-o AVESSO DA LOGICA: ASPECTOS DA RELAÇÃO ENSINO-APRENDIZAGEM NA ESCOLA TIA CIATA.
Monica Rabell0 de Castro
A N E X O S
MONICA RAB.ELLO DE CASTRO
-O AVESSO DA LOGICA: ASPECTOS DA RELAÇÃO ENSINO-APRENDIZAGEM NA ESCOLA TIA CIATA
DISSERTAÇAO DE MESTRADO
VOLUME 11
S U M Ã R I O
pâg.
CRITERIOS USADOS NAS TRANSCRIÇOES 156
ANEXO I - DOCUMENTOS REFERENTES À CRIAÇAD DA ES-COLA 158
ANEXO 11 - FALAS SOBRE A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA.
1. Falas dos Alurios 171
2. Falas dos Professores .•................. 175
ANEXO 111 - FICHAS DE ROTEIRO E REGISTRO 191
ANEXO IV - FICHAS DE PERFIL DAS TURMAS .......... 197
ANEXO V - FALAS DE ALUNOS E PROFESSORES QUE EXPLICITAM SUAS RELAÇOES.
1. Falas dos Alunos •••..................... 202
2. Falas dos Professores ................... 212
3. Entrevista feita pelos Alunos com os Pro-
fessores 242
ANEXO VI - FALAS SOBRE OS TEMAS.
1. Situações Matewâticas 252
2. Situações Assalto/Trabalho 291
ANEXO VII - REGISTRO FOTOGRÁFICO DO MOMENTO DA PES QUISA ...................................... 364
CRIT~RIOS USADOS NAS TRANSCRIÇOES
Pela nao existência de procedimentos consensual
mente estabelecidos para a transposiçio das falas para o
c6digo escrito, neste tralialfio, adotamos os seguintes cri
térios:
I - Nio foram usados os sinais gráficos habitu
ais da escrita, exceto nos seguintes casos:
rênteses.
- Ponto para finalizar uma fala.
Reticências para indicar hesitações, interrup
çao feita por outro interlocutor ou para pau
sas longas numa mesma fala.
- Para indicar pequenas pausas, geralmente pro
duzidas pela respiraçio, foi utilizado o sím
bolo C/). Procurou-se evitar pré-interpreta
çoes que tendenciariam as significações.
2 - Letras maiúsculas foram usadas para:
- Iniciar uma fala.
- Nomear lugares ou pessoas.
- Após reticências ou interrogaçio.
3 - As falas dos pesquisadores vieram entre pa-
4 - Para indicar falas nao audíveis nas transcri
çoes, utilizou-se: Inio compreensível I.
5 - Adotou-se para os erros em concordância ou
em pronúncia de palavras um critério particular:
- Os fatos de pronúncia regional, tais como o fa
157
lar chiado do carioca, - ~.
a nao pronuncIa do erre
final, etc.
- Foram mantidos aqueles que não decorrem do re-
gionalismo, como por exemplo o esse final em
concordâncias nominais, tempos verbais em con-
cordancias verbais, substituição ou anulação
de fonemas do tipo ~uol no lugar de ~uo~ ou ta
va no lugar de e~tava, etc.
6 - A entonação, neste caso, ficou prejudicada
em função de não se ter encontrado nenhuma forma de garan-
tir sua identificação. Caso haja interesse do leitor, as
fitas encontram-se em poder da autora.
7 - Os anexos foram organizados segundo a finali
dade das anilises e numerados para facilitar sua consulta.
Estes foram os critérios que nos pareceram menos
parciais para a utilização das falas, ji transpostas para
o código escrito, neste trabalho.
A N E X O I
DOCUMENTOS REFERENTES À CRIAÇÃO DA ESCOLA
PARECER DO CONSELHO
ESTADUAL DE EDUCACÃO
DO RIO DE JANEIRO
SERViÇO PÚBLICO ESTADUAL DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO DIVISÃO DE APOIO TEcNICO
Portaria na- 8783/DAT ~8 5 de maio
159
de 1988
o DIRETOR DA DIVISÃO DE APOIO TECNICO, fundamentado no Art. 1~, inciso I da Resolução n~ 1288/SEE/86 e considerando os termos do Parecer n~ 406/ CEDERJ/87 exarado no processo de n~ E-03/100677/87. -
RESOLVE:
Art. 1~- Autorizar a ESCOLA IIUNICIPAL TIA CIATA, sediada na Pas sarela do Samba, Setor 2, Sala 6-76, município do Rio de Janeiro, a funcionar 7 com o Projeto Experimental de Alfabetização de Adultos.
çao-
DS/mcnf
Mod. 10 • PcnU1a
Art. 2~- Esta Portaria ent~arã em vigor na data de sua publica-
Rio de Janeiro, 5 de maio de 1968.
Dirstcr t:a t.. .'" 'I! ::--I~ Tticttc,
.. O"ort ..... n'. •• r.{., :.çao •• s.. E. L ~" IaO..20U
'PUBtlCAD()
_1 ___ '''''
ESTADO DO RIO DE J~NElRC
SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO CONSELHO ESTI\DUAL OE EOUCAÇio
. ci,nl\fl/\ DE EDUCAçr.D PRÉ-ESCOLJiR E ENSINO DE 10 CRAU c~n~n~ DE ENSINO SUPLETIVO PRDCESSO .. rHlt 03/100.677/87 lNTERESSr.DO:: ·ESCOLr. MUNICIP.I\L TIA CIATA
160
PHnECEn NU 406/87 Concede à Escola Municipal Tia Ciate e condição da Escola Experimen_tal . e dá outras providôncies •
. HIST6r.ICO 1\ . Escola Municipal Tia Ciata, unidade educacional da Rede Municipal do Rio
do Janoiro, situada ne Passarela do Samwa, setor 2, sala 9-76 encsmlnna ' Consolho, através do sua Dirotora, Professora Ligia ~aria Costa leito, ' do funcionamento do nprojete Exporimental d6 Alfabotizaç~~ . do Adultos~, "oosonvolvimentc - nc rtlfcrida escola. , '. ' .
a este : pedi dc já em
O objetivo fundamontal da E~cQla 6 atandor ~cliontolo chamada "rneninoD do I'UC" o outros quo aprosontam caractor{sticêS sociais sc ..... ê'lhantos. são frut.o:;
.dos condiçõos 30ciois do meio, d~ inoxistêncl~ ro~l da ob~iºatoriod~dc oscol~r :0 do frQCBS5~ dQ escola no procasso d~ ~lfabatizaç~o. ~p~osentam farto ~csist~n 'cio o bloqueio di~nte da perspectivc do rotornar a os~e mosme instituiçõo oc=~'lor O precisam do açõos muito fortes -e cr!ativco pore superar esso impa~9o.
n ' o~cola inclui seus alunos em trôs grandos grupos: os que não tôm f~rn{lic ou dolo foram oxcluídos ou ainda SG auto-excluíram D cus constituam 30% óas mê.trlcul2.9 -vivam n<:l rua, praticando paquqr.los ,furtos, p~dindo esmolas e cor.tida c. "90ral~Gnto dormindo a6 ar livre; os quo ' t6m .família distanto, vivem da vonco do ;Jornoiç, balDs, guara~ .do ~ufom~vois, serv~çes de ongraxatos. O dinheiro QUo co~so9uom complo~ontD a ronce familiar. R~prcscntam estos 40% das matr{culaõ Uú JD~ restantos s;o for~ados pelos ropGtont~s de ató sois anoõ d6 repGtôncic ~o l~ sória. . . "
li ,iexoo'riê'no;:'i 'c piloto" que dosonvolvo na 'Passarola do Samba há cerco de :aoi,s, .';,r:,os ";'e'2;:'c;.ep"rç U~ ? fjlte-rnütivél inovLldora, dentro ca eróoria reoe munici~ol do · ~nsino". pois J totalmente diforentó de trabalho foito nQe outras 987 Q:;'col.:ls. · Prljpõo-so uma motodologill diforonto', para u::ta clientela diferonte. H; g:-ondo rioxibillrlüdo odministr.:lt.iv<l: os inéltr{cul~s ocorrom om Qualquer 'poríodo do Dno lct~Vo. Este comoçél Quando 'o ~aluno' chog<l, o .termina ~uando ale sai da ' D~cola. N~D nn Dxigôncie ' antocipodo do aprosontaçco do documontos, rotrotcG c lmiforr:los par.n a froqtlôncia !ls .. aulas. BUSCê-90 :'primoiramento a participaç50 ~o Dluno, indtlPondonto do n~r~as vi·contes.' "Para 'isto, a luta polos dirElitos das~os a lunos. (Cdut:~ç~~" :fi~?~}:6:ç'?~, _ tr~.~~lho , o atondimento módico (J JurIdico) o e busca do, .sua ~OiUl~O l?oci.,=,.l·, SilO . me.to .jprimordial do nosso trabalho", diz o documonto. . ... -: . Cri~M · potsibllidüdas . do 6n~lno o OdUCil~DO o partir das caracter!sticas de 1!1un[)tlo::' ~.:DDbiliobdq, criiH:ividoc!e, p'rovisoriodado, imediatismo, irroverência , 8gro:lsividado". " Procu.rcm contrltJuir pLlrD quo tol clientola oncontra 8ua idontidado D d08chvoi;a ofotividado o solid<lriodéldo, podendo "sair da rua" ennu~nto fOr:1fJ?rtnraon1:o Qn~i-soclill. A integração com outro~ grupos da analfabetos, com outro. cornctDristicQs reprosenta .ostImulo importante, e o convívio em grupo Soll Z1 ot'iDftttJção 9sclarocidól d~ oscola podo at'onuar ou 'masmo t.ornar lnoxprcss.!.. YO o DDntLmontc do vic~ônclQ acumulodo durantotanto& onoo do discriminaçõo o .abandono.
' N,!DtD proposto oducacio'~~l bUSC\l~60 uma escolo não-formal, nõo 6oriada,at; .l 4& aUt"l .. " .. ' .f 0, 'tl pntir de conteudos pocJagogicos. lldBquodos a cl1ontela, 1l1uno8 das ~SQ111 atér1.n3 .do 12 Q 25 on08. nNonhum !lator QUO tonho implicaçõoe com a oduco
.~GO - 1:0IDunltlLlda.· osco.1a, ostado' _ podo ticor oxcluído dosso proco6so. Isso poI ~UQ. 1l0DDD , OpçÕO InDtodológic~, participnçõo. o'ducoção 9 aç~o, Juntos compõem ti apt Dndlzn_ ,- -, . t i A
~ -~ CD6UtiVD o ~uo o oducoçao o aqu~ entondida como um a o d narnico D \ ':Jll'flllln8!ilta tZDca". Procuram tratQr o conhocimonto do uma manairo global, in~:~~!~~1P11hor, do modn n atingir num curto ospaço do tompo, os obJetivo~ pro -
\K.IA.
161
Os conhocimontos das ling~ogor.;·; tanto e da l.Íngu3 portuguosa como elt" guagam matomática centram-so noe soguintos aspoctos roferonciais: e grupo ; trabalho, o cultura o a cidadania. . I
n profissionolizaç;o 6 cuidedo Qtrav~a da inici~ç~o ao trebaiho 0. da~~ gi03 romunorodoG.
Embora ~ ovasõo soja alta, o'quo Ó natural om tal tipo de etlvi~ãdàÇ ~d~ mos ob:;arvor, . pelo leitura de preco:;se, rosultodo altamento positivo, 80 ConSl
der~rmos Que om trabàlho do tal naturoZD o quo dove contar nõo é o númoro d~cortificados eXP9dido9 ~a8 o c~amomonto do "monino do rua" para uma 8tlv~~~ diforento. · . " • :"ro;<;" .
. ' . Lô::so no ' processO " que o trob.elho dosenvolvido tom sido reconhecido e I
odo por grupos qua . otondomól. umoninoD do ruolt!Pastorel do Monor; Sociedado 5à4 Mortinh~, Casa do Monor !rabalhador, rac~l~ode : do Serv~ço Soc!ar~ . '~edog~~
·da UrnJ; M6vimontc Nacional do Moninos do nua, atc.'. o ainda QUO o aluno 50 a vor osta oscolo diferente, Que não lho exigo freq~ência diária e obri~U ric, quo começa quando 010 chega, QUO comproando o sua impoosibilidado dD ~(mcnocor ~ontbdD par muito tempo como uma altornativa prosonto, do um futur~~ CUQ vida. "Driga::, doprocüçõos, rouboD, dosro!'.:poi to à:;~ rouniõos pedêlgógicil8 to
tumultos na:; útividados oxtornas, nõo caracterizem ms1e o cotidiano, como no' primoiros to~po:; da escole".
Os ilustros Consolhoiros S5nia nogin~ScudQso O Roberto Fernando LG;o ~ 1050 "Ebort visi tDram a E·scola Tia CiDts o deram as molhares reforências sokc o trcbalhci l~ desonvolvido.
. , •• Ç; :r,ssassora Profo3sora ~no r.oemia Colil Belem, Que acompanhou a Con901"0
ra Sônic Scudoso, om rolatério encaminhado D Prosidonte da C~mara de -Educaç~ Pré-~scolar c de Ensino do 12 Grau diz: "Paroco-nos oue a Escola Tia Ciat~ , ar sua propc~ta pOdooóoica e social. o tiDo do oS~êbo~ocim Q n~o 00 ons~no V~
davc :;0 muI t±~licar aIO no:::::;a comun !..lodo r pois Quoca "ºtUçoos poculiaros 00 e~ sino, od~=acao o' socicliznçoc, c~ro um~ Dorcole do oro-adolG9contos e adol~! ocü!:as CO rU~f os ~'~C3ninos do ru<:~', que, som 01 .. , talvez J<!r.lais tiVOSS81õl ~ tunidodG do se ofester do mDrºinDlidado~. . .
Const.::, temD<Jr.:, 00 rclat.~rio o recrutamento dos . professores, sendo o CCf
po doconto cQnstitu{do do profossores das escolas·da Redo Municipal 9~a tro~ monto ('sp~c{fico, l1las QUo, conv1"vondo com o dia e · dia da oscola o part.1cipac:l.: dos reuniõos O dos planejamentos, ou nelas so integrem ou deles S9 afast~. ~ qua permonocem demonstram granoo éntusiasmo pelo trabalho, conformo nessa ~ ra p6de percober otrav6~ _ do grupo QUo nos visitou, nesta Consel~o.
'VOTO O~ nELnTOR~ É .tao granda o número da crianças o·adoioscontos QUo devem ser .tenõldo
polo escola rcg~lor, dontro da faixa dó obrigqtoriedade o~colDr o mesmo no ~ sino· 'formal do 21! Grau, QUo 510 torna nocossório rocorror à riQuoza do I'DCII"t-
sos matodológicos quo a oscola não-formal oforoco para que não se dal)·s . "er atendimento a imonsa população do adoloscontos o jovons adultoa.
: "Dc' aéordo com o conso dOlllogr5rico do 198'0, havia no Estado do lUo 150.000 anal·iaboto·s~ So so'm-ormos a ostos Os õnolfobetos: .funcionais, QUO só sDbom d03".D" hhar (, nomo mos sõo. incapazes do olabornr qua-ici"uar monsagem oscrita. e.to nÚr'-r ~. ~,bn!).o.':n qU<:lsc .. ·um milhóo. - . , . . '. . . . .
=Torna-50, porbnto, indlsponsêlvol quo os orlucDddt1r~~ü&iiiiaó do ·lD.aãã ér! o·t-1vidbdo do quo s~o capazos, pürtam para propo:;Ú1S · Qu~_atcndam à oS-pDc1f1cidE-de c~'cl1ontola o quo sojam ao mosmo tompo olom~nto6·. df.l; ·p~omoçãD socJ..al do" alunos c.' do su~s comunidados. . .1. . ••. , ,- . -' ,. ..... . .
Um~ posquisa rOéllizada pOlo profossor Gichuro, ,_ do Contro do (du.êa~Do D~ "sicc úo Universidado Konyolto, om Nairobi, rovoloü:Qu~ ' õ~tro os esp1rDçDo. · ~ ··sicas-dcs moninos de nua do Nélusbi uma das principais ore o -dosóJO . .ittJ .· froQ~~
télr uma -CJscol~, rocebor oducaçõo. Entratanto, às ,circunstânc1c3 não ... lhos .. poI'"" :'=mi ti~m' froqOontor uma oscolã ' rogular: a pobroza~ . a . 1c1ti~õ o -: e ';11bord3Íoo- !,~
ostavam aco~tumados. Eram muito pobro~ para so pormitirom e luxo do-lr~~, UM~ escola,.muito grandos poro iniciar uma oscolaridado normal o dD~oeiadD . ' -11-
:-vro:!" pnrn podor adaptar-so õ r .1 gidoz da ostrutura Recolar" (por9pot:ti.uaa : · ,. -. Uno:!co). :r. soluç~oencontrado poloo pO:lquisouoros do Konyol ta ' a:lsomo~lI-oo . Il
o:;to oxt~oordinária tnntativo da Escola Tio Ciata. Uma oecola d1foronta. quC
I ' ._----_.-- -- - -----
162
--C~~9ue ao alunG, penotrando om seu mundo, rospoitando-o o proeurondo Gocioli-lá-lo no contida do torná-lo um c1d~dõo copoz O~ comprooneor diroitos O dovo ro~, dontro de ccmunidodes livro~ •
. { de tocia convoniôncio o mo~mc obsclutcmonto nE!cosaó:- io que él o&co1L! pro DorvC os suas cara=torfsticos o uo lute ~r3 quo haja contlnuloooo em ~eu tr~belho, um DUO manoiro de 8~r "oscola" principolmento ne prodio a ser co~stru oc oepocia1monte pa~a o bom traoalnc t --- Por tudo istú, somos do Por t cor quo ~o concoda õ Eccole Tio Ciata a condi
çõo do Escalo Experimontal, do élcordo com o quo proscrevo o Art. 64 da Loi ••••• 5.692/71.
. Como Q clientela ü ser atendida compreonde foixüs otór~üs do 12 Q 25, in cluind.o pcs~oas quo normalmonto estariam .no Ensino Sup1utivo, e considorondc trator-se do uma propost~ de oducaç3o n;u fermal, propomos QUO osto Cer.6olhc, por sua~ C3~~r~ do Educoçõo Pré-E~colar o Ensine de !~ GrDu o C~wora do Ln~inc Suplotivo ocor.lp:mno II oxpo~iênCié:l "través . do rolot6rios somostr<Ji:l.
Su~orimos oin~a QUo a SUDorvi~;o, quo noc as scr!omuntc occ~ p anha=i ost~ tr" bolha . tõo rico p~.rt; a OOSGC rSll1ic<lcJc, posse dielogar COI!' i?sto Conselho sobre c molhor r.lanoira de so cvali~r o dcsor.lponho dcs csc=lcs abcrt<ls,o n~o-rorcais.
.,
As CÔr.larc~ rounidas <lcompanhame voto da Rolatct"s. Rio de JcnGi~c, 21 do outubro do 1967, (00) Myrthcs De LUCQ Wonzol - Prosidonte o Relatora
~ario CecIlio Oucdro . norlcn::l S<:lloodo Pl{nio Comt~ Leito Bittoncourt Roborto r~anciscc Roborto Fernando LODO ValIoso Ebort
CONCLUS~O DO PlENf.RIC
O. presonte Paroeor ó SIlL/\ 0.15 SESstli:S, ·no
aprovado por unaniCidQdp' . Rio do Janoiro, om 29 do ou br de
. ~c>· {. ERNESTO DE SOUl/'. -fREJI1E fILHO
ViCG-prCSideJ'o
I
_.-
198:.
r r
J j
Diari()Ofiêialdo; Muniêfpio do Riódé Janeiró'
Poder Executivo!
r '- CIECRETO .. .1553DE12DEABRILDEl988 -
TRANSFOJUlll.. ~~ Toa Ciàta .... ESCOLA DE EDUCAçAO JUVENIL TlADATA ... _ ......... a:iw.· . ~ -o ~TD".aDMlE1IO RIODE.JANEIRO. no UIU de lUa alribu6- ' ~ ........... _ ......... _ dIIprvc. 07110.898/88. c:onsidetM-da: . -eM ,- ' . .;;~; .... .;.. ....... 'popuYçIoacol8T.naI .. beIa. . _ aad--. ........... _' ._que ... _'."....-lltÍCal ........... ZL4.: " ~; .• :-" .. t'. :.-.. ", .• . ". :" ..... -: ..: . _. __ b..... " f ..... c.-daCict.M:
- o ...-.. ea-..~ da EcI.açIo.. eprawdo por uMnimidede . _ 2lI ...... de 1117 ... 0 IL 40IIII7. __
DECRET~ . ,' " .~" . , .. . . _ , ., .• . . . An. . 10.. .- '*-' ....... pMI ESCOLA DE EOUCAçAO JUVENIL '01.02.901 Ta 'CIATA.. *aia ....... denomÍNÇIo da EICDIe Municipel 01 Jl2.101 n.c:a.. cn.. .. a-.. li. 6481, de 20 de tev.eiro de 1987.' ,., .... ofiãll ......... 10 .... do Município do Rio dIi Janeiro 100 • Jurildlçlo ela to. OillriD* Edi.açio • Cllhuno do ~to-Geral de ~ •• ~ ........ dI~ •• que w.- __ N Awnidll ~ v..- aIL - fi-. Ona." 11 ReviIo Administ .. av. - CemrD.. An. 4D. - A _ ............ izaçIo dninislnotiva de EICO'" de EducaçIo Ju __ ., CiaII.-k.... iecIM do revime comum dIi rede ore.l .• f""". __ ....-_~primonIiaÍL· .
AR. 3D. - "0ireçI0 .~ ... -.:idII .... lWQime de colegiado. con_ do .... aI ___ ..... licipac;iode~~·::e.de ~ --"-"-io....-_ QXIIIi1u_. comunidade ........ ..... 40.. - A ..... , . :odmio.....uv~... J mpoaI de um ..... ele ' ........... inwdilaplinar formado por pro'-n dIi ...-..-.... ele _..- de ~ p.-. o ... beIho formado por poalo""' ............... 1oc:iaiI. monitorw.. An. k - A ..... _ ~ ele Educ8çIo.Ju-w T .. C-"18 podori 0CIIt· _ ................. ---. ...... nIo lendo .,.._isito. epr.-wuçlo da~_ . ........ - A ..... _ .. ~ ........ iuda por maio de CIlrCUno dIi ...... . • 10. - 56 ~_~ OSPiO"'-"- que .prnanl8rem decw.çJo .. ~ ____ tMlUde na pl'llpn. EICOIa de Educ:açlo J..-.~
r.Cia1lL . • 2ci. -~ ..... __ ... o quadto de prvtewar., • Oi, ..... o da
ÚI:IDII'I .. ~,Iu ... r .. Ci ... os.rrevimen .... após entreYilUi de ...... ~enuw_ .. at w...-idao~o lo. Oirtlltode Educ:açJo. Cultura. An. 70. - ........... __ .... .,igDr "" dal8 de ... publicaçio, ,~ .. cf .... ·" _ _____
"Io.~. 12t1 .. bril. 1988 - 4240, da FundaçJo da Cidade IlOllEftTOSATURNINO BRAGA ·
Joio da Si .... Ma •• L JooIF ..... Moacyr de GlIw
163
Prefeitura da Cidade
AtOl do Prefeito
DECRETO N. 6491 DE 20 DE FEVEREIRO DE 1987 CRIA e ESCOLA MUNICIPAL TIA CIATA O PREFEITO DA CIDAOE DO RIO DE JANEIRO. no uso de SUG mibuiç6es legais e tendo em viste o que constlI do proc. 0712458/87 . DECRETA: Art. 10. - Fica criede .". rede ofICiei de esubelecimentos de ensino de 10. srau do Município do Rio de Jeneiro. sob e jurildiçlo do 10. Distrito de Edu· c:açio e CUltu .... do [)epMumento Geral qe Eduaçio. de Secretarie Municipal de Educeçlo. e ESCOLA MUNICIPAL TIA CIATA. que teta sede". Awnid. dos Desfiles. Setor 02 - na II RegiJo Administmive - Centro. Art. 20. - Este decreto ent,..ii em vigor". date de ... publicaçio . rwogadas as d~1!S em contnrio.
Rio de Janeiro. 20 cie fevereiro de 1987 - 4230. de Fundaçlo da Cidade. ROBERTO SATURNINO BRAGA
Tito Bruno Bandei,.. Ryff M.rie Lucia Couto Kamache
164
165
Meninos de rua fazem a festa Autoridades dão vez à alegria ao entregar escola
N as solenidades tradicionais eles costumam ser escorraçados t0-
mo intrusos, indesejáveis, mas ontem as autoridades de paletó e gravata faziam questão de não empurrar, maltratar ou olhar esquisito para aqueles meninos, muitos deles descalços, sujos e com roupas rasgadas, que por todos os portões e até por alguns buracos na tela de arame invadiram o terreno da nova Escola TIa Ciata, na Av. Presidente Vargas. Afinal, a festa era deles.
Por issO, ninguém da banda da PM reclamou quando um aluno. sem maior cerimônia, pegou e tentou tocar um trompete, nem quando uma turma de adolescentes arrancou e estourou todas as bolas colo,ridas que ornamentavam o saguão. E assim que eles se expressam, como aprenderam, depois de muito tempo de convivência, as pedagogas que elaboraram o projeto desta escola diferente, para meninos de rua.
A inauguração da nova sede, com capacidade para 800 alunos, represen-
tou o reconhecimento oficial da importância e dos bons resultados de um projeto que começou quase marginal, como a própria vida dos alunos. A Fábrica de Escolas fez a obra, com Cz$ 200 milhões do BNDES. No palanque, o diretor da área social do banco. Carlos Lessa. e o prefeito Saturnino
Braga trocaram elogios e ressaltaram o valor da experiência. Depois, o prefei
to aproveitou e pediu votos para o seu candidato, Jó Resende. Mas a garotada se ligou mesmo foi na festa que se estendeu noite adentro, com grupos de capoeira, teatro, candomblé. filmes e pagode.
166
, ) GLOSO Ouarta-feira. R r.8 março de ~ 989
r' · 1~111CO
I
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- I\. cs:olmha dn Tin Ci"la r..1O r~z;] pcio n~cu ccr30: ":.cmissão
----------------~
MOVlr,mno NACIONAL DE MWINOS I AS DE RUA c. ü. C. 02.70J .B!!O/OOOS.I!Q
COM:SSÃO ESTADUAL ~J RUíI Anàr6 Canltanti. 23 - FAtima
20.231 - Rio de Janeiro - RJ . Fone! 232-3348 e 252-7292
167
o Pre .. :ito do ?io de .Janeiro - Yarcelo Alencar - está preste~ a conse-. . t t . d ~. 1 ~ ~.. c 1""'\01""'': ;"nn4 ~ I,.; ,... ,; gu:.r seu :n en o:::e es ~ru:r co:-:-p e ... arr:_:1,,':' <! _Xy_ ... .J._ •• ~ .... a pe ... agoó __ 2 ~e
a-:endir!". e:-:t~ a cr::'anças de. !"ua, ir:plantad? na rede o:icial do n:ll.'1ici':;:i::
.. ~ justific~t:va 2.t::-: . - -:;entada pelo Prefei to :- ·:>i a -cc:>rdenaçao cc pro~e·to e ele nao seref!'
t'".esr.:o paz:tido polí tico. Sob esra alegação, ele afastou a direção Cê e~
cela. !)as 600 crien;as e adoles~en,:es ~·.le :reC!uer.-:a7~ a escola, ape
::z s 80 continur.. E:1~:lanto i~3C! c3dá-Jere.!: de crianças, com claros si
nais de execução por profissionais, são encontrados a cada dia em todo ..... • T-.,.,"; r"II ..; -~-""'-~s ouJo. .. - - M • ... :\.1.0 ae .. ::.nt_r .... , .... r:..-:...t_ '- _"!"as :Jeso::.parect::': ser.; .... elxar ra.s \.·TOS e se::
que o Prefeito ou ~ pOlícia de~on3trer.: interesse o~ preocupaçao.
Infelizmente, ::. ligação e!1tre o extermínio de crianças, que são fcrça
àas a buscar sua socrevivência nas ruas e ·a in~íbia1ização de ur.a 9~C2 la cuja prcposta pedagógica é d!:.:--lhes ou~:-ê. possicilidade de vida, e
viàencia o papel que o poder público ·:e~ assumindo ~rente à sociedade'
crasi1eira, do que pcdo: admitir a prepctê!1cia ê.o Pre fei to J.:arc~ lo .A:e~
caro No Brasil, se[:1.!I1do dados' do próprio Gove:-:: ·.) Feêe:-al, 10 milh~s !
de cano~as em idad-e escolar estão excluidis ~ ('..lalo!!er rede de e.r.si
no. _ que impede que esses mer.inos e me: :'::2! sejar: ao !renos aJ.fabetiz~
dos, é a absoluta incapacidade àas polí·:.ieas oficiais de ed!lCação e r.
assumir urna pedaecgi2.. capaz ce estabe1ece:-, com eJ.es; 1l!!:2 relação de
confianç~, valorização, respeito E 1iberdaàe, que sirva c~o base para
sua integração na sociedade. Se o Estado não adota u=a'proposta ped2..~Q.
gica que responàa aos direitos, inclusive constitucionais, de nossas!
criançás socialmente marginaliza::ias, não é porqu~ desconheça sua real!
possibilida.de, mas 'po~que' e~se não é c ' interesse e preocupação das '?li
tes que sustent~ seu ?oder. O Estado. Prasileiro prefere pe~tir e a-
,cobertar o fato de que essas rr:e's:::as elites este~~ ~immci-anõo e arr.l~, , do grupos, de outros despossu1dos, animalizados, para exte~~nar essas
. crianças.
A certeza de impunídade de nossos Governa;.tes é taman~ que per!'!lite ao
Prefei to }~arce10 Alencar, quando quar;tionadó pela pop:ll'2ção de sua ~i
dade:, a que::! ~e-veria esta!' é:.te~:'o aos in:e:-esses.,jus:;ificar o ães~::õn
te1a~ento ca E S C O L A Tia ~iata, por si~p1es e pretensa divergên -
cia na escolha de agrer:iação partidária entre ele e a coordenação àa
Escola., A justifi~ativa é ainda mais incompreensível porque se sabe !
que Harcelo Alencar pertence a um partido, cuj o representan1:e t:lais no
táv~l, é candidato à Presidência d~ RepLlica, tendo como b~deira P!'~L
168
~~pél, a accção de una políti~2 oficial de to~es
, b ' - l' r-s Po'" l' -S" nao n"s --'u-"ra' ,.."::~ ~ - -- -.,..... ""'" ~..: ':::!'2::'1'1ç.2.3 . raSll.e a.. _ ::: .... , '" \';G.;::"" ". ___ ~::: ,· ·.::: •• _o, se o :-re"e.=
te d ~ P.io de .Janeiro ·.rier a público, dize:- q·.le não 2.;".l:-~ ~ extern:ínio e
desarare~i~ento de crianças no ~io, por elas nio pe:-:en~ere~ ao seu par-
t · ~ , ' ... 1. .. o pO-,-l vlCO.
o !: :;>-; :'mento 1:acional de ~/enir.os/as 1e ... ~.
(':>n~reta!!:~r::,~ propost~s alter~~t.i~."~s, -:.. er.: si :·:~~atic~~en~e de:1UDciajo E
s: tuação de aba::-::cno ~ ey.cl1..:s~o de r.:i: :-::;·es de C':o: ~::CêS e adc:. ~sc'2!1:e~ I . '1· . ..." . ~ ... Dr~~~ elros ~as po~_tlcas OL~C2alS
Nai& :l.'1'l3. vez alerta~os à sociedaje ae ~=~caçao - e so~iais ~ ~ ~ojo gera:. ~re;:::'J.ei.ra :::ara a necessija~o àe ~".~
girr.::')s que o Zstaào ctr.;Jra se'..: p'E)el :-:2 '~·.lSCê c": gêr~-:i.r os direi :.~S /
co::: ':i t".lcior:ais .de nessas cri~ças, sob pena àe ir.".-iatilizar:::cs. cor.:;:le--t3~er::.e, nosso futuro CO:i.C :1aç~o.
}·:o .... i:-:-:en to };aci onal de !·'er.:'r:os e l·~eninas de ?ua.
Pene::"!. to ~cd!'igues c~s <:"Er:tcs - Coo!'::enador ~;é
~ional
169
Tia. Ciata: a versão oficial I W9b&&
Secretária diz que iIiformação sobre verbas foi negada
A. se~r~~tárüi municipal de Educação. Mariléa Cruz, disse que um dos motivos do afastamento da professo: ra Lígia Costa Leite da direção da escola Tia Ciata, há três meses, foi o fato de ela se negar a dar informações sobre a orÍi::cm dos re<:ursos extras que fll1anciávam os trab"lbos experi· mentais com meninos de rua. Segunder Mariléa, ainda não se sabe de onde vinham essas verbas nos quatro anos em que a escola foi dirigida por LígiaCost3. Leite. "Quando assumi, pedi esclarecimentos sobre os recursos :-dio oficiais, mas Lígia se [ec ',ou ;:; faJ?r e ('.(lrrli"f0F FI ~froJ1ti1r a f 't:-• '" 1 • !.'3Jla ,:1.eg()lI.
A·! a1 dirftOft da escola, a ex-diretora adjunta Dahil Barbalho, afiro
iOU tam~m não saber de onde vihanl os reCIU$OS extra-oficiais,
porque os acordos eram feitos "diretamente com Lígia" e não havia qualquer documento. Mariléa Cruz disse ainda que a professora já havia pedido para voltar a trabalhar na Fundaç.ão Educar, órgão do governo federal, pelo qual tinha sido cedida, e atrapalhou-se na explicação: "Ela saiu porque quis e porque foi afastada".
Lígia Costa Leite informou que os re rsos foram conseguidos com emp;rios e empresas que se interessa~. ra peJo projeto de educação dos meninos de rua e daqueles que, mesmo morando com r:; famílias, fonu]) recusados em outras escolas públicas. ~jarantiu que todas as informações
[oram prestadas à mulher do prefeito Marcello Alencar, Célia, presidente da Obra Soci3! do município, <Jue recebeu inclusive a lista de todos os doa ores de verbas.
Mariléa disse que, ao sair da Tia Ciata, Lígia levou todo o material de pesquisa sobre os alunos, o que acarretou grandes dificuld,j(1:,; no tra ba-
lho da nova dire»ra. Acrescentou que apenas seis pr3fessores saíram ,e 60 c{)ntinuam traballando. Em materia publicada no.JOR~.ALr. DO BRASIL de terça-tira, LIgIa a1u:ma que, desde que saiu da escola, mUItos alunos voltaram pata a rua, mas Mariléa des: -:ente: "Nio controlamos a freqüência diária d~ ~lunos, mas \'e~ rificamos, pelas J'llltriculas, que ba 439 alunos, e a esCl'la nunca teve 600 como afirmou Lígia.'.'
