processo de industrialização no Brasil,
verificado na segunda metade do século XX.
Destaca-se no cenário nacional nos pólos setoriais automobilístico,
químico, plástico, de borracha, de máquinas e equipamentos, de móveis, entre
outros. Representa o quarto maior pólo econômico do país, só ficando atrás
das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Trata-se de uma região adensada com cerca de 2,35 milhões de
habitantes. Espacialmente, seu território é contíguo, de 842 km2, caracterizado
pela ausência de limites geográficos claros entre as divisas de suas cidades.
Seu crescimento rápido a partir da década de 1960 trouxe como conseqüência
um crescimento desordenado, trazendo problemas comuns às regiões
metropolitanas. A questão ambiental também está presente, visto que possui
56% de seu território em áreas de mananciais (KRÜGER, 2002).
A Região do Grande ABC também é considerada o berço do movimento
sindical organizado. Suas lutas e reivindicações em prol dos trabalhadores da
indústria metalúrgica trouxeram relevantes transformações políticas,
econômicas, culturais e sociais na região no final da década de 1970, dando
origem ao Novo Sindicalismo e acumulando experiência em organização social.
O Presidente Luiz Inácio da Silva, eleito em 2002, teve sua atividade política
iniciada na Região do Grande ABC, onde se destacou como líder sindical,
tornando-se conhecido nacional e internacionalmente pelos movimentos de
reivindicação social junto à classe operária.
28
A histórica da Região do Grande ABC começou no século XVI com o
surgimento em 1532 da Vila de Santo André da Borda do Campo, perdurando
durante os séculos XVII e XVIII.
A partir daí, sua história foi marcada por três fases (PETROLLI, 2000).
Na primeira, foi criada em 1812 a Freguesia de São Bernardo, que era
uma espécie de distrito de São Paulo e não tinha limites exatos. Em 1889
passou a se chamar Município de São Bernardo do Campo e compreendia
grande parte do que é hoje o Grande ABC.
Na segunda fase (1938 a 1964) esta localidade era denominada
“Triângulo do ABC”. Neste período foram criados os Municípios de Santo André
(1938), de São Caetano do Sul (1948), de Mauá e Ribeirão Pires (1953), de
Diadema (1958) e de Rio Grande da Serra (1963).
A terceira fase se caracteriza pela Região do Grande ABC como ela é
até hoje (ABRUCIO; SOARES, 2001).
A literatura registra o ano de 1961 como a primeira vez em que a palavra
“região” e a sigla “ABC” foram utilizadas na mídia impressa. Em pesquisa
acadêmica sobre o Diário do Grande ABC, o mais antigo e expressivo jornal
regional, Petrolli (2000) relata que o editorial publicado em seis de agosto de
1961, intitulado “União” já trazia a idéia de cooperação regional. Na época, o
Jornal ainda chamava-se New Seller e chamava a região do ABC de
“Pentágono Industrial”, fazendo alusão às cinco cidades componentes (exceto
Diadema e Rio Grande da Serra). O editorial informava que não só pelo
aspecto histórico, mas por outras afinidades profundas, as cidades possuíam
problemas comuns que não poderiam ser resolvidos parcialmente, senão de
modo global, abrangendo diversos pontos da estrutura social.
Este mesmo autor relata que em 1967, os sete municípios do Grande
ABC passaram a integrar a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP),
através de Decreto assinado pelo Governador Abreu Sodré.
A partir dos anos 90, tem início o processo de formação das instituições
de cooperação intergovernamental no Grande ABC, com a criação de quatro
organizações. Foi também na década de 1990 que a Região do Grande ABC
sofreu transformações econômicas importantes, em decorrência do processo
29
de globalização e de mudanças no cenário econômico nacional e internacional,
entre outros fatores, trazendo como conseqüência uma grave crise de
desemprego industrial local.
Percebendo que os esforços de união e cooperação para a resolução de
problemas comuns seriam mais interessantes do que a mera competição, os
prefeitos das sete cidades, liderados pelo Prefeito de Santo André, Celso
Daniel, resolveram criar em 1990 o Consórcio Intermunicipal das Bacias do Alto
Tamanduateí e Billings, conhecido como Consórcio Intermunicipal do Grande
ABC. No início teve predomínio da agenda ambiental, com a questão da
destinação dos resíduos sólidos e a gestão dos recursos hídricos. Entretanto,
logo ampliou sua atuação na promoção de formas articuladas de
desenvolvimento regional. O Consórcio tem personalidade jurídica, orçamento
e recursos próprios advindos das Prefeituras que contribuem de acordo com as
suas arrecadações. Pode estabelecer convênios e receber recursos para fins
pré-estabelecidos (ABRUCIO; SOARES, 2001).
A segunda organização criada foi o Fórum da Cidadania e surgiu como
resposta de diversos atores sociais preocupados com a crise econômica da
região. Sua origem foi o movimento em torno da campanha “Vote no Grande
ABC”, um movimento que reuniu representantes de vários segmentos da
sociedade regional, inclusive dos partidos políticos. O objetivo da campanha
era melhorar a representatividade política da região na Câmara Federal e na
Assembléia Legislativa elegendo candidatos que representassem os interesses
do Grande ABC nas instâncias parlamentares. Este movimento trouxe
resultados positivos com a eleição de cinco Deputados Federais e oito
Estaduais e contribuindo para a crença de que seria possível o esforço coletivo
em torno do compartilhamento de problemas comuns e busca de soluções com
base na cooperação. Decidiu-se então formalizar a instituição com o nome de
Fórum da Cidadania do Grande ABC, em 1995 (NUNES, 2005). Seu objetivo
era garantir a participação e representação de entidades da sociedade civil nos
debates acerca dos problemas regionais.
Em 1996, a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo
sugeriu a criação da Câmara Regional do Grande ABC, como estratégia para
30
fomentar o desenvolvimento econômico local. Em 1997, foi então instituída a
Câmara, que não tem personalidade jurídica nem orçamento anual fixo. É
mantida pelo Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, que lhe garante o apoio
administrativo necessário. A Câmara é composta por representantes do
governo estadual, do governo municipal e sociedade civil (ABRUCIO;
SOARES, 2001, p. 176).
A Câmara criou, em 1998, a Agência de Desenvolvimento Econômico do
Grande ABC, uma organização não governamental que tem como objetivo ser
a estrutura executiva e captadora de recursos para os projetos aprovados. Em
outros termos, é uma entidade de articulação e fomento do desenvolvimento
econômico regional, com base em projetos cooperativos envolvendo os setores
público e privado. A Agência implantou modelo inovador de gestão, incluindo a
participação da sociedade civil e estabelecendo redes sociais de articulação
regional para a construção conjunta de soluções necessárias ao processo de
reestruturação produtiva vigente. Dessa forma, tem despertado interesse e vem
ganhando projeção nacional e internacional (KRÜGER, 2002).
As instituições de cooperação regional, em especial a Agência de
Desenvolvimento, em parceria com Universidades locais e outras organizações
da sociedade, tem promovido espaços para debate acerca de projetos de
desenvolvimento regional, expondo a experiência do Grande ABC e de outras
regiões no mundo. Publicações documentando seminários que discutiram o
tema regional, assim como livros contendo depoimentos de atores sociais da
área política, administrativa, acadêmica, empresarial, sindical e educacional
têm sido editadas, evidenciando a presença da mídia impressa na
disseminação do conhecimento regional e do conceito de regionalidade no
Grande ABC (LIMA; MARCOCCIA, 2001; SEMINÁRIO RETRATOS
METROPOLITANOS, 2001). Cabe, porém, observar a questão do acesso
destas publicações à sociedade regional de modo geral.
Assim é que a Região do Grande ABC pode ser considerada uma
região, pois, apesar de constituída por sete municípios, a separação entre eles,
na maioria dos casos, não se dá por acidentes geográficos. Há até mesmo
31
situações em que várias ruas pertencem a um município do lado direito e a
outro do lado esquerdo.
O Grande ABC também não pode ser entendido como região
administrativa, pois, a rigor é parte integrante da Região Metropolitana de São
Paulo.
É, pois, um exemplo de região socialmente construída, para o que
contribuiu decisivamente a vontade política dos atores locais.
2.3 A consciência regional na literatura
Vasta literatura tem sido produzida no meio acadêmico sobre o Novo
Regionalismo, um fenômeno reconhecido mundialmente a partir do final da
década de 1980, com o término da Guerra Fria.
Dois aspectos tem sido destacados no entendimento contemporâneo do
que vem a ser regionalismo. Um destes aspectos se refere aos estudos sobre
percepção e o outro, à implementação do regionalismo em si (VIKTOROVA,
2001). O primeiro está conectado aos conceitos de identidade regional e
consciência regional, que remetem a fatores subjetivos de compreensão do
sujeito frente à relação “espaço cognitivo – espaço territorial”, aspecto
caracterizado neste estudo.
2.3.1 Como o termo “consciência regional” tem sido citado
A “consciência regional” tem sido citada em estudos empíricos e ensaios
acadêmicos de diversos modos.
GIL; GARCIA; KLINK (2003) explicam em artigo que discute os
conceitos de região, regionalismo e regionalidade:
É através do desenvolvimento da regionalidade, entendida como uma
verdadeira mentalidade da região, que a administração pública, o setor
privado e toda a sociedade civil adquirem a consciência regional,
32
elemento necessário para a união de esforços em prol do
desenvolvimento regional.( p. 11)
Para Fawcet e Hurrel (1998 apud GIL; GARCIA; KLINK, 2003):
O entendimento do conceito de novo regionalismo requer sua
decomposição em cinco categorias, analiticamente diversas, mas cujas
inter-relações são fundamentais para a teoria e prática do regionalismo
contemporâneo: a regionalização, as noções de consciência e
identidade regionais, a cooperação regional entre os Estados, a
integração econômica regional promovida pelo Estado e a coesão
regional. (p. 17)
Abrucio e Soares (2001) ao discorrer sobre avanços e obstáculos à
cooperação intergovernamental no Grande ABC, ressaltam que:
O desenvolvimento do conceito de rede federativa no Grande ABC é
tomado num duplo sentido. No primeiro, ocorre uma interligação
específica com o governo do Estado de São Paulo... [ ] . No segundo
sentido, refere-se à rede estabelecida com a sociedade civil ...[ ] e que
também continuará sendo necessária para consolidar uma consciência
regional, fundamental para que os atores continuem apoiando essas
instâncias, independente de eventuais reveses futuros. (p. 194)
Ainda:
O clima da campanha de 1996 foi marcado pelo crescimento da
consciência regional. (p. 196)
Ou:
... [ ] não haverá a possibilidade de reeleição da grande maioria dos
prefeitos que hoje apóiam o pacto de cooperação regional. Mas a noção
de consciência regional foi constituída e pode ser sempre recolocada
33
pelos líderes políticos e sociais. Há um aprendizado institucional que
não pode ser apagado facilmente ...(p. 197)
Frug (2002) sugere a utilização de abordagens baseadas em projetos
locais, sejam eles intra-municipais ou inter-municipais. Dessa forma, acredita
que haveria uma melhor dimensão da política regional, com melhora na
articulação de prioridades e disseminação da informação. Isso poderia
estimular a consciência regional entre os co-habitantes e o seu sentido de
cidadania.
Bandeira (1999) ao discorrer sobre desenvolvimento regional e
participação de atores sociais, enfatiza que:
...[ ] a inexistência de uma identidade regional dificulta a compreensão
do grau de interdependência existente entre os interesses dos atores
sociais e políticos que convivem nesses territórios. Nem sempre há a
consciência de que muitos problemas econômicos e sociais que afetam
essas áreas exigem soluções regionais. Em conseqüência, tais
problemas tendem a ser percebidos e enfrentados como se fossem
questões locais, deixando de ser aproveitadas ...[ ] .. oportunidade de
cooperação entre esses atores na defesa de interesses comuns à
região.( p. 6)
Para Paasi (1986 apud BANDEIRA, 2004), a institucionalização de uma
nova unidade territorial envolve quatro aspectos:
- A definição da forma ou abrangência territorial da região;
-A formação de uma imagem conceitual e simbólica da região;
- O desenvolvimento de instituições regionais e a incorporação efetiva
da existência da região às diferentes práticas e formas de organização
da sociedade;
-O estabelecimento da região como parte de um sistema de regiões,
com papel administrativo definido, associada à consciência regional da
comunidade.
34
Bandeira (2004) utiliza também o termo ao explicar que o processo de
institucionalização, se bem apoiado e conduzido, poderá levar a um aumento
expressivo no grau de “consciência regional” dos habitantes dessas áreas,
tornando-os mais propensos a cooperar na defesa de interesses regionais.
Cara (1995 apud DALLABRIDA 1999) afirma que o sentido de pertença,
de identidade regional, de tomada de consciência regional e de ação regional
definem a territorialidade regional. Dallabrida (1999) coloca que na medida em
que os atores regionais tenham uma forte consciência de territorialidade pode
haver uma transformação local se houver a adoção coletiva de um projeto de
desenvolvimento, com racionalidade própria.
Tomaney e Ward (2000) utilizam o termo consciência regional para
explicar que as políticas de conscientização ambiental também têm impacto
positivo na formação da consciência regional. Discute também que quando se
trata da cultura e da identidade no Novo Regionalismo, as bases da
consciência regional devem ser consideradas.
Wallis (1999) ao expor alguns exemplos de projetos regionais
inovadores (Londres na Inglaterra, Rotterdam na Holanda, Denver e Vale do
Silício nos Estados Unidos) defende a idéia de que está emergindo uma
consciência regional poderosa no mundo contemporâneo e que dirige uma
gama ampla e variada de esforços no sentido de criar novas capacidades para
administrar regiões.
Borja (1997) destaca que no atual momento histórico, os projetos de
cidade ou de região representam oportunidades democráticas para que
agentes públicos e privados ajam conjuntamente, favorecendo também a
reconstrução do sentido coletivo de cidade, da recuperação da consciência
territorial e das ideologias, refazendo os sistemas de convivência na sociedade.
