Departamento de Lingustica Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas Universidade de So Paulo FLL 1009 Formao das Lnguas Neolatinas Prof. Thomas Finbow
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As novas consoantes palatais Todas as lnguas romnicas exibem inventrios consonantais maiores do que o latim. O espanhol acrescentou
uma srie de alofones fricativos sonoros [ ] pela lenizao/abrandamento de /b d / em contextos ps-
voclicos; outras lnguas neolatinas desenvolveram /v/ e /z/. Contudo, o que mais contribuiu expanso do
inventrio consonantal romnico foi o surgimento de uma srie de fricativas e africadas palatais, que inclui,
entre outros, [ c ] e [ ]. Este captulo explica como as consoantes palatais novas surgiram e
evoluram.
1. Sobre a articulao palatal O palato ocupa a zona central entre os diversos pontos de articulao nos quais fechamentos consonantais
podem ser realizados. Os pontos relevantes so, partindo do extremo anterior: labial, labiodental, dental,
alveolar, ps-alveolar/prepalatal, palatal, velar, ulular, farngea e glotal. Estando no meio, o palato passa a ser
com frequncia o alvo em diversos tipos de articulao de compromisso, ou seja, quando o gesto que almeja um
determinado ponto de articulao se encontra sequencialmente adjacente a outro gesto articulatrio cujo
objetivo outro ponto de articulao, os dois movimentos tendem a tornar-se simultneas, gerando uma
articulao que constitui um meio termo entre as duas articulaes originais. Por exemplo, em muitas
variedades do portugus brasileiro, as oclusivas dentais /t d/ apresentam alofones africados palatais [ ]
quando seguidas por uma vogal alta anterior no arredondada ([i]), que no sempre aparece na escrita, p. ex., tia
/ti.a/ [i], dia /di.a/ [i], ritmo /xi.tiN.mo/ [ximu], advogado /a.di.voa.do/ [aivoadu]. Outro caso de
um grupo consonantal instvel na evoluo entre o latim e as lnguas romnicas a sequncia /kt/ (oclusiva
velar + oclusiva dental), que rende um compromisso palatal no espanhol:
dictum /diktu/ > dicho /dio/ dito strictum /striktu/ > estrecho /estreo/ estreito pectus /pek.tu/ > pecho /peo/ peito tectum /tektu/ > techo /teo/ teto noctem /nokte/ > noche /noe/ noite octo /okto/ > ocho /oo/ oito
2. Iodes antigos e novos O iode o gesto palatal por excelncia. Alm de ser um segmento palatal, esse som tambm exerce uma atrao
forte sobre os segmentos vizinhos. As novas consoantes palatais tipicamente envolvem um iode em algum
aspecto da sua origem. Mas, qual a origem desses iodes? Alguns j existiam no latim, outros vieram de vogais
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anteriores que perderam seu valor silbico, e ainda outros surgiram de articulaes de compromisso de certos
grupos de consoantes. Nosso primeiro objetivo apenas de exemplificar essas fontes de iode. A continuao,
trataremos de seus efeitos de forma sistemtica.
2.1. Iodes originais
Alguns iodes j existiam no latim, tanto em incio de palavra como em posies mediais.
Latim Italiano Espanhol Francs glosa
iustus giusto justo juste justo /jus.tu/ /us.to/ /xus.to/ /yst/
(de-) iam gi ya dj j /de/+/jam/ /a/ /ja/ /dea/
iacet giace yace gt jaze /jaket/ /a.e/ /ja.se/, /ja.e/ /i/
iunctus giunto junto joint junto /junktu/ /un.to/ /xun.to/ /w/
ianuarius gennaio enereo janvier janeiro /januariu/ /nnai.o/ /ene.o/ /vje/ maius maggio mayo mai maio /majju/ /ma.o/ /ma.jo/ /m/ maiore maggiore mayor maieur (fr. ant.) maior /majjore/ /mao.e/ /majo/ /maj/1 cuius ... cuyo ... cujo /kujju/ /ku.jo/ peius peggio ... ... pior /pejju/ /p.o/
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2.2. Iodes novos da perda de hiato
Recorda que no latim, com a exceo dos ditongos ae /aj/, oe /oj/, au /aw/ e eu /ew/, qualquer sequncia escrita
com dois grafemas voclicos representa duas slabas? Entretanto, tais sequncias voclicas no eram
favorecidas no latim oral popular. Trs maneiras diferentes eram usados para eliminar esses hiatos
problemticos. s vezes, o hiato foi resolvido simplesmente pela queda de uma das vogais envolvidas, p. ex.,
Latim Latim falado Italiano Espanhol Francs glosa
quietus cheto quedo coi queto /kwietu/ [kwe.tu] /ke.to/ /ke.do/ /kwa/
battuit batte bate bate bate /bat.tu.it/ [bat.tet] /bat.te/ /ba.te/ /bat/
futuit fotte jode fout fode /fu.tu.it/ [fut(t)it] /ft.te/ /xo.de/ /fu/
parietem parete pared paroi parede /pa.riete/ [pare.te] /paete/ /paed/ /pawa/
Segundo, o hiato pode ser resolvido pela insero de um glide epenttico, p. ex.,
Latim Latim falado Italiano Espanhol Francs glosa
Genua Genova Genova Gennes Genova /e.nu.a/ [e.no.wa] /.no.va/ /xe.no.ba/ /n/
manualis manovale ... ... lavrador /ma.nua.le/ [ma.nuwa.le] /ma.nova.le/
ruina rovina ruina ruine runa /rui.na/ [ruwina] /rovi.na/ /rwi.na/ /win/ vidua vedova viuda veuve viva /wi.du.a/ [we.du.wa] /vedova/ /bju.da/ /vv/ Iohannes Giovanni Juan Jean Joo /joan.nes/ [jo(w)an.nes] /ovan.ni/ /xwan/ //
A terceira e de longe a maneira mais comum, se uma das vogais no hiato era /i/ ou /e/, envolvia a perda de
silabicidade. A vogal anterior foi transformado num glide palatal, [j], p. ex.,
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Latim Latim falado glosa
pretium preo /pre.ti.u/ [pre.tju]
faciam face, cara /fa.ki.a/ [fa.kja]
hodie hoje /o.di.e/ [o.dje]
fageus faia /fa.e.u/ [fa.ju]
paleam palha /pa.le.a/ [pa.lja]
seniorem senhor /se.niore/ [senjor]
Esses novos iodes desencadeiam consequncias profundas que afetaro as consoantes que os precedem de
diversas maneiras, como veremos em breve.
