UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
POLÍTICA DE CRÉDITO PARA O CONSUMIDOR DE
BAIXA RENDA NO MERCADO DE VAREJO
EDUARDO CARVALHO ROSA
ORIENTADOR
PROFESSOR LUCIANO DA ROCHA GERARD
RIO DE JANEIRO
MAIO/ 2007
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
POLÍTICA DE CRÉDITO PARA O CONSUMIDOR DE
BAIXA RENDA NO MERCADO DE VAREJO
Monografia apresentada a Universidade
Candido Mendes como requisito parcial
para obtenção do Grau de Especialista
em Finanças e Gestão Corporativa.
Por: Eduardo Carvalho Rosa
RIO DE JANEIRO
MAIO/ 2007
AGRADECIMENTOS
Aos meus familiares e amigos que
contribuíram para tornar possível essa
conquista, através de palavras de carinho,
incentivo ou censura, apoiando-me a
prosseguir.
Ao Professor Luciano da Rocha Gerard
pela colaboração na minha formação e
consciência profissional, pelas valiosas
sugestões e apoio que me proporcionou
durante a condução deste trabalho.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha família por
toda a dedicação e incentivo em mais
uma etapa importante da minha vida.
RESUMO
O consumidor desempenha papel fundamental na seleção dos atributos dosbens, determinando quais devem estar presentes nos produtos adquiridos. Acorreta avaliação da preferência do consumidor permite a formulação deestratégias adequadas para conquistar novos clientes e manter a satisfaçãodos atuais consumidores. Compreender o comportamento do consumidortornou-se importante elemento estratégico para todos agentes da cadeiaprodutiva. Mas, em se tratando de clientes das classes C, D e E, que em suamaioria nem possuem comprovantes de renda, como pode ser feita umaanálise para que o crédito possa ser cedido? Para responder a questãoapresentada, esta monografia apresentou as etapas das políticas de crédito emempresas comerciais varejistas cujas estratégias neste setor são grandesdesafios. A versatilidade e agilidade de marketing e vendas encorajam eestimulam tomadas de decisões que aumentam o risco de crédito, e, porconseguinte, existem grandes possibilidades de aumentar a inadimplência comconsideráveis perdas. Partindo dessa premissa, aliada à verificação da relaçãoentre os critérios técnicos recomendáveis para a concessão de crédito e oscritérios realmente aplicados na ponta pelas lojas, apresenta-se um estudosobre as políticas de crédito em empresas comerciais de médio porte e comoatualmente os consumidores de baixa renda estão tendo uma facilidade maiorde acesso ao crédito pelo sistema bancário, através do crédito consignado,assim refletindo em grande redução na inadimplência.
METODOLOGIA
A metodologia utilizada neste trabalho foi a pesquisa bibliográfica,
consulta a Internet e informativos diversos de Instituições Financeiras.
A pesquisa bibliográfica, mesmo abordando diversos títulos e autores, foi
de grande importância nos diferentes assuntos citados.
A consulta à Internet e os informativos diversos, foram a fonte na qual,
se pode obter dados recentes, de forma a atualizar grande parte no trabalho.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..............................................................................................................................
07
1 O SISTEMA DE CRÉDITO..............................................................................................................................
12
1.1 Análise e Concessão de Crédito..............................................................................................................................
16
2 MARKETING E COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR..............................................................................................................................
18
2.1 Determinantes do comportamento do consumidor..............................................................................................................................
18
2.2 Percepções, preferências e satisfação..............................................................................................................................
20
3 POTENCIAL DE CONSUMO DOS CONSUMIDORES DE BAIXA RENDA
(CLASSES C, D e E)..............................................................................................................................
22
4 POLÍTICAS DE CRÉDITOS E FONTES DE FINANCIAMENTO PARA OS
CONSUMIDORES DE BAIXA RENDA (CLASSES C, D e E)...........................25
5 CRÉDITO CONSIGNADO: UM MEIO DE QUITAR DÍVIDAS E DIMINUIR A
INADIMPLÊNCIA...............................................................................................34
CONCLUSÃO..............................................................................................................................
36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................................................................
38
INTRODUÇÃO
O consumidor desempenha papel fundamental na seleção dos
atributos dos bens, determinando quais devem estar presentes nos produtos
adquiridos. A correta avaliação da preferência do consumidor permite a
formulação de estratégias adequadas para conquistar novos clientes e manter
a satisfação dos atuais consumidores. Assim, compreender o comportamento
do consumidor tornou-se importante elemento estratégico para todos agentes
da cadeia produtiva.
A atividade varejista engloba o processo de venda de produtos e
serviços visando satisfazer as necessidades pessoais do consumidor final.
Kotler (1998, p.493) define varejo como "todas as atividades envolvidas
diretamente na venda de bens e serviços diretamente aos consumidores finais
para uso pessoal". Cox (1996, p.3) diz que varejo é "a venda de produtos e
serviços para o consumidor final".
Para conquistar o cliente e conseqüentemente fidelizá-lo, é
necessário começar com um profundo entendimento do que os clientes
valorizam. Isso não é simplesmente uma questão de descobrir quais as
necessidades de produtos ou serviços que os clientes têm, nem que benefícios
de produtos ou serviços eles querem. Refere-se ao entendimento (profundo) do
que eles percebem como valioso em sua vida.
Um dos itens valiosos, principalmente para as pessoas menos
favorecidas, de classes C, D e E é, sem dúvida, o principal: ter acesso a
produtos e serviços a preços acessíveis. Mas, para a maioria das pessoas
dessas classes, o crédito ou financiamento torna-se essencial para obtenção
de bens ou serviços.
O mercado de consumidores de classes C, D e E teve um
crescimento significativo nos últimos anos. Atualmente no mundo existem
aproximadamente 4 bilhões de pessoas que vivem com menos de US$ 4.00
por dia e, diante desta realidade, o consultor C. K. Prahalad afirma que as
corporações devem criar produtos e serviços sob medida para a população de
baixa renda, transformando-a num gigantesco mercado consumidor.
Segundo números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), o segmento de baixa renda é composto por pessoas que recebem
entre R$ 200,00 e R$ 750,00. Existem no Brasil cerca de 25 milhões de
pessoas nesse grupo, que representam 39% da População Economicamente
Ativa (PEA).
Como este segmento é representativo, todo o mercado teve que se
adaptar as melhores condições de Políticas de Crédito e Financiamento.
As lojas que oferecem crédito direto ao consumidor têm chegado
mais próximo da população de baixa renda, que, até mesmo por razões
culturais e influência da mídia, tem preferido os produtos de crédito parcelado
(crediário) do que os produtos de empréstimo (em dinheiro).
Um grande exemplo de empresa que obteve sucesso por direcionar
seus produtos para as classes C, D e E é, sem dúvida a rede de lojas das
Casas Bahia.