Schrijver (2006) utiliza o termo consciência regional ao discorrer sobre
pesquisas empíricas realizadas em três diferentes regiões da Europa para
verificar os efeitos da regionalização instituída entre os habitantes destas
regiões. Para Paasi (1996 apud SCHRIJVER, 2006) quando se emprega o
termo “consciência regional” a atenção é voltada para as práticas dos
35
indivíduos, na identificação da região como algo que pode mudar ao longo do
tempo, podendo coincidir com a identificação de outros grupos ou lugares.
Perovic (2000) ao discorrer sobre o processo de regionalização na
Rússia e sua política de segurança, afirma que o papel da população nos
processos regionais não deve ser subestimado. Apesar da população
aparentar ser passiva e politicamente desestruturada, sendo relativamente fácil
a sua manipulação pelos líderes, o que as pessoas sentem e pensam sobre a
região é importante. Relata que é necessário que seja estabelecido se o
regionalismo em curso é baseado somente na consciência política dos
representantes, por exemplo, das elites regionais, ou se há uma consciência
regional em desenvolvimento entre a população. A partir daí, é interessante
estabelecer que fatores constituem a consciência regional naquele contexto.
2.3.2 Em busca de uma definição para consciência regional
Etimologicamente, a palavra “consciência” é derivada do latim
conscientia (con + scientia), com conhecimento (HOUAISS, 2001).
O conceito de consciência regional não apresenta um consenso entre os
autores. Na visão de alguns geógrafos, a consciência regional pode ser
definida como consciência de características ou personalidade de uma dada
região por uma grande quantidade de pessoas, baseada na apreciação pessoal
da combinação de ambos elementos, físicos e humanos, pertencentes à região
(UNIVERSITY OF BRITISH COLUMBIA, 2005). Dentro da linha humanista da
Geografia, a consciência regional é considerada um dos elementos invocados
nos estudos sobre o conceito de região num enfoque social, definindo a
dimensão regional como um espaço vivido (GOMES, 1995). Outros elementos
seriam o sentimento de pertencimento e as mentalidades regionais.
Wardhaugh (2001) ressalta que a consciência regional surge como
produto das imagens dominantes que emergem ao longo do tempo, de dentro e
de fora da região, que definem um lugar e um tempo que as pessoas adotam e
passam a utilizar, aceitando-as ou rejeitando-as para assim, expressar a
identidade regional.
36
Esta identidade regional forma-se então pelo compartilhamento das
experiências e pela manipulação destas através da memória. Ainda são
reforçadas ou rejeitadas de acordo com a influência de outros fatores
relacionados como classe, gênero, etnia, política, religião e linguagem. Ainda
para este autor, a complexidade na definição de uma dada região é reforçada
pelo fato de que está inter-relacionada com o processo de formação desta
identidade. E como a identidade de uma região é algo dinâmico, não estático,
uma construção social influenciada pelos mitos das pessoas em torno das
imagens subjetivas formadas a partir do conhecimento e das experiências
destas, a definição de uma região também se torna algo instável, fluído e
mutável.
Segundo Lencioni (1999), a partir do desenvolvimento da corrente
fenomenológica do pensamento geográfico, os objetos passaram a ser
considerados como fenômenos que devem ser analisados como aparecem na
consciência. Para a fenomenologia, a “intencionalidade da consciência” é
considerada chave. Sendo assim, surgem indagações como “que região
aparece na consciência das pessoas?” A instituída ou a vivida pelo indivíduo
em seu cotidiano?
Também para Frémont (1976 apud LENCIONI, 1999), a consciência das
pessoas acerca da região diz respeito ao seu espaço vivido e ao seu
sentimento de pertencimento a esta região. Desta forma, nem sempre a
consciência da região percebida pelo indivíduo corresponde a aquela
regionalização estabelecida pela administração pública.
Henri Lefebvre (1980 apud LENCIONI 2003) também se preocupou em
analisar a questão sob o prisma do concebido e do vivido-percebido, tendo
estudado o conceito da representação da realidade e da espacialidade dos
fenômenos sociais, uma vez que o mundo dos símbolos, das representações e
das mistificações podem influenciar a consciência acerca do lugar.
Paasi (2000) também toca nesta questão ressaltando que deve-se
estabelecer uma diferença analítica entre a identidade ideal atribuída à região
através da mídia e da educação, por exemplo, daquela manifesta pela
sociedade civil. Este última refere-se a uma identidade factual proveniente da
37
expressão das experiências pessoais do indivíduo no território delimitado pela
região. Sendo assim, para Paasi (2000), esta expressão pessoal ou coletiva
das experiências pessoais do indivíduo no território delimitado pela região,
representaria a sua consciência regional.
38
3 METODOLOGIA
3.1 A escolha do paradigma de pesquisa
O processo de decisão por uma metodologia científica está sujeito a
diversos fatores, mas depende em grande parte da adequação do método
escolhido à natureza do objeto de estudo e aos objetivos da pesquisa que se
pretende realizar (GIL, 1994). Sendo assim, procurou-se avaliar onde o
presente estudo, que tem como objeto a consciência regional, encontraria o
melhor paradigma de investigação. A escolha do paradigma de pesquisa guia a
seleção da metodologia apropriada e dos métodos a serem empregados
durante a coleta e análise dos dados (NOBLE, 2002).
Concluiu-se que o delineamento adequado para a presente investigação
seria de cunho empírico-indutivo, qualitativo e interpretacionista. Assim, foi
adotada como perspectiva metodológica a Grounded Theory com suas técnicas
e procedimentos preconizados dentro da linha clássica ou ortodoxa (GLASER,
2004; NOBLE, 2002).
A metodologia qualitativa vem sendo amplamente desenvolvida nas
ciências sociais onde os problemas são mais complexos e tem mais dimensões
para serem apreendidas do que os problemas das ciências naturais. O
comportamento de atores sociais e os fatores que influenciam sua forma de
pensar sobre a realidade são difíceis de modelar e medir. A pesquisa
qualitativa fornece os meios adequados para se estudar aspectos relativos à
crescente pluralização das esferas da vida, que exige uma nova sensibilidade
para o estudo empírico das questões sociais e político-administrativas.
Conforme Flick (2004), acadêmicos pós-modernistas defendem a idéia
de que a era das grandes narrativas e teorias chegou ao final, elas agora
devem ser limitadas em seus recortes locais, temporais e situacionais.
A pesquisa qualitativa também é recomendada quando se tem pouco
conhecimento sobre um fenômeno ou se pretende estudá-lo sob o ponto de
vista do sujeito. Ela mostra-se adequada quando se pretende compreender os
39
acontecimentos diários bem como os significados que as pessoas dão aos
fenômenos (GIL, 2004).
Além disso, a não utilização de procedimentos técnicos estruturalmente
rígidos permite que haja a flexibilidade necessária na coleta de dados para o
estudo do objeto em questão.
A consciência regional tem um caráter eminentemente subjetivo sendo
necessário que o estudo permita que os sujeitos expressem livremente a sua
visão de mundo e a sua realidade ou ainda, outras realidades percebidas por
eles.
Outro fator que levou a escolha pela metodologia qualitativa foi o caráter
exploratório do presente estudo. Uma pesquisa de nível exploratório é indicada
quando o tema escolhido é pouco analisado e o que se pretende é ampliar o
conhecimento acerca do fenômeno que se deseja investigar. Tem como
principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, com
vistas à formulação de problemas mais precisos ou novas hipóteses para
pesquisas posteriores (GIL, 1994). E por fim, o caráter processual dos métodos
qualitativos favorece o estudo do objeto de pesquisa escolhido neste trabalho
(FLICK, 2004)
Dentre os métodos utilizados nas ciências sociais, Sarantakos (1998
apud NOBLE, 2002) argumenta que existem três grandes paradigmas: o
positivista, o interpretacionista e o crítico.
No paradigma positivista acredita-se que exista uma só realidade,
aquela objetiva e mensurável. Para os positivistas, o mundo social é real e
independe da consciência humana. Crê que todos os membros da sociedade
definem a realidade de forma similar porquê todos compartilham os mesmos
significados. (NOBLE, 2002).
Para o paradigma crítico, a realidade não é uma criação da Natureza,
mas do Homem, particularmente daqueles que têm poder na sociedade e que
usam esse poder para manipular outros, na tentativa de fazê-los perceber o
mundo da maneira que se deseja, por vezes, criando uma falsa consciência
diante do potencial que possuem para mudanças sociais. Para os críticos, a
40
realidade é um constante estado de conflito e tensão, um contínuo processo de
transformação (NOBLE, 2002).
O paradigma interpretacionista admite que a realidade existe na mente
das pessoas, é uma experiência interna, construída através de interação social
e interpretação (NOBLE, 2002). A vertente interpretacionista mostra-se
adequada para prover condições que favoreçam a compreensão dos processos
sociais envolvidos na construção da consciência regional. O paradigma da
investigação interpretacionista permite a apreensão da realidade através da
obtenção de dados em níveis mais profundos, ricos de experiências,
percepções e significações do ponto de vista do sujeito (NOBLE, 2004). Tem
como característica tentar compreender e explicar o mundo social a partir do
ponto de vista das pessoas envolvidas nos processos, preocupando-se assim
em entender a experiência sob a perspectiva subjetiva. Suas teorias são
construídas sob o ponto de vista do ator ou agente, não do observador da
ação. A realidade social é considerada uma extensão da consciência humana
(VERGARA; CALDAS, 2005). Assim, o Interacionismo Simbólico e a
Fenomenologia constituem perspectivas metodológicas que seguem o
paradigma interpretacionista.
Tendo definido o paradigma de pesquisa, fez-se necessário encontrar
uma diretriz metodológica coerente, capaz de indicar os caminhos a serem
percorridos na coleta, organização e análise dos dados, alinhada com os
objetivos estabelecidos. Em outros termos, o presente trabalho necessitava de
um planejamento metodológico tão aberto que fizesse jus à complexidade do
objeto em estudo, neste caso, fator determinante para a escolha de um método
e não o contrário (FLICK, 2004).
A decisão pela metodologia da Grounded Theory se deu com base
nestes critérios. Justifica-se esta escolha pela possibilidade que esta
abordagem dá aos participantes de expressar as várias facetas que compõem
a sua consciência sobre a região em foco e pelo seu potencial de descoberta
de elementos teóricos relacionados a este objeto. A Grounded Theory,
conhecida no Brasil como Teoria Embasada ou Teoria Fundamentada nos
Dados, mostrou-se apropriada para esta pesquisa devido à possibilidade de
41
uma melhor compreensão dos fenômenos a serem investigados. Ela tem suas
raízes no Interacionismo Simbólico, e concebe todas as teorias como
construções simbólicas da realidade, como versões do mundo (FLICK, 2004;
ICHIKAWA; SANTOS, 2002).
A Grounded Theory foi criada em 1967 por Barney Glaser e Anselm
Strauss, dois sociólogos americanos, e constitui-se em um método de pesquisa
qualitativa que visa a descoberta de teoria a partir de dados sistematicamente
obtidos através de pesquisa social (GLASER; STRAUSS, 1967). Segundo Flick
(2004), a pesquisa realizada por meio da Grounded Theory busca a partir dos
dados empíricos e do campo em estudo, a descoberta de teoria substantiva
que explique os fenômenos e processos sociais encontrados naquela dada
situação ou caso. A teoria substantiva difere da teoria geral por ser aplicável
em uma dada situação circunscrita, aquela representativa da realidade dos
sujeitos estudados (ICHIKAWA, 2002). De acordo com Merton (1910-2003) as
tentativas de construção de sistemas teóricos totais que pretendem cobrir
todos os aspectos da vida social são menos úteis para a sociedade atual do
que a concepção de teorias sociais de médio alcance como solução a estas
posições extremas. As Teorias de Médio Alcance (Theories of the Middle
Range), assim como as teorias gerais, também envolvem abstrações, porém
são sempre apoiadas por dados empíricos observados (MERTON, 1996). Cabe
ressaltar que Barney Glaser teve forte influência do pensamento de Merton na
medida em que foi treinado por Paul Lazarsfeld, um inovador dos métodos
quantitativos (REETLEY, 2003), parceiro de Merton na Universidade de
Columbia nos Estados Unidos, da década de 1940 a 1960 (COLE, 2004).
Apesar da Grounded Theory ter sido apresentado por Glaser e Strauss
em 1967, foi nos últimos quatro anos que esta metodologia começou a chamar
atenção dos acadêmicos brasileiros da área de administração, pois na área da
saúde já era bem conhecida.
Um marco foi a pesquisa apresentada por Ichikawa e Santos no
Encontro Nacional da ANPAD em 2002. Neste trabalho, as autoras fazem um
apanhado histórico sobre o uso e potencialidades deste método no âmbito das
ciências humanas. Conforme estas autoras, levantamentos mostram que
42
pesquisadores brasileiros da área organizacional estão começando a se
interessar pela Grounded Theory. Cita a publicação de trabalhos sobre
mudança organizacional, gestão pública, racionalidade empresarial, o papel do
gerente até discussões de ordem epistemológica (ICHIKAWA; SANTOS, 2002).
Também tem sido publicados trabalhos nacionais na área de
administração estratégica e gestão de risco (BANDEIRA-DE-MELLO; CUNHA,
2003; 2004). Na literatura estrangeira encontramos trabalhos acadêmicos que
aplicaram a Grounded Theory na Administração em estudos sobre sistemas de
informação (ORLIKOWSKI, 1993; FERNÁNDEZ, 2005), reestruturação
corporativa (PANDIT, 1996), uso de equipes interdisciplinares (MCCALLIN,
2004), parcerias público-privadas (NOBLE, 2002) e Regionalismo no contexto
do Novo Urbanismo (SCHULER, 2001), entre outros.
3.2 O método na Grounded Theory
O método proposto pela Grounded Theory difere dos outros métodos
tradicionais de pesquisa nos pontos relacionados a seguir.
- A geração de teoria substantiva a partir dos dados obtidos, empírica e
sistematicamente, é seu principal intuito;
- A análise qualitativa se dá através de método de comparação constante
(Constant Comparative Method), em processo de pesquisa circular e não
linear;
- Devem ser descobertos conceitos e hipóteses relevantes para a área em
estudo, ao invés de buscar a verificação precisa de teorias já concebidas
(GLASER; STRAUSS, 1967).