O O prefeito MarceUo Aleacar nega, com wemência, que tc
nha declarado, M1 qU3lqJ1er momento a frase "tu sou prefeito e
.' '" n. t'. nG 1elO quem cu ,'uero ,que me 101 atribuida pele JORNAl., DO BRASIL O[l'~m, • respeito ;" derniss30 da j :lagoga Lígia Ccs!& Leite da i: l"c\:ãú da Escola Tia Ciata. "Eu UdO poderia fazer ('cU! declaração, Rté porque, na Prefrltura, as ilomear,óes raramente ~ã/) pessoais e si' fruto de cOI1Sl!ltas democri-,ticll!> mais ~. Jpl:ls".
• •• . . ' .. . .. f' • ~ •• ~ ~ ""
17 0
JORNAL-·,DO -BRASIL A 1989 1-----Jlib de Janeiro - - Terça-feira, Xl de junho de 1989 Ano XCIX - N° 80
. MenIDos de ma I~ 1.larg~ ~~I~ .~~ a Te Ciata ",'-, '1. ..-,',. e la ' I~ :: ~';",:
, .... .. - - ~~,. - .I ~ ' .. "-. !; ..... :.. . .. , ..... ~ : .,. !.~ ... , ~ ::, ~ . Em Um d~ seus mais criticados', atos . . ·':.l~administrãtivos; o prefeito"Marcello' ".~ Nencar demitiu a pedagqga ligia,Cos-" I " ,ti Leite da direção da Escola Tia' Ciata, I I. para meninos de rua: 'A explicação foi
, singela - "Eu nomeio quem eu quero" , -, mas o resultado, trágico: a . escola
entrou em colapso e das 600 crianças permaneceram apenas 80_ • '
O professor' ~ Ri~' iuru do PDT em educação, ficou perplexo com a medida. "São razões ineXplicáwis de po- '
, liticagcm pobre", definiu ele no prefacio do livro A.tirogiD dqf.,invencíVeis., em que
, 'Lígia expõe seu método .. De'um:téalico , " municipal em educação, da ouviu h~,
~ rizada-a explicação: "N"ao.WIDOS,.mais , -~ln\'eStium pivetes". (CidadI:\-~ 6)
Preço para o .Rio: NO.$. 0,70 I
,,"" •• -J~, .... , •• ;1 :,," .,.''r 4" <li!: '~""'''''~: :t ,.J ~--...I_ , _ _ ",~'+' . ( ,,\., : ' 1 ~"f' ... ::;.o';';.1Il ~ .. ~ -,~~ ' ,.." .' ' •• t#;'~
\ ~ • ' . ... r ~..' ~~ • 'I ~ ~. - ,,,' ~:... .' ...... ... , J:tJ~:
. . ... - . ~
A N E X O II
FALAS SOBRE A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA
1. FALAS DOS ALUNOS
"Em que. e..6ta. pe..6qu,i..6a. c.ontll.ibLÚU pa.ll.a. voc.e. ou. pa.
!ta. a. e..6c.ola.?".
A pergunta foi feita aos alunos em cada turma,
sem a presença das professoras. Respondiam aqueles que qu~
riam. Abaixo apresentamos a transcrição das respostas da
das.
ALEX SANDER
Foi que assim I assim nós fica sabendo algumas coisa a mais;
que a gen~e não sabia; pode aprender coisa que a gente ...
Com iSS3 aprendi ; assim / muitas coisas ; todo mundo fa
lando junto; cada um ... Cada um falando um pouco; dá
pra... Prá saber o que os outros fala; dã prã juntar tu
do.
ANSELMO
Eu achei que essa pesquisa teve um grande valor / teve e
ainda vai ter muito mais / agora a senhora deve tá queren
do que eu responda / certo? Por causa que as pouca ou as
muitas pergunta que a senhora fez a nós ; aqui na escola ;
na sala I aqui I certo? Foi uma coisa que às vez ; todo I
.....
172
Às vez alguma pessoa I conforme a maioria de todos os alu
nos aqui I pensa que isso é besteira I mas se estudar is
so I que eu sou um cara que não tenho leitura I mas eu pe~
so / eu tenho raciocínio I graças a Deus I Deus me ajudou
que eu penso I eu sei que isso vai ter um valor I ti? e que a senhora não vai ficar perdendo tempo de ficar I pô I
durante dois I três / seis meses I certo? Vem aqui conver
sar com a gente toda segunda feira I perguntar o que ti ha
vendo I porque que houve isso I e o que que se passa I o
que que deixa passar loque que ti I e o que bi-bi-bi,
certo? Foi bom a senhora perguntar I porque assim vai ter
um jeito I não só da senhora I não da senhora ter conheci
mento I certo? Mas como todos também I eu acho I vai ter
conhecimento I certo? E saber estudar mais um bocado o
que se passa na caoeça do menor I que seja de rua I ou que
nao sej a de rua.
MARCOS S.
Porque eu acho que quando você armou a sala de leitura I a
aula prá senhora I abriu um grande espaço I e aí I pri aí I voce sabia que a gente ia aprender alguma coisa na aula ~
a senhora deu ã gente.
JORGE P.
Eu espero que esse livro I né I saia bastante I fazendo su
cesso pGr aí / pelo mundo inteiro / sobre a Tia Ciata laíl
seja maneiro e todo mundo goste.
173
ADRIANO
Eu acho interessante 1 sabe porque? Que as pessoas que val
ouvir essa fita / que a senhora for amostrar aí / ela vai
ajudar a gente / vai ter mais cuidado com a gente / vai a
judar a gente melhor ainda / ng ] as professoras ou as pe!
soas aí J que eu curto muito.
JORGE A.
A pergunta que a senhora fez prá gente J essa todas pergu~
ta que a gente fez prá gente J foi até bom prá gente / que
assim abre mais a nossa mente / já nasce assim umas idgias
mil vezes melhores J n6s também vamos J a senhora fazendo
essas pergunta prá gente / a gente soletrando legal J nao
dá prá gente falar palavras errada J e a gente vamo fazen-
do mais uma atividade / todas né J que a senhora tiver
prá mim / fei ótimo J espero nao s6 prá mim J mas prâ to-
dos os alunos daqui né j ah / assim uma campanha legal que/
po J os menor / todo mundo considerou a senhora aí J morô/
os menor fica satisfeito J a senhora sempre foi legal com
a gente J o menor fica satisfeito a pampa / moro Jagora nWm
a senhora sair daqui 1 não vai ficar legal a escola J -nao
vai sair daqui j se a senhora sair daqui a escola não vai
ficar legal. .
(Você gostaria que muitas pessoas lêssem o que voces fala-
ram?).
Ah J prá ver Dê / os alô que esse colega aqui tem / né? Os
alunos também gosta J entendeu? E aí / todo mundo / pô /
174
se ler / eu acho que / p6 / nossas id6ias aqui / que a ge~
te temo aqui / n6s tudo aqui J eu acho que as id6ia maravi
lhosa n6 / e se todo mundo comprar e ler / todo mundo / tem
certeza que vai gostar / vai ser um negócio / vai fazer su
cesso no mundo inteiro / e aí I todo mundo vai perceber que
os menor tem futuro / morô / porque não é isso que eles IJ€!!.
sa / que 6 um troço totalmente diferente.
CARLOS
Da pesquisa / eu achei legal I porque a gente tem que fa
lar o que a gente sente loque a gente v~ loque a gente
fala / então a gente tem que falar tudo que a gente fala /
que a gente v~ / que o que as pessoa fala a gente tem medo
de falar / então por isso que eu achei legal / a gente tem
que botar tudo bonitinho I se algumas pessoa for escutar
essa grava ... Escutar essa fita / vai ver que isso aí tu
do 6 verdade / que a gente vimo ... Que a gente vimo / que
a gente e que as pessoa fala.
2. FALAS DOS PROFESSORES
As perguntas foram feitas is professoras indivi
dualmente. Como foram virias as intervenções do pesquisa
dor, renroduzimos as transcrições com as perguntas e as
respostas.
PROFESSORA L.
(E quanto a essa pesquisa / o que voce imaginou que fosse
essa pesquisa?).
Eu não sei / sabe / porque depois que saiu / eu posso fa
lar/ Depois que saiu no jornal aquela frase que estava de~
tro de uma sala / eu achei mais que voces tavam pes ... Eu
na minha opinião / eu pensei / pôxa / ela entrava na nossa
sala pri fazer a pesquisa J a gente acolhia tão legal e de
repente ela tava pesquisando era pri botar / uma coisa que
sempre foi feita J sempre nos ensinaram que tinha que par
tir com o aluno de uma frase que surgisse dele.
(E aquela surgiu deles?).
Surge J porque de repente / por exemplo / eu nao / na ml
nha sala não tava J mas esse neg6cio de vala / outro dia
na minha sala surgiu urna frase assim j ê / o garoto disse
assim / você não gosta de morro / jogar bola no morro / aí
ele botou j ele chegou e disse assim / que a patota jogava
hola no morro / aí eu disse qual morro / aí botou o Morro
do Pinto / aí depois eu disse / mas n6s távamos no fonema
ge nê / então eu queria outra coisa / eu disse vamos tro
car patota porque vamos botar outra coisa no lugar de pat~
176
ta / ar ele disse aSSlm / a galera professora / entendeu?
Então n6s tamos trahalhando com essa frase / a galera joga
bola / ar eu digo / eu não quero no Morro do Pinto /
eles botaram / na Praia do Flamengo / não sei o que
surgiu.
(Você nao acna que voce está querendo por eles?) .
Não / eles é que querem.
(Você não percebe que você mudou a frase toda?).
então
Eu mudei a frase no sentido de puxar por eles / porque e-
les ...
(Mudou a frase / voce nao respeitou a frase que o menino
fez) .
Não / mas n6s trabalhamos com a frase deles.
(Você pediu prá mudar patota / pediu prá mudar o morro).
Não sabe porque?
(Ar voce mudou a frase).
Mudou não j mas sahe porque? Prá trabalhar / porque eu
disse assim / aí eu fui perguntar a ele / patota é a mesma
coisa que galera / que significa galera? E só se pode j~
gar hola no Morro do Pinto? Entendeu? Não foi assim / eu
quero / foi assim ...
(Discutido).
Um trabalho discutido / eles / nao professora tem Praia do
Flamengo / tem isso / que é prá dar oportunidade a todos /
nio foi assim / porque senio fica assim / a frase sem tra-
177
balnar / nao tinha sentido.
(Hi alguma contrihuiçio pr~ escola / essa pesquisa? Além
da reportagem do jornal?).
Até certo ponto j não sei se voce estiverem a fim mesmo de
perseverança naquilo que vocês pretendem realizar / aquele
objetivo de vocês I vocês ainda tão seguras que ainda po
dem voltarem a assumir / que pode contribuir ou fora ou a
qui dentro / até certo ponto é vilido / porque é através
de pesquisa que vocês vai surgir alguma coisa / pri voces
bolar um projeto em cima / pri vocês ver se tem alguma fa
lha / pri vocês verem até que ponto esti sendo vilido aqu~
le projeto.
PROFESSORA AP.
(prâ você qual foi a finalidade dessa pesquisa?).
Você ti fazendo uma tese / VQcê foi uma das pessoas que bo
lou essa escola / eu acho que você ta fazendo uma coisa p~
recida mas tentanto aprimorar I você ta querendo levar o
que você ti fazendo / é / querendo levar isso que voce con
tribuiu pra fazer aqui / talvez em outros casos /
uma coisa mais pensada / você tã elaborando o que
talvez
0-J a ... A
semente da idéia que ji tinha na caheça / não é isso? Mas
- - o ? nao e 1550 o.
(~) .
Bom eu pensei que fosse isso.
(Mas é isso / trouxe contribuição pro teu trabalho?).
178
Pro meu trabalho? Eu acho / olha / porque foi tão / assim)
as entrevistas foram tio / dias J tão / por exemplo na ~a~
ta feira outra na J eu acho que foi pouco tempo ti / .A
pra
poder encaixar isso dentro do trabalho / mas a coisa / es-
se gravador gerou uma coisa incr!vel aqui dentro / gerou !
quela câmara de filmar com a gravação e com as entrevis-
tas / foi a partir desse gravador / passaram a filmar e a
gravar na cabeça deles tudo que tinha aqui / entrevistouvo
ce tamhEm e isso foi levado pri dentro da sala / porque tu
do / qualquer coisa que eles soltem assim no ar / eu t6 se
gurando } E levado atE pri trabalhar em sala / com esse ne
gócio da entrevista J da gravação / da filmagem / essa coi
sa da vida deles que foi levantada assim / em entrevista / .A
nos chegamos a discutir esse assunto depois melhor / o que
é j como é ] como comparar o que você falou / o que voce
disse / ah J mas ele disse o que que tem aquilo que eu fa
lei de cada um tem o seu problema né / e a sua história/ e
quando chegou naquele momento que o Roberto falou / e por
isso a minha mãe enche a cara de cachaça e a minha vó man
dou ela embora e agora eu tô sem mãe) e aí a gente foi co!!!.
parar tudo né j um com o outro j e eles chegaram a conclu
são de que no fim de tudo eles sao... Eles tem alguma coisa
em comum né / eu acho que serviu mais pri unir / porque C!
da um / eles entendem que cada um tem uma catistrofe na sm
vida / eu penso assim / eu acho assim / que cada um / eles
tem a consciência disso j eles tratam aquilo como uma ca
tistrofe / mas quando eles percebem que não são só eles j
acho que isso diminui / alivia um pouco / tem muita dor nis
179
so.
(Voce acha que teve alguma contribuição prã eles? Eu acho
até que voce tg dizendo que isso é uma contribuição prá e
les / mais alguma outra J mais efetiva?).
Eu achei que foi muito curto o tempo para surtir assim /
prã gente sentir.
(A tua turma é uma das turmas J é J onde os alunos nao fal
taram) .
Eu achei que foi curto o tempo prá sentir um resultado /atê
ter / ser mais trabalhado / olha só / nós duas mesmo foi
uma vez só / então não deu assim tempo.
(Voce acha que pode haver alguma contribuição prá escola?).
Sim / porque pelo que eu entendi né J voce tinha me pergu~
tado o que que voce entendeu da pesquisa que eu ta fazendo
na esc.ola / ela ê uma pesquisa nê / e pesquisa como pesqui
sa / a escola precisa nê / da continuidade da sua pesquIsa
nê / só que voce também fez uma pesquisa paralela nê / eu
acho I enriquece ..• Enriquece na troca / por exemplo / se
o que eu penso se o que eu pensei e voce disse que ê nê /
é mesmo / se a tua tese está voltada prá / tipo / a semen
te surgiu / vamos supor / do projeto / e voce tá levando /
tá aprimorando J tá buscando outros caminhos / está / eu
acho que valia a pena ser discutido junto aqui com a esco
la.
(Mas tem os problemas políticos né I mas a minha intenção
era fazer).
180
Eu sou uma pessoa que detesta polrtica / eu acho que acima
da política tem uma pá de cabeça correndo nesse pátio / ca
beça que pensa tá? E tem uma pá de cabeça que trabalha /
que raciocina e que tá lá lidando com essas cabeças que tá
sofrendo com essa coisa da política.
PROFESSORA C.
(Como é que você percebeu a final idade da minha pesquisa?).
A finalidade da sua ... Olha / não sei se é da sua pesqui
sa J mas acho que pesquisa de modo geral é um negócio que
me preocupa muito / eu acho que nós tamos num país muito
de pesquisa / todos pesquisam J todos sabem o assunto e
pouco se faz prá resolver alguma coisa / também eu não te
nho a fórmula mágica não / prá resolver o que que resolve
ria? Não sei.
(Eu particularmente / fiz pouco?).
Eu não acho que fez pouco / eu acho que foi... Eu acho qlE
é pouca coisa pro que eles tem de conteúdo / eu acho que
uma hora por dia / você não pesquisou nada / eu acho que
você tirou relatos de alguns momentos da vida desses meni
nos / mas voce nao viveu o dia a dia deles / não teve a c~
plicidade que eu acho que um trabalho de pesquisa / prá um
solução / deve ter / é não sei qual era o seu objetivo qum
do voce iniciou né / voce até explicou que era prá uma ...
Um trabalho que voce tava fazendo e tal/mas eu não sei o
resultado final/que objetivo J qual é o objetivo desse fi
nal / é fazer um livro / é ir prá associação de moradores/
181
6 sentar com o governador / ~ ir ao Sarney / qual 6 esse
ohjetivo / ê trazer tecnocratas de fora prá atuar aqui den
tro / qual 6. esse objetivo / isso não ficou claro / qual 6
a função disso / não ficou claro / e pesquisa por isso s6/
só por isso / eu acno que a sua deve ter bastado prá você/
enquanto o que você queria saoer / mas prá ajudá-los / efe
tivamente eu acho que não.
(Você acha que inclusive prá escola nao haveria um retor-
no?).
Não se nôs nao tivermos uma solução.
(E o que que vocE imagina ser essa solução?) .
Eu acho ...
um trabalho de conscientização mesmo / que. e para-
da / de retorno mesmo I ...
de chegar aos .. -mesmo e orgaos compe
tentes I das pessoas competentes e dizer / olha / a nossa
escola I ela não precisa só de um / ela não precisa ...
de so
x professores e de uma sala disso / precisa de um psic610-
go sim e n6s s6 trabalhamos li enquanto ele tiver li / pr~
cis-a tã lã uma pessoa dessas I eu me sinto incompetente em
várias situações I eu preciso de a1gu€m atuando / porque
preciso mesmo / quantas e quantas vezes voce ve professora
sair da sala chorando porque ela não aguenta apressa0 / a
carga emocional é muito grande I então precisa disso / de
uma assistência I é bobagem a gente ter ilusão que a gente
pode trabalhar com a psicologia que tivemos no curso nor
mal de três anos com esse tipo de aluno / fomos preparados
pri olhos azuis j cabelos louros e perfume francês / quer
dizer / eu acho que a nossa realidade de estudo não atende
182
a realidade de trabalho / por mais que a gente tenha feito
leitura de projeto] por mais que esteja lendo esse proje-
to mais uma vez J nós- vamos ler dez vezes esse projeto /
vinte / trinta / quarenta vezes I mas acho que existe .,
a1
uma necessidade de apoio emocional/porque nessa hora -e
que voce precisa alguém prã segurar sua peteca né / nessa
hora não adianta amiga dizer J é J - assim / mi a e mesmo na
nha sala também acontece / - isso / precisa de nao e voce um
profissional competente que te ajude a segurar a sua estru
emocional J afinal de contas - - de ferro ...
/ tura voce nao e ne
sahe J são pessoas trahalJiando com pessoas e eu acho que
isso é um pouco caso J eu acho que tem a idéia de que o
professor é capaz de tudo e não é não J e a gente quando
vem trabalhar numa escola que atende esses meninos / a gen
te vê que nós não somos capazes de quase nada J muito pou
co / o que a gente tem sim é uma força de vontade do cace-
" te J que você tira / toma valium / toma vagostesil / enten
deu? Prá você relaxar e conseguir dormir e conseguir fi
car tranquila / quantas e quantas vezes você toma J é / f~
um trabalho fora / faz um trahalho fora / é o trabalho que
vai te segurar / entepdeu? Quando o garoto diz prá você e
aí se eu não bater J se eu não fizer / nao ganho J tu diz
.. ] '7 o que pra ee. Vai morar lá em casa? Não dá / entendeu?
Você não tem como / você dizer isso J porque isso não vai
funcionar / eu acho que a escola só pode funcionar com es
ses e esses profissionais J dessa e dessa maneira / sabe
a questão da oficina de trabalho / eu acho que é algo que
a gente tem que botar / eles precisam de emprego sim / a
183
gente nâo pode tapar o sol com a peneira / de que eles não
precisam de emprego nio / o que esse paIs mais precisa .. e
de emprego e a ge.nte finge que emprego é lazer J que ofici
na de trahalho vira lazer I a gente tem que buscar maneira
de arranjar / formar / de empregar essas pessoas sim / por
que vai você ter pedagogia sem emprego J como é que voce
sustenta sua cas·a? Como é que voce compra o remédio / não
tem / nâo existe isso / eu acho que é utópico a gente pen
sar que vamos colocar uma oficina / pegar o excesso de pa
pel pri trabalhar em grifica e etc ... Se você não vai as
grificas buscar estigios / possibilidades de absorção des
sas pessoas / desses alunos / e serve de estímulo sim / se
é por aí que a gente vai começar / não importa / eu acho
que a gente tem que começar / porque no momento que ele ti
contato o outro ..
empregado / que vem de outro ver com que e
meio / ele vai buscar a escola J é cíclico / o emprego ge-
ra a vontade de subir / a vontade de ter e .,
busca a a1 voce
escola e a escola te di mais potencial pri você ir li /
porque foi assim com a gente j você entra no curso e voce
vê que a pessoa que fez pós conseguir um emprego melhor /0
que que você faz? Voc~ volta i escola pri fazer pós / e
aquele que conseguiu mestrado ti num emprego melhor finan
ceiramente sim / com menos horário de trabalho também / por
que / não porque a gente vai fingir que não / que a gente
quer trabalhar menos / todo mundo quer trabalhar menos /
quer ter um salário decente J sabe j eu acho que a gente
tem que parar com essa mentira de que a gente quer traba-
lhar muito e ganhar pouco e feliz da vida / tem que pensar
184
essa coisa que eu acho muito mesquinha I sabe I da gente
achar que nao ; J e eu acHo que eles precisam tamhEm do em
prego I que a escola tem que ser geradora de emprego / .-e
esse tipo de escola que eu acho I da forma que é feito / se
tâ certo ou se tâ errado / aí é um outro ponto prá gente
questionar I mas que eu acno que ele tem que ter emprego
tem sim / eu acho que ê fundamental prá ele.
PROFESSORA V.
(Como voc~ percebeu a finalidade dessa pesquisa?).
O que eu percehi dessa pesquisa J parecia que tinha alguma
coisa a ver com J é J essa questão da criança que ficar so~
ta no mundo e de repente parar num aparelho repressor / que
no caso as duas vezes que eu assisti a pesquisa / tinha a
ver com internato, Funahem J acho que eu fiquei duas vezes
na sala I com essas coisas assim J então o que eu achei e-
ra isso J que tava se tentando ver que tipo de modificação
ou que tipo de coisas aconteceu com crianças que passaram
por esses mecanismos de pressão J que tem aí nê / que agem
sobre a criança / o menor.
(Voc~ acha que houve contribuição para os alunos da pesqui
sa?) .
Eu acho que eles puderam falar sobre isso nê I aqueles que
já passaram por esses mecanismos de repressão / puderam f~
lar sobre isso e também ficaram muito interessados a par-
tir de agora em falar em gravador.
185
PROFESSORA S.
(Como € que voc~ percebeu essa pesquisa?).
O trabalho todo?
(Esse trabalho todo 1.
Fiquei assim meio sem saber porque I sem saber o objetivai
entendeu? A gente ia I assistia I ouvia os relatos deles
né I a inibição pra falar J é J muitos talvez até gosta
riam de ter falado mais e não falaram I o Marcelo J o An
dré / por exemplo J queria ter dito tanta coisa e a inibi
çao nao deixou né J que ele tem muita coisa pra contar I
mas ele preferia escutar I agora eu senti como algo que a
própria turma passou J que pena que isso acabou / quando
que vai ter aquela aula daquela professora Simone? Que e
les chamam de Simone e a mim de Monica I ele as vezes con
fundem quarta-feira I pôxa I agora só quarta-feira I que
na quarta-feira anterior voc~ I você disse pra eles que ha
via terminado I foi assim J eu tive que parar dez minutosl
quinze I pra poder dizer I terminou dessa vez / quem sabe
numa próxima oportunidade eles I não ela vira prá fazer um
novo trabalho ou até ~esmo pra sentar com voc~s pra alguma
conversa / prâ voc~s contarem e pra ouvirem também o que e
las t~m prâ dizer.
(Voc~ acha que houve contribuição prâ voce ou prã eles den
tro desse processo· ar J durante a pesquisa?).
Em que sentido?
(Em algum sentido I qualquer sentido J voce acha que con-
186
tribuiu prâ voce no te.u trabalho e pra eles de alguma for-
ma?).
Não que nao tenha contribufdo I porque quem chega na sala
com voc~ prâ fazer o trabalho e falava na sua sala enquan
to a gente ficava lã ; falavam I contavam I desabafavam /
chegava ali jogavam tudo; são os mesmos que fazem na sa
la ; então assim né / nesse caso ; o Marcelo nao fala nem
com voce e nem comigo também nunca falou num ... Lá ele
conseguiu ainda né colocar prã fora e os outros que conta
vam em sala / então não vou te dizer que melhorou / agora
eles falam mais ; eles se abrem mais / eles se expoe mais/
nao / ficava assim Jum momento bom prá eles / é uma das ...
Prâ eles como aula extra nê ; que eles não entendem muito
uma pesquisa / um livro / ficava algo como algo gostoso /
um momento legal deles participarem / de querer estarem lW
as vezes ; nem sempre eles estão dispostos a fazer educa-
ffsica / não hoje / ...
/ çao eu nao vou eu vou pra casa essa
aula não ; talvez logo 4'
J - sei J por ser no inlcio nao mas
era algo bom prá eles né j eles sentiam prazer em estar.
(Voc~ vê alguma possibilidade de retorno pro trabalho da es
cola com essa pesquisa?).
Isso .. e ••• Eu acho que isso af ê a base da pedagogia tal-
vez assim da escola / trabalhar em cima do que eles falam/
do que eles dizem J tanto é que quando a gente vai fazer
algum texto com a turma ou quando a gente junta as turmas;
parte ê deles / é até prâ mim é meio diffcil esse trabalho
ali / porque às vezes fala de peixe e eu não vou começar~
187
lo x mas ~ pelo x mesmo / nio tem outro jeito / eu prefe
ria que fosse de safado como saiu da polícia civil/que é
muito mais facil / mas se ~ pelo x / vamos la / no . ,. . 1n1C10
me assustava / hoje não me assusta mais.
(E você ta encaminhando com o x mesmo?).
Se pintar um x ou algo em inglês que tenha letra que nao
tem no nosso alfabeto / a gente vai tentar dali pra alguma
coisa / o que eu trabalho não tem uma diretriz certa / pra
te dizer / mas eu tenho certeza que na hora a intuição /
naosei / eu não vou tamh~m / não ~ me elogiar mas eu te
nho muito boa vontade / eu sinto que eu tenho a cada dia
que passa eu fico / eu deito / eu penso / poxa / posso fa-
zer isso / de repente as coisas surgem na hora que eu nao
tô pensando em Tia Ciata / as coisas acontecem e chega a-
qui e eu tenho a volta daquilo como algo positivo.
(Mas você fez uma opção nisso aí / você fez a opçao de pr!.
vilegiar o conteGdo pela forma / quer dizer / pelas letras
e tal/você ja tem essa opçao consciente na sua cabeça /
quer dizer / pintou o peixe / pintou o x / você vai traba-
lhar o x mesmo porque peixe é o conteúdo que você viu im-
portante pra eles).
Eu acho que eu tenho porque as coisas dão certo / elas tão
fluindo / talvez se eu tivesse at~ partido pra palavra mais
facil que nao tem muito a ver com o texto em si / eu ia fa
zer aquilo de uma maneira que não ia / eu nao ia talvez eu
nao tivesse volta / aquela coisa mecânica nao / ela passou
no quadro / ela deu uma folhinha / tem que ser isso e eles
188
criticam quando tem que criticar e eu acho isso bom / qua~
do eu falho / deles apontarem o defeito de eu de repente /
pô / eu não quero folhinha desse mimeógrafo / eles não fa
lam / nesse escrito aqui / eu quero dever de quadro / que
ro copiar de quadro / então as vezes a gente muda.
(Essa coisa da cópia / eles começaram a escrever
frases lá e eu tentei traoalhar a importância da
algumas
escrita
que eles fazem / houve alguma mudança nesse sentido na sa
la de aula deles ... ).
Não / eu sinto a turma assim bastante criativa prá frase /
prá texto / eles não ficam pensando no que vão falar / e
les tem uma história prá contar / tem que pensar / então a
conteceu mesmo / ele não tá vagando / imaginando o que vai
dizer né / e as frases acontecem às vezes naturalmente /
dali eu já parti prá ponto de interrogação / ponto de ex
clamação né / o que veio também bater com sala de leitura/
de repente começou a trabalhar isso e a gente viu que hou
ve né uma certa coincidência / sem a gente combinar nada /
então ...
(Você então / é uma opçao consciente você trabalhar com o
conteúdo você amarrou essa e daqui prá frente é ... ).
Eu posso até amanhã ver que nao é isso e voltar atrás e mu
dar / isso nao é nenhuma proposta definida num semestre in
teiro / prá um mês inteiro / pro ano talvez / não tem / por
que isso acontece no dia a dia / é que nem planejamento /
eu não gosto de fazer planejamento / acho até que eu nao
sei / porque eu tô escrevendo ali / até pode acontecer /
189
mas eu sou do contra I eu vou querer mudar aquilo de algu-
ma maneira I que eu tô fazendo a coisa em cima do que tal-
escola - pedir - ta? Pra - poder se vez a va e nao e o caso voce
guiar fica mais facil I nao nego que fica I mas eu prefiro
fazer depois que acontece I justamente pra eu fazer o in
verso né I planejamento é algo com muito ... Por mais que
voce fale que ele é flexivel e é I nem sempre ele é / _voc~
pode ter um caderno lindinho I numas folhas que eu nem te
nho caderno I eu escrevo em folhas pra que eu me guiei não
pra mostrar aquilo pra alguém I até comento.
PROFESSORA J.
(E como é que voc~ viu a finalidade dessa pesquisa?).
Bom I eu acho que questão de pesquisar I de ver até a que~
tão do aluno mesmo I em relação i aprendizagem I ao ensi
no I aprendizagem de repente de procurar ir mais a fundo /
entendeu? Tentar descobrir as dificuldades dele loque
de repente pode levar ou não a I compreensível I de comporta
mento I eu acho que é uma coisa que é importante ta? E de
repente voce vai acabar até constatando o que a gente até
ja sabe.
(E voce acha que ela contribuiu de alguma forma pro teu na
balho? Ou não?).
Eu acho que ela veio constatar realmente o que ta aconte-
cendo entendeu? As dificuldades I a questão deles levarem
o que passa na vida deles pra dentro da sala de aula I to-
da essa questão I eu acho uma coisa I que a gente de repe~
190
te já sabia entendeu? Uma coisa que tem que ser explorada
até.
(E você acha que houve alguma contribuição pros alunos? A
cha que serviu prâ eles de alguma coisa?).
Isso aí eu nao sei / é difícil até falar prá eles / e até
a questão da pesquisa prá eles· também / eles / eu acho que
não tem tanto interesse / eles não sabem a importânciá en-
tendeu? Então acho que até o lance / por exemplo do grav~
dor / de ser gravado / coisa assim / eu acho que é uma coi
sa mais excitante prá eles / depois eles poderem ouvir o ~
que eles falaram / tudo isso eu acho que e mais excitante
do que a própria pesquisa / porque eu acho que eles não tem
ainda senso crítico / num sabe ainda o que que é / qual a
finalidade nem nada.
(E se não houve nenhuma contribuição você acha que essa pe~
quisa pode trazer contribuição / alguma contribuição para
o teu trabalho / o trabalho de outra escola?).
Bom / eu acho que / acho que toda pesquisa tem uma finali
dade de acrescentar alguma coisa / alguma coisa que já es
teja aí que / ou você, constatar aquilo ou então voce ampli
ar aquele campo entendeu? Então eu acho que sempre traz
alguma contribuição.
A N E X O 111
FICHAS DE ROTEIRO E REGISTRO
PROFESSORA: COORDE~ADORA: ----------------- -----------------
PROFESSORA DA S.L.: DATA:
1. PLANO:
2. COMPARECERAM OS ALUNOS:
3. AVALIAÇAO SUSCINTA DA ATIVIDADE:
Foi cumprido o planejamento?
Interesse da turma:
Os alunos gostaram?
Outros comentários:
4. ASPECTOS GERAIS:
- Ternas/assuntos trazidos pel~ turma:
192
- Brincadeiras/implicâncias entre eles?
- A turma forma um grupo? (solidariedade, amizade, com
petição) .
- Existe liderança? Quem é? Que características possui?
(em que se baseia a liderança)
- Comentários sobre a sala de leitura.
- Comentários sobre a sala de aula.
- Comentarios sobre outras atividades da Escola.
- Outros comentários:
- Está havendo continuidade nos trabalhos da sala de lei
tura? Os alunos percebem?
- Atitudes dos alunos fren~e as atividades propostas:
Ca) Homogeneidade de atitudes? O sim O não
Porque não? Desnível de: conteúdo O idade O diferentes interesses O
Se outra razao, especificar:
Que proporção?
(b) Passividade:
Que proporção?
Cc) Descrédito? Em que? Em.si mesmo O na escola O no professor Ona sociedade O outros O
193
(d) Comportamento agitado? --------------------------------Que proporção?
(e) Dispersão? prováveis razoes:
(f) Prazer:
- Preconceitos identificados:
entre os alunos:
dos alunos para outras situações:
- Palavras utilizadas com significado diferente do u
sual (glossário)
S. IMAGENS:
- Relações de ASSOCIAÇÃO e/ou OPOSIÇÃO estabelecidas pe
los alunos nos seguintes temas:
Escola
Trabalho-Salário-Patrão-Autônomo-Dinheiro-Sobrevivência
Liberdade
Felicidade
Governos/Poder
Polícia
Favela
Meninos de Rua
Vida
Namoro/Sexualidade
Lazer
Violência
Habitat
Saúde
- Metáforas utilizadas:
Possível associação:
- Gírias utilizadas:
Sentido identificado possível
6. CONTEODOS TRABALHADOS:
Existe desnível quanto a estes conteúdos?
Em que proporção?
7. CONTEODOS TRAZIDOS:
- Referências dos alunos para:
194
195
Tempo
Localização esnacial
Locomoção
Estruturas operatórias
Simbologia
- Mecanismos de anilise
(Explicitar se os alunos se dão conta e/ou s6 usam e/
ou aplicam).
Causa/conseqüência
Associaçã%posição
Condicional/hipóteses
Generalização/indução
Outros
8. QUE ELEMENTOS/PARÂMETROS USAM PARA ESTABELECER: (VALO
RES)
Causa/conseqüência
Associações/o~osições
196
Símbolos/metáforas
ANEXO IV
FICHAS DE PERFIL DAS TURMAS PERF1~ DA TURMA
PROFESSORA: -looiG;..Je..'I..JYCÀ.~I ____ COORD: DATA: L.Ll~~;":'::::::';
1 - DADOS I?ESSOAIS DOS ALUMOS - TO'-AL : 69
IDADES
maJ,s t-......... H--rr--rr· r;-r oeZl !' ,I ., I
-ri -- ~ .. --------~ ; I . I , I
.+---'-'~--Ih~----~'~i--- I I ~ I "
PROCeD~CIA
10 15"~
lONA RUMLrn
ZONA UR5ANA~
I.I'l'ORAL [[I] ItfIERIORW]
OUTROS DADOS
NORA, VIVE:
com os pai t; 1~91 um o.. ~~ ;ai cOm õ1qúém da fal1li~' u rn com outra ramil\~ com outros meninos I'\~ rua) rn com outTO:S aàu.\tos [5J :lO' fi
T ra.bal ham 7 Não. ma~ já trabalhou?