As Casas Bahia tem uma história de sucesso como poucos. Com 50
anos de vida e 390 lojas instaladas nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro,
Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Santa Catarina e
Paraná, a rede especializada em móveis e eletroeletrônicos é uma das maiores
empresas varejistas do país. Fundada em 1952 pelo imigrante polonês Samuel
Klein – que começou vendendo colchas e lençóis de casa em casa a bordo de
uma carroça pelas ruas de São Caetano do Sul (SP) –, a empresa fechou o
ano de 2003 com um faturamento de R$ 4 bilhões e abre em média 25 novas
lojas por ano.
Grande parte do sucesso da Casas Bahia se deve ao fato de ela
saber o que quer, conhecer seu público e dar ênfase ao crediário. A rede dá
condições para que o cliente faça um bom plano de pagamento, com uma série
de facilidades, e isso sem forçar a venda.
A cultura e dinâmica de crédito fundamentalmente são oriundas da
cultura das instituições financeiras, que influenciam diretamente o
comportamento creditício individual. Basicamente toda a conceituação e
fundamentação teórica das operações de crédito são originárias e advindas do
mercado financeiro bancário.
A variedade de modelos alicerçados em índices, teorias, econometria
e sistemas especialistas são tentativas de isolar um problema de uma questão
a ser estudada, polida, testada e, se eficaz, implementada de maneira a obter
lucros. Inicialmente, para determinar um modelo, devem-se postular as
variáveis que podem afetar o risco de inadimplência para posteriormente
buscar um conjunto de ferramentas para estimar ou simular resultados,
aplicando uma série de testes. Existem situações em que é necessária a
exploração de dados sem ter em mente nenhuma teoria específica
(CAOUETTE, 2000)
Cada empresa deve desenvolver uma política creditícia coordenada
para encontrar o equilíbrio entre as necessidades de vendas e,
concomitantemente, sustentar uma carteira a receber de alta qualidade. A
política de crédito deve dirigir-se a vários temas básicos, incluindo o uso de
concessão de crédito para estimular volume de vendas; critério para concessão
de um crédito comercial; condições creditícias de venda de uma empresa;
responsabilidades específicas de vendas e crédito para obter a informação
necessária para processar linha de crédito solicitadas; autoridade do
departamento de crédito para implementar procedimentos de cobrança e
crédito; responsabilidades do departamento de vendas para assistir o
departamento de crédito na cobrança de contas atrasadas; administração da
carteira de contas a receber; diretrizes e procedimentos para a função creditícia
em uma empresa; procedimentos e diretrizes de cobrança; suspensão de
crédito de contas de cliente, existindo título vencido, para controlar perda por
exposição ao risco etc.
Através de pesquisas bibliográficas e coleta de diversos artigos
referentes ao tema Crédito, um fator que chamou a atenção foi a conclusão de
que o principal problema encontrado numa operação de crédito é exatamente a
falta de pagamento do valor cedido. A inadimplência cresce dia a dia e, com
isso, muitas empresas têm observado uma diminuição de seus lucros com o
aumento dos custos. Portanto, ter uma visão global do cliente a fim de
determinar se o empreendimento do cliente em perspectiva é estável e viável é
o objetivo principal de todo e qualquer profissional que opere na concessão de
crédito.
Mas, em se tratando de clientes das classes C, D e E, que em sua
maioria nem possuem comprovantes de renda, como pode ser feita uma
análise para que o crédito possa ser cedido?
Para responder a questão apresentada, esta monografia apresenta
as etapas das políticas de crédito em empresas comerciais varejistas cujas
estratégias neste setor são grandes desafios. A versatilidade e agilidade de
marketing e vendas encorajam e estimulam tomadas de decisões que
aumentam o risco de crédito, e, por conseguinte, existem grandes
possibilidades de aumentar a inadimplência com consideráveis perdas.
Partindo dessa premissa, aliada à verificação da relação entre os critérios
técnicos recomendáveis para a concessão de crédito e os critérios realmente
aplicados na ponta pelas lojas, apresenta-se um estudo sobre as políticas de
crédito em empresas comerciais de médio.
No atual governo desenvolveu-se diversas atividades voltadas para o
consumo, e para isto acontecer facilitou o relacionamento do crédito com as
diversas camadas da sociedade, principalmente aquelas com dificuldades de
acesso ao sistema bancário.
Foi criado o crédito consignado que veio refletir em uma grande
queda na taxa de juros, pois a consignação de empréstimos em folhas de
pagamentos reduz em muito a inadimplência, fator de peso no cálculo final da
taxa. Um outro fato positivo foi a facilidade de acesso ao crédito pelos
empregados em empresas privadas, servidores públicos e aposentados.
1 O SISTEMA DE CRÉDITO
O sistema de crédito é uma das formas mais antigas do mercado
financeiro, tendo sua origem há 1.800 anos a.C. Acredita-se que o código de
Hamurabi incluía regulamentações do crédito na Babilônia; há evidências de
que a civilização ribeirinha da Babilônia, a “Indus Valley”, mantinha contato
comercial através da vizinha Melukha, deduzindo-se conseqüentemente que as
preocupações com o crédito provêm de tempos ainda mais remotos que 1.800
a.C. (CAOUETTE, 2000).
Segundo Beckamm apud Santos (2000), um dos pioneiros a
pesquisar a importância de crédito na atividade econômica, a oferta de crédito
pelas instituições financeiras e empresas deve ser vista como um importante
recurso estratégico para atender às necessidades de todos os supridores de
capital e agregar valor ao patrimônio dos acionistas.
Dentre várias conceituações e linhas de raciocínio dos autores, cabe
salientar a de Santos (2000, p.15), que diz:
Crédito, em finanças, é definido como a modalidade definanciamento destinada a possibilitar a realização detransações comerciais entre empresas e seus clientes. Ocrédito inclui duas noções fundamentais: confiança,expressa na promessa de pagamento; e o tempo, que serefere ao período fixado entre a aquisição e a liquidaçãoda dívida.
A palavra crédito, dependendo da situação, para Silva (2000, p.63),
tem vários significados, mas no sentido mais específico considera que “crédito
consiste na entrega de um valor presente mediante uma promessa de
pagamento, ou seja, corresponde à confiança de que a promessa de
pagamento será honrada”. Diz que, por exemplo, numa determinada loja
comercial, uma venda a crédito é caracterizada pela entrega da mercadoria ao
cliente mediante uma promessa de pagamento, numa ou mais parcelas, num
prazo futuro acordado. Já em banco, que tem a intermediação financeira como
sua principal atividade, o crédito consiste em disponibilizar ao cliente recursos
em valores sob a forma de financiamentos e ou empréstimos mediante uma
promessa de pagamento numa data aprazada.
De acordo com Schrickel (2000, p.17), “crédito é um conceito que
está presente no cotidiano das pessoas e empresas mais do que se possa
pensar”. Todas as pessoas e empresas estão continuamente voltadas à
combinação dos recursos finitos com o conjunto das imaginações e
necessidades infinitas. – Existem, por exemplo, mais maneiras de gastar
dinheiro do que ganhá-lo, ou seja, há procura por crédito justamente para
satisfazer o elenco das necessidades, desde as mais elementares até as mais
ousadas e imagináveis. O autor ratifica que crédito é todo ato de vontade ou
disposição de alguém ceder parte do seu ativo a terceiro com a expectativa de
que essa parcela volte integralmente após decorrido um tempo estipulado.