Conforme Gil (2003), nas investigações de natureza fenomenológica, as
hipóteses são importantes, porém são tratadas como algo que se desenvolve
ao longo do processo de pesquisa e não antes.
Colocando de forma sintética, o método na Grounded Theory visa a
concepção de teorias a partir dos dados obtidos, que são submetidos a uma
43
técnica de análise comparativa constante. De forma sistemática e comparativa,
os dados são codificados e categorizados, agrupados e reagrupados num
exercício de fragmentação e reagrupamento, até que se encontre uma
categoria central (core category) que serve de eixo condutor para todos os
conceitos, alinhavando-os e organizando-os para formar a teoria (GLASER,
1967; 1978; 2004).
3.3 Os princípios da Grounded Theory
Noble (2002) coloca que princípios fundamentais devem ser seguidos
para realização de uma pesquisa com base no método da Grounded Theory
clássica ou ortodoxa, linha adotada no presente estudo. Os termos “clássico”,
“ortodoxo”, “glaseriano” e “straussiano” surgiram em decorrência do
aparecimento de duas vertentes de Grounded Theory a partir das divergências
entre seus dois criadores, Barney Glaser e Anselm Strauss (BABCHUCK,
1997; NOBLE, 2002; ICHIKAWA; SANTOS, 2002; REETLEY, 2003; STERN
1994 apud FERNÁNDEZ, 2004). Glaser pertencia à Universidade de Columbia
e Strauss, à Universidade de Chicago. Apesar de terem juntado esforços para
lançar o livro The Discovery of Grounded Theory em 1967, obra que
apresentou a metodologia da teoria fundamentada nos dados para a
comunidade científica mundial, Glaser e Strauss começaram a divergir na
forma como encaravam questões operacionais da pesquisa, entre outros
pontos. Estas diferenças na forma de entender e aplicar a Grounded Theory
começaram a ficar mais evidentes a partir das publicações seguintes, sozinhos
ou juntos com outros autores, principalmente após o lançamento do livro de
Strauss e Corbin Basics of Qualitative Research – Techniques and procedures
for developing Grounded Theory em 1990 e em seguida a resposta de Glaser
com Emergence versus Forcing - Basics of Grounded Theory Analysis em 1992
revelando clara separação metodológica e epistemológica entre os dois
acadêmicos (BABCHUCK, 1997; NOBLE, 2002; ICHIKAWA; SANTOS, 2002).
Segundo Noble (2002), os dois modos de se fazer Grounded Theory diferem
basicamente no paradigma de codificação. Babchuk (1997) enfatiza entre
44
outros pontos, o predomínio em Glaser da ênfase na geração de teoria ao
passo que Strauss e Corbin o fazem na verificação e validação da teoria.
O presente estudo adapta-se mais ao paradigma de codificação de
Glaser sendo, portanto, o referencial clássico de Grounded Theory o escolhido
para esta pesquisa. Desta forma, os princípios fundamentais que norteiam os
procedimentos deste trabalho são: a concepção da teoria com base nos dados
obtidos; a mente livre de idéias pré-concebidas; a sensibilidade teórica; o
princípio da amostragem teórica; o uso do método de comparação constante
na análise dos dados e o processo de pesquisa não - linear (NOBLE, 2002).
- A concepção da teoria com base nos dados obtidos: refere-se à geração
indutiva de teoria através de dados empíricos e não a verificação ou validação
de determinada teoria existente. Novas teorias têm a intenção de ampliar a
área de conhecimento científico sobre o assunto, desenvolvendo novas
questões e levantando novas hipóteses, levando a diferentes níveis de
aprofundamento sobre o fenômeno social. A teoria gerada deve emergir dos
dados e não ser concebida previamente e então forçada a se encaixar nos
dados (GLASER, 1978; NOBLE, 2004).
- A mente do pesquisador deve estar tão livre de idéias pré-concebidas quanto
possível: Glaser (1978) afirma que o pesquisador deve estar livre de qualquer
obstáculo que restrinja o processo de conceituação a partir dos dados
emergentes. Ou seja, ao entrar em campo, a mente do pesquisador deve estar
aberta o suficiente para permitir a descoberta de novos conceitos ao invés de
restringir a procura somente a aqueles conceitos que lhe são familiares ou
fazem sentido, de acordo com alguma teoria já conhecida (NOBLE, 2004).
- Sensibilidade teórica: é a habilidade do pesquisador em pensar
conceitualmente sobre os padrões de comportamento que se descobre nos
dados ao longo da pesquisa. É um exercício constante de abstração e
transcendência entre a narrativa descritiva do entrevistado e a conceituação
dos eventos, significados e afirmações. Em outros termos, se o pesquisador vai
45
a campo com uma teoria pré-definida, ele empobrece sua sensibilidade teórica
(GLASER; STRAUSS, 1967; GLASER, 1978; ICHIKAWA; SANTOS, 2002).
Este perfil específico do pesquisador e sua habilidade em reconhecer e
elaborar teoricamente os insights ao longo da pesquisa (ICHIKAWA; SANTOS,
2002) se constitui em uma das limitações neste tipo de estudo.
- O princípio da amostragem teórica: Segundo Glaser (1978), a amostragem
teórica é o processo de coleta de dados para gerar teoria, onde o pesquisador,
de forma articulada, coleta, codifica e analisa seus dados. Decide que dado
colher na seqüência e onde encontrá-lo, com o objetivo de desenvolver a teoria
emergente. A teoria emergente é o que guia o processo de coleta da amostra.
Ou seja, a amostragem é controlada a cada caso coletado. Através da análise
comparativa constante, o pesquisador vai gerando hipóteses e escolhendo o
próximo grupo a ser entrevistado para preencher as lacunas teóricas
(GLASER; STRAUSS, 1967; GLASER, 1978).
- Uso do método de comparação constante na análise dos dados: representa o
método fundamental de análise de dados na Grounded Theory clássica
(NOBLE, 2004). Na metodologia tradicional de pesquisa, determina-se uma
amostragem prévia à etapa da coleta de dados sendo que a análise formal só é
realizada após o término da coleta total dos dados. Na Grounded Theory,
devido ao uso do método de análise comparativa constante, a cada caso
coletado (entrevista) o pesquisador organiza os eventos (incidentes) ou seja, as
afirmações do entrevistado que são relevantes para a questão da pesquisa,
codifica-os e analisa-os para que se possa decidir qual será próximo caso, com
base em relevância para a emergência da teoria (NOBLE, 2004; GLASER;
STRAUSS, 1967).
- Processo de pesquisa não-linear: segundo Nobel (2004), ao utilizar a
metodologia clássica da Grounded Theory, o pesquisador vai mover-se entre
as diversas etapas do processo de pesquisa, principalmente entre a coleta e a
análise e vice-versa, não existindo portanto uma característica linear e sim
46
cíclica ou circular (Flick, 2004). Segundo este autor, ao mesmo tempo em que
essa circularidade causa problemas por não representar o paradigma
tradicional utilizado na avaliação das pesquisas acadêmicas, é também o ponto
forte desta abordagem, pois obriga o pesquisador a refletir constantemente
sobre o processo de pesquisa como um todo.
Modelo linear
do processo
de pesquisa
Modelo
circular do
processo de
pesquisa
Figura 1: Modelos de processo de pesquisa e teoria. Fonte: FLICK, 2004, p. 61.
3.4 Os procedimentos para a coleta de dados e amostragem teórica na
Grounded Theory
O processo de escolha dos entrevistados
A amostragem na Grounded Theory é determinada pelas necessidades
impostas pela teoria que se pretende elaborar. A amostra não é dimensionada
a priori e então operacionalizada. O procedimento para a coleta de dados é
comparação comparação
Teoria
Suposições preliminares
Coleta Interpretação Caso
Coleta Interpretação Caso
Coleta Interpretação Caso
comparação
amostragem amostragem
Teoria Hipóte-ses
Operaciona-lização
Validação Interpreta-ção
Coleta Amostra-gem
47
baseado no que Glaser e Strauss (1967) chamam de amostragem teórica
(theoretical sampling). A amostra vai sendo construída ao longo do processo de
pesquisa, de forma dinâmica e flexível. O critério básico para que um grupo ou
um sujeito seja escolhido como parte da amostra teórica deve ser o propósito,
a relevância teórica para o desenvolvimento das categorias e conceitos. Em
outros termos, a amostragem teórica objetiva sempre maximizar a
oportunidade de se comparar incidentes (afirmações) em uma categoria
(conceito), em termos de suas propriedades e dimensões.
No presente estudo, não foram definidos quantos depoimentos seriam
necessários para o cumprimento do objetivo de pesquisa, mas foram
delineados tipos de pessoas que deveriam ser entrevistados, pelas
características contextuais e históricas da sociedade presente na Região do
Grande ABC.
Decidiu-se que este estudo traria um recorte social representado por
pessoas da área político-administrativa, comercial, profissionais liberais,
empresários, sindicalistas, professores, líderes na sociedade civil, acadêmicos,
cientistas sociais, profissionais da imprensa e comunicação, técnicos ligados às
instituições de desenvolvimento regional e outros perfis que se fizessem
necessários ao longo do processo de conceituação e construção teórica. Os
entrevistados residiam e/ou tinham atividade profissional em uma das sete
cidades que compõe a Região do Grande ABC. Os dados foram colhidos entre
dezembro de 2004 a dezembro de 2005. As entrevistas foram realizadas em
diversos locais nas sete cidades da Região e também na cidade de São Paulo.
Os primeiros participantes e os grupos subseqüentes
Segundo Glaser (2001 apud NOBLE, 2002), sugere-se que o critério de
seleção para os primeiros participantes seja o fato de que se acredite que eles
tenham algum conhecimento e domínio sobre a área estudada. Sendo assim,
na primeira etapa deste estudo, o objetivo era captar o maior número possível
de códigos e incidentes relacionados à consciência regional. A amostragem
48
teórica foi sendo então formada ora por similaridades entre os atores
entrevistados, ora por contrastes. Foram entrevistados atores sociais que
residem e trabalham na região. Foram também entrevistadas pessoas que
trabalham, mas não residem na região e o contrário, que residem, mas não
trabalham na região. Foram entrevistados residentes das sete cidades do
Grande ABC. Entre estes atores, havia leitores regulares de jornais regionais e
outros que não tinham este hábito. Quanto à atividade profissional, a maioria
exerce ou já exerceu mais de um tipo de atividade em mais de uma cidade do
Grande ABC, sendo então difícil classificá-los por critério profissional ou por
cidade (por exemplo, docente, consultor e agente público, advogado, gerente e
presidente de clube de serviços, sindicalista e agente público, médico e
empresário, etc.). De qualquer modo, o estudo procurou trazer um recorte de
perfis profissionais que pudessem representar o pensamento regional no
Grande ABC para a concepção da teoria substantiva que se pretendia
alcançar.
Os grupos subsequentes foram sendo escolhidos com base nos
conceitos e categorias emergentes, relevantes para a concepção teórica em
questão. Glaser e Strauss (1967) sugerem que se tenha certa homogeneidade
no início da amostragem teórica até que se tenha conseguido encontrar as
categorias básicas e suas propriedades. Sendo assim, na segunda etapa da
amostragem teórica, a fase de codificação seletiva, o estudo procurou
descobrir onde poderiam ser encontradas novas categoriais ou conceitos.
Foram então entrevistados atores que ocupam ou ocuparam cargos de
liderança nas instituições ou nos projetos regionais do Grande ABC.
Em determinado ponto do processo de amostragem teórica, existiu a
necessidade de se identificar contrastes visando a emergência de novas
categorias ou variáveis. Desta forma, foram então investigados, desde grupos
de pessoas consideradas especialistas até cidadãos comuns, sem cargo
político-administrativo ou envolvidos diretamente no projeto regional.
As categorias descobertas foram então saturadas e a concepção da
teoria substantiva pode ser finalizada.
49
O ponto de saturação teórica
O critério utilizado para cessar a coleta de dados denomina-se saturação
teórica (GLASER; STRAUSS, 1967).
Significa que nenhum dado adicional relevante para a compreensão da
categoria ou do grupo está sendo encontrado. Portanto, apresenta-se bem
desenvolvida em termos de suas propriedades e dimensões, assim como as
inter-relações entre elas, bem estabelecidas. Ou seja, está havendo repetição
nos achados.
Neste estudo, o ponto de saturação teórica ocorreu na vigésima sexta
entrevista.
O método de coleta dos dados
A Grounded Theory é uma metodologia que pode ser utilizada com uma
variada fonte de dados (SCHULER, 2001). Este estudo adotou como
procedimento para a coleta de dados na fase inicial, a entrevista semi-
estruturada gravada. Os participantes consentiram a gravação, exceto um que
pediu que fossem anotadas as suas opiniões e não gravadas, por sentir
constrangimento diante do aparelho. Cada depoimento foi considerado um
caso. Durante a entrevista, o foco foi mantido no assunto “Região do Grande
ABC”. O entrevistado foi estimulado a iniciar o depoimento contando seu
histórico pessoal em relação à região (onde mora, há quanto tempo, onde
trabalha, atividade profissional, afetividade em relação à região, se participa de
iniciativas comunitárias, se costuma fazer compras na região, filhos estudam na
região, entre outros aspectos). A seguir, foram utilizadas perguntas
norteadoras: “Como você vê na atualidade a Região do Grande ABC?” e “O
que faz com que você perceba a região dessa forma? Por que a vê assim?”
Caso o entrevistado não citasse aspectos relacionados ao desenvolvimento
sócio-econômico da região como um todo, abrangendo oportunidades de
negócio e trabalho, qualidade de vida e as articulações políticas e
50
administrativas para o desenvolvimento regional, era estimulado a falar sobre
estes temas.
Já na fase final do processo de coleta de dados, foi utilizada a entrevista
aberta, também gravada, com o intuito de saturar os principais conceitos
encontrados e selecionados por relevância teórica.
