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OS CONTEÚDOS DIGITAIS DE HISTÓRIA NOS EDITAIS E GUIAS DOS PNLDS 2014
E 2015: OBSERVAÇÕES INICIAIS.
Rui Campos Dias
(Universidade Estadual de Londrina)
Resumo: Nosso objetivo com a presente comunicação é apresentar algumas considerações iniciais de pesquisa sobre os editais e os guias do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) 2014 e 2015, mais especificamente sobre os Objetos Educacionais Digitais (OED) e livros digitais. A pesquisa encontra-se na fase inicial e corresponde ao mestrado em História Social da Universidade Estadual de Londrina, com o título “As apropriações dos professores de história dos conteúdos digitais dos PNLD 2014 e 2015”. Desta forma, destacamos o componente de História. A análise refere-se ao conteúdo interno dos textos dos editais e guias, no sentido de descobrir quais são as propostas, objetivos e fundamentos que os orientam. O objeto de estudo, ou seja, os OED e os livros digitais são importantes em uma sociedade mediada pela cultura midiática/tecnológica, e nos interessa saber na pesquisa concluída, as apropriações que os professores fazem deste material. Por ora, precisamos entender qual seria a proposta dos documentos envolvidos nas prescrições (editais e guias), para posteriormente investigar se o que se prescreve é aceito, assimilado, praticado, entendido ou mesmo transgredido pelo professor.
Palavras-chaves: PNLD, Conteúdos digitais, Educação histórica, Professores de história.
Em uma sociedade mediada pelas novas (e que mudam cada vez mais depressa)
Tecnologias de Informação e Comunicação, como será que os documentos oficiais que
regulam a produção de conteúdos históricos para a educação pública propuseram a
utilização dessas novas tecnologias para a aprendizagem histórica? É com essa
interrogação que introduzimos esse trabalho e começamos a refletir alguns pontos de
nossa pesquisa de mestrado em História Social da Universidade Estadual de Londrina,
intitulada “As apropriações dos professores de história dos conteúdos digitais dos PNLD
2014 e 2015”.
Mas antes de embarcar especificamente na discussão acerca dos documentos
que serão utilizados como nossas fontes para o presente trabalho, é necessário uma
contextualização e problematização da inserção das tecnologias digitais na educação.
Precisamos observar como a cibercultura e as estruturas da Era da Informação
contribuíram para que o Ministério da Educação do Brasil (MEC) e o Fundo Nacional de
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Desenvolvimento da Educação (FNDE) inserisse no edital do Programa Nacional do Livro
Didático (PNLD), a chamada para conteúdos digitais para os alunos e para os professores
da educação pública.
O uso de tecnologias, especialmente o computador, não é um debate novo na área
da educação e também já foi bastante discutido em relação ao ensino de história (LÉVY,
2000. KENSKI, 2007. PAIS, 2008. RAMAL, 2002.). No entanto, os contornos desse
debate se alteram a cada nova tecnologia desenvolvida e que pode ser utilizada de
alguma maneira para o processo de ensino-aprendizagem (de qualquer disciplina).
Atualmente o grande ponto de discussão é o lugar que a internet e as mídias digitais1
ocupam e vão ocupar na educação.
A presença das TIC na educação é um tema que mobiliza atores de diversos âmbitos sociais e pesquisadores em várias partes do mundo e do Brasil. Para esses investigadores, a questão central é compreender qual o papel da tecnologia como catalisador de transformações dos processos de ensino-aprendizagem, identificando avanços, possibilidades e, também, desafios no uso pedagógico das tecnologias. Desde as perspectivas mais otimistas quanto ao papel transformador das TIC, até as leituras mais críticas, é certo que estamos diante de um campo de estudos em constante desenvolvimento. (Núcleo de Informação e coordenação do Ponto BR, 2016, p.18)
Sabe-se que atualmente a vida das pessoas está intimamente ligada diversas
tecnologias digitais. As crianças e adolescentes de hoje não percebem a internet como
uma “grande inovação”, pois para elas a internet é algo naturalizado que impossibilita
pensar a vida sem as mesmas. Não apenas as crianças e adolescentes, mas grande
parte do mundo adulto, vive no “ciberespaço” e fazem parte da “cibercultura”, conceitos
definidos por Pierre Lévy como:
O ciberespaço (que também chamarei de “rede”) é o nome meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. Quanto ao neologismo “cibercultura”, especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço. (LÉVY, 1999, p.17)
1 Aqui entendida como os meios de comunicação e informação baseados em tecnologia digital, permitindo a
distribuição ou comunicação digital das obras intelectuais escritas, sonoras ou visuais. Como, por exemplo, internet,
CD-ROM, DVD, 3D, áudio mp3, TV digital, animação digital, entre outros.