Segundo Securato (2002, p. 17),
[...] o termo crédito é originado do latim “creditum”, quesignifica confiança ou segurança na verdade de algumacoisa, crença/ reputação, boa fama, estabelecendo umarelação de mútua confiança entre as partes envolvidasnuma determinada operação.
Para Gomes (2003, p.172), “crédito, num contexto amplo, está ligado
à idéia de segurança e de verdade que se pode inferir de alguma pessoa ou de
uma empresa”. No entanto, dentro da área financeira, crédito caracteriza a
concessão de receber “a posteriori” algo que se poderia estar recebendo no
momento da transação.
Com base na fundamentação teórica de conceitos de crédito dos
diversos autores, emite-se uma definição própria: Crédito é a expectativa de
receber uma certa quantia em moeda, dentro de um determinado período
acordado entre as partes, oriunda de uma transação industrial, comercial e ou
financeira mediante a venda de produtos/ mercadorias, prestação de serviços e
ou empréstimos.
Nas empresas comerciais, de acordo com Silva (2000, p.64), “o
crédito assume um papel facilitador da venda, proporcionando ao cliente
adquirir mercadorias para atender às suas necessidades e ao mesmo tempo
incrementa as vendas dos comerciantes”. Afirma ainda que crédito e marketing
precisam estar muito próximos, pois acrescenta que, nas propagandas, é
comum verificarem-se frases do tipo: televisores em “n” parcelas; aceitamos
cheques pré-datados para “n” dias; aceitamos cartões de crédito; possuímos
crediário próprio, além de outras. O autor afirma ainda que, dentre algumas
atividades comerciais, o ganho no financiamento das mercadorias chega a ser
maior do que a própria margem operacional praticada na atividade principal do
negócio.
Mediante essa base de posições dos autores citados, pode-se
afirmar que o crédito está presente nas empresas comerciais que operam com
vendas a prazo, visto que, para competir, ganhar espaços junto ao mercado
através do desenvolvimento e crescimento, é necessário vender com prazo e
condições que atraem os consumidores e os tornem clientes, pois, segundo o
Dicionário Aurélio - Século XXI: “consumidor é aquele que compra para gastar
em uso próprio, e cliente é aquele que usa os serviços ou consome os produtos
de determinada empresa ou de profissional; freguês”.
E, quando se refere a consumidores e clientes adquiridos através de
vendas a prazo, devem-se conceituar os riscos que estão intrínsecos ao
crédito. Os próprios autores mencionados neste trabalho afirmam que o “risco é
inerente ao crédito”, uma vez que Gitmann (2001, p 205) define: “risco de
crédito, no sentido mais básico, é a possibilidade de perda financeira”. Ativos
com possibilidades maiores de perda são mais arriscados do que aqueles com
possibilidades menores de perda. O termo risco é utilizado alternadamente com
incerteza ao se referir à variabilidade de retornos associada a um dado ativo.
Solomon (1981) afirma que risco é o grau de incerteza a respeito de
um certo evento. Esse conceito é confirmado por Securato (1996 e 2002), que
define risco como “grau de incerta” ou “a possibilidade de perda”, ou seja, a
probabilidade de ocorrência do evento gerador da perda ou da incerteza.
Considera que o evento pode ocorrer quando se propõe atingir objetivos,
admitindo-se que sejam dois tipos: sucessos: são os eventos que permitem
atingir os objetivos; fracassos: são os eventos que não permitem atingir os
objetivos.
Portanto, admitindo-se que os sucessos e os fracassos constituem
um conjunto dos possíveis resultados que possam ocorrer para se atingirem os
objetivos almejados, então se pode definir risco como a possibilidade de
ocorrerem fracassos.
Segundo Schrickel (2000, p.35), “risco significa incerteza - o
imponderável, o imprevisível - situada unicamente no futuro”. Assim, embora a
análise de crédito deva basear-se em eventos passados do cliente, as decisões
de crédito devem considerar fundamentalmente o futuro desse cliente. O risco
posiciona-se no futuro, no passado encontra-se apenas a história.
Pode-se dizer então que, independentemente da atividade, o risco de
crédito é constante, no entanto as empresas devem aplicar conceitos
fundamentais à análise e concessão do crédito baseados no conhecimento das
características e perfil do cliente através de um cadastro adequado e que
proporcione informações amplas, seguras e fidedignas.
Por isso as informações colhidas formal ou informalmente são
necessárias para gerar o conhecimento das pessoas e conseqüentemente
firmar conceito sobre essas pessoas, que são os clientes.
1.1. Análise e Concessão de Crédito
Dentro de uma concepção mais abrangente, o crédito deve ser visto e
analisado como parte integrante do próprio negócio da empresa comercial
(SILVA, 2000). O autor destaca que conhecer o cliente é fundamental. Um bom
cadastro e um sistema de crédito eficaz podem ser uma excelente forma de
alavancar os negócios. Muitos gerentes e analistas de crédito, em vez de
reclamarem, dizendo que os clientes não gostam de fazer cadastro, deveriam,
sim, usar suas habilidades de vendas para vender aos clientes a conveniência
de fornecer as informações fidedignas para gerar uma relação de parceria mais
clara e segura.
Para Schrickel (2000), no processo, a análise e concessão de crédito
envolvem incontáveis formas e peculiaridades existentes na sua concessão às
pessoas físicas, ou seja, desde a simples venda a varejo de gêneros
alimentícios, através da lendária e romântica “caderneta”, até as mais
sofisticadas transações bancárias, envolvendo complexas formulações de
engenharia financeira.
Salienta que a venda direta ao consumidor, venda a prestação ou no
crediário obtidas diretamente nas lojas são comumente encontradas no
comércio em “n parcelas”, ou da venda através de cartão de crédito de
administradoras ou do próprio lojista, da “compra fiada”, do cheque pós-datado
(chamado de cheque pré-datado), entre outras formas mais encontradas no
mercado, as pessoas se utilizam para alavancar seu poder de compra ou
simplesmente atender às suas necessidades e interesses, como adquirir
imóveis, bens duráveis, meios de lazer e ou gêneros de primeira necessidade.
De acordo com Securato (2002), os parâmetros básicos da
concessão de crédito são avaliados mediante profunda análise da ficha
cadastral do cliente, a qual deverá contemplar um sistema de pontuação,
visando a quantificar os parâmetros definidos e atribuir pesos de acordo com a
relevância de cada informação obtida. Conforme a pontuação obtida, a
concessão de crédito poderá ser automática ou ser analisada de acordo com a
política de crédito da empresa. Acrescenta ainda que a concessão do crédito,
além de se nortear nos parâmetros e políticas de crédito estabelecidas,
também se baseia nos chamados “C’s do Crédito” (Caráter; Capacidade;
Capital; Colateral; Condições; Conglomerado; Consistência; Comunicação e
Controle).