Cada entrevista foi transcrita tão logo quanto possível após cada
gravação. Foram também elaborados memorandos teóricos com as
impressões do pesquisador ao fim de cada entrevista. Um software redator de
texto (Word da Microsoft) foi utilizado para esta tarefa de transcrição.
3.5 Procedimentos de análise
Para esta pesquisa não foram adotados softwares específicos de análise
de conteúdo e codificação, geralmente utilizados em pesquisas qualitativas. A
literatura mostra que nem sempre se mostram tão úteis quanto se imagina e
nem eliminam a tarefa do pesquisador de criar códigos e categoriais (FLICK,
2004). Além disso, conforme Bandeira-de-Mello e Cunha (2004), podem trazer
o risco de alienação do pesquisador, tornando a análise mecânica e
distanciando-a da essência dos dados.
Neste estudo, optou-se por tratar os dados de forma manual para
potencializar o contato do pesquisador com o método, assim como, lidar
diretamente com cada etapa da codificação dos eventos, ações e afirmações
presentes nos discursos dos participantes.
Processo de codificação teórica e categorização dos dados
A conceituação dos dados através do processo de codificação é o
fundamento para se desenvolver a Grounded Theory (GLASER, 1978).
Utilizando o método de análise comparativa constante, os incidentes vão
sendo analisados e codificados para gerar categorias. A codificação conceitual
é, portanto o elo entre os dados e a teoria que se pretende conceber. Esse
processo é composto, segundo a visão clássica de Glaser (1978, p. 55), por
51
“codificação substantiva” e “codificação teórica”. A codificação substantiva se
dá em duas etapas: codificação aberta e codificação seletiva.
Codificação Aberta
A codificação aberta é o início da etapa de tratamento dos dados,
significa iniciar o processo de conceituação no seu primeiro nível de abstração
(GLASER, 1978). O pesquisador faz uma varredura no texto, linha por linha, e
extrai livremente tantos códigos quanto possível. Deve ser realizada a cada
entrevista finalizada. Nesta etapa, os dados são fragmentados para a
identificação das menores unidades de análise contidas nos discursos dos
entrevistados. Glaser (1978) apresenta um conjunto de questões que ajudam a
guiar o processo de codificação aberta.
São elas:
- Este dado é sobre o que?
- Este incidente refere-se a que categoria ou que parte da teoria emergente?
- O que está ocorrendo realmente com este dado?
- Quais são as principais questões que estão sendo colocadas pelo
entrevistado?
- O que é relevante, o que considerar para a resolução disso?
Os dados codificados um a um são então separados, podendo ser
impressos em quadros para facilitar sua visualização e análise. Glaser (2004)
orienta que nesta etapa não deve haver uma preocupação em se selecionar os
códigos que se acredita que estejam relacionados diretamente ao tema do
estudo. Recomenda-se que sejam codificados tantos incidentes quanto
possíveis. Segundo Noble (2002), incidentes são eventos, ações ou afirmações
contidas nos discursos dos participantes.
Em seguida, ocorre o processo de reflexão sobre cada código atribuído
aos dados identificados. Então são separados por afinidade, semelhança,
relação ou complementação de idéias e agrupados em categorias. Não só as
entrevistas transcritas devem gerar códigos e categorias, mas também, as
52
anotações de campo e memorandos, assim como arquivos documentais.
Segundo Glaser (2004), também nesta etapa do processo, devem ser geradas
tantas categoriais quanto possíveis. Ao longo do processo, as categorias
centrais do estudo vão sendo identificadas como variáveis essenciais ou
centrais (core variable). As variáveis centrais aparecem de forma recorrente
nos dados e parecem representar um padrão estável, cada vez mais
relacionado às outras variáveis. Elas se tornam então o foco da próxima etapa,
a codificação seletiva, cujo ponto principal é a descoberta da categoria central
(core category) (GLASER, 2004).
Codificação Seletiva
A fase de codificação seletiva é marcada pelo encerramento da
codificação aberta e pela delimitação do processo de codificação somente a
aquelas variáveis essenciais, as variáveis centrais, significativas o suficiente
para a geração de uma teoria parcimoniosa, mas consistente (GLASER, 1978;
2004).
Dessa forma, a análise prossegue guiada por estas variáveis centrais
(core variable). O foco do processo de coleta e amostragem teórica passa a ser
o aprofundamento e a melhor compreensão das variáveis centrais dentro do
contexto global da pesquisa (GLASER, 1978). A descoberta da categoria
central passa a ser a principal preocupação do pesquisador neste ponto.
Categoria central (core category) é aquela em torno da qual todos os
outros conceitos são organizados. Serve de eixo condutor para a concepção da
teoria. É a categoria principal, a que tem a função de integrá-la, dando à teoria
gerada o poder de explicar o fenômeno estudado e articular todas as outras
variáveis centrais encontradas ao seu redor (FERNÁNDEZ, 2004).
Codificação Teórica
53
A etapa de codificação teórica envolve a conceituação do inter-
relacionamento entre as categorias (NOBLE, 2002). Segundo Glaser (1978), é
o momento de alinhavar, de juntar novamente os dados fragmentados.
Vale ressaltar que Glaser (2004) explica que existe a possibilidade de
intercambiamento entre códigos (ou incidentes). Ou seja, um código teórico
pode servir como indicador de um ou mais conceitos. Nesse caso, vale rever
suas propriedade e decidir em qual deles se encaixa melhor até que se alcance
o nível de saturação.
Os conceitos constituem os blocos para construção das teorias (building
blocks). Para Selltiz (1974), o conceito é uma abstração a partir de
acontecimentos percebidos. É a representação de objetos ou fatos. De acordo
com McClelland (1951 apud SELLTIZ, 1974, p. 48), o conceito é uma
representação resumida de uma diversidade de fatos cujo objetivo é simplificar
o pensamento, ao colocar alguns acontecimentos sob um mesmo título geral.
Os conceitos e categorias na Grounded Theory são apresentados no
gerúndio como forma de refletir o caráter dinâmico e a natureza evolutiva dos
processos sociais a que se referem (Glaser, 1978).
Memorandos teóricos
Tão importante quanto o processo de codificação é a elaboração
freqüente por parte do pesquisador de memorandos pré-teóricos. Ao longo do
processo de análise comparativa constante, o pesquisador tem insights,
questões, proposições e hipóteses em relação aos dados que precisam ser
anotados de forma sistemática e contínua (GLASER, 1978; NOBEL, 2002). Os
memorandos teóricos auxiliam no processo de articulação teórica. Eles são
notas teóricas sobre os dados e as conexões conceituais existentes entre
categorias. O exercício de se escrever memos teóricos é um estágio essencial
no processo de concepção de uma teoria neste tipo de metodologia.
Durante este estudo, memorandos teóricos foram gerados a cada
entrevista realizada.
54
Através do processo denominado ordenação teórica (theoretical sorting),
o pesquisador organiza de forma integrada os elementos conceituais da teoria
embasada nos dados. Os memorandos teóricos são elementos fundamentais
para se fazer Grounded Theory. Glaser (2004) afirma que eles são a chave no
processo de formulação da teoria para apresentação e relatório.
Detalhamento do processo de codificação teórica e categorização dos dados
No intuito de exemplificar de forma mais detalhada como o método de
indução da teoria substantiva a partir de dados empíricos ocorreu na presente
pesquisa, foi escolhida uma das categorias teóricas, aleatoriamente, para
demonstrar o processo de sistematização utilizado. Visa também, ilustrar o
alcance progressivo do grau de abstração necessário para a elaboração da
teoria através da metodologia da Grounded Theory.
As pesquisas que utilizam a Grounded Theory caracterizam-se
normalmente pela geração de um grande volume de dados, tornando difícil o
relato do processo completo de tratamento de todas as categorias reveladas e
analisadas no estudo. O conceito “inter-relação e interdependência” foi
escolhido para exemplificar as etapas da análise de dados e os procedimentos
metodológicos que se repetiram a cada categoria encontrada. Aqui o processo
indutivo não pode ser reportado completamente, uma vez que não se trata de
um processo de pesquisa linear. O pesquisador é obrigado a avançar e a
retroceder na análise, na medida em que novos dados emergem, categorias
vão sendo agrupadas ou subdivididas e o processo de conceituação avança
para o desenvolvimento da teoria.
Análise de dados
Como exposto anteriormente, a análise de dados ocorreu a cada
entrevista obtida, através de um processo de “quebra” do conteúdo do discurso
em pequenos recortes analíticos. Esta etapa denomina-se “codificação
aberta”. O pesquisador deve percorrer linha por linha dos textos derivados das
55
entrevistas a procura de “incidentes” significativos. Incidentes são considerados
eventos, ações ou afirmações, revelados através do discurso do participante. A
Grounded Theory é baseada no modelo “conceito-indicador” (GLASER, 1978),
que direciona o processo de codificação conceitual através de um conjunto de
indicadores empíricos, demonstrado na figura 4.
Figura 2 – O modelo de construção de conceitos e indicadores.
Adaptado de Glaser (1978) e Fernández (2004).
Foram selecionados trechos de entrevistas diferentes para exemplificar
os procedimentos técnicos utilizados na codificação do conceito “inter-relação e
interdependência”.
Entrevista 4 - Fevereiro de 2005.
Neste trecho de entrevista, um jornalista residente na Região do Grande
ABC está tecendo comentários sobre aspectos que considera importantes para
o desenvolvimento sócio econômico regional. Cita sua preocupação com o
binômio “condições ideais de vida e nível de violência” e com a integração
política regional.
CONCEITO
I 1 I 2 I 3 I 4 I 5 I 6 I 7 I 8 I 9
56
... e a violência não é importada. É muito difícil. Ela está aqui. Mas ela pode vir
do município vizinho. Então, eu tenho que me unir com o meu vizinho, com as
minhas fronteiras, e tentar resolver esses problemas....Eu acho que você tem
sete municípios, você tem sete prefeitos até de partidos diferentes, mas que
podem se unir e fazer daquela região é ... ter políticas próprias para ela.
Mostrar para o país que, olha, lá existe uma organização sócio-politico-
econômico-financeira, que pode servir de modelo para o Brasil. Eu acho que
isso é muito importante.”
Este pequeno trecho de entrevista gerou uma série de códigos abertos
relacionados à categoria “inter-relação e interdependência”, que se encontram
sublinhados:
- a violência pode vir do município vizinho;
- unir-me com o vizinho para tentar resolver problemas comuns;
- uma cidade depende da outra para resolver problemas comuns;
- questão regional deve prevalecer sobre interesses partidários;
- ter políticas próprias para ela;
- Grande ABC como modelo regional para o país;
- inovação no modelo de gestão regional.
Os códigos abertos podem ser representados nas mesmas palavras que o
entrevistado utilizou, ou podem ser codificações conceituais elaboradas
pelo pesquisador, com base em incidentes que podem estar implícitos no
discurso (GLASER, 1978). Neste exemplo, encontram-se os dois casos.
Entrevista 6 – Março de 2005.
Neste outro trecho, um sindicalista e agente público, expõe seu ponto de
vista sobre formas de articulação para fortalecer a região.
57
“As articulações em torno dos projetos regionais tem envolvido os atores locais
a reunirem-se em torno dos problemas comuns que de alguma forma, afetam a
região, não somente uma cidade ou outra. Afinal de contas, praticamente a
proximidade as torna quase que uma coisa só. Fica impossível tratar os
problemas isoladamente. Mas até então, cada um via com mais ênfase a sua
realidade. Agora, de uns anos para cá, se observa um melhor amadurecimento
dos atores envolvidos. Não está perfeito, mas está melhorando”.
Este trecho gerou vários códigos abertos, dentre eles:
- articulação em torno de projetos regionais
- envolvimento de atores locais
- reunindo atores em torno de problemas comuns
- afetam a região, não somente uma cidade ou outra
- proximidade das cidades quase as torna uma coisa só
- Impossível tratar problemas isoladamente
- antes cada cidade dava mais ênfase à sua realidade
- amadurecimento dos atores
- não está perfeito, mas está melhorando
Os códigos sublinhados estão relacionados ao conceito “inter-relação e inter-dependência”.
Entrevista 18 - Setembro de 2005.
Este trecho de entrevista originou-se da participação de um docente e
executivo na gestão pública que aqui expõe sua visão sobre a Região do
Grande ABC.
“...[espero] que a região perceba que ninguém é feliz sozinho. Não dá para um
município ou dois ou três serem felizes e o resto não ser. Isso contamina, isso
não tem como. Basta olhar para os contornos e a influência que uma cidade
tem sobre a outra, inclusive a periferia de São Paulo, que acaba invadindo, que
acaba usando os equipamentos e acaba usando os serviços e contamina,
58
contamina mesmo. Ou você resolve um problema do conjunto ou ninguém vai
conseguir sozinho resolver suas questões”.
Os códigos abertos gerados por esta parte da entrevista estão listados a
seguir. Foram sublinhados aqueles que pertencem à categoria que está sendo
exemplificada.
- região deve perceber que ninguém é feliz sozinho
- um município contamina o outro pela sua proximidade
- uma cidade tem influencia sobre a outra
- a periferia de São Paulo também influencia a Região do Grande ABC
- uma cidade usa os equipamentos e os serviços de outra pela
proximidade
- resolver os problemas comuns em conjunto, isoladamente não será
eficaz
Entrevista 22 – Dezembro de 2005.
Este trecho foi extraído de uma entrevista realizada com um executivo da
mídia impressa e consultor na área política e empresarial.
“... as pessoas através de suas lideranças e através de suas entidades
representativas, manifestaram um conjunto de necessidades que só poderiam
ser atendidas se houvesse integração. .. você revitalizaria economicamente a
região se você tivesse claramente uma ação coordenada aí entre os diferentes
municípios para que eles não ficassem brigando entre si e entre os municípios
como bloco e o estado e o Governo Federal. “
Os códigos abertos gerados foram:
59
- pessoas manifestaram-se através de suas lideranças e entidades
representativas
- necessidades que só poderiam ser atendidas se houvesse integração
- revitalização econômica através de ação coordenada entre os
municípios, esfera estadual e federal
Na etapa inicial da análise, os códigos gerados (abertos) têm natureza
descritiva. Entretanto, são o primeiro passo para o processo de conceituação.
