O HIPERGÊNERO FACEBOOK COMO INSTRUMENTO DE ENSINO-
APRENDIZAGEM DA NORMA CULTA DA LÍNGUA PORTUGUESA EM
SALA DE AULA
Adriana Carvalho Souza1
Alex Nery Morais2
Juliana da Costa Castro3
Sílvio Nazareno de Sousa Gomes4
RESUMO
Diante da possibilidade de utilizarmos o hipergênero Facebook como instrumento no
processo de ensino-aprendizagem da norma culta, surgiu a seguinte questão problema:
Como didatizá-lo? Dessa forma, o presente estudo tem por objetivo geral apresentar
procedimentos metodológicos para a didatização deste hipergênero em sala de aula.
Para tanto partimos de uma pesquisa bibliográfica de cunho descritivo, a fim de mostrar
uma proposta didática para o trabalho com a Norma Culta brasileira por meio do
hipergênero Facebook, esclarecendo sua relevância como ferramenta de ensino para as
aulas de Língua Portuguesa. Dessa forma, nosso estudo permite a reflexão do professor
no que diz respeito à norma culta da Língua Portuguesa, levando-o a perceber que o
hipergênero Facebook pode sim servir como ferramenta de ensino nas aulas de Língua
Portuguesa como fonte segura de informações, cabendo ao professor a responsabilidade
de ajudar na formação de sujeitos críticos e reflexivos, capazes de utilizar a língua nos
seus mais diversos contextos sociais.
Palavras-chave: Hipergênero Facebook. Multiletramentos. Norma culta. Transposição
didática. Didatização.
5
ABSTRACT
1Licenciatura em Letras/Francês pela Universidade Federal do Amapá/UNIFAP. Especialista em
Metodologia da Língua Portuguesa e Literatura, do Instituto de Ensino Superior do Amapá/Ap. E-mail:
[email protected] 2Licenciatura em Letras/Inglês pela Universidade Federal do Amapá/UNIFAP. Especialista em Metodologia da Língua Portuguesa e Literatura, do Instituto de Ensino Superior do Amapá/Ap. E-mail:
[email protected] 3Licenciatura em Letras/Inglês pela Universidade Federal do Amapá/UNIFAP. Especialista em
Metodologia da Língua Portuguesa e Literatura, do Instituto de Ensino Superior do Amapá/Ap. E-mail:
[email protected] 4 Mestre em Letras, com área de concentração em “Linguagens e Letramentos”, pela Universidade
Federal do Pará/UFPA. Docente do Curso de Pós-Graduação em Metodologia do Ensino de Língua
Portuguesa e Literatura do Instituto de Ensino Superior do Amapá/IESAP, onde ministra a disciplina
Gramática e Ensino de Língua Portuguesa. E-mail: [email protected]
2
Facing the possibility of the use of Facebook Hyper genreas an instrument in the
process of teaching-learning of pattern form, the following question came up: How to
make it part of the learning process? In this way, the present study aims to present
methodological processes for the didactization of this hyper genre in class. Therefore,
this study was made by a bibliographical research with descriptive characteristic and it
intends to show a didactic propose to work the Brazilian pattern form of language
through the Facebook hyper genre. It can explain its relevance as a tool for classes of
Portuguese Language
Keywords: Hiper genre Facebook. Multiliteracy. Standard language. Didactic
transposition. Didactization.
1 INTRODUÇÃO
De influência e importância incontestável no mundo dos negócios, sobretudo
da publicidade, as redes sociais são costumeiramente acusadas de exercerem influência
perniciosa aos usuários no que tange à educação. São comuns, por exemplo, as críticas
ao internetês6. Entretanto, é interessante lembrarmos que por mais que o internetês e
outros possíveis malefícios estejam sendo tão discutidos dentro e fora do ambiente
escolar, é cada vez mais difícil prescindirmos da internet de modo geral no desempenho
de diferentes tarefas do cotidiano, mesmo de tarefas do meio educativo. Devemos,
portanto, admitir que nas redes sociais não circulam apenas textos mal produzidos ou de
pouco valor instrutivo, circulam também textos de fontes confiáveis, escritos conforme
a norma culta, e que, de certa forma, promovem um domínio maior do usuário da língua
sobre a norma culta.