2.3. Novos iodes a partir de grupos consonnticos palatais
No caso de determinados grupos de consoantes, a prolao verncula envolvia um gesto palatal que, com
frequncia, gerava uma nova consoante palatal. Os grupos consonantais palatalizados que examinaremos neste
captulo incluem os seguintes, entre outros:
Latim Italiano Espanhol Francs glosa
/kt/ factum fatto hecho fait feito /fak.tu/ /fat.to/ /e.o/ /f/
/kl/ oculus occhio ojo oeil olho /o.klu/ /k.kjo/ /o.xo/ /j/
/gn/ dignus degno ... digne digno /dignu/ [dinu] /deo/ /din/
/nn/ annus anno ao an ano /an.nu/ /an.no/ /a.o/ //
/ll/ caballus cavallo cavallo cheval cavalo /kaballu/ /kaval.lo/ /kabao/ /val/
/pl/ duplum doppio doble double dobro /du.plu/ /dp.pjo/ /do.ble/ /dubl/
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possvel que se v (ou no) algum vestgio de um iode na escrita. Tipicamente, no h nenhuma fase atestada
em que o gesto palatal ocorra como um segmento independente na escrita.
3. Os iodes e o surgimento de novas consoantes Nesta seo, apresentaremos todos as fontes mais importantes das novas consoantes palatais nas lnguas
neolatinas que surgiram sob a influncia de iodes originais ou secundrios. Em primeiro lugar, tratamos trs
origens de consoantes palatais que conduzem ao mesmo resultado. Aps termos delineado os dados, poder-se-
verificar que as trs fontes sofreram uma fuso no caminho do latim para o romance.
3.1. O iode original
Recapitulemos os exemplos do iode latino original apresentados inicialmente em 2.1. Primeiro, os iodes em
incio de palavra:
Latim Italiano Espanhol Francs glosa
iacet giace yace gt jaze /ja.ket/ /a.e/ /ja.se/, /ja.e/ /i/
(de-) iam gia ya dj j /de/+/jam/ /a/ /ja/ /dea/
Iovis (-die) gioved jueves jeudi quinta-feira /jo.we/+/die/ /vedi/ /xwe.bes/ /di/
iocum gioco juego jeu jogo /jo.ku/ /o.ko/ /xwe.o []
Iosephus Giuseppe Jos Josphe Jos /josepu/ /uzep.pe/ /xose/ /ozf/
iudicem giudice juez juge juiz /ju.di.ke/ /u.di.e/ /xwes/, /xwe/ /y/
Iunius giugno junio juin junho /juniu/ /u.o/ /xu.njo/ //
iunctus giunto junto joint junto /junktu/ /un.to/ /xunto/ /w/
iurat giura jura jure jura /jurat/ /u.a/ /xu.a/ /y]
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Ianuarius gennaio enero janvier janeiro /januari.u/ /nnajo/ /ene.o/ /vje/
... ginepro enebro genivre zimbro */jeniperu/ /ene.po/ /ene.bo/ /njv/
*/jeneperu/ iudaeus ... judo juif judeu /judaj.u/ /xudi.o/ /i/
Pergunta: O que acontece com o iode original em incio de palavra nas trs lnguas exemplificadas?
As palavras abaixo exemplificam a evoluo do iode em posies mediais:
Latim Italiano Espanhol Francs glosa maius maggio mayo mai maio /majju/ /ma.o/ /ma.jo/ /m/ maiorem maggiore mayor maieur (fr. ant.) maior /majjore/ /mao.e/ /majo/ /maj/ raiam razza raya raie arraia /raj.ja/ /ra.a/ /ra.ja/ //
Pergunta: o que acontece com o iode original em meio de palavra?
3.2. /d/ + iode e // + iode
As sequncias /dj/ e /j/ se comportam como os iodes latinos originais:
Latim Italiano Espanhol Francs glosa
... giornata jornada journe jornada */diurnata/ /nata/ /xonada/ /une/
Georgeus Giorgio Jorge Georges Jorge /eor.e.u/ /.o/ /xo.xe/ //
hodie oggi hoy hui (fr. ant.) hoje /o.di.e/ /.i/ /oj/ /i/ ad podium appoggio apoyo appui apoio */appo.di.u/ /ap.o/ /apo.jo/ /api/
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hordeum orzo ... orge cevada /or.de.u/ /.o/ //
radium raggio rayo rai raio /ra.di.u/ /ra.o/ /ra.jo/ //
medianus mezzano ... moyen mdio /me.dia.nu/ /mano/ /moj/
exagium saggio ensayo essai ensaio /esa.i.u/ /sa.o/ /ensa.jo/ /es/
fageus/-a faggio haya ... faia /fa.e.u/ /fa.o/ /a.ja/
Para atingir essa generalizao, preciso reconhecermos duas coisas. Primeiro, orzo e mezzano em italiano,
como razza acima, refletem a influncia espordica, porm, usual dos dialetos setentrionais. Segundo, todas as
discrepncias nos dados franceses so apenas aparentes. Todos os casos refletem uma fase inicial que teria que
conter /j/. Quando ps-consonantal, como em */.dju/ > orge, os iodes se desenvolveram como se fossem em
posio inicial. Em palavras como rayon e moyen, o iode permaneceu /j/ e formou uma slaba com o segmento
sua direita. Em palavras como hui, appui, rai e essai, o iode, estando em final absoluto, s podia formar uma
silaba para a esquerda e isso gerava um ditongo secundrio. Maieur no francs antigo, onde a letra i representa
/j/, exibe a evoluo antecipada de maiorem /majore/, enquanto majeur [ma] da lngua moderna parece ser
um cultismo influenciado pelo latim medieval.