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Percebe-se a importância desses conceitos para o estudo das TICs na educação
e sua relação com as transformações contemporâneas em relação ao saber, que vem de
encontro a um dos objetivos de nossa pesquisa de mestrado mencionado anteriormente.
Tanto no ambiente de rede do ciberespaço, quanto nas técnicas e valores que compõe a
cibercultura, o saber e a educação estão passando por alterações profundas, com o
professor sendo influenciado e influenciador nesse complexo processo de mudanças.
É lugar comum falar em como nós dependemos da internet e das novas mídias
para muitas coisas. Estamos diante de uma mudança social e cultural do alfabeto para o
digital. Atualmente só no Brasil são mais de 100 milhões de pessoas conectadas a
internet2 e esse número só tende a aumentar nos próximos anos.
Um dos principais pensadores da “sociedade em rede”, Manuel Castells afirma
que:
A Internet é um meio de comunicação que permite, pela primeira vez, a comunicação de muitos com muitos, num momento escolhido, em escala global. Assim como a difusão da maquina impressora no Ocidente criou o que MacLuhan chamou de a “Galáxia de Gutemberg”, ingressamos agora num novo mundo de comunicação: a Galáxia da Internet. (CASTELLS, 2003, p. 8).
Desse modo, é mais do que necessário o estudo do ensino de história no interior
dessa Galáxia da Internet, especificamente na análise de conteúdos digitais didáticos
(vinculados ou não aos livros didáticos) para os alunos e professores das escolas
públicas no Brasil.
Optamos por organizar esse trabalho em partes, cada uma dedicada a analisar os
mecanismos discursivos dos documentos selecionados como fontes, ou seja, os editais
e guias dos PNLD 2014 e 2015, primeiramente de maneira geral e depois disso em
especifico no componente curricular de história.
O edital para o PNLD 2014 foi divulgado no final de 2011 e foi uma grande surpresa
para os envolvidos no processo do livro didático no Brasil: foi a primeira vez que o MEC
possibilitou a inscrição de obras com complementos digitais. Nesse programa foram
2 Com dados de 2014. Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/11/141124_brasil_internet_pai
Acessado em: 25 out. 2015.
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avaliadas e selecionadas coleções didáticas para os componentes curriculares do Ensino
Fundamental II (Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia e Língua
Estrangeira – Inglês e Espanhol), com a diferença de as coleções poderem ser inscritas
em dois tipos: 1 – conjunto de livros impressos, e 2 – conjunto de livros impressos
acompanhados de conteúdos multimídia.
E como o documento caracteriza esses conteúdos multimídia? Segue a definição
do próprio edital:
Entende-se por conteúdo multimídia os temas curriculares tratados por meio de um conjunto de objetos educacionais digitais destinados ao processo de ensino e aprendizagem. Esses objetos devem ser apresentados nas categorias audiovisual, jogo eletrônico educativo, simulador e infográfico animado; ou congregar todas ou algumas dessas categorias no estilo hipermídia, devendo cada objeto ser identificável individualmente, armazenável em mídia e passível de disponibilização em ambiente virtual. (BRASIL, 2011, p.2)
Mas o que são esses “objetos educacionais digitais” que o edital apresenta? A
definição, conforme o edital, se dá por suas categorias, ou seja, “audiovisual, jogo
eletrônico educativo, simulador e infográfico animado”. Numa definição mais ampla, que
não é a única, segundo o grupo Learning Objects Metadata Workgroup do Institute of
Electrical and Eletronics Engineers (IEEE), podemos dizer que os OEDs, também
chamados de objetos de aprendizagem (entre outras terminologias que não são o foco
da discussão no momento), são “qualquer entidade, digital ou não digital, que possa ser
utilizada, reutilizada ou referenciada durante o aprendizado suportado por tecnologias”3
(IEEE, 2005).
