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O HIPERGÊNERO FACEBOOK COMO INSTRUMENTO DE ENSINO- APRENDIZAGEM DA NORMA CULTA DA LÍNGUA PORTUGUESA EM SALA DE AULA Adriana Carvalho Souza 1 Alex Nery Morais 2 Juliana da Costa Castro 3 Sílvio Nazareno de Sousa Gomes 4 RESUMO Diante da possibilidade de utilizarmos o hipergênero Facebook como instrumento no processo de ensino-aprendizagem da norma culta, surgiu a seguinte questão problema: Como didatizá-lo? Dessa forma, o presente estudo tem por objetivo geral apresentar procedimentos metodológicos para a didatização deste hipergênero em sala de aula. Para tanto partimos de uma pesquisa bibliográfica de cunho descritivo, a fim de mostrar uma proposta didática para o trabalho com a Norma Culta brasileira por meio do hipergênero Facebook, esclarecendo sua relevância como ferramenta de ensino para as aulas de Língua Portuguesa. Dessa forma, nosso estudo permite a reflexão do professor no que diz respeito à norma culta da Língua Portuguesa, levando-o a perceber que o hipergênero Facebook pode sim servir como ferramenta de ensino nas aulas de Língua Portuguesa como fonte segura de informações, cabendo ao professor a responsabilidade de ajudar na formação de sujeitos críticos e reflexivos, capazes de utilizar a língua nos seus mais diversos contextos sociais. Palavras-chave: Hipergênero Facebook. Multiletramentos. Norma culta. Transposição didática. Didatização. 5 ABSTRACT 1 Licenciatura em Letras/Francês pela Universidade Federal do Amapá/UNIFAP. Especialista em Metodologia da Língua Portuguesa e Literatura, do Instituto de Ensino Superior do Amapá/Ap. E-mail: [email protected] 2 Licenciatura em Letras/Inglês pela Universidade Federal do Amapá/UNIFAP. Especialista em Metodologia da Língua Portuguesa e Literatura, do Instituto de Ensino Superior do Amapá/Ap. E-mail: [email protected] 3 Licenciatura em Letras/Inglês pela Universidade Federal do Amapá/UNIFAP. Especialista em Metodologia da Língua Portuguesa e Literatura, do Instituto de Ensino Superior do Amapá/Ap. E-mail: [email protected] 4 Mestre em Letras, com área de concentração em “Linguagens e Letramentos”, pela Universidade Federal do Pará/UFPA. Docente do Curso de Pós-Graduação em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e Literatura do Instituto de Ensino Superior do Amapá/IESAP, onde ministra a disciplina Gramática e Ensino de Língua Portuguesa. E-mail: [email protected]

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O HIPERGÊNERO FACEBOOK COMO INSTRUMENTO DE ENSINO-

APRENDIZAGEM DA NORMA CULTA DA LÍNGUA PORTUGUESA EM

SALA DE AULA

Adriana Carvalho Souza1

Alex Nery Morais2

Juliana da Costa Castro3

Sílvio Nazareno de Sousa Gomes4

RESUMO

Diante da possibilidade de utilizarmos o hipergênero Facebook como instrumento no

processo de ensino-aprendizagem da norma culta, surgiu a seguinte questão problema:

Como didatizá-lo? Dessa forma, o presente estudo tem por objetivo geral apresentar

procedimentos metodológicos para a didatização deste hipergênero em sala de aula.

Para tanto partimos de uma pesquisa bibliográfica de cunho descritivo, a fim de mostrar

uma proposta didática para o trabalho com a Norma Culta brasileira por meio do

hipergênero Facebook, esclarecendo sua relevância como ferramenta de ensino para as

aulas de Língua Portuguesa. Dessa forma, nosso estudo permite a reflexão do professor

no que diz respeito à norma culta da Língua Portuguesa, levando-o a perceber que o

hipergênero Facebook pode sim servir como ferramenta de ensino nas aulas de Língua

Portuguesa como fonte segura de informações, cabendo ao professor a responsabilidade

de ajudar na formação de sujeitos críticos e reflexivos, capazes de utilizar a língua nos

seus mais diversos contextos sociais.