Segundo Santos (2000), o processo de análise e concessão de
crédito recorre ao uso de duas técnicas: a técnica subjetiva e a técnica objetiva
ou estatística. A conceituação, descrição do processo de análise subjetiva de
crédito e sua decisão baseiam-se na experiência adquirida, disponibilidade de
informações e sensibilidade de cada analista quanto à aprovação do crédito.
Para Martin (2001), o contínuo crescimento das vendas no comércio
obrigou o mercado a diversificar as opções de crédito aos clientes, adequando-
as ao estilo de vida, classe social e possibilidades financeiras das pessoas.
Assim o crediário foi instituído e é, atualmente, um instrumento mercadológico
que facilitou a vida do consumidor de baixo poder aquisitivo, que não possui
conta corrente bancária ou talão de cheques, conseqüentemente a sua única
opção era o pagamento à vista.
Formalizado por meio contratual entre o lojista e o cliente, o crediário
baseia-se num compromisso formal e por escrito, assinado pelas partes, em
que são definidas em suas cláusulas todas as obrigações do cliente e do lojista
de forma bem clara, precisa e objetiva, sob pena de serem algumas cláusulas
invalidades posteriormente, como: valor das prestações; o número de parcelas;
os encargos financeiros; eventuais descontos; a possibilidade de se reaverem
as mercadorias; as garantias; as penalidades, multas e juros por eventuais
atrasos pelo não pagamento.
2 MARKETING E COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR
Os consumidores influenciam o marketing, e reciprocamente, o
marketing influencia o consumidor. O ambiente estabelecido pelo consumidor é
um dos fatores importantes que ajudam a moldar e dirigir as organizações e as
atividades de marketing e, por outro lado, o esforço de marketing é um fator
que influencia o consumidor.
Assim, Engel e Blackwell (2000, p. 4) definem o comportamento do
consumidor “como as atividades diretamente envolvidas em obter, consumir e
dispor de produtos e serviços, incluindo o processo decisório que antecedem e
sucedem estas ações”. Cada concorrente no mercado espera influenciar
possíveis consumidores para escolherem o seu produto e marca, todas as
vezes que estes têm oportunidade de efetuar uma compra. Por isso, para
conhecer o mercado e tomar decisões de marketing é de suma importância
entender o comportamento do consumidor
2.1 Determinantes do Comportamento do Consumidor
Para prever o comportamento do cliente, é necessário conhecer os
fatores que o influenciam.
Kotler (2000, p. 182) menciona o campo “como estudo de pessoas,
grupos e organizações que selecionam, compram, usam e descartam artigos,
serviços, idéias ou experiências para satisfazer suas necessidade e seus
desejos”.
Para Sheth, et al. (2001, p. 251) “os três fatores que causam as
mudanças mais significativas no comportamento do consumidor são: as
mudanças na demografia, os avanços na tecnologia e as mudanças na política
pública”.
As mudanças na demografia recentes no Brasil constatados são o
envelhecimento da população, as mulheres na força de trabalho, as unidades
familiares de pessoas solteiras, o declínio da classe média, o aumento da
classe baixa, a diversidade étnica e a redistribuição geográfica (Fonte: IBGE:
Censo 2000).
Na tecnologia é perceptível o maior disponibilização da informação, o
crescimento de produtos diversificados e inteligentes, o maior acesso aos
produtos e a personalização em massa. As revoluções tecnológicas podem
mudar de forma significativa os comportamentos de mercado e as expectativas
dos clientes. Na política governamental, que inclui a política monetária, a
política fiscal e a política pública, há movimentos para uma crescente defesa de
direitos dos consumidores, a maior integração regional, e economicamente, o
maior desenvolvimento dos ciclos econômicos em convergência a realidade da
globalização dos mercados.
A política monetária inclui decisões sobre as taxas de juros, a quantia
de dinheiro que regula as instituições financeiras, e assim por diante. A política
fiscal trata das práticas comerciais do governo, o bem como das práticas de
aquisição, gastos, empréstimos, a taxação. Finalmente, a política pública
abrange atos do governo como regulamentações econômicas,
regulamentações ambientais, decisões quanto à segurança de produtos e
fusões e aquisições, entre outras. Cada uma das 3 políticas têm efeitos
profundos sobre as compras dos clientes. E mais especificamente, o fator
econômico refere-se à situação de um país com respeito aos níveis de
emprego, salários, inflação, taxas de juros e de taxas de câmbio, bem como as
economias agregadas e a renda disponível dos núcleos familiares.
O clima econômico afeta o comportamento do cliente por meio de
três mecanismos: (i) diretamente expandindo ou reduzindo os recursos
financeiros de uma família, e assim, o poder de compra do cliente, tanto no
nível individual quanto industrial; (ii) influenciando o sentimento do consumidor
pelo seu otimismo e pessimismo em relação ao futuro da economia, que
encoraja ou inibe os gastos dos clientes; e (iii) orientando os ciclos de
negócios.
2.2 Percepções, Preferências e Satisfação
As percepções, preferências e satisfação para o cliente são alguns
dos principais elementos do estudo do comportamento do consumidor. São
variáveis que podem servir para entendimento do comportamento do
consumidor e para a análise do seu perfil, e assim, descobrir as restrições ou
vantagens para este mercado. É preciso compreender como as atividades de
marketing são percebidas pelos consumidores, e desta forma, proporcionar
uma efetiva satisfação ao mercado.
O estudo das preferências é importante como elemento possível de
previsão daquilo que o mercado realmente adquire ou ao qual reage. De
acordo com o Kotler (2000, p. 68), “a preferência mostra o valor relativo que
uma pessoa atribui a um conjunto de objetos comparáveis, quando avalia seus
respectivos valores para si mesma”. Estas são baseadas nas diferenças
verdadeiras dos atributos do objeto, e também, nas diferenças individuais
quanto às motivações, valores, percepções e gostos. Na análise do
consumidor, geralmente enfatiza-se o “processamento de informação” da
formação da preferência, ou seja, o indivíduo recebe a informação, real e
fantasiosa sobre os atributos do objeto e processa uma parte ou toda ela, de
acordo com um estilo razoavelmente pessoal de processamento de
informação, formando as preferências.
Muito embora o enfoque de marketing preconize a satisfação das
necessidades dos consumidores como forma da organização atingir seus
objetivos, a maximização da satisfação nem sempre ocorre. Para Engel e
Blackwell (2000, p. 178),
[...] todo consumidor efetua a compra com certasexpectativas sobre o resultado do o produto ou serviçoquando utilizado, e a satisfação é o resultado esperado.Satisfação é definida como avaliação pós-consumo deque uma alternativa escolhida pelo menos atende ouexcede as expectativas.
