PROPRIOCEPÇÃO NO ESPORTE: UMA REVISÃO SOBRE A PREVENÇÃO E
RECUPERAÇÃO DE ENTORSE DE TORNOZELO EM FUTEBOLISTAS
Cristiano José Onishi1
Orientador Prof. Dr. Giulliano Gardenghi2
RESUMO
Introdução: O futebol é um dos esportes mais praticado no Brasil, no entanto apesar dos inúmeros benefícios que
sua prática induz ao organismo, várias lesões podem acometer o indivíduo adepto dessa prática contínua ao exercer
essa atividade desportiva. Objetivo: Estudar a importância do treinamento proprioceptivo em futebolistas, para a
prevenção de lesões esportivas como as entorses de tornozelo. Metodologia: Foi realizado uma revisão
bibliográfica utilizando os artigos indexados as bases de dados Lilacs, Pubmed, Scielo, Google acadêmico e
biblioteca virtual Bireme; foram usados nesse estudo artigos produzidos e publicados nos últimos 10 anos, ou seja,
entre os anos de 2008 e 2018. Resultados e discussão: os estudos que abordaram os tipos de entorse em futebolista,
relatam que o membro inferior é o mais acometido por lesão podendo ser por contato físico ou sem contato físico.
Afirmam ainda que os programas de intervenção são eficientes no aumento da força muscular, resistência
muscular, agilidade, potência e aumento de propriocepção.
Palavras Chaves: exercícios proprioceptivos, lesões, futebol
ABSTRACT
Introduction: Football is one of the most practiced sports in Brazil, however despite the innumerable benefits that
its practice induces the body, several injuries can affect the individual adept of this practice continues when
exercising this sport activity. Objective: To study the importance of proprioceptive training in soccer players for
the prevention of sports injuries such as ankle sprains. Methodology: A bibliographic review was done using
articles indexed Lilacs, Pubmed, Scielo, Google Academic and Bireme virtual libraries; were used in this study
articles produced and published in the last 10 years, that is, between the years 2008 and 2018. Results and
discussion: the studies that approached types of sprain in footballer, report that the lower limb is the most affected
by injury either by physical contact or without physical contact. They also affirm that intervention programs are
efficient in increasing muscle strength, muscular endurance, agility, potency and increased proprioception.
Key words: proprioceptive exercises, soccer, soccer
_________________________________________________ 1 Fisioterapeuta graduado em Fisioterapia pela Faculdade Tamandaré, Goiânia – Goiás. Email:
2 Fisioterapeuta, Doutor em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo;
Coordenador científico do Centro de Estudos Avançados e Formação Integrada (CEAFI), Goiânia - GO;
Coordenador científico do serviço de Fisioterapia do Hospital ENCORE, Aparecida de Goiânia - GO;
Coordenador do Programa de Pós-graduação em Fisioterapia Hospitalar do Hospital e Maternidade São
Cristóvão, São Paulo - SP. Email: [email protected]
INTRODUÇÃO
A entorse é um movimento violento, com estiramento ou ruptura de ligamentos de uma
articulação, é uma das lesões musculoesqueléticas frequentemente encontradas na população
ativa, que geralmente envolve lesão dos ligamentos laterais. Ocorre com maior frequência nos
atletas de futebol, basquete e vôlei, correspondendo a cerca de 10% a 15% de todas as lesões
do esporte¹,².
A entorse de tornozelo é caracterizada pelo movimento lateral ou medial repentino da
articulação, consequentemente levando à hiperdistensão ou até mesmo ruptura dos
ligamentos3,4,5. O ligamento mais lesionado neste movimento é o talofibular anterior5,6. Ainda
segundo os autores do livro, Técnicas de Reabilitação em Medicina Desportiva, este ligamento
é o mais fraco dos três ligamentos laterais5,7.
A entorse de tornozelo é uma das lesões mais comuns, correspondendo a 20% de todas
as lesões musculoesqueléticas 8. Nos Jogos Olímpicos de Verão de 2008, a entorse de tornozelo
foi um dos diagnósticos mais prevalentes entre as lesões que ocorreram durante a competição.