Para o edital, como vimos, a definição é mais específica, pois abarca somente
conteúdos digitais/multimídias, em quatro categorias.
Audiovisual: filmes e animações. Jogo eletrônico educativo: “O gênero de jogos eletrônicos educacionais (ou educativos) visa transmitir conteúdos e conceitos que fazem parte do currículo escolar, ou ainda assuntos específicos ou de conhecimento geral” (BRASIL, 2011, p.77).
Simulador: “Software ou gráfico interativo que demonstra um processo ou mecanismo e permite ao usuário observá-lo ou interagir com ele de maneira análoga ao processo ou mecanismo simulado, obtendo resultados realistas”
3 Disponível em: http://www.cinted.ufrgs.br/ciclo9/artigos/4aLeandro.pdf. Acesso em: 10 jun. 2016.
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(BRASIL, 2011, p.78); no caso específico do edital, só foram aceitos simuladores “atuantes”, ou seja, aqueles em que o observador (o aluno, por exemplo), consegue alterar parâmetros e/ou construir modelos dentro da simulação.
Infográfico animado: utilização de recursos como áudio, vídeo, interatividade e dados, somados aos elementos visuais padrão da infografia impressa; esses infográficos animados podem ser lineares (“navegação sequencial, estáticos, ausência de interatividade”), multimídia (“introdução de elementos multimídia para a narrativa visual, com navegação multilinear e interatividade”) e com base de dados (“elemento principal é a base de dados para a produção, personalizável”) (BRASIL, 2011, p.78).
Esses conteúdos multimídia deveriam ser produzidos visando tanto a utilização
coletiva dos alunos (com a orientação do professor) quanto seu uso individual (em outros
espaços que não a sala de aula). Outro ponto importante a se destacar é que os
conteúdos dos livros impressos deveriam ser autônomos e independentes dos conteúdos
multimídia, ou seja, professores e alunos não precisariam utilizar o OED para apreender
um conteúdo ou realizar uma atividade presente na coleção. Além disso, os OEDs devem
ser utilizados sem a necessidade de conexão à internet.
Esses objetos foram solicitados exclusivamente como complementos aos
conteúdos apresentados no livro impresso e deveriam ser entregues gravados em um
DVD, somando quatro DVDs para a coleção inteira. No entanto, algumas coleções não
tiveram nenhum de seus OEDs aprovados ou foram aprovados somente OEDs de
determinados volumes, por exemplo, 6o, 8o e 9o.
Todas as questões técnicas e critérios para a avaliação dos conteúdos multimídia
estão localizados no Anexo IV do edital do PNLD 2014. São observações detalhadas de
cada um dos tipos de objetos educacionais digitais, mas que não especificam critérios
dos componentes curriculares, pois são especificações técnicas gerais para todas as
disciplinas.
A partir daqui vamos nos deter a analisar aspectos do Guia de livros didáticos do
PNLD 2014 – área de história, com o objetivo de observar como os conteúdos digitais
foram avaliados pelos pareceristas (compostos por profissionais com formação em
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História, atuantes na escolarização básica e no ensino superior4) e são apresentados aos
professores da educação básica.
É importante lembrar que o foco desse documento é a apresentação das
características dos livros didáticos aprovados no PNLD, sendo que os conteúdos
multimídia foram uma novidade, aparecendo em momentos específicos durante as
resenhas das coleções. O Guia deixa claro também que esses conteúdos, bem como as
indicações de sites nas coleções, foram avaliados com uma Ficha de Avaliação com
critérios específicos para essa nova modalidade de conteúdo educacional5.
Esse documento foi publicado no 1o semestre de 2013, aproximadamente um ano
e meio após a publicação do edital do PNLD 2014. O guia coloca que, em termos de
inovação em tecnologia educacional, a inserção dos OEDs foi a principal desse PNLD (e
pode-se dizer que foi uma das maiores inovações em toda a história do programa). Para
o documento, os OEDs
[...] são potenciais instrumentos de aprendizagem, uma que possibilitam a realização de atividades interdisciplinares e o planejamento de trabalhos individuais e coletivos. Para que possamos aproveitar ao máximo as vantagens oferecidas por essa inovação, é aconselhável mostrar aos alunos o papel que os OEDs podem ser na abordagem dos conteúdos. Devemos também ficar atentos às detalhadas orientações – planos de aula, inclusive – oferecidas por alguns desses objetos (GUIA, 2013, p.10).