Palavras-chave: Hipergênero Facebook. Multiletramentos. Norma culta. Transposição

didática. Didatização.

5

ABSTRACT

1Licenciatura em Letras/Francês pela Universidade Federal do Amapá/UNIFAP. Especialista em

Metodologia da Língua Portuguesa e Literatura, do Instituto de Ensino Superior do Amapá/Ap. E-mail:

[email protected] 2Licenciatura em Letras/Inglês pela Universidade Federal do Amapá/UNIFAP. Especialista em Metodologia da Língua Portuguesa e Literatura, do Instituto de Ensino Superior do Amapá/Ap. E-mail:

[email protected] 3Licenciatura em Letras/Inglês pela Universidade Federal do Amapá/UNIFAP. Especialista em

Metodologia da Língua Portuguesa e Literatura, do Instituto de Ensino Superior do Amapá/Ap. E-mail:

[email protected] 4 Mestre em Letras, com área de concentração em “Linguagens e Letramentos”, pela Universidade

Federal do Pará/UFPA. Docente do Curso de Pós-Graduação em Metodologia do Ensino de Língua

Portuguesa e Literatura do Instituto de Ensino Superior do Amapá/IESAP, onde ministra a disciplina

Gramática e Ensino de Língua Portuguesa. E-mail: [email protected]

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Facing the possibility of the use of Facebook Hyper genreas an instrument in the

process of teaching-learning of pattern form, the following question came up: How to

make it part of the learning process? In this way, the present study aims to present

methodological processes for the didactization of this hyper genre in class. Therefore,

this study was made by a bibliographical research with descriptive characteristic and it

intends to show a didactic propose to work the Brazilian pattern form of language

through the Facebook hyper genre. It can explain its relevance as a tool for classes of

Portuguese Language

Keywords: Hiper genre Facebook. Multiliteracy. Standard language. Didactic

transposition. Didactization.

1 INTRODUÇÃO

De influência e importância incontestável no mundo dos negócios, sobretudo

da publicidade, as redes sociais são costumeiramente acusadas de exercerem influência

perniciosa aos usuários no que tange à educação. São comuns, por exemplo, as críticas

ao internetês6. Entretanto, é interessante lembrarmos que por mais que o internetês e

outros possíveis malefícios estejam sendo tão discutidos dentro e fora do ambiente

escolar, é cada vez mais difícil prescindirmos da internet de modo geral no desempenho

de diferentes tarefas do cotidiano, mesmo de tarefas do meio educativo. Devemos,

portanto, admitir que nas redes sociais não circulam apenas textos mal produzidos ou de

pouco valor instrutivo, circulam também textos de fontes confiáveis, escritos conforme

a norma culta, e que, de certa forma, promovem um domínio maior do usuário da língua

sobre a norma culta.

Dessa forma, o presente paper é justificado na reflexão e compreensão de como

os hipergêneros podem auxiliar no ensino-aprendizagem da norma culta brasileira, por

isso elegemos o hipergênero Facebook que recebe este prefixo por abarcar outros

gêneros, ou seja, pelo gênero textual Facebook são emersos diversos outros como:

artigo de opinião, quadrinhos, charge, reportagem, notícia de jornal, dentre outros.

Diante dessa informação, entendemos que a possibilidade de um estudo como este é

considerada eficaz porque o mundo contemporâneo exige novos conhecimentos e

entendimentos, bem como novos letramentos e teorias, já que as pessoas da

6Linguagem utilizada, principalmente, pelos jovens nas redes sociais.

3

contemporaneidade, no que diz respeito à linguagem, são compostas por valores do

multiletramento (ROJO, 2012, 2013) e multimodais (DIONÍSIO, 2011).

Partindo desses pressupostos, os hipergêneros são compreendidos como ações

comunicativas, carregando também estruturas linguísticas formais, frequentemente

utilizadas por alunos e professores dentro e fora da instituição escolar. Por isso o

interesse em trazer essa discussão para sala de aula, a fim de favorecer aos alunos novas

compreensões de se aprender a norma culta da Língua Portuguesa.