A seguir, passamos a considerar a terceira fonte destes mesmos palatais.
3.3. // + vogal anterior
Os reflexos de // + vogal anterior parecem os que j vimos para /j/, /dj/ e /j/. Os exemplos exibem a evoluo
de /i/ e /e/ nos seguintes ambientes: inicial e tnico, inicial e tono, medial e tnico, e medial e tono.
Latim Italiano Espanhol Francs glosa
gypsum gesso yeso ... gesso /ip.su/ /s.so/ /je.so/
gemere gemere gemir gmir gemer /emere/ /emee/ /xemi/ /emi/
genius genio genio gnie gnio /e.ni.u/ /e.njo/ /xe.njo/ /eni/
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gelat gela hiela gle gela /e.lat/ /e.la/ /je.la/ /l/
gemma gemma yema ... gema /em.ma/ /m.ma/ /je.ma/
generum genero yerno gendre genro /e.ne.ru/ /e.neo/ /je.no/ /d/
gen(s), gentis gente yente (esp. ant.) gens /en.te(s) /n.te/ /yen.te/ //
gingiva gingiva enca gencive gengiva /ini.wa/ /ini.va/ /ensi.a/, /eni.a/ / siv/ germanus germano hermano germain irmo /ermanu/ /mano/ /emano/ /m gelare gelare helar geler gelar /ela.re/ /ela.re/ /ela/ /le/ gentile gentile gentil gentil gentil /entile/ /nti.le/ /xentil/ /ti/ fugire fuggire huir fuir fugir /fuire/ /fui.e/ /ui/ /fwi/ regina regina reina reine rainha /reina/ /rei.na/ /rej.na/ /n/ argentus argento argento argent argento /aren.tu/ /an.to/ /axento/ /a/ legem legge ley loi lei /lee/ /l.e/ /lej/ /lwa/ fugit fugge huye fuit foge /fu.it/ /fu.e/ /uje/ /fi/
A identidade dos reflexos indica que essas origens de palatais - // + vogal anterior, /j/, /dj/ e /j/ - convergiram
num nico som, provavelmente um /j/ levemente africado.
Existe evidncia em abundncia em inscries, embora seja difcil de interpret-la em termos fonticos, de que
a mudana nesses sons estava em andamento no latim falado. Por exemplo, encontramos zanuariu por ianuarius
(CIL X 2466), ziaconus por diaconus (CIL III 8652), oze por hodie (CIL VIII 8424). Isidoro de Sevilha (sc.
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VII d.C.) reporta que solent Itali dicere ozie pro hodie (os italianos costumam dizer ozie por hodie). Esse uso
da letra z tomada do grego (em que representava um africado alveolar sonoro ([]), provavelmente uma
tentativa de representar o novo /j/ africado.
Antes de deixar /e/ e /i/, lembramos que, desde o sc. I a.C., o latim falado tendia a perder o // intervoclico,
p. ex.,
Latim Italiano Espanhol Francs glosa
digitus dito dedo doigt dedo /diitu/ /dito/ /dedo/ /dwa/
iam magis giammai jams jamais jamais /jamma.is/ /ammaj/ /xamas/ /am/
magistrum maestro mestre matre maestro, mestre /mais.tru/ /masto/ /mes.te/ /mt/
sagitta saetta saeta saiete (fr. ant.) seta /saitta/ /sat.ta/ /saj.ta/ /sajet/
pagensem paese pas pays pas /paense/ /pae.ze/ /pais/ /paj/
Consequentemente, dado os reflexos romnicos dessas palavras latinas, podemos afirmar que // foi elidido
muito precocemente para participar na fuso.
3.4. Resumo: a fuso de // diante de vogais anteriores, /j/, /dj/ e /j/
O resultado do processo em italiano simples: todas essas fontes produzem //, que se gemina em posies
intervoclicas. As nicas complicaes so:
(a) a eventual ausncia de geminao, como em regina rainha e pagina pgina; e
(b) palavras como mezzano mdio e razza arraia que refletem o padro evolutivo dos dialetos
setentrionais de onde foram tomadas emprestadas pela lngua padro baseada no dialeto toscano (centro-
sul) da cidade de Florena.
Em espanhol, o som produzido pela fuso /j/, que fica inalterado na maioria dos ambientes. Em incio de
palavra, assimila-se a uma vogal posterior seguinte, criando /x/ (via // e //), como em joven /xo.ben/ jovem.
Sob certas circunstncias, /j/ eliminado:
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(a) a sequncia /je/, quando tona, se reduz a /e/, como em enebro zimbro;
(b) o /j/ cai diante de /i/ tnico, compare huir fugir e huye foge.
Por ltimo, convm notar que /j/ em incio de palavra que resulta da fuso arcaico atualmente. Palavras como
yeso gesso, com /j/ /# __ , pela fuso, so excedidos em nmero por cultismos com /x/, p. ex., yente /jen.te/
(esp. ant.) versus gente /xen.te/ (esp. mod.).