Dessa forma, o presente paper é justificado na reflexão e compreensão de como
os hipergêneros podem auxiliar no ensino-aprendizagem da norma culta brasileira, por
isso elegemos o hipergênero Facebook que recebe este prefixo por abarcar outros
gêneros, ou seja, pelo gênero textual Facebook são emersos diversos outros como:
artigo de opinião, quadrinhos, charge, reportagem, notícia de jornal, dentre outros.
Diante dessa informação, entendemos que a possibilidade de um estudo como este é
considerada eficaz porque o mundo contemporâneo exige novos conhecimentos e
entendimentos, bem como novos letramentos e teorias, já que as pessoas da
6Linguagem utilizada, principalmente, pelos jovens nas redes sociais.
3
contemporaneidade, no que diz respeito à linguagem, são compostas por valores do
multiletramento (ROJO, 2012, 2013) e multimodais (DIONÍSIO, 2011).
Partindo desses pressupostos, os hipergêneros são compreendidos como ações
comunicativas, carregando também estruturas linguísticas formais, frequentemente
utilizadas por alunos e professores dentro e fora da instituição escolar. Por isso o
interesse em trazer essa discussão para sala de aula, a fim de favorecer aos alunos novas
compreensões de se aprender a norma culta da Língua Portuguesa.
Logo, este trabalho tem por objetivo mostrar que o hipergênero Facebook pode
servir como instrumento no processo de ensino-aprendizagem da norma culta da Língua
Portuguesa e ainda atender aos seguintes objetivos específicos: apresentar o conceito de
hipergênero; mostrar o conceito e a importância da norma culta no processo de ensino-
aprendizagem da Língua Portuguesa, onde a encontrar no hipergênero Facebook e
conceituar o termo Didatização apresentando alguns direcionamentos para a didatização
do hipergênero Facebook.
Tais objetivos se deram para afirmar a hipótese de que é possível utilizá-lo
como instrumento de ensino-aprendizagem da norma culta em sala de aula, visto que o
problema central do nosso trabalho foi justamente: Como didatizar o hipergênero
Facebook para o ensino da norma culta da Língua Portuguesa?
2 METODOLOGIA
Diante dos objetivos, nosso estudo foi realizado seguindo os procedimentos
metodológicos da pesquisa bibliográfica (SEVERINO, 2008; ANDRÉ, 1986), de cunho
descritivo, uma vez que foi desenvolvida por meio de outras fontes, ou seja, a partir da
contribuição textual de outros autores da área, e de dados na internet, em páginas do
Facebook.
3 O HIPERGÊNERO FACEBOOK
Antes de começarmos a abordar o hipergênero Facebook, julgamos necessário
trazer o conceito de gêneros textuais sob a perspectiva bakhtiniana (2003) que trata os
gêneros discursivos como enunciados relativamente estáveis, de natureza
4
sociointeracional, histórica, linguística e ideológica, sob manifestações bastante
diversificadas, pois estão relacionadas às muitas esferas da atividade humana. Na
mesma linha, Marcuschi (2011) afirma que não podemos conceber um gênero textual
como modelos estanques, nem como estruturas rígidas, mas como formas de culturais e
cognitivas de ação social (entidades dinâmicas).
O gênero textual é essencialmente flexível e variável, tal como seu componente
crucial, a linguagem. Pois, assim como a língua varia, também os gêneros variam,
adaptam-se, renovam-se e multiplicam-se. Em suma, hoje, a tendência é observar os
gêneros pelo seu lado dinâmico, processual, cognitivo, interativo (MARCUSCHI,
2011).