Logo, este trabalho tem por objetivo mostrar que o hipergênero Facebook pode

servir como instrumento no processo de ensino-aprendizagem da norma culta da Língua

Portuguesa e ainda atender aos seguintes objetivos específicos: apresentar o conceito de

hipergênero; mostrar o conceito e a importância da norma culta no processo de ensino-

aprendizagem da Língua Portuguesa, onde a encontrar no hipergênero Facebook e

conceituar o termo Didatização apresentando alguns direcionamentos para a didatização

do hipergênero Facebook.

Tais objetivos se deram para afirmar a hipótese de que é possível utilizá-lo

como instrumento de ensino-aprendizagem da norma culta em sala de aula, visto que o

problema central do nosso trabalho foi justamente: Como didatizar o hipergênero

Facebook para o ensino da norma culta da Língua Portuguesa?

2 METODOLOGIA

Diante dos objetivos, nosso estudo foi realizado seguindo os procedimentos

metodológicos da pesquisa bibliográfica (SEVERINO, 2008; ANDRÉ, 1986), de cunho

descritivo, uma vez que foi desenvolvida por meio de outras fontes, ou seja, a partir da

contribuição textual de outros autores da área, e de dados na internet, em páginas do

Facebook.

3 O HIPERGÊNERO FACEBOOK

Antes de começarmos a abordar o hipergênero Facebook, julgamos necessário

trazer o conceito de gêneros textuais sob a perspectiva bakhtiniana (2003) que trata os

gêneros discursivos como enunciados relativamente estáveis, de natureza

4

sociointeracional, histórica, linguística e ideológica, sob manifestações bastante

diversificadas, pois estão relacionadas às muitas esferas da atividade humana. Na

mesma linha, Marcuschi (2011) afirma que não podemos conceber um gênero textual

como modelos estanques, nem como estruturas rígidas, mas como formas de culturais e

cognitivas de ação social (entidades dinâmicas).

O gênero textual é essencialmente flexível e variável, tal como seu componente

crucial, a linguagem. Pois, assim como a língua varia, também os gêneros variam,

adaptam-se, renovam-se e multiplicam-se. Em suma, hoje, a tendência é observar os

gêneros pelo seu lado dinâmico, processual, cognitivo, interativo (MARCUSCHI,

2011).

Tomando posse do conceito de que os gêneros textuais são enunciados

flexíveis/diversos distribuídos nas mais variadas esferas de comunicação, o hipergênero

Facebook corresponde positivamente às definições expostas, ou seja, ele, assim como os

demais hipergêneros (Twitter, Whatsapp, Blog, Fanfics), mostram como as novas

tecnologias contribuem para o surgimento de novos letramentos, bem como de novos

gêneros textuais. Para esclarecer a noção de hipergênero, Maingueneau (2010, p.131)

explica que:

Os hipergêneros consistem em um protótipo genérico que “enquadra uma

larga faixa de textos” (2010, p. 13) que compartilha, de certa forma,

elementos comuns, como é o caso da carta (cuja estruturação pode ser recuperada nos diferentes tipos de carta: carta pessoal, carta comercial) e do

blog (“categoria que atravessa categorias temáticas: pessoal, institucional,

comercial, educacional”)

Assim como o blog, o Facebook abriga diversos gêneros em sua estrutura,

como podemos verificar nas imagens 1 e 2 em anexo, que trazem, respectivamente, os

gêneros reportagem e poema. Partindo dos exemplos, é importante deixar claro que o

Facebook é parte integrante das novas tecnologias de informação e comunicação, as

chamadas TICS, e por ele ser um hipergênero são permitidas em sua estrutura ações

comunicativas cotidianas, que acabam por produzir uma linguagem mais flexível entre

seus usuários, que chamamos de multiletramentos7 (ROJO, 2012), conceito esse que

abrange também o internetês. Por outro lado, os hipergêneros permitem da mesma

7Segundo a autora o conceito de multiletramentosé diferente do conceito de letramentos, pois este

primeiro tem por objetivo apontar para a multiplicidade e variedade de práticas letradas, valorizadas ou

não socialmente (ROJO, 2012, p.13).