PERHL DA TURMA
PROFESSORA: ~A~P.:... _~M.....;A.;.;.rJ.....;H..;.;A:....-__ COORD: MO";CA<
1 - DADOS PESSOAIS DOS ALUNOS Toí"AL: f 5'
IDADES
rr~r-lr-r -r r" '-~f I I' I' • I ! I 1
T-I~ ~ ---l I I ;-,1" L.~
PROCeD~CIA
! !
I I
10 15"
"ZONA RURAL I]J ZONA URI3A.NA[IT]
LITORAL üI] INTERIORG]
OUTROS DADOS
NORA, VIVE: ~
~O1l1 os pai c; m <.0",", I>,. rn~ rID cOm õ1'lvém da. !al'llil i Q m com ovtra ramiH~1xl com outros meninosTn::t rv.~) [[] com ou tTO~ adultos m
198
2 - DADO~ ~º_eR~~f\_~SCºLA~I1>r},_I)_E:_-r __ -r ___ "-__ -r-__ -..r--__ -r-_ ..... 1 10a
Há quanto tempo estuda ? ~~ __ ~ __ ~~~~~ __ ~~~~~ __ ~~~,-~ __ ~)<~~
Até q\Je série? Q\lds 64lri.es repetiu? 1!'s
~--~--~~~~~~--~--~~~ Aprendeu a ler na escola? Sim ------------------------------~ '----------
:3 - DADOS SOBRE: O lAAMLHO Não, ma~ já trabalhou ? Si~ Hão 3 Tra.balham 7 Si.m
PERFIL DA tURMA
199
DATA: Aby"/~io/g(j r I
1 _ DADOS PESSOAIS DOS ALUNOS - TOTAL.; i 3
2
IDADES
5 10
'ZONA RURAL m ZONA \JRl3ANA~
LI'l'ORAL [IQ} nnER10RW
",-
OUTROS DADOS
"'ORA, VIVE: . com os pai li [!Q] (..OI'T'I t> ..... ~ [Q cOm õlqvém da fall1il i ~ ~ com outra ramilt~ r11 com ov tioS meni.nosTna ru~J rn com OutTO~ adu.ltos ~
Há quanto tempo estuda ? ~~L-~ __ ~ __ ~~~ __ ~~~~~ __ ~~~~~ __ ~~~
Até que série .., Quais sQries repeti\J ?
Aprendeu a ler na escola
3 - DADOS SOBRE: O 'IAAM.::.LH~O:-...,.-_-.-______________ .--_-..,""","'--l.
Tnbalham 7 Sim .3 ~ão. ma!t já traba.lhou 7 Sim X liãol~ol
200
PERFIL DA TURMA
PROFESSORAS: s. , 1.. c. 3. ~f COORD: 1íQ.t\~ DATA: Abril /MQ.io/M .. ~=~r......;..:...;;;.;...;;;::;.:..-__ r '
1 _ DADOS PESSOAIS OOS ALUNOS - To r'\ L- : ~ b
PROC EDItNCIA
i I
10 15'
ZONA RURALm
ZONA URUNAW]
LITORAL m nnERIORÚ]
OUTROS DADOS
NORA, VIVE: -
com os pai .. 0 (..o"""" mDt. ([J cOm al'j\lém da farqi~· a 1]2] COm outra ramill~ com ov tros meninos no:!. ru.,;}) 00 com outro:s a.dultos m
Há quanto tempo estuda ? ~~~~--~~~~~~~~~~~-T~~-r~--~~~ Até que série "!
Q\lais sQries repetiu ?1~s ~ __ ~~~~~ __ ~~_~~~ __ -L __ ~
Apl'endeu a ler na eseola ? ------.-. - --------------------1
3 - DADOS SOBRE: O 'IAAMLHO
Não, ma~ já trabalhou?
al.LIOT ••• ~ amLlo VMUa
PERFIL DA TURMA
PRO ressoRAfI :-=C:::.' ... .(,,=-...:S~. _..:.rJ:..:,,:..:i"-!'T'..!'=-- COORD: ..!.M~o.!.:n!..!.;.::c:..:!::c...::.-. ___ _
1 - DMJOS PESSOAIS DOS ALUNOS - '"''TAL: ,J. 5
IDADES
ma.is+-!"""'P .......... -r-r-r"-' ,-.-.. oeZl ; i ,I !
...-. --------._I
.i--...... H-~----r~ I
PRoceomCIA
j I
'ZONA RURAL[BJ
ZONA \JReANAm:J
LITORAL [!!J lHTERIORm
OUTROS DADOS
NORA, VIVE:
com 05 pai c,; 1!!1 (.,.Om c>. rn;'c- 1ll cOm õi qvél1' da fal1li~' M C2J com ovtra ramili~ '7< cem outros meninos "" ru~) m com outTO~ adultos m 50' m
201
Há quanto tempo estuda ? ~~~~--~--~~~--~~=--r-~--~'~~~~--~~~ Até qve série '!
QvaÍ-S séries repetiu?
Apl'end~'l a let' 11a eseola ?
'3 - DADOS '30lmE: O TMMLHO
1rólbalham? Sim ~4 INão I ma:r já trabalhou? Si.m GiJ Hão I 9 I
A' N E .x O V
FALAS DE ALUNOS E PROFESSORES ~E EXPLICITAM SUAS RELAÇOES
1. FALAS DOS ALUNOS
Debate na turma da Professora J.
AMAURI
A gente tá conversando um papo sério / as vez violência na
área / a gente somo da área / conversando o que tá aconte
cendo / aí vem a professora / prá sala / não sei o quê J não
sabem nem ... ~ I nãosahe nem qual é o assunto que a gen
te tá trocando e já tá mandando prá sala / não / prá elas
não interessa.
ANSELMO
Prá elas não interessa / pior que é.
ALEX SANDER
Interessa prá gente I que elas mora longe I nao tem perigo
de morar em beira de morro J agora quem ...
AMAURI
Elas prâ gente / a bem dizer I elas mora bem J uma mora no
prédio / é só pegar carro / ainda tem uns / tem carro aí.
ALEX SANDER
Monza / Escort / e a gente de carrinho de mao.
ANSELMO
prá gente é trem / quando não é o trem e o ônibus I dar ca
203
... lote / que nao e todo dia que todo mundo aquI tem dinhei-
ro / aluno então J não é todo dia que tem dinheiro prá pa
gar passagem J ele se arrisca muito no calote J quando no
calote pode dar o azar de encontrar no meio da rua uma blitz/
a polícia entrar dentro do cambu ... Dentro do ônibus / ca
dê o documento / as vez o menor nao tem / tá sem documen-
to / e por aí já vem o agitamento nervoso dele / certo? E
les as vezes é um garoto que não é de aguentar desaforo /
a polícia chega / pergunta o documento / eles não tem docu
mento / pergunta se ele vai pagar a passagem / não vai J
por causa de que os policial / a maioria deles hoje em dia
sao abusados / eles faz isso mesmo J e se o cara for um ca
ra agitado J certo? Nervoso / ele vai responder / ele vai
agressar / eles também / que que vai acontecer? Espanca-
mento prá ele.
(E esse problema nao interessa às professoras?).
ANSELMO
Não / não interessa por causa de quê eu acho que quase to
das sao assim / sabe porque causo? A gente tá certo / que
a gente chega aqui e fala / qualquer um fala / eu dou calo
te / eu também dou / eu dou ...
AMAURI
Eu também dou.
ANSELMO
Mas não é todo dia que a gente ... Tem a~uele ditado I nao
é todo dia que cachorro caga na mesma esquina.
AMAURI
204
Calote a gente tamb€m se di mal/que as vez a gente quer
saltar num ponto / salta li embaixo j a porta não abre /
maior falta de sorte tam5€m que a gente tem.
ANSELMO
Da falta de sorte de encontrar um trocador que ele ti arma
do / então ele responde pro cara certo? Aí o cara / ah /
voce é um trocador / e começa a responder / aí di um azar
que o trocador puxa da arma / e daí / e daí / ah / a senho
ra não se lembra aquela vez / eu nao sei se a mulher ou o
rapaz / ali no Catumbi / e outra ali na Quinta da Boa Vis
ta / se lembra aquela vez que o trocador matou o menino?
Entrevista dos alunos - Eles prepararam as perguntas e e~s
mesmos responderam como se fossem a professora (TURMA DA
PROFESSORA AP) .
PERGUNTA - Porque a senhora vai largar a turma?
- Eu acho a turma muito bagunceira / que não di nem gosto
prá gente / se eu pudesse sair daqui eu saía mas acontece
que eu não tenho outro trabalho / aqui não é uma escola /
isso aqui € uma bagunça.
PERGUNTA - E porque a senhora já nao foi?
(A resposta não foi identificada).
PERGUNTA - A senhora tem namorado?
- Eu não.
PERGUNTA - Quantos anos a senhora tem de casada?
- (Risos) Vinte anos.
205
PERGUNTA - Porque a escola nao tem passeio?
- Porque eu nao levo / que tem muito bagunceiro / tem que
tirar da escola / tem que organizar a escola j prâ depois
virar escola verdadeira / isso aqui já foi escola.
- -? PERGUNTA - Mas agora nao e. Que que é isso então?
- Isso aí é uma bagunça:cum esses alunos I que nao respon
de a professora J que quer dar prá professora.
Entrevista dos alunos - Eles prepararam as perguntas e e-
les mesmos responderam como se fossem a professora C TURMA
DA PROFESSORA V).
PERGUNTA - Professora Ana Cristina / a senhora gosta de ser
professora / gosta de ensinar?
- Gosto.
PERGUNTA - A senhora gosta de seus alunos?
- Gosto.
PERGUNTA - E a senhora Cristiana?
- Também.
PERGUNTA - Eles nao dão problema não?
- Às vezes.
Também faz muita bagunça I nao atende a gente.
PERGUNTA - E o que a senhora faz?
- Ah eu boto de castigo I mando sair J sair da sala I eles
não faz dever nenhum / porque eles faz muito bagunça.
PERGUNTA - Os alunos são ohedientes J dão trabalho I como
é que é?
206
- Bem / tem uns que faz bagunça tem outros que não / os que
faz bagunça boto de castigo e depois falo com as mãe.
PERGUNTA - E quando nao tem mãe7
- Ah falo com o juiz de menor.
PERGUNTA - Fala com o juiz de menor e manda prender ele?
- Não dá só um castiguinho neles.
PERGUNTA - Que castigo?
- Bota eles de castigo em cima do caroço de feijão ajoelh~
do.
- Ah eu acho horrível/eles fica no quarto escuro.
PERGUNTA - E o que mais a senhora faz?
- ~ / eu mando o guarda pegar ele prá botar no qu'escuro
aí ele fica cheio de medo.
PERGUNTA - Nossa! As senhor~s nao t~m pena dele não?
- Não eles é muito levado.
PERGUNTA - Não tem outro jeito?
- Eles rasga as folha tudo J aí boto lá no qu'escuro / man
do o guarda pegar eles e Dotar no qu'escuro.
PERGUNTA - A vida da ?enhora é boa?
- E / é muito boa.
- E / é ótima.
HISTORIA QUE O MENINO CONTOU ESPONTANEAMENTE
(não havia tema pré-determinado)
História do Anselmo
207
Eu gostaria de falar sobre a Dona Jaqueline I minha I su
per I super professora j e gostaria que ela pudesse né Ime
dar mais uma forcinha né I a senhora deve tá sabendo maiS
ou menos o que é Dona Monica I gostaria que ela me desse
mais força na leitura I tô precisando demais j e sabe como
é que é né I malandro I tô precisando da leitura I sabe po~
que? Não I vou falar sinceramente I a verdade é que mais
tarde essa leitura I vai me dar grandes lucros I tá enten
dendo? E gostaria de encerrar por aqui mesmo / muito obri
gado.
HISTORIAS QUE OS MENINOS CONTARAM SOBRE O QUE PARA ELES SE
RIAM COISAS VIOLENTAS
Histórias do Carlos
Aqui na escola nao tem esse negócio de violentar nao I até
agora nunca vi nao I já vi briga I já vi gente com revól
ver I já vi gente com faca I canivete I isso eu já vi / a
gora violentar as pessoas I aqui nunca vi não j e ainda por
cima os garoto grande I por causa sao grande I eles quer
bater I mas também os alunos / também alguns alunos que tem
na escola I mexe com os moleque grande I esses moleque gran
de também quer bater / não deixa I eles não pode ficar me-
208
xendo com os moleque grande I os moleque grande quer bater.
Daqui da escola I a violência I é que os professores I e
les tentam parar a violência aqui na escola I mas na rua e
les não pode fazer nada I porque na rua é na rua J aqui nãol
aqui dentro quem manda são eles I agora na rua leu não seil
porque eles não pode mandar I porque lá eles não dão aulal
agora na rua I acho que I prá mim I na rua é a pior violê~
cia I porque na rua eles pode matar I eles pode matar e p~
de roubar I aqui não I aqui é diferente.
Histórias do Adriano
Que aqui dentro I aqui· dentro é bom sabe porque? Aqui a
gente I aqui eles corrige a gente I tem outras pessoa que
não vai corrigir certo? Mas eles aqui dentro I os profes
sores e as professoras I eles corrige a gente aqui I eu ve
jo às vezes a minha professora me corrige muito I corrige
outros alunos aí I aí eles volta a fazer tudo de novo I aí
fica assim I aí vai vai I parece que nao tem fim.
Sabe porque? Porque ~s vezes a gente acha até engraçado I
que a gente somo jovem I inclusive I aí somo jovem I
urna parte a gente gosta I é uma diversão prá gente assim I
mas tem vez I quando eu tô velho pô I não vai dar prá mim
fazer isso que I que vai fazer barra pesada mesmo I aconte
ceu quando quer I então eu vou parar I aí amanhã ou depois
volto a fazer tudo de novo I que a gente vai fazer violên
cia I assim zoar I fazer bagunça I.é que a gente acha um
209
barato / uma diversão / uma professora discutindo com a
gente / Ah / não faz isso / ~ / nio sei o qu~ / ai is vez
a gente gosta que ela sente raiva pela gente j ela não po
de bater na gente / fazer nada} e a gente tamb~m não pode
fazer / agora tem certos alunos que bate at~ em professo
ra / que eu vi / eu vejo aqui.
História do Adriano
Eu acho / quem é violento sao os próprios ... São os alu
nos mesmo / a gente ê aluno mesmo / acho que a gente mesmo
que somos violento aqui dentro / as professoras não / acho
que a gente que ~ aluno mesmo J que ~ violento aqui dentro /
quer dizer / eu não mato J não faço isso / mas outras coi
sas eu faço tamb~m / todo mundo faz / ningu~m não ~ santo/
ninguém é santo tamb~m.
História do Marcelo
Da Mineira / Mineira em guerra / não sei de qual outro mor
ro / acho que ~ do Larguinho / aí os moleque não vem estu
dar J por causa dessa guerra que tá tendo aí / eles falam
que ia invadir a Tia Ciata / prá pegar os moleque lá do ma
ro do Larguinho / prâ matar / por isso que eles não tão fie
quentando a escola / aí / por isso / que a escola tá meia
vazia.
Históri.a do Amauri
Ah! Ela grita / faz um montão de coisa J quer xingar as
pessoa / elas não pode xingar não / ela vai falando / -nao
sou tua mãe / nao sei o que / elas fala / Ah! nao sou tua
210
mae / nao sei o que / mas elas também não pode bater na ge!!.
te não / elas fala j elas fala I não tô falando I algumas
professoras I de algumas que eu j á vi gritando I a sua mãe I
nao sei o que / mas como a gente não pode falar / não pode
agressar elas / falar alto com elas / elas também nao podé
falar alto com a gente I tem que ser o mesmo nIvelo
História do Alex Sander
Violência I violência pode ser a gente I que pode I que ti
ver falando com a pessoa / a gente I pode ser agressivo /
falando com a pessoa.
Opinião de Fábio sobre roubar
Eu falei isso brincando I mas o que eu falei prá ele / que
ele não devia roubar / porque roubar não é futuro I prá e~
dessa vez roubar um banco / não roubar ponre / só rico /
porque se eu fosse polícia / eu ia rancar dos ricos prá dar
pro pobre / sério / se eu fosse rico / se eu fosse polícia!
ia j ia prender ...
filho de rico / filho de pobre eu pegar so
nao / filho de pobre não merece ser preso I porque que /
porque que só preto vai prá cadeia? Que o branco também
tem que ir / ele é filho de papai e mamãe / mas também tem
que ir prá delegacia I porque agrada os polícia com moneij
dinheiro / nao pode Item que pegar uma cela e pá ..• Dá um
piau I ele fez mais do que certo j se a mulher era rica I
ele era mais de roubar / podia levar as calça dela.
211
Opinião de Jorge Luis sobre roubar
Eu acho errado quando a gente entra dentro do ônihus j co
mo nós somo preto j a mulher tira o cordão e fica olhando
pri gente cheia de medo / quando a gente passa na rua / o
de terno e gravata j vem dentro do carro j começa a olhar
a gente / aí tem hora que a gente fica bolado j fica com raL
-va / mais de roubar mesmo j por causa de qu~ que eles nao
ve a gente / que a gente somo preto? Tem racismo de cor /
tira o cordão tira tudinho j diz que cisma e n6s tamb~m j
que não é nada disso que a gente pensa j não ~ nada disso
que eles pensa / eles pensa uma coisa / a gente pensa ou
tra / aí que se revolta mesmo / condiç6es que hoje em dia
que di j pri trabalhando J fica tirando / a gente se revol
ta / certo? E é mais de roubar tudo / a gente não fica se~
tado dentro do ônihus / a mulher fica olhando pri nossa ca
ra / tira o cordão / se levanta e vai lá prá frente / por
que preto so pinga dentro de ônibus / se trabalha no sinal
vendendo jornal/eles vão j fecha o vidro do carro / pen
sando que voc~ é ladrão / aí tinha que ter conselho também
pri quem não conhece j pensando que / porque é preto eles
pensa que é ladrão / que eu nao robo / tem mais é que rou
bar mesmo / hoje em dia po / que Inão compreens-ívell / se
eu tô passando na rua / se a senhora me encarou / tamb~m /
sigo a senhora fora da calçada / sou mais de atravessar/tá
saindo daqui por causa de que? Porque eu sou ladrão? Deve
ser que eu vou rouhar J ficar me encarando / eu sou assim j
passei na rua j algu~m ficar me encarando / eu pergunto
quem me encarou se eu tenho cara de viado / eles fazem assim mesmo.
2. FALAS DOS PROFESSORES
Entrevista com a Professora L.
(Como é que tava tua turma no processo de ensino aprendiza
gem? Antes deles sumirem.).
Eles sumiram mais eu acho que foi por causa da greve / por
que antes da greve eles estavam bem j depois da greve é ~e
ele sumIram / né?
(E aí antes da greve tava legal?).
Razoavel / né / porque eles fizeram muita bagunça / eles sem
pre fizeram muita bagunça / não é de agora que eles fazem
essa bagunça não / sempre foi muita bagunça / principalmen
te a minha sala / teve mui ta briga / mui ta bagunça / eu sem
pre tentei controlar eles / mas sempre foram muito difÍce~
e também ensinar sempre foi muito difícil.
(Mas você acha que é difícil porque?).
Porque eles não acei ... Uma que eles sempre tiveram muita
liberdade / eles tem essa escola como a escola deles / o pro
fessor aqui sempre nunca teve vez / não é de hoje / a gen
te se tivesse qualquer problema / fosse reclamar / o aluno
sempre é que tinha razão / quer dizer que isso aí -nao ... e
d'agora não / voce querer jogar isso pra agora / eu não a
ceito / agora ta assim porque houve essa quebra devido a
greve J depois da greve / agora também com esse sistema
dos gari aí / querer mandar na escola j não sei porque/mas
sempre foi assim / os grande querer ser líder / não é d'a-
213
gora nao.
(Esse negocio de a escola ê do aluno / nao ê do professor/
você acha que a escola deve ser do professor?).
Não.
(A escola ê feita pro professor?).
o professor vem apenas aqui cumprir sua obrigação / mas eu
acho que tem que haver um comum acordo / entendeu? Ainda
mais no tempo que tinha tanta gente na coordenação/ era pri
ter um comum acordo / eu acho que se isto ti acontecendo /
tem coisas que acontece que ê assim como uma irvore / nao
~? e. Você planta aquela árvore / então se ti acontecendo aI
guma coisa de ruim com-os frutos daquela irvore / os fruto
não foi colocado ali / aquilo teve uma seqüência / enten
deu? Até um edifício quando ele cai / o alicerce dele não
foi bem sucedido / ê o que tá / talvez / agora isso aqui /
seje os fruto antigos / entendeu? Então eu não aceito mui
ta coisa colocada em jornal I se agora não esti saindo bem /
não é a culpa de direção nem de professores / porque quem
sempre guentou a escola foi os professores I ou ruim ou
bom / você vê que os p'rofessores fazem tudo pri I sei li /
conduzir os alunos / ce vê que eles às vezes até certo pon
to / so a gente chega I briga / bota eles em sala de aulal
então I eu acho que se os frutos agora não estão saindo bons/
é porque não foram bem sucedidos na hora da
(Mas se até então foi diferente j você acha que nao j que
até então não foi diferente / eu não ia entrar nesse papo
nao porque o que interessa ã gente / não é nem isso.).
214
Não é isso nao ) não / mas o que eu quero dizer é isso /
porque quando as coisa tão sucedendo mal a gente tem que ver)
muitas vezes você tem um filho / ah! Meu Filho! Gente )
ve o principio ) vê o principio / quer dizer / eu acho is
so / que se agora nao esti bem} não é coisas de momento /
as coisa.
(Você concorda que nao tá bem?).
Não está bem / mas nao é d'agora J isso sao os frutos que
-nos tamos colhendo.
(Mas antes tava legal?).
Não / nunca teve J nunca teve / mas de agora se o que tá
acontecendo agora nao é coisas de momento / entendeu? E co
mo você / um alicerce J uma árvore ) quando não tá os fru
tos legais / quando aquele edifício que você constrói cai/
o alicerce dele não foi bem sucedido I porque o projeto em
si / ele é ótimo / o projeto em si ele é ótimo. Vou falar
um palavrão aqui. O projeto em si ) ele é ótimo mas no real
ele não é J nunca foi.
(Nunca foi! Agora porque que voce acha que esses meninos
sao analfabetos?).
Ah! Eles nao sao analfabetos porque eles querem / também
é conseqüência da realidade deles / são conseqüências da
dificuldade deles aprenderem} são conseqüência da liberda
de que ele sempre teve dentro da escola / não vêem isso a
qui como uma escola prá eles entrar em sala de aula e aprel!.,.
der a ler / ele vê isso aqui como uma escola que eles vêm}
faz o que quer / bate / batucam / tem comida a hora que
215
quer / tem professor prá eles xlngarem a hora que quer /
isso sempre foi assim j nio ~ de agora entio como & que a
gora j de uma hora prâ outra / porque a gente tamb~m nao
pode generalizar / porque dentro desse montante dos alunos
tem uns que querem muita coisa j eu tenho at~ pena J eu te
nho um aluno ótimo / eu tenho até vontade de levar esse a
luno prá mim / mas ele j ah / ele nao vem à escola porque
ele tem que trabalhar / tem que ajudar / tem que sustentar
a mãe dele / ele fica / ele fica lá como é nesse ~ .
negoclo
de carro / toma conta de carro.
(Guardador de carro).
Guardador de carro j de noite / no Scala J ele chega em ca
sa quatro horas da manhã / como é que ele vem prâ escola?
Entende? São essas coisa que acontece / entio / de repen
te / a gente diz / eles são analfabetos J eles são analfa
betos porque querem e tamb~m eles não assume / porque tam
b~m ele já tem muitas dificuldades / al~m da realidade de
les / o / as doenças deles adquiridas e outras que já vem
na fecundação / tamb~m atrapalha muito na mente deles J às
vezes eu fico / pensando como é a mente desses rapazes/ co
mo é a mente / você acha que é normal o que muitos deles
fazem?
(Você acredita então no fato de o desenvolvimento biológi-
co J a desnutrição e tal ... ).
E no sociológico.
(Causa o emburrecimento?).
Além disso / além da ...
216
(Emburrece o menino).
Não emburrece j ele já tem aquela má formação j eles pode
por exemplo I você vê I ninguém ê J ninguém é j ele pode ser
analfabeto e pode ser uma ótima pessoa I pode ser um óti
mo I como é que se diz I profissional I ele pode ser um ó
timo gari porque né I a pessoa não tem uma coisa mas pode
ter prá outra J é claro I aí não tem nada a ver.
(Você detectou na época que voce tinha uma turma formada I
algum problema na turma I alguma coisa que tenha dificulta
do o processo deles de ensino aprendizagem?).
O ensino aprendizagem deles é que uns até aprendem a ler I
a escrever I agora tem. outros que você I por exemplol eles
trabalhavam assim no processo de I da realidade delesl nél
a gente via I aí conversava I dali surgia as vezes um as
sunto I as vezes uma brigai as vez que surgia no refeit6-
rio I aí eles levavam prá sala a gente começava a discu
tir I colocava aquelas palavras no quadro I dali pediam I
tirava umas palavras chaves I pedia prã formar novas fra
ses I dali prã formar outras palavras I surgia assim o tra
balho em si I mas de repente eles aprendiam aquelas pala
vras I aí quando chega no dia seguinte você vai dar a mes
ma coisa I eles já esqueceram tudo I então eu acho que de
um grupo as vezes dez I doze alunos I dois I três é que vo
cê consegue alfabetizar.
(Como ê que você lidava com isso? O quê você fazia prá re
solver essa dificuldade?).
A gente continuava tentando né I porque a gente tem que can
217
tinuar tentando.
(Continuava usando as mesmas palavras?).
Não / tentava mudar ne? Tentava mudar que eles mesmos/por
exemplo / se você é / simpatiza assim numa frase / de re
pente se você botar aquela frase eles mesmos diz J ar che
ga professora / essa frase eu nao quero nem ver mais / nem
isso não vai estudar / tem que ter criatividade / inventar
alguma COlsa com eles assim / pri modificar / mas que den
tro do processo J às vezes surgia na hora / que eles fos
sem formar novas palavras / surgiam aquelas palavras j que
às vezes ate já era palavra chave e de repente eles ji nao
sabiam ler de novo.
(Você acha que quanto tempo esses meninos levam pri ser aI
fabetizados?).
Ah eu / bom / os que estão mesmo assim que consegue memori
zar alguma coisa / eu achava ate que eles se alfabetizavam
ripido / mas eles tão / por exemplo I eles tão em sala a
gente dá um trabalho / ar eles fazem / ar daqui a pouco a
gente começa / agora vamos ler I eles começam a ler daqui
a pouco eles não lêem mais / que é eles / ah Professora eu
vou no banheiro / vou aqui / ali / ar somem / não guarda
nada daquilo que aprendeu / você entende? Pode tirar um
pelo Roger / o Roger eu tenho feito tudo pri ensinar o Ro
ger a ler I mas ele / ele / eu acho que ele tem boa cabeça
porque um aluno que eu já consegui ele fazer multiplica
ção / divisão I soma com reserva / tudo / e quando chega
na hora da leitura ele não lê / e o pior é que você dá um
218
trabalho j dá interpretação do trabalho / ele diz eu sei ...
como e que eu vou fazer / chega na hora ele não faz / che-
ga na hora ele nio l~ / is vezes at~ ele faz mas não l~.
(Voc~ acha que isso ê caso perdido então?).
Ah eu nao / se eu achasse que fosse caso perdido / eu -nao
estaria aqui j quando eu vim prá aqui / eu tive um objeti
vo na minha vida / sempre trahalhei com coisa difrcil j eu
sempre gosto de enfrentar troço difrcil j ê sempre que di
go / gente vamos ter calma ainda vai ter um consenso / pra
isso tudo / ou voc~s voltam I ou a direção muda / ou isso
toma um jeito ou acaba mas / temos que ter / sabe eu achol
que ~ o caso I enquanto ha vida ha esperança / voc~ acha
que eu com essa idade estaria aqui se eu nao tivesse obje-
tivo?
(Voc~ acha que demora muito pra eles se alfabetizarem?).
Pra uns demoram I prá outros desistem.
(Quanto tempo mais ou menos?).
Por exemplo tem aluno que chega no final do ano eles tio
lendo / escrevendo / tão tudo.
(Dur a a média de um ano?).
Aqui é I em outras crianças normais a gente demora muito
menos de um ano I mas aqui / agora tem uns que tão ar dois/
tr~s anos e nao aprenderam ler ainda / desde que a escola
começou que eles tão ar e ... Por exemplo / esse Roger/ v~
quantos anos o Roger ta ar.
219
Entrevista com a Professora A.P.
(Como é que está a turma no processo ensino-aprendizagem?).
De um modo geral/acho que ... Tá hem J ta um pouco len
to / não sei se / porque eu sou uma pessoa assim / eu gos-
to das coisas J de ver as coisas surgirem com rapidez / eu
tenho aquela sede J né J eu tô achando / ta bem J ta no tem
po deles J né J mas pra mim J pra mim J ta lento / isso ... e
uma coisa que pra mim tem me deixado J eu fico nervosa /
me deixa ansiosa / eu sou muito ansiosa / tá?
(prá você / porque esses alunos sao analfabetos?).
Será que eles são analfabetos? O que é ser alfabetizado e
o que é nao ser alfabetizado / ser um analfabeto / num país
desse / né? Tem que ver isso / eles talvez ... Eles sejam
mais alfabetizados prá vida do que muita gente alfabetiza
da por aí / tá entendendo? Depende do que leve ... O con
ceito do que seja alfabetizado J se é no sentido de escre
ver e ler / porque é que eles são assim / talvez porque a
sociedade não tenha dado a chance a ... Não tenha dado a
chance que eles precisam / ou será que prá eles o que ...
nos
chamamos de alfabetização seja / até um pouco desnecessá
rio? Se a alfabetização que eles precisam é a nossa alfa
betização / é o que a sociedade esperam que eles tenham /
tá entendendo?
(Algum entrave pro processo de alfabetização?).
O que gerou o entrave / talvez tenha sido esses padrões e~
sa metodologia que vinha sido usada né / nas escolas nor-
220
mais / n~ j o que causou foi eles nao se adaptarem / n~?
Talvez seja isso.
(Como ~ que voc~ ti encaminhando então? A partir de voce
ter entendido isso j como ~ que voc~ encaminha?).
Porque eles têm a dificuldade do que ~ imposto / eles recu
sam o imposto / porque eles num ... Como ~ que eles vão a
ceitar uma metodologia / ti j de uma escola tradicional /
que não faz parte do meio deles / nê? Eles rejeitam essa
sociedade que os rejeita / n~. Então ..• Essa coisa da me
todologia / ela tem que ser deles / tem que vir do momento
deles / do pique que eles estão e quando a gente pega esse
pique e que transforma o que a gente sabe / o que ele sabe
num saber comum / eu acho que ê por aí que passa.
(Voc~ detectou algum problema individual na turma?).
Problemas individuais sempre tem / a turma é um apanhado re
problemas individuais / nê / que depois / vai se ver / sao
atê ... Eles si ... Eles conseguem se agrupar / nê / tem
muitos alunos que têm atê seus problemas individuais / mas
a gente vai trabalhando com cada um pri chegar a um comum.
(Você ti encaminhando' in di vidualmen te esses prob lemas ou ... )
Não / a parte do problema individual/ela chega / ti / -e
detectado / a gente conversa / a gente vai ver de onde ele
saiu / porque o que gerou aquilo ti influindo no comporta
mento do aluno dentro da sala / e aí / vamos comparando a
situação de vida de cada um / eu acho que ... Porque / va
mos supor / o Roberto / o Carlos que você entrevistou / ele
nao tem mãe / a mãe dele se embriaga e essa coisa toda /
221
essa revolta dele e ele compara com o outro tamb~m que tem
-mae e que se a mae j como se comporta ... E vamos chegando
a um senso comum J será que ê válido eu assumir esse com-
portamento se o fulaninfio tamb~m tem esse problema? Afinal
de contas não sou só eu que tenho esse tipo de problema J
tá dando prá entender?
(A questão do Brother / por exemplo j o Bira J ele tem pr~
blema de fala.).
Ele tem problema de fala J ele tem problema do tóxico J n~/
de dependência / ele tem um problema motor J ele tem um co~
junto de problemas / tá? Mas eu / enquanto professor / não
me sinto capacitada pr~ lidar com todos esses problemas /
eu faço ... Eu tô na medida do meu possível/não sei nem
se eu posso ir al~m ... Mas eu acho que ele precisava sim
de um atendimento / precisava de uma fono / uma coisa que
o ajudasse / um trabalho psicomotor / todo típico / tem que
ser J nê / e eu tou tentanto / dentro dos recursos que eu
tenho.
(Ele não falou no gravador logo de início J nê?).
~ ele / ele ...
(Mas o prazer que ele teve no dia que eu fiz a individual/
ele falou e se ouviu J foi uma coisa tão bonita!).
E o esforço / porque ele tem uma história j ne / que ele
era da turma da Valeria / mas a turma da Val~ria tem uma
faixa de idade menor J n~ / então / ele não se integrou e
quis sair e veio prá minha turma J era uma turma de um ní-
vel mais elevado / um nível acima da Valéria / n~ / e dis-
222
se que se ele tivesse vontade / ele poderia alcançar / né/
e aquele cara que todo mundo via por aí / né que nao que
ria nada / que não fazia nada / que não prestava atenção /
que nao pegava um lápis / pela dificuldade de escrever /
de falar o torna assim com medo de falar no gravador / com
medo de escrever / ele tem esse medo e ele tá se libertan-
do desse medo / nê / ele tá se fazendo um esforço lindo /
sabe / eu acho que eu fico parada / olhando ele juntar as
palavras / o prazer que ele tem de juntar os pedaços / e
quando lê e forma uma palavra ele fica maravilhado e aí se
sente capaz e vai mais adiante como hoje / a gente tava
trabalhando lá na hora que ce chegou / ele tava assim / fasd.
nado / porque tava juntando e conseguiu um número de pon
tos / a cada palavra um ponto / né / e conseguiu um número
de pontos que nunca tinha cons eguido / " - Eu ba..ti me. u ..t~
c.oJLd, eu ba..ti meu. JLec.oJLd!" nê? Ele fica feliz e eu mais a:in
da / né?