Tomando posse do conceito de que os gêneros textuais são enunciados
flexíveis/diversos distribuídos nas mais variadas esferas de comunicação, o hipergênero
Facebook corresponde positivamente às definições expostas, ou seja, ele, assim como os
demais hipergêneros (Twitter, Whatsapp, Blog, Fanfics), mostram como as novas
tecnologias contribuem para o surgimento de novos letramentos, bem como de novos
gêneros textuais. Para esclarecer a noção de hipergênero, Maingueneau (2010, p.131)
explica que:
Os hipergêneros consistem em um protótipo genérico que “enquadra uma
larga faixa de textos” (2010, p. 13) que compartilha, de certa forma,
elementos comuns, como é o caso da carta (cuja estruturação pode ser recuperada nos diferentes tipos de carta: carta pessoal, carta comercial) e do
blog (“categoria que atravessa categorias temáticas: pessoal, institucional,
comercial, educacional”)
Assim como o blog, o Facebook abriga diversos gêneros em sua estrutura,
como podemos verificar nas imagens 1 e 2 em anexo, que trazem, respectivamente, os
gêneros reportagem e poema. Partindo dos exemplos, é importante deixar claro que o
Facebook é parte integrante das novas tecnologias de informação e comunicação, as
chamadas TICS, e por ele ser um hipergênero são permitidas em sua estrutura ações
comunicativas cotidianas, que acabam por produzir uma linguagem mais flexível entre
seus usuários, que chamamos de multiletramentos7 (ROJO, 2012), conceito esse que
abrange também o internetês. Por outro lado, os hipergêneros permitem da mesma
7Segundo a autora o conceito de multiletramentosé diferente do conceito de letramentos, pois este
primeiro tem por objetivo apontar para a multiplicidade e variedade de práticas letradas, valorizadas ou
não socialmente (ROJO, 2012, p.13).
5
maneira ações comunicativas de caráter formal (norma culta da língua portuguesa),
como uma reportagem, notícia, artigo de opinião, artigo científico, entre outros.
4 A NORMA CULTA DA LÍNGUA PORTUGUESA NO HIPERGÊNERO
Chamamos de variantes ou variedades linguísticas as diferentes formas de
utilizarmos uma mesma língua em diferentes contextos. A norma culta corresponde a
uma delas e tem como característica obedecer a um conjunto de padrões linguísticos
rigorosos, relacionados, por exemplo, à sujeição às regras da gramática tradicional, à
adequada escolha lexical e à capacidade de organização das ideias. Tal norma vem a
constituir o que temos socialmente como uso apropriado de uma língua em situações
formais e se refere à linguagem concretamente utilizada pelas pessoas pertencentes aos
segmentos mais favorecidos da nossa população (BAGNO, 2003).
É papel da escola promover aos alunos o domínio da norma culta, o que lhe
constitui, dentre outras coisas, uma ferramenta para o seu acesso às instâncias de
prestígio da sociedade e, portanto, para a mudança da sua realidade social, sem, no
entanto, desprezar aquela variante que eles já dominam ao chegar na escola, como
afirma Bechara (1999, p. 59): "Mas o professor de língua portuguesa, sem desprestigiar
o valor da língua coloquial, deve centrar sua atenção no padrão culto, que presidirá à
produção linguística do educando, seja falando, seja escrevendo".
No que tange às práticas de escrita nas redes sociais, objeto de estudo desse
trabalho, embora costumeiramente o que mais tenha chamado a atenção dos educandos
seja o internetês, linguagem tão execrada nos meios escolares, vale lembrarmos que no
Facebook, além dos conteúdos produzidos por pessoas físicas, circulam também muitos
outros produzidos por entidades comerciais e mesmo oficiais. Em outras palavras, nessa
rede social, o indivíduo também tem a oportunidade de entrar em contato com
conteúdos produzidos e publicados de forma criteriosa e que constituem bons modelos
de textos escritos em norma culta.
A forma como configuramos o nosso Facebook define os conteúdos que
receberemos diretamente nas nossas linhas do tempo. Além das postagens feitas pelos
nossos contatos e das que eles compartilham de outras pessoas e páginas, podemos
6
optar por receber diretamente em nossas linhas do tempo postagens de páginas
específicas. Nessa rede social existe uma infinidade de páginas especializadas em
assuntos desde os mais corriqueiros, como os de páginas de humor e astrologia, por
exemplo, até os mais restritos e complexos, como os de páginas de órgãos oficiais,
como o Conselho Nacional de Justiça, de entidades comerciais, como empresas de
telefonia, além de publicações periódicas de cunho informativo, jornalístico ou
de entretenimento.
Apresentamos a seguir exemplos de postagens com textos em norma culta
feitas tanto por páginas especializadas quanto por pessoas físicas.
A imagem 3 em anexo contém um texto publicado pela página do Conselho
Nacional de Justiça, de caráter instrutivo e informativo. É interessante observarmos o
fato de que este, além de propiciar ao indivíduo o contato com a norma culta, pode se
configurar num ensinar-lhe a agir na língua e pela língua. Na imagem 4 em anexo
encontramos outro exemplo de texto de caráter informativo e escrito em norma culta,
postado pela página do Ministério da Educação.