5

maneira ações comunicativas de caráter formal (norma culta da língua portuguesa),

como uma reportagem, notícia, artigo de opinião, artigo científico, entre outros.

4 A NORMA CULTA DA LÍNGUA PORTUGUESA NO HIPERGÊNERO

FACEBOOK

Chamamos de variantes ou variedades linguísticas as diferentes formas de

utilizarmos uma mesma língua em diferentes contextos. A norma culta corresponde a

uma delas e tem como característica obedecer a um conjunto de padrões linguísticos

rigorosos, relacionados, por exemplo, à sujeição às regras da gramática tradicional, à

adequada escolha lexical e à capacidade de organização das ideias. Tal norma vem a

constituir o que temos socialmente como uso apropriado de uma língua em situações

formais e se refere à linguagem concretamente utilizada pelas pessoas pertencentes aos

segmentos mais favorecidos da nossa população (BAGNO, 2003).

É papel da escola promover aos alunos o domínio da norma culta, o que lhe

constitui, dentre outras coisas, uma ferramenta para o seu acesso às instâncias de

prestígio da sociedade e, portanto, para a mudança da sua realidade social, sem, no

entanto, desprezar aquela variante que eles já dominam ao chegar na escola, como

afirma Bechara (1999, p. 59): "Mas o professor de língua portuguesa, sem desprestigiar

o valor da língua coloquial, deve centrar sua atenção no padrão culto, que presidirá à

produção linguística do educando, seja falando, seja escrevendo".

No que tange às práticas de escrita nas redes sociais, objeto de estudo desse

trabalho, embora costumeiramente o que mais tenha chamado a atenção dos educandos

seja o internetês, linguagem tão execrada nos meios escolares, vale lembrarmos que no

Facebook, além dos conteúdos produzidos por pessoas físicas, circulam também muitos

outros produzidos por entidades comerciais e mesmo oficiais. Em outras palavras, nessa

rede social, o indivíduo também tem a oportunidade de entrar em contato com

conteúdos produzidos e publicados de forma criteriosa e que constituem bons modelos

de textos escritos em norma culta.

A forma como configuramos o nosso Facebook define os conteúdos que

receberemos diretamente nas nossas linhas do tempo. Além das postagens feitas pelos

nossos contatos e das que eles compartilham de outras pessoas e páginas, podemos

6

optar por receber diretamente em nossas linhas do tempo postagens de páginas

específicas. Nessa rede social existe uma infinidade de páginas especializadas em

assuntos desde os mais corriqueiros, como os de páginas de humor e astrologia, por

exemplo, até os mais restritos e complexos, como os de páginas de órgãos oficiais,

como o Conselho Nacional de Justiça, de entidades comerciais, como empresas de

telefonia, além de publicações periódicas de cunho informativo, jornalístico ou

de entretenimento.

Apresentamos a seguir exemplos de postagens com textos em norma culta

feitas tanto por páginas especializadas quanto por pessoas físicas.

A imagem 3 em anexo contém um texto publicado pela página do Conselho

Nacional de Justiça, de caráter instrutivo e informativo. É interessante observarmos o

fato de que este, além de propiciar ao indivíduo o contato com a norma culta, pode se

configurar num ensinar-lhe a agir na língua e pela língua. Na imagem 4 em anexo

encontramos outro exemplo de texto de caráter informativo e escrito em norma culta,

postado pela página do Ministério da Educação.

As imagens 5 e 6 em anexo constituem duas postagens também em norma

culta, feitas pelas páginas de duas publicações periódicas de âmbito nacional. A

primeira, da Revista O Globo e a segunda, da Revista Boa Forma.

Já a imagem 7 em anexo mostra uma postagem contendo uma fotografia e um

texto de conteúdo particulares, feita pela jornalista Cora Ronai, atualmente colunista do

Jornal O Globo, em sua página pessoal, onde ela publica, além dessas, notícias

relacionadas a atualidades, economia e tecnologia, além dos textos já publicados por ela

neste jornal.

Publicações como a da imagem 8 em anexo, por exemplo, feitas por uma

página especializada em gramática normativa, podem ser mais diretamente relacionadas

ao ensino de Língua Portuguesa, pois tem como objetivo primeiro fornecer ao leitor

conhecimentos sobre um dos aspectos importantes da norma culta, as regras

gramaticais.

