O PODER DO DISCURSO E DE SUA APROPRIAÇÃO DURANTE O GOVERNO
VARGUISTA (1930-1945)
Lanna Karen Lima Araujo
Rayra Atsley Carvalho Lima
Nadiely Aparecida de Sousa Barros1
RESUMO: Esse artigo tem por objetivo geral propor uma análise sobre o discurso durante a
Era Vargas (1930-1945) e como a população brasileira que viveu esse período da história se
apropriou desses discursos políticos para adquirir benefícios e mostrar o descontentamento
com algumas propostas que eram propagadas pelo regime varguista e não estavam sendo
cumpridas. Para além, será abordado a importância dessa prática de discursos, sendo
utilizados não só por políticos, como também pela população como um todo. E, ainda, a
postura de outros grupos políticos perante a forma que o governo Vargas tinha como
ferramenta para manter-se no comando da presidência do Brasil, ganhando cada vez mais
número de adeptos.
Palavras-chave: Discurso; Trabalhadores; Getúlio Vargas
Introdução
Esse artigo tem o intuito de aprofundar sobre a importância da utilização do discurso
para formar um cidadão político-ideológico, especificamente durante o governo de Getúlio
Vargas (1930-1945), período denominado como Era Vargas, época que sucede a queda das
oligarquias rurais com a implantação de uma nova forma de política, A República. Sob o
comando do então governo provisório Vargas. Abordaremos a importância e dimensão de
discursos bastante utilizados pelos diversos partidos políticos da época com o desejo de
chegarem ao poder, e principalmente pelo presidente atuante que almejava difundir sua
política e mantê-la. Assim, iremos perceber a relevância de discursos políticos que
caminharam lado a lado a política do Brasil nos anos de 1930 a 1945, período que estamos
analisando, e, que, aliás, para ser mais exatos podemos dizer que perpetuam até os dias atuais.
Contudo, opositores ao governo Vargas não perdiam a oportunidade de tentar mostrar
à população, também através de discursos, que a sua figura de governo não passava de um
homem com idealizações, promessas e perspectivas que não eram mais que formas
manipuladoras e que jamais seriam postas em práticas. Porém, como estudamos não é bem
assim que a figura de Getúlio foi marcada pela maioria da população, principalmente pelos
pobres e trabalhadores, que fazendo parte ou não de um jogo político de Vargas, alcançaram
melhorias e direitos, que, antes não eram concebidos, e assim o consideraram um homem bom
que se preocupava com os menos favorecidos. Onde se quer essas classes mais baixas
1 Graduandos de Licenciatura em História pela Universidade Federal do Piauí
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anteriormente a Era Vargas, eram reconhecidos como seres políticos e sociais, passando a
partir do seu governo com as concessões de garantias e direitos que o mesmo concedeu a
essas pessoas a tornarem-se agentes ativos da política nacional.
A seguir ao longo do desenvolvimento dessa produção, com base nas fontes utilizadas,
faremos toda uma contextualização da forma como esses discursos eram utilizados como
ferramenta de moldar a sociedade a fim de fortalecer e manter um regime político imposto, e
mais ainda como a população do Brasil da época se apropriou desse projeto político para
ascender-se politicamente e socialmente. E, por fim, apresentaremos nossa visão particular,
com base no que for discorrido a seguir, acerca dessa política Varguista e de seus adversários
que tentavam chegar ao poder e sucedê-lo, apresentando assim os aspectos de avanço e
também de consequências desse período da História do Brasil.
As incertezas de 1930
Entre os anos de 1930 a 1937 existia inconstância na política brasileira, diferentes
partidos disputavam o cenário político recém proclamado, A República, assunto que é tratado
pelos autores Jorge Ferreira e Lucília de Almeida Neves Delgado em sua obra O Brasil
Republicano Vol. 02 (1990). Dentre estes partidos tinham os Aliancistas que era composto por
ex governadores, rebeldes tenentes e até ex presidentes que pretendiam derrubar o regime
desde 1889, e inicialmente tinham discursos com uma proposta de governo para todos e que
quando foi proclamada, a realidade não mudou, com a oligarquia, o poder e o privilégio
continuou a ser concebido a poucos.