Apesar da frequente ocorrência de entorse de tornozelo e do potencial de restrição das
atividades de um futebolista, ainda não se tem um consenso de uma abordagem clínica que
possa ser utilizada9.
Em todos os casos, percebe-se uma dificuldade em definir o melhor tratamento, pois
existem fatores que dificultam essa análise, tais como: a falta de instrumentos e medidas
adequadas para se avaliar o efeito terapêutico das lesões nesses tipos de traumas
musculoesqueléticos9.
Atividades comuns da vida diária, como a marcha, a prática desportiva e o contato com
terrenos irregulares, são condições suficientes para provocar novas lesões em indivíduos que já
sofreram entorses prévios, além de fatores biomecânicos anormais como hiperlacidão
ligamentar, déficit proprioceptivo, fraqueza ou desequilíbrios musculares podem contribuir
para que ocorram as entorses da articulação do tornozelo10,11,12.
Diante disso, o presente estudo tem por objetivo realizar uma análise qualitativa de
revisão bibliográfica e estudar a importância dos treinamentos/exercícios proprioceptivos pós-
entorse e exercícios proprioceptivos na prevenção da entorse de tornozelo em futebolistas, para
um possível tratamento clínico de lesões esportivas, associando protocolos eficazes aos sujeitos
que exercem atividades como futebolista.
1- METODOLOGIA
Este trabalho trata-se de um estudo de revisão bibliográfica, de caráter descritivo e
qualitativo, sobre a propriocepção na prevenção da entorse de tornozelo em futebolistas.
Para a construção do presente trabalho, foi utilizado artigos indexados no banco de
dados dos sites pubmed, scielo e google acadêmico, bireme e lilacs.
Foram selecionados artigos ao tema, com até 10 anos de publicação, com os seguintes
descritores: entorse, tornozelo, propriocepção, lesão no futebol, fisioterapia e prevenção. Foram
excluídos os trabalhos que não fossem escritos na língua portuguesa ou inglesa, bem como os
que foram encontrados com mais de 10 anos de publicação.
2- RESULTADOS
Usando os descritores mencionados anteriormente no subitem 2 encontrou se 50 artigos
com o tema entorse de tornozelo e sua relação com os exercícios proprioceptivos no futebol,
porém foram 34 artigos excluídos, por não estarem respeitando os critérios de seleção que
foram:
Não estar escrito em língua portuguesa ou inglesa;
Ter sido publicado a mais de 10 anos;
Fazer referência a outras modalidades desportivas.
Dos artigos publicados e aptos nesse estudo 10 são artigos de revisão bibliográfica e 6
são artigos com experimentos práticos. A tabela abaixo relaciona os artigos que foram aptos a
fazerem parte desse estudo.
Tabela 1 - Artigos publicados entre 2008-2018
Autor/Ano Objetivos Métodologia Resultados/Coclusão
1 Lopes (2008)25
Realizar um programa de
treino proprioceptivo para a
prevenção de entorse do
tornozelo passível de ser
incorporada ao treino de
futebolista.
Revisão bibliográfica.
Artigos e livros sobre
entorse de tornozelo.
A análise da literatura
permitiu constatar a grande
importância atribuída ao
treino proprioceptivo na
prevenção de entorse do
tornozelo. Realizando
proposta de treino
preventivo com três sessões
de treinos semanais.
2 Rogrigues e
Waisberg
(2009)1
Caracterização da entorse de
tornozelo.
Revisão bibliográfica.
Artigos indexados na base
de dados Medline e
MESH (biblioteca
nacional de medicina dos
Estados Unidos).
Resultados descritivos
sobre a prevenção de
entorse de tornozelo.
3 Vieira,
Siqueira e
Silva (2009)26
Descrever o conhecimento
sobre o conceito de
propriocepção e
aspectos como a sua
utilização prática e os tipos e
mecanismos de lesões
apresentadas por atletas em
uma equipe de futebol do
estado de Pernambuco.
Experimento - Entrevista,
foram avaliados 29
atletas, todos do sexo
masculino e com idade
variando entre 17 e 28
anos.