Segundo Kotler (2000, p. 58), “satisfação consiste na sensação (ou
resultado) percebido de um produto em relação às expectativas do comprador”.
A organização deve se esforçar pela criação de um alto nível de satisfação de
seus consumidores, em função dos custos adicionais que a organização teria
que incorrer, como também, devido às diferenças entre os diversos segmentos
de consumidores.
3 POTENCIAL DE CONSUMO DOS CONSUMIDORES DE
BAIXA RENDA (CLASSES C, D e E)
Que o consumidor das classes D e E voltou a consumir é fato. Tanto
que a Latin Panel detectou um aumento de 5% no número de domicílios de
baixa renda no mercado de consumo no primeiro semestre do ano de 2004
ante igual período de 2003. Incontestável também é seu potencial, já que as
classes populares representam 75,7% da população brasileira e deixam, em
média, 45% de sua renda mensal nos supermercados, especialmente com
compra de alimentos e produtos de higiene e limpeza. Pouco convictas, na
verdade, têm sido as investidas da indústria de alimentação para ganhar esse
público, muito por causa de falta de informação.
Para entrar e ficar nas classes C, D e E é essencial que as indústrias
equilibrem qualidade e competitividade, o que só é possível se houver custos
fixos equilibrados, advindos de otimização fabril e interação da área de
pesquisa e desenvolvimento com a área de produção.
Além disso, é necessário estudar o perfil e hábito de compra do
consumidor, para oferecer o que ele busca nos lugares em que realiza suas
compras, sem descuidar da comunicação com esse público, seja em materiais
no ponto-de-venda, seja nas embalagens.
Segundo Solomon (1981, p.45):
As indústrias de alimentação ainda não exploram comopoderiam o mercado de baixa renda porque ainda ovêem sob a ótica de diversos mitos. Um exemplo é deque a marca, para os consumidores C, D e E, fica emsegundo plano, em detrimento do baixo preço.
No entanto, acredita-se que isso nem sempre é verdade, ainda mais
quando se trata de produtos ligados ao bem-estar, como alimentos e higiene.
Tanto que as marcas mais caras estão sempre presentes nos lares
de baixa renda, que preferem optar por um produto de qualidade garantida a
arriscar a compra de um desconhecido, que pode colocar o pouco dinheiro que
têm, a perder.
Para se adequar a esse público as indústrias donas das marcas
líderes poderiam, por exemplo, disponibilizar os produtos em embalagens de
menor gramatura, e conseqüentemente mais baratas.
Outro "mito" observado é o de que não há potencial de consumo nos
mercados de baixa renda e de que a comunicação a essas pessoas precisa
vender sonhos. Os consumidores de classes C, D e E apresentam flexibilidade
de renda porque poupam mais do que os de alta renda e não necessitam de
marketing que prometa coisas que não fazem parte de seu dia-a-dia porque,
segundo pesquisas recentes, eles estão satisfeitos e têm orgulho de sua vida.
O que os consumidores de baixa renda buscam são produtos de bom
desempenho. Para que um produto popular dê certo é preciso também que
haja reconhecimento da marca, boa embalagem, durabilidade, prazo de
validade compatível e bom rendimento, uma vez que a fartura é essencial.
As principais oportunidades para o desenvolvimento de produtos
voltados às classes de baixa renda estão nos itens abandonados por eles e
também entre aqueles considerados supérfluos. estão nessa cesta produtos
como bebidas alcoólicas, chá, macarrão instantâneo, requeijão, hambúrguer,
iogurte, sobremesas, sucos de frutas, salgadinho em saquinho e mistura para
bolo. Outro interessante campo é o de alimentos voltados à conveniência,
como sucos prontos.
E a inovação é condição fundamental para baratear os produtos.
Além disso, é preciso que a indústria invista em uma boa distribuição, já que
grande parte das vendas realizadas para esse público se dá no varejo
tradicional, ou seja, em pequenos pontos-de-venda.
Para promover essas inovações, têm peso estratégico nessa
movimentação as indústrias de ingredientes alimentares, cuja atividade
consiste em desenvolver tecnologias avançadas para agregar valor nutricional
e funcional a alimentos, e também alternativas em ingredientes para otimizar
produtos já existentes visando garantir maior "shelf life" (prazo de validade),
melhor sabor e, principalmente nesse caso, redução de custos.
Como já foi dito, o que o consumidor de baixa renda busca é bom
desempenho, daí o sabor, a qualidade e textura serem fundamentais para a
realização da segunda compra e conseqüente fidelização a um produto. Daí a
importância das indústrias de ingredientes alimentares, que conseguem auxiliar
as fabricantes de alimentos a equilibrar nesses produtos voltados às classes C,
D e E a qualidade e a competitividade econômica.
4 POLÍTICAS DE CRÉDITOS E FONTES DE
FINANCIAMENTO PARA OS CONSUMIDORES DE
BAIXA RENDA (CLASSES C, D e E)
O vasto mercado consumidor emergente na base da pirâmide –
integrado por 4 bilhões de pessoas com renda per capita inferior a US$ 1.500
anuais – oferece às multinacionais e grandes empresas locais um mercado
atrativo para seus bens e serviços. Tal é o caso da Índia, que possui 700
milhões de pessoas no mercado rural. A China conta com um bilhão.
À medida que as economias avançadas passam a representar uma
parte cada vez menor da economia mundial, as mudanças nos hábitos de
consumo que a acompanham podem gerar oportunidades nada desprezíveis
para corporações globais. Investir e participar de mercados adequados,
especialmente ospujantes – particularmente os mercados emergentes – pode
adequados – e particular os pujantes – pode-se constituir numa opção
estratégica muito mais importante. De fato, muitas empresas já estão servindo
o “mundo dos pobres” por meios que geram altos retornos, levando a uma
maior eficiência operacional e descobrindo novas formas de inovação.
Para essas empresas, e para aquelas que seguem essa tendência –
promover negócios voltados para a base da pirâmide promete oferecer
vantagens competitivas no desenrolar do século 21. Ao mesmo tempo,
proporciona vínculos importantes com o mercado, disponibilizando recursos
para os consumidores da base da pirâmide.
As Casas Bahia, a maior rede varejista do Brasil, tem o foco quase
que inteiramente em consumidores de baixa renda. Ela usa o carnê, ou
caderneta, sistema de financiamento que permite aos consumidores de baixa
renda comprarem a crédito. As Casas Bahia usam um sistema próprio de
verificação de crédito e aplicam regras baseadas no senso comum para
oferecer ou não financiamento àqueles sem histórico creditício.
As Casas Bahia têm receita de 4,2 bilhões de reais, 330 lojas, 10
milhões de clientes e 20 mil empregados. Cerca de 70% de seus clientes não
possui renda fixa ou formal, e são basicamente faxineiros, cozinheiros,
vendedores ambulantes e trabalhadores da construção civil cuja renda mensal
é o dobro do salário mínimo. Os carentes agora têm acesso a uma linha de
produtos e benefícios muito mais ampla, e com melhores condições de crédito,
do que tinham antes.