As imagens 5 e 6 em anexo constituem duas postagens também em norma
culta, feitas pelas páginas de duas publicações periódicas de âmbito nacional. A
primeira, da Revista O Globo e a segunda, da Revista Boa Forma.
Já a imagem 7 em anexo mostra uma postagem contendo uma fotografia e um
texto de conteúdo particulares, feita pela jornalista Cora Ronai, atualmente colunista do
Jornal O Globo, em sua página pessoal, onde ela publica, além dessas, notícias
relacionadas a atualidades, economia e tecnologia, além dos textos já publicados por ela
neste jornal.
Publicações como a da imagem 8 em anexo, por exemplo, feitas por uma
página especializada em gramática normativa, podem ser mais diretamente relacionadas
ao ensino de Língua Portuguesa, pois tem como objetivo primeiro fornecer ao leitor
conhecimentos sobre um dos aspectos importantes da norma culta, as regras
gramaticais.
Vale lembrar que essas postagens possuem geralmente, além dos hiperlinks
conceituais, hiperlinks virtuais, por vezes constituídos do próprio vocábulo, que ao
serem clicados pelo leitor, permitem-lhe o acesso a outros textos que completam e/ou
complementam aqueles já presentes.
7
3 A DIDATIZAÇÃO DO HIPERGÊNERO TEXTUAL FACEBOOK
Para ensinar, é imprescindível conhecer “o que se ensina”, é necessário, então,
ter uma consciência reflexiva do que podemos e como podemos trazer para a sala de
aula. Schneuwly (1995b), afirma que o saber, considerado como elemento essencial do
ensino, existe em princípio como saber útil dentro das situações sociais diversas e não
para ser ensinado, ou seja, o saber, que nesse caso é a norma culta, precisa ser útil em
diversas situações dentro e fora da sala de aula para que possa ter sentido para os
alunos.
Portanto, é necessário transformarmos os saberes de referência em saberes a
serem ensinados, ou seja, submetê-los a um processo de passagem de um conteúdo de
saber preciso para uma versão didática, a esse processo damos o nome de transposição
didática8 (CHEVALLARD, 1985). Essa passagem é importante, pois o hipergênero
Facebook foi criado para circular na esfera midiática, então, quando levado para a
esfera escolar temos que adaptá-lo a esta última. Para tanto o autor explica:
A análise dessa passagem, ou seja, desse processo de transformação, implica a compreensão de um esquema, a saber: objeto de saber → objeto a ensinar
→ objeto de ensino. A passagem do saber, através da constituição desses
diferentes objetos, faz-se na transformação, na variação e, às vezes, na
substituição (CHEVALLARD, 1985 apud BARROS-MENDES, 2005, p.19).
Uma vez estabelecida essa consciência o professor precisará lançar mão de
uma nova prática, a didatização (BARROS-MENDES, 2005) dos saberes a serem
ensinados. Para esta autora, a didatização “seria a maneira de organizar esses saberes
para a compreensão do aluno” (op. Cit p. 21), ou seja, a didatização é o como, por meio
de atividades sistematizadas, os saberes são apresentados com a finalidade de
concretizá-los em saberes ensinados e aprendidos.
Então, considerando a natureza híbrida do Facebook temos uma gama de
oportunidades de utilizá-lo como instrumento de ensino e aprendizagem nas aulas de
LP, uma vez submetido ao processo de transposição didática irá se transformar os textos
8 O termo transposição foi concebido por um sociólogo, Verret (1975), e desenvolvido por um
didático, Chevallard (1985).
8
escritos seguindo a norma culta de diversas páginas desta rede social em objetos de
ensino.
4.1 Propostas de Didatização do Hipergênero Textual Facebook
Uma forma de didatizar o saber descrito acima, que é justamente a norma culta
presente no Facebook, seria o professor propor a produção de um gênero textual formal9
como o artigo de opinião, depois de estabelecer as capacidades a serem desenvolvidas
e/ou aprimoradas, ele deve apresentar aos alunos seu contexto de produção, suas
características, função social, estilo, estrutura, seus modos constitutivos de leitura, ou
seja, apresentá-lo como gênero textual.
Feito isso, o professor irá indicar e orientar a visita de páginas oficiais do
Facebook de revistas como a Veja, Istoé, Época, Ciência Hoje, como no exemplo da
Imagem 9 em anexo. Vale lembrar que cabe ao professor fazer um levantamento de
diversas reportagens sobre variados temas para que possa direcionar seus alunos às
páginas. Essas páginas servirão como fonte de informações para a escolha de um tema
para a produção inicial do gênero textual artigo de opinião.