Percebe-se por essa afirmação, que os responsáveis pela avaliação dos livros
didáticos e dos conteúdos digitais atrelados a eles, consideravam os OEDs uma inovação
positiva para o ensino de história. Ainda mais se esses objetos fossem acompanhados
de “guias” para sua utilização em sala de aula com os alunos.
Em comparação com outras disciplinas, especialmente matemática, as coleções
de história não tiveram muitas exclusões de OEDs, já que somente quatro das 20
coleções foram aprovadas sem os DVDs de conteúdo digital. No entanto, é possível
perceber que a maior parte das coleções tiveram OEDs excluídos em algum dos volumes,
4 No entanto, apesar do Guia afirmar que “Parte deles trabalha com novas tecnologias da educação e da
comunicação”, não é possível saber quantos e qual o nível de contato e experiência que esses profissionais têm com
as TICs na educação e, mais especificamente, no processo de ensino de história. 5 Observamos que alguns critérios de avaliação são os mesmos do que se avalia com o material impresso, por
exemplo, “Os OEDs estão isentos de situações de anacronismo”.
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já que o edital solicitava um mínimo de 10 OEDs por volume.
No geral, percebemos que os OEDs aprovados em História se concentraram nas
categorias de infográficos animados, audiovisuais e jogos. Nas avaliações do Guia fica
evidente a importância das orientações específicas para os professores trabalharem com
esses OEDs dentro de sala de aula, bem como a relação dos temas abordados nos
conteúdos digitais com os respectivos capítulos do livro didático. Para algumas
avaliações é importante o elemento lúdico presente em certos OEDs, que podem facilitar
o engajamento dos alunos no processo de aprendizagem do tema histórico em questão.
Para o edital do ensino médio no PNLD 2015, publicado no começo de 2013, o
MEC continuou no processo de inovação, oferecendo a possibilidade de inscrição de
livros didáticos digitais. De acordo com o referido documento, as obras poderiam ser
inscritas em dois tipos. Tipo 1: obras multimídias, compostas de livros digitais e livros
impressos, e Tipo 2: livros impressos e livros em PDF, uma vez que, de acordo com o
item 4.2.2, “os livros digitais deverão apresentar o conteúdo dos livros impressos
correspondentes, integrados a objetos educacionais digitais [OEDs]” (BRASIL, 2013, p.
3).
Nesse sentido, é interessante notar uma mudança de “natureza” classificatória dos
OEDs do PNLD 2014 para o PNLD 2015. Citando a nova definição do próprio documento,
no item 4.2.3: Entende-se por objetos educacionais vídeos, imagens, áudios, textos,
gráficos, tabelas, tutorias, aplicações, mapas, jogos educacionais, animações,
infográficos, páginas web e outros elementos (BRASIL, 2013, p.3).
De somente quatro categorias de OEDs no PNLD 2014, o MEC não definiu
nenhuma no 2015. Isso significa que uma abertura que traz maior flexibilidade na
inserção de conteúdos digitais e não digitais (como textos e gráficos estáticos) no livro,
possibilitando o alcance de novas demandas educacionais. No entanto, essa ampliação
da categorização de OEDs para os livros digitais de Ensino Médio, também significou
uma espécie de “inovação conservadora” (CYSNEIROS, 1999), por reforçar antigos
hábitos e conteúdos, por meio de recursos e ferramentas tecnológicas “modernas”, sem
explorar os potenciais específicos daquela determinada ferramenta (no caso, o livro
digital).
Nesse sentido, o edital solicita (item 4.2.16) que as versões digitais das coleções
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didáticas tenham “paridade das páginas com os livros impressos correspondentes,
podendo também incluir outras opções de apresentação como formatos alternativos”
(BRASIL, 2013, p.3). É interessante essa determinação, já que os livros digitais não
necessariamente precisam estar em conformação com a noção de “página”, mesmo que
a maior parte dos ebooks (literários, por exemplo) siga o mesmo padrão de leitura do livro
impresso. Por terem objetivos pedagógicos, os livros didáticos digitais necessitam ter
semelhanças com o livro impresso, já que os usuários (alunos e professores) estão
acostumados a um tipo especifico de leitura e “navegação”. Não é nosso objetivo no
presente trabalho entrar nas questões de usabilidade e novas formas de apresentação
de conteúdos didáticos por meio de livros digitais, mas chama a atenção a “abertura” do
edital em dar possibilidades às editoras de inscreverem suas obras também em formatos
inovadores.