Esse grupo defendia, ainda, uma educação pública obrigatória; o voto secreto para
extinguir o voto de cabresto, em que as ocasionava um controle de poder político, através do
abuso das autoridades, o que é utilizado ainda hoje, como a compra de votos ou o
comprometimento, por conta de algum benefício de foi dado; além da jornada de trabalho
diminuída para oito horas; salário mínimo; regulamentação do trabalho feminino; dentre
outros. Além desse grupo, o apogeu do Estado Novo culminou no surgimento de projetos
radicais como a Aliança Nacional Libertadora (ANL) e Ação Integralista Brasileira (AIB) que
se pronunciavam com discursos e ideais de mudanças, pois ambos reprovavam as atitudes da
República Velha e da revolução de 30.
A primeira que foi fundada oficialmente em 12 de março de 1935 e lançada no dia 30
do mesmo mês, era um movimento popular constituído por diferentes interesses, como
também partidos políticos e setores sociais, entre estes: militares, sindicatos, intelectuais,
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profissionais liberais e organizações femininas e culturais que se posicionando contra o
fascismo, latifundiário e o imperialismo e o governo de Vargas, defendiam a valorização da
cultura brasileira, principalmente a popular e as melhores condições de trabalho e de vida da
população. É importante ressaltar o jornal A Manhã como um meio de comunicação utilizado
pela ANL que divulgava os movimentos dos proletariados, como as greves e manifestações. A
segunda foi oficialmente fundada no dia 7 de outubro de 1932, legalizada até 1938, pois como
sabemos após o golpe do Estado Novo, Getúlio Vargas constitui a ilegalidade dos partidos
políticos, principalmente este que tinha como ponto crucial a luta contra o comunismo, sendo
a favor de uma ideologia fascista. Esses movimentos não concordavam com o que era
instituído dentro do governo, como a instabilidade do cenário político.
Um dos candidatos nas eleições de 1930 foi Getúlio Vargas, que por sinal, perde as
eleições, e, assim os aliancistas que eram de seu partido decidem planejar alguma forma de
chegar ao poder, ocasionando um movimento revolucionário, fazendo com que Getúlio
assuma o governo provisório dia 3 de novembro, revogando a constituição de 1891 e a partir
de decretos-lei passa a governar. Essa junção por ser constituído por vários grupos, como
tenentes, militares e civis, ex governadores, ocasionou alguns embates, pois os interesses
eram diferentes. Um dos primeiros conflitos foi a divergência pelo tempo de duração do
governo provisório, como também a instalação da democracia. Entre 1931 e 1934 foi
promulgado uma série de leis e decretos, em que protegia e dava direitos aos trabalhadores,
como férias, jornada de trabalho, 2/3 de empregados brasileiros nas indústrias, direitos esses
que são considerados marca registrada do Governo provisório de Getúlio. Essa constituição de
1934 adquiria falhas em seus moldes liberais e no sistema representativo sendo necessário
uma nova constituição para que não ocorresse conflito entre os interesses de seus aliados
apresentando assim, no dia 10 de novembro de 1937 por Getúlio Vargas.
A respeito dos discursos
Michel Foucault, grande filósofo, em uma produção teórica sua denominada
Microfísica do poder (1979) que trata das mais amplas questões como sexualidade, medicina,
psiquiatria entre outras, temáticas essas todas voltadas a discutir um tema central: o poder nas
sociedades modernas, que desrespeita ao que estamos trabalhando nessa produção acadêmica
onde, o poder adquirido através de discursos políticos em determinado período da História do
Brasil leva a continuidade e prestígio atribuído a figura de uma presidente. Sobre o poder,
Foucault (1979) diz:
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Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua “política geral” de verdade: Isto é
os tipos de discursos que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros; os
mecanismos e as instâncias que permite distinguir os enunciados verdadeiros dos
falsos. (FOUCAULT, 1979:12)
Nessa citação acima em resposta a um debate com Alexandre Fontana a respeito de
verdade e poder podemos perceber, por exemplo, o posicionamento de Foucault a respeito
dessas políticas de discursos. Ao ler o que esse grande filósofo pensa a respeito dessa
temática, posicionando-se que uma sociedade toma como verdadeiros alguns discursos e faz
disso instrumento de funcionamento para essa determinada sociedade, é inevitável que não
venha a mente um exemplo baseado nessa política de discursos e que a sociedade se apropriou
de tal para beneficiar-se, que foi o período em que o Brasil foi governado pelo então
presidente Getúlio Vargas.