Em francs, o /j/ procedente da fuso sofre fortalecimento para gerar a africada // do francs antigo em incio
de palavra, a qual perde a africao mais tarde, tornando-se //. Em posio medial, /j/ permanece, e se o iode
francs se encontrava em final absoluto, ele formava uma slaba para a esquerda, tal como em essai ensaio,
hui hoje.
3. 5. /k/ + vogal anterior
Existe evidncia convincente de que c em latim originalmente representava [k], como em centum /ken.tu/
cem, cives /ki.wes/ cidado. Com o passar do tempo, entretanto, a combinao de oclusiva velar mais
vogal anterior se revelou instvel, porque o gesto articulatrio velar est longe da posio assumida pela lngua
para articular as vogais anteriores. Apenas o sardo logudorese, foneticamente a mais conservadora das lnguas
neolatinas, e no extinto dlmata a pronncia velar original permaneceu. Nos demais idiomas, /k/ diante de
vogais anteriores puxado para frente at a regio palatal ou alveolar. Embora // se entregue ao mesmo tipo de
presso (vide 3.3), veremos que /k/ e // diante de vogais anteriores no se desenvolveram de uma maneira
idntica.
Em italiano, a nova consoante palatal gerada de /k/ + V ant. foi //. Para lembrar-se desse condicionamento,
pense na palavra concerto, em que o /k/ original permanece intato diante a vogal posterior /o/ e muda para //
diante da vogal anterior //.
centum /kentu/ > cento [n.to] cem cervus /kerwu/ > cervo [.vo] cervo civitatem /kiwitate/ > citt [itta] cidade quinque > /kinkwe/ > cinque [i.kwe] cinco dicit /dikit/ > dice [di.e] diz decem /deke/ > dieci [dj.i] dez
Em espanhol e francs, as novas consoantes que surgem de /k/ + V ant. so:
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Latim Espanhol Francs glosa
civitate > ciudad [sjua], [jua] > cit [site] cidade quinque > /kinkwe/ > cinco [si.ko], [i.ko] > cinque [sk] cinco cervus > ciervo [sje.o], [je.o] > cerf [sf] cervo centum > ciento [sjen.to], [jen.to] > cent [s] cem vicina /wikina/ > vecina [besina], [beina] > voisine [vwazin] vizinha iacere /ja.ke.re/ > yacer [jase], [jae] > gsir [ezi] jazer
PERGUNTA: Em francs e espanhol, o que acontece com /k/ diante de /i/ ou /e/?
Essas mudanas nas trs lnguas representam o resultado de vrias etapas evolutivas. provvel que /k/ >
([k] ...) > [] em latim falado tardio, a fase que permanece no italiano. Um avano adicional produziu [] no
francs e espanhol antigos, que foi sonorizado para [] entre vogais. No francs, ambos os alofones perderam a
africao, acabando em [s] e [z], respectivamente. O espanhol perdeu a distino alofnica de vozeamento, de
modo que [] e [] sofrem um neutralizao para [] e mais tarde, por desafricao, para [s] (fricativa lamino-
dental surda). Esse fonema se fusionou com o fonema descendido de /s/ [s] (fricativa apico-alveolar surda) nas
variedades espanholas seseantes ([seseantes]). Nas variedades ceceantes ([eeantes]), // ([], []) > [s] >
[], e na fuso fonmica com /s/ [s], a fricativa interdental surda foi o segmento selecionado.
Latim Seseante Peninsular padro Ceceante
centum cem > ciento /sieN.to/ [sjen.to] /ieN.to/ [jen.to] /ieN.to/ [jen.to] semper sempre > siempre /sieN.pe/ [sjem.pe] /sieN.pe/ [jem.pe] /ieN.pe/ [jem.pe]
3. 6. /t/ + iode e /k/ + iode As sequncias /tj/ e /kj/ se desenvolvem como /k/ + V ant. , com a exceo de que h novamente dois resultados
no italiano, que reflete a mistura dialetal presente na lngua padro (vide 3.1, 3.2).
Latim Italiano Espanhol Francs glosa martius marzo marzo mars maro /mar.ti.u/ /mao/ /maso/, /mao/ [mas] distantia distanza distancia distance distncia /distantia/ /distana/ /distansja/, /distanja/ [dists] ... forza fuerza force fora */for.ti.a/ /fa/ /fwesa/, /fwea/ [fs]
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puteus pozzo pozo puits poo /pu.te.u/ /p.o/ /poso/, /poo/ [pi] platea piazza plaza place praa /pla.te.a/ /piaa/ /plasa/, /plaa/ [plas] ... faccia haz face face, feixe */fa.ki.a/ /faa/ /as/, /a/ /fas/ brachium braccio brazo bras brao /bra.ki.u/ /bao/ /baso/, /bao/ [ba] minacia minaccia amenaza menace ameaa /mia.ki.a/ /minaa/ /amenasa/, /amenaa/ [mnas] ericius riccio erizo hrisson ourio /eri.ki.u/ /rio/ /eiso/, /eio/ [eis] calceam calza calza chausse calado /kal.ke.a/ /kal.a/ /kalsa/, /kala/ [os] ... calcio coz ... coice */kal.ke.u/ /kalo/ /kos/, /ko/
Em espanhol, a evoluo de /tj/ e /kj/ um tanto controvertida, mas, em algum momento, os dois se fusionaram
em //, desafricando-se mais tarde para [s], que avana para [] nas variedades ceceantes. No francs antigo
tambm, /tj/ e /kj/ produziu //, que virou [s]. Outras mudanas posteriores eliminaram esse /s/ em alguns
ambientes.