(Que tempo voce acha necessário para alfabetizar esses me-
. ?) nlnos ..
Eu acho que ... Não sei se pelo outro tipo de trabalho que
eu faço / eu não tenho ... Eu acho que alfabetização nao
tem um tempo / e la tem o seu tempo / eu não vou marcar / eu
nao vou marcar um ano / não vou / e aquilo também / eu me
sinto bem porque nao tem essa de cobrança de um tempo / que
eu trahalho numa outra escola que tem / ...
totalmente dife-e
- J sinto essa cohrança do tempo J tempo de rente ne eu nao
entregar no final do ano uma criança alfahetizada né / eu
não sei / eu gosto de esperar / essa sede que eu tenho de
223
ver a coisa rolar pronta / entendeu? Também tem a consci-
~ncia de que tem que esperar o momento né ; eu nio tenho ;
nao tenho prazo / acho que alfabetizar nao é um ano / eu
nao sei se eu com essa idade já cheguei a estar totalmente
alfabetizada / é uma loucura se voc~ for pensar n1SSO / -e
uma loucura ; o que é ; o que a gente espera se voce sair
do padrão / né / eu inclusive tenho lá na outra; por isso
que para mim isso aqui é uma coisa sabe / é diferente ; -e
interessante / quebrou toda aquela viv~ncia que eu tinha né/
de aquela coisa; sei lá ... Bem fechado.
(Eu vou um pouquinho além com você / que você tá abrindo /
colocando uma outra possibilidade / vou fazer uma pergunta
que tá fora daqui mas que você mesmo tá colocando / se por
um lado você abre prá um prazo maior; por outro lado voc~
pode deixar a coisa meio frouxa.).
Indeterminar né?
(Então já que nio tem tempo / qualquer tempo como é que fi
ca essa coisa do deixar frouxo também / como fica esse cui
dado?).
Eu agora I eu acho qu~ tudo isso dependeria de rever exata
mente o que que voce objetiva com isso / com alfabetiza-
çao / porque se voce tem um objetivo aí tá / voc~ vai di
zer ; mas vai ficar frouxo desse jeito / mas a partir do
interesse daquela situaçio de sala de aula; do interesse;
da vivência ; essa coisa vai chegar cada vez mais rápido /
você tá entendendo; tem ho;ras que eu mesma me espanto / eu
mesma me espanto com a velocidade que acontecem as coisas/
224
de você querer pegar / você ter um objetivo a cumprir né /
querer lançar uma determinada coisa e você no mesmo momen
to dar dez / vinte passos além daquilo numa hora só.
(Necessidade de estar atenta a cada momento.).
E / é / pode ser um tempo menor do que se estabelece aí fo
ra / de repente eu não sei I eu acho que eu tinha que pen
sar muito / é uma pergunta que / aquela pergunta que voce
me fez / eu teria que ter uma resposta que talvez fosseuma
solução / agora essa coisa de tempo com os meninos / os a
lunos da alfabetização / esse negócio de tá rápido / tá len
to envolve muita coisa j envolve também a situação deles /
envolve a nossa situação / né / a minha situação particu
lar / a situação deles / a situação da escola / isso pesa
muito / a escola ela está numa fase que você ainda I
dá prá você sentir com tranquilidade / dentro dela /
você trabalhar / você não consegue dizer que tá uma
-nao
-pra
coisa
sem uma tranquilidade / prá gente gravar. Isso aqui tem
que ter uma tranquilidade / então / a escola não tem essa
tranquilidade / a vida deles essa coisa do morro da guer
ra / também não dá essa tranquilidade / isso tudo balança
a minha vida também / não dá essa tranquilidade / tem um
momento que quando junta tudo então.
(Porque você acha que a leitura e a escrita poderia contri
buir prâ eles? Prâ eles mesmos?).
Eles sempre pensam prá eles / o que eles pensam é que vao
aprender a ler e escrever prâ não ser burros / a gente tra
balhar.
225
(Você avalia que a leitura e a escrita possam contribuir
-efetivamente pra vida deles?).
Eu acho I acredito.
(De que forma?).
Eu acho que prá poder até na coisa do trabalho I até na
coisa do viver sabendo mais das coisas I porque eles sen
tem gosto de chegar e me contaram que foram na biblioteca
e chegaram lá I tia eu li um livro todinho de ponta a pon
ta I amanhã eu vou lá outra vez j já é um jeito diferentel
já dá um gosto diferente j você sei lá I a gente tudo que
a gente vê a gente lê I não sei e como é que seria se a ge~
te não soubesse ler I eu nao me imagino.
(Eles nao sabem ler I como é que você imagina que é prá e-
les?) .
Gente! Eles vivem da mesma maneira I é tal da coisa que
eu tinha falado no princípio I a alfabetização loque -e
alfabetização prá eles se eles não chegarem I vamo
nao forem na biblioteca e ler um livro tá I eles vao
sar isso na vida deles e vão procurar um caminho que
eles não faça falta I·talvez por isso esse jeito de
sem ler tenha trazido eles tão tarde prá escola.
suporl
pas-
-pra
viver
(E a escola em si você acha que pode contribuir em quê?
Que que a escola contribui prá vida deles?).
Contribui no sentido da I não só nessa coisa da alfabetiza
çao preparar para o trabalho j ela contribui no sentido de
juntar o mundo que eles vivem J porque prá eles é um mundo
226
a parte / com o mundo que as outras pessoas vivem / ela
junta isso tudo / nao s-ei se eu / eu sou muito enrolada nã:>
sei se você tá me entendendo / a escola / eles tem uma vi
da / nós e outras pessoas temos outra vida j eu acho que
a escola junta isso e ajuda / não a assumir essa outra vi
da / que seria a nossa / mas a conviver com ela I que is
so é importante prâ ele sobreviver / tá? Além de preparar
pro trabalho / além de essa escola ... Ela recebe os alu
nos com todos os seus problemas / todos os seus traumas I
eu acho que até de aliviar um pouco essa barra deles / não
sei.
Entrevista com a Professora A.
(pra você porque esses alunos sao analfabetos?).
Bom J no meu ponto de vista o problema não é do menino o
problema é no sistema / é na escola / porque dentro do pro
cesso escolar / do processo educativo / há um desinteres
se / não há um interesse por parte / porque é o conteúdo /
não abrange a realidade deles j o próprio professor / o cor
po docente como um todo nao tá preparado pra essa realida
de / e a maneira também / a avaliação feita através de pro
va de teste I não mede realmente o que o menino aprendeu /
e o desinteresse geral J daí o problema do menino não ser
alfabetizado I eu vejo o problema no ensino / na escola e
não um problema dele.
(Qual o tempo que você julga necessirio pra alfabetizar es
227
se menino?).
Eu não / prã mlm nao existe um tempo / um ano / dois anos/
cinco meses / eu acho que com o desenvolvimento dos menl
nos / com o desempenho deles / a gente vai vendo J vai a-
valiando e o trabalho / o produto vai surgindo / eu acho
impossível / ah / eu vou alfahetizar em um ano ou em cinco
meses / prâ mim não existe uma data / um período certo.
Entrevista com a Professora C.
(Como é que tâ a tua turma no processo de ensino aprendiza
gem?).
Eu acho que a minha turma / eu nao posso vê-la basicamente
como uma única turma / ela é uma turma que agrupa um núme
ro de alunos / um número x de alunos cada qual tem uma pa~
ticularidade / porque eu tenho dentro desse mesmo grupo dois
alunos que estão num processo que eu diria prontos /
daqui a algum tempo passar prâ uma outra fase / eu
alunos que tão no meio desse processo / e eu tenho
-pra
tenho
alunos
que estão no início do. processo / então caracterizar a tur
ma fica muito difícil/fica muito difícil de pegar por ci
ma e nivelar por cima ou nivelar por baixo / eu acho que eu
não estaria sendo coerente com o trabalho que é dese~vol
vida na sala de aula / porque ê um trabalho diversificado/
atendendo a cada grupo / em cada etapa desses grupos / en
tendeu? Então não dã prâ dizer como é que é o grupo / a
turma toda.
228
(Porque esses alunos são analfabetos?).
Eu acho que eles são analfabetos porque além deles não te
rem ainda ter dado o estalo J clic da alfahetização né /que
a gente chama clic da alfab.etização I eu acho que eles / e~
ses que tem mais dificuldade / eles já es tão há alguns anos
aqui na escola né / eles já estão há algum tempo aqui na
escola / eu tenho um grupo que quase que fundou a escola /
eu acho que esses alunos têm um comprometimento que nao p~
sa só pela pedagogia J eu acho que nós fantasiamos ao lon-
go dos anos a nível de educação J deixamos que passassem
- -pra nos uma responsabilidade da qual não somos competentes
prá resolver / que passa pela área social sim / pela -area
pedagógica sim I mas passa pelo emocional/pela área médi
ca principalmente.
(Espera não tá generalizando?).
Não / tô falando da minha turma né / no meu grupo / o que
eu percebo no meu grupo / que eu tenho um grupo que fundou
a escola então quando eu vejo um aluno que escreve com uma
grafia otima I excelente J ele não consegue ter um traba
lho perceptivo do que é / o que ele não consegue perceber/
o som do A com a figura do A e associar com uma gravura /
ele nao consegue fazer isso / então isso aí é uma falha ~e
nao e / pedagogicamente você não resolve / ah~ e já ten
tei todas as formas J através de som J através da figura /
através de tudo e esses alunos não conseguem I e eu nao sou
a professora deles desde que eles entraram aqui J eu posso
até achar que eu não sou competente prá esse aluno I mas
230
tos que dormiam na sala / eram muitos dormindo na sala /um
momento em que eu descobri / eu tentei né / meio um traba-
lho / meio de mão / que aí entra também todo J uma vez que
eu tô trabalhando com eles né J pessoas como eu / meio ten
tar um lugar prâ ele dormir que não fosse o ideal mas que
fosse um canto que ele pudesse dormir / ai vendo com um
-com outro um lugar pra ele dormir / ele conseguiu / na se-
mana que ele conseguiu um lugar prâ ele dormir ele ficou
bem / ele vinha prâ escola e conseguia produzir alguma col
sa j só que depois / aonde que ele tava dormindo o tapume
caiu J era só um teto e uns tapumes J não teve mais onde
dormir / então lâ na pastoral ele não pode mais ficar / lá
não tem vaga prá ele lá ou coisa parecida / prá esses alu
nos eles não têm novamente onde dormir J se ele vem prá cá
o que que a gente faz / aula de artes ele dorme / combinei
com ele / você dorme na aula de artes / você dorme na aula
de Educação Física J você dorme na sala de leitura / é me
lhor / não que a sala de leitura / artes e educação física
não seja é atividades prâ eles / mas é melhor ele dormir
nessas aulas e ter um aproveitamento de uma hora por dia J
mas é muito difícil / é muito difícil/ele vem prá cá can
sados sabe J arrasados / um aluno que tem uma dificuldade/
prá entender a particularidade de cada turma J tem um alu-
no que não tem um dente na frente / então ele -nao fala
"vi" e fala "fi" e ele entende" fi" quando é "vi" / ele
não tem J não tem / o dente impe~e que ele ouça que ele re
pita certo / o certo ele repete com entendimento diferente.
(Você já pensou em encaminhar esses proble~as individual-
231
mente?) .
Já / não só pensei como encaminhei / j á encaminhei / j á te!!.
tei buscar soluções J agora pelo que eu sei / o aparelho
do estado né / município não tem infra estrutura prá aten-
der esses alunos / num trabalho que é chamado de trabalho ~
pra atender classe privilegiada / que seria um trabalho de
fonoaudiólogo / psicólogo / com dentista protético J quer
dizer / uma série de coisas que esses alunos precisam.
(Fora queles quatro que são alunos antigos você botaria mais
algum?).
Eu tenho dois alunos / quer dizer / dentre os antigos eu
tenho alunos que com muito esforço tão conseguindo agora J
eu vejo que eles vao conseguir até certo ponto J eles -nao
vao passar dali / não vao passar e tenho dois que eu acho
que não vão conseguir nunca / nunca inclusive eu consultei
especialistas fora da escola / que eu tenho acesso sabe /
é J eu tô vendo com uma pessoa / não sei nem se tô agindo
certo J eu tô vendo uma pessoa que trab.alha noutra escola
prá fazer um trabalho com ele a nível fonoaudiológico / a
nível psicológico numa clínica na zona sul/sabe / conve~
cê-los também é difícil né / de psicólogo é uma palavra as
sociada muito a maluco / e eu acho que a escola tinha de
ter esse tipo de especialista / entendeu? Até porque eu
acho que o professor precisa ser orientado e trabalhado /
não a nível de pedagogia / a nível de psicólogo / de fono
audiólogo / porque prá nós também é muito difícil voce en-
frentar um aluno desse depois de um dia que você vem cansa
232
da / ou que não venha cansada / e enfim I seja lá o que for
po / chega aqui voce tem horas que voce tem vontade de man
dar todos pro espaço mesmo sabe.
(Você determina algum tempo que voce julgue que sej a :,bas
tante prá alfabetizar?).
Não / tempo nenhum / compromisso meu com eles é que eles
vão conseguir no tempo que eles puderem I né / se elespo
dem conseguir em seis meses / eles vão conseguir em seis
meses I então eu tenho um aluno que logo no início quando
veio / tal I já após o momento da greve no ano passado ele
disse prá mim I esse ano em julho eu quero estar em outra
turma I eu disse prá ele I só vai depender de você e nao
de mim / e ele hoje faz frase / ele hoje monta um texto /
que e o Marcos.
(E você não acha que por outro lado deixar assim muito sem
prazo você deixa de avaliar?).
Não / eu acho que não fica sem avaliar não porque eles sa
bem que eles tem um tempo prá conseguir / só que eles são
muito críticos e eles percebem que um ano é o tempo sufi
ciente prá eles / ent~o eu acho que no geral/tirando o
Marcos / que manifestou um desejo muito grande / ne I tem
aí uma história meio particular da turma / o uso do mate
rial / nós usávamos caderno deitado porque não pode usar o
caderno em pé / porque o deitado é mais fácil de você es
crever I de a disposição dele em relação da disposição do
quadro de giz / eu expliquei essa coisa técnica prã eles
né I e eles conseguiram entender / então a proposta deles
233
~ / n65 podemos passar pri um outro caderno quando estiver
mos escrevendo melhor / podemos escrever de caneta quando
estivermos escrevendo melhor / foi o que eu propus a eles/
eles aceitaram / não foi imposto / foi proposto / e eles ~
ceitaram / e na medida em que eles estão vindo com a res
posta / eu ji posso usar o caderno grande / o Z~ Alexandre
ji ti com o caderno grande J o Jorge Paulo ji passa pro c~
derno grande / ~ que ele ji atf comprou / ele ti esperando
o dele acabar nf / então eu acho que tem todo um compromi~
so de tempo que eles colocaram / que eles colocaram o tem
po que f de um ano / que o tempo da escola regular / s6 qt.e
eu tambfm mostrei pri eles que nem sempre voe e consegue em
um ano / às vezes voce. consegue em dois ou três / então tam
bfm pri que não cri~ a expectativa / frustração / quando
chegar no final do ano e perceber no ano seguinte que a
professora f diferente mas o trabalho f o mesmo J eu acho
que isso f importante tambfm nf.
Entrevista com a Professora S.
(Como f que tá a turma no processo de ensino aprendizagem?)
A turma caminha / s6 que eles caminham de uma forma muito
lenta / e como pri mim isso f algo novo / isso às vezes me
angustia / porque eu gosto das coisas mais prontas / che
gar falar / eu quero aquilo tudo pronto J de repente eu sen
ti no início eu começava a passar a minha ansiedade pra e
leS / hoje não / hoje eu vejo que o caminhar dele / eles a
234
pesar de lentos / é algo que a gente ta conseguindo fazer
alguma coisa / é / eu tenho alunos pelo menos dois deles
que ji conseguem ler / aquilo que eles não conseguiam / a
coordenação de eu abrir a primeira folha do caderno no pri
meiro dia / que eles chegaram e abrir a folha do caderno
hoje; aquilo vai me dando aquela alegria; que eu querla
sentir antes né ; e de eu ver isso junto com eles / profe!
sora eu quero receber na sexta-feira mas não quero botar o
dedo / então o que que a gente pode fazer pri você não bo
tar o dedo? Eu não quero saber nada de quadro de dever /
eu quero é assinar o meu nome / e hoje todos eles sem ex
ceção conseguem escrever o nome sem olhar no papel / e não
precisa receber pagamento botando li a impressão digital /
no caso; isso prâ mlm é algo assim / gratificante né/ ag~
ra ; leitura e escrita hoje é o que eu menos me preocupo /
que eu sei que que isso mais cedo ou mais tarde vai aconte
cer / quando não tiver nem um pouco preocupada com isso ;
alguém vai chegar prâ mim com uma notícia de jornal; val
ler nem que seja uma frase daquela coisa imensa / mas que
isso vai acontecer eu tenho certeza e é isso que eu tenho
assim sem ansiedade / ,esperado de cada um deles.
(pri você porque esses alunos sao analfabetos?).
Primeiro lugar a chance / né / que eles não tiveram em na
da na vida / em tudo / né / é principalmente ... A minha
turma que é urna turma onde a maioria é de rua mesmo / de
morar no quarto que o dono do restaurante emprestou / en
tão aquilo aI é cada um por si / quando resolve visitar a
mae entra na porrada e volta todo machucado j todo mordido;
235
resolve nao voltar / isso hoje ~os quinze / dezesseis anos
é assim / já tem uma certa consciência / agora isso aos se
te aos oito não entendiam porque né ) até que resolveram
sair de casa / en tão principalmente a chance / assim de uma
família mesmo) de um lar por mais humilde que fosse no mor
ro / na favela / mas eles nao tiveram a chance e talvez tam
bém não tenham se dado essa chance pela consciência que não
tinham e que hoje começam a ter I eu assaltava / eu fuma
va / eu cheirava I professora) hoje eu não faço mais isso
porque a mente começou a abrir um pouco / eles vão ter de
ficiências mil) falhas mil ao longo / mas eu acho que o
fato deles terem procurado a escola já é algo assim valio
so / principalmente prá eles / né ) ~ de repente daqui eu
tenho esperança que daqui a um tempo os meus alunos / como
é a primeira sala que eles passam por aqui / eles possam
passar por todas as outras salas né / até de chegar numa
fase terminal I como a gente chama aqui / e é isso que eu
espero e basicamente / a chance que a vida / a família /
não deram a eles ) tal vez no momen to certo / nem se i se nun
ca né ) talvez não dê nunca / e o próprio mundo em si né /
o mundo que eles vivem / eles nao tem tempo prá estudar.
(Você detectou algum entrave no processo de ensino aprendi
zagem algum obstáculo objetivo para que eles se alfabeti
zem ) voce já detectou alguma coisa?).
O que mais acontece assim constantemente na turma / pelo
menos nos meus é assim / a memória deles / eles não tem boa
memória não / não sei se eu tô errada / mas me parece algo
que a gente conversa ou fala hoje / em assunto talvez que
236
interesse a eles mesmos / um assunto interessante prá eles/
no dia seguinte eles tem assim / uma certa dificuldade prá
traduzir aquilo prá mim um dia depois / então eu acho ...
(E como é que você está encaminhando isso? -Como e que vo-
ce tá tentando resolver isso?).
Eu nao t6 me preocupando muito com lSS0/ porque isso nao
chega a ser um obstáculo / pelo menos não tá em termos /não
chega a interferir ainda negativamente / não / até pode ser
que ao longo né / daqui até uns dois ou três meses / em
que eu talvez espere mais deles isso possa interferir.
(Você colocou algum prazo prá que essa alfabe.tização acon-
teça?).
Não J não no início eu acho que eu tinha posto um prazo sim
prá mim né / eu enquanto professora e profissional eu que-
ria que eles me devolvessem aquilo tudo no prazo J nao di-
go nem de um ano mas talvez eu esperasse mais uns três ou
quatro meses J prá me ler "bola" ou alguma coisa assim / e
quando eu percebi que isso já estava acontecendo / eu acho
que eu tirei esse prazo de mIm / nao tem um prazo definido
-nao / e não t6 mais preocupada / eu sei que eles passarao
se continuarem na escola em todas as salas / mas se isso
vai acontecer em noventa ou dois mil / issoprá mim não -e
interessante agora.
(prá você em que que a leitura e a escrita pode contribuir
na vida deles?).
Pro mundo em geral/passar numa banca de jornal/querer
ler que o cara do comando vermelho matou I assaI tou / e não
237
sei; que é ler a reportagem do Cazuza que interessa muito
a eles por ser uma doença que tá na moda; sei lá ; e que
eu tenho que fazer isso prá eles hoje; de repente a gente
tá num determinado ; numa proposta minha e de repente aqui
lo nao acontece / vamos ler a revista do Cazuza porque is
so e o que interessa agora e eles não tem essa dependênci~
(E a escola; no que que voce acha que a escola pode aju
dar a eles?) .
Não diria socialização não; porque isso eles naturalmente
têm; seja legal ou não; se engalfinham de vez em quando;
mas a escola é um espaço que eles prôprios sabem que é de
les ; principalmente na sala de aula j é o cuidado que e
les têm com tudo ; é como se fosse de repente a sala a ca
sa que eles não têm; essa sala aqui ê minha; essa profe~
sora é a minha professora ; essa escola aqui ê minha esco
la ; é o acesso ao refeitôrio j é ao tomar banho na escolw
porque eles sô tomam banho na escola não têm outro lugar ;
é às seis horas ; e às dez ; dois num dia porque do dia se
guinte não tem onde tomar j então essa escola em primeiro
lugar ê um espaço que realmente é deles ; e eu sinto que ~
les sentem isso ; eles conseguem passar isso de alguma ma
neira prá mim.
Entrevista com a Professora J.
(Como está a turma no processo de ensino aprendizagem?).
Bom / a turma ela está com dois grupos / tem um grupo em
...
238
que realmente é I tem alunos que já e~tão aqui há muitos a
nos que realmente não estão conseguindo ainda aprender I e
tem o outro grupo nao que tá já lendo j entendeu I já está
caminhando e tudo I mas esses alunos que não tão aprenden
do a ler I sao até alunos que de repente nao entravam na
sala de aula j estão começando a entrar agora.
(Anselmo né?).
Anselmo I Alexandre I que ti aqui há mil~nios na escolal e
le nao entrava I agora ele tá entrando j tá procurando mas
tá com dificuldade.
(E porque você acha que esses meninos sao analfabetos? Os
que sao analfabetos.).
Eu acho que tem virios fatores aí entendeu j influenciandol
tem gente que tem até nível intelectual baixo I tem muita
dificuldade mesmo j deve ter algum distúrbio de aprendiza
gem I entendeu? Aí entram fatores emocionais I sociais I
tudo isso aí entra j mas sinto que tem esse problema de di
ficuldade mais a nível assim intelectual mesmo.
(E nesse processo todo que entraves você conseguiu detec
tar prâ que o processe não fosse tranquilo?).
Entraves como?
(Assim o que que dificultou j o que que geralmente dificul
ta esse processo deles?).
De repente a nao vontade do aluno I entendeu? Eu acho que
tem muitos aqui que não estão realmente interessados I sa
be I porque é urna coisa difícil I eles sabem que eles têm
239
dificuldade I de repente quando eles percebem essa dificul
dade / acho que é mais cômodo a eles fugir do que enfren
tar isso aí / entendeu?
(Bom / aí a gente tava falando dos entraves do processo.).
Não quer dizer eu acho que essas dificuldades deles também
devido aos proolemas / as dificuldades mesmo / tudo isso.
(E aí / como é que você tem encaminhado isso na tua turma?
Essa coisa da ausência deles J essas dificuldades que eles
apresentam I então como é que você tem transado isso?).
Bom I eu acho que de repente os alunos que tão vindo enten
deu I eles tão progredindo I aí o que acontece é que os que
nao aparecem J aí quando retornam I aí sempre teve esse pr~
blema né / aí eles tão muito defasado mesmo né J aí até is
so que agora tem dois grupos na turma j quer dizer J então
eu acho que eu deveria ficar com um grupo e vou ter que co
locar o outro grupo com uma outra professora J a gente fo~
mar uma outra turma / isso aí é que vai ter que ser feito.
(E quando eles voltam / eles sacam que alguns conseguiram
e eles ficaram prã trás?).
Ah sacam! Porque até mesmo não tem como J um lance de com
petição mesmo / de repente ver que o outro tã I porque o
outro tã comparecendo / então o outro tã progredindo e ele
não tã progredindo J quer dizer I é um j desestimula tanto
o professor quanto o aluno.
(E você percebe algum problema mais individual? Específi
co de algum aluno?).
240
Não loque eu sinto é assim I de repente o aluno que por
exemplo nao entrava na sala de aula e que de repente agora
entra I agora tem até o caso do Alexandre I que entra ago
ra porque eu que tô dando aula I entendeu? Eu tava conver
sando com ele / que ele tã com essa dificuldade e tem um
outro grupo na turma mais adiantado; então ele falou que
for - outra professora ele se pra nao vai I então tem até es
se ne gôc io I e agora como -e que eu vou fazer? Vou colocar
ele pra outra turma e de repente ele nao vai entrar ; en-
tão sao esses casos aSSIm.
(E quanto tempo você acha que é necessário prã alfabetizar?)
Ah ; eu acho que isso depende da criança da dificuldade que
ela tiver I porque de repente tem criança que você começa
e ela corre com você I entendeu? E tem outras que de re
pente aprendem alguma coisa aí regridem ; e tem aluno meu;
o Anselmo I ele tava bem / ele tava indo bem de repente e
le regrediu começou a se desinteressar entendeu I até mes-
mo Inão compreensível I quer dizer I isso mesmo aconteceu
quando ele entrou prâ gari; que a gente sabe que ele fica
cansado de trabalhar de manhã j vir ã tarde prá escola aí
fica com sono / com f~me é ... Entendeu? Então a gentenoo
sabe I se é isso I mas acho que isso ... Tem criança -nao
que começa e progride / tem outras que regride / então e
difícil a gente precisar.
4
241
Entrevista com a Professora V.
(Sobre o processo ensino aprendizagem.).
Ah I ti bem ; a gente começou a trahalhar e agora I a fre
qüência da turma é boa I quer dizer I eles quase nao faltam;
minha turma não falta quase nunca J e isso pri mim é um d~
do também de avaliação I numa escola onde hã um rodízio gTa!!.
de de alunos I os alunos vêm e estão progredindo I entãoru
acho que esti tudo bem.
(Porque que esses alunos sao analfabetos?).
A minha turma não é I nao tem nem tan to a idade avançada nél
tem um monte de aluno com onze; com doze; assim; tem uns
dois ou três só com catorze; sei lá j eu acho que essa co~
fusão mesmo da vida deles I a escola não ti preparada -pra
esse tipo de aluno I sei lã ; repetiram a primeir& série I
aí se desanimaram não foram mais.
(Você detectou algum problema ou entrave pri esse processo
que você esti desenvolvendo na turma?).
Que loque emperra o trabalho às vezes é ; assim I é I sei
lá ; a escola I eu acho que a escola ti vivendo um momento
difícil/um momento de ... De crise mesmo I né I que ain
da não acabou; que a gente tã tentando organizar agora I
mas que ainda não ti tranquilo e isso tira a tranquilidade
de todo mundo e isso atrapalha um pouco na sala de aula tam
bém; sei li ; e a própria característica dos alunos/deles
serem agitados I deles não aguentarem ficar muito tem°!-,u na
sala l° isso às vezes atrapalha I eu acho que é um processo / melhorou.
243
N. - No, No Noemi.
- O que a senhora acha dos alunos da tarde?
N. Olha como eles sao maiores I os meus alunos eu acho
muito agitados J mas eu ji t6 hi mais tempo em tur
ma I à tarde então já t6 conseguindo entendê-los m~
lhor I ji t~ conseguindo conhecer melhor I são meni
nos a maioria que trabalham na gari I os meus alu
nos ti I então eles já têm um propósito de vida til
isso I isso faz com que a gente esteja começando a
se entender I sabe J não sei até quando I não sei ~
-va1 ser pra sempre.
- Mas D. Noemi a senhora acha um garoto chamadoMarcus
ele tem que I vir na hora da escola dele não cedo
pri vim pertubar os alunos?
N. - Mas Marcus pelo que me consta ele estuda de manhã I
de tarde e de noite os três turnos.
- Ele faz muito ê bagunça minha senhora.
N. - E aquele ali não I aquele que mora li na Form~a não
ê esse?
- Mas ele também é legal.
N. - Eu acho ele muito legal.
- Mas é que ele fica peruando.
N. - Sabe às vezes ele não se encontrou ainda I sabe ag~
ra I ele tanto I é que ele gosta de ficar na escola
manhã I tarde e noite J eu ontem fiquei pensando qual
é o propósito realmente do projeto da escola J -e
244
que voces fiquem aqui ou sera que sabe ~ uma coisa
que eu vou questionar tá / ou será que dar uma en
tradinha na sala já seria uma boa.
- D. Moemi.
N. No / Noemi .
- O que que a senhora acha J o que que como e o nome
da senhora?
R. - Rosangela.
O que que a senhora acha sonre esses garotd aí J co
mo esses segurança aqui j é jogar bola acertar na
professora e não pedir desculpa J com ignorância o
que que senhora acha disso?
N. - Olha eu não tenho uma opinião sobre isso porque eu
não vi o que que aconteceu J eu acho que a gente so
pode julgar quando a gente participa da coisa / se-
-ra que ele nao jogou sem querer? Eu nao vi como -e
que eu vou julgar J uma coisa que eu não vi e ~ di
fícil ã bessa a gente julgar isso.
- Que que a senhora acha da violência da escola?
R. - O que que voce acha da violência da escola?
- Então tá vai / eu perguntei primeiro I não o que ~
a senhora acha?
R. - Eu acho triste porque como é que voces tão vendo?
Mas minha senhora nós somos estudante j eu vim -pra
cá I eu sou muito quieto / eu gostaria que a escola
245
fosse organizada.
R. - A escola não é organizada?
Não J muita bagunça / a senhora ve a escola toda pl
chada / ela / cabaram de lavar hoje a partir dama
nhã / amanhã mesmo / amanhã a senhora pode olhar a
trás como é que as porta tá tudo pichado de novo.
R. - E o que que você acha que elas estão fazendo aqui na
escola prá melhorar essa violência?
- Tem que ter uma reunião com os alunos J chamam ele
e reunir / oh / a partir de hoje se eu pegar picha~
do expulso ou suspenso} só entra aqui com respon
sável certo.
R. - Certo / e quando os menInos tão brigando dentro da
escola?
- Suspensão.
R. Você acha que dar suspensao é a solução?
- A solução também pode expulsar } que a escola foi um
lugar prã gente aprender J prá gente nao brigar /
prá gente apre~der pra ser alguém na vida.
R. E você acha que aqui as professoras fazem isso?
- Não sei olha lã tã tudo sentado comendo coxinha / ou
tra conversando / a outra J só rindo j o que aue a
senhora acha? Minha professora tá aquich J ela fa
lou prâ mim não xingar um palavrão / até agora ain
da não xinguei um palavão.
246
R. - Não.
- Sou respeitador meu chapa / agora esse daqui ~ ope
rãrio invisível / tra5alha junto com a gente no seu
Paixão I calma aí / trabalha com a gen te aqui no seu
Paixão I só quer ir sexta feira prã receber.
R. Só vem prã grana.
- Minha senhora obrigado.
- A Valéria / a Valéria.
- O que que a senhora acha da violência na escola?
V. - Tã gravando mesmo?
- Tã.
V. - Tã gravando mesmo?
- Tã gravando.
V. - Mas esse microfone nao é / ê adequado?
- Vam'bora minha senhora vam'bora que.tã passando a
fita / que que a senhora acha da violência / falar
palavrão dentro da sala / fumar / brigar todo dia?
V. - Não sei I não ~ei.
- Que que a senhora acha da violência / a senhora mes
mo tava separando uma briga outro dia?
V. - Acho muito violenta a violência nessa escola} acho
que o pessoal aqui briga ã toa / briga muito ã toa}
acho que você é uma gracinha também.
- Agora o que que a senhora acha / todos dá / igual-
247
zinho agora / t5 fazendo a reunlao / um fala aqui J
começa a bater aqui.
V. Acho muito chato J é a minha hora do recreio prá des
cansar de vocês e vocês vem tudo prá aqui atrás da
gente j a Monica que é culpada disso.
-S.F. - Eu acho que a escola e de voces J dos alunos justa-
mente / tudo que voces fazem tá dá alegria pr5 gen
te e dá tristeza J se tã havendo violência a gente
tã triste J o que eu acho é isso.
- Dá licença D. Sheila J eu sou aluno quieto?
S.F. - Você é aluno quieto J e aí Francisco?
Mas aí D. Sheila eu nao sou de brigar todo dia / mas
se a gente tivesse assim um grupo J os professores
um grupo assim / um aluno um da noite I tivesse uma
conversa sobre essa violência.
S.F. - Ah eu acho que isso seria ótimo J e já vai começar
hoje J Fr.ancisco e essa conversa vai começar hoj e
tã dez e meia tem essa conversa.
- E sobre a caipira que vai ter aí?
S.F. - Basta voces começarem a animar que nós estamos ani-
madas tá?
- Aquele tio? Ali aquele macaco ali que a senhora tã
vendo aqui J oh lã J é ele que arruma as brigas a-
qUI.
S.F. - E por que que vocês nao conversam com eles? Também
a escola é de voces.
248
A gente conversa com quem briga / nao -serve pra bri
gar dã uma conversa certo j mas esses alunos aí e-
les não entende / só porque mora no morro / vai dá
tiro nim um / vai matar o outro ali / acontecer a-
quilo entendeu? Mas eu acho errado isso / errado
que a escola é prã gente estudar.
* Mora na Mineira e ta falando mal do morro.
- Mora na Mineira nada / se a gente vem prá escola fui
prá estudar não prá oagunçar.
S.F. - Isso justamente / ê isso que a gente espera de vo
c~s também.
- D. Helena o que que a senhora acha dessa conversa
toda?
H. - Eu acho / vem cá! 6 Francisco j eu acho o seguin
te / eu acho que a viol~ncia que tá havendo aqui de~
tro ela começa lá fora j ela começa lã fora
também acontece aqui dentro.
- Morro do Macaco Molhado.
H. Agora a gente vai começar / hoje a faze~ reunlao cem
o turno inteiro e o assunto que vai rolar mais for-
temente / evidente / que ê isso agora eu acho J ag~
ra o que eu acho é que a gente tem que fazer uma
reunlao com voces e que todos voc~s tenham chance~
dizer isso de falar e de buscar um caminho melhor/
entendeu?
- Da TV Manchete / da TV Rádio Globo / a gente vai fa
249
lar corno é o nome dessa professora / moça como é o
nome da senhora?
E. - Meu nome é Elis-a.
- D. Elisa o que que a senliora acha dessa conversa com
a professora diretora?