Analisando ainda essa relação de poder baseada em discursos políticos, Foucault
(1979) chega à conclusão de que determinado político, por sua vez, através da difusão de seus
ideais e projetos pode moldar a sociedade de acordo ao que é conveniente para manutenção de
sua influência e autoridade sobre a mesma, isso quando se trata de uma sociedade industrial.
Assim, ele diz:
É o diagrama de um poder que não atua do exterior, mas trabalha o corpo dos
homens, manipula seus elementos, produz seu comportamento, enfim, fabrica o tipo
de homem necessário ao funcionamento e manutenção da sociedade industrial,
capitalista. (FOUCAULT, 1979:139)
Levando a consideração desse teórico ao período de governo provisório de Vargas,
podemos perceber claramente que esse presidente através dos direitos e benefícios alcançados
pelo seu governo, principalmente pela classe dos operários, foi fator crucial para que essa
classe aderisse ao projeto político Varguista, onde cada vez mais Getúlio contava com o apoio
dos trabalhadores para fortificar-se e manter-se no poder, e, assim ambas as partes se
beneficiavam. O presidente ao conceder direitos e regalias antes jamais obtidos pelos
trabalhadores, agradava os mesmos e ainda conseguia que estes os fossem fiéis politicamente.
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Mobilização dos trabalhadores em movimento queremista. Site: http://www.historiadigital.org/
Essa imagem acima é exemplo dessa defesa ao governo de Getúlio que só se
intensificava cada vez mais, por medo dos operários de se Getúlio saísse do poder, e tudo o
que tinha avançado positivamente voltar ao retrocesso, como essa antes da Era Vargas. Nessa
imagem, através das placas que alguns trabalhadores seguram, compreendemos o apoio a
Vargas, afirmando que o mesmo é candidato dos operários e que conseguiram garantias como,
a aposentadoria, por causa do presidente, uma das regalias que ainda perpetua. Assim havia
cada vez mais manifestos de interesse para manter Vargas no poder, principalmente por parte
dessas classes trabalhadoras. Um exemplo bastante representativo da devoção e apoio a
Vargas, principalmente partindo da classe trabalhadora, foi o movimento Queremista, que, em
suma constituiu em manifestações a fim de que Vargas permanecesse no poder. As pessoas
saíram às ruas e frequentaram comícios da oposição a Getúlio com cartazes, gritos de guerras
declarando no geral o interesse de que esses queriam Getúlio Vargas como seu presidente, daí
a denominação do nome Queremismo. No entanto, todo esse apoio ao presidente era um dos
principais motivos dos discursos dos opositores a Vargas o titularem de manipulador e
opressor das massas, dizendo que sua política era baseada em conceder garantias em troca de
apoio político incondicional.
E se o poder fosse somente repressivo, se não fizesse outra coisa a dizer não, você acredita que seria obedecido? O que faz com que o poder se mantenha e que seja
aceito é simplesmente que ele não pesa só como uma força que diz não, mas que de
fato ele permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso.
Deve-se considera-lo como uma rede produtiva que atravessa todo o corpo social
muito mais do que uma instância negativa que tem por função reprimir.
(FOUCAULT, 1979:07)
Discorda, no entanto, Foucault (1979) como percebemos na citação acima dessa visão
que tem a maioria das pessoas, principalmente os marxistas, que veem essa ideologia do
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poder como repressiva. Para ele, o poder se faz necessário para organização de uma
sociedade, assim o que ele questiona são apenas as esferas do poder: E, com base nessa visão
Foucaultiana, podemos ressaltar que a Era Vargas trouxe, indubitavelmente, através do poder
atribuída a figura de Getúlio avanços bastante notáveis a classe trabalhadora.