Esse momento é importante para que o aluno possa, ao ler reportagens e artigos
presentes no Facebook, não só ter informações importantes sobre o tema para o
planejamento de sua produção inicial, mas também ter contato direto com a norma
culta. O professor precisa chamar a atenção do aluno quanto a esse tipo de linguagem,
sobre a sua adequação a determinadas situações de uso. Em seguida o professor deve
criar uma página da turma no Facebook e pedir que os alunos compartilhem as
reportagens ou artigos que consideraram mais interessantes. Desses artigos e
reportagens compartilhados o professor irá selecionar um (a) para discussão em sala de
aula.
Para selecionar o tema o professor pedirá que os alunos, ao compartilhá-los,
escrevam uma legenda desse artigo ou reportagem posicionando-se em relação ao seu
tema, então o professor escolherá o tema que for mais bem defendido. Juntamente com
o artigo ou reportagem escolhidos, o professor levará para a turma outros artigos de
9 Pode escolher também o Artigo de Divulgação Científica, Reportagem, Seminário, Debate, Fórum, Júri Simulado, etc.
9
opinião, vídeos, reportagens, sobre o mesmo tema para promover a leitura e discussão
em sala de aula.
Assim, quando os professores utilizam-se de gêneros textuais no hipergênero
Facebook como fonte de informação e exemplo de linguagem formal, conseguem
envolver o aluno, de modo que este relaciona o que já sabe com o que precisa saber. É
importante lembrar que se eventualmente a escola não possuir sala de informática, o
professor pode trazer as páginas impressas para os alunos, promover o debate em sala
de aula de acordo com os temas, pedir que os alunos se posicionem e argumentem a
favor ou contra o tema. Os passos descritos acima, servirão para estabelecer maior
contato com a linguagem formal e as diversas fontes de informação existentes no
hipergênero Facebook, importantes para a produção do gênero textual artigo de opinião.
O professor pode ainda selecionar algumas páginas do Facebook, como a
Página de Astrologia (imagem 10 em anexo) que mostra um exemplo de desvio da
norma culta, páginas que contenham exemplos de gêneros textuais que seguem a norma
coloquial e outras que tenham gêneros textuais escritos na norma culta. Ele pode
imprimir ou trazer em forma de slides para que os alunos possam reconhecer esse
hipergênero e, ainda, perceber este contraste que existe dentro dele.
Outro modo seria o professor promover a memorização de conceitos-chave por
meio de páginas que satirizam “erros” gramaticais utilizando imagens, como o exemplo
da imagem 11 (ver em anexo), a partir de exemplos como esse o professor pode
desenvolver atividades de epilinguismo.
Dessa forma, com as exemplificações acima, percebemos o hipergênero
Facebook como, ao mesmo tempo, instrumento de comunicação e ferramenta de ensino,
onde saberes sociais – visto que já são de conhecimento da maioria dos alunos - se
transformam em objetos de ensino.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo percebemos o Hipergênero Facebook como uma ferramenta
múltipla e complexa, que permeia diversos contextos de atividade comunicativa, isso
nos leva a dizer que ele se apresenta como uma síntese da sociedade que o produz.
Assim, pode ser concebido: Como suporte, mesmo que não tenha espaço privilegiado,
apresenta conteúdo educativo, pois traz em sua estrutura diversos outros gêneros
10
textuais (formais e informais); Como espelho da sociedade: embora ainda sofra
demasiado preconceito por parte considerável de professores, apresenta o estado de
conhecimento de uma época e dos principais aspectos de uma sociedade; Como
instrumento pedagógico: por estar presente na vida de grande parte dos alunos e
professores, precisa ser considerado como parte integrante do processo de ensino-
aprendizagem.
Além disso, escolhemos o hipergênero Facebook como ferramenta de ensino,
em virtude de alguns dados10
sobre seu uso pelos brasileiros, segundo os quais,
mensalmente, o usuário passa em média 12 horas e 13 minutos na rede social. Isso
equivale a mais ou menos de 1,68% do mês. Por dia, 53 milhões de internautas acessam
o Facebook no Brasil, sendo que 30 milhões utilizam-no por meio de aparelhos móveis.