Vale lembrar que essas postagens possuem geralmente, além dos hiperlinks

conceituais, hiperlinks virtuais, por vezes constituídos do próprio vocábulo, que ao

serem clicados pelo leitor, permitem-lhe o acesso a outros textos que completam e/ou

complementam aqueles já presentes.

7

3 A DIDATIZAÇÃO DO HIPERGÊNERO TEXTUAL FACEBOOK

Para ensinar, é imprescindível conhecer “o que se ensina”, é necessário, então,

ter uma consciência reflexiva do que podemos e como podemos trazer para a sala de

aula. Schneuwly (1995b), afirma que o saber, considerado como elemento essencial do

ensino, existe em princípio como saber útil dentro das situações sociais diversas e não

para ser ensinado, ou seja, o saber, que nesse caso é a norma culta, precisa ser útil em

diversas situações dentro e fora da sala de aula para que possa ter sentido para os

alunos.

Portanto, é necessário transformarmos os saberes de referência em saberes a

serem ensinados, ou seja, submetê-los a um processo de passagem de um conteúdo de

saber preciso para uma versão didática, a esse processo damos o nome de transposição

didática8 (CHEVALLARD, 1985). Essa passagem é importante, pois o hipergênero

Facebook foi criado para circular na esfera midiática, então, quando levado para a

esfera escolar temos que adaptá-lo a esta última. Para tanto o autor explica:

A análise dessa passagem, ou seja, desse processo de transformação, implica a compreensão de um esquema, a saber: objeto de saber → objeto a ensinar

→ objeto de ensino. A passagem do saber, através da constituição desses

diferentes objetos, faz-se na transformação, na variação e, às vezes, na

substituição (CHEVALLARD, 1985 apud BARROS-MENDES, 2005, p.19).

Uma vez estabelecida essa consciência o professor precisará lançar mão de

uma nova prática, a didatização (BARROS-MENDES, 2005) dos saberes a serem

ensinados. Para esta autora, a didatização “seria a maneira de organizar esses saberes

para a compreensão do aluno” (op. Cit p. 21), ou seja, a didatização é o como, por meio

de atividades sistematizadas, os saberes são apresentados com a finalidade de

concretizá-los em saberes ensinados e aprendidos.

Então, considerando a natureza híbrida do Facebook temos uma gama de

oportunidades de utilizá-lo como instrumento de ensino e aprendizagem nas aulas de

LP, uma vez submetido ao processo de transposição didática irá se transformar os textos

8 O termo transposição foi concebido por um sociólogo, Verret (1975), e desenvolvido por um

didático, Chevallard (1985).

8

escritos seguindo a norma culta de diversas páginas desta rede social em objetos de

ensino.

4.1 Propostas de Didatização do Hipergênero Textual Facebook

Uma forma de didatizar o saber descrito acima, que é justamente a norma culta

presente no Facebook, seria o professor propor a produção de um gênero textual formal9

como o artigo de opinião, depois de estabelecer as capacidades a serem desenvolvidas

e/ou aprimoradas, ele deve apresentar aos alunos seu contexto de produção, suas

características, função social, estilo, estrutura, seus modos constitutivos de leitura, ou

seja, apresentá-lo como gênero textual.

Feito isso, o professor irá indicar e orientar a visita de páginas oficiais do

Facebook de revistas como a Veja, Istoé, Época, Ciência Hoje, como no exemplo da

Imagem 9 em anexo. Vale lembrar que cabe ao professor fazer um levantamento de

diversas reportagens sobre variados temas para que possa direcionar seus alunos às

páginas. Essas páginas servirão como fonte de informações para a escolha de um tema

para a produção inicial do gênero textual artigo de opinião.

Esse momento é importante para que o aluno possa, ao ler reportagens e artigos

presentes no Facebook, não só ter informações importantes sobre o tema para o

planejamento de sua produção inicial, mas também ter contato direto com a norma

culta. O professor precisa chamar a atenção do aluno quanto a esse tipo de linguagem,

sobre a sua adequação a determinadas situações de uso. Em seguida o professor deve

criar uma página da turma no Facebook e pedir que os alunos compartilhem as

reportagens ou artigos que consideraram mais interessantes. Desses artigos e

reportagens compartilhados o professor irá selecionar um (a) para discussão em sala de

aula.