Marketing político: Meios difusores dos discursos Varguistas
Como introduzimos no tópico anterior, Vargas, de fato, se beneficiava de toda gratidão
que a população lhe tinha, pelos benefícios adquiridos no seu governo para difundir e
fortalecer seu projeto de política por meio de discursos. É óbvio imaginarmos que mais do
que montar um projeto político se faz necessário que esse projeto seja conhecido
principalmente para quem ele foi destinado, pelo público que pretende atingir. No caso, então,
do projeto de Vargas seu público alvo eram as classes menos favorecidas, a classe de
trabalhadores, sobretudo dos operários. E foi seguindo essa lógica que durante o tempo desse
presidente como governante maior do Brasil foram sendo planejados e implantados meios de
comunicação, que difundiam através de discursos a todas as esferas da sociedade o projeto do
presidente. Através de vários meios de comunicação, que funcionavam como “porta-vozes”
do presidente, como a TV, o cinema e o rádio, esse último com maior destaque, onde
principalmente os programas radiofônicos exaltavam a figura do presidente, bem como
divulgavam seus discursos a respeito da sua intencionalidade com o país, chegando facilmente
ao conhecimento dos brasileiros.
Os discursos de Vargas transmitidos através dos instrumentos radiofônicos para mobilizar os
trabalhadores. http://desconversa.com.br/historia/lista-era-vargas/
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Nessa imagem mostra a família feliz e reunida para escutar o rádio, assim, abordando
a valorização da família que era colocada pelo governo nos discursos de Vargas, o respeito
aos operários, a legislação trabalhista e a importância de Getúlio para toda a sociedade,
principalmente os que haviam sido excluídos até a Era Vargas, sendo estes trabalhadores
principalmente, os pobres. Esses programas radiofônicos que passavam durante o Estado
Novo tinham ainda o intuito de fazer com que a sociedade sentisse mais perto do presidente,
como também tivesse acesso ao que estava ocorrendo no País, sendo um instrumento aliado
politicamente para atingir a maior massa possível, dessa maneira eram postas caixas de som
nas praças das zonas rurais para divulgar, como também controlar as ideias e informações
dadas sobre o governo. A Rádio Mauá, por exemplo, influenciava os ouvintes e noticiava as
transformações advindas com o governo de Vargas, exaltando o mesmo como um importante
presidente que trouxe melhoria para a população que era antes excluída dos avanços trazidos
com partidos políticos anteriores a Era Vargas. Isso é notório na fala de Jorge Ferreira
A revolução é o grande corte na história que nos contam. Primeira República,
Revolução de 30 e governo Vargas fazem parte de um mesmo processo e não podem
ser apreendidos separadamente pela cultura política popular. Mas essa história
tinha um parâmetro para avaliar os períodos anteriores e posterior a 1930: a
justiça. Para os trabalhadores, o regime anterior a Vargas foi marcado fundamentalmente pela inexistência da justiça. A revolução, por sua vez, trouxe, no
seu próprio acontecer, a possibilidade de sua efetivação. O governo chefiado por
Vargas representou, por fim, o coroamento de todo o processo e a consequente
realização da justiça para os pobres e os trabalhadores. (FERREIRA, 1990:40)
Com isso, foi criado o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) que era
responsável por esses meios de comunicação e construía junto aos representantes de Vargas a
boa imagem do presidente e a divulgação da legislação trabalhista do Estado Novo, esse
período foi aonde a utilização do discurso e as manobras para ganhar a confiança da
população foi utilizada pelo governo de Vargas, pois o mesmo via a necessidade de
influenciar os trabalhadores para que nas futuras eleições os mesmos não se esquecessem das
transformações que haviam sido dadas no seu governo. O Estado Novo utilizou de três datas
impostas por Vargas para promover comemorações, atuando como principal figura: o
trabalhador, este que era merecedor de todo conforto e diversão, as datas que foram essenciais
para a aproximação do presidente com o povo foram: 1ª de maio que é o dia do trabalho, 10
de novembro de 1938 o aniversário do Estado Novo e o aniversário de Vargas comemorada
no dia 19 de abril, próximo ao dia do trabalho. Na imagem a baixo podemos perceber
trabalhadores no estádio durante comemoração do dia do trabalho em que o Vargas junto aos
trabalhadores comemorava esse dia.
