Vitral
[ ]+Tesouros da Arquitetura
Entrevista
Flavio Aniceto 11ª edição homenageia a ItáliaIgreja de Sant'Ana
e São Joaquim
Petrópolis Gourmet
PetrópolisRio de JaneiroNovembro 2011Distribuição Gratuita
Nº 31Confira aProgramação Cultural
A HISTORIA DONEGRO NA
PETROPOLIS IMPERIAL
reconhecimento
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Congo
remanescente
ante
pass
ados
África
Fundação Palmares justiça social
face mestiça
No dia 16 de maio de 2011, uma singela e
emocionante cerimônia na sede da Prefeitura
Municipal de Petrópolis marcava o resgate de
uma omissão histórica. Diante de autoridades
da municipalidade, do Ministério Público
Federal e da Fundação Palmares – órgão
responsável, no Brasil, pelo reconhecimento de
comunidades quilombolas – cerca de 100
moradores da Comunidade da Tapera recebiam
o título definitivo de regularização fundiária de
suas terras, e o reconhecimento de sua
condição de comunidade quilombola: ou seja,
remanescente do quilombo do mesmo nome
que, a partir da década de 1850, passou a
abrigar terras antes pertencentes ao fazendeiro
Agostinho Goulão, dono da Fazenda Santo
Antonio. A comunidade centenária é, portanto, a
última representante dos três grandes
qu i lombos que ex is t i ram em te r ras
petropolitanas: os outros dois foram o da
Vargem Grande, no atual bairro da Fazenda
Inglesa; o de Manoel Congo, no Vale das
Videiras.
Mas o reconhecimento das comunidades
remanescentes de quilombos, assim como de
indígenas, faz mais do que estabelecer a justiça
social e reconhecer o direito à posse da terra por
aqueles cujos antepassados, atados pelo jugo
espúrio da escravidão, trabalharam duramente
durante décadas, sem direito à justa
remuneração. Estes atos nos permitem resgatar
e refletir sobre a influência primordial destas
culturas, que mesmo negadas durante tanto
tempo, deixaram uma indelével contribuição à
brasilidade. Somos o que somos – e gostamos
de o ser – não apenas pelo que herdamos dos
nossos antepassados europeus. Entre os
dignos trabalhadores que erigiram esta terra e
que são nossos avós e bisavós, estão também
os que vieram da África, mãe oprimida de todos
os homens.
É tempo de dar a eles e a seus descendentes -
ou seja, a todos nós – o devido valor,
reconhecimento e visibilidade. Que se conheça,
enfim, todas as cores de nossa face mestiça,
plural, genuinamente nacional. Isso é apenas
motivo de orgulho. Mesmo porque um fato é
incontestável: por toda parte, esta influência se
impõe. Ou, como dizia Chico Buarque: “Negra é
a mão da beleza/Negra é a mão da nobreza.”
As muitas cores de nossa face
Petrópolis A Revista da Cultura e do Turismo
A REVISTA DA CULTURA E DO TURISMO
PREFEITURA MUNICIPAL DE PETRÓPOLIS Prefeito: Paulo Mustrangi
FUNDAÇÃO DE CULTURA E TURISMO DE PETRÓPOLIS Diretor-Presidente: Gilson Domingos
JORNALISTA RESPONSÁVEL: Isabela Lisboa (MTB 40.621/SP)
GERENTE DE PROGRAMAÇÃO CULTURAL: Pedro Troyack
DESIGN GRÁFICO: DOM Criatividade | IMPRESSÃO: Editora e Gráfica Sumaúma
CENTRO DE CULTURA RAUL DE LEONI: Praça Visconde de Mauá, 305 - Centro | Tel.:(24) 2233 1201
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0 5
Tesouros da Arquitetura
0 6
Vitral
1 1
1 4
Os anúncios da escravidão
Bisbilhoteca
o que foi e é destaque em Petrópolis
Capa
0 8
MirmecologiaA história do Negro em Petrópolis
A Matriz de Cascatinha
Saiba o que é
Beleza neogótica no coração de Cascatinha
Igreja de Sant'Ana e São Joaquim
Petrópolis A Revista da Cultura e do Turismo 05
Texto e fotos: Isabela Lisboa
Igreja de Sant'Ana e São Joaquim nasceu da
vontade e da fé dos operários da Companhia
Petropolitana de Tecidos, em sua maioria
imigrantes italianos, que desejavam ter ali, um
local de oração e prática da religião católica.
O terreno para construção da Igreja foi doado pela
Companhia ao Bispado de Niterói, tendo sua Pedra
Fundamental lançada em 1891.
Para arrecadar fundos para as obras do que viria ser, mais
tarde, a Matriz de Cascatinha, os operários e diretores da
empresa, juntamente com os membros da Irmandade,
realizaram uma festa com duração de três dias, às margens
do Rio Piabanha.
Sua inauguração ocorreu em 1898, entretanto, as obras só
foram concluídas dois anos depois, tendo sido a Capela
batizada, então, de Nossa Senhora de Sant'Ana e São
Joaquim.
Durante todos estes anos, a Igreja passou por diversas
reformas. A primeira, em 1921 recebeu pinturas e as 32 telas
retangulares, com motivos bíblicos, no forro do teto. Os
artistas destas pinturas foram Augusto Weber e Acrysio
Parreira, auxiliados por Osório Moreira da Silva.