E. - O que eu acho do que? D. Helena? Eu acho a Helena
urna pessoa muito interessada pela escola / tá sem
pre presente se compromete com tudo que a gente pr~
cisa aqui prá resolver enfim / é urna boa diretora.
- E a D. Sheila?
E. - Sheila também é urna pessoa comprometida com a esco
la / sempre presente atua aonde é possível atuar /
de urna ma~eira geral/eu acho que os funcionários
gostam de trabalhar aqui e fazem o melhor possível/
agora é claro que tem muita coisa prá melhorar tem
muita coisa prá mudar.
- Brigado, brigado ... Da Rede Globo I tá faltando/tá
faltando ... Seu Marcos, o que que o senhor acha~
sa reportagem da violência na escola? F2la seu no
me primeiro.
M. - Meu nome é Marcos e eu acho que a violência não tá
com nada acho que tem que resolver as coisas no diá
logo e a gente tem que proteger os menores.
- Que tal urna reun1ao igual a gente tava falando a
qui que vai ter urna reunião agora / os alunos sobre
essa violência?
250
M. Eu acho ótimo porque eu acho que so os alunos podem
M.
resolver esse problema.
Se a gente vai vim 9râ escola a gente vai vim estu
dar e nio bagunçar.
- Perfeitamente, a escola é um espaço prá brincar e
prá estudar, não piá zoar, nio é prâ s.air na porrada.
- Anotado seu Marcos, falando com a Rede Globo Nacio-
nal. Adeus.
- (Seu nome é ... ).
- Francisco Macedo Neto.
-(Obrigada pela entrevista que voce me deu.).
- De nada.
- (Quem teve a idéia de fazer essa entrevista?).
- Eu, Francisco.
(Voc~ que bolou ~udo~ fez essa cimera.).
- Foi sim senhora.
- Não foi outro ga •..
- Não foi eu, não vem que nao tem.
(E o Brother tambêm participou da idéia?l.
- Não ele participou só agora na hora de falar porque
eu chamei ele porque não tinha nenhum locutor -pra
poder falar nem levar minha cimera, minha cimera ...
(Voc~ sabe que iS50 já aconteceu nessa escola há ai
guns anos?).
Sei sim sennora.
(E sabe quem fez esse tipo de ... ).
- Quem?
- (O Alexandre Trigueiro, você conhece ele?).
251
Nio senhora, mas eu gosto muito dessa escola por is
so que eu fiz isso.
- (Você tã querendo resolver os problemas da escola?)
- Tô sim senhora, tô sim senhora.
(Ta obrigada Francisco.).
•
A N E X O VI
FALAS SOBRE OS TEMAS
1. SITUAÇOES MATEMÁTICAS
Foram realizadas uma ou duas sessoes em cada tur-
ma, num total de nove. Destas foram selecionadas duas: uma
com a participação da pesquisadora e outra sem esta parti
cipação. Os problemas propostos variaram a temática de a
cordo com o grupo. Alunos e professores não foram identi-
ficados, apenas sao diferenciadas suas falas pela inicial
de seus nomes. As professoras presentes contribuiram dia-
logando nos momentos em que desejaram. As situações foram
propostas pela pesquisadora. Os encontros ocorreram em
plena mudança do cruzado para o cruzado novo.
Turma da Professora J.
Professora T. - Um gari recebe vinte cruzados novos por h~
ra extra / se ele fizer num dia três horas
extra I quanto receberá?
A - Sessenta.
-PROFESSORA T. - Todos concordam? Como voce fez pra chegar
a essa resposta?
M1 - Chegou ã conclusão / ah / só ele pode res
ponder né?
A - Fazendo a conta.
PROFESSORA T. - Que conta você fez?
253
A De mais j vinte mais vinte maIS vinte.
PROFESSORA T. - E se ele ficar quatro dias fazendo as tres
horas extra?
A - Ah j entendi.
AM - Num dia fazendo só três horas extra / a se
nhora tâ contando o mes todo?
PROFESSORA T. - Não / quatro dias J ele pegou quatro dias
e fez três horas extra.
AM - Quatro dias fazendo três horas extra.
PROFESSORA T. - E j dois dias dá cento e vinte J certo?
A - Dá duzentos e quarenta.
PROFESSORA T. - O gari encontra a menina que ele quer namo
rar e ela topa sair com ele / prá lanchar
no Mc Donalds J quanto ele teria que levar
-pra lanchar com a menina?
AM - Uns quinze tá bom.
PROFESSORA T. - Quinze tâ bom J e o que ele ia fazer com
esses quinze?
AM - Ah J ele ia gastar e ia sobrar troco ain-
da.
PROFESSORA T. - O que ele ia comprar?
AM - Quinze cruzados novos.
PROFESSORA T. - Tã / e o que ele ia comprar com esse di-
nheiro? Ele tem que gastar essa grana to
da? Vai levar essa grana prá gastar toda.
254
AM - Ele ia chegar ... Cinema I e aí ...
PROFESSORA T. - Ele ia no cinema J tã J então ele ia gas-
tar no cinema?
AM - Me dã uma pipoca I dã uma pipoca.
PROFESSORA T. - Ia gastar no cinema I na pipoca ...
A - Inão compreensível I
PROFESSORA T. Quanto que é a pipoca I quanto que é o 'ha~
burguer J quanto que é o cachorro quente I
quanto que é isso I quanto que é aquilo I
até chegar aos quinze?
A.M - O cinema e dois sacos de pipoca I o saco de
pipoca ê um barão.
PROFESSORA T. - Um barão o saco de pipoca?
AM - ~ J caro I caro prã caramba.
-PROFESSORA T. - Caro pra caramba ...
AM - Dois sacos de pipoca deu dois barões I che
gou lã J aí chegou I chupou uma bala de ho.!:,
telã I drops I aquela bala drops é trezen
tos I' cabou de ver o filme e foi pro ...
PROFESSORA r. - Quanto ê que ele gastou até aqui?
AM - Atê aqui ele gastou dois e trezentos I com
dois sacos de pipoca J um J a bala halls
trezentos.
PROFESSORA T. - Aí ele foi pro Mac Donald I mas pois é I e
o cinema? Ele não pagou o cinema?
255
AM - Ih / é / ele pagou o cinema / cinema e mil
e quatrocentos.
PROFESSORA T. - Então vai aí / mil e quatrocentos / tô a
chando esse cinema barato ...
AM - Dois é dois mil e oitocentos.
PROFESSORA T. - Barato esse cinema / onde que é heim? Acho
que eu vou lã de vez em quando.
AM - Todo cinema é assim mesmo / dia de semana
é setecentos.
PROFESSORA T. - Bom / e aí?
AM - Ele saiu aí perguntou / quer almoçar ou que
ir ao ROD's / ela falou / vamo pro Bob's.
PROFESSORA T. - Ih J ela nao quis almoçar não?
AS - De noite almoçar?
AM - Jantar / não quis nao.
PROFESSORA T. - Aí ele foi pro Bob's.
AS - De noite almoçar?
AM - Janta~ / aí ela foi / comeu um Big Bob's /
mil e duzentos / ele também comeu um Big
Bob t s e ela tomou um milk shake de morango/
setecentos / ele pagou também um milk shake
de morango e um copo de fri tas / batata fri
ta j batata frita é mil/dois copos de ba
tata fritas.
PROFESSORA T. - E aí / quanto é que ele já gastou aí?
256
AM - Então no Bob's ele gastou ... Deixa eu fa
zer a conta aí ... Cinco mil e seiscentos.
PROFESSORA T. - Isso ele gastou.
AM - No Bob's.
PROFESSORA T. - E ao todo? Cinco cruzados e sessenta cen-
tavos no Bob's / o cinema / a pipoca e a
batata.
AM - Dois e oitocentos.
PROFESSORA J. - Três é embaixo de onde / embaixo do dois?
AM - Esse três aqui é embaixo do dois?
-PROFESSORA J. - Nâo / é trezentos.
PROFESSORA T. - ~ três mil ou trezentos?
. AM - ~ trezentos.
AS Então é embaixo do dois.
PROFESSORA T. o dois é o que? Aqui 6 / dois mil e oito
centos e aqui é trezentos / esse aqui / três/
fica aonde?
AS Vai ficar no meio.
PROFESSORA J. - Embaixo do oito / três é embaixo do oito /
é um / mais dois / mais dois / mais dois.
A Forma outro aí I outra conta do lado.
PROFESSORA T. - Só que assim como você fez é oi to mais trin
ta / aqui / aqui Vlrou trinta não é não?
Esse zero aqui / como é que fica?
257
AM - Mas ...
ele .. ... so que vem pa ca.
PROFESSORA T. - Tem / até ~
/ tudo certo / ~ bo aI mas voce aI
tou trinta / oh ..
so.
AM Esse 4' tã - zero aI nao nao.
PROFESSORA T. - Esse zero aí não I não vale / ah / então
tã / então voc~ sabe que deu cinco cruza-
dos e dez centavos que ele gastou no cine-
ma / cinco e sessenta que ele gastou no
Boh's e quanto é que ele gastou ao todo?
AM - Ao todo ele gastou dez mil e setecentos.
PROFESSORA T. - Tã legal I só que ele nao gastou os quinze
cruzados / então como seria prã ele gastar
os quinze cruzados? Não tem mais nada?
Soórou quanto?
AM - Dez e setecentos / ele tem quatro e trezen
tos.
PROFESSORA T. - Como você descoóriu quatro e trezentos?
Fez a conta?
AM - Eu sei fazer a conta.
PROFESSORA T. - Fez assim de cabeça?
AM - Às vez eu uso as mao / só quando eu preci-
so mujto.
PROFESSORA T. - Aí você usa as maos / tã legal / e essa aí
é fãcil fazer de cabeça I você somou dez e
oitocentos mais quinze.
258
AM - Não eu tirei.
PROFESSORA T. - Bom I aí então ele ainda tem quatro e tre
zentos pra gastar I e aí? Faz a festa ra-
paz / aproveita / cheio de dinheiro / vai
sonrar / como é que vai ser?
AM Aí ela vai comer mais um Big Bob's.
PROFESSORA T. - Mais um Big Bob / sua namorada era gorda?
AM - Não ela tava com fome ela.
PROFESSORA T. Ela tava com fome e vai dar quatro e trin-
ta mais um Big Bob?
AM - Não J ela comeu mais um Big Bob's e ele tam-
bém J ele comeu ..•
PROFESSORA T. - Ele comeu mais / voce também comeu mais?
AM - Ele comeu uma batata frita / deu dois e du
zentos.
PROFESSORA T. - Dois e duzentos / então ainda sobrou di-
nheiro.
AM - Aí sobrou dois e cem.
PROFESSORA T. Sobrou dois e cem.
-AM - Quinhentos ele tira pra passagem.
PROFESSORA T. - Ah quinhentos ele tira pra passagem mas qu~
nhentos dá prá passagem?
AM - Sobra cem.
PROFESSORA T. - Vocês ao cinema de ônibus e nao volta pro
259
casa?
AM - Volta né / comprei duas passagem oitocen-
tos de passagem.
PROFESSORA T. - Ainda sobrou dinheiro.
AM - Ainda sobrou um e trezentos.
PROFESSORA T. - Sobrou mil e trezentos.
AM - Mil e trezentos ele bebeu um milk shake de
morango druplo.
PROFESSORA T. - Duplo? -Quanto e que custa?
AM - O druplo é mil e duzentos.
PROFESSORA T. - Então sobrou alguma coisa ainda?
AM - Sobrou cem.
PROFESSORA T. - E aí o que que ele fez com esse cem?
AM - Chupou bala.
PROFESSORA T. Tâ legal/então ele gastou bem os seus qui!!.
ze cruzados / me convida da próxima vez ...
Mas se ele tivesse que fazer hora extra prâ
arranjar esse dinheiro?
AM - Se ele fosse fazer hora extra.
PROFESSORA T. - QuanTas horas ele teriR que trabalhar -pra
arranjar esse dinheiro todo?
A - Quantas horas ele tinha que trabalhar? A
senhora me pagaria quanto cada hora?
PROFESSORA T. - Vinte cruzanos novos.
260
A - Vinte cruzados novos / prá arrumar quinze
cruzados / deixo cu ver vinte e quatro ho
ras é um dia e uma noite nê?
AM - Três noras ele arruma sessenta.
AS - Seis noras ele arruma noventa.
PROFESSORA T. - Seis horas ele arruma noventa?
A - Cinco noras eu arrumo mais.
PROFESSORA T. - Cinco horas você arruma dez cruzados? Uma
hora custa vinte cruzados.
A - Ah / uma hora / uma / duas / duas / três /
quatro / cinco.
AS - Cinco horas / cinco horas.
PROFESSORA T. - O que você fez Anselmo?
A - Botei vinte vezes cinco / entendeu.
PROFESSORA T. - Por que vinte vezes cinco?
A - Bateu na minha cabeça que eu faço issol aí
eu peguei certo / eu contei 55 os dois /
dois / dois / dois / dois / aí deu certo /
depois botando com os zeros / deu dez en
tão deu errado a conta / então o certo mes
mo ê assim / quarenta / oitenta / noventa/
cinco horas dá noventa.
PROFESSORA J. - Oitenta mais dois.
A - Noventa / cem / cinco horas dá cem_
261
-PROFESSORA T. - Mas eu so preciso de quinze cruzados nao
precisa de cem.
A - Ah a Sra. só precisa de quinze cruzados eu
-so preciso de quinze cruzados.
PROFESSORA T. - E a hora extra custa vinte cruzados.
A - Então calma aí / então eu tenho que traba
lhar quinze cruzados é? Então eu tenho que
trabalhar só meia hora / uma hora e divi-
dir ela e meter o meio.
PROFESSORA T. - Uma hora custa vinte cruzados / meia hora
custa quanto? Metade de uma hora custa qu~
to?
A - Metade de uma hora? E meia hora certo?
Então é dez.
PROFESSORA T. - E dez legal / e aí prá· eu saber quanto -e
que eu ...
A - Que a Sra. quer quinze mil cruzados certo?
PROFESSORA T. - Quero quinze cruzados.
A - Não quer trabalhar uma hora.
PROFESSORA T. - Não eu vou ganhar vinte eu só quero ganhar
quinze.
A - Aí a Sra. tem que dividir o vinte.
AS - Vinte menos quinze.
A - Vinte menos quinze como assim?
PROFESSORA J. - E aí Amauri?
262
H - s6 se pegar quant07
PROFESSORA T. - Eu sou preguiçosa só quero trabalhar prá
quinze.
AS - Zero menos cinco igual a cinco / dois me-
nos um igual a um correto? Tô certo ou tô
errado.
-A - Errado amigo como e que pode tu botar o
cinco.
AS - Zero menos cinco / dois menos um
PROFESSORA T. - E isso mesmo.
AM - Vinte centavos a Sra. fala duzentos nê?
PROFESSORA T. - Você diminuindo o quê? Não vinte centavos
vale vinte cruzados.
AM - Vinte mil cruzados?
AS - Eu tô diminuindo o vinte menos quinze.
PROFESSORA J. - Mas aí o dois não emprestou ao zero / nao
fica dez.
AS - Então vai dar cinco.
PROFESSORA T. - Duas notas de dez.
-AM - Eu na minha cabeça trabalhava pra ganhar o
quanto eu quisesse.
A - Agora deu quinze.
PROFESSORA T. - Lê o que você fez J fala o que você fez.
A - Você lê o que nao tem nada prá ler I dois
263
certo? Vou mostrar prá voces j tá vendo
aqui? Ti re i um bote i aqui aí ficou dez cer
to / dez tira cinco fica cinco / botei cin
co aqui já tá certo agora um daqui tira um
fica quanto / fica um.
PROFESSORA J. - Nenhum / você tem uma bala e chupa uma fi
ca com quanto? Fica com uma bala?
A - Mas olha aqui gente tem um aquI.
PROFESSORA J. - Que tem um j poe o dedo.
PROFESSORA T. - Você n.ão emprestou um prá lá?
A - Tinha dois eu emprestei um pro lado / ago
ra um.
PROFESSORA J. - Tira um / tira esse um / fica quanto?
A - Tirou esse debaixo amiga / vai tirar es
se daqui de baixo.
PROFESSORA J. - Então fica quanto?
A - Vai ficar nada.
AS - Aí já somei / somei minha conta desse jei
to ê zero menos / cinco menos zero pedi em
prestado ao cinco vou pedir emprestado um
ao cinco / o cinco fica valendo de quatro
e o cinco.
PROFESSORA T. - Ih emolou tudo.
AS - Ih elP.holei tudo / eu somei.
A - Tem que contar a hora / a hora que vai dar.
264
PROFESSORA T. - Eu quero ganhar quinze cruz. / uma hora cus-
ta vinte.
A - Uma hora / sao sessenta / sao seis homs de
trabalho.
PROFESSORA T. - Não uma hora sao sessenta minutos / é uma
hora de trabalho.
A - Dividir sessenta minutos / um / dois/três/
quatro / cinco / seis / sete / oito / novel
dez / onze / doze / treze J quatorze Jquin
ze J dezesseis J dezessete J dezoito / de-
zenove j vinte / puta que pariu / vai con-
até trinta depois ~
cinquenta até tar ate
sessenta j agora sim / agora a conta vai
ficar certa / a Sra. vai / oh. só uma hora
são sessen ta minutos a Sra. quer ganhar quin
ze cruzados só / uma hora são vinte cruza-
dos / a Sra. não quer vinte cruzados -so
quer quinze cruz / então / prá Sra. dar es
ses quinze cruz a Sra. tem que trabalhar
metade de sessenta minutos.
PROFESSORA T. - Tá aí eu vou ganhar quanto?
A - Metade de sessenta minutos / a metade não/
a Sra. vai trabalhar mais um bocadinho que
a metade / isso aí / a Sra. vai -trabalhar
trinta e cinco / não é quarenta nao calma ... aI.
AM - Não quarenta e CInco J aí Amauri acertou
265
quarenta e cinco minutos.
A - Quarenta e cinco minutos J se a Sra. quer
rangar J prá Sra. ganhar os quinze cruza
"dos.
PROFESSORA T. - Se após o lanche ela tivesse convidado o
Amauri prá ir lá na casa dela / quanto a
mais de dinheiro .ele precisaria? Ah mas
aí ele já foi / já foi / já foi / já pagou
a passagem / vamos pro outro... Ele re-
cebeu quarenta cruzados prá comprar rou-
pa ... O troco tem que ser o menor possí
vel.
A - Ele pode passar dos quarenta também.
PROFESSORA T. - Não só tem quarenta.
A - Só pode gastar só os quarenta / com essa
compra todinha a Sra. quer que some e quan
to vê que vai dar embaixo.
PROFESSORA T. - Não sei J ele pode não querer comprar algu
mas coisas / ele pode querer comprar tudo/
pode 'querer comprar... Depende / ele tava
precisando de algumas coisas J eu vou fa
lar urna coisa.
A - E se passar dimnói prá ficar só os quaren
ta.
AM - Diminói? (risos).
A - Diminuir J tirar quero dizer.
266
PROFESSORA T. - Dá prá mIm comprar uma televisão com qua-
renta cruzados} então •.. Ele ia comprar
roupa e ele viu esses preços aí / ele ti
nha quarenta cruzados prá fazer isso.
A - Três vezes se is j sete / oi to / nove / dez/
onze ...
AM - Deu vinte e seis e cinquenta.
PROFESSORA T. - O que que ele comprou?
AL - Ele comprou tudo.
A - Não mas ela quer que dá a conta certinha
do / do j do ..•
PROFESSORA T. - Deu vinte e seis e cinquenta? -Mas so que
vai sobrar muito troco / quanto ~ que vai
sobrar de troco?
A - Então vai sohrar o que / uns cinco mil e
pouco ou mais ou menos.
PROFESSORA T. Vinte seis cinquenta - vai - e e quanto e que
dar de troco / ele tinha quarenta.
AM- Ele t.inha quarenta gastou quanto?
PROFESSORA T. - Ele tinha quarenta ele achou ... O que que
- fez aí? Que voce conta você fez? Que con
ta fez ... / hem Andr~? voce aI
A - De mais.
PROFESSORA T. - De mais / então tá j ele fez uma conta de
mais j ~
/ ~ ele achou vinte seis e aI e aI e
267
cinquenta / quanto é que ele receheu ~ tro
co? Ele deu os quarenta lá prá pagar/quan ..
to e que ele recebeu de troco?
A - Ah calma aí / então pô / calma aí / eu con
tando só aqui oh / de um lado só / deu vin
te e ... Vinte e um ou vinte e dois pô.
PROFESSORA T. - E aí J deu quarenta e seis.
AM - Sobe dois? Sobe dois.
PROFESSORA T. - Deu quarenta, e seis / por que sobe dois?
AM - Sohe o quatro.
PROFESSORA T. - Por que que sobe o quatro?
AM - Quarenta e seis sobe o quatro o seis dá
sessenta / aí / até agora / tá dando ses-
senta.
PROFESSORA T. - Como ê que voce fez esse nove e oitenta -e
o que?
AL - Nove e oitenta é a blusa.
PROFESSORA·T. - Duas blusas / tá legal / e esse nove e no-
ven ta'.
AL - Uma calça.
PROFESSORA T. - E esse oito e noventa.
AM - Uma bermuda.
PROFESSORA T. - Bermuda dá oito e noventa / bermuda era cin
co e noventa.
268
AL - Só que eu comprei um pouco mais cara o pa-
no era um pouco melhor.
PROFESSORA r. - E esse quatro e noventa I peraí I peraí I
como e que voce fez? Vem ci I me explicaL
AL - Esse quatro e noventa foi quatro cuecas.
PROFESSORA r. - Você comprou quatro cuecas I cinco e noven
ta ...
AL - Cinco e noventa foi um camisetinha pro meu
lrmao simples.
PROFESSORA r. - rã -e seis e noventa.
AL - Seis e noventa foi um sapato.
PROFESSORA r. ri.
-AH - Quarenta e sessenta centavos ne.
PROFESSORA r. - Ih I mas aí sobrou sessenta centavos.
AM - Sobrou ou faltou?
PROFESSORA r. - Sobrou sessenta centavos I quer dizer I s~
brou não passou dos quarenta I sessenta cen-
tavos e dos quarenta e nove e vinte voce
pode comprar? Você só tem quarenta.
AL - Não.
... PROFESSORA r. - Então o que voce teria que fazer aI pra vo
cê ter só quarenta?
AL - Vou ter que tirar umas coisa.
AM - Uma coisa só pri ele tirar.
269
PROFESSORA T. S s6 tirar uma coisa?
AM - Mas não vai dar os quarenta certo.
PROFESSORA T. - Mas aí J eu acho que é um troco pequeno J
quinhentos / bom tudo bem esse aí eu já to
satisfeito acho que voc~s já chegaram per
to.
Segue registro dos alunos feitos durante as atividades aCl
ma.
;-, ,
/ I
V
---.-----..::
270
RegiStros efetuados para
o problema de sair com
a namorada.
271
I rJ) - o ro 'fi ~
o ~
rJ)
o rJ)
'"d ro Ctl '"d :l .j...J ro
\ -_ .. --~ ... (!) S l.H (!) (!) r-1
.o rJ) o o ~ ~ p.
.j...J Cf;
rJ) o C": .,.... ~ b.O (i) .... (!) ~ x
o:: ~ Q
~/
)~o ';j~o
'1 ~o b 70
).; 1J'c ~'3~ '~G o
, .,
Registros efetuados para o
problema das horas-extras.
2_..., í ~
273
Turma das Professoras C. e S.
(Esse encontro foi realizado na Sala de Leitura. Estavam
presentes as professoras C., S. e R. além dos alunos das
professoras C. e S. A Professora R. era a responsável pe-
lo trabalho na Sala de Leitura. Havia um grupo de seis en
graxates na turma).
(Um homem muito bem vestido senta para engraxar o sa-
pato I se o engraxate cobrar dele um cruzado e cin-
quenta centavos J e se o homem der a ele uma nota de
dez cruzados I quais notas o engraxate vai ter que de
1 - ?) vo ver pra ele ..
A Oito I oito mil/duas de quinhentos.
- (Pode dar de outra ferma?).
A Pode / quinze de quinhentos.
(Quinze de quinhentos J so quinze de quinhentos? Me
diz como você pensou.).
A Pensei assim I se dá oito mil/aí dá / tira um cruza
do / troca duas de quinhentos / quatro notas de um dá
seis notas / dá seis notas de quinhentos.
(Vocês concordam que quatro notas de mil dá seis no-
tas de quinhentos?).
F - Dá quatro.
MS - Não / dá oito.
- (Como é que você fez isso?).
MS - Trocando / contei na cabeça / dois três quatro / dá
oito.
(Dá oito / então e aí? Oito prá quatro mil.).
MS - Junta oito com mais quatro / dá dezesseis / dá oito
notas de quinhentos / então oito mais oito dá quanto?
Dezessete notas de quinhentos.
- (Porque dezessete?).
MS - Oh / oito mais oito e dezesseis / dezesseis com mais
um dá dezessete.
(Concordam com ele? Então deu dezessete notas de qu~
nhentos / tem outro jeito que daria?).
A - De cem.
-M - Um cruzado agora e dez centavos) dez notas de dez cen
tavos.
- (Tã distraído / quanto ele Lem que devolver mesmo?
Oito cruzados e cinquenta eles disseram que pode dar
oito notas de mil e uma de Quinhentos ou então dezes-
sete notas de quinhentos / que mais pode ser?).
A - Notas de cem.
(Notas de cem).
A - Oitenta e uma notas de cem.
(Vocês concordam?).
F Não / oitenta e cinco.
- (Aí eu concordo tamhém / só nota de cem? E se fosse
nota de cinco?).
275
A - Cinco mil?
- (Dava prá dar quantas?).
A - Dava uma e tr~s de mil e um de mil J tr~s e quinhen-
tos / três cruzados e cinquenta centavos.
(Se ele fosse pagar seIS graxas / quanto seria o tro-
co?) .
JA - Cada engraxada é quanto?
- (Cada engraxada é um e cinquenta.).
JA - E quatro e cinquenta tr~s graxas.
- (Três graxas J quero saber seis graxas.).
A - Dá dez cruzados.
- (Todo mundo concorda.).
A - A um e cinquenta dá dez.
-(Quantas notas ele teria que dar pra seis graxas de
um e cinquenta?).
A - Dava uma de dez.
- (Dava uma de dez e resolvia o problema? Dá dez / va-
mos verificar / tomo é que você encontrou esse dez?
Conta prá mim.).
F - Dá nove professora.
A - Contando no dedo J duas dá três mil/quatro dá seis
mil/com três / dez J não peraí I nove barão.
- (Outra / chega a namorada do engraxate / e combina de
276
i r c o mel e 1 o g o mal s p a s s e a r e 1 a n c h a r no r-Ic Dona 1 d f S /
quanto ele teria que levar prá lanch.ar com a namorada?).
E - Dez mil prá gastar com a namorada dá?
- (Dá prá comprar o que com dez cruzados?).
A - Ah / dá prá comprar dois cheeseburguer e duas laranj~
das.
E -- O pior que e.
- (Só dá prá isso?).
E - E ainda sobra troco / quanto tá um cheeseburguer?
JP - Acho que é um e duzentos.
- (Dois cheeseburguer entio ... ).
A ~ um e seiscentos.
E - E ainda sobra troco.
- (Quanto tã um cheesehurguer?).
JP - Acho que ê um e duzentos.
- (Dois cheeseburguer entio ... ).
A - ~ um e seiscentos I dá três e duzentos.
- (E um e duzentos ou um e seiscentos?).
A Três e duzentos / mais as duas laranjadas.
- (Quanto é as duas laranjadas?).
JP - E trezentos e cinquenta.
A - Só se for de água.
- (Duas laranjadas.).
277
E - Seiscentos J não I setecentos.
(Duas laranjadas com mais os três e duzentos que ele
j ã tinha dado.).
E Sete e sete são catorze I sao mil e quatrocentos.
JP - Não I três e novecentos professora.
- (Cada um dá trezentos e cinquenta.).
JP - Então dá setecentos.
- (Com mais o cheeseburguer.).
JP - Com mais os dois cheeseburguer ) é / dã ...
- (Quanto era os dois cheeseburguer?).
A - Três e duzentos.
JP - Dã três e novecentos.
(Então) dez mil / e aí faz mais o que?).
E - Ah I a passagem do ônibus.
- (Quanto é a passagem?).
E - Duzentos.
JP - Quatrocentos as duas.
- (Quatrocentos duas) com três e novecentos ... ).
E Dã quatro e trezentos / aí volta prá vir embora / prá
engraxar de novo.
- (Ele falou que levava dez / mas até agora ele so con
seguiu gastar três e novecentos / o resto fazia o que?)
E - O resto vinha prá passagem I gastava quatrocentos de
278
passagem depois deixava a namorada em casa e la -pra
sua casa I gastava mais duzentos.
(Dez mil I ti sobrando I quanto ia sobrar?).
A Deu quatro e trezentos I dez mil I sobrava cinco e se
tecentos.
(Quan tas graxas e le ia te r que faze r então pra sair cor.:
, ?) a namor aua . .
E - Dez graxas a mil cada.
- (Ele só vai gastar quatro e trezentos.).
A Aí ele não tinha que levar I certo? Tinha que levar
mais ...
E Quatro I quatro nao I cinco graxas I fazia Clnco gra-
xas e sobrava setecentos cruzados.
A - Mas podia ...
(Cinco graxas no total I e se deJ)ois do passeio ela
convidasse ele -pra ir na casa. dela I quanto mais ele
precisaria?).
J Mais quatrocentos I mais cinco barão.
F - Mais dez mil.
(Porque mais Clnco Zé?).
J - Imagina que na casa dela ele vai so comprar cerveja ...
(Tem que ter dinheiro pra cerveja e a passagem ... ).
JP - A passagem ji ti lã.
- (Quer dizer que ele prã não passar vergonha com a ga-
rota ele precisa de quanto?).
JP - Vinte mil basta.
A Vinte e cinco mil.
E - Trinta mil.
- (E você Francisco?).
F - Seiscentos pri ir no hotel I um hotel especial.
E - Ih I não arruma isso nem num mes.
F - Eu arrumo I eu arrumo I maluco.
E - Vai roubar.
279
A - Que roubar o quê I eu pego um gringo J aí estourou o
coração dele rapi J isso é roubar? Isso é roubar?
Eu cobro de quem tem I cobro cinquenta mil I se tiver
piranha do lado dele J aí ela atrasa o lado da gente!
aí ela não deixa ele pagar isso nao.
E - E ela come o dinheiro dele.
A - Outro dia eu cobrei foi cinquenta dólar ao gringo Ime
deu ainda I me deu mais um dólar mas só que eu fui 0-
tirio I perdi o dólar I sapato dele I branco.
E - Li em Copacabana é assim I os gringo passa I aí os mo
leque vai I suja o sapato deles aí ...
A - Aí botei o dólar amarrado na bermuda J perdi o dólar
aí I perdi I puxa.
- (Quando você ganha dólar I você troca como?).
E - Eu troco com os garçom I o garçom troca prã gente/ m~
280
- -so que eles nao paga o preço / eles paga menos.
MS - Ajunta e troca no banco.
E Mas s6 que com o garçom ~ ripido.
A - Se o dólar ~ mil/mil e quinhentos J ele para mil e
duzentos.
F - Ti quanto o d6lar agora?
E - Três mil.
A - Então ele vaI querer pagar dois e quinhentos / que e-
le come n~?
- (O que voce fala com o gringo?).
J - Vou fazer xinxai ) sahe o que ~ xinxai?
- (Agora atenção) um trabalhador deseja comprar um ra
dinho I ele acabou de receber o salario I ele poderia
comprar o ridio de uma vez?).
JP - Mas depende do salirio dele ) de quanto que ele ganha.
- (Vamos dizer ... Um salirio mínimo.).
JP - Salario mínimo não di não / ti oitenta e pouco / nao
ta tia?
- (Ta.).
JP - Não ta oitenta e ..•
- (Oitenta e um.).
JP - Oitenta e um e quatrocentos.
- (Quanto ~ um radio?).
MS - Quatrocentos não / quarenta centavos.
281
- (Quanto ~ um r~dio?).
E - Gravador?
F - Ih / cento e tal I cento e noventa J um r~dio-gravador.
MS - T~ nada.
A - R~dio-gravador ~ cento e setenta.
JP - Dependendo da loja I tã.
(Como é que ele poderia comprar entao j~ que ele -nao
poderia comprar de uma vez / como € que ele poderia fa
zer?) .
E Ã prestação j tia.
- (Mas como € que faz a prestação?) .
JP - E pagar em três vez J três vez.
- (Três vezes dava prâ ele pagar?).
JP - Dava.
(Quanto € que ele teria que pagar?).
3P - Sessenta / setenta.
- (Sessenta?).
MS - Nio / era mais que era prestação.
-- CE a~ quanto seria?).
MS A prestação eles cobra mais.
JP - ~ / eles cobra mais / quanto que € o r~dio?).
MS - O rádio era cento e setenta.
JP - Então cento e setenta / ele ia pagar duzentos né?
282
MS - E uns duzentos.
E E J uns duzentos e cinquenta.
JP - Ã prestação é duzentos e cinquenta.
MS - Ã vista é que é cento e setenta.
-(Mas corno e que calcula esse a mais que tem que pagar?).
JP - Aí deixa eu dar ...
MS - Uns dez por cento a maIS.
- (O que o cara disser tá bom ... O dono da loja diz/e~
tão é trezentos / você paga?).
JP - Não / aí já eu não pagaria né?
E - Trezentos mil?
JP - Aí eu furava o crédito J comprava ...
- (Mas tem gente que compra e não recebe também J tem.~.
Ele pagou já ... ).
- INão compreensível I .
- (Mas aí corno é que calculava a prestação / quer dizer /
ele coloca um a mais não é / e depois corno e que calcu
la a prestação?)"
JP - Aí e com eles lá né? Ele bota J deixa eu ver J tem que
botar prá duzentos né? Vamos supor / duzentos / o ca
ra deve pagar por mês um juro né? Com juro deve dar
uns setenta.
- (Setenta.).
JP - Três vezes dã.
283
(Tr~s vezes d~ quanto? Setenta J tr~s vezes?).
JP - Setenta dá ...
-(Pode escrever no papel se voces quiserem pra fazer o
cálculo.).
JP - Setenta J tr~s vezes.
- (Cento e oitenta? Como é que voc~ calculou isso?).
JP - S duas vezes setenta / di cento e ... Quarenta / cen-
to e quarenta mais um cento/e ... Sessenta.
- (Cento e quarenta botando mais um de setenta.).
AP - Já nao botei não?
E Dá duzentos e trinta.
- (Ele calculou que era cento e quarenta / duas de se-
tenta / todo mundo concorda?).
A Eu concordo_
E - Três vez dã duzentos ~ trinta.
JP - Mais uma di ••.