Conclui-se, o baixo índice
de conhecimento sobre o
conceito de propriocepção e
a pouca utilização de
treinamento proprioceptivo
por parte dos atletas
avaliados e o elevado
número que estes atletas
apresentaram de lesões.
4 Abrahão et al
(2009)20
Verificar a incidência das
lesões ortopédicas por
segmento anatômico
associados à avaliação da
frequência e intensidade da
dor em uma equipe de futebol
amador.
Experimento - Aplicação
de questionário. 21
jogadores de um time de
futebol amador, sexo
masculino e idade entre
19 e 30 anos.
Concluiu-se que a lesão e a
dor são episódios
frequentes na maioria dos
jogadores avaliados. E os
segmentos anatômicos mais
sujeitos a lesão foram o
tornozelo e o pé.
5 Mota et al
(2010)4
Analisar o efeito do
treinamento proprioceptivo e
de força resistente sobre a
incidência de entorses de
tornozelo e lesões musculares
em futebolistas.
Experimento -
Observação e relatos.
Treze atletas que
disputavam o
Campeonato Paulista da
1ª divisão (sub-20)
participaram.
Conclui-se que exercícios
simples de propriocepção e
de força resistente
diminuem a incidência
de lesões em futebolistas e
são, portanto, preventivos.
6 Callegari et al
(2010)27
Avaliar por eletromiografia a
ativação muscular do
gastrocnêmico e tibial
anterior em diferentes
exercícios de propriocepção
do tornozelo em apoio
unipodal, comparando graus
de dificuldade.
Experimento - Realização
de teste com sequência de
exercícios. Foram
selecionados 54
voluntários, sedentários,
destros, do sexo
masculino (20-35 anos)
Na análise intermuscular foi
observada maior atividade
do tibial anterior, exceto no
balancinho. Assim, para o
treino do apoio unipodal na
aquisição do ganho
proprioceptivo, o
equipamento adotado deve
ser escolhido com cuidado:
no balancinho é maior o
recrutamento dos músculos
tibial anterior e
gastrocnêmico, assim como
é maior o grau de
dificuldade para
manutenção do equilíbrio.
7
Moreira,
Sabino e
Resende
(2010)28
Levantamento sobre os casos
de entorse de tornozelo
lateral.
Revisão bibliográfica. 11
artigos indexados nas
bases de dados scielo e
medline.
A AOFAS (American
Orthopaedic Foot and
Ançle Society ) apresentou
uma análise mais completa
sendo, portanto, o
instrumento mais eficaz na
avaliação funcional do
complexo pé – tornozelo.
8 Camargo e
Fregonest
(2011)21
Discutir a importância entre
as informações sensitivas
podais e seus reflexos no
mecanismo de controle
postural
Revisão bibliográfica.
Artigos Publicados nos
últimos 5 anos indexados
na base de dados Bireme e
Pubmed.
Apesar de inúmeros estudos
permanece obscuro o real
mecanismo que o SNC
utiliza para processar a
informação sensorial e
selecionar a informação
motora adequada seja para
movimento ou estabilização
postural.
9 Resende e
Souza (2012)5
Avaliar os benefícios dos
exercícios proprioceptivos na
prevenção da entorse de
tornozelo.
Revisão bibliográfica
descritiva qualitativa.
Artigos publicados com
até 10 anos indexados nas
bases de dados scielo,
pubmed, google
acadêmico e na biblioteca
virtual da FUPAC-TO.
No presente estudo de
revisão bibliográfica, não
foi constatado divergência
da importância do treino
proprioceptivo.
10 Suda e Coelho
(2012)9
Revisar, de forma
sistemática, instrumentos
de avaliação concebidos para
pacientes com instabilidade
crônica de tornozelo.
Revisão bibliográfica.
Foram realizadas
pesquisas
bibliográficas nas bases
de dados pubMed,
embase, BVS,
lilacs e scielo.
Observa-se a
necessidade de mais
estudos clinimétricamente
válidos a
fim de atestar a sua
validade para se obter uma
ferramenta
eficaz e completa da
instabilidade funcional do
tornozelo.