Continuando nessa questão de formato, o edital define (item 4.2.19) também que:
Os livros digitais deverão ter, como requisito mínimo de padronização, acesso por
multiplataformas e pelos principais sistemas operacionais, tais como Android 2.3 ou
posteriores, iOS, Linux (ubuntu) e Windows 7 ou posteriores, para dispositivos como
laptop, desktop e tablets (BRASIL, 2013, p.4).
Percebemos nesse item a importância que conteúdos educacionais tenham o
maior alcance possível, ainda mais falando do contexto da educação pública. No entanto,
do ponto de vista operacional e tecnológico da época, foi um desafio produzir livros
didáticos digitais (com a inserção de OEDs) que “rodassem” em todos esses sistemas
operacionais e diferentes hardwares. Essa dificuldade fez com que a maior parte das
editoras tivessem que adaptar OEDs do PNLD 2014 que fossem reutilizados nas
coleções do Ensino Médio, pois a linguagem de programação não poderia ser a mesma,
e produzir OEDs novos nessa nova linguagem6.
Assim como nos OEDs para o Ensino Fundamental II, os livros digitais para Ensino
Médio devem ser utilizados sem a necessidade de conexão com à internet, salvo no
6 O edital do PNLD 2014 colocava que os OEDs deveriam ser produzidos em Flash e serem auto executáveis direto
do DVD. Já para as especificações do PNLD 2015, o Flash já não poderia ser utilizado, pois alguns sistemas
operacionais (como o iOS, por exemplo) não suportavam mais. A maior parte das editoras (como a maior parte das
empresas de conteúdos digitais), decidiu mudar para o HTML 5, linguagem de programação que é aceita mais
“universalmente” entre softwares e hardwares.
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momento do primeiro acesso ao material (item 4.2.20). Entendemos que à nível de
infraestrutura tecnológica, a maior parte de nossas escolas públicas possuem grandes
dificuldades. Em muitos casos o acesso à internet é limitado aos trabalhos administrativos
da escola, deixando os computadores que os alunos podem utilizar na sala de informática
sem conexão. Entendemos que a utilização da internet como ferramenta educacional no
processo de aprendizagem histórica é importante, fazendo com que essas obras
multimídias do Ensino Médio já não alcancem todo o potencial tecnológico/educacional
que poderiam caso houvesse o acesso à internet.
No entanto, o edital (item 4.2.23 e 4.2.23.1) coloca a possibilidade de as editoras
atualizarem os livros digitais, ou seja, “substituir ou excluir texto e imagem na obra”
(BRASIL, 2013, p.4). Isso abre a perspectiva de diminuição de tempo na correção e
atualização dos livros didáticos, já que as editoram não precisariam esperar três anos e
uma nova edição do livro para ajustar ou inserir novos conteúdos.
No Guia dos livros didáticos do PNLD 2015, temos uma seção da apresentação
dedicada a explicar a relação das “culturas digitais” com o ensino médio e a
aprendizagem histórica, além do significado da oferta de coleções com livros digitais para
esse nível de ensino. Segundo o texto:
O livro digital é um recurso que pode colaborar para uma experiência inovadora, já que a natureza do artefato amplia a interatividade e o trabalho colaborativo. Essa interação enriquece o processo de ensino-aprendizagem e amplia o estoque de instrumentos pedagógicos já disponíveis no livro didático impresso (BRASIL, 2014, p.19).