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Imagem dos trabalhadores no dia 1ª de maio em 1944 no estádio municipal do Pacaembú, data em que essa
classe comemorava o dia destinada à sua profissão. Foto tirada no dia 1ª de maio de 1944.
https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/PrimeiroMaio
A imagem acima trata dos trabalhadores no dia 1ª de maio, ou seja, dia do trabalho,
que tinha como ponto crucial homenagear o trabalhador. Essa foi uma data comemorativa
durante o governo de Vargas em que era festejada a profissão. Nessa imagem os trabalhadores
estão no estádio Pacaembu aonde escutavam discursos de Vargas, este que ia comemorar
junto aos seus eleitores. Em uma das placas tem a frase “trabalhador sindicalizado é
trabalhador disciplinado” tratando a importância de um trabalhador disciplinado, além de
tratar do sindicalismo, que foi posto para o controle da sociedade e de suas manifestações. Os
discursos e propagandas feitas pelo DIP mostravam a imagem de Vargas como um grande
líder, pai dos pobres e um homem que fez grandes feitos, que dignificava o trabalhador e sua
profissão, por isso a importância desses empregados de se unirem e defenderem o seu
presidente contra inimigos que procuravam tirar Vargas do poder. A exemplo disso contava
com a importante ajuda do ministro do trabalho, indústria e comércio, Alexandre Marcondes
Filho que fica nesse cargo de 1942 até 1945, que utilizou-se de programas no rádio como
principal instrumento para exaltar o presidente e difundir os objetivos, além de memorizar a
importância do Vargas para os trabalhadores brasileiros, como também aproximar o Estado do
povo.
Percebemos que os discursos foram tão indispensáveis e influentes no governo
varguista, que ao ser rompido o cerco de censura, estudantes e esquerdas promoveram
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comícios pedindo as pessoas que lutassem por sua liberdade de expressão e uma democracia,
sendo surpreendidos por trabalhadores que foram interceder e enfrentar os opositores,
defendendo a continuação de Vargas no poder. Estes são exemplos da importância da
comunicação e dos discursos utilizados por Vargas nos instrumentos, que fazia com que os
trabalhadores enxergassem em quem deviam confiar para ter uma vida melhor, relembrando
todos os dias as implementações feitas no seu governo e as mudanças acarretadas.
Não foi exclusivamente o presidente e seus defensores que utilizavam discursos ou se
apropriavam destes, pois os partidos políticos que tinham sido extinguidos durante o Estado
Novo e que retornavam com as providências de Vargas, que compreendia a necessidade de
distanciar as características da ditadura do seu projeto político, chegando a acarretar no
aparecimento de diversos partidos políticos que tinham o objetivo de adentrar no governo,
como: A UDN, PSD e futuramente o PTB, sendo opositores ou não a Getúlio Vargas, estes
utilizavam de discursos para penetrar no governo. A UDN (União Democrática Nacional) era
opositora a presidência de Vargas e pretendia assumir em seu posto, sendo um partido
adversário ao PSD (Partido Social Democrático) que inicialmente foi aliado a Vargas.
Estes partidos se apropriavam de discursos de Vargas ou para critica-lo para almejar
seus objetivos ou para usufruir do mesmo, ambos com a intenção de conseguir adeptos. O
PTB, a exemplo, eram constituído principalmente pela classe popular, totalmente opositor a
UDN, está que era deliberada por militares e pela camada média urbana, que lutava contra o
populismo, fazendo com que os mesmos tivessem como adversários os trabalhadores que
viam-se a necessidade de lutar para a continuação de Vargas ao poder, para que não
perdessem seus benefícios adquiridos até o momento, chegando esse partido a ser chamado de
partido golpista.
Apropriação da classe trabalhadora através dos discursos Varguistas
O exercício de dominação através dos discursos políticos é um dos assuntos mais
frequentes quando falamos e estudamos a Era Vargas, porém, o presidente não era o único
que realizava discursos a fim de alcançar objetivos, onde a população que via o direito de
defender seus benefícios recém-concedidos por Vargas, também se apropriava de toda essa
política discursiva para além de manter, conseguir cada vez mais proteção e vantagens por
parte do estado.