11 Leano (2014)29
Identificar a relação entre a
distribuição da pressão planta
e a ocorrência de entorse do
tornozelo em atletas
amadores de futebol de
campo.
Experimento - análise
descritiva e qualitativa. 20
atletas amadores do sexo
masculino com idade
entre 18 e 33 anos.
70% dos sujeitos já
sofreram entorse de
tornozelo sendo esses com
predominância de pés
normais.
12 Lucas e
Oliveira
(2014)30
Analisar e caracterizar as
lesões desportivas em
futebolistas jovens e
identificar fatores de risco
associados a essa prática.
Experimento - Estudo
epidemiológico de design
retrospectivo. Amostra de
83 jogadores entre os 15 e
os 19 anos, dos escalões
de sub-17 e sub-19 de
duas equipes nacionais
portuguesas.
Registou-se um total de 73
lesões em 45 atletas. Nos
sub-17 registaram-se 4,68
lesões por 1000 horas de
exposição e nos sub-19,
4,08 lesões por 1000 horas
de exposição.
13 Montenegro
(2014)31
Estudar a importância do
treinamento proprioceptivo e
neuromuscular.
Revisão bibliográfica.
Artigos de 1995 a 2012
indexados na base de
dados Bireme, Scielo e
Medline.
Os programas de
intervenção se mostram
eficientes no aumento da
força muscular, resistência
muscular, agilidade,
potência e aumento da
propriocepção.
14 Balbino
(2015)18
Comparar diversos protocolos
de treinamentos
proprioceptivos, para se
constatar qual seria o
protocolo ideal para a
modalidade.
Revisão bibliográfica.
Artigos indexados nas
bases de dados lilacs,
scielo, pubmed.
Independente da variedade
de treinamentos
proprioceptivos, todos têm
um resultado positivo para
o atleta da modalidade de
futebol, uma vez que estes
podem ser usados na
reabilitação e na prevenção
de lesões esportivas.
15 Oliveira,
Rebelo e Silva
(2016)32
Acompanhar os padrões e
incidência de lesão numa
equipa de futebol
profissional.
Experimento - Descritivo
e analítico. Foram
diagnosticadas 46 lesões,
correspondendo a uma
incidência de 6,1
lesões/1000h de
exposição.
As lesões mais frequentes
foram as de sobre uso
(41%), seguidas das
rupturas musculares (39%)
e das entorses (9%).
16 Ruivo,Pinheiro
e Ruivo
(2018)33
Adoção de estratégias
preventivas para que se
consiga garantir a segurança e
ótima saúde
musculoesquelética
de todos os jogadores.
Revisão bibliográfica.
Artigos indexados
Foram apresentadas de
forma estruturada, um
conjunto de estratégias para
prevenção de lesões no
jogador de futebol.
3- DISCUSSÃO
4.1- A entorse de tornozelo e a anatomia do pé
O tornozelo contém um total de 26 ossos e numerosas articulações. Juntos, os ossos e
articulações do pé fornecem uma base de suporte para o corpo ereto e o auxiliam na adaptação
em terrenos irregulares e na absorção de impactos13.
O tornozelo é um complexo articular formado pela tíbia, fíbula e tálus (Figura 1). O
movimento súbito neste local acarreta uma lesão ligamentar traumática, denominada entorse de
tornozelo, comumente após um movimento em inversão.
“A entorse de tornozelo é uma das lesões musculoesqueléticas aguda de maior
acometimento na população mundial”14.
O termo tornozelo se refere principalmente à articulação talocrural, mas também inclui
duas articulações: a articulação tibiofibular e a sindesmose tibiofibular5,15.
Conforme o estudo realizado as entorses de tornozelo compreende três classificações
conforme o grau da lesão, veja figura 2.
Estima-se que é de 15 a 20% das lesões, e a entorse externa (lateral) acontece em maior
incidência chegando a 95%, geralmente são benignas e não deixam sequelas5.
As entorses são classificadas em graus I, II, III e essa classificação se dá de acordo com
o comprometimento do ligamento entre as articulações do tornozelo como mostrado na figura
acima e descrito a seguir1.