Relendo 3.5, possvel verificarmos que os reflexos de /tj/ e /kj/ se comportaram como os de /k/ + V ant., o que
revela que uma fuso trplice ocorreu. Essa fuso parcialmente paralelo que apresentamos em 3.4. Os sons
envolvidos so:
surdos: [tj] [kj] e [k] + [i e] sonoros: [dj] [j] [j] e [] + [i e]
Os dois conjuntos produzem articulaes de compromisso: consoantes palatais ou pr-palatais. Entretanto, os
reflexos no so totalmente iguais. O francs antigo exibe [] do conjunto surdo, mas [] (no []) do
conjunto sonoro. Da mesma maneira, o castelhano antigo exibia [] como o reflexo do conjunto surdo, mas [j],
levemente africado, e seus demais reflexos como o descendente do conjunto sonoro. O italiano, com seus
resultados duplos apresenta outra simetria: [tj] geralmente d [], raramente [], enquanto [kj] tende a produzir
[] e, s raras vezes, d [].
3.7. Fontes do nasal palatal ([]) e lateral palatal ([]) Os fonemas // e // se destacam entre as novas consoantes palatais, sendo derivados de vrias origens. Surgem,
por exemplo, quando /n/ ou /l/ for seguido por uma vogal anterior que se torna um iode, como, p. ex.,
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Latim Italiano Espanhol Francs glosa seniorem signore seor seigneur senhor /seniore/ [sioe] /seo/ [se] Hispania Spagna Espaa Espagne Espanha /(h)ispa.ni.a/ [spaa] /espaa/ [espa] ciconia cicogna cigea cigogne cegonha /kikonia/ [ikoa] /sigwea/ [sio] aranea/ -ata ragno araa araigne aranha /aranea/, /-ata/[rao] /araa/ [aee] vinea vigna via vigne vinhedo, vinha, videira /winea/ [via] /bia/ [vi] alium aglio ajo ail alho /a.li.u/ [ao/] /axo/ [aj] meliorem migliore mejor meilleur melhor /me.liore/ [mioe] /mexo/ [mej] melius meglio ... mieux melhor /me.li.u/ [meo] [mj] filiam figlia hija fille filha /fili.a/ [fia/] /ixa/ [fij] foliam foglia hoja feuille folha /fo.li.a/ [foa] /oxa/ [fj] paleam paglia paja paille palha /pa.le.a/ [paa] /paxa/ [paj]
PERGUNTA: O que acontece com /n/ + [j] e /l/ + [j] nas trs lnguas? Outra fonte do lateral palatal e nasal palatal so os grupos /n/ e /l/ (oclusiva velar + oclusiva dental), que
produzem // e //, respectivamente, como uma articulao de compromisso.
Latim Italiano Espanhol Francs glosa ligna legna lea ... lenha /li.na/ [le.a] /le.a/ digna degna ... digne digno (cultismo) /di.na/ [de.a] [di] signat segno sea signe assina /si.nat/ [se.o] /se.a/ [si] signum segno seo (cast. ant.) seing sinal /si.nu/ [se.o] /se.o/ [s] stagnum stagno estao tang estanho (potico), mar liso /sta.nu/ [stao] /esta.o/ [et] pugnus pugno puo poing punho /pu.nu/ [puo] /pu.o/ [pw] coagulat caglia cuaja caille coalha [k(w)a.lat] [ka.a] /kwa.xa/ [kaj] strigilis striglia estrgil trille almofaa [stri.le] [sti.a] /esti.xil/ [etij]
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Em espanhol, // termina em tornar-se /x/ (Houve um processo que reduziu // > [j], como ocorreu no francs e
que comum nas variedades espanholas denominadas yestas, mas, diferente do francs, no castelhano antigo,
// > [j] foi seguido por outro processo de fortalecimento em que [j] > [], cf., as pronncias modernas de calle
como [ka.e], [ka.e] em variedades espanholas rioplatenses. Quando o espanhol perdeu o vozeamento nas
fricativas, as etapas evolutivas foram [] > [] > [x], ou seja, houve muitos casos de fuso fonmica de //
original (foneticamente []) com os demais // [] de outras fontes e todos esses // se tornaram /x/ [x].)
Em francs, a nasalizao em seing, tang, poing faz parte de um processo mais abrangente em que, no
momento em que todas as vogais finais latinas, com a exceo de /a/ (> [], escrito e), tinham sido elididas,
esse grupo de palavras exibia // em final de palavra e, como os demais segmentos nasais nessa posio, //
provocou a nasalizao da vogal que o precedia e, mais tarde, tambm foi elidido.
Por ltimo, em muitas variedades ibero-romnicas (com a exceo do grupo galego-portugus) os laterais e
nasais alveolares geminados // e // (//, //) tambm geraram articulaes palatais. Em italiano, as
consoantes geminadas permanecem at hoje.
Latim Italiano Espanhol Francs glosa annus anno ao an ano /an.nu/ /anno/ /ao/ [] cannam canna caa canne cana /kan.na/ /kan.na/ /kaa/ [kan] somnum/ sonno sueo ... sono /som.nu/ /sn.no/ /sweo/ anellum anello anillo anneau anel /anel.lu/ /anl.o/ [anio]/[anijo] [ano] bellus bello bello bel, beau belo /bel.lu/ /bl.lo/ [beo]/[bejo] [bl]/[bo] collum collo cuello col, cou colo /kol.lu/ /kl.lo/ [kweo]/[kwejo] [kl]/[ku] caballus cavallo caballo cheval cavalo /kabal.lu/ /kaval.lo/ [kaao]/[kaajo] [val]
3.8. Grupos palatalizantes com /l/
As sequncias /pl/, /bl/, /fl/, /kl/ e /gl/ manifestavam instabilidade em certos contextos. Abaixo exemplificamos
os reflexos em posio inicial absoluta (ou em incio de morfema, no caso de de + gluttire e in + gluttire).