E - Duzentos e ~rinta / duzentos e trinta.
JP - Setenta dã •••
PROFESSORA S. - Duas de setenta dá cento e quarenta / ago-
ra bota mais uma de setenta.
JP - Mais uma de setenta?
E - Duzentos e trinta.
PROFESSORA S. - Dá du=entos e dez.
284
(Duzentos e trinta ou duzentos e dez?).
E - Conta aí / a minha tá certa.
(Voc~ pegou cento e quarenta e botou mais uma de se
tenta?) .
E - Botei.
- (Como voc~ fez isso?).
E - No papel I duzentos e trinta oh.
(Como é que vamos decidir isso aí / duzentos e trinta
ou duzentos e dez?).
E - Duzentos e trinta.
JP - Duzentos e dez.
(Ele já calculou duzentos e dez I só voce que tá cal
culando duzentos e trinta I como é que voc~ chegou a
duzentos e dez?).
JP - Duzentos e dez.
- (S6 que ele tá falando duzentos e trinta I como é que
voc~ achou esse duzentos e trinta?).
E - ~ duzentos e dez.
- (Tem certeza? .. Se ao jogar no bicho lo trabalhador
desse tr~s cruzados e cinquenta centavos ao jogo e g~
nhasse sete vezes o que ele jogou I quanto receberia?).
JP - Deixa eu ver ... Mil dã dezoito I dezoito mais duzen
tos e setenta e seis.
- (Quanto é que ele vai receber?).
285
J Vou fazer a conta / ganhou cento e cinquenta.
(Ganhou cen to e c inquen ta o que? Cento e cinquenta cru
zados? Não acha que é muito não?).
J - Três mil e quinhentos?
- (Três mil e quinhentos.).
J - Aí / tã / cinco mil e quinhentos.
E - Isso aí tã errado.
- (Achei que você / tã lendo.).
J - Ele jogou três mil e quinhentos e ganhou quanto?
(Ele jogou três mil e quinhentos e ganhou sete vezes
o que ele jogou J sete vezes / tenta Francisco ... Vin
te e cinco? Vinte e C1nco cruzados? Todo mundo con
corda que ele ganhou vinte e cinco?).
MS - Aqui.
(Ele achou vinte e quatro e cinquenta J você achou quan
to?) .
J - Não entendi o que a senhora falou.
- (Ele jogou três e cinquenta e ganhou sete vezes o que
ele jogou.).
J Eu achei vinte e cinco.
(Ele achou vinte e cinco e ele achou vinte e quatro e
cinquenta / e você / professora / pãra de ajudar J d~
zessete e cinquenta? Como é que você 2chou dezessete
e cinquenta?).
286
E - Contando.
- (Contando como?).
E Três e três I seis I com cinquenta de cada I um I dá
sete.
- (Tá / dá sete J e ai?).
E Aí sete e sete sao quatorze.
- (Sete e sete sao quatorze.).
E Então dá vinte e oito.
- (Já contou quatro vezes.).
E Vinte e oito / hem? Dá vinte e oito.
- (Quatro vezes.).
JP - Sessenta e tres.
PROFESSORA R. - Três J se't:e vezes deu vinte e um / ele so
mou I achou cinquenta ~ seis e não quarenta e seis.
- (Ele achou quanto').
PROFESSORA R. - Cinquenta e seis I porque?
(Mas peraí I esse trinLa e cinco nao é trinta e CInco
cruzados I porque esse cinco é cinco centavos I es
ses vinte e um I ê vinte e um cruzados I esse trinta
e cinco não é trinta e cinco cruzados.).
PROFESSORA R. - Seria isso?
- (Não faz a conta yrã ele.).
PROFESSORA S. - Monica J olha aqui I eu acho que ele tem
uma solução certa também / vê o que ele fe3.
287
JP - Sessenta e tres.
A Cento e vinte e oito.
(Ti correto j s6 que esse trinta e cinco n~o ~ trinta
e cinco ~ três e cinquenta / s~o sete vezes cinquenta.)
PROFESSORA R. - você tem certpza?
PROFESSORA S. Olha a solução dele aqui.
- (Você achou quanto?).
A Cento e vinte e oito.
JP - Eu achei sessenta e três.
- (Como você achou?l.
JP - Mil dã dezoito.
- (Mil di dezoito como? Mil o que?).
JP - Mil dã dezoito no bicho j mil cruzados di dezoito mil
no bicho J com mais mil dã trinta e seis ...
(Ah / ji seI J você calculou cada mil cruzados / um
dezoito / mais cinquenta centavos J os nove / aí voce
juntou esses sete ... Dezoito mais os noves / tã cor
reto.).
PROFESSORA S. - ri certo n~?
(A última / você separou cinquenta cruzados para com-
prar roupas / os preços mais baixos que você encon-
trou foram / camiseta quatro e cinquenta J calça nove
e noventa / meia um e oitenta e tênis a oito e seten
ta / o que você iria comprar / prã não sobrar troco?).
288
JP - Camiseta é quatro e cinquenta / então dã prá ele com
prar duas e cinco par de meia e mais um par de tênis.
(Ele comprando isso que voce tá dizendo / vaI ter tro
co?) .
J Mais um par de t~nis que custa oito e cinquenta.
(Bom / mas comprando isso / comprando isso ele ainda
vaI ter troco?).
J - Não / só somando.
- (Você chegou a alguma conclusão?).
MS - Comprando um de cada.
J - Escreve calça aqui embaixo prá mim.
(Você comprou um de cada / aí soma direto / voce ain
da pode comprar mais coisa / não pode comprar mais um
camiseta?) .
J - Aí soma mais.
- (Comprar mais uma camiseta você tá dizendo que dá vin
te e sete e oitenta.).
J peraí / até camiseta né / quatro e cinquenta / entao ...
JP - Aí professora / cinquenta barão certinho.
- (Você comprou o que?).
JP - Essa conta daqui / com a conta de cima.
- (Professoras j não ajudem.).
J - Aí.
- (A calça?}-
289
J - Certo?
- (Sio outras calças n~?).
J - sio mais barata J de outro pano / mas deu certo n~?
Segue registro dos alunos feitos durante as atividades aCl
ma.
290
)500
---
Registros efetuados para o
~ problema do jogo do bicho.
291
2. SITUAÇOES ASSALTO/TRABALHO
As falas aqui apresentadas foram recolhidas ao lon
go de toda a pesquisa. Em todos os grupos este tema apare
ceu, em alguns, no entanto, ele foi mais aprofundado. Em
alguns encontros os alunos contaram histórias, em outros hou
ve debate. Foram colhidos também depoimentos individuais,
tanto de professores quanto de alunos. Optamos por ordenar
estas falas segundo a cronologia em que apareceram para ~Je
o leitor possa sentir o efeito aue um locutor provocou nos
outros. As trocas entre os grupos foram oportunizadas uma
vez que histórias contanas em uma turma eram narradas nas
outras. Levou-se inclusive as falas gr~vadas em um grupo
para outros ouvirem e discutirem e os respectivo~ textos
transcritos onde se trabalhcu a leitura e a escrita.
Texto recolhido em 05/04/89.
História do Rogério
Meu nome é Rogério / vai fazer 4'
al ... Meu nome é Rogério /
certo? o problema / que eu fui / só prá saí / eu / meu ir
mão / meus colega / saí pá ... Mas aconteceu um acidente co
migo / primeira coisa I segurei na cabine / caí / fui prá
debaixo do trem / saí / aí depois fomo / aí a polícia que-
ria prender - toa / fazer nada / mas depois solta-a gente a
ram a gente / a gente fomo pro parque / isso daí é detalhe /
agora vai vim outro I eu vi um balão / balão japonês / su-
bi em cima do telhado / afundei com tudo / afundei com tu-
do / fui pegar uma pipa I aí pá ... subi em cima do telha-
292
do de novo / afundei com tudo / quase eu morro / mas nao
morri de sor~e / a Deus viu / .,
de-graças que o ,:,ara me a1
pois subi cima da casa do meu colega / ...
pular .. eu em pra pra
do / ...
cai de / ....
foi quatro vida / casa meu avo a1 eu novo Ja
resta ...
três / ...
foi de / aí depois / eu cai/ so mas Ja uma novo
foi do ônibus / pedi a mao a um garoto / mas nao adiantou
nada / desci direto / escapuli / paf ..• Aí fui direto pro
hospi tal/mas saí vivo / aí / agora / resta só duas vidas.
Textos recolhidos em 12/04/89
Histórias do Rogério
Aí teve um dia / que eu tava andando na rua / tava eu mais
um garoto / aí eu estava com pistola cromada / aí tinha tnna
mu1er / andando lá com umas peças / ouro / prata e re1ógio/
e dinheiro no bolso / cheguei J fui andando / andando / e
ela foi imaginando / quando eu corri / eu falei / .. e um as-
salto / "ela foi / ah / gritou J quando ela gritou / eu fa-
lei / - grita eu atiro / ai ela foi nao senao e passou as pe
ça / passou o relógio / passou dinheiro / passou cordão /
passou as jóias / tudo / faltava passar uma coisa / mas eu
não queria / deixa prã lá / cab~u-se / final.
Que que eu fazia se fosse assaltado? ..
Se fosse um / ne /
ah / brincava com ele umpoucD / toma / toma / toma / va
leu / vai embora / quer dinheiro? Toma / deixava ele ir
embora / aí eu com o revolver I brincava com ele também /
se eu ver ele passando na rua I matavo ele / descontava tu
dinho / que ver ele com peça I tirava a peça / e tirava o
293
dinheiro dele tamh~m I aí ~ castigo I ía cortar a cabeça
dele j chutar a cabeça dele I sempre I ~ isso I devagar I
devagar ... Devagar eu chego lá.
Aí teve um dia I que eu tava no Azul I fumando um cigarrol
fui descendo n~ I devagar I não tinha ninguém I tava deser
to I tudo escuro I parecia que tava imaginando I eu escu
tei um barulho I aúúú I de lobisomem I sabe o qu'eu fiz?
Fui vuado I subi na casa do meu colega I joguei o cigarro
fora I cendi a vela I dormi I num vi mais nada I fiquei cheio
de medo I fiquei tremendo I mas eu dormi I foi lá que eu
cheguei ao fim.
Aí até lá I aí a gente fomo amigo I se conhecemo lá no Mêi
er I certo? Aí do M~ier ele me chamou I estudava mas eu
larguei a escola I na Delfim I Delfim Moreira I entra bur
ro e sai caveira I aí então o garoto falou assim I toma de
caxanga I falei I meto I at~ que isso aí ~ verdade mesmo I
meto I caxanga I casa de rico f caxanga I casa de rico I
cheio de coisas I jóias I tudo I televisão I então pá ...
O garoto falou I pega esse pau I aí eu peguei I vambora a
brir esse vasculante ! abri I ele falou I vai voce que va-
I tá legal fui I fiquei I ... ele ce e maIS magro eu preso aI
levantou I desci I falei I ah num vai dar I vou tentar laté
hora tinha polícia I tinha ningu~m I ... ele nessa nao nao aI
levantou I eu entrei I quando eu entrei I tum ... Já era I
aí eu entrei prá dentro I cheguei I abri a geladeira I não
tinha nada I so ovo I tinha água I tinha gelo I só I aí de
pois eu fui falei I como eu abro isso daqui que eu nao seI
294
abrir / ele / roda / rodei ele desceu / ele abriu-/ quando
ele entrou a gente catamo tudo / jóia / catamo tudo / en
tão relógio / catamo rádio / aí eu tava com medo falei/
va'mbora / va'mbora / ele falou I não não não / verdade I
verdade / isso aí é verdade mesmo / foi / agora já passou/
agora tem que contar mesmo / aí foi / chegou né I aí quan
do a gente saímo / não / num saímo não / a gente fomo na
frente / tinha nada de bom / tinha só a televisão / aí eu
falei / va'mbora levar só a televisão I vambora deixar es
sas coisas aqui prá traz / só a televisão / falou / não /
falei / va'mbora levar só a televisão / ele / não / se nao
alguém pode chegar / va 'mbora sair fora I a gente saímo I pe
gamo lá / fomo embora / fomo pro Azul I trocamo tudinho em
brizola / cheiramo / cheiramo I cheiramo / aí depois quan
do acabou a gente ficamo triste / corremo atrás de novo /
conseguimo / aí foi até o fim / aí eu voltei prâ casa / e
acabou / não fiquei nem mais pensando nisso / mas depo~fi
quei / fui pensando devagar / fumei devagar I cheiro deva
gar / cheiro devagar / mas com cuidado / não é cheirar a
chando ... Cheirando e fumando não / fumar deixa ••• ~ um
tóxico / também deixa a pessoa muito doido nê? n foda/ aí
cumo que vai ficar / até brizola / brizola deixa o cara ma
gro I deixa o cara com fome / deixa o cara com... Desespe
rado / aí até lá acabou.
História do Marcos
Numa segunda-feira I cinco horas da manhã J eu indo pro tr~
balho / com uma pulseira de prata / um relógio cromado / ta
295
va indo pra Central/ia pegar o ônibus / aí senta dois ca
ra do meu lado / na Central/aí os sentado meu lado fala
ram se eu poderia dar essa pulseira e esse relógio / eu fa
lei que nao posso dar / porque pra mim / dar tem que bri
gar comigo / até o fim e levar / aí né eles falaram assim/
nao vou nem brigar nem vou levar / me da aí um barão; ta
tudo certQ ; eu falei ; não vou dar um barão ; tem que me
bater prâ levar ; aí teve na sexta-feira ; duas horas da
tarde / eu indo pro ... Certo? Voltei do trabalho; tava
indo pro dentista ; aí né encontrei ~om eles / aí eles que
rendo me bater ; não me bateram J briguei com eles; eles
não me bateram / bati neles; aí só foi isso.
História do Jorge P.
O que que eu faria? Se ele pedisso relógio; dinheiro; do
cumento ; eu dava tudo ; eu não enfrentava porque tinha me
do de morrer ; ficava com medo de morrer ; via a arma na
mão dele / nao sou a favor não / sou contra; não sei ; is
50 aí leva a pessoa prum mal caminho / leva prum beco sem
saída / porque / vamos supor assim / aí eles pega; fazer
um assalto né ; aí de repente eles fala assim / você nao
quer entrar pro nosso grupo? Assim / vender brizola ; ma
conha / aí eu falo assim ; não topo / sou contra / não sou
a favor nao.
História do José A.
Boa noite / se eu venho numa rua escura e dois cara me as
saltar? Bom / o que eu faria? Se eu tivesse em condições/
296
eu agia / certo? Como eu falei / se eu tivesse em condi
ções / eu agia / se eu não tivesse / eu entregava tudo /
nao / por exemplo / se fosse dois caras e eu pudesse lutar
com eles / eu ía ã luta / prâ ele não levar o que é meu e
eu sair numa boa / mesmo que tivesse armado / agora se eu
visse assim / se eu desse / olhar assim / nao tivesse con
dições de eu sair numa boa e ele me levar minhas coisas /
eu sou mais / entregava / porque é melhor o cara entregar
um relógio / uma pulseira / do que entregar uma vida nê?
História do Marcelo S.
Eu tava indo no trem / fui pegar o trem prâ ir / prá ir em
bora prâ casa / aí eu cheguei no trem / aí eu sentei no ban
co / aí chegou dois caras / aí falou / você quer me dar es
se relógio / falei / não / aí quando ele disse seco prn mim
dar o relógio a ele / eu nao queria dar o relógio a ele nãc:I
aí ele falou / tu me dá esse relógio agora / senão vou te
assaltar aqui / agora / com revólver e tudo / aí eu che~
tirei o relógio do pulso / e cheguei / entreguei na mao de
les.
Textos recolhidos em 19/04/89
História do Jorge P.
Se eu tivesse / se eu tivesse no ônibus / no lugar do Har
co / tivesse sendo assaltado / se ele dizia / passa tudo /
passa relógio / dinheiro / pulseira / eu passava / mnn agia
não / no lugar do Rogério / ah / sei lá / se eu ía? Não I
olha / oh / sei lá / eu achava melhor correr atrás de uma
297
batalha / procurar um emprego / nao sei / se virava / qual
quer coisa / é .•• Vender bala no trem / e ... Ser camelô/
mas menos sairprá assaltar / porque / sei lá / eu não acho
isso certo / sou contra / não sou a favor não / sei lá /
um beco sem saída / só.
História do Jorge A.
Meu nome é Jorge / certo? Tô na Tia Ciata há pouco tempo/
mas se fosse eu I no caso do assalto / eu agiria da mesma
forma que o Marcos/entendeu? Brigava com os cara na moral/
e se eles tentassem levar minha peça / depois ia correr do
meu prejuízo certo? Agora / po / podia esses cara também
pegar numa arma morô? Botar a arma na mão / assaltar um
'Banco / aí sim / aí eles vão ficar rico / agora roubando a
gente que samo pobre / um trabalhador / eles não vão adian
tar nada / o azar vai cair tudo pros lado dele / mais for
te ainda / morô Cbará I eu agiria da mesma forma que ele /
o Rogério é o que assaltou / não é? Então ... Se eu tives
se nessa condições que ele tava / assim / pô / com fome /
morô / desesperado / também ia fazer isso sim / mas sendo
que se eu visse que era uma boa / legal/eu ia meter mes
mo / morô / se eles mê tentassem me dá volta / eu dava bu-
la na orelha dele e tudo / num tava com dinheiro / tava rom
fome / fazia .esmo / num tinha parada errada certo? Só is ~
so 50.
Debate em que participaram Jorge A., Jose A., Marcos R., a
Professora C.~ a Professora SN, a Professora R. e a pesqui
298
sadora. O restante do grupo, embora nao tenha se manifes
tado neste momento, acompanhou o debate e depois veio a e
mitir opiniões sobre o que foi discutido.
Professora SN. - Você acha que é mais difícil assaltar ou
ser assaltado?
Jorge A. - Ser assaltado / é claro.
Professora SN. - Porque você acha isso?
Jorge A. - Por causa de que ser assaltado é mais di
fícil? Se você não tiver nada prá dar pro
ladrão / tu leva burduada / morô / e você
assaltando o cara / se o cara tiver com a
peça / tu leva a dele e ainda bate nele /
então se você for assaltado / tu perde o
que voce tem / ainda leva bula / bula na
orelha / e manda embora / tem direito a
nada / e se tu fala alguma coisa / tu le
va tiro e tudo / tudo.
Professora C. - Você já foi assaltado?
Jorge A. - Eu já / várias vezes / e já assaltei tam-
Jorge A.
bém / muitas delas.
(Conta aí).
- Olha só / tava eu e meu irmão / lá em Ma
ricá / certo? Tava eu e meu irmão lá em
Maricá / meu irmão tava ... Meu irmão ta
va bolado com minha cunhada / sacô? Aí e
le começou a beber um pouco né / aí ele
299
chegou / pediu carona a um cara da blusa
vermelha / um cara assim da minha cor / um
outro escuro que nem ele assim / forte /
sabe como é que é / aí meu irmão deu si
nal pro cara / aí o cara foi deu uma enca
rada e foi embora / aí depois o cara vol
tou / disse / ah / cê vai prãonde? Ah /
queria uma carona ali até meu canto ôh ca
ra / é / entra aí dentro do carro aí / mas
sendo que o de branco / as sim da minha cor!
tava com camisão vermelho / aí saiu 00 ban
co da frente / botou a gente no banco de
trás / e deu um jeito assim na camisa/ ti
po que tava dando um parai / tipo um re
vólver entendeu? Aí eu já fiquei meio ca
brero / aqui assim / aí ôh cara / num vou
nessa não / aí disse o meu irmão / que na
da rapaz vambora nessa que assim a gente
nao paga passagem ne? Paguei outra passa
gem / você não tá a ~im de gastar dinhei
ro? Ah / vambora I aí entrei na dele /
porque meu irmão é mais velho do que eu /
aí eu en trei na dele / nessa locara / p~
garam o tráfego I já íamo embora / pooom ...
O cara ta fincando o pé mesmo / daqui a
pouco / quando chegou naquela trilha que
vai / ôh cara / tu conhece aquela direção
que vai prã Mani1ha / de Alcântara prá Ma
300
nilha locara pegou aquela direção alí
de Alcântara prâ Manilha e falou assim I
oh I eu quero só o dinheiro de vocês I meu
irmão vai viajar e tudo I eu só quero o
dinheiro de vocês I o meu irmão como foi
esperto disse I po I somo pobre a pampa I
- I - fomo até pedir vocêsl moro nos carona a
- I dinheiro da moro que nos tava sem o pa~
I I quando . - falou sage nessa meu 1rmao as-
sim I . - deu burduada dentro da bo o cara Ja
ca do meu i rmão I pau... Eu não senti por
que ele I pau ... Aí rebentou a boca do
meu irmão todinha I aí meu irmão I õh ca-
ra I não faz isso comigo não I puxou-lhe
a carteira I meteu o dinheiro assim I 0-
lhou o dinheiro e meteu dentro do tênis I
os cara começou a bater na gente I sendo
que tinha aquelas notinhas de cem -meres
vermelhinha I nao -? e. Aquela grandona nãol
aquela menorzinha saiu I ,
tava I que a1 eu
uma manchinha daquela assim I deixa eu ver
isso ,
I hora ele viu a1 na que que nao va-
lia nada I o cara deu o maior tapão den-
tro da orelha I I tâ vendo ,
I não sei po a1
- I mano I ,
pra que a gente entrou nessa a1
os cara começou a bater na gente I bater
na gente I o carro trancado locara cor
rendo com o carro I no final das conta I
a.8Llo:r ••• fURDA~ GETOU() v ......
Jorge A.
301
apanhamo a pampa / o cara deixou a gente
p6 / num lugar mais longe dri lugar que a
gente ía / e apanhamo a pampa / mor6 / meu
irmão com a boca toda arrebentada / e saí
mo no prejuízo / então / mor6 / mais fá
cil / mais difícil tu ce assaltado / otá-
rio / que se você não tem nada / você a
panha do mesmo jeito / morô / chará / e
-os cara pa ... Pega mesmo legal / e bate
sem pena / ainda mais vagabundo.
(yocê já assaltou?).
- Eu já / muitas vezes~
Professora SN. - Assaltar não é difícil / tamb.ém tem risco.
Jorge A. Corre o risco mas •..
Professora SN. - Você pode morrer.
Jorge A. E difícil sim / sendo que se voce assal
tando você já está mais na atividade I se
sujar a área prá você / você pode abrir I
se você tiver com revólver você ainda t~
ca tiro com ele / derrepentemente voce se
dá nem / de repente não se dá bem I enten
deu agora?
PROFESSORA SN. - Se dar nem ou nao acontece nos dois casos.
Jorge A. - Acontece nos dois casos / mas mais fieil
ainda você sair com lucro / morô / porque
você / se sujou / tu pega a mulher que tu
302
tá assaltando como vítima / leva ela como
refém / morô / aí os cara num vai lá ten
tar muita / alguma coisa / cê dá um tiro
na goela dela / e manda os cara embora /
eles vão ter que ir mesmo / se não pegar. ..
Coração / oh / coração de malandro tá na
sola do pé / entendeu? Se marcar bobeira/
eles mata mesmo / aí os cara num vai que
rer que uma pessoa morre / inocente / vai
ter que ir embora mesmo / aí você vai sain
do numa boa.
Professora C. - Você já teve medo de morrer?
Jorge A. - Eu já / já que ...
Professora C. - Assaltando?
Jorge A. - Não / assaltando nao / eu tavo lá em Mes-
quita / Mesquita / Nova Iguaçu / morô /
quando a rapaziada lá / tava Chatuba com
Coreia / tava em guerra / eu e meu primo
Demétrio né / nós fomo fumar maconha lá
em cima / sabe como é que é / no I1Drrinho /
os cara pegaram a gente / os cara da Cha
tuba pegaram a gente bem fumando maconha /
sendo que eles / nós pensamo que eles era
polícia / eles todo arrumadinho / tava tu
do arrumadinho / tava o Guará / o Pirata /
morô / e um japonezinho de bigodinho pô /
pegaram a gente / mas arrebentaram legal
Jorge A.
303
mesmo I aí deram só telefone I Guará I um
bração assim I que nem ele mesmo I maior
bigodão I todo fortão I toma I pô I tu num
viu I pô I naquele dia eu tremi na base I -moro.
- (Que que voce sente na hora que tá sendo
assaltado?) .
Depois? Aí a gente bota I pô I pior que
a gente bota a cabeça prá funcionar I tá
vendo I aí se a gente I eu penso assim I tá vendo I quando esses cara aí me pega I
eles me mete burduada I fala que vai me
dar tiro I me dar bicuda I me dar telefonei
eu na hora que eu vou pegar um comédia des
contar também I desconto nas outras pes
soas também I porque quando eles estão com
raiva eles descontam na gente I então quan
do eu pego um eu desconto também I que;não
tem nada a ver I eu faço a meSDR coisa com
eles I é que nem um polícia I que nem um
políéia I tu assalta uma vítima né I as
salta uma vítima I aquela vítima vai cha
ma a polícia prá você I e voce e pego I sem
voce espancar a vítima I a vítima fala que
voce espancou ela I aí os PM vai te espan
ca I então quando a gente pegar a vítimal
a gente tem que logo ir espancando ela I
prá ela tremer na base e não chamar nin-
304
guém / aí nao chama a polícia / nao chama
os outro prá apanhar você / aí você vai
embora tranquilo / numa boa.
Professora R. - Quando você assalta / machuca alguém / vo
ce nao liga? Vai embora / é indiferente?
Jorge A. - Vou embora / moro.
Professora R. ~ Você nio sente nada / cara / heim? Te --e
indiferente?
Jorge A. Ah / diferente eu sinto sim / a gente fi-
ca com um pouquinho de medo / dã um pou-
quinho de medo / mas dá ...
Professora R. - Você nio sente pena?
Jorge A. Não sinto não / você nao pode sentir pena
nao / se tu entrou nessa / aquela embarca
çao é uma só / tu não pode sentir medo nem
Jos.ê A.
pena entendeu? Porque na hora que eles
pi... A gente / eles não tem pena da gen
te / eles não tem pena da gente / como --e
que nós vamo ter pena deles / isso não p~
de e~istir certo? Na moral/na moral /
não pode existir / é só isso só.
- Do assalto como ele falou / o que eu acho
é que é isso mesmo que aconteceu / por e-
xemplo / se ele ... Que nem o cara ali fa
lou / na hora do assaI to / que a gente vai
assaltar / não pode chegar na hora e sen-
305
tir medo / porque se sentir medo / aí vai
dar tudo errado / o cara vai dar aquele
pensamento / que vai roubar / que vai ba-
ter / que vai matar / tem que ir e voltar
naquele pensamento / e sair com outro sem
pre / ele vai se dar mal sabe / porque de
que que... Por exemplo / ele vai assaltar
uma pessoa / a pessoa vai agir pro lado
dele / ele nunca deve pensar que vai ter
medo do cara / o cara vai bater nele / ele
tem que agir / vai a luta / mesmo que nao
consiga nada / se conse gui r alguma coisa/
bem / se nao conseguir ... E é isso cer
to? E a minha opiniio é essa / se a gen
te esta assaltando / que a gente / se ti
ver gente pra reagir a gente nio pode dar
mole / porque se der mole / o assaltante
leva você pra pior / porque depois o cara
ta assaI tando / e o cara vai agir / se mo
agir / o cara vai à luta / certo / nem que
morra ali / mas tem que lutar / porque se
foi praquilo / nao deve ter medo / tem
que entregar firme e sair firme / certo?
Que outro falou / gente - assalta nem o a e
do aqui / por exemplo / vai com o dinhei-
aqui - assaI tado / chega na frente ro e e
tem que assaltar outro / porque a gente
nao pode ficar no / no perdido / né? Por
306
exemplo / agora a gente que é de menor /
por exemplo / agora acabou / né / essas leis
de que menor não tem mais isso / não tem
mais aquilo / não pode ir preso I agora tá
dimimuindo que de antigamente / menor mui
to roubava / menor roubava / pegava os ou
tro e metia porrada / é que num ia preso/
nao ia nada / não acontece nada / cheira-
va cola por aí / que nem eu já vi muitos
por aí cheirando / certo? E agora eu a
cho que o que ele falou alí é certo / por
que a pessoa sendo assaltada / já é outro
problema / certo / é melhor o cara assal
tar / do que ser assaltado / que no as
salto / você sabe que vai e / eu traz al-
guma coisa I eu sai fora sem se machucar/
e o cara seado assaltado / o cara tem que
se entregar I porque / por exemplo / voce
está sendo assaltado / tem um aqui / voce
nao sabe quantos tem / se tem outro lá na
frente / você assaltando não / voce as
saltando voCê sabe que tá você / tá outro
colega / a gente tá só / mas tá sabendo
que vai sair lucrando / que assa! tante mnca
vai assaltar a pessoa prâ perder / não é/
vai assaltar sempre prâ ganhar / então ~
e
isso que eu acho / quando a gente tiver as
saltando / tem que assaltar e segurar as
Marcos R.
307
ponta / mesmo que depois no fim / se fer
ra / mas tem que sair sempre com lucro /
né / é só isso.
- b preferível levar a pessoa a refém ~ que
espancar / é craro / se os outro tão as
saltando / aí encontro / eu chego na rua
com. .. Eu chego na rua com trezentos mil/
se nego me assaltar / eu chego na frente
vou ter que assaltar outra pessoa também/
-ne se eu tiver aqui / faz de conta com cem
mil/cento e cinquenta / nego me assalta
aqui / eu vou ter que assaltar outra pes
soa lá na frente / causa de que / sem sa
ber nada / mais fácil é levar a pessoa re
fém mesmo / só assim / deixa num lugar bem
longe / joga dentro do mato lá / deixa pIá
lá mesmo / mais fácil do que espancar.
Textos recolhidos em 26/04/89
História do Fábio.
Eu acharia que os pessoal/poderia arrumar um serviço prá
gente trabalhar / prá amanhã ou depois a gente crescer / a
prender a fazer alguma coisa / saber / porque saber / fa
zer / estudar / ler / porque se algum dia eu tiver de rou
bar / eu vou roubar pra mim sair da merda / eu ficar na mer
da / porque não adianta eu roubar pobre / ficar roubando
gravadorzinho / roubando miséria / roubo logo um Banco / prá
308
mim morrer / ou prá mim / ou prá mim viver / se dá bem na
vida / mas a minha idéia é essa / a minha idéia / crescer/
trabalhar / é estudar / no meu suol / cuidar da minha famí
lia / se eu tiver família / e cuidar da •.. E trabalhar do
meu suol / porque as vezes é muito ruim a gente usar ~ CO!
sa dos outros / pensar que tá se dando bem / quando pensar/
tâ entrando pelo cano / então eu nao quero que isso aconte
ça comigo / eu quero estudar / ser um grande pessoa / sa
ber que eu tô ganhando / é do meu direito / nao é do suol
de ninguém / que tudo que eu consegui / foi com meu suol /
espero que amanhã ou depois / deus me ajudar / eu ter uma
boa família / e viver bem no meu canto / trabalhando / a
prender uma profissão / qualquer coisa / prá mim / prâ ama
nhã ou depois / quando eu crescer / eu falar: eu venci / e
dar os mesmo conselho prá meu filho.
Opinião de Marcelo L. sobre assaltar.
Acho certo mesmo I tem. que roubar mesmo / porque quando uma
pessoa fica olhando assim I fica pensando que nós somo pi
vete / esse negócio assim I aí fica olhando / aí quando fi
ca olhando assim I fica olhando sinistro assim / aí / sai
de perto da gente assim / ~uando eu vou prá sentar assim /
a moça assim / tá com cordãozão / um relógio bonito / d fi
ca / aí / esse pivete vai querer me roubar / aí fica pen
sando o pensamento dela / sai de perto da gente. Aí quan-
do a gente vai ..
pa •.. Sentar assim / sem maldade nenhuma /
aí elas sai de perto da gente / aí quando a gente tá com
maldade / aí elas não sai I hoje mesmo / eu vinha andando
309
ali I ... a moça passou perto de mim I olhou prâ minha cara al
assim I ... andou mais rápido ainda I ... falei I vou en-al al eu
ela I ... comecei andar mais rápido I que ganar al a -eu tava
caixa de engraxate I aí passou um gol I - I ela per com a ne
guntou um negócio pro gol lá I aí começou a falar um negó
cio lá I aí eu falei I vou andar mais rápido I vai pensar
que eu vou roubar ela I eu só queria enganar ela I botei a
caixa de engraxate na frente I aí fui andando I aí o gol
foi I né I olhou prá minha cara assim I eu olhei prá cara
dele assim I aí eu fui embora I que ele viu que eu sou en
graxate I aí ele pensou que .eu não ia roubar ela I aí ela
ficou toda assustada I atravessou a rua e foi embora I foi
lá pra Central pegar ali o trem I foi prá lá.
Opinião do Amauri sobre roubar.
Meu nome é Amauri I se ele roubou I se a mulher fosse ~ m nheiro I tivesse muita coisa I ele tava certo nesse pontol
mas se a mulher fosse uma pobre I tivesse "tirando uma ondi
nha com os negócio dela I ele tava errado I depende I de
pendia da condição I que eu tivesse I se eu tivesse muito
apertado precisando de dinheiro I de repente podia até fa-. . zer isso I não tivesse trabalhando nem nada I podia assal-
tar também I mas eu não ia querer assaltar essas mulezinha
nao I Ia querer assaI tar Banco I Banco que dá dinheiro I que
ir preso I toma um pau só I não é com reloginho I com cor
dãozinho I que é ser preso com cordãozinho I esses negóciol
é besteira I ser preso é roubando banco I chega na cadeia
fica considerado I esses que rouba relógio I esses negoci-
310
nho / nao é considerado / chega lá briga / apanha / tem que
fazer coisa boa / roubar coisa que se ... Fazer coisa que
presta / trabalhador é considerado / que ele trabalha
sustentar a família / não prâ assaltar ninguém / tirar
.-pra
de
quem não tem / tem que tirar de quem tem / e não de quem
não tem / a gente j á não tem nada j â somo pobre j á de tudo/
um dinheirinho que a gente arruma prâ fazer um negócio / ain
da vem um / tira da gente que tem ass im / os preto fica sem
direito / a nada / os branco sabe como livrar / se tem um
dinherinho / sai rapidinho / muitos polícia é comprado por
dinheiro / os preto eles maltrata muito / que pensa que to
dos preto é escravo / todos preto é bandido / eles pensa tu
do de preto / os branco eles não faz quase nada.
Opinião do Henri sobre roubar.
Acho ridículo esse negócio de ficar roubando I assim / is
so da certo não / ficar na cadeia lã / tudo f sabe conéque
é / né / não ... Trabalhar / trabalhar I depois I né / aju
dar a família / depois / né / esses Duleque / esses pivete
assim / que fica roubando / se dão m.al I se dão nuito mal /
por isso que eles ficam roubando I aí I ã toa / que nem lá
no morro / la no morro não pode roubar não / se roubar lá
em cima / rapaz / lá eles mata I mata legal mesmo / outro
dia / o cara foi roubar um negócio lã I os cara quase mata
ram ele / quase mataram ele / só deram porrada / só deram
porrada nele / e o cara roubou o negócio lá do cara la.