Tabela 2: Classificação da entorse de tornozelo
Grau Gravidade Acometimento Estado
Funcional Tumefação
Dor/Hiperse
nsibilidade
Frouxidão
Ligamentar
1 Ligeira Em geral apenas
TFA
A manutenção
da integridade
articular produz
incapacidade
funcional
mínima
Variável,
porém
geralmente
ligeira
Ligeira, dor
localizada
sobre a TFA
Gaveta anterior e
inclinação talar
negativas
2 Moderada TFA e CF
Incapacidade
moderada, com
dificuldade da
marcha com o
apoio no
calcanhar e nos
artelhos
Variável,
porém mais
que no grau I,
e equimose
resultante
Dor e
hipersensibili
dade
moderada
sobre os
ligamentos
acometidos
Frouxidão
evidente, porém
com pontos
terminais distintos
ao estresse
3 Grave
TFA e CF;
possivelmente
TFP
Incapacidade
funcional, com
perda de adm e
incapacidade
completa de
sustentar o peso
Antero-
lateral e
espalhando-
se
difusamente
ao redor da
articulação
Hipersensibili
dade
acentuada à
palpação
Gaveta anterior e
inclinação talar
positivas
TFA, ligamento talofibular anterior; CF, ligamento calcaneofibular; TFP, ligamento talofibular
posterior; ADM, amplitude de movimento.
Fonte: Adaptado de Rodrigues e Waisberg (2008).
Três ligamentos – os ligamentos talofibular anterior e posterior e o ligamento
calcaneofibular – reforçam a cápsula articular lateralmente. As quatro faixas do ligamento
deltoide contribuem para a estabilidade na face medial13.
Já a estabilidade dinâmica é fornecida para o tornozelo lateral pela força dos tendões
fibular longo e curto16.
4.2- A entorse de tornozelo no futebol
A propriocepção é definida por muitos como uma combinação de sensação do
movimento e consciência de posição da articulação no espaço17.
Nos estudos realizados foram relatados que vários atletas após sofrerem um trauma no
tornozelo como entorse sofrem de déficit proprioceptivo pôs lesão. A entorse de tornozelo é
uma lesão frequente na prática esportiva já que ela é a lesão mais comum nos esportes em geral.
Esta lesão está ligada à instabilidade do complexo articular do tornozelo conforme relata os
autores no estudo realizado.
Afirma que no esporte de alto rendimento como o futebol os riscos de lesões são
inúmeros, atletas deste patamar são cada vez mais expostos a treinos desgastantes, cansativos,
em que muitas vezes o corpo ultrapassa seus limites anatômicos e fisiológicos, o que aumenta
o nível de competitividade entre os competidores, tudo em busca de um objetivo proposto a
eles18,19.
Ainda segundo identificado nesse estudo, o índice de lesões no futebol vem aumentando,
devido a competitividade o que é bastante preocupante para o atleta e treinadores, já que
precisam estar preparados cada dia melhor para que tenha seu espaço no time e nesse mercado
amplo. Isso faz com que os atletas e treinadores aumentem o número de jogos e treinos na
temporada, levando muitas vezes o atleta a uma fadiga muscular o que gera ainda mais lesões,
para que isso não aconteça e esse limite não se ultrapasse o atleta deve estar bem condicionado
fisicamente e realize os trabalhos preventivos com um protocolo de exercícios proprioceptivos.
4.3- A propriocepção no futebol
A evolução médica tecnológica ocorrida nas últimas décadas teve impacto no esporte,
com um importante avanço na preparação física dos atletas e consequente exigência de máximo
desempenho20,10.
Percebe se que esse quadro atual transformou o estilo do futebol, com a substituição da
ênfase na técnica futebol-arte pelos componentes físicos futebol-força e táticos. O futebol atual
conforme os estudos relatam, exige capacidade anaeróbica especialmente velocidade e explosão
muscular para as ações de jogo e resistência aeróbica para os curtos períodos de recuperação
entre as ações de jogo.