Os trabalhadores, então, lutavam das mais diversas formas pela continuação de Vargas
no governo, por medo de perderem os privilégios adquiridos, se chegasse a ocorrer à queda
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desse. O presidente contava como já citamos anteriormente, a essencial ajuda do ministro
Alexandre Marcondes Filho, e utilizou-se bastante de um programa de rádio denominado “A
Hora do Brasil”, programa produzido pelo DIP, como importantíssimo instrumento para
difundir e exaltar os objetivos Varguistas e memorizar a importância dessa figura para os
trabalhadores brasileiros, tendo em alguns desses programas a participação do próprio Vargas
falando diretamente a população, o que transmitia a ideia de aproximação do Estado com o
povo, atitude bastante bem vista pela população, que até então jamais tivera uma aproximação
assim com um governante.
Nesses programas aliados e funcionários do governo Vargas, como Marcondes Filho,
através desses meios de comunicação divulgavam a legislação social, e nesse contexto, a
situação que tentava se disseminar na população era de o estado visto como uma grande
família, onde Getúlio Vargas era o pai de toda a nação, e como pai devia proteger os seus
filhos que incluía toda a população brasileira, principalmente os menos desamparados e que
mais necessitavam, nesse caso trabalhadores, operários.
E, seguindo a lógica desses discursos, o povo não se tinha receio o mínimo que fosse
de recorrer ao presidente sempre que necessitasse de proteção, empregos e regalias como um
todo. Uma vez que, um bom pai de toda a nação como Vargas, tinha o dever de sempre está
atento às necessidades do seu povo. Temos bastantes exemplos recorrentes à época disso que
estamos falando, dentre eles os abaixo ilustrados:
Permitta Va. Excia. que uma pobre e humilde funcionária postal suba diretamente, à
presença de Va. Excia. para solicitar sua decisiva proteção para um acto que é
também de justiça. Aliás, não faço senão cumprir os desejos de Va. Excia que já
declarou que no Estado Novo não existem intermediários entre o governo e o povo.
Tenho dois filhos, casada que sou com Manoel Natalicio Diniz, homem pobre. Este só
agora obteve um emprego em Diamantina, em uma casa de commercio, mas, o seu ordenado, igual ao meu, é quase todo absorvido pela pensão que ali paga. Afim de
obter a nomeação de auxiliar na Diretoria Regional dos Correios e Telegraphos de
Diamantina já me submeti com sacrifícios inauditos a dois concursos, bastando dizer
que estudava com as criancinhas a chorarem em redor de mim venho a pedir a Va.
Excia. por caridade, fazer a minha nomeação para uma das vagas. Tenho concurso,
sou agente postal há 11 annos e mãe de numerosa família, devo ter alguma
preferência. O Estado colocou a família sob sua proteção especial e prometteu o
amparo as família numerosas. Pois bem. Va. Excia. fazendo a minha nomeação estará
protegendo a família pois bem sabe Va. Excia. que é improprio do casamento viverem
os cônjuges separados um do outro. Tal situação só pode concorrer para a
desegragação do lar. E essa situação é por motivo econômico, mas uma razão existe
para Va. Excia. desfazel-a, auxiliando a esta numerosa família, possibilitando-a viver junto do seu chefe e reduzindo dest’arte as suas despesas. (DINIZ apud FERREIRA,
1990:26-27)
A leitura desse depoimento, dentre tantos, podemos perceber nitidamente a forma a
que se recorria ao presidente, já fazendo uso e apropriação do que o seu próprio projeto
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político semeava. Nesse caso, por exemplo, as palavras da senhora Amerida de Mattos Diniz
que envia em 1938 uma carta ao presidente, em que podemos perceber, bastante condizentes
da ideia de o estado como uma grande família, e assim, já que se Getúlio sempre se colocaria
a disposição de seus filhos, nada mais certo, pensava a autora da carta, que recorrê-lo na
esperança de conseguir um emprego. Como afirma Jorge Ferreira(1990) no seu artigo
intitulado de A cultura política dos trabalhadores no primeiro governo Vargas
Ao assumir o discurso dominante, ela o interpreta de acordo com seus interesses e o
relembra em proveito próprio. Atenta à doutrina estado-novista, particularmente no
que se refere a família, a autora sobra coerência da doutrina oficial: a nomeação
para o cargo seria a realização daquilo que o Estado dizia estar acontecendo nas
vivências dos trabalhadores. (FERREIRA, 1990:27)
Já nesse segundo exemplo de apropriação popular dos discursos, a imagem abaixo
trata dos quatro jangadeiros que chamaram a atenção do presidente, por conta da precariedade
de como viviam e o abandonos dos 35 mil pescadores do Ceará.