Apesar disso, o Guia afirma que o livro digital não pode ser avaliado como um
“outro livro” em relação ao impresso, no sentido de ser “avaliado a mesma atenção e a
partir dos mesmos critérios pedagógicos expressos no Edital do PNLD”. Mas isso traz
consigo uma questão relevante no âmbito da própria definição de “livro digital”, pois ele
necessariamente precisa de novas formas de avaliação, já que não é o mesmo livro em
relação ao impresso, porque permite um contato e uma abordagem diferente do
conhecimento. Como o próprio documento diz em seguida:
A versão digital, entretanto, amplia as potencialidades pedagógicas do impresso, pois torna acessíveis alguns trechos de filmes, reportagens, além de apresentar
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gráficos animados, jogos, excertos de documentos, imagens ampliadas e detalhadas passíveis de experiências com atividades mais estimulantes e enriquecedoras. (BRASIL, 2014, p.19).
Observamos que o Guia traz um discurso de “inovação moderada”, por não saber
utilizar as reais potencialidades da ferramenta, focando em certas características que o
diferenciam do impresso, mas sem ultrapassa-lo. O documento conclui com a seguinte
ideia:
A introdução do livro digital, enfim, tem o objetivo de manter o padrão de qualidade alcançado pelo impresso, de ampliar a mobilidade, capacidade de manipulação dos dados e a interatividade nos processos de ensino-aprendizagem. Assim, acreditamos que é importante manter em diálogo contínuo os dois tipos de mídia, pois, independentemente dos suportes e formatos, a meta do recurso didático será sempre oferecer aos alunos e professores um instrumento de boa qualidade (BRASIL, 2014, p.19).
Tivemos como objetivo nesse artigo analisar aspectos significativos em relação
aos conteúdos educacionais digitais, dos editais e guias dos PNLD 2014 e 2015.
Observamos que esses programas representaram uma inovação ao incluírem o
componente digital para as obras didáticas de todas as disciplinas do Ensino
Fundamental II e do Ensino Médio. No entanto, acreditamos que essa inovação ainda
está em seus estágios iniciais e, visto que o MEC vem diminuindo a solicitação de
conteúdos digitais nos últimos PNLDs7, a perspectiva de desenvolvimento nessa área
não é das melhores. Mesmo assim, vemos que é necessário um estudo sobre o uso
desses conteúdos pelos professores de história. Dessa maneira, é imprescindível
analisar os documentos oficiais norteadores da produção dos OEDs no âmbito da
educação pública brasileira.
Nos limites deste texto, pretendemos apresentar também observações iniciais de
nossa pesquisa de mestrado, contribuindo para a reflexão sobre a inserção de conteúdos
educacionais digitais no processo de aprendizagem histórica e, em especifico, na
utilização desses conteúdos pelo professor de história.
7 Tanto no PNLD 2016, quanto no PNLD 2017, o MEC solicitou conteúdos digitais somente no Manual do Professor.
Já no PNLD 2018, a única menção à digital se faz no uso de obras acessíveis (para alunos com algum tipo de
deficiência), utilizando uma versão do livro em formato digital em ePub3.
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Referências Bibliográficas
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convocação para o processo de inscrição e avaliação de obras didáticas para o
Programa Nacional do Livro Didático PNLD 2014. Brasília, DF: Ministério da
Educação, Secretaria de Educação Básica, 2011.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Edital de
convocação para o processo de inscrição e avaliação de obras didáticas para o
Programa Nacional do Livro Didático PNLD 2015. Brasília, DF: Ministério da
Educação, Secretaria de Educação Básica, 2013.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Guia de Livros Didáticos: PNLD
2014: História. Ensino Fundamental. Anos Finais. - Brasília: Ministério da Educação,
2013.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Guia de Livros Didáticos: PNLD
2015: História. Ensino Médio. - Brasília: Ministério da Educação, 2014.
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sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
CYSNEIROS, Paulo Gileno. Novas tecnologias na sala de aula: melhoria do ensino ou
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disponível em:<http://www.colombiaaprende.edu.co/html/mediateca/1607/articles-
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KENSKI, Vani Moreira. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação.
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IEEE, Institute of Electrical and Electonics Engineers. Apresenta textos sobre objetos
12
de aprendizagem, 2005. Disponível em: <http://ltsc.ieee.org/wg12/index.html>. Acesso
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LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora
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NÚCLEO DE INFORMAÇÃO E COORDENAÇÃO DO PONTO BR. Educação e
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PAIS, Luiz Carlos. Educação escolar e as tecnologias da informática. Belo
Horizonte: Autêntica, 2008.
RAMAL, Andrea Cecilia. Educação na cibercultura: hipertextualidade, leitura, escrita
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