Através da análise comparativa constante, procurou-se por similaridades e
diferenças em cada incidente e em cada código encontrado. Quando as
perguntas-chave recomendadas por Glaser (1978) foram aplicadas a cada um
dos códigos abertos sublinhados (Este dado está se referindo a que? Em que
categoria este incidente ou código se encaixa? O que está realmente
acontecendo com os dados?), ficou aparente que um elemento ligado ao
fenômeno da consciência regional era a compreensão da relação de
dependência mútua entre as cidades da região, inclusive com os municípios da
Região Metropolitana de São Paulo, da qual o Grande ABC é parte integrante.
Na Grounded Theory, as categorias são nomeadas de acordo com o padrão de
comportamento que elas traduzem (Glaser, 2001 apud NOBLE, 2002). Esta
categoria foi então denominada “Reconhecendo a inter-relação e a
interdependência”.
Na medida em que as categoriais foram sendo descobertas, percebeu-se a
cada entrevista codificada que uma repetição no padrão de dados começou a
apontar a possibilidade do início da etapa de codificação seletiva. Em outros
termos, todos os códigos encaixavam-se em alguma categoria encontrada.
A fase de codificação seletiva objetiva direcionar o foco da coleta e da
análise na direção dos elementos considerados essenciais para a concepção
teórica. Embora dados interessantes e ricos em conteúdo tenham sido
encontrados durante a etapa inicial de análise (codificação aberta), somente
aqueles diretamente relacionados à elaboração da teoria substantiva são
considerados a partir deste ponto, ou seja, há uma delimitação em torno das
variáveis essenciais e mais significativas. Estas variáveis essenciais passam a
60
guiar a coleta de dados e a amostragem teórica deste ponto em diante
(GLASER, 1978). No exemplo que está sendo utilizado, perguntou-se aos
entrevistados seguintes como eles viam a relação entre as sete cidades do
Grande ABC. O pensamento de um destes entrevistados, agente público e um
dos líderes nos projetos de cooperação regional encontra-se no trecho a
seguir.
Entrevista 26 – Dezembro de 2005
“...nós temos os nossos problemas também e são problemas comuns às outras
cidades. Problemas comuns às cidades metropolitanas. Então nós não
podemos enxergar que nós temos a solução dentro de nosso próprio umbigo.
As nossas resoluções passam pelos limites extras do município.... A população
tem que entender que por melhor que seja a cidade, nós temos dificuldades em
nosso entorno que fazem parte de um critério regional. E que não é mais
possível a gente fechar os olhos para o que está acontecendo do outro lado do
rio. Isso é absolutamente ilusório. Nós precisamos ter idéia de que esse
processo... é um processo que começa numa ponta do ABC, vai até a outra
ponta do ABC e extrapola inclusive os limites do ABC.”
As últimas entrevistas que fizeram parte da amostragem teórica tiveram seu
foco direcionado pela codificação seletiva.
Os códigos gerados por este trecho de entrevista, relacionados com a
categoria “Reconhecendo a inter-relação e a interdependência” foram:
- nossos problemas são também os problemas das outras cidades
- as nossas resoluções passam pelos limites extra-município
- os problemas devem ser resolvidos com critério regional
- não se pode fechar os olhos para o que está acontecendo com as outras
cidades
- problemas afetam a região como um todo, extrapolando inclusive os
seus limites
61
Através desta entrevista e de outras, percebeu-se que nenhum aspecto
novo se revelava em relação à categoria “Reconhecendo a inter-relação e a
interdependência”. Este foi considerado o ponto de saturação em relação à
categoria exemplificada.
Ao final do processo de análise, a categoria “Reconhecendo a inter-
relação e a interdependência” foi reagrupada e integrada à categoria central
deste estudo: “Compreendendo a Interação Sinérgica Regional”, descrita na
sessão seguinte deste trabalho (“Apresentação dos Resultados”).
Memorandos teóricos
Os memorandos teóricos são os instrumentos que auxiliam o pesquisador
no processo de articulação da teoria. É através da elaboração sistemática e
contínua de memorandos pré-teóricos que o pesquisador vai organizando suas
anotações teóricas, observações, hipóteses, proposições e conexões
conceituais entre as categorias descobertas através dos dados.
Um exemplo de memorando teórico é demonstrado a seguir.
Categoria: Reconhecendo a inter-relação e a interdependência
Memo: Existe uma inter-relação e uma interdependência entre as cidades da
região. O que ocorre em uma cidade causa influência nas outras e, sendo
assim, existe uma dependência mútua entre elas para a resolução de seus
problemas comuns. A gestão e os projetos devem ocorrer de forma integrada.
Quando um indivíduo compreende estes conceitos, possui um nível superior de
entendimento sobre a dinâmica regional e consequentemente, uma maior
consciência acerca da região, com conhecimento amplo sobre o Grande ABC e
os motivos que levaram aos seus atuais projetos de cooperação regional.
62
4 RESULTADOS
O processo de concepção da teoria substantiva proposta pelo estudo
exigiu a captação de vinte e seis depoimentos individuais com o que se atingiu
o ponto de saturação teórica, totalizando cerca de 520 minutos de gravação.
A transcrição e a codificação aberta ocorreram logo após o término de
cada entrevista. Foram descobertos 437 códigos nesta fase inicial. Os códigos
abertos foram então agrupados por categorias.
Na fase de codificação seletiva, foram geradas 30 categorias
conceituais. Na última etapa, a da codificação teórica, os conceitos foram
reagrupados e foi encontrada a categoria central (core category).
A comparação e a análise dos dados permitiu compreender que a
consciência regional é resultado de múltiplos elementos que influenciam a
forma como o indivíduo percebe a Região do Grande ABC. A exposição a
diferentes estímulos, o cotidiano vivido pelo indivíduo e seu interesse pelo tema
regional produzem diferentes imagens da região, dentro de um processo
dinâmico de construção de realidade.
Os dados revelaram que a consciência regional tem uma relação direta
com o conhecimento que o indivíduo possui. Este conhecimento regional, que é
socialmente construído, têm no interesse e na motivação do indivíduo dois
fatores essenciais para que ocorra o processo de aquisição e apreensão desse
conhecimento. Portanto, não basta ter acesso à informação e ao
conhecimento. É preciso querer entender os mecanismos da dinâmica regional.
O conhecimento socialmente construído acerca do tema, advém tanto
das fontes clássicas como escolas, livros, periódicos acadêmicos, revistas,
jornais e outras mídias, como por exemplo, a Internet, quanto daquele
apreendido nas relações sociais, na interação com o outro. Nesse contexto, o
aprendizado do cotidiano se faz tão significativo (ou mais) do que outras formas
de aprendizagem.
63
Esse “querer saber e compreender a região e a regionalidade”, depende
do interesse pessoal e da motivação individuais para o assunto. Mesmo que
exista uma intersubjetividade presente, ou seja, uma influência do outro, deve
existir uma disposição individual em receber, valorizar e organizar o
conhecimento apreendido.
A motivação pela questão regional pode relacionar-se a atributos
afetivos / emocionais e/ou racionais.
Os emocionais estão relacionados aos conceitos de ajuda ao próximo,
de solidariedade, de preocupação social com o outro, do bem estar coletivo, do
orgulho da região, da troca de experiência para o ganho coletivo, da
preocupação em se preparar jovens para o exercício da cidadania com melhor
consciência regional, da eqüidade social.
Os atributos racionais estão relacionados à segurança, controle da
violência, diminuição da desigualdade social, maior efetividade na resolução de
problemas urbanos, construção de um marketing regional positivo para atrair
novos investimentos e projetos, aumento da competitividade da região no
mercado nacional e internacional, e ao marketing político.
Os dados revelados pela pesquisa mostram que o interesse pelo tema
regional está relacionado a diversos fatores. Podem ser políticos, ideológicos,
sociais, profissionais, econômicos, acadêmico-científicos, afetivos, ou ainda
uma associação destes fatores. Quanto maior o número de fatores causais,
maior interesse e motivação por adquirir conhecimento regional. Além destes,
incluem-se também os interesses e vantagens pessoais.
64
Figura. 3 Fatores relacionados ao interesse e motivação para apreensão
do conhecimento regional.
Consciência regional é algo que pode ser modificado ou ampliado
através do conhecimento. Porém esse conhecimento depende do interesse e
da motivação do indivíduo pelo tema regional. Esse conhecimento regional é
construído gradativamente, se houver significação para o indivíduo.
Conhecimento aqui é entendido como algo mais do que a simples
captação da informação. Conhecer pressupõe que o indivíduo recebeu
informações, processou-as em sua mente dando-lhes significado, organização
e correlação, ou seja, houve uma elaboração de idéias e pensamentos através
do raciocínio e do senso de utilização para ele.
Mas consciência é algo mais do que conhecimento. É a interação entre
esse conhecimento que o indivíduo tem com o objeto, no caso, a região. É
essa interação entre seu conhecimento e a região que o faz ter consciência ou
não sobre ela.
Os dados revelaram que os atores locais percebem a região de três
formas, podendo ser categorizadas em três níveis. No nível inferior de
consciência regional, o indivíduo apresenta conhecimento mínimo sobre o
A apreensão do conhecimento
depende do interesse, motivação e
interação social
Fatores de interesse
e motivação:
� Políticos � Econômicos � Sociais � Profissionais � Acadêmico-científicos � Afetivos e emocionais � Fatores associados
CONHECIMENTO (pré- requisito para consciência regional)
65
conjunto da região. Possui visão restrita sobre a cidade onde reside e sobre os
locais da região onde costuma transitar, conhecendo pouco ou nada da sua
infra-estrutura e gestão, inclusive o nome das sete cidades que a compõe.
Percebe a região de acordo com a familiaridade que tem com as imagens que
vê e com as informações que ouve. Desconhece totalmente as estruturas de
cooperação regional. No nível intermediário, existe uma consciência parcial
sobre a região, com conhecimento sobre algumas cidades, sua história, seus
aspectos econômicos, sociais e políticos, mas não necessariamente sobre
mecanismos de articulação política e administrativa na esfera regional. No nível
avançado, a consciência regional é plena, com conhecimento amplo sobre
aspectos sociais e econômicos da região como um todo, compreensão dos
mecanismos estratégicos da regionalidade e dos potenciais efeitos sinérgicos
de ações político-administrativas integradas regionalmente. Percebem as
ações regionais através de visão crítica, com capacidade de reflexão e
avaliação da realidade do conjunto regional.
Esta constatação evidencia que a formação de uma consciência regional
plena estaria relacionada a aqueles indivíduos em condição favorável para um
exercício de reflexão política e social mais desenvolvido, não necessariamente
condição econômica. Esta consciência social e política mais evoluída pode ser
considerada condição prévia ao desenvolvimento de sua consciência regional.
A consciência regional não é algo que ocorre naturalmente, precisando
então ser estimulada, apoiada e sustentada ao longo do tempo.
O padrão de comportamento e pensamento identificado nos dados
possibilitou a elaboração da hipótese fundamental para a concepção da teoria
que se almejava obter como resultado deste estudo. Esta hipótese é: “a
consciência regional ocorre como conseqüência de um processo dinâmico de
aquisição e apreensão de conhecimentos socialmente construídos, evolui
enquanto ocorrem interações sociais e tem como base o interesse e a
motivação individuais”. Esta hipótese foi gerada em torno de um conceito
ampliado de consciência regional. Aqui a consciência regional está sendo
entendida como sendo uma compreensão mais profunda sobre a cooperação
regional em prol da resolução de problemas comuns e não somente como a
66
expressão das imagens e do conhecimento sobre a região, seu território, suas
características físicas e humanas.
Quando o indivíduo tem conhecimento sobre as razões que levam atores
sociais aos esforços de cooperação regional e decide que este assunto é algo
importante para si e para os outros cidadãos em geral, passa para um estágio
superior de compreensão conceitual e consciência. Este conceito foi
considerado no presente estudo como sendo a categoria central encontrada
(core category) e foi denominada: COMPREENDENDO A INTERAÇÃO
SINÉRGICA REGIONAL. A categoria central na Grounded Theory clássica se
refere ao conceito central em torno do qual todos os outros conceitos estão
alinhados e integrados.
4.1 A Teoria “COMPREENDENDO A INTERAÇÃO SINÉRGICA REGIONAL”
(CISR) e seus componentes
A interação social que se dá através dos relacionamentos interpessoais
e interinstitucionais constitui a base para a dinâmica de construção da
regionalidade e para o alcance de instâncias superiores de consciência
regional.
A interação entre pessoas e entidades é elemento importante na
disseminação da informação e do conhecimento regional. Leis ou decretos
não são suficientes sem a adequada interação entre as partes interessadas,
elemento essencial para o desenvolvimento da regionalidade. A interação
sinérgica entre atores regionais potencializa resultados, pois o esforço regional
associado pode obter desempenho melhor do que aquele realizado
isoladamente, no âmbito restrito de cada cidade.
Quando o indivíduo adquire um nível superior de consciência regional no
Grande ABC, compreende que a proximidade territorial entre uma cidade e
outra faz com que muitos problemas sejam comuns e afetem a região como um
todo, tornando difícil assumir resoluções de forma isolada, levando em conta
somente o âmbito da gestão municipal. As ações administrativas e serviços de
um município têm influência sobre os outros. Os processos de gestão têm
67
interdependências regionais muito significativas no caso do Grande ABC. Esta
preocupação regional tem bases motivacionais racionais e lógicas e procura
um equilíbrio no desenvolvimento humano de cada cidade, considerando o
perfil e peculiaridades de cada uma.
Compreende, portanto, que as soluções devem ser analisadas de forma
integrada, com visão sistêmica sobre o arranjo regional existente. Este esforço
regional de entrosamento e cooperação consolida um modelo de gestão
regional integrado onde se mantém a autonomia administrativa de cada uma
das sete cidades, porém com uma consciência de que o projeto regional
sempre contemplará a interdependência, a inter-relação e a
complementaridade entre suas partes, potencializando o efeito sinérgico que se
espera alcançar com o conjunto regional.