Para selecionar o tema o professor pedirá que os alunos, ao compartilhá-los,

escrevam uma legenda desse artigo ou reportagem posicionando-se em relação ao seu

tema, então o professor escolherá o tema que for mais bem defendido. Juntamente com

o artigo ou reportagem escolhidos, o professor levará para a turma outros artigos de

9 Pode escolher também o Artigo de Divulgação Científica, Reportagem, Seminário, Debate, Fórum, Júri Simulado, etc.

9

opinião, vídeos, reportagens, sobre o mesmo tema para promover a leitura e discussão

em sala de aula.

Assim, quando os professores utilizam-se de gêneros textuais no hipergênero

Facebook como fonte de informação e exemplo de linguagem formal, conseguem

envolver o aluno, de modo que este relaciona o que já sabe com o que precisa saber. É

importante lembrar que se eventualmente a escola não possuir sala de informática, o

professor pode trazer as páginas impressas para os alunos, promover o debate em sala

de aula de acordo com os temas, pedir que os alunos se posicionem e argumentem a

favor ou contra o tema. Os passos descritos acima, servirão para estabelecer maior

contato com a linguagem formal e as diversas fontes de informação existentes no

hipergênero Facebook, importantes para a produção do gênero textual artigo de opinião.

O professor pode ainda selecionar algumas páginas do Facebook, como a

Página de Astrologia (imagem 10 em anexo) que mostra um exemplo de desvio da

norma culta, páginas que contenham exemplos de gêneros textuais que seguem a norma

coloquial e outras que tenham gêneros textuais escritos na norma culta. Ele pode

imprimir ou trazer em forma de slides para que os alunos possam reconhecer esse

hipergênero e, ainda, perceber este contraste que existe dentro dele.

Outro modo seria o professor promover a memorização de conceitos-chave por

meio de páginas que satirizam “erros” gramaticais utilizando imagens, como o exemplo

da imagem 11 (ver em anexo), a partir de exemplos como esse o professor pode

desenvolver atividades de epilinguismo.

Dessa forma, com as exemplificações acima, percebemos o hipergênero

Facebook como, ao mesmo tempo, instrumento de comunicação e ferramenta de ensino,

onde saberes sociais – visto que já são de conhecimento da maioria dos alunos - se

transformam em objetos de ensino.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo percebemos o Hipergênero Facebook como uma ferramenta

múltipla e complexa, que permeia diversos contextos de atividade comunicativa, isso

nos leva a dizer que ele se apresenta como uma síntese da sociedade que o produz.

Assim, pode ser concebido: Como suporte, mesmo que não tenha espaço privilegiado,

apresenta conteúdo educativo, pois traz em sua estrutura diversos outros gêneros

10

textuais (formais e informais); Como espelho da sociedade: embora ainda sofra

demasiado preconceito por parte considerável de professores, apresenta o estado de

conhecimento de uma época e dos principais aspectos de uma sociedade; Como

instrumento pedagógico: por estar presente na vida de grande parte dos alunos e

professores, precisa ser considerado como parte integrante do processo de ensino-

aprendizagem.

Além disso, escolhemos o hipergênero Facebook como ferramenta de ensino,

em virtude de alguns dados10

sobre seu uso pelos brasileiros, segundo os quais,

mensalmente, o usuário passa em média 12 horas e 13 minutos na rede social. Isso

equivale a mais ou menos de 1,68% do mês. Por dia, 53 milhões de internautas acessam

o Facebook no Brasil, sendo que 30 milhões utilizam-no por meio de aparelhos móveis.

No Brasil quem tem entre 15 e 24 anos está dentro do principal público, com cerca de

30% de presença. Depois vêm as faixas de 25-34 anos, 35-44, 45-54 e quem tem mais

de 55.