Além dos padrões de movimentos citados anteriormente percebe se nesse estudo que
são exigidos devido a características próprias da modalidade, outros fatores que podem
contribuir para estas lesões os quais: são alterações posturais, encurtamentos musculares,
movimentos desportivos incorretos e o déficit proprioceptivo nos membros inferiores
principalmente em joelhos e tornozelos.
A Tabela 3 abaixo mostra os principais resultados achados nos artigos selecionados e já
mencionados na Tabela 1.
Tabela 3 - Resultados dos estudos selecionados
Autor/Ano Resultados/Conclusão
1 Lopes (2008)25
A análise da literatura permitiu constatar a grande importância atribuída ao treino
proprioceptivo na prevenção de entorse do tornozelo. Realizado proposta com de
treino preventivo com três sessões de treino semanais
2 Rogrigues e
Waisberg (2009) Resultados descritivos sobre a prevenção de entorse de tornozelo
3 Vieira, Siqueira e
Silva (2009)26
Conclui-se ressaltando o baixo índice de conhecimento sobre o conceito de
propriocepção e a pouca utilização de treinamento proprioceptivo por parte dos
atletas avaliados e o elevado número que estes atletas apresentaram de lesões
4 Abrahão et al
(2009)20
Concluímos que a lesão e a dor são episódios frequentes na maioria dos
jogadores avaliados. E os segmentos anatômicos mais sujeitos a lesão foram o
tornozelo e o pé
5 Mota et al (2010)4
Conclui-se que exercícios simples de propriocepção e de força resistente diminuem
a incidência
de lesões em futebolistas e são, portanto, preventivos
6 Callegari et al
(2010)27
Na análise Inter músculo foi observada maior atividade do tibial anterior, exceto no
balancinho. Assim, para o treino do apoio unipodal na aquisição do ganho
proprioceptivo, o equipamento adotado deve ser escolhido com cuidado: no
balancinho é maior o recrutamento dos músculos tibial anterior e gastrocnêmico,
assim como é maior o grau de dificuldade para manutenção do equilíbrio
7 Moreira, Sabino e
Resende (2010)28
A AOFAS (American Orthopaedic Foot and Ançle Society apresentou uma análise
mais completa sendo portanto o instrumento mais eficaz na avaliação funcional do
complexo pé - tornozelo
8 Camargo e
Fregonest
(2011)21
Apesar de inúmeros estudos permanece obscuro o real mecanismo que o SNC
utiliza para processar a informação sensorial e selecionar a informação motora
adequada seja para movimento ou estabilização postural.
9 Resende e Souza
(2012)5
No presente estudo de revisão bibliográfica, não foi constatado divergência da
importância do treino proprioceptivo
10 Suda e Coelho
(2012)9
Observa-se a
necessidade de mais estudos clinimétricamente válidos a
fim de atestar a sua validade para se obter uma ferramenta
eficaz e completa da instabilidade funcional do tornozelo
11 Leano (2014)29 70% dos sujeitos já sofreram entorse de tornozelo sendo esses com predominância
de pés normais.
12 Lucas e Oliveira
(2014)30
Registou-se um total de 73 lesões em 45 atletas. Nos sub-17 registaram-se 4,68
lesões por 1000 horas de exposição e nos sub-19, 4,08 lesões por 1000 horas de
exposição
13 Montenegro
(2014)31
Os programas de intervenção se mostram eficientes no aumento da força muscular,
resistência muscular, agilidade, potência e aumento da propriocepção
14 Balbino (2015)18
Independente da variedade de treinamentos proprioceptivos, todos têm um resultado
positivo para o atleta da modalidade de futebol, uma vez que estes podem ser
usados na reabilitação e na prevenção de lesões esportivas.
15 Oliveira, Rebelo
e Silva (2016)32
As lesões mais frequentes foram as de sobre uso (41%), seguidas das rupturas
musculares (39%) e das entorses (9%).
16 Ruivo,Pinheiro e
Ruivo (2018)33
Foram apresentada de forma estruturada, um conjunto de estratégias para
prevenção de lesões no jogador de futebol.
