em fósforos molhados
não posso buscar
combustão
dali pulei o muro do prédio que por dias vigiava,
e avancei pelos andares até a janela do quarto de dormir.
sabia ser uma obsessão, mas eu era obsessivo.
parei de pensar e joguei a mão pelo
parapeito de meu alvo.
eu só comia pizza fria
leite gelado
ligava e escrevia
nunca a encontrava
nunca
ao telefone
foursquare
sequer para baixar
telegramas fonados
de diversas madrugadas
doente.
cansado.
o vento às costas
vibrava no ouvido.
o betume então
me tragou,
e segundos escorreram
até que me fizesse eu-piche,
contra a lua nova
que a tudo
emplastrava.
com as mãos
lanhadas,
forcei o ferrolho
e a janela se abriu.
meus olhos logo localizaram
a fresta iluminada da porta do banheiro.
doente.
ouvia entao a água correndo
e ouvia muitas coisas,
água sobre água,
banho há dias que não tomava.
ela nunca atendia o telefone
e eu sabia
haver um deles no banheiro,
ao lado da banheira
tantos banhos.
juntos.
sozinho.
cansado.
ela estava, eu já sabia,
vigiava a casa ha vários dias,
todo aquele corpo sob a minha língua
meu nariz meus olhos meus ouvidos,
eu sabia tantas e tantas
outras de depois de horas
eu no telhado do prédio a espreitar
meus olhos dia e noite
o entregador de pizza e você,
pelas ruas, nunca ao telefone,
eram vermelhos os telefones públicos,
e agora ela do outro lado da porta
pela fresta eu sei.
a luz amarela refletia
nos azulejos e por todo lado
mas era o vermelho
que transbordava.
os cabelos flutuavam
e escondiam seu rosto.
doente.
chutei o telefone e comprimidos até o ralo.
ela estava lá, morta
e então eu morria também.
pizza fria,
telhado do meu prédio,
vento às minhas costas
e eu morria também.
je t’aimaisje t’aime
je t’aimerai