Para milhões de brasileiros, desde que o pagamento caiba no salário
no fim do mês, não existe empréstimo caro.
Costuma-se creditar ao tino para negócios do apresentador Silvio
Santos a autoria da idéia segundo a qual os consumidores pobres são
melhores pagadores porque prezam como ninguém o patrimônio de ter o nome
limpo na praça. Benevolente com os mais desfavorecidos, a tese não sobrevive
ao teste da realidade. Estudos e estatísticas mostram que os consumidores
das faixas de renda mais baixas são justamente os que mais atrasam seus
pagamentos – não por desvio de caráter, mas pela simples falta de dinheiro.
Além de serem mais suscetíveis aos altos e baixos da economia, eles têm
menos capacidade de negociação por não possuir emprego fixo nem bens para
oferecer em garantia.
Embora conheçam essa situação melhor do que ninguém, os
maiores grupos financeiros brasileiros encontraram motivos de sobra para se
engalfinhar numa disputa ferrenha para emprestar dinheiro às classes C, D e E,
que ganham até cinco salários mínimos. Nos últimos doze meses, o volume de
empréstimos das financeiras Finasa-Zogbi, Losango e Fininvest, as três
maiores, subiu de 8 para mais de 10 bilhões de reais. Juntas, elas dobraram o
número de lojas, que chegou a 600 no mesmo período. Acostumados a ser
ignorados pelos bancos, os consumidores de baixa renda estão sendo
assediados pelas financeiras. O tapete vermelho foi estendido a empregadas
domésticas, motoristas e garçons. Na televisão, figuras populares como o
apresentador Faustão e o cantor Leonardo fazem comerciais e merchandising
falando das vantagens das financeiras – o braço dos bancos usado para atingir
a população de baixa renda. Todos oferecem crédito a quem não tem renda
mas está ávido por consumir.
Até meados do ano passado, apenas o Unibanco, com a Fininvest, e
o Bradesco, dono da Finasa, disputavam um mercado estimado em 60 milhões
de pessoas. Nos últimos doze meses, o Itaú entrou em cena com a criação da
Taií, e o HSBC resolveu estrear no negócio com uma política de aquisições.
Comprou a Losango e a Máxima, que hoje se chama Valeu. O apetite de quem
já estava no mercado também aumentou. O Bradesco adquiriu a Zogbi, e o
Unibanco ficou com a Creditec e os cartões de crédito HiperCard. Uma série de
fatores explica o interesse. A queda do juro básico da economia de 2003 para
2004 deu aos bancos a certeza de que, se quiserem manter a lucratividade,
terão de emprestar menos ao governo e mais a pessoas e empresas. Como os
clientes das classes média e alta já estão atendidos, restaria aos bancos
buscar, com as financeiras, a base da pirâmide social brasileira.
O risco de emprestar a pessoas não inseridas no universo bancário é
compensado pelas taxas de juros. As financeiras cobram, em média, juros de
12% ao mês no empréstimo pessoal, o dobro da taxa cobrada pelos bancos a
seus clientes tradicionais. Sabendo administrar o alto risco, as financeiras dão
bom retorno. Por isso, o crédito para a massa tornou-se uma estratégia central
nos bancos.
Além disso, como a economia dá sinais de que poderá voltar a
crescer por um período mais longo, é bem possível que a inadimplência das
classes C, D e E seja reduzida gradativamente e que esses consumidores
sejam incorporados à clientela normal dos bancos. O HSBC, dono da Valeu e
da Losango, líder em financiamento de bens, espera usar as financeiras como
uma ponte para suas agências bancárias. A estratégia do banco é seguir uma
política semelhante à adotada no exterior. Nos Estados Unidos, o HSBC
comprou a gigante americana Household International para financiar o
consumo popular. Na Inglaterra, o banco administra as compras parceladas da
rede de lojas e supermercados Marks & Spencer. No caso do Brasil, o
interesse dos bancos pelas financeiras é ainda mais acentuado porque as
classes mais pobres representam a maioria da população do país.
Os consumidores das classes C, D e E também estão sendo
assediados nos supermercados. O grupo Pão de Açúcar e o Itaú formaram um
banco para financiar as compras feitas na maior rede de supermercados do
país. O Carrefour e a financeira Cetelem anunciaram que vão abrir um banco
para financiar até 3,5 bilhões de reais por ano, o que equivale a um terço das
vendas da rede. Já o Unibanco vai se juntar à rede de supermercados Sonae.
As agências de propaganda não sabem lidar com consumidor de
renda baixa.
Se considerarmos que 80% da população tem renda bruta menor
que R$ 1.125 por mês, valor que vem caindo ano a ano. Olhando mais perto,
no entanto, descobre-se que esses 80% de brasileiros, que correspondem às
classes C, D e E, foram 48% do mercado consumidor e vão movimentar R$
389 bilhões este ano. Parte do empresariado já descobriu esse filão e se deu
conta de que num país onde as classes A e B estão bem abastecidas de
produtos e serviços, o saldo para crescer é a classe C. Esse Brasil classe C
vem sendo rapidamente desbravado pelas empresas, mas continua
amplamente ignorado pela propaganda. Em termos de bens de consumo, a
classe C já possui o básico, como aparelho de TV, rádio e geladeira. A maioria
tem telefone fixo (69%), videocassete (67%) e maquina de lavar roupa (56%).
Mas só 42% têm automóvel, 35% possuem celular, 27% têm freezer e 24%,
forno de microondas. Os donos de computadores são só 8%; TV paga e
acesso à Internet em casa são luxos de apenas 4%. A mulher é quem
basicamente decide as compras da família e em geral mostra-se fiel a um
grupo de marcas conhecidas, mas quando o dinheiro é curto as trocas por mais
baratas. Segundo levantamento da ACNielsen, 52% dos consumidores das
classes C e D não são fieis a uma marca. Além disso, para 57% da classe C e
66% da D o preço é principal fator decisivo na escolha dos produtos.
Em meio a crises internas e externas, vários planos econômicos mal-
sucedidos e poucos que tiveram algum sucesso, o Brasil tornou-se, nos dez
anos que separam 1993 de 2003, um País melhor para muitos. Durante este
período, a taxa de analfabetismo caiu de 11,3% para 3,5%. O número de
crianças fora da escola também ficou bem menor: caiu de 11,4% para 2,8% em
dez anos. As famílias tiveram mais condições de investir na moradia e a
quantidade de habitações construídas com materiais não-duráveis,
consideradas rústicas, caiu de 5,1% para 2,5% do total de domicílios.
A melhoria na infra-estrutura foi geral: entre outros dados, 97% dos
lares em 2003 já tinham iluminação elétrica, 10% mais que na década anterior;
a rede coletora de esgoto cresceu de 39% para 48%, mesmo ainda sendo o
serviço com menor cobertura. São resultados positivos de políticas públicas,
principalmente da expansão da previdência rural na última década e de
programas sociais como vale-gás e bolsa escola.