Todos os artigos cujo os resultados e conclusões foram apresentados na tabela acima
atenderam as exigências no que se refere aos objetivos deste estudo, todos os autores
apresentam conclusões positivas quanto a se manter um protocolo de exercícios proprioceptivos
que ajudasse a prevenir lesões como as entorses de tornozelo em futebolistas entre outras,
alguns desses estudos apresentam modelos de protocolos com sessões de exercícios que
atendam de forma satisfatória os treinos proprioceptivos, alguns descrevem a entorse enquanto
causa clínica e outros estabelecem uma relação com estudos e comprovações práticas nos seus
resultados.
4.4- Prevenindo entorse de tornozelo em atletas futebolistas
Como já dito, a entorse de tornozelo tem uma frequência abundante no esporte e no
futebol sua causa é constante. No entanto, várias estratégias são usadas para prevenir suas
comuns causas, que segundo os autores estudados, são estas treino proprioceptivo, treino de
força e estabilizadores externos.
Durante os estudos notou se que o SNC- Sistema Nervoso Central tem um importante
papel no que se refere aos exercícios proprioceptivos, pois, este possui um mecanismo pelo
qual os neurônios mais ativos limitam a atividade dos neurônios adjacentes menos ativos,
assegurando que apenas uma entre duas respostas competitivas seja expressa. Este fato
contribui para a percepção seletiva da sensação. Além disso, o próprio córtex motor e o tronco
cerebral podem inibir e controlar o fluxo de informação sendo, portanto, capazes de controlar
as informações provenientes da periferia21,22.
Sendo assim, o déficit proprioceptivo é bastante relevante, pois a propriocepção é um
mecanismo de percepção corporal, ou seja toda informação neural originada nos receptores
proprioceptivos das articulações, músculos, tendões, cápsulas e ligamentos que enviam
informações aferentes para o Sistema Nervoso Central com relação ao movimento, estado de
posição ou grau de deformação gerado nestas estruturas. O SNC por sua vez tem a função de
processar, organizar e comandar o corpo para que se mantenha um controle postural adequado
e os movimentos sejam corretos dentro do arco suportado18,23,24.
Os estudos relatam que a incapacidade funcional ou crônica associada com as entorses
do tornozelo pode representar o resultado de várias anormalidades, por isso a necessidade de se
prevenir para se evitar:
Instabilidade anterior, posterior no encaixe do tornozelo;
Instabilidade ou formação de aderências na articulação subtalar;
Diástase tibiofibular inferior;
Fraqueza dos músculos pioneiros;
Descoordenação motora secundaria a diferenciação articular.
O tratamento inadequado de entorses de tornozelo pode levar a problemas crônicos
como redução de movimento ou hipomobilidade, dor e instabilidade articular1. Por isso a real
necessidade de se prevenir e tratar se de maneira adequada lesões como entorse de tornozelo
uma vez que o pé é a base da sustentação e postura do indivíduo.
4- CONCLUSÃO
Com base na execução desse estudo de revisão bibliográfica, pode-se concluir que os
segmentos anatômicos mais sujeitos a lesão ortopédica em jogadores de futebol foram o
tornozelo e o pé. No entanto outros segmentos corporais embora em menor proporção também
estejam sujeitos às lesões. Acompanhando as lesões por entorse de tornozelo identifica se, a dor
como sendo um episódio frequente na maioria dos casos.
Neste estudo ficou claro que a relação do treino proprioceptivo com a entorse de
tornozelo é bastante evidente, ficou claro que é relevante a importância desta articulação, não
só pela sua localização anatômica, mais também pela sua função.
O fato de ocorrer muita entorses de tornozelos na vida diária e no desporto em especial
no futebol chama a atenção para que atividades proprioceptivas sejam inseridas na rotina de
treino do atleta afim de promover a prevenção ou até a recuperação pôs lesão. Conclui-se assim
que todo o estudo adotado para essa revisão literária aborda a importância de se estabelecer
uma relação entre o treino proprioceptivo e as entorses de tornozelo e nenhum dos quais foram
apresentados se posicionam de forma insatisfatório quanto ao fato de se elaborar protocolos de
treinamentos com sessões semanais de treino proprioceptivo.
5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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7- PRENTICE, William E. Técnicas de reabilitação em medicina desportiva. 3ª ed. São
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