311
Opinião de Bruno sobre assaltar.
Eu acho errado I porque ... Negócio de assalto I eu acho
muito errado I sabe porque? Porque às vezes a pessoa tá
trabalhando I então deve alimentar os filhos I tá precisan
do de alimentar os filhos né I tia I aí chega lá I vai um
e assalta I aí os filhos em casa tão precisando I né I pa~
sando fome locara precisa trabalhar o tempo inteiro I prá
depois ser assaltado I isso nao dá I eu acho isso muito er
rado I porque as pessoas tem os filho I prá atender I tem
que precisar de almoço I de uma roupa I um jantar I né I que
a mae que é mãe / que é mãe mesmo I assume o compromisso do
filho / e assaltando I chega em casa fica passando fome /
a mae vai se virar com o que? Com nada I né I passa nece~
sidade I por isso que eu nao gosto I eu não admito com is
so / isso eu acho errado.
Defesa do Jorge A.
Vou dar resposta aqui pra ele ali I sabe por causa de quêl
ele nunca teve um sofrimento como nós I menores de rua te
mos / então você I essa resposta aqui é prá você I e por
que vore nunca passou. dificuldade como nós I menores de rual
voce nunca passou por isso I então você acha errado I por
isso I a gente passa assim com a caixa de engraxate I
somos engraxate I trabalhador I as mulher passa assim
lado I elas I pô I olha assim pra gente I olhando assim
-nos
do
I
pô / esse muleque parece que nem ... ~ um animal ferozl en
tendeu? Porque nós tamo assim do lado delas parece que nós
vamos devorar elas I que somo ladrão I somo marginal I so-
312
mo estrupador / então elas fica assustada / e todos os me
nor que ela vê ela pensa que rouba / nós somo trabalhador/
numa boa / agora se nós fosse ladrão / nós não ia andar as
sim não / nós ia andar arrumadinho / todo trajado / ela ...
a1
vao pensar que nós era playboy / aí é que elas se dava mal/
porque também as aparência engana / sacô / as aparência en
gana legal/agora / os assaltantes de Banco / eles anda as
sim não / eles anda tudo assim / pano / terno e gravata I
de malinha / você não olha assim / pô / que nada / aquele
ali é um pai de família qualquer / trabalhador / aí que /
né / vagabundo atrai até no ponto / que eles encostam o
maior ferrão na cara / se dão bem / saco / sabe por causa
de quê? Você tenta experimentar assim / um dia / uma sema
na / so engraxate / o tanto que você vai escutar a pampa /
morô? Ser humilhado pela pessoa / moro / chará / ôh cara!
você vai se acabar / rapaz senao ! morô / passa fome e tu
do / cumpradre / e que nós / morô chará / tem muita potên
cia morô / prâ gente isso aí é uma aventura I a gente I nós
vamo levando isso como aventura / experimenta só mn dia só I .. ..
por enquanto e so.
Contra-defesa do Bruno - Debate com Jorge Anísio., Jorge A • .,
Marcelo L. e a pesquisadora.
BRUNO Não sei nê / eu nunca passei por isso / eu
nunca passei por isso / e acho que nunca
vou passar / aí / é um direito dele ..
ne /
nao sou contra / direito dele / não nê?
Depende dele não vou contra ninguém / cada
313
pessoa se V1 r,a como pode / né tia / eu sou
contra sim / garoto / nao sou a favor não.
JORGE ANIsIO - Hoje em dia / a gente vai procurar emprego/
não encontra / vai procurar serviço / nao
encontra / vai fazer um curso / não tem cur
so / a gente vem aqui prá estudar / prá vo
cês / um bocado de gente não fica dentro da
sala de aula / por isso eu não paro dentro
da sala de aula / Juracy fica esculachando
por causa de quê? Todo mundo fica escula
chando por causa de quê? Hoje em dia / a
quela vida que a gente leva / não dá prá vi
ver mais não / rapá / hoje a gente vruro pIU
curar serviço / não encontra / outro dia /
eu saí de casa / era quatro hora / saí qua
tro hora da madrugada / civil ainda me dá
geral I não vou deixar / que eu tô traba
lham.ÓD I botei o documen to na cara dele /
que hoje em dia eu trabalho / trabalho no
CB I você trabalha?
BRUNO - Trabalho no hospital.
JORGE ANIsIO Então tu fica falando nisso ...
BRUNO - Trahalhar ê fácil/você sabendo correr a-
trás I voce acha / o negócio é ter coragem.
JORGE ANIsIO - CDmo é que a gente sai correndo atrás / tu
do bem / a gente sai correndo atrás / che
ga lá a porta tá fechada / porque uns diz
BRUNO
JORGE A.
314
que tem assim / que pela cara / nao tem ser
viço / a porta tá fechada / aí o cara se
revolta / e tem mais é que roubar mesmo.
- A gente vai / mas quando não tem / a gente
corre prá outro / termina achando / o negá
cio é coragem.
- Esse caso / voce j á foi ladrão / você já foi
ladrão / aí / pô / tu pensa legal/pensa
assim / um dia legal/tira um dia prá tu
pens ar / que nada / isso não é vida prá mim
não / pô / eu sou uma pessoa cheia de i
déia na cabeça / moro / eu posso muito bem
chegar / arrumar um serviço numa boa /
tu vai corre atrás / aí aquele pensamento
teu dá tudo certo / tu começa a trabalhar/
começa fraquinho assim / que tu vai subir
na vida / tu pega uma caixinha de engraxa
te / aí / po / vai trabalhando / trabalhan
do / aí tu tá sem maldade na cabeça nenhu
ma / aí tu po sai u daque le es tado seu / que
voce tava / morô / aí a pessoa olha assim/
tu ta sem maldade nenhuma naquele momento/
ta naquele pensamento / pô / que nada / vou
trabalhar pra mim vencer na vida / a pes
soa olha assim prá você sentindo as sustada/
aí tu olha aquilo / você pô / no tempo que
eu era ladrão ela não fazia isso comigo /
passava na moral/sentava perto de mim /
BRUNO
MARCELO L.
315
tudo bem / obrigado / aí tu começa a tomar
remorso / vai tomar remorso / remorso / to
do dia tu escutando aquilo / aí tu chega
assim pro cara / vai uma graxinha aí dou
tor / que graxa é o caralho / maior impre~
sao / entendeu? Pô I tu escuta mil pala
vroes / aí tem hora que pô / você não a
guenta não / você quer tirar a di feren;a os
cara são tudo fortão / nê / a gente não te
mo alimentação adequada / legal morô / que
nem pô muitos aí tem / aí pô / somo sempre
mais raquítico / mais ... Somo muleque so
fredor cara / somo muleque sofredor legal/
eu principalmente / eu robei muito pô / ca
ra / aí mas tentando trabalhar / aí os pe~
soaI fica tudo assim / que nada / vai me
roubar / aí de vez em quando / eu pego mes
mo de tabuleta / e dou burduada / prá nego
pará com essas coisa / só isso / só isso só.
- Certo.
Dá raiva / caTa dá raiva a pampa / tem vez
que dá raiva assim I passa um dia clara /
passa uma noite em claro I já pensou se /
j á pensou se... Você engraxando um pé de
sapato assim /você com fome / pô doutor /
dá prá voce pagar um salgado? Assim / eu
tô com fome / prá mim dá não viu / cada gra
xa que a gente ganha dá pra comer um pão /
316
um café da manhã / mas a gente dorme /q~
do a gente acorda / aí começa a dar sono de
novo / aí a gente dorme tudo de novo /
gente engraxando assim / aí causa / aí
doutor / aí tem cada cara legal/que
a
o
come um salgado / aí se alimenta legal / p~
ga um suco / paga um gua.raná / mas tem mu!.
tos assim / que não paga / dá só dinheiro
prá você ir embora / se você tá sem dinhei
ro e quer comer / aí Doutor / dá prá voce
pagar um salgado alí prá mim? Pro senhor
pagar um refrigerante? Ah / que nada /vai
embora / tem uns que quando tá lelé da cu
ca / quando bebe muita cachaça / bebe cer
veja e mistura tudo / aí começa a xingar a
gente / fala uma porção de coisa pra gente
assim / fica até chateado assim / fica até
triste sabe pô / no meu tempo de roubar /
ninguém fazia isso comigo / andava no mo
ral / podia comprar um negócio legal/sem
pedir nada a ninguém / mas é assim pô / se
for prá roubar de novo / começar a roubar
de novo / vou entrar pra vida do crime / eu
não gosto de entrar pra vida do crime / que
já muitos já me falaram / muitos me deram
conselho / mas o conselho se fosse bão ven
dia / não se dava / mas muita gente já fa-
laram isso prá mim / mas eu não acredito
MARCELO L.
JORGE A.
JORGE A.
nos conselho deles / aí eu chego assim.
- (Que conselho que te deram?).
317
- Conselho que me deram / é prâ nao escutar
conversa fiada assim / dos outro assim/~
cê tem que entrar prá vida do crime / rou
bar mesmo.
- Eu tô assim com você né / aí por voce ser
meu amigo / eu sou ladrão e voce não é / aí
voce e um muleque trabalhador / aí eu ven
do seu mal/eu te dou umas idéia / aí eu
falo assim / aí menor / se liga nessa não/
que trabalho não dá futuro / trabalho nao
dá futuro não / aí o negócio é chegar e me
tê-lhe o ferro mesmo na cara / e fica por
isso mesmo / que tu se dá bem na parada en
tendeu / esses são seus amigos / mas aml
gos somos nós / tudo unido na parada J pe
ga pra um / pega prâ todos.
- (Eu acho que agora / vocês mudaram um pou
co de assunto / a gente tava falando de as
salto e agora vocês tão falando de precon
ceito.).
- Preconcei to / jus tamen te / aqui / aqui J pô
eu era um muleque de rua legal I e roubari
e roubar / eu vi que nao era vida / mudei
né legal/aí o Seu Roberto / aí antigão
naquela pastoral/aí Seu Roberto me deu
JORGE A.
318
uma grande oportunidade I querIa dar opor-
tunidade pro meu primo Demétrio morô I vou
chegar né I te dar um ... Tá trabalhando
-aqui com a gente fazendo curso pra educa-
dor I fica recebendo seu salário todo mes
sem treta nenhuma I ar queria dar 'essa 0-
portunidade pro meu colp.ga I mas meu prImo
não qUIS I meu primo I meu colega I tanto
faz / tá - I na mesma nos somo amIgo a pampa ...
colega I - / tenho ir emboral aI meu nao que
que Ir embora I tenho que Ir embora prá São
Paulo aue tem uma mulher aqui / mulher em
são Paulo / eu vou pra São Paulo ficar mo
rando lá com ela e aí eu sendo amigo dele
aô o Seu Roberto tá a fim de pegar essa o
portunidade? A gente tenta né? Não vou
-ficar perdendo oportunidade so eu engraxa~
do J não dá prá mim chegar junto legal Ide
vez em quando meu pai I meus irmão I aí eu
fiquei nessa oportunidade I tô até lá ho
je / lá vai fazer uns dois meses.
(Como é essa situação de sofrer esse pre-
conceito?).
Pô mui to ruim tia I é chato J magoado a p~
pa / morô / tu deita prá descansar assim
hem no nosso lugar I escutando todo dia es
sa humilhação / humilhação / quando a se-
nhora deitar de noite teu corpo fica pesa-
JORGE A.
JORGE A.
319
do I cansado a pampa I mas s6 ... N~o tra
balhou nem nada I mas se cansa I mas aquilo
vai dando barulho na senhora I e vai fican
do até pesado I aí é chato a pampa I nos
somo é cheio de revolta I ô cara I qualquer
parada I o lance I se estoura à toa.
- (E só menino de rua que sofre preconceito?).
Prá mim s6 I morô / que eu nunca tive urna
oportunidade I minha m~e nunca teve urna 0-
portunidade de chegar I aí n~o I meu filho/
fica aí em casa descansando não precisa tra-
balhar mais não / por isso aue eu so acho
que sao o menor.
(Porque se vocês na rua sofrem preconceito /
é tão barra pesada I ent~o porque vocês t~o
na rua?).
- Sabe porque? Eu? O meu motivo? -De eu nao
ti em casa? E porque minha m~e I po / n~o
- legal comigo I I minha até e certo mae que ..-
legal / sendo sendo e comIgo mas que eu o
do meio / sabe I ela acha - tenho que eu nao
direito de falar nada J
i rm~o mais ve o 50 os
lho / entendeu / aí eu fico revoltado com
aquilo I ent~o por causa de que os Irmao
mais velho I mas eu também I ajudo dentro
de casa I eu também tenho o direito de fa-
lar / mandei assim prá ela I ela n~o / cai
320
tal / ~
sa e voce tem que escutar seu lrmao
mais velho / «'
eu / tudo certo / tá tudo al
certo / ...
/ minha fez festa al moro mae uma
lá / ela gosta de beber / ,
fez a pampa al
uma festa lá aí meu irmão encheu os córneos/
morô / aí queria bater na minha mãe / que-
ria bater na minha mãe / eu me estourei com
/ - tem vinte e quatro meu lrmao meu irmao a-
/ ... bordoada lá com ele lá /
, nos sal na al
foi legal / ...
outro dia / fa-nao al no eu
lei / ...
/ - tá vendo ... / - fi-al mae nao al so os
lhos mais velho que fala / né? O memr não
pode falar nao / sendo que foi o menor que
defendeu a senhora não foi? O filho mais
ve lho não / aí ficou com a cara lá no chão/
aí daí. ..
Texto recolhido em 27/04/89
Dramatização improvisada pelos alunos. Os personagens fo
ram criados na hora. ,Seus nomes não importaram. O tema é
assalto. Logo após, seguiu-se um debate sobre a situação
ensaiada.
Identificação dos personagens criados:
A.S. - Assistentes sociais
G - Guarda
M - Meninas
v - Vítima
321
A.S. - Quem é essas duas meninas que tá aí?
G. - Ela tava na rua roubando / roubando um toca-fita de
carro.
(Risos).
A.S. - Menina porque você faz isso?
M.I - Porque eu tava precisando.
A.S. - Mas por causa de que voce nao pediu?
M.I - Porque eles não dão.
A.S. - Então você vai ter que ficar presa.
M.I - Não tem probrema.
A.S. - Mas você vai apanhar muito ..
M.I Não vou não porque ninguém é minha mae.
A.S. - Não / mas aqui é o Juizado de Menor.
G. Ela tava fazendo besteira na rua aí.
A.S. - E agora?
M.L - Agora é ela moça.
A.S. - E você garota o quê que tava fazendo? Junto com e
la roubando / você não tem mãe não?
M.Z - Já.
A.S. Ai meu Deus do céu / conta alguma coisa aí gente /
qual o teu nome?
M.I - Ana Cristina da Silva.
M.Z - Andréia.
322
A.S. - O nome do teu pai?
M.l Não tenho pai.
A.S. - E tua mae.
M.l Também nao tem.
M.2 Também nao tem.
A. S. - A mae e o nai morreram?
M.2 - Morreram.
M.l - Não.
A.S2 - Morreram?
A. S. Como .. - falou morreu? - e Que voce que a tua mae
M.l Ah porque eu sou de colégio interno.
A.S2 - Não sabia não.
A.Sl - Mas todas pessoa tem Que ter mae.
A.S2 - E isso mesmo.
A.Sl - Você tem que ficar presa / tem que cortar o cabelo
todo / vão tê que tirar essa roupa J não vão poder
mais ficar com essa roupa.
A.S2 - Ai meu Deus do céu é isso mesmo.
M.I - Mas se rouba eu vou querer outra.
A.Sl - Problema.
(Confusão).
A.Sl - Mas aqui é o Jlliz::!do de Menor I ('oara o guarda) e
voce o quê que faz?
323
G. - E melhor ela ir presa mesmo porque ela ti roubando
muito / ela tâ na rua.
M.l - Mas nunca r01lbei na tua casa.
G. - E melhor p.la ir pres~ mesmo.
A.S2 - Vocês vão ficar na prisão hem.
M.l - Mas a gente nâo roubamo.
A.Sl - Roubaram sim.
M.l - Vocês tem certeza?
A.Sl/2 Tem absoluta.
A.Sl - Que os guarda falaram.
A.S2 - E o trabalho dele.
M.l Eles não sabe mentir.
(Confusão).
V. - Roubaram meu relógio / roubaram meu relógio.
(Confusão - A.S., bate na mesa).
M.l - Tem certeza?
V. Absoluta aqui olha a marca da tua unha aqui / conde
na a dez anos.
(Risos).
A.Sl - O quê que ela fez guarda?
G. - Roubaram uma carteira.
A.S2 - Leva as duas.
Debate sobre a dramatização.
- (Quando chega lá no Juizado de Menores pode ficar
zorra assim?).
- Pode não.
324
essa
- Quando que eu fui nao tinha nada disso / foi eu e uma ga
rota que tava careca J a gente chegamo lá / tudo em si
lêncio / poxa / me deu até vontade de comer por / causa
Que auando eu cheguei lá / a tia tava com o maior peda
çao de coxona na boca.
Aí a primeira coisa que a mulé perguntou foi como é meu
nome.
Mas no dia aue meu tio foi preso teve zorra.
- Tinha nada.
- Teve / teve você nao tava lá.
- Tem que respeitar o superior nao pone ter zorra nao.
- O quê que acontece quando tem zorra?
- Vai pro cubículo.
Ou então ... Pega a palmatória e pum ... Vai logo assim.
- (Então por que elas não ganharam castigo?).
- Mas elas vão ganhar.
- (Deixaram elas fazer toda aquela zorra / aqui?).
- Deixamo mas depois elas vão pagar tudo que elas fizeram.
- (Ah depois? Por que depois?).
- Na frente dos outro é muita vergonha prá elas~
325
- (Na frente dos outros nao pode.).
- E vergonha prá elas.
- Sô depois.
Dentro da prisão sim / ~
a1 ...
(Os cara batem / dão porrada / assim na frente dos ou
tros?).
Porrada assim também nao dão nao / na frente dos outros
não / mas chega no quarto / aí é palmatôria porrada em
dobro.
- Mas quando chega em colégio interno levei surra / sô le-
vei tapa.
- Fala assim abre a mão.
- (Ela nunca levou surra J então voces tão mentindo.).
- Ela nao pegou o meu tempo J conforme o Juizado de Menor/
era prancheta de ferro / assim não tinha essa colhé de
chá de palmatôria então.
(Como é que ela nunca levou?).
Ela é menina / eu sou menino / olha diferença da gente /
a gente apanha.
- Sabe quanto um menor desse daqui leva de palmatôria/umas
vinte / eu cheguei lá levei foi trinta.
- (Você já levou palmatôria?).
- Ele nunca foi preso.
- (E você Cristiane?).
326
- Eu levei.
- (Ah então quer dizer que ela é boazinha.).
- E porque ela era puxa saco das professoras lá dentro.
- Sabe porque ela nio apanhou? Porque ela tinha namorado
lá dentro.
- Eu nunca namorei na minha vida.
(Risos - ao fundo: Tinha namorado!).
- Ela namorava o delegado lá.
- Nunca tive namorado.
- Sabe porque que eu fui emhora J porque as garota lá era
bagunceira / eu também era / mas só que eu dei uma de sa~
tinha / quando as tia ia falar comigo eu ficava igual a
uma santa / mas eu nio fazia bagunça nenhuma / eu ia em-
bora.
- Cristiane 0#
Eu apanhava pra caramba.
- (Por que?).
- Claro eu fazia bagunça / eu ficava magrinha com febre eu
ficava tudo doente J tudo / tudo doente lá / a gente fi
cava tudo doente lá / ia tomar injeção sabe / aquelas i~
jeção de cavalo na gente / aí a gente saía voado porque
a gente não ía querer tomar nao.
(Que bagunça que você fazia prá você apanhar/ hem?).
Não sei / como foi lã né / apagaram a luz / aí gritou um
homem lá de baixo I todo mundo desceu / aí depois volta
mo tudo pra dormir J antes de dormir a gente apanha.
327
Eu acho que é mentira porque meu primo nao apanhava.
- E verdade tia.
- Juro minha mãe mortinha embaixo da terra.
- Quando eu tava internada no colégio / quando eu era pe
quena / ninguém apanhava } eu só apanhei quando eu era
pequena / eu apanhei porque a tia ...
Mas no teu colégio não apanha não / no teu colégio não a
panha não / mas nos outros apanha.
- Apanha que não faz bagunça.
Não é isso não.
E sim / é sim.
- (Você fazia muita bagunça Cristiane? Conta aí essa ver-
dade?).
- Então como é que você apanhava toda hora?
- Porque as garota brigava comigo.
- Tu roubava comida?
- Eu nao.
- Depois do almoço a tia botava todo mundo pra deitar la
no negócio / sabe / aí a tia falou aSS1m / quem mijar na
cama / quando eu pequena / quem mijar na cama vai levar uma
/ 4' peguei / (não mij ou) / - pior / ti-surra a1 eu nao e eu
rei minha calcinha J ...
tava de calcinha blu-a e que eu e
sinha / .,
eu tirei minha calcinha fiz xixi aonde a1 e que
eu tava deitada / aí botei minha calcinha e falei / olha
colega deita aqui colega ... A menina foi e deitou /
328
a tia deu uma surra nela.
Texto recolhido em 03/05}89
Neste texto, os alunos prepararam perguntas para os perso-
nagens e eles mesmos responderam. Foram seus personagens:
O PolIcia, O Assaltante, A VItima, O Patrão.
PERGUNTA - Eu vou fazer uma entrevista aqu1 com o polIcia
e queria saher do polIcia / porque que na hora
que tem um assalto no Banco / porque eles nao
chegam na hora?
A polIcia nao chega na hora porque / que quando
eles liga nao dá tempo de eu chegar lá / em tem
-po pra combater o assalto.
- Porque na hora que eles legal/ àí o ladrão já fo
ram embora / aí não dá tempo de chegar lá na ho
ra certa que eles querem.
PERGUNTA - Por que que voces polícia dão geral em engraxa-
te?
- Por que a gente dá geral nos engraxates? Porque
eles sao suspeito né? Noventa por cento deles
os / faz aviãozinho / outra cheira / outros quan-
do tá assim em turminha jogando baralho j bura
co essas parada / muitos tem as parada ali / ci
garro / agora ~ gente não faz isso quando eles
tão jogando baralho / a gente não pede dinheiro
329
não nem quer levar o baralho deles entendeu?
- A gente gosta de dar geral nos engraxate porque
vários deles cheiram cola / na caixa dos engra-
xate a gente gosta de dar geral.
PERGUNTA - Por que que os polícias fazem cobertura na hora
do assalto?
- Olha / por que a gente dá cobertura aos bandido?
Porque eles são da gente / na hora que eles tão
assaltando são da gente / que no outro dia lá te
ve um assaI to na Treze de Março / Maio / não sei/
a gente saimo seguindo eles / seguindo J seguin
do / foi parar em Copacabana / eles trocaram de
carro e deixaram o dinheiro com a gente e ou-
tros saltaram / jogaram o dinheiro na moto / ta
va um cara e uma garota esperando eles jogaram
o dinheiro na moto foram ewbora com a metade /
deixaram a metade prá gente / o meu colega poli
cial deu a volta com o carro e pegou todo di
nheiro que tinha dentro e aí eles foram embora
e ninguém não recuperou o dinheiro / pegamo ~
so
-o ferido que tava baleado e ele nao pode contar
nada / porque se ele contar ele vai perder a vi
da e a gente também não vai forçar J só o juiz
se ele quiser forçar / se não quiser fica por
isso mesmo e o dinheiro a gente divide / a qua~
tidade de policial que tem.
- ~ por isso que o polícia é corrupto.
330
Seu / eu sou / se eu tivesse trabalhando na po
lí~ia estadual eu faria meu trabalho conforme a
lei manda / pegava assaltante prendia e tudo
bem ... Agora se ê igual a mim esses boina bran
ca ! igual a gente aí / já fica diferente / por
que o salário da gente não dá entendeu / aí a
gente tem que correr atrás pra ganhar mais / por
que o meu trabalho na minha opinião € tirar prá
mim / o resto é que dança.
Eu sou pOlícia nê e o meu trahalho é só
bandido levar prâ cadeia.
PERGUNTA - Por que vo~ê dá geral nos engraxates?
- Porque eu gosto.
p6 os engraxates nao faz nada prá voce.
pegar
- Não faz nada né / ruas / só que tem uns que chei
ra cola.
Só porque eles cheira cola voce dã geral na cai
xa de le ..•
- Nem todos n€.
- Nem todos / e por causa de que em vez voces dã
geral nos engraxates não vai dar geral naqueles
que tão lá em cima?
Claro que não né / vou morrer de bobeira?
- Tã vendo I tá com medo de morrer.
PERGUNTA - Por que que ele pega o baralho da gente e tem
331
que dar dinheiro prâ devolver o baralho.
- Por que vocês pede um dinheiro a gente morou /
e depois vocês 1 prâ liberar o baralho?
- Não tô fazendo essa pergunta prâ você você tam
bém é polícia.
- Por causa de quê?
- ~ porque você pede um dinheiro prâ liberar o ba
ralho se sua ordem é levar todos eles preso.
- E você leva sô de sacanagem.
Às vez é / às vez a gente tá tentando descolar/
porque tem muitos que a gente chega e vai pegan
do vai logo encostando na parede / encosta em
poste / aí é esse então •..
- Se não tiver o dinheiro leva porrada ...
- Se nao tiver o dinheiro leva porrada e tudobemJ
aí fica prâ próxima.
Sô por causa de que o cara nao tem dinheiro prâ
dar a vocês.
- ~ porque noventa por cento cheira cola / fuma
maconha e faz aviãozinho e eu tô fazendo meu tra
balho certo? O que eu tenho a dizer se eu tô
trabalhando / eu tô tirando o meu / igual a vo
cês certo?
- Igual a gente.
~ tô tirando o meu igual a voces / o mundo é do
332
mais esperto é o que eu tenho prá dizer.
- Por que é dos mais espertos cara?
- Por que é dos mais espertos? Porque se nao fos
se o bobo o esperto não sabia e não vivia certo ...
Quer mais alguma resposta vai perguntar pro de
legado.
- Pro delegado?
Manda o delegado vir aqui.
PERGUNTA - Por que quando tem assalto ele finge que nao ti
vendo e não dá uma geral no cara forte que ti
armado?
- Não J geral a gente da certo J porque o que ti
forte e ta armado J não é melhor / se ele tem ar
ma pra tocar tiro I a gente também / então nao
é isso / que ele ta com uma arma a gente vai ter
medo dele J e não porque ele é forte / se ele
sabe lutar a gente tem nossa academia também /
que a gente estuda pra lutar / se ele é forte
nao adianta essa fortaleza dele / todo homem tem
um ponto fraco / e sobre o assalto que a senho
ra falou / a gente nunca assaltou / a gente nao
deixa ele passar / a gente vai que além.
- Encara mesmo o assaltante armado?
- Encara mesmo o assaltante J porque mesmo a gen-
-te pegando ele a gente não leva ele direto pra
delegacia / s6 leva quando a deiegacia ta saben
333
do quando nao tá a gente nao leva ele J a gente
leva prá esquina / bate um papo / eles solta um
dinheiro na mão da gente tudo bem / sai fora /
se nao quiser vai pá / porrada / e vai pa dele-
gacia.
PERGUNTA - A pergunta pros assaltantes / por que eles gos
taI de assaltar e por que a vítima / se a pes
soa falar ainda dá tiro e ainda mata?
- Porque ele tâ nervoso.
- Porque às vezes a pessoa pode mandar uma respo~
ta que não é agradâvel para o bandido / eles po
dem não gostar da resposta e matar a vítima.
- De repente essa pessoa falando e conversando com
o bandido pode dar alarme pra alguma polícia /
algum policial que tâ passando / civil/na ho
ra e ele entrar em cana de bobeira J er-tão a ví
tima tem que ficar calado e fazer o que ele tem
que mandar fazer.
PERGUNTA - Quantos assalto voce fez em sua carreira de as-
salto?
- Ah se for prâ contar J nao tã no gibi.
Fez dez / vinte / quinze.
- E pouco.
Eu sou policial.
PERGUNTA - Por que que a policia quando aponta a arma -pra
vocês / voces não pára de assaltar?
334
- Ah porque tem que assaltar mesmo.
- Porque às vezes a gente também pode tá armado do
mesmo jeito que os policiais J e esperando uma
reaçio deles I se eles chegar em cima da gente/
a gente chega em cima deles também.
- Se um policial apontar uma arma prá mim / eu co
mo ladrão I se eu for ladrão / eu como ladrão te
nho a minha disposição certo? Então se o cara
fosse ladrão ele não pode ter medo de nada ele
tem que abrir fogo e não parar ferir o policial
antes que o policial ferir ele.
PERGUNTA - Por que que quando eles pegam polícia então e
les mata / vocês matam?
- Quando os polícia mata os assaltante / os assaI
tante morre / morre.
- Porque quando eles pegam os assaltante eles faz
a mesma coisa com os assaltante / tem oportuni
dade de pegar um deles / os assaltante faz ames
ma coisa / que se ele pegasse a gente / ia fazer
com a gente.
Ah / antes de matar / gosto de torturar ele pr~
meiro / gosto de arrancar a orelha fora / dar
uma esnetada de faca nele /arrancar o nariz /
a boca / prá ele nao fazer mais nada / prá gen
te como ladrão.
Mas você queria que acontecesse isso com voce ma
335
landro1
Não I mas eu sou ladrão não vou dar mole a pOlícial
dá mais mole do que o ladrão I porque o ladrão
tá sempre no sapatinho escondidinho I tu nao sa
be p6 I o ladrão tá passando J tu nao sabe quem
é o ladra0 I tu que é polícia / a gente conhece
de qualquer jeito I de costa I de frente / de
lado / tá fardado certo / e tu polícia I o la-
drão pode dar um lance / você I mais rápido que
tu / dá um lance no bandido J a parada é essa I
valeu I brigado.
PERGUNTA - Fica nervoso na h.ora do assalto?
- Fica.
Ãs vezes fica porque a vítima não tá J nao quer
fazer o que o bandido tá mandando fazey I nao
quer atender o pedido que eles tavam querendof~
zer aí fica nervoso.
- Só isso?
- Só.
PERGUNTA - Você fica nervoso na hora do assalto?
- Se eu vê / se a área é sujeira / eu fico I mas
se for uma área limpeza I eu nao vou me desespe
rar / prá quê? Prá eu ficar desesperado I é rril
vezes pior prá mim J certo?
PERGUNTA - Você assaltaria mesmo que a pessoa tivesse arma
da a outra pessoa que vai assaltar tivesse arma
336
da7
- Assaltaria.
Assaltaria porque eu tamb€m estaria armado e na
turalmente a gente dá sempre uma geral nele n€/
se eu sentisse alguma coisa / se eu sentisse aI
guma reaçao de arma J pegava a arma dele / se
não a unica solução era queimar logo ele.
- Eu como sou ladrão e ladrão cabeça / eu saco que
se eu for assaltar um cara / eu saco logo ele
se ele tiver com arma / se ele tiver com arma eu
boto o ferro na cara dele / mando ele botar a
mão prá cima / e ji vou tirando logo o rev6lver
da cintura dele / e nisso eu já vou dando logo
umas bula / prá ficar tudo certo / ele treme nas
base e não fazer nada / depois a gente vai le
vando o ferro dele I s6 isso.
PERGUNTA - Pergunta pra vítima J o que ela sentiu / o que
você sentiu quando foi assaltada?
Eu fiquei com medo na hora que ele tava com o ca
no assim apontado pra mim nê / aquele carrão /
aí tremi nê / aí s6 foi falando nê / passo tudo
nê / passo dinheiro passei re16gio / aí eu pas-. ~
se1 ne.
- Eu quando eu fui assaltado / aí ele colocou o
rev6lver na minha cabeça / eu mandei levar tudo
menos a minha vida.
337
PERGUNTA - O que fez depois que foi assaltado?
- Fiquei nervoso na hora.
PERGUNTA - Depois você seguiu caminho ou foi na polícia?
- Eu nao sei se eu ia na polícia / não sei se eu
ia prá casa / mas aí eu fiquei com medo de ir ã
polícia / ele podia tá escondido me vigiando né /
e me esperar na esquina e tombar.
PERGUNTA - Mas você não foi na polícia não?
- Eu / eu não.
- Eu também nao ia na polícia / às vezes eu ia na
polícia / ele podia ficar me escoltando prá de
pois quando sair de lá / ele me pegar na hora
que eu ia prá casa / aí eu não fui também fui ..
direto pra casa.
PERGUNTA - Tô perguntand.o I por que que não dá awaento pro
pessoal/na hora de dar aumento tá sempre le
vando um pouquinho / e por que que na hora de
pagar nao paga o serviço?
- Por causa de que que nao dá aumento?
- Também tô puto prá falar esse neg6cio ai.
- (Repete a pergunta).
- E porque eu não dó aumento na hora / porque nao
tá no dia certo / eu s6 dó quando sai o índice/
quando sai o novo salário / quando sai o salá
rio certo / aí eu dou naquela data que saiu /
338
eu não dou antes porque ...
- Prá não tirar do seu nolso nê?
- Muitas empregadas falta.
PERGUNTA - Patrão por que que a gente tá trabalhando o Sr.
não larga do pé da gente?
Porque tem muitos empregados que sao muito ir
responsável.
PERGUNTA - Como é que é ficar sentado na cadeira o dia to
do sem fazer nada?
Não / ficar sentado na cadeira é bom e ruim sa
be / ficar sentado na cadeira / é só cuidar dos
papéis / porque se não cuidar já sabe / né /vai
pro beléleu.
PERGUNTA - Por que o Sr. gosta de ser assaltado?
- Eu não gosto de ser assaltado / eu gosto de as
saltar.
PERGUNTA - Por que o Sr. cria uma briga quando um engraxa
te cobra Cz$l,OO prâ engraxar seu sapato?
- Não eu não arrumo briga / eu nunca arrumei / por
que eu acho que o engraxate / ele tá trabalhan
do / e ele tã cobrando o que ele acha que ele
merece sabe / não o que eu quero pagar J se eu
tô a fim de engraxar o sapato J tudo bem sabe /
se eu não tô J não vou engraxar / porque um ba
rão / dois barão / nao é dinheiro prá dono de
339
firma j e que tem duas três firma j um barão /
aposto que não & dinheiro pri engraxar um sapa
to j um barão hoje em dia / em dólar ...
- Quando você for engraxar um sapato comigo eu vou
te cobrar cinco conto.
ué pode cobrar / se eu tiver eu dou dez.
- Eles brigam por causa de um cruzado?
- Brigam mesmo.
- Nem todos / é todos / é todos?