Mesmo com tantos avanços - todos apontados pela recém-divulgada
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) - a década não deixou saudades a boa parcela
da população, representada principalmente pela classe média. É que, no
período entre 1996 e 2003, a remuneração média do brasileiro teve queda real
de 18,8%, depois de três anos de aumentos conseqüentes do primeiro impacto
do Plano Real.
A maior redução ocorreu entre os anos de 2002 e 2003, quando a
metade da população com os maiores salários teve perda real em seu
rendimento médio de 8,1%. Os analistas do IBGE lembram que o ano de 2002
foi afetado pela crise energética ocorrida em 2001 e pela turbulência no
período eleitoral, enquanto em 2003 a economia sofreu principalmente devido
às altas taxas de juros.
De acordo com Gomes (2003, p.108):
[...] ocorreu o "empobrecimento" da classe média, quemais sofreu com a alta de serviços e produtos comocombustível, luz e telefone. Como conseqüência,precisou ajustar seu padrão de vida e deixar de consumircertos bens e de realizar certas atividades. Muitostiveram de tirar seus filhos de escolas privadas e adiar acompra do carro novo.
A metade que ganhava os salários menores, apesar de beneficiada
com a estabilidade da moeda e com a possibilidade de compras a prazo,
também teve queda nos rendimentos, mas a perda nesse mesmo período foi
menor - de 4,2%. Mesmo assim, foi suficiente para levar muitos à linha da
miséria, como mostra o mapa da pobreza traçado pela Fundação Getúlio
Vargas. O estudo aponta que a população miserável aumentou 1% no período
mais crítico da última década - entre 2002 e 2003 - passando de 26,2% para
27,2% do total de brasileiros. Esse aumento foi mais acentuado nas regiões
metropolitanas, que sofrem mais rapidamente com as mudanças da economia.
Essa perda salarial da população de baixa renda, provocou alguns
ajustes de consumo. Há um aumento da procura por marcas alternativas e
mais baratas. A queda na renda foi um fator de desestímulo ao sistema
produtivo como um todo.
Nesse período, muitos empresários transferiram seu dinheiro para o
capital especulativo, aplicando em fundos de investimentos e títulos públicos ao
invés de correrem o risco de investir no comércio. A retomada da economia em
2004 está trazendo melhoria na renda, mas a recuperação será lenta e
ocorrerá ao longo dos próximos dois ou três anos.
Com alta nas vendas do varejo, 2004 marcou o início de um período
de recuperação econômica
Se 2003 foi marcado pelo fraco desempenho da economia, que
resultou na perda da renda de trabalhadores e até hoje causa arrepios em
quem investe no comércio, o balanço de 2004 indica desempenho melhor,
especialmente nos últimos meses do ano, com o Natal e o acesso a benefícios
como o décimo terceiro salário. A retomada da economia, a começar pela
redução na taxa de desocupação, fez finalmente surgir possibilidades de
recuperação nos rendimentos reduzidos ao longo de uma década.
O nível de ocupação (proporção de pessoas ocupadas em relação à
população em idade ativa) atingiu o patamar mais alto desde março de 2002:
51,5%. Diante desses dados animadores, o ministro do Trabalho, Ricardo
Berzoini, aposta que, até o final do ano, o índice de desemprego, calculado na
casa dos 10%, deverá cair para apenas um dígito. Isso porque os últimos
meses do ano são favoráveis para o mercado de trabalho. Com relação ao
rendimento médio dos trabalhadores, houve recuperação de 3,2% em
setembro de 2004, se comparado a setembro de 2003, e de 1,7%, se
comparado a agosto deste ano.
A mais recente Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE, divulgada no
final de outubro, indica mais uma vez crescimento nas vendas no varejo: o mês
de agosto de 2004 marcou o nono aumento consecutivo. No acumulado do
ano, houve alta de 9,45% nas vendas e, nos últimos 12 meses, de 5,83%.
O principal responsável pela variação positiva do varejo foi o setor de
móveis e eletrodomésticos, que entre março e agosto cresceu em torno de
30% ao mês, registrando alta de 29,78% no acumulado do ano. Nota-se, no
entanto, que o mês de agosto foi o primeiro do ano que indicou um aumento de
vendas no varejo de móveis inferior ao índice de 30% (29,5%), reforçando a
desaceleração no crescimento verificada também na taxa global.
Dados da Serasa - empresa de análises para decisões de crédito -
mostram que, até outubro, as empresas registraram aumento de 4,4% no
faturamento líquido. Para comparação, entre 2001 e 2003 houve crescimento
médio de apenas 1,4% no faturamento de pequenos e médios negócios. Com o
desempenho positivo das vendas no comércio, a indústria também registrou,
durante todo o ano, expansão maior que a prevista por empresários e
economistas. Tanto que muitos hoje passaram a operar com capacidade total
e, após muito tempo de resistência, começam a planejar investimentos. A
Pesquisa da Produção Industrial do IBGE mostra que a indústria apresentou
expansão durante 12 meses consecutivos analisados pelo instituto. Em agosto
de 2004, com relação a agosto de 2003, houve crescimento de 13,1%.
E os empresários já estão conscientes de que a continuidade do
crescimento depende de mais infra-estrutura: de acordo com a Confederação
Nacional da Indústria (CNI), em dados divulgados no final de outubro, 94% dos
executivos à frente de grandes corporações pretendem investir na indústria no
ano de 2005. Está havendo mudança no comportamento do empresariado, que
tem expectativas positivas com relação ao futuro e planeja expansão e
modernização de seus negócios.
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de aumentar a
taxa de juros em 0,50% em outubro de 2004 não afetou as vendas de final de
ano, já que o impacto da decisão normalmente não acontece
momentaneamente. Além disso, muitas lojas, como as Casas Bahia,
mantiveram as taxas cobradas do consumidor.
Passada a euforia de final de ano, surge um novo desafio: manter em
2005 o mesmo nível de atividades obtido neste ano. O relatório Focus da última
semana de outubro, elaborado pelo Banco Central juntamente com cem
instituições financeiras, prevê crescimento de 3,5% do Produto Interno Bruto
(PIB) em 2005, praticamente um ponto percentual menor que o previsto para
2004 - de 4,56%.
O receio de que o crescimento da economia não atinja os níveis
deste ano é uma posição de precaução. É possível que alguns setores da
economia tenham um desempenho até melhor em 2005. Esse cuidado é
devido principalmente à perspectiva de aumento dos preços do petróleo, já que
a Petrobrás ainda não fez o repasse de forma integral para o preço dos
combustíveis.
5 CRÉDITO CONSIGNADO: UM MEIO DE QUITAR
DÍVIDAS E DIMINUIR A INADIMPLÊNCIA.
Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso foi criado o
“microcrédito” com o objetivo de atender ao micro-empresário, ou seja, aquele
trabalhador informal que desenvolve uma atividade e não tem condições de
acesso ao sistema bancário. Este modelo, que recebeu “PRÊMIO NOBEL”,
através do seu maior criador o Sr. Muhammad Yunus, com o seu Banco
Gramenn, de Bangladesh, em 2007 não conseguiu êxito no Brasil,
simplesmente porque foi centralizado operacionalmente pelo BNDES e
fiscalizado pelo Banco Central.
No período pré-eleitoral do primeiro mandato, o atual Presidente Luiz
Inácio Lula da Silva defendeu a tese de que “não daria o peixe para comer,
mas sim a vara para pescar”.Pensava-se então que era o momento de se
desenvolver o microcrédito, como também aconteceu no Chile e em diversos
países da América Latina.
Engano, pois o governo Lula fez exatamente o contrário, desenvolveu
diversas atividades voltadas para o consumo, e para isto acontecer facilitou o
relacionamento do crédito com as diversas camadas da sociedade,
principalmente aquelas com dificuldades de acesso ao sistema bancário.
A regulamentação da Lei n 10.820, de 17/12/2003, sancionada pelo
Governo do atual presidente da Republica, veio refletir uma grande queda na
taxa de juros, pois a consignação de empréstimos em folhas de pagamentos
reduz em muito a inadimplência, fator de peso no cálculo final da taxa. Um
outro fato positivo foi a facilidade de acesso ao crédito pelos empregados em
empresas privadas, servidores públicos e aposentados.
Segundo informações do DATAPREV os aposentados que recebem até
um salário mínimo respondem a mais de 50% das operações de crédito
consignado. As mulheres pensionistas e aposentadas do INSS com mais de 50
anos, apenas o primeiro grau completo e pertencente às classes C e D, foram
as maiores tomadoras desta modalidade de crédito. Observa-se também que o
crédito consignado vem alcançando pessoas de classes sociais mais altas.
O total do crédito consignado já responde em mais de 51% do total do
crédito pessoal.
Segundo a FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos),
“78% da população de renda familiar até R$ 870,00 usamo dinheiro para pagar dívidas, pois temem ficar com onome restritivo. O quadro de inadimplência mostra umataxa de 7,2% para o segmento. O crédito consignadovem crescendo a passos largos e já é 35% maior que em2005.”
A política adotada pelo Governo Lula dita como um “choque de crédito” além
dos dados favoráveis abordados, deverá ser aperfeiçoada em 2007 com a
adoção da “portabilidade do crédito”, “cadastro positivo” redução do piso na
“central de risco” e o “fundo garantidor de crédito”, que irão contribuir para
redução da inadimplência e a conseqüente queda das taxas de juros.
CONCLUSÃO
O processo de Concessão de Crédito envolve várias etapas que
necessitam de uma análise criteriosa de modo a minimizar os riscos e obter o
retorno dos capitais emprestados. As informações obtidas através da Análise
de Balanço da empresa tomadora do crédito têm sua importância nesse
processo, visto que com essas informações é possível identificar o grau de
vulnerabilidade que a empresa apresenta no tocante aos aspectos econômico-
financeiros.
Verificou-se que as informações do balanço patrimonial e
Demonstração de Resultado do Exercício, quando bem trabalhadas e
analisadas, fornecem uma visão geral da empresa do ponto de vista de se
identificar os principais problemas que afetam a empresa, no período
analisado, e quais as perspectivas futuras, apontando-se alternativas de
mudanças de estratégias para correção de rumos.
Porém as informações oriundas da análise dos balanços não são
suficientes para orientar a tomada de decisão, especialmente no trato da
concessão do crédito, visto que há necessidade de se analisar outras variáveis
que envolvem o conhecimento mais amplo da empresa, de seus sócios, seu
histórico administrativo e operacional, as variáveis externas que podem
influenciar na mudança de postura da administração da empresa bem como
dos resultados a serem obtidos. Sendo necessário uma avaliação geral que
possa orientar a decisão final, acerca de se conceder crédito ou não.
O setor privado, especialmente a administração de grandes
empresas locais e multinacionais, necessita efetuar um compromisso muito
maior de capturar as oportunidades –pesquisando mercados na base da
pirâmide, avançando padrões de sustentabilidade e de confiabilidade pública, e
ainda, sendo criativo sobre como interagir com empresas locais ou externas
para auferir benefícios mútuos. Os governos dos países, tanto desenvolvidos
como em desenvolvimento, podem facilitar este processo, e as instituições
internacionais de desenvolvimento podem ajudá-los.
Os mercados de baixa renda podem ser servidos de forma rentável.
É uma questão de definir cuidadosamente: objetivos, desenvolvimento de
produto e eficiência de custo.
Verificou-se também como fato positivo, a facilidade maior de acesso
ao crédito nas diversas camadas da sociedade, principalmente aquelas com
maiores dificuldades de acesso ao sistema bancário. Tal facilidade se dá ao
crédito consignado em folhas de pagamentos, refletindo em grande queda na
taxa de juros e a redução da inadimplência.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAOUETTE, John B., ALTMAN, Edward I. e NARAYANAN, Paul. Gestão do
Risco de Crédito: O Próximo Grande Desafio Financeiro. Rio de Janeiro:
Qualitymark Ed., 1999.
ENGEL, J.F.; BLACKWELL, R.D., MINIARD, P.W. Consumer Behavior.
Seventh Edition, The Dryden Press, 1993.
GITMAN, Lawrence J. Princípios de Administração Financeira - Essencial.
Porto Alegre: Boockmann Editora, 2001.
GOMES, Adriano. Gerenciamento do Crédito – Mensuração do Risco de
Vender. São Paulo: Editora Manole, 2003.
KOTLER, Phillip. Administração de Marketing. São Paulo: Prentice Hall,
2000.
MARTIN, Célio Luiz Müller. Recuperação de Créditos – estratégias e
soluções para a inadimplência. São Paulo: Editora Érica, 2001.
SANTOS, José Odálio dos. Análise de Crédito: Empresas e Pessoas Físicas.
São Paulo: Editora Atlas S.A, 2000.
SCHRICKEL, Wolfgang Kurt. Análise de Crédito – Concessão e gerência de
empréstimos. São Paulo: Editora Atlas S.A, 2000.
SECURATO, José Roberto. Análise e Avaliação do Risco – Pessoas Físicas
e Jurídicas. São Paulo: Editora Atlas S.A, 2002.
____________. Decisões Financeiras em Condições de Risco. São Paulo:
Editora Atlas S.A, 1996.
SILVA, José Pereira. Gestão e Análise de Risco de Crédito. São Paulo:
Editora Atlas S.A, 2000. 398p.
SOLOMON, Erza, Pringle, John J. Introdução à Administração Financeira.
São Paulo: Editora Atlas S.A, 1981.
CALÇADA, Airton Soares. Crédito Consignado: um Meio de Quitar Dívidas:
Rio de Janeiro: Informativo Bancário ABERJ/ SBERJ, Ano 3, n.34, Março, 2007
Top Related