Latim Italiano Espanhol Francs glosa plicat piega llega plie chega, dobrar /pli.kat/ /pjea/ [ea]/[jea] [pli]
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plena piena llena pleine cheia /plana/ /pjana/ [ena]/[jena] [pln] plana piana llana plaine plano (Pt. ant., ch) /pla.na/ /pjana/ [ana]/[jana] [pln] piove llueve pleut chove */plo.wit/ /pjove/ [wee]/[jwee] [pl] planta pianta llanta plante planta, aro, roda/pneu /plan.ta/ /pjanta/ [anta]/[janta] [plt] bianca blanca blanche branca
Germnico > */blank-/ /bjanka/ /blanka/ [bl] bionda ... blonde loiro
Gmc. > */blond-/ /bjonda/ [bld] flebilis fievole feble faible fraco, febre (< fr.) [fleble] /fjevole/ /feble/ (< fr.) [fbl] flamma fiamma llama flamme chama /flam.ma/ /fjam.ma/ [ama]/[jama] [flam]
fianco flanco flanc flanco (< fr.) Gmc. > */flank-/ /fjanko/ /flanko/ (< fr.) [fl]
flos, -orem fiore flor fleur flor /flore/ /fjoe/ /flo/ [fl] clamat chiama llama claimet (fr. ant.) chama clara, -am chiara clara claire clara clavis, -em chiave llave clef chave clausa, -am chiuso llosa close it., fr., fechada; esp. choa glans, -dis ghianda ... gland bolota, glande */lande/, /-a/ /janda/ [l] glarea, -ae ghiaia glera glaire cascalho, pedregulho /lare.a/ /jaja/ /lea/ [l] ghiottone glotn glouton gluto */luttone/ /jottone/ /loton/ [lut] de-/ingluttire inghiottire deglutir engloutir engolir, deglutir /de, inluttire/ /injotie/ /deluti/ [luti]
PERGUNTA: Como o desenvolvimento dos grupos consonantais /pl- bl- fl- kl- l-/ em italiano? PERGUNTA: Como esses mesmos grupos iniciais se desenvolvem em espanhol? O prximo conjunto exibe os mesmos encontros de consoantes, mas em posio medial. Evidencia-se um
contraste entre o reflexo quando intervoclico e quando est numa posio protegida (ps-consonantal). A
maioria destes encontros so secundrios, originrios de sncope.
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Latim Italiano Espanhol Francs glosa duplus doppio doble double dobro [duplu] /dopjo/ /doble/ /dubl/ copula coppia copla couple casal [kopla] /kpja/ /kopla/ [kupl] (re-)implet riemie hinche remplat enche /re+implet/ /riemje/ /ine/ [pl] exemplum esempio ejemplo exemple exemplo /esemplu/ /ezmpjp/ /exemplo/ (culto) [ezpl] amplus ampio ancho ample largo /amplu/ /ampjo/ /ano/ [pl] nebula nebbia niebla ... nvoa [nebla] /nbja/ /njebla/ sabula sabbia sable (cast. ant.) sable areia [sabla] /sabja/ /sable/ [sabl] fabula favola habla fable fala (fbula culto) /fabula/ /favola/ /abla/ [fabl] tabula tavola tabla table taboa (tbula culto) /tabula/ /tavola/ /tabla/ [tabl] ... ... halla ... acha */ad flat/ [aa]/[aja] subflat soffia sopla souffle sopra /subflat/ /soffja/ /sopla/ [sufl] conflat gonfia ... gonfle /konflat/ /onfja/ [fl] inflat enfia hincha enfle encha /inflat/ /enfja/ /ina/ [fl] sifilat ... silba siffle silva [siflat] /silba/ [sifl] auricula orecchia oreja oreille orelha [aurikla] /okja/ /oexa/ [j] apicula pecchia abeja abeille abelha [apikla] /pkja/ /abexa/ [abj] paricula parecchia pareja pareille parelha, par [parikla] /parkja/ /paexa/ [paj] vermiculus vermiglio bermejo vermeil vermelho [ermiklu] /vemio/ /bemexo/ [vmej] oculus occhio ojo oeil olho [oklu] /kjo] /oxo/ [j] ... finocchio hinojo fenouil funcho *[fenik(u)lu] /finoko/ /inoxo/ [fnuj] genuculos ginocchi hinojos (cast. ant.) genoux joelhos [enuklos] /inoki/ /inoos/ [nu]
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quacula quaglia coalla (cast. ant.) caille codorniz [kwakla] [kwaa] [kwaa] [kaj] circulus cerchio ... cercle crculo (culto) [kirklu] /ekjo/ [skl] avunculus ... ... oncle tio [aunklu] [kl] tegula tegghia/teglia teja tuile telha [tela] [tja] /[tea] /texa/ [til] coagulat caglia cuaja caille coalha [kwalat] /kaa/ /kwaxa/ [kaj] ungula unghia ua ongle unha [ula] /unja/ /ua/ [l] cingula/-us cinghia cincho/ceo cingle cincho, cincha [kila], [-u] /inja/ [sino]/[seo] [sl]
[ino]/[eo] PERGUNTA: Como a evoluo de /-pl- -bl- -fl- -kl- -l-/ em italiano? PERGUNTA: qual a evoluo tpica dos encontros de /-pl- -bl- -fl- -kl- -l-/ em posio medial em francs? PERGUNTA: para onde foi o // em genoux joelhos? PERGUNTA: Por que o singular genou [nu] e no algo como genouil [nuj]? PERGUNTA: qual a evoluo dos grupos /-pl- -bl- -fl- -kl- -l-/ em espanhol? Ainda outro encontro consonantal /-skl-/, cuja evoluo ocorre da seguinte maneira:
Latim Italiano Espanhol Francs glosa misculat mischia mezcla mle mexe, mistura [misklat] /miskja/ [meskla]/[mekla] [ml] masculus maschio macho mle macho, masculino [masklu] /maskjo/ /mao/ [ml]
Parece que, na fala, as pessoas tendiam a substituir /skl/ por /sl/, como as palavras romnicas para escravo
atesta:
Latim Italiano Espanhol Francs glosa slavus schiavo esclavo esclave escravo (orginalmente eslavo)
O grupo infrequente /tl/ que surgia por sncope era adaptado para /kl/, dando os mesmos reflexos:
Latim Italiano Espanhol Francs glosa vetula vecchia vieja vieille velha [wetla] /vkja/ /bjexa/ [vjej] situla secchia ... seille (fr. ant.) cubo [sitla] /sekja/ /sej/ > [sej]
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fistulat fischia ... ... assovia /fistlat/ /fiskja/ teschio ... ... jarro de barro > caveira */testulus/ /tskjo/
3.9. Os grupos /sk/ + vogal anterior, /skj/ e /stj/
Em italiano, esses grupos so origens da nova fricativa palatal //, que automaticamente geminada quando
ocorre entre vogais. As sequncias ortogrficas grifada representam // em italiano e /s/ ou /s/ em espanhol e
francs.