No Brasil quem tem entre 15 e 24 anos está dentro do principal público, com cerca de
30% de presença. Depois vêm as faixas de 25-34 anos, 35-44, 45-54 e quem tem mais
de 55.
Considerando os dados acima, afirmamos que a instituição escolar não pode
ignorar as novas tecnologias/ferramentas de comunicação, o que deve ser feito é a
reflexão a respeito de sua adequação ao espaço escolar. Esta reflexão permitirá uma
visão mais ampla do trabalho com a Língua Portuguesa, no qual seu estudo não estará
centrado apenas nos livros didático como ferramenta de ensino, mas também no uso de
novas tecnologias, em especial, os meios eletrônicos com acesso à internet.
Nosso estudo permite ainda a reflexão do professor no que diz respeito à norma
culta da Língua Portuguesa, leva-o a perceber que gêneros textuais tão estigmatizados
como o Facebook podem sim servir como ferramenta de ensino nas aulas de Língua
Portuguesa, servindo como fonte segura de informações apresentadas em forma de
artigos de opinião, reportagens, entrevistas, cabendo ao professor a responsabilidade de
ajudar na formação de sujeitos críticos e reflexivos, capazes de utilizar a língua nos seus
mais diversos contextos sociais.
REFERÊNCIAS
10
Fonte: http://olhardigital.uol.com.br/noticia/brasileiro-gasta-mais-de-12-horas-por-mes-com-
facebook/40875
11
BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. Estética da Criação Verbal. 4. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2003.
BAGNO, Marcos. A norma culta: Língua & poder na sociedade brasileira. 2. ed. São
Paulo: Parábola, 2003.
BARROS-MENDES, A. N. N. A linguagem oral nos livros didáticos de língua
portuguesa do Ensino Fundamental – 3º e 4ª ciclos: algumas reflexões. Doutorado
em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem do Programa de Pós-Graduação em
Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo. São Paulo: PUC/LAEL, 2005.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna,
1999.
CHEVALLARD, Y. La transposition didactique : du savoir savant au savoir
enseigné. La penséeSauvageEditions. Paris, 1985/1991.
MAINGUENEAU, Dominique. Genre, hypergenre, dialogue. Calidoscópio. São
Leopoldo: UNISINOS,2010.
MARCUSCHI, Antonio. Gêneros Textuais Reflexões e Ensino. In Gaydeczka et al.
Parábola, 2011.
ROJO, Roxane H. R. Pedagogia dos multiletramentos: diversidade cultural e de
linguagens na escola. In: ROJO, Roxane Helena Rodrigues; MOURA, Eduardo (orgs.).
Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012
SCHNEUWLY, B. De l’utilité de la « transposition didactique ». IN : CHISS, J-L .;
DAVID, J. & REUTER, Y. (1995) Didactique du Français : État d’une discipline, pp.
49-62. Paris: NATHAN, 1995b
ANEXOS
12
Imagem 1: Revista Época
Fonte: https://www.facebook.com/epoca.com.br?fref=ts
Imagem 2: O gênero textual Poema encontrado no hipergêneroFacebook
Fonte: https://www.facebook.com/andersonjor?fref=ts
13
Imagem 3: Página no Facebook do Conselho Nacional de Justiça
Fonte: https://www.facebook.com/cnj.oficial?fref=ts
Imagem 4: Página no Facebook do Ministério da Educação
Fonte: https://www.facebook.com/ministeriodaeducacao?fref=ts
14
Imagem 5: Página no Facebookdo Jornal O Globo
Fonte: https://www.facebook.com/jornaloglobo?fref=ts
Imagem 6: Página no Facebook da revista Boa Forma
Fonte: https://www.facebook.com/revistaboaforma?fref=t
15
Imagem 7: Página pessoal no Facebook de uma Jornalista
Fonte: https://www.facebook.com/cronai?fref=ts
Imagem 8: Página no Facebook sobre Dicas de Português
https://www.facebook.com/DicasDiariasdePortugues?fref=ts
16
:
Imagem9: Página da Veja
Fonte: https://www.facebook.com/Veja?rf=115168481827782
.mn
Imagem9: Página no Facebook de Astrologia com exemplo de desvio da norma culta
Fonte: https://www.facebook.com/Veja?rf=115168481827782
17
Imagem 11: Dicas de Língua Portuguesa
Fonte: https://www.facebook.com/Veja?rf=115168481827782
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