Foram encontrados nove elementos conceituais na composição desta
teoria substantiva, elaborada de acordo com critérios de simplicidade, clareza e
parcimônia. Os oito conceitos integrados e a categoria central encontrada estão
representados a seguir.
Figura. 4 Categoria central e conceitos teóricos integrados
COMPREENDENDO A INTERAÇÃO SINÉRGICA
REGIONAL
Adotando a região como valor pessoal
Aprendendo e entendendo a
região
Participando da sociedade regional
Amadurecendo a visão crítica
regional
Identificando-se e valorizando a
região
Tendo interesse e motivação
(início)
Ampliando a consciência
política e social
Adquirindo conhecimento
68
A seguir são apresentados os oito conceitos que fazem parte da Teoria
“Compreendendo a Interação Sinérgica Regional”1.
4.2 TENDO INTERESSE E MOTIVAÇÃO
A questão regional faz sentido para alguém quando, de alguma forma,
mostra-se útil e significativa, motivando e direcionando o interesse individual
em busca de conhecimento e informação acerca do assunto, além de sua
inserção nos processos sociais regionais.
Este interesse geralmente se dá nos âmbitos econômico, político,
administrativo, profissional, social, acadêmico, afetivo ou uma combinação que
envolve um ou mais elementos motivacionais.
O interesse e a motivação do indivíduo para temas regionais afeta sua
receptividade à informação e ao conhecimento regional. Se há interesse e
motivação, há maior disposição para a informação e o conhecimento das
questões regionais. Se este assunto nada significa para o indivíduo, os
processos de compreensão e conseqüente introjeção são dificultados. Assim, a
consciência regional dificilmente se dá sem o interesse e a intenção de se
conhecer melhor a realidade desta região.
4.3 ADQUIRINDO CONHECIMENTO REGIONAL
O nível de conhecimento do indivíduo influencia o processo de formação
da sua consciência regional. Esse conhecimento é de natureza complexa,
visto que se trata de um corpo de conhecimento específico, composto por
elementos conceituais básicos sobre regionalismo e gestão de regiões
metropolitanas até conhecimentos, percepções e memórias sobre a Região do
Grande ABC. Mas depende principalmente do entendimento dos motivos que
levam atores e organizações à busca de articulações sociais para resolver
problemas comuns em torno de uma região instituída. Este conhecimento
(tanto o científico quanto o gerado no cotidiano das pessoas) provém de 1 Na Grounded Theory os conceitos são apresentados com o tempo verbal no gerúndio para
enfatizar o caráter dinâmico dos processos sociais que representam.
69
diversas fontes. As escolas, as universidades, as instituições regionais, os
centros de pesquisa, são fontes de conhecimento regional. Os livros, as
revistas de circulação regional, os jornais, o rádio, a televisão, a Internet
também são fontes de informação e conhecimento. Mas também e
principalmente, as interações sociais são fontes geradoras e disseminadoras
de informação e conhecimento entre atores na região.
Foram encontradas sete subcategorias pertinentes à explanação deste
conceito.
4.3.1 Compreensão dos conceitos de “Região” e “Região do Grande ABC”
O emprego popular do termo “região” foi relacionado com a noção de
qualquer espaço delimitado, podendo se referir a um ou mais municípios, a um
bairro, etc. Seu uso foi impreciso e seu conceito não se mostrou claro. O
conceito de região variou de acordo com a necessidade contextual do discurso
do indivíduo. Sua expressão conceitual denota a significação que o indivíduo
dá ao termo “região”, de acordo com seus conhecimentos, sua realidade vivida
e percebida. A título de ilustração, ao expressar sua opinião e sua percepção
sobre a Região do Grande ABC, há referências a cidades, por exemplo: “lá na
minha região, a região de Santo André...” Ou ainda, o indivíduo usa a sua visão
e percepção parcial sobre uma ou duas cidades que conhece na região para
emitir sua visão sobre o Grande ABC como um todo.
Outro fenômeno identificado nos dados refere-se ao conhecimento
versus o desconhecimento das partes componentes desta região, ou seja, a
identificação das sete cidades que a compõe. Esse desconhecimento do nome
das cidades, ou o conhecimento parcial e fragmentado da região (evidenciado
ou estimulado nesse caso em particular, pelas letras do alfabeto que reforçam
suas diversas identidades: ABC, ABCD, ABCDM, etc.), ressaltam a existência
de duas realidades, a região formal instituída pelas lideranças políticas e
administrativas e a percebida pelas outras instâncias populacionais, mas
igualmente membros desta região.
70
Em outras palavras, a informação e o conhecimento sobre a Região do
Grande ABC afetam positiva ou negativamente a consciência sobre ela,
podendo vir a representar um entrave ao desenvolvimento deste conceito, uma
vez que restringe o campo de visão dos cidadãos em torno do território e do
projeto de cooperação regional.
4.3.2 Conhecimento geral sobre o Grande ABC
O nível de conhecimento geral do indivíduo sobre a Região do Grande
ABC (sua história, suas cidades, suas características, seu perfil e mercado,
suas vantagens competitivas, suas questões sociais e econômicas, sua
geografia humana, seu modelo de gestão e suas articulações político-
administrativas institucionais) mostra seu interesse sobre ela, representando
componentes significativos de sua memória, de seu conhecimento e de sua
consciência regional.
4.3.3 Conhecimento sobre Gestão
O conhecimento geral do indivíduo sobre gestão facilita a compreensão
das articulações em torno da regionalidade no Grande ABC, seus mecanismos
de integração e cooperação regional, influenciando a consciência sobre ela.
Mais especificamente, o entendimento de tendências administrativas na gestão
de cidades e regiões metropolitanas, de modelos de gestão, de gestão de
mudanças, de regionalismo e regionalidade, afetam positivamente a
consciência regional.
4.3.4 Conhecimento regional gerado pela atividade profissional
Certas atividades profissionais e acadêmicas exercidas na região
tendem a favorecer a aquisição de informação e conhecimento sobre ela
devido à própria natureza do trabalho. Jornalistas, políticos, agentes públicos,
71
técnicos que trabalham nos projetos regionais, consultores empresariais,
pesquisadores sociais, empresários, professores ligados ao estudo da
regionalidade, líderes de associações com fins sociais, comunicadores e outros
profissionais da mídia são alguns desses profissionais.
Quanto mais elevado for o nível de informação e conhecimento do
indivíduo sobre a regionalidade no Grande ABC, maior será a influência sobre
a formação de sua consciência social, política e regional.
4.3.5 Apreensão do conhecimento regional através da educação nas escolas
As instituições de ensino (sejam elas de ensino fundamental, médio ou
superior) podem influenciar o processo de aquisição e disseminação de
conhecimento regional causando impacto sobre as atuais e futuras gerações
de cidadãos da região. O processo de ensino-aprendizagem realizado de forma
reflexiva leva a uma maior conscientização social, política e econômica sobre a
realidade da região onde se vive. O estímulo aos estudantes para despertar
uma visão ampliada e crítica sobre as sete cidades e seu conjunto regional,
aumenta a consciência sobre a Região do Grande ABC.
4.3.6 Apreensão do conhecimento através da interação social e familiar
O conhecimento geral sobre a região advém também das experiências
pessoais peculiares que formam o repertório vivencial de cada um. A história
de vida do indivíduo contém elementos únicos de vivências situacionais, que
faz com que ele vá adquirindo conhecimento regional através destas
experiências pessoais e interações sociais.
Por vezes há influência familiar ou de grupos de referência no meio em
se viveu e cresceu. Sendo assim, o conhecimento e o compromisso com a
região, assim como a consciência política regional, são ensinados pelos pais
ou outras pessoas próximas ao sujeito desde cedo. O indivíduo recorre a este
repertório para elaborar sua consciência sobre a região.
72
4.3.7 Acesso à informação regional
O acesso à informação regional afeta o conhecimento que se tem sobre
a região. O acesso restrito dificulta a disseminação do conhecimento.
Entretanto, pode ocorrer do indivíduo ter acesso, mas não possuir interesse
pela informação regional.
A informação transmitida pelos meios de comunicação (mídia impressa,
eletrônica e digital) é elemento influenciador na formação da imagem da região
e como conseqüência, da consciência sobre ela. Quando mal direcionada, por
exemplo, quando se divulga que a Região do Grande ABC é composta só
pelas cidades de Santo André, São Bernardo e São Caetano do Sul, deseduca
a população quanto ao conceito de região que se deseja instituir. Quando há
divulgação limitada de informações, restrita aos aspectos negativos da região,
causa retrocesso no desenvolvimento da consciência regional, tendo a ver com
sentimentos como auto-estima e orgulho.
4.4 APRENDENDO E ENTENDENDO A REGIÃO
Os dados revelados na pesquisa mostram que os indivíduos aprendem
sobre a região das mais diversas formas, tempos e lugares, não
necessariamente na escola ou em um curso formal.
Muitas vezes não se percebe nas situações cotidianas que se está
aprendendo. No entanto, informações e dados estão sendo transmitidos
continuamente, seja na mídia ou numa interação com o outro. O processo
social denominado “Aprendendo e entendendo a região” vai ocorrendo de
forma dinâmica e muitas vezes, imperceptível. Essa aprendizagem caracteriza-
se como um processo evolutivo e gradativo, onde a interação social ocupa
particular importância, visto que existem influências de grupos na formação
do conhecimento, da opinião e da imagem regional adotadas pelo indivíduo.
Aprender e entender a Região do Grande ABC requer acesso às fontes
de informação e conhecimento, mas principalmente motivação e interesse
pessoal. “Eu não sei quase nada da região, só da minha cidade” é uma frase
73
que exemplifica a realidade vivida no cotidiano daqueles para os quais a
realidade regional nada significa. Por outro lado, quando o indivíduo vê
significado, volta seu interesse para a informação regional, focalizando sua
atenção e seus esforços para entender a dinâmica das questões regionais.
Aprender sobre a região é também aprender sobre cidadania, política,
cultura, lazer, sociedade e economia regional, entre outros aspectos.
4.5 IDENTIFICANDO-SE E VALORIZANDO A REGIÃO
A imagem regional percebida pelo indivíduo influencia sua identificação
e afinidade com esta região, tendo a ver com sentimentos como orgulho, auto-
estima e pertencimento. Quando se tem uma imagem positiva, aumenta-se o
interesse pela região afetando também de forma positiva a consciência sobre
ela. Quando já se tem a consciência regional, há maior valorização e respeito
pelo local onde se vive.
4.5.1 Percepção sobre a Região do Grande ABC
A percepção sobre a região se forma a partir das imagens produzidas na
mente do indivíduo, com informação e conhecimento do passado e do
presente, opiniões próprias e de outros, de dentro e de fora da região. Em
outras palavras, é formada através de um processo dinâmico influenciado por
elementos como informação, memória regional, meios de comunicação,
participação na sociedade e no mercado regional entre outros e relaciona-se
com o fenômeno da identificação e afinidade pela região, assim como auto-
estima e interesse. Quando se tem afinidade e identificação com a região, há
maior interesse e consciência. Em contrapartida, quando não há identidade e
nem interesse não há motivação para se obter informação ou conhecimento
sobre os assuntos relativos a esta região. Esta identificação é em grande parte
relacionada a oportunidades que o indivíduo vislumbra nesta região, de acordo
com sua área de interesse ou atuação profissional e a imagem que ele possui
sobre ela.
74
A forma como o indivíduo percebe a região sofre influência de imagens
atribuídas no passado, como se fossem rótulos impregnados e estáticos, não
levando em consideração o fato de que a região sofre mudanças econômicas e
sociais ao longo do tempo. Estes rótulos ou imagens atribuídas permanecem
na memória dos indivíduos que resistem em conhecer e compreender novos
cenários que surgem ao longo da história e evolução econômica da região.
4.5.2 Sentimentos em relação à região
Aspectos emocionais têm relação com a formação da consciência
regional. A existência do sentimento de orgulho, admiração, auto-estima e
pertencimento são elementos que afetam positivamente a consciência regional.
Por outro lado, a falta de identificação com a região, a vergonha e o sentimento
de rejeição prejudicam o interesse e a consciência sobre ela.
A afinidade por uma das cidades da região não significa
necessariamente identificação pela região como um todo.
Sentimento de perda e o apego a imagens do passado também
influenciam a consciência regional na medida em que perpetuam paradigmas
que podem bloquear o potencial coletivo de inovação da região como um todo.
4.5.3 Contato com elementos da região
O contato com os elementos da região, suas cidades, sua configuração
urbana, sua infra-estrutura, sua paisagem, sua população entre outros,
influenciam a consciência regional no indivíduo.
O deslocamento pelo seu território e a interação com seus habitantes,
profissionais, líderes, empresas, entre outros elementos, aumenta a
consciência que se tem da região. Por outro lado, quando não se transita pela
região, a visão de realidade regional se restringe ao entorno mais próximo dos
locais que o indivíduo vivencia em seu cotidiano, proporcionado-lhe uma
consciência parcial e mais limitada da estrutura regional disponível. Quando
75
não se conhece a região não se pode avaliar se existe afetividade e
identificação por parte do indivíduo.
4.5.4 Percepção sobre os processos de cooperação regional
A percepção do indivíduo acerca da possibilidade concreta de
cooperação entre as cidades influencia a sua crença no projeto regional e sua
identidade com a região. Se ele não percebe o projeto de cooperação regional
ou, se percebe mais competição do que cooperação, ou ainda, o predomínio do
interesse individual e partidário sobre o interesse coletivo, pode continuar
acreditando no potencial dos modelos cooperativos, mas passa a desacreditar
os atores e as instituições da região em questão. Se por outro lado, percebe
resultados positivos e reconhecimento do grupo de referência, passa a ter
orgulho da região e de seu projeto de cooperação, aumentando a identificação
e a valorização que se tem sobre ela.
A percepção sobre os processos de cooperação regional sofre influência
das interações sociais e profissionais e também dos meios de comunicação.