Jacaré,
Tatá, Mané Preto e mestre Jerônimo em foto de 1942. Site: http://fortalezaantiga.blogspot.com.br
Essa imagem retrata o deslocamento de jangadeiros do Ceará até ao Rio de Janeiro a
levarem consigo de presente uma jangada à esposa do atual presidente Vargas, onde não
pensavam unicamente em presentar a mesma, e sim principalmente em ter oportunidade de
ficarem próximos ao presidente e informa-lo que as leis e direitos divulgados pela legislação
trabalhista implantada no seu governo não estava em vigor naquela região do Brasil. E com
esses dois exemplos pode-se perceber o quão eram as variadas maneiras de beneficiar-se
através do apoderamento desses discursos.
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Considerações finais
Ao chegar ao fim da produção desse trabalho que procurou retratar da maneira mais
clara e objetiva a influência ideológica dos discursos na formação do ser político e social,
compreendendo o período de 1930 a 1945 da História do Brasil, podemos perceber o tamanho
da dimensão que esse recurso do discurso político, sua utilização e apropriação ocuparam
nessa época. Onde a maneira como se conduzia os projetos políticos, a forma que os eleitores
interpretavam essa política a partir desses discursos e uso que se fazia dos mesmos fizeram
uma grande diferença para fortalecer e manter a figura de um presidente, Getúlio Vargas. E,
assim, todo mundo saia beneficiado nessa história, uma vez que houve certa aliança, mesmo
que de forma oculta, do povo com o presidente, os primeiros por sua vez defendiam e eram
responsáveis por sustentar firme Vargas no poder, onde esse cada vez mais os defendia e os
conduzia a avanços significativos.
Logo, como abordamos durante o desenvolvimento do artigo o fato dessa apatia e
cordialidade entre povo e estado, além de fortalecer Getúlio e a Era Varguista cada vez mais
despertou a inquietação dos opositores em tentar reverter à situação, difamando e tentando
convencer a população que a política desse presidente era opressora e que seus discursos eram
manobras para manipular e deter controle cada vez maior sobre as massas populares.
Contudo, com base nas fontes que fizemos uso, concluímos que de fato é inegável o sucesso
da Era Vargas, que tentando manipular ou não os trabalhadores, essa era trouxe avanços antes
jamais imaginados por essas pessoas, e que não é à toa que grande parte dos direitos
disponibilizados por esse presidente ainda fazem parte da legislação trabalhista brasileira até
hoje, e mais ainda que até hoje sua figura de bom presidente seja bastante reverenciada
através de depoimentos de pessoas que viveram esse momento da História brasileira.
Em suma, sabemos o quanto esse presidente também foi beneficiado e honrado em sua
trajetória política através do êxito que teve seu projeto de voltar atenção aos menos
favorecidos em troca, de certa forma, do apoio e amor dessas pessoas a si. E, mais ainda, que
de fato tudo isso fez parte sim de um jogo político, não foi simplesmente por caridade e
amparo aos trabalhadores operários e suas famílias toda essa mobilização do presidente, mas
o que queremos deixar claro como resultado de nossa análise é que, independente das
intencionalidades e estratégias de Getúlio Vargas, foi somente a partir da época em que o
mesmo governou, que alguns brasileiros antes exclusos de todos os âmbitos da sociedade
ganharam vez e voz, capazes de mobilizações e conquistas, e principalmente da formação de
suas identidades políticas e sociais bastante ativas.
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Referências
FERREIRA, Jorge. A cultura política dos trabalhadores no primeiro governo Vargas. Rio
de Janeiro. 1990.
FERREIRA, Jorge. DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. O Brasil Republicano. O tempo
do nacional-estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Rio de
Janeiro. Civilização Brasileira, 2007.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Organização e tradução de Roberto Machado.
Rio de Janeiro. Edições Graal, 1979.
https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/PrimeiroMaio
http://desconversa.com.br/historia/lista-era-vargas/
http://fortalezaantiga.blogspot.com.br
http://www.historiadigital.org/
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