Considerando os dados acima, afirmamos que a instituição escolar não pode

ignorar as novas tecnologias/ferramentas de comunicação, o que deve ser feito é a

reflexão a respeito de sua adequação ao espaço escolar. Esta reflexão permitirá uma

visão mais ampla do trabalho com a Língua Portuguesa, no qual seu estudo não estará

centrado apenas nos livros didático como ferramenta de ensino, mas também no uso de

novas tecnologias, em especial, os meios eletrônicos com acesso à internet.

Nosso estudo permite ainda a reflexão do professor no que diz respeito à norma

culta da Língua Portuguesa, leva-o a perceber que gêneros textuais tão estigmatizados

como o Facebook podem sim servir como ferramenta de ensino nas aulas de Língua

Portuguesa, servindo como fonte segura de informações apresentadas em forma de

artigos de opinião, reportagens, entrevistas, cabendo ao professor a responsabilidade de

ajudar na formação de sujeitos críticos e reflexivos, capazes de utilizar a língua nos seus

mais diversos contextos sociais.

REFERÊNCIAS

10

Fonte: http://olhardigital.uol.com.br/noticia/brasileiro-gasta-mais-de-12-horas-por-mes-com-

facebook/40875

11

BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. Estética da Criação Verbal. 4. ed. São

Paulo: Martins Fontes, 2003.

BAGNO, Marcos. A norma culta: Língua & poder na sociedade brasileira. 2. ed. São

Paulo: Parábola, 2003.

BARROS-MENDES, A. N. N. A linguagem oral nos livros didáticos de língua

portuguesa do Ensino Fundamental – 3º e 4ª ciclos: algumas reflexões. Doutorado

em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem do Programa de Pós-Graduação em

Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem da Pontifícia Universidade Católica de

São Paulo. São Paulo: PUC/LAEL, 2005.

BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna,

1999.

CHEVALLARD, Y. La transposition didactique : du savoir savant au savoir

enseigné. La penséeSauvageEditions. Paris, 1985/1991.

MAINGUENEAU, Dominique. Genre, hypergenre, dialogue. Calidoscópio. São

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MARCUSCHI, Antonio. Gêneros Textuais Reflexões e Ensino. In Gaydeczka et al.

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ROJO, Roxane H. R. Pedagogia dos multiletramentos: diversidade cultural e de

linguagens na escola. In: ROJO, Roxane Helena Rodrigues; MOURA, Eduardo (orgs.).

Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012

SCHNEUWLY, B. De l’utilité de la « transposition didactique ». IN : CHISS, J-L .;

DAVID, J. & REUTER, Y. (1995) Didactique du Français : État d’une discipline, pp.

49-62. Paris: NATHAN, 1995b

ANEXOS

12

Imagem 1: Revista Época

Fonte: https://www.facebook.com/epoca.com.br?fref=ts

Imagem 2: O gênero textual Poema encontrado no hipergêneroFacebook

Fonte: https://www.facebook.com/andersonjor?fref=ts

13

Imagem 3: Página no Facebook do Conselho Nacional de Justiça

Fonte: https://www.facebook.com/cnj.oficial?fref=ts

Imagem 4: Página no Facebook do Ministério da Educação

Fonte: https://www.facebook.com/ministeriodaeducacao?fref=ts

14

Imagem 5: Página no Facebookdo Jornal O Globo

Fonte: https://www.facebook.com/jornaloglobo?fref=ts

Imagem 6: Página no Facebook da revista Boa Forma

Fonte: https://www.facebook.com/revistaboaforma?fref=t

15

Imagem 7: Página pessoal no Facebook de uma Jornalista

Fonte: https://www.facebook.com/cronai?fref=ts

Imagem 8: Página no Facebook sobre Dicas de Português

https://www.facebook.com/DicasDiariasdePortugues?fref=ts

16

:

Imagem9: Página da Veja

Fonte: https://www.facebook.com/Veja?rf=115168481827782

.mn

Imagem9: Página no Facebook de Astrologia com exemplo de desvio da norma culta

Fonte: https://www.facebook.com/Veja?rf=115168481827782

17

Imagem 11: Dicas de Língua Portuguesa

Fonte: https://www.facebook.com/Veja?rf=115168481827782