4.6 PARTICIPANDO DA SOCIEDADE REGIONAL
Estar inserido na sociedade regional facilita, mas não determina, que o
indivíduo se veja como parte integrante da região. A inserção social e a
participação profissional no mercado regional favorecem a interação com
grupos de referência, influenciando o interesse e o nível de conhecimento do
indivíduo sobre a região. Quando não há inserção, o interesse tende a diminuir,
assim como o sentimento de pertencimento. Pessoas que residem na região,
mas não vislumbram oportunidades de trabalho nela (cidade-dormitório),
tendem a ter menos interesse e motivação pelos acontecimentos regionais.
A baixa participação em atividades sociais ou relacionamentos com
grupos da região também influenciam a consciência regional.
A participação na sociedade e a motivação para a regionalidade também
sofrem influência de lideranças regionais. Líderes e formadores de opinião têm
76
papel fundamental no estímulo e na influência que exercem no processo de
desenvolvimento da consciência regional da população, pois dão o exemplo.
São considerados formadores de opinião e líderes regionais os sete prefeitos
do Consórcio, os educadores, os professores, os políticos, os agentes públicos,
os cientistas sociais e pesquisadores, os líderes de organizações da sociedade
civil, os comunicadores, os profissionais de mídia, os jornalistas, os técnicos do
projeto regional, entre outros. A participação direta em projetos regionais
impacta fortemente o desenvolvimento da consciência sobre a região, pois
amplia a visão crítica a e crença no modelo cooperativo.
4.7 AMPLIANDO A CONSCIÊNCIA POLÍTICA E SOCIAL
A consciência política e social são pré requisitos para o desenvolvimento
pleno da consciência regional uma vez que para se compreender os processos
regionais deve haver interesse e entendimento sobre mecanismos de
articulação política e processos sociais existentes na realidade regional. O
indivíduo que se encontra desprovido de consciência política ou social não tem
interesse nem compreensão sobre os processos de cooperação regional.
4.7.1 Percepção do indivíduo como ator social regional
A percepção do indivíduo sobre seu papel como ator social, ou seja, a
sua consciência social, influencia a formação de sua consciência regional.
A consciência regional, portanto, não é algo que se constrói só a partir
da “região”. O indivíduo passa a refletir sobre a sua realidade e a de outros em
seu entorno, sobre problemas e possíveis soluções, gerando inquietações
internas e amadurecimento do seu senso de cidadania. Ele se conscientiza que
deve agir, fazer algo para mudar a realidade. Começa a “se ver como ator
social” e se engaja com o grupo de referência na questão local ou regional, o
que for mais viável naquele momento. Ao interagir com outros sobre suas
inquietações, surgem oportunidades para ações sociais e políticas que podem
77
começar localmente e expandir-se regionalmente. E assim continua interagindo
e cooptando outros atores sociais para a causa regional.
4.7.2 Prática da solidariedade
A prática da solidariedade está relacionada com o desenvolvimento da
consciência social. O conceito de solidariedade está relacionado com a
preocupação com o outro. Esse “outro” pode ser um outro indivíduo, um outro
“bairro” ou uma outra “cidade”. Mas a cidade apresenta-se como um conceito
mais presente na mente das pessoas do que o conceito de região.
Quando um indivíduo se encontra em um contexto de dificuldades
sociais e econômicas com prejuízo ao exercício da cidadania, ele pode não
conhecer plenamente sua cidade e nem a região, tendo interesse focado na
questão de sua sobrevivência diária. Dificulta-se assim o desenvolvimento de
sua consciência regional.
Porém, quando o indivíduo sente que tem toda a estrutura que precisa
para viver bem, passa a se preocupar com o outro, de outra localidade ou de
outra cidade. Para se chegar à conclusão de que se tem tudo o que precisa
para se viver bem, é necessário que se compare com outra realidade menos
favorecida.
A solidariedade é algo que precisa ser estimulado e ensinado. Depende
da interação de pessoas que vivem diferentes realidades, tendo potencial para
quebrar preconceitos e desfazer mitos existentes sobre habitantes de
diferentes cidades da região.
Aprender a por em prática e regatar o conceito de solidariedade entre
entidades ou instituições ou, simplesmente indivíduos da região, ajuda-os a
conhecer melhor o seu território, suas pessoas e seus problemas, estimulando
a cooperação entre elas e favorecendo o desenvolvimento da consciência
regional.
78
4.8 AMADURECENDO A VISÃO CRÍTICA REGIONAL
Ao adotar a regionalidade como valor pessoal, o indivíduo passa a
encarar os entraves e problemas como parte natural dos processos de
maturação para a cooperação e mudança de mentalidade da sociedade,
lamentando, mas não desistindo de sua visão regional.
Compreende as barreiras e dificuldades como inevitáveis e comuns a
todas as sociedades no mundo que passaram ou estão passando por este
processo.
O aumento do olhar crítico sobre o processo de cooperação regional dá
ao indivíduo maior poder de análise e avaliação, pelo conhecimento e
experiência que possui, conferindo-lhe uma maior e mais profunda consciência
sobre o projeto regional e sua gestão.
4.9 ADOTANDO A REGIÃO COMO VALOR PESSOAL
Quando o indivíduo adquire consciência regional, passa a assumir novas
posturas e atitudes a favor da regionalidade. A crença e a convicção no modelo
cooperativo regional favorecem sua incorporação como valor pessoal, como
filosofia, paradigma administrativo e visão de futuro.
O indivíduo que internaliza e valoriza a região procura usufruir a
infraestrutura disponível, consumir regionalmente, trazer investimentos e
projetos para a região, pois tem interesse no desenvolvimento regional.
Procura também interagir e argumentar a favor do entrosamento e da
cooperação regional, defendendo o conjunto da região como prioridade.
79
5 DISCUSSÃO
5.1 Introdução
Um dos princípios metodológicos da Grounded Theory refere-se ao
cuidado que o pesquisador deve ter em não se aprofundar no estudo da
literatura existente sobre o tema pesquisado antes de se chegar ao
desenvolvimento completo de sua teoria substantiva. Glaser (1967; 1978;
2004) e Strauss (1967) argumentam que ao imergir na literatura o pesquisador
pode ser influenciado a forçar os dados (tanto na coleta quanto na análise)
para se encaixarem e se adequarem a categorias ou noções pré-concebidas
existentes na literatura, prejudicando o processo de descoberta e criação da
teoria.
Sendo assim, segundo esta orientação metodológica, o pesquisador
deve identificar posteriormente aos elementos teóricos centrais encontrados,
quais são as áreas específicas da literatura existente que devem ser
consideras relevantes para o seu estudo. Desta forma, a discussão dos
resultados sofre um processo de delimitação que estreita e especifica o escopo
da revisão de literatura e da análise comparativa.
Glaser (1998, apud FERNANDEZ, 2004) ressalta que esta característica
particular da Grounded Theory não tem o propósito de ignorar ou negligenciar a
literatura e o conhecimento relevante já existente, mas sim, de favorecer a
liberdade e a sensibilidade teórica do pesquisador. O papel da revisão de
literatura neste caso não é o de verificar os achados da pesquisa e sim, o de
integrá-la como parte dos dados, além de localizar onde e como ela contribui
no desenvolvimento do corpo de conhecimento específico da área estudada.
Neste estudo, foi realizada uma revisão prévia da literatura existente
sobre o processo de regionalização e como ocorreu o chamado Novo
Regionalismo a partir da Globalização. Foi verificado como o termo
“consciência regional” tem sido utilizado nos textos e quais são as definições
empregadas nesse sentido. A literatura existente sobre o assunto mostra
lacunas no que tange a melhor explanação dos mecanismos que levam o ator
80
social ao alcance da consciência regional, elemento considerado relevante no
exercício da cidadania e na sustentação das políticas de ação regional
(BANDEIRA, 1999; PEROVIC, 2000; ABRUCIO, SOARES, 2001).
A Teoria “Compreendendo a Interação Sinérgica Regional” (CISR)
fornece elementos de suporte conceitual para uma melhor compreensão dos
processos sociais relacionados à formação da consciência regional no
indivíduo. Desta forma, procura contribuir com os estudos acadêmicos na área
de gestão para o desenvolvimento da regionalidade, já que adiciona elementos
que colaboram na criação de mecanismos que podem possibilitar uma
participação mais direta da sociedade civil nas ações político-administrativas
relacionadas à promoção do desenvolvimento regional e ao avanço da
Democracia.
5.2 Comparação entre a teoria encontrada e a literatura
O presente estudo trouxe como resultado a concepção de uma teoria
fundamentada nos dados que explica os processos sociais e subjetivos
envolvidos na formação e desenvolvimento da consciência regional no
indivíduo.
Na literatura acadêmica sobre estudos regionais não foi encontrada
teoria sobre a consciência regional. Como este estudo não optou pela
abordagem de aspectos biológicos ou psicológicos da consciência humana, e
sim, pela abordagem sociológica, era previsível que as teorias pertinentes a
esta disciplina seriam utilizadas para efeitos de análise e discussão dos
resultados encontrados. Foi fato inesperado, entretanto, que fossem
encontradas similaridades entre a teoria concebida (Teoria “Compreendendo a
Interação Sinérgica Regional”) e uma teoria na área de Educação e
Aprendizagem.
81
5.3 Similaridades com a Taxonomia dos Objetivos Educacionais de Bloom
De forma geral, a teoria substantiva “Compreendendo a Interação
Sinérgica Regional” (CISR) explica que a consciência regional ocorre como
conseqüência de um processo dinâmico de aquisição e apreensão de
conhecimentos socialmente construídos, evolui enquanto ocorrem interações
sociais e tem como base o interesse e a motivação individuais.
A Taxonomia de Objetivos Educacionais de Bloom foi resultado de um
estudo que auxilia no estabelecimento de objetivos educacionais e fornece
subsídios para avaliação da aprendizagem. Uma comissão interdisciplinar de
especialistas de várias universidades americanas coordenada por Benjamin
Bloom na década de 1950 desenvolveu esquemas de classificação para os
domínios cognitivo e afetivo relativos ao processo de ensino-aprendizagem.
O domínio cognitivo é definido em termos dos níveis de conhecimento,
do mais simples para os mais complexos. São eles: conhecimento,
compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação (BLOOM, 1972).
Já o domínio afetivo está relacionado a interesses, atitudes e valores e
está organizado em torno do conceito de internalização. O menor grau de
internalização refere-se à consciência de que existe e o maior grau é
demonstrado por atitudes e comportamentos que são parte da personalidade
do indivíduo. O domínio afetivo possui os seguintes elementos: recepção,
resposta, valorização, organização e internalização de valores (BLOOM, 1973).
O domínio das ideias básicas de um campo de conhecimento envolve
não só a absorção dos princípios gerais, mas também o desenvolvimento de
uma atitude de questionamento, uma postura crítica e uma certa autonomia
para resolver problemas por conta própria. O indivíduo precisa de versões
práticas destas atitudes para organizar seu aprendizado de tal maneira a tornar
o que aprendeu útil e significativo para si próprio.
82
DOMÍNIO COGNITIVO DOMÍNIO AFETIVO Conhecimento: de fatos específicos, de padrões de procedimentos e de conceitos
Recepção: disposição para receber e atenção seletiva
Compreensão: imprime significado, requer elaboração (modificação) de uma informação original, interpreta problemas e instruções e extrapola
Resposta: participação ativa, disposição e satisfação em responder
Aplicação: usa o aprendido em novas situações
Valorização: aceitação, valor comunicado ao educando foi internalizado
Análise: separa uma informação em elementos componentes e estabelece relações entre eles
Organização: reinterpreta o valor comunicado, conceitua o valor, organiza sistema de valores
Síntese: reúne elementos de informação para compor algo novo que terá, necessariamente, traços individuais distintos
Internalização de valores: o processo de internalização atinge o ponto em que o indivíduo passa a ser identificado pela sua comunidade como um símbolo ou representante do valor que ele incorporou
Avaliação: representa os processos cognitivos mais complexos, julga e confronta dados com base em evidências internas ou critérios externos
Quadro 1 : Domínios cognitivo e afetivo da Taxonomia de Bloom (adaptado de
BLOOM, 1972, 1973)
Os elementos conceituais da Teoria CISR possuem também um caráter
dinâmico e evolutivo. A construção do conhecimento específico para a
formação da consciência regional caminha do mais simples para o mais
complexo, de forma paralela à maturação da consciência crítica, política e
social, com envolvimento da prática, senso de utilidade e significação para o
indivíduo. Sem interesse e significação para o sujeito, a informação regional
pode até estar disponível, mas não atinge o propósito de despertar a
conscientização. O indivíduo pode utilizar filtros de atenção seletiva diante de
informação e conhecimento que acredita não estarem relacionados aos seus
interesses.
83
Teoria “Compreendendo a
Interação Sinérgica Regional”
Taxonomia de BLOOM
Elementos conceituais Domínio cognitivo Domínio afetivo
Tendo interesse e motivação Recepção
Adquirindo conhecimento Conhecimento
Aprendendo e entendendo a região Compreensão Resposta
Identificando-se e valorizando a região Valorização
Participando da sociedade regional Aplicação
Ampliando a consciência política e social
Amadurecendo a visão crítica regional
Análise e Síntese
Avaliação
Organização
Adotando a região como valor pessoal Internalização de
valores
Quadro 2 - Comparação entre a Teoria CISR e a Taxonomia de Bloom.
A constatação desta similaridade teórica remete a uma discussão em
torno da consciência regional vista como um processo de aprendizagem e
aquisição de conhecimento específico, direcionado para a realização de ações
cooperativas no âmbito regional. Ou seja, a consciência acerca do
funcionamento da dinâmica regional precisa ser ensinada e aprendida, através
de mecanismos e processos sociais.
5.4 Análise comparativa entre a Teoria CISR e o Construcionismo Social
A teoria concebida neste estudo encontra na Sociologia do
Conhecimento de Max Scheler (1925 apud BERGER, LUCKMAN, 1985)
elementos que sustentam e reforçam os conceitos encontrados. A Sociologia
do Conhecimento trata das relações entre o pensamento humano e o contexto
social em que eles surgem. Considera as diferentes realidades vividas pelos
indivíduos, a sua consciência, a sua concepção de mundo, o conhecimento do
senso comum, a objetividade e a subjetividade. Para Berger e Luckmann
84
(1985, p. 14) o principal objetivo da Sociologia do Conhecimento deve ser a
análise da realidade humana como uma realidade socialmente construída.