Latim Italiano Espanhol Francs glosa scaena scena escena scne cena /skaj.na/ /na/ [esena], [esena] [sn] scepticus scettico escptico sceptique ctico /skep.ti.ku/ /tiko/ [eseptiko], [eseptko] [septik] scindit scinde escinde scinde cinde /skin.dit/ /inde/ [esinde], [esinde] [sd] piscina piscina piscina piscine piscina /piski.na/ /piina/ [pisina], [pisina] [pisin] pascit pasce pace pat pasce /pas.kit/ /pae/ [pase], [pae] [p] ... nasce nace nat nasce */nas.kit/ /nae/ [nase], [nae] [n] scientia scienza ciencia science cincia /skien.ti.a/ /ena/ [sjensja], [jenja] [sjs] fascia/-ellum fascia haza faisceau feixe /fas.kia., -el.lu/ /faa/ [asa], [aa] [fso] angustia angoscia angustia angoisse angstia /anus.ti.a/ /anoa/ /anustia/ [was] ostium uscio ... huis sada /os.ti.u/ /uo/ [i] postea poscia (it. ant.) ... puis depois /pos.te.a/ /poa/ [pi]
Pat e nat em francs perderam o /s/, mas no francs antigo encontramos paist e naist. Antigamente, o s mudo
de puis e huis era prolatada. Evidentemente, pela forma, podemos reconhecer que angustia um cultismo
Pergunta: Por qu angustia no pode ser popular? O que traciona sua origem como um emprstimo lexical do latim medieval?
3.10. Os grupos /kt/, /ks/ e /sk/
Um determinado grupo de consoantes pode gerar um segmento palatal em algumas lnguas mas no em outras.
Durante a sua fase formativa, as lnguas romnicas julgaram os grupos /ks/ e /kt/ serem inaceitveis e,
consequentemente, eles foram ajustados de maneiras diferentes, que nem sempre envolvem articulaes palatais.
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Por exemplo, no caso de /nkt/ e /nks/, a estratgia favorecida foi a eliminao da oclusiva velar, como podem
ver:
Latim Italiano Espanhol Francs glosa ... dipinto pinto peint pintado */(de+)pink.tu/ planctus/-a pianto llanto plainte pranto sancta santa santa sainte santo iuncta giunta junta jointe junta punctus punto punto point ponto anxia ansia ansia ... nsia (culto) dictus detto dicho dit dito stricta stretta estrecha troite estreita directus dretto derecho droit direito tectus tetto techo toit teto octo otto ocho huit oito dixi dissi dije dis disse fixat fissa fija fixe fixa ... vescica vejiga vessie bexiga */weksika/ texitore tessitore tejedor tisseur teixeiro axila ascella axila aisselle axila fraxinus frassino fresno frne freixo coxae cosce cojn coussin coxas
PERGUNTA: qual o desenvolvimento de /kt/ e /ks/ intervoclicos em italiano? Se admitirmos a possibilidade de que houvesse mettese de /ks/ > /sk/, as excees italianas vescica, ascella e
mascella se tornaro regulares, porque, assim, seus reflexos seguiram a mesma evoluo que piscem /pis.ke/ >
/pee/. Apresentamos uma derivao de modo a exemplificar o processo proposto: /eks+elio/ > [ekselio] >
[ekselo] > [elo] > [lo] scelgo. Durante esta mudana fnica, a coexistncia de pares de variantes,
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primeiro /ks/ ~ /sk/ (*/ekselgo/ ~ */eskelgo/) e, posteriormente, /ks/ ~ // (*/ekselgo/ ~ /eelgo/), permitia que os
falantes trocassem /ks/ por //, no somente diante de vogais anteriores, mas tambm depois de outros tipos de
vogais, p. ex., */eks+kolligo/ > /olo/ sciolgo solto, */eks+akwo/ > /akkwo/ enxaguo, examen /eksamen/ >
/ame/ enxame.
Em latim, o prefixo ex era [ez] diante de uma vogal. Tal como [ks], essa sequncia sonora [z] tambm se
assimila em italiano, mas no pode formar um grupo geminado porque a fonologia italiana no contm /z/.
Portanto, o reflexo neolatino permanece [z].
exonerat > esonera exonera exactus > esatto exato exemptus, -e > esente isento exorbitantem > esorbitante exorbitante exitus > esito xito, sada
s vezes, uma palavra que exibe [ks] em latim produz dois reflexo no italiano, um com [] e outro com [z], p.
ex.,
examen > sciame enxame, esame exame, prova
exemplum > scempio massacre, matana, esempio exemplo.