- Feriado lã no Lgo. do Machado j fiz uma graxa lã
pro português lã / aí quanto é? mil cruz.
Ah / não pago I não sei o que / aí eu fui lã /
chamei o guarda / oh só que merda que deu / eu
chamei o guarda prâ ele j aí o guarda veio e fa
lou obrigação tua é perguntar antes de engraxar/
eu vou no mercado antes de eu comprar eu pergun
to o ~reço / não levo aí / você tem que pagar
o preço que ele cobrar / não que você quer.
- Mas é todos.
- Tã obrigando? Não tô obrigando.
- O cara é cheio de grana mesmo?
~ português.
- Ah / português e filho da puta/tem que pegar bra
sileiro.
Mas é todos? Mas é todos?
340
- Tem um patrão... Igual a ele.
- Mas ~ todos, mas ~ todos?
- Nem todos / alguns.
- Então / eu sou um desses que não sou pão duro /
derrepententemente você tâ falando isso aqui na
nossa presença / mas fora da nossa presença /
ha ...
- Mas não acontece nada disso.
Textos recolhidos em 24/05/89
História do Edivandro.
A policia pega os menor na rua / se tiver roubando J ele
vai / se tiver roubando / mata / às vez os menor tamo de
bobeira / na rua / assim / igual a gente / às vez a gente
guarda nossa caixa de engraxate né / ai aonde que a gente
guardamo / vamos supor J num botequim J ai fecha J a gente
fica nê / andando à toa n~ J até o outro dia apanhar a cai
xa de engraxate / aí eles vão / perguntam o que a gente tá
fazendo / ah / nós tamo andando que a nossa caixa tá presa/
às vez / ele leva a gente preso pra Funabem / sem a gente
fazer nada / então ai eu acho uma viol~ncia / chega lá e
les bate na gente / ai depois eles chega e fala / então va
mo lá pro Juiz / se vocês disser pro Juiz que eu bati em
voces / eu mato voc~s J isso eu acho uma viol~ncia / só cer
to?
341
História do Jorge A.
Eu acho que nenhum cidadâo brasileiro / como nós deve ser
preso perambulante / n~ rua / entendeu? A não ser se ti
ver roubando / que desde o momento / se a pessoa tã andan
do na rua sem material / e por causa de que ele tã necessi
tado / né / de andar / tã preocupado com alguma coisa / ou
tã esperando alguma coisa abrir / prã apanhar aquele obje
to que ele precisa / prã que é seu material de trabalho /
aí eles não pode levar ninguém preso / sem tã roubando /sem
roubar nada / vocês são adulto j a gente somo tudo menor /
moro 1 eles acham que menor são assim 1 mais bagunceiro /
mais pivetado / entendeu / mais esperto 1 aí / eles acham
que o menor nao tem compromisso / só os adultos.
Textos recolhidos em 30105/89
Os textos seguintes foram obtidos em entrevistas
duais com as professoras.
Entrevista com a Professora A.
indivi-
(Qual é a tua posição com relação a tão falada vio
lência na escola?).
Violência cOleça lá fora 1 eu vejo como um todo /
não e um problema específico dos meninos ou dessa escola /
é um problema geral / é um problema que D país ti passando
e as pessoas se tornam violentas / até sem querer / por cau
sa da situação toda que tã. acontecendo / então vai gerando
um processo dentro das pessoas de angústia / de medo 1 de
342
terror e um quer comer o outro I mesmo um quer ser melhor
que o outro pri poder sohreviver a essa loucura que ti .. ai
fora I então eles trazem a coisa lá de dentro I agora tem
também aquela violencia específica J de guerra de menino I
guer-a de quadrilha mas eu acho que isso é uma I é como se
fosse uma conseqüência.
(pra você da onde vem a violência ela vem de den-
tro da escola?).
Não eu acho que ela vem de fora J vem da situação
que ti acontecendo hoje em dia I dos problemas que aconte
cem I é um problema social J ela não brota dentro da esco
la I pode ser que exista J existe I ti I tipos de violên-
cia dentro da escola I como aquele professor que rejeita o
aluno I que diz ah esse aluno é burro I não posso ficar com
ele na sala de aula I ah isso é uma forma de violência lmas
eu estou me referindo a essa violência de modo geral I es-
sa violência que tá pairando no ar I é I agora eu acho que
existe também uma violência dentro da escola por parte de
professor com professor I diretor com professor I profes
sor com aluno I aluno com aluno I mas aí é uma coisa mais
específica I talvez s~ja assim um problema de relacionamen
to de engajamento no grupo I mas eu acho que o momento a
tual I ajuda prá isso.
(Você já foi assaltada?).
. -Eu ]a.
(O que que você sentiu? O que que você sentiu?).
Eu no início I a primeira vez que eu fui assalta-
3.+3
da / eu nao fiz nada / eu deixei levar / não fiquei nervo
sa / fiquei calma / depois me me deu uma tremedeira / é /
eu chorei assim / porque eu fiquei angustiada / nervosa /
depois passou / tudo bem / e recentemente eu quase que fui
assaltada com / mas esse foi com revólver / iam levar o
carro mas eu tive assim J uma presença de espírito / nao
sei se foi por causa de convivência que eu tenho aqui com
os meninos / talvez se não tivesse esse relacionamento com
eles aqui / porque a gente aprende dia a dia / eu teria me
posicionado de outra maneira / e quando o cara veio prâ ci
ma de mim / eu conversei com ele / com a linguagem que eu
conheço aqui da escola / entende / e o cara ficou parado
e ficou tipo assim / abobalhado / que ele não esperava
minha parte aquela reação / e eu sei que no fim / ele
da
-nao
levou o carro que nao teve como / eu levei um papo com ele/
fui saindo com a chave do carro / ele foi saindo / quer di-
dizer fico cal.ma / -zer eu nao vou te que eu que eu nao Sln
to / ah / - tenho medo / / lógico / que eu nao eu nao eu que
eu se eu pressentir que vai ter um assa.lto no ônibus / eu
caio fora / se eu presentir que eu tô andando na rua e vai
vindo na minha direç~o / eu vou saiT f~ra mas eu sinto me-
do.
(O que que voce sente com relação à pessoa que tâ
te assaltando? Depois / hoje mesmo voc~ pensando naquele
primeiro e nesse último que que você sente com relação a
eles? E como é que é conviver e como é que é conviver com
os meninos daqui sabendo que eles ..• ).
E muita necessidade / é roubar mesmo prâ ter di-
344
nheiro / prã fazer suas coisas / entende / porque a gente
conversa com e~es e se vê que nem sempre o menino rouba po~
que quer comprar maconha. com o dinheiro / que der do roubo
ou prã comprar roupa I nem sempre e pra isso até pouco te~
po conversanco com o Paulo / que você conhece e ele tava
conversando comigo / e disse / D. Angela é impossível/eu
tô trabalhando e o salârio não dã sabe / eu tava com vonta
de era de roubar um Banco mesmo / ganhar uma grana botar
na poupança / poder comprar uma casa / comer melhor então
o que ele quer da vida eu também quero.
(Mas qual é o teu sentido com relação ... ).
Eu não sei te explicar direito / eu sinto é I co-
mo voce fica revoltada com essa situação / porque você nao
é revoltada dele tã assaltando não / é revoltada com o país
com a situação que estã que tã levando ele a fazer isso /
porque não tem condições prã ele / ele nao tem como estu-
dar / ele não tem como trabalhar ou qu~ndo ele trabalha -e
ele I nao é bem remunerado / ele é mal tratado aí fora por
todo mundo / então fica difícil prâ ele / fica difícil prá
gente I que tem uma situação melhor / imagina prâ esses m~
ninas / então eu fic~ com pena / realmente / na hora a ge~
te fica com aquela raiva / aquele medo / mas depois voce
fica pensando e te dã assim aquele nó na garganta / puxa j
esses meninos o que eles têm o que eles esperam da vida né/
e as vezes voce se vê / como o que / que eu posso fazer /
eu vejo que eu não posso fazer nada entendeu? Quer dizer
não posso fazer nada em termos / eu ~osso é ser assim ami-
ga / conversar tentar auxiliar no que eu posso / no que eu
345
tiver condições I mas prá solucionar a situação eu me sin-
to um coeS j desculpe o termo j o que que eu posso fazer
numa situação tão difícil I e os meninos J a gente ve que
passam em ... ~ uma situação brabíssima e no fundo voce ve
que sao pessoas hoas I se você conversar com eles e voce
conhecer a realidade desses meninos / você passa a ver de
outro / de outra maneira e analisar de outra maneira.
Entrevista com a Professora C.
(Corno ~ que voce se posiciona com relação ao que
vem se chamando aqui na escola de violência, quer dizer, a
violência dentro da escola?).
Ih J olha isso ~ bem difícil/porque isso nao -e
urna realidade que eu viva dentro de turma não / sabia? E
eu não sei se por defesa minha né / eu ou / por eu estar nrui
to / corno é uma classe de alfabetização I eu tS muito mais
tempo com eles e o trabalho é muito mais de pique / eu não
tenho um trabalho de quadro e caderno / eu tenho um traba
lho é de jornal revista I ~ escrita e montar páginas e pá
ginas prá colocar em ~ural então não sei se por isso eu me
sinto enquanto profissional da escola / não percebo isso /
quer dizer / então quando tem que / é levantado isso / eu
não I na escola da violência I eu tento ajudar / eu tento
participar mas não é algo que eu viva dentro da minha sa
la / normalmente quando surge uma situação de violência co
mo surgiu por exemplo J que os alunos queriam colocar ca
deado no portão né / e que nós sabemos que um cadeado lá
346
no portão nao é solução prá terminar com a violência / eu
acho que isso é um paliativo mas eu acho também que deixar
de colocar é não mostrar prá eles que o cadeado nao funcio
na / é você deixar com que eles pensem sempre que o proble
ma da violência na escola se resume a um cadeado / então
eu fui a favor e até coloquei isso todas às vezes / que a
escola tinha que ter um cadeado sim / até prá discutir com
ele depois / que o cadeado não resolve / não resolve que o
cadeado é só um símbolo que não vai resolver nada e eu a-
cho que cada vez mais a gente tem que trabalhar com eles na
turma a violência / só que violência não é da escola / -e
do grupo aonde eles atuam né / então fica muito difícil eu
acho que o nosso trabalho é muito de formiga em relação /
é muito uma formiga em relação ao formigueiro que é a vio
lência nesse município / sabe nesse estado.
(Você já foi assaltada?).
Já.
(E o que que voce sente pela pessoa que te assal-
tou?).
Odio.
(Odio I e como ê que voce tá se relacionando de-
pois de ouvir os relatos deles dentro da escola principal
mente dentro da pesquisa? Onde eles falam de situações de
assalto / cerno ê que você ficou ali no meio?).
Nada I vou te dizer / eu não sei se você foi as
saltada mas ser assaltada é uma agressão de momento / hoje
quando eu penso no assalto eu não sinto o mesmo ódio que
347
eu tive naquele momento J naquele dia / naquele momento /
entio eu olho pri eles e meio que nao acredito que aquilo
aconteça / é eles confiam e·m mim J eles gostam de mim.
(Pois é J mas eles chegaram a falar coisas bem ... ).
Mas eu consigo entender o lado deles no momerro em
que eu nio estou sendo assaltada J no momento em que eles
estio dizendo porque que eles assalta / eu entendo o que
que leva / leva o aluno a assaltar até agredir fisicamente /
eu entendo tudo isso / só que eu nao fui assaltada por um
deles J entendeu? Até no dia em que mexeram no meu carro
aqui na escola J o meu sentimento nio foi de raiva / nao
foi de ódio J meu sentimento foi de migoa / nio foi de rai
va pelo indivíduo J foi de mágoa J tanto que quando eu che
guei na sala eu disse a eles que eu estava decepcionada . po.!.,
que eles / não sei nem se o meu discurso foi um discurso /
é / se era esse o caminho J mas era mui to o que eu tava sen
tindo / eu disse prá eles que eu nio sabia quem foi / que
eu não queria nem saber porque eu estava muito decepciona
da mesmo com eles.
(Mas voc~ acha que foi coisa da tua turma?).
Nio / mas eu sei que / eu sei que nao foi da mi
nha turma mas eu sei que eles conhecem quem fez e eu sabia
que o recado ia chegar.
Entrevista com a Professora L.
(E o que você acha / eles colocaram algumas ques-
348
tões na discussão que a gente teve com eles sobre a ques-
tão do preconceito de serem negros? Serem pobres / serem
analfabetos / como é que você vê essa coisa do preconceito?).
Olha alguns tem uns que colocam / mas tem outros
que até não / que eles diz assim / ah professora / no dia
de hoje o interessante é a gente GANHAR o dinheiro / que
esse negScio de saber ler e escrever / isso é bobagem / vê
o que que vocês tão ganhando / e estudou tanto / quer di
zer / que não é prá todos que eles colocam esse preconcei-
to não.
(~as você como é que voce vê esse preconceito?).
O preconceito deles? Até certo ponto a gente ve
como uma coisa que já tá dentro da nossa geraçao / entendeu?
Ãs vezes você diz assim / ah porque eu não tenho preconce~
to / aí de repente eu prá mim eu assumo tudo / de repente
vem uma criança suj a / porca / com o nariz escorrendo / den
tro você às vezes nem quer / mas dentro de você / você já
tá botando os bofes prá fora / então o preconceito é ames
ma coisa / você diz ass im / eu não porque eu não tenro /TQaS
achn que já ti no sangue / sabe / esse negScio de precon-
ceito / já muita coisa tá no sangue / porque muito precon-
ceito - eles diz / - de um preconceito pra que que e ser po-
bre / - ... eles diz / ah ..
que as vezes porque voce ve que o neg~
cio ..
pobre / tem crio lo ...
cheio de dinheiro e ser porque al
e vive com umas louras aí e tudo mais / quer dizer / o ne
gScio é ter dinheiro / não sei até que ponto surge o negS-
cio do preconceito.
349
(E com relaçio i viol~ncia na escola?).
Violência na escola tem que tomar uma direção I
nê?
(O que você acna?) .
Ah J eu nao sei nem te explicar porque / porque es
se negócio de violência tá ... Não sei como te explicar so
bre violência I porque eles sempre foram agressivos né leu
lembro quando eu vim prá cá I na minha turma tavam com vin
te e tantos alunos I aí a Valéria foi dar uma aula na mi
nha sala I então me botaram até prá uma sala grande I en
tão chegou a hora que ela tava dando aula I eles começaram ..• 1
surgiu urna briga tão grande que ela ficou até passando mal
e um quase matou o outro j porque guentou ele pela gargan
ta I então / mas era assim urna briga de aluno prá aluno I
mas agora a violência não tá tanto assim / tá de aluno gran
de prá pequenos.
CAí agora tá com o problema en1..ão na escola?).
Não sei se é de agora se ~o é I isso eu não sei
te explicar.
(E você acha que vem de onde essa violência?).
Prá mim essa violência já tá no sangue deles I ho
je em dia / acho que todo mundo é violento I voce tá numa
condução I você tá num ônibus / voce tâ num trem / de re
pente um pisa no outro J um aborrece I sai urna violência I
então essa violência deles muitas já tão dentro e depois
que surgiu essa guerra aí no morro I taaóêm aí J que um fi
350
ca com medo do outro tamhém nê J tudo é violência / eu a-
cho que a violência tá neles / tá na / no / dentro da esco
. la pe la mane ira de serem tratados / acho que a violência tá
em toda parte J nao sei te expricar esse problema da vio
lência / como diz o ditado I violência gera violência / tá 4'
aI.
(Você já foi assaltada?).
Dentro da escola?
(Não / você já foi assaltada?).
Na minha vida? Já fui aqui perto da escola / me
tiraram o relógio J nem sei se foi aluno da escola / quan
do tava lá na Passarela.
(E ar como é que voce se sentiu?).
Sabe que eu quando eu sou assaltada / engraçado /
eu me reajo / eu me coloco mais do lado do assaltante / eu
só virei assim pra ele e disse assim / faça bom uso do re
lógio J e uma vez também já fui dentro do ônibus e levaram
meu gravador / aí tava até com umas músicas de igreja / di
go / antes de voce usar J você usa as músicas que tão
dentro / quer dizer qúe eu fico danada porque é o suor / e
tudo no momento J eu não consigo assim me reagir com tanta
revolta não / até certo ponto também / sei lá / se eu ti
vesse também .•• Uns são por safadeza / outros já tem aqu~
le instinto mesmo de roubar / né? Tem uma garotinha que
aparece aqui na escola J que a menina acho que tem seis /
sete anos e rouba prâ caramba né J uma menina que vem às ve
35 I
zes com a Solange e outros é porque J é por necessidroe me~
mo J talvez se eu me encontra.sse do lado deles eu sei lá se
eu também faria o mesmo?
(E vem ca a gente aqui tem alunos que sao assal
tantes. Como é que você vê isso / corno você lida com is
so?).
Ah / eu lido até bem sabe / às vezes de repente
quando ele me dã um presente eu pergunto / você tirou de
quem? O Michel mesmo me deu uma caneta muito legal e ou
tro dia um colega pegou me deu uma régua bonita / aí eu
disse / você tirou de de quem? Aí veio um aluno atrás e
disse assim / ele tirou da sala da Kátia / aí eu tive que
devolver.
(Se nao voce não devolveria / voce ace i taria o pr~
sente?).
E J ele nao sabendo / nao me disse de quem / eu per
gtmtei de quem é / a caneta tá comigo até hoje / eu ia sair
procurando da onde ele tirou a caneta? Não tinha nem como.
(E que relação que você vê entre esse problema /
essa questão do assalto coisa e tal ... E a questão da es
cola?).
Eu acho que aqui dentro da escola todo mundo tem
ê I todo mundo ê igual que aqui não estamos / eu não tô a
qui pra ver a qualificação / se um é trabalhador / se ou
tro é assaltante / se ele ta aqui pra aprender dentro de
sala de aula / ~odos eles são iguais / apesar que a gente
coloca o erro / a gente conversa muito ~obre isso né / po~
352
que nao se deve assaltar I importante de se trabalhar / tu
do isso € colocado pri eles / mas eles leu vejo o tempo
de sala de aula como um todo / eu nao vou dizer I aquele é
assaltante j você não faz isso J você nao senta perto dele
porque ele rouha / não.
(A problemitica I a questão de se ter uma socieda
de com assaltante I de se gerar assaltante?).
Isso aí é o sistema ..
nao somos nos.
(Tem alguma relação com a escola? Você ve alguma
relação com a escola?).
Isso aí já ê o sistema I a nossa sociedade faz mui
to com que as pessoas sejam atê assaltante / porque esses
assim / esses pobre coitado sao muito visados porque eles
enfeiam nossa sociedade nê J porque os grandes assaltantes
eles não enfeiam a sociedade e tão aí nas alta roda~ junto
na roda de todo mundo / mas esses assim eles enfeiam reali
dade I a sociedade J então eles tem que ficar a aargem I
mas porque talvez a gente ainda possa mudar o comportamen
to deles e depois de adulto I você "ai conseguir alguma coi
sa I ê pior I então eu acho I eu na minha opinião / eu a-
cho essa escola muito vilida e acho que deveria ser um sis-
tema I assim de liberdade I mas não uma liberdade.com. 1i-
bertinagem I uma liberdade que fizesse visar a eles a im
portância e o porque / pri eles daqui pensar em 1Ielhor / é
isso meu objetivo que eu sempre trabalhei J traball~ava em
cadeia / trabalhei com uma pastoral penal I aí eu via mui-
to aquilo J e quando eu vi esse projeto me interessei a
353
vim prá cá / mas eu pensei que fosse mais fácil/se voce
entende/brincar com eles / ele querer em alguma coisa / mas
eles já tão muito muito enfatizado naquela realidade da vi
da deles.
ePrá você em que a leitura e escrita pode ajudar
na vida?).
Até certo ponto pode ajudar muito né I porque é o
que eu digo a eles / você vai tirar um documento e vai en
caixar seu dedo / tão óom você saber que você sabe alguma
coisa se você I se urna pessoa quer enganar vocês / até mes
mo prá eles quando sao presos / ou qualquer coisa / eles
sabem muita co ••• Porque dentro da realidade da vida /sem
saber ler escrever / as vez eles ê mais inteligente mais vi
vo que a gente mesmo I e às vezes / eu quando eu vim práqui/
eu pensei que eu ia ensinar mas eu aprendo mais que ensi
no / com essa idade toda eu aprendo muita coisa / porque e
les são muit:o espertos / mas agora dentro ch realidade mesmo/
a escrita é muito importante prâ eles / vão tirar uma car
teira I eles vê uma manchete do jornal/que tá acontecen
do no morro deles porque toda ... O Roger mesmo com esse
negócio lá do morro e1e sempre traz o jornal prâ mim / e
diz professora lê aí I olha o que tá acontecendo lá no mor
ro / então eu tenho que ler prá ele / então eu digo prâ e
le / não é tão bacana você aprender a ler você mesmo / vai
pegar seu jornal e ler/tudo isso é importante prâ eles.
354
Entrevista com a Professora AP.
(Como é que você se posiciona com relação ã vio
lência na escola?).
Eu acho que primeiro a gente tem que entender a
violência I eu acho que a violência na escola ela é decor-
rente da cidade I do país I do mundo I né I a violência I
- -ela eu acho que nao so a escola I mas como toda a cidade I
eu acho que todo mundo ta pensando como a gente vai conti
nuar a viver com a violência né I a violência deles a gen
te sabe de onde é que vem I mais ou menos a gente tem uma
idéia do porque eles se agridem I porque é que eles cantam
gritos de guerra das quadrilhas dos morros de onde eles
saem I porque é que a bola da escola tem o negócio da fa
lange vermelha né I isso tudo vem da comunidade I vem de
onde a escola esta agora I a escola precisa trabalhar essa
violência junto com eles I ter a consciência da violência
que praticam.
(Como é que voce ve a violência na cabeça deles?
Sera que eles sentem o que é a violência da mesma forma que
-?) voce ..
Não eu acho que a violência pra eles é como I co
mo se fosse pra alguns ta I tem alguns que já são I já tão
dentro dessa máquina geradora de violência e tudo mais I pra
alguns eu digo I os menores I aqueles que não estão assim I
tão envolvidos J eles vêem como se vissem um filme violentol
e aí eles assistindo aquilo porque não fazer I porque se a
355
moda é a violência J lá onde eles viyem a violência é a mo
da J a violência ê o que manda.
(Você j â conviveu de alguma forma com o internato?).
Assim em que termos.
(Na Funabem, LBA sei l~ internatos que tem por aí/
voce já teve alguma convivência na vida?].
~ J já J com internato já I mas não assim grandes.
(E como é que você sentiu es~a coisa do internato?).
Como assim? Se é válido?
(Sentiu o que poderia significar prá eles J eles
falaram muito sobre isso na tua turma.).
Sobre C. de Acolhida ou sobre Padre Severino J Fu
nabem? Eles tem ojeriza J eles tem medo / eles não gostam.
(Você já viu / você já sentiu alguma coisa que vo
ce possa até avaliar o que eles sintam? Eles chamavam o
tempo todo esses internatos de 'colégio.).
~ porque eles chamam de colégio interno / Marqui
nhos aquele menino da turma da Valéria que desapareceu/prá
onde é que ele foi J ele foi prã um colégio interno J essa
ligação de chamar um internato essas instituições de colé
gio / em comparaçao ao colégio I então prá eles isso aqui
nao é um colégio.
(Você acha que eles sentem essa esc01a de uma ou
tra forma 7) •
Sentem de outra forma porque eles nao sentem a es
356
cola como eles sentem os col~gios.
(Praque voc~ acha que pri eles a leitura e a es
crita poderiam contribuir? pri eles mesmos.).
- -Eles sempre pensam pra eles / o que eles pensam e
que vao aprender a ler escrever pri não ser burro I a gen-
te trabalhar.
(Voc~ avalia que a leitura e escrita possam con-
tribuir efetivamente pri vida deles?).
Eu acho j acredito.
(De que forma?).
Eu acho que pri poder até / na coisa do trabalhol
até na coisa do viver sabendo mais das coisas I porque e-
les sentem gosto de chegar e me contarem que foram na bi
blioteca I e chegaram lá I tia eu li um livro todinho de
ponta a ponta / amanhã eu vou lá outra vez I já ê um jeito
diferente I já dá um gosto diferente I voce sel li I a ge~
te I tudo que a gente v~ I a gente l~ I não sel e como -e
que seria se a gente não soubesse ler eu nao me imagino.
Entrevista com a Professora S.
(Voc~ ji foi assaltada?).
Eu confundo roubo com assalto.
(Tanto faz.).
Não / mas tem o roubo que voce j tiram da sua boI
sa e voc~ não vê I não tem uma história assim?
357
(S mas voc~ ji foi uma dessas coisas?).
Já / já / já.
(E o que que voce sentiu com relação a pessoa que
f . ?) ez 1SS0. •
Raiva / é assim a minha reaçao / é em situações as
sim / pelo menos nessa situação eu não trabalhava ainda /
nisso que eu trabalho / não meX1a com essas pessoas que ho
je eu mexo / que elas mexem muito comigo J mas a minha re~
ção é de dar de volta a agressão J agredí-Io da mesma for
ma que ele me agrediu.
(Então eu te pergunto como ~ que voc~ sentiu os
relatos que eles fizeram sobre assalto?).
Eu ouvi a maioria deles / né / eu acho que eu ou-
vi todos / se não me engano / e isso prâ mim hoje ê muito
natural/hoje um cara me assaltar pedindo ou me agredindo/
eu acho que eu vou ser tranquila / talvez até vã falar.
(Mudou voc~ o fato de ter ouvido?).
Mudou J mudou muito.
Entrevista com a Professora J.
(Quer dizer / a gente com a pesquisa lã na sala /
pintou muito a questão do preconceito / e como é ~Je vace
v~ essa questão? Do AnalfaBeto J que e negro / que é as
saltante / que é pobre / favelado / como ê que você?).
Essa até é uma questão muito difícil I eles tem
358
at~ j uma vez eu ji ouvi aqui na escola / eles t~m precon
cei to de ser menino de rua J en tendeu? Tinha até aluno meu
que não queria ~ aparecer em reportagem / nada disso / po~
que se não iam falar que eles eram meninos de rua / tem is
so / o lance do negro / ~ um preconceito que existe na so
ciedade né / o racismo / sabe / isso ~ uma coisa que eles
tamb~m / por estar na sociedade / eles tamb~m são envolvi
dos por esse preconceito / n~ / aquele lance de que voc~ e
branco e de repente branco ~ quem tem o dinheiro / negro e
quem nao tem / é sempre assim / entendeu? E de repente e
les estão sempre querendo chegar ã classe dos brancos / que
prâ eles é a classe do pessoal mais favorecido.
(E como ~ que você vê a questão da viol~ncia na
escola? Como é que voce se posiciona com relação a isso?).
Quer dizer a violência / eu acho até que um pouco
da falta de limite / uma coisa que sempre existiu na esco-
la / entendeu? Você não dã limite / inão compreensívelj
Quer dizer mas / tirando por aqui entendeu? A questão -e
falta de limite mesmo / de falar em liberdade / entendeu?
Porque quer dizer / liberdade sempre depende de um outro
n~ J não existe outro' sozinho / sempre tã sendo influencia
do por um outro né / então eu acho que acabam não entenden
do o limite e acabam extrapolando / virando at~ uma liber
tinagem mesmo / então eu acho necessário limite / entendeu?
Você ter regras / porque a sociedade ~ assim / se não ti-
vesse regra todo mundo ia se matar / todo mundo / entendeu?
Ia ser uma coisa estranha.
359
(E de onde vem essa viol~ncia? Voc~ acha que vem
de onde essa viol~ncia que eles passam aqui / que eles vi
vem aqui?).
Eu acho que é o reflexo de uma sociedade violenta
onde que tew virias assassinos J ar de um dia pro outro is
so tudo é reflexo do que eles vivem no morro / na rua em
tuoo quanto é lugar.
(E as coisas que eles contaram / que eles falaram?
Os assuntos que eles conversaram na turma pintou a questão
da guerra na favela / no morro / Anselmo contou aquela hi~
tória depois a questão do assalto / do filhinho de papai /
do pobre que assalta / como é que e tratado na delegacia /
foi o que surgiu na tua turma / como é que voce ve essas
coisas que eles falaram / esses textos que eles produziram?).
Eu acho que é o reflexo do que acontece na reali
dade com eles o que eles vivenciaram então eles tendem a
trazer isso pri sala de aula J e / quer dizer / faz parte
da história de vida de cada um / da imagem que cada um faz
em relação ao mundo.
(E o que voc~ acha desses assuntos? Qual é a tua
poslçao com relação a essas questões?).
De que isso realmente existe / entendeu? Esse lan
ce por exemplo do branco que tem mais privilégios do que o
negro / essas coisas J essas coisas que realmente existem/
tão aí no mundo que todo mundo sofre J entendeu? Tanto e
les como eu como qualquer pessoa J ti vendo isso aí.
CPri voc~ em que a leitura e a escrita pode con-
360
tribuir na vida desses meninos?).
Eu acho que em crescimento / entendeu? Dele come
çar a ter uma visão diferente do mundo a ter uma VIsao crí
tica do mundo que tá acontecendo dele poder nerceber com
outros olhos / entendeu? E poder at~ ter um pouco de rnalí
cia no que acontece / então eu acho que a escrita tamb~m /
a questão at~ de você ler de se aprnfundar de conhecimento
geral/entendeu? Que dizer de você ter uma nova visão do
mundo você / ver de outra forma / tentar compreender tudo
que ê passado prá você I entendeu por outras pessoas na VI
da.
(E a escola, ela contribui de que forma?).
De repente desenvolvendo essa crítica / entendeu?
Transformar o aluno de repente numa pessoa crítica mesmo
do mundo / dele avaliar o que que é bom prá ele o que nao
ê bom prá ele / entendeu? Tem a questão da malícia mesmo/
tentar compreender/saber/eu acho que o professor como a es
cola / nê / eu acho que vai facilitar esse aprendizado/ es
sa mudança de comportamento dele.
Entrevista com a Professora V.
(Você já foi a algum internato?).
Já nos jardins da Funabem.
(Mas você conviveu com. essas crianças internadas?).
Não.
(Viu essas crianças internadas?).
Vi / eu via.
361
(O que você sentia quando via? O que achava daquilo?)
Péssima / aquelas crianças tudo de cabeça raspa-
da com a mesma roupa / aquela roupa cinzenta que eles usa
vam na época / sei lá / estranho e ruim prá eles.
(Como é que você vê questão da família pros meni-
nos?).
Como é que eu vejo a questão da família / sei lá/
complicado porque mesmo os que moram no morro que têm pa
e mãe / a mae e o pai bebem / não tem emprego / ou então
tem muita violência / no morro e aí eles ficam nervosos /
por isso não tem salário vivem de biscate / então fica com
plicado prá eles que têm um monte de filhos morar em um lu
gar pequenininho / que ainda por cima tem tiroteio i noite
toda / e ele tem que sobreviver J e a questão da família
passa assim de uma violência / que passa com outros meios/
a família também passa / acho que tem muita violência no
meio da família / pai batendo / todo mundo batendo.
(E essa questão dessas brigas deles que não aca-
bam?) .
Então acho que tem haver com isso / ainda um dia
veio uma mãe aqui do morro falar com a gente / começa tiro
teia sete horas da noite vai até o dia clarear J então o
pai chega cansado do trabalho quer dormir não pode dormir
porque tem tiroteio / as crianças tem que ficarem enfiadas
362
dentro do mesmo barraco com eles / prá criança I não quer
saber se tem tiroteio I eles estão lá fazendo bagunça / bri
gando / o pai fica nervoso I a mae fica nervosa / taca mão
nas crianças mesmo / chega aqui eles t~m que reproduzir /
é isso mesmo / é violência.
(Para voc~ em que a leitura e a escrita podem con
tribuir na vida desse aluno?).
Acho que pode contribuir no sentido que é mais um
instrumento prá leitura do mundo I que eles já l~em o mun-
do de várias formas / eu acho que a leitura e a escrita -e
mais um instrumento de leituras desse mundo de sobreviv~n-
cia I desse mundo I faz a criança ou adulto ou indivíduo
ingressarem num outro grupo / no grupo dos que sabem ler /
dos que escreve J eu acho que é uma outra etapa / vão ter
outras dificuldades / vão ter outros problemas I mas assim
voc~ está dando mais um instrumento de vida prá eles / as-
sim como um emprego / um prato de comida / como uma roupa/
um remédio I prá mim tá I assim / um cara que va1 ser in
cluído em um outro grupo / grupo dos que sabem ler e vai
ter que brigar também nesse grupo / vai ter que / aqueles
que sabem ler / é já I que veio de uma família que convive
com a leitura e a escrita há mais tempo e tem esses que o
espaço da leitura está reservado a escola porque a família
dele não lida com isso / mas ele sabendo ler e escrever há
uma modificação nele no indivíduo.
(E a escola7).
No que pode contribuir a escola na vida desse ga-
363
roto? Eu acho que a escola tem o papel de a meu ver nao
estou falando dessa escola específica / estou falando de
escola / - mim / de socializar / papel de lidar pra tem o com
/ de - aprender interagir fundamental regras voce a no grupo
mente isso e de também informar / é mais um lugar de info~
mação e dessa integração com o grupo onde você vai ter ou
tras regras e seus deveres / esse exercício mesmo de lidar
cem os limites com seus limites I mais de relacionamentos
e a parte de informação.
-? ) ce ve ..
-(Essa escola aqui pra esses meninos corno e que vo
Acho que essa escola para esses meninos ela exis-
te malS corno um espaço / de um espaço / tem meninos que tr~
balham / aqueles que são crianças mas que trabalham / mas
aqui eles tem o espaço de serem crianças / tem os meninos
que aqui tão fugindo da marginalidade / tão tentando sair
da marginalidade / tentando não entrar na marginalidade e
também acesso ao saber J eles tentam aprender / que vai ser
necessário na vida deles e essa história prá mim também es
sa coisa do grupo mesmo / dã palpite na vida do grupo / mo
dificar / interagir / ·socializar as coisas / os problemas.
A N E X O VIr REGISTRO FOTOGRÁFICO DO MOMENTO
DA PESQUISA
Inauguração da Escola
~6S
Inauguração da Escola
366
Momento da Pesquisa
367
Momento da Pesquisa
368
Momento da Pe squis a
J I I
/ I : i I i
i t
j I J t !
I I
I
I J
I
I I I
Nome dos
Componentp.s da
Banca Examinadora
Iv z.
-
Dissertação apresentada aos Senhores:
~/ \ ~ .. "' .. ~ ... '-~ \\> (t.l~Amcri~O Mo ta p~~
f'ltlfíddf:;tr;~~://#/;;'/ SaIiii ra Nélhid deMe-Squi ta
V i s t o e p c r In i t i d a a i JlI P r c s são
Rio de Janeiro 23 / 04 / 90
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