Com relação ao conceito geral de consciência, Berger e Luckmann
(1985), seguindo a linha fenomenológica de Edmund Husserl, colocam que
toda consciência é consciência de algo, é dirigida a um objeto, portanto é
intencional.
No presente estudo, a consciência sobre a região apresentou-se
diversificada entre os participantes, de acordo com a forma e a interpretação
que estes davam para o termo “região”. A linguagem expressa o conhecimento
e a consciência do indivíduo acerca do conceito. Lencioni (1999) ressalta que o
uso fluido e irregular do termo pode ser um dificultador no entendimento do que
vem a ser a região da qual se fala, no caso do Grande ABC, uma região
socialmente construída. A Teoria CISR evidencia a importância da aquisição de
conhecimento básico para o entendimento do modelo de atuação regional, pois
ninguém pode compreender e emitir uma opinião sobre aquilo que não
conhece.
O processo de formação da consciência sofre influência fundamental do
cotidiano. Os construcionistas argumentam que o indivíduo percebe o lugar
onde vive através de sua realidade diária, que está organizada em torno do
aqui e agora, no tempo presente. É a realidade da vida cotidiana que se impõe
a todas as outras realidades das quais as pessoas têm consciência, pois é a
que tem significado para o indivíduo. Ela se passa em um lugar
geograficamente delimitado, onde se dá o exercício das relações interpessoais
e do trabalho.
Portanto, não há vida cotidiana sem a interação com os outros. Este é
fator que mais afeta a consciência da realidade dos indivíduos, sendo o foco da
sua atenção. O ser humano experimenta a vida através do mundo que está ao
seu alcance, o mundo em que ele é ator e pode modificar a realidade através
do trabalho. Neste mundo do trabalho, a sua consciência é dominada pelo
pragmatismo, pelo que faz e planeja fazer dele. Para Berger e Luckmann
(1985), isso não significa que o indivíduo não possa ter consciência de outras
realidades de mundo que não conheça pessoalmente, pois existe uma
85
intersubjetividade na medida em que pessoas participam juntas, trocam
informações e se comunicam na convivência cotidiana. Ainda assim, é
necessário que haja aquisição de conhecimento.
Na Teoria CISR, o interesse e a motivação representam uma categoria
conceitual básica para a formação da consciência regional. Se na realidade
vivida pelo indivíduo na região não existem relações sociais relevantes nem
trabalho, esta passa a não ter significação importante, não sendo geradora de
interesse suficiente para aquisição de conhecimento regional. Não se
desenvolve então a consciência regional.
A partir do momento em que este indivíduo passa a ter interesse e
motivação, ele foca sua atenção para a aquisição de conhecimento específico.
Esse conhecimento pode ser proveniente da influência e da interação social
com grupos de referência, sub-categoria conceitual da Teoria CISR. Para
Berger (1976), atores influenciam e são influenciados em suas ações sociais
pelo grupo de referência, que é constituído pela coletividade cujas opiniões,
convicções e rumos de ação são decisivos para a formação de nossas próprias
opiniões, convicções e rumos de ação. O ser humano tende a querer ser
aceito, participar e viver em grupos onde a sua visão de mundo seja também
aceita e compartilhada pelos demais membros. A adesão a um determinado
grupo também é baseada em fatores cognitivos. Quando um ator se liga a um
grupo, ele “sabe” algum conteúdo específico sobre o qual este grupo está
apoiado, seu ângulo de visão da realidade. O conceito de grupo de referência
tem relevância na medida em que possui mecanismos dinâmicos de influência
no conhecimento, na percepção e nas atitudes de atores sociais no espaço
vivido.
Magalhães (2002) em estudo da área de educação sobre consciência
crítica, explica que a consciência é algo pessoal. Há elementos racionais,
emocionais e sociais na construção da consciência de cada indivíduo. Cita
Berger e Luckmann (1985) para explicar que o indivíduo consciente precisa
conhecer o ambiente em que ele se situa e os elementos que interferem no seu
posicionamento além dos elos que orientam seu pensamento e ação. Ele
precisa saber correlacionar as informações que possui de forma crítica, através
86
de uma visão mais abrangente do mundo que o cerca. Na Teoria CISR, a
categoria “Amadurecendo a visão crítica regional” reflete esta afirmação
defendida pelos construtivistas.
5.5 Revendo o conceito de consciência regional
Constatou-se através deste estudo que os conceitos e definições para
“consciência regional” utilizados na literatura não condizem com a forma com
que é empregada nos artigos sobre o Novo Regionalismo.
Os textos atribuem à consciência regional um papel relevante, visto que
representa um elemento essencial para a união de esforços em prol do
desenvolvimento regional (GIL; GARCIA; KLINK, 2003), com transformação
local pela adoção coletiva de um projeto com racionalidade própria
(DALLABRIDA,1999), tornando os habitantes mais propensos a cooperar na
defesa de soluções regionais para problemas e interesses comuns
(BANDEIRA, 1999, 2004). Além disso, a consciência regional da sociedade
pode ser capaz de apoiar a estrutura de cooperação regional independente de
eventuais reveses, pois foi fruto de um aprendizado institucional que não pode
ser apagado facilmente (ABRUCIO, SOARES 2001). O sentido de cidadania
dos habitantes pode ser resgatado através da consciência regional (FRUG,
2002), além de possibilitar a criação de novas capacidades para administrar
regiões (WALLIS, 1999) e refazer os sistemas de convivência na sociedade
(BORJA,1997).
Entretanto, as definições para consciência regional giram em torno da
expressão das características ou personalidade da região por uma grande
quantidade de pessoas, baseada na apreciação pessoal da combinação de
ambos elementos, físicos e humanos, pertencentes à região (UNIVERSITY OF
BRITISH COLUMBIA, 2005) ou da expressão pessoal ou coletiva das
experiências dos indivíduos no território delimitado pela região (PAASI, 2000).
Ou ainda, segundo Wardhaugh (2001), a consciência regional seria o
produto das imagens dominantes que emergem ao longo do tempo, de dentro e
de fora da região, que definem um lugar e um tempo que as pessoas adotam e
87
passam a utilizar, aceitando-as ou rejeitando-as para assim, expressar a
identidade regional.
A definição de consciência regional diz respeito ao espaço vivido e ao
sentimento de pertencimento a esta região (Frémont , 1976 apud LENCIONI,
1999).
A teoria concebida como resultado deste estudo mostra que não basta
conhecer a região, suas características, sua história, sua economia e sua
sociedade. Estes são aspectos importantes, mas não suficientes para se ter a
consciência regional citada em literatura. De modo geral, as definições e
conceitos sobre consciência regional não fazem alusão à cooperação,
articulação ou integração de esforços em âmbito regional para resolução de
problemas comuns. Este estudo sugere a ampliação do conceito de
consciência regional com a incorporação destes termos.
88
6 CONCLUSÃO
Este estudo foi realizado para atender dois objetivos de pesquisa. O
primeiro, de verificar de que forma atores sociais locais percebem a Região do
Grande ABC enquanto estrutura sócio-econômica e político-administrativa,
através de conceitos presentes em seus discursos. O segundo, desenvolver
uma teoria substantiva sobre o fenômeno da consciência regional utilizando a
metodologia da Grounded Theory.
Concluiu-se que atores sociais regionais percebem a Região do Grande
ABC de três formas, podendo ser considerados três níveis. No nível inferior de
consciência regional, o indivíduo apresenta conhecimento mínimo sobre o
conjunto da região, possuindo visão restrita sobre a cidade onde reside e sobre
os locais da região onde costuma transitar, conhecendo pouco ou nada da sua
infraestrutura e gestão, inclusive o nome das sete cidades que a compõe.
Percebe a região de acordo com a familiaridade que tem com as imagens que
vê e com as informações que ouve. Desconhece as estruturas de cooperação
regional. No nível intermediário, existe uma consciência parcial sobre a região,
com conhecimento sobre algumas cidades, sua história, seus aspectos
econômicos, sociais e políticos, mas não necessariamente sobre mecanismos
de articulação política e administrativa na esfera regional. No nível avançado, a
consciência regional é plena, com conhecimento amplo sobre aspectos sociais
e econômicos da região como um todo, compreensão dos mecanismos
estratégicos da regionalidade e dos potenciais efeitos sinérgicos de ações
político-administrativas integradas regionalmente. Percebem as ações
regionais através de visão crítica, com capacidade de reflexão e avaliação da
realidade do conjunto regional.
A teoria substantiva gerada através da metodologia da Grounded
Theory, muito se assemelhou à teoria existente na área de Educação,
conhecida como Taxonomia de Bloom, denotando que o processo de formação
e desenvolvimento da consciência regional não deixa de ser um processo
social de aprendizagem.
89
A Teoria “COMPREENDENDO A INTERAÇÃO SINÉRGICA REGIONAL”
explica que a consciência regional ocorre como conseqüência de um processo
dinâmico de aquisição e apreensão de conhecimentos socialmente
construídos, evolui enquanto ocorrem interações sociais e tem como base o
interesse e a motivação individuais”. A informação através da mídia ou ações
isoladas de marketing não são suficientes para aumentar a consciência
regional da sociedade. As pessoas podem ter acesso à noticia regional, mas se
não houver interesse, a informação não se transforma em conhecimento. A
participação real na construção da realidade regional e as interações
decorrentes são os fatores que mais favorecem o desenvolvimento da
consciência que se tem sobre a região.
A teoria apresentada possui como título a categoria considerada central
(core category) e compõe-se de oito categorias conceituais, apresentadas no
gerúndio para enfatizar o caráter dinâmico dos processos sociais que
representam. “Tendo interesse e motivação”, “Adquirindo conhecimento”,
“Aprendendo e entendendo a região”, “Identificando-se e valorizando a região”,
“Participando da sociedade regional”, “Ampliando a consciência política e
regional”, Amadurecendo a visão crítica regional” e “ Adotando a região como
valor pessoal” foram as categoriais conceituais escolhidas para compor a
Teoria COMPREENDENDO A INTERAÇÃO SINÉRGICA REGIONAL.
Quando se tem uma consciência regional desenvolvida e plena, há
compreensão sobre os motivos que levam uma região socialmente construída
a ser chamada de “região”. Compreende-se que a proximidade territorial entre
uma cidade e outra faz com que muitos problemas sejam comuns e afetem a
região como um todo, tornando difícil assumir resoluções de forma isolada,
levando em conta somente o âmbito da gestão municipal. As ações
administrativas e serviços de um município têm influência sobre os outros. Os
processos de gestão têm interdependências regionais muito significativas no
caso do Grande ABC. Esta preocupação regional tem bases motivacionais
racionais e lógicas e procura um equilíbrio no desenvolvimento humano de
cada cidade, considerando o perfil e peculiaridades de cada uma.
90
Compreende, portanto, que as soluções devem ser analisadas de forma
integrada, com visão sistêmica sobre o arranjo regional existente. Este esforço
regional de entrosamento e cooperação consolida um modelo de gestão
integrado onde se mantém a autonomia administrativa de cada uma das sete
cidades, porém com uma consciência de que o projeto regional sempre
contemplará a interdependência, a inter-relação e a complementaridade entre
suas partes, potencializando o efeito sinérgico que se espera alcançar com o
conjunto regional.
Conclui-se também ao final deste estudo que o conceito adotado em
literatura sobre o termo “consciência regional” deve ser revisto e ampliado para
haja uma melhor adequação ao uso e a relevância que lhe é atribuída pelos
autores de pesquisas e estudos regionais.
Quanto às suas limitações, este trabalho não pretendeu dar respostas
finais para as questões relativas ao fenômeno da consciência regional. Teve o
objetivo de contribuir para um melhor entendimento dos conceitos e processos
sociais envolvidos na relação do indivíduo com a região, como ator capaz de
transformar a dinâmica da realidade que é socialmente construída. Dessa
forma, o estudo pretendeu agregar conhecimento para estimular novas
pesquisas que envolvam a gestão para o desenvolvimento da regionalidade. As
limitações do estudo consideram ainda dois pontos. Um deles refere-se a o fato
de que os resultados da pesquisa dependem em grande parte da habilidade,
familiaridade e sensibilidade teórica do pesquisador. O outro, ao fato de que
dificilmente uma única teoria seja capaz de dar conta e abranger todos os
aspectos de um objeto de estudo, uma vez que é um construto elaborado a
partir de um determinado ângulo de visão e um recorte da realidade escolhido
pelo pesquisador. Além disso, segundo Selltiz (1974), deve-se notar o caráter
provisório das teorias na ciência contemporânea. O que antes era considerada
uma explicação final, hoje uma teoria deve ser aceita como tentativa e deve
estar sempre aberta à revisão, pois não é uma formulação estática ou final.
Ainda assim, a Grounded Theory mostrou-se um método interessante na
medida em que seu potencial de descoberta teórica traz contribuições úteis
91
para o incremento do conhecimento nas ciências humanas, através de uma
experiência intelectual única e enriquecedora para o pesquisador.
Sugere-se para pesquisas futuras a realização de um levantamento
(survey) nas escolas de ensino fundamental e ensino médio da região no intuito
de se verificar a ocorrência de projetos pedagógicos que estimulem a
consciência regional, social e política nas crianças e nos jovens e seus
resultados. As Disciplinas de Ética e Cidadania ou Geografia, entre outras,
podem servir de referência para este tipo de investigação.
Outra sugestão refere-se a estudos sobre a imagem e a identidade
regional, visto que a consciência regional relaciona-se fortemente com
aspectos simbólicos e imagéticos, que influenciam comportamentos e
resultados. Pesquisas sobre marketing regional podem fornecer subsídios
relevantes neste sentido.
E finalmente, mas não menos importante, pesquisas sobre formas de
participação da sociedade regional, na construção de um sentimento de
comunidade e solidariedade para o fortalecimento da gestão democrática das
cidades e da região, com elaboração de políticas públicas mais efetivas que
possam alavancar a aprendizagem coletiva e o aumento do capital social
regional.
92
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