A derivao de sciame e esame :
/eksamen/ > */eskame/ > [iame] > /ame/ sciame /eksamen/ > */eksame/ > [ezame] > /ezame/ esame
O francs tambm exibe pares de palavras que apontam a presena histrica de variantes com /ks/ e /sk/
resultante de mettese, p. ex.,
laxat /lak.sat/ > [laksat] > [lajs] laisse > [ls] deixa > [las.kat] > [la] lasche > [l] lche solta
3.11. /r/ + iode
As seguintes palavras exibem o impacto de [j] num /r/ anterior.
Latim Italiano Espanhol Francs glosa ianuarius gennaio enero janvier janeiro februarius febbraio febrero fvrier fevereiro corium cuoio cuero cuire coiro cochlearium, -a cucchiaio cuchara cuillre colher parius paio ... pair par
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glarea ghiaia glera glaire cascalho area aia era aire era, rea (culto) gloria gloria gloria gloire glria historia storia historia histoire histria (e estoira) /(h)istori.a/ /stoia/ /istoia/ [istwa] materia materia materia matire matria (e madeira) /materi.a/ /matja/ /mateia/ [matj] furiosa furiosa furiosa furieuse furiosa /furi.osa/ /fuioza/ /fujosa/ [fyjz]
A evoluo das palavras francesas e espanholas, por envolverem uma articulao precoce do iode e mudanas
subsequentes da vogal que dele decorrem, tratada no captulo 5 (5.2.1, 5.3.1).
Por outro lado, no italiano toscano, que constitui a base da lngua padro, /r/ eliminado diante de /j/. Nos
dialetos italorromnicos meridionais, tipicamente o /j/ que sofre a eliminao, sendo que o /r/ retido, como,
por exemplo, em San Gennaro (e no Gennaio), o padroeiro de Npoles, e lupo mannaro (e no mannaio) <
lpus hominarius /lupuo.minari.u/.
Como arius /ariu/ era um sufixo e permanece produtivo durante a fase romnica, a quantidade de palavras que
pertencem a essa classe grande. Em italiano, os vocbulos se dividem entre dois campos lexicais: lugar para
X, p. ex., acquaio pia, granaio celeiro, e pessoa que trabalha com X, p. ex., lattaio leiteiro, marinaio,
marinaro marinheiro. Palavras italianas modernas que exibam ario, p. ex., ordinario, calendario, so todas
cultismos que aproveitaram o sufixo fonemicamente nativizado /-ario/ que tinha sido tomado emprestado do
latim medieval arius.
3.12. Labial + iode em francs
Uma das mudanas mais curiosas nas lnguas romnicas exemplificada abaixo. Estas palavras contm o grupo
de labial sonoro (o produto de /b/ e /w/ fusionado, vide 2.3.2) + iode).
Latim Francs glosa tibia tige haste /ti.bi.a/[ti.bja] [ti] rabia rage raiva /ra.bi.a/ [ra.bja] [a] cambiat change mudar, trocar /kam.bi.at/ [kam.bjat] [] ... plonge mergulhar */plumbiat/ [pl]
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gulbia gouge frio /ul.bi.a/ [ul.bja] [u] rubeus rouge vermelho /ru.be.u/ [ru.bju] [u] ... assuage suavizar */ad+suaviat/ [asswa.ja] [asa] salvia sauge slvia /sal.wi.at/ [sal. ja] [so] serviente ajudante sergent sargento /ser.wi.en.te/ [serjente] [s] ... lger leve */le.wi.or/ mais leve [lee] diluvium dluge dilvio /di.lu.wu.u/ [diluju] [dely] cavea cage gaiola /ka.we.a/ [ka.ja] [ka]
Grupos de /bj/ e /wj/ mediais se tornam //. Esse processo difere marcadamente dos demais grupos com a forma
C + /j/. Em grupos como /lj nj tj dj/, a articulao dos dois segmentos envolve a lngua, de modo que a
competio entre os dois metas convida uma articulao de compromisso, como vimos em / /. Em grupos
como /bj/ e /wj/, entretanto, j que os lbios e a lngua so independentes, os segmentos no esto em
competio. Portanto, pode perguntar-se por que o resultado palatal. Uma soluo prope que, num
determinado momento, esses novos ataques silbicos, como /bj/ e /wj/ foram proibidos por alguma regra
fonottica e o remdio articulatrio desenvolvido foi de mudar a fronteira silbica de, por exemplo, /ra.bja/ para
/rab.ja/. Nesse caso, como o iode estaria no ataque, ele se desenvolveria de igual com o /j/ em posio inicial
absoluta. O percurso diacrnico seria: rabia /ra.bi.a/ > [ra.bja] > [ra.ja] > [ra.a] > [ra.] > [a] rage.
O grupo /mj/ evolui da mesma maneira. Seu trao nasal persiste e assimila-se nova articulao palatal. Por
ltimo, a consoante nasal sofre eliso, aps nasalizar a vogal que a precede (5.4.1).
simia singe smio, macaco /si.mi.a/ [simja] [s] vindemia vendange vindima /winde.mi.a/ [endemja] [vd]
... songe sonha */som.ni.at/ [som.njat] [s]
... ronge mastigar, ranger */rum.ni.at/ [rum.njat] [] Para /pj/, o processo o mesmo, exceto que o trao desvozeado imposto ao // resultante, produzindo //, que
se desafrica regulamente para //:
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sepia seiche spia /sepi.a/ [se.pja] [se] sapeat sache saiba /sa.pi.at/ [sapjat] [sa] proprius proche perto, prximo /pro.pri.u/ [pro.prju] [p]
Uma derivao tpica seria: sapeat /sa.pe.at/ [sa.pjat] > [sap.ja] > [sap.a] > [sa.a] sache > [sa].
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