Já em 1945, o padre José Jovita Monteiro Luiz, coordenou
novas obras no interior e exterior da construção, realizadas
pelo professor da Associação Petropolitana de Belas Artes,
Pedro Holzer e José Quintella Neto. A última, ainda recente
(detalhes do coro e das portas frontais ainda estão em fase
final de restauração), teve como foco as pinturas, altares e
púlpito, além da construção de uma rampa lateral de acesso
para portadores de deficiência.
Em estilo neogótico, a fachada central possui em sua torre
um relógio e, sobre ela, a flecha que termina em uma cruz.
Suas laterais são marcadas por pequenos contrafortes que
separam janelas tríplices, com arcos quebrados. Mas é em
seu interior que a beleza arquitetônica encanta nossos olhos.
Cada janela lateral tem o vão central preenchido por vitrais
com figuras bíblicas e no teto de madeira, abobadado, as 32
pinturas são emolduradas e apoiadas em mão francesa
(também em madeira). Três belos lustres harmonizam com o
restante da decoração.
O púlpito e os altares também são em estilo neogótico, sendo
que no altar central, as imagens de Sant'Ana, São Joaquim,
Jesus Cristo e Nossa Senhora recebem a luz natural de duas
janelas laterais com o símbolo do Sagrado Coração.
Para os apaixonados por arquitetura e/ou religião, a Igreja de
Sant'Ana e São Joaquim ou como é mais conhecida, Igreja
Matriz de Cascatinha, é um local imperdível para se
conhecer.
A
Serviço:
Igreja de Sant'Ana e São Joaquim – Matriz de Cascatinha
Praça Monsenhor Achiles Melo, nº 01 – Cascatinha
Horário de Funcionamento:
Missas: sábados, 18h e domingos 7h, 11h e 18h
Visitação mediante agendamento através do Tel.: (24) 2242-5846
Funcionamento da Secretaria: segunda a sexta-feira, das 15h às 18h.
Petrópolis A Revista da Cultura e do Turismo06
Fotos: Isabela Lisboa
A partir do dia 25 de novembro, Petrópolis se veste de luz e alegria
em mais uma edição do Natal de Luz. Até 23 de dezembro a
Cidade Imperial será palco de intensa programação cultural com:
concertos de orquestras e coros, peças de teatro, grupos
musicais, festivais de cinema, desfiles de Natal e muito mais.
Entre as novidades deste ano está a Casa do Papai Noel, na
Praça da Liberdade, onde o bom velhinho receberá toda a
criançada.
Confira a programação completa no encarte especial do Natal de
Luz ou acesse: www.petropolis.rj.gov.br
2º Festival Nacional de Cinema Petrópolis 2011
Petrópolis recebe de 17 a 20 de novembro o projeto “Consciência Ampla
Cultural: O Brasil que você não conhece”, festival de cultura e educação feito
para você se divertir e compartilhar conhecimento, através de debates com
artistas renomados, espetáculos de música, teatro, dança, contadores de
histórias, oficinas e exposições de arte.
Serão quatro dias de uma grande viagem pelas mais diversas
manifestações culturais brasileiras, além da reflexão sobre o consumo
consciente de energia.
Confira a programação completa em: www.conscienciaampla.com.br
Serviço:
Local: Palácio de Cristal - Horário de funcionamento: das 10h às 21h (exceto domingo, que encerrará às 18h)
Ingresso: gratuito
Acontece de 05 a 12 de novembro, no Theatro D. Pedro e Centro de Cultura Raul de
Leoni, o 2º Festival Nacional de Cinema Petrópolis 2011. O Festival tem como foco a
exibição de obras cinematográficas brasileiras, de formatos longas e curtas metragem,
linguagens ficção, documentário e animação, previamente inscritas na Mostra
competitiva do evento.
As exibições acontecerão durante os oito dias do Festival que também contará com
oficinas, palestras e encontros.
A abertura será no dia 05, às 18 horas no Theatro D. Pedro.
A programação completa pode ser conferida em: www.perfilconsultoriacultural.com.br.
Natal de Luz – Petrópolis 2011
Consciência Ampla Cultural: O Brasil que você não conhece
deLuzNatal
2011
Petrópolis promove com sucesso o turismo na ABAV...O stand de Petrópolis, montado no 39º Congresso Brasileiro de
Agências de Viagens e Feira das Américas – ABAV 2011, realizado de
19 a 21 de outubro no Riocentro (Rio de Janeiro), foi sucesso absoluto.
Segundo a Gerência de Turismo da Fundação de Cultura e Turismo de
Petrópolis, foram feitos mais de 600 contatos com agências, operadores
e guias de turismo, que lotaram o espaço Petrópolis Imperial durante os
três dias do evento.
Entre as ações promovidas pela FCTP e o Petrópolis Convention &
Visitors Bureau, se destacaram: a degustação de lançamento do XI Petrópolis Gourmet, a divulgação do Natal de Luz
através do personagem “Anjo de Luz” e a doação de sementes de Ipês Amarelos, árvore símbolo da cidade.
Festa do Dia das Crianças atrai 30 mil pessoas
Espetáculos de dança, contação de história, pintura facial, música,
pipoca, algodão doce e guaraná fizeram a alegria da criançada na
festa realizada pela Prefeitura de Petrópolis em comemoração ao Dia
das Crianças, no dia 12 de outubro, no Parque Municipal de Itaipava.
As mais de 20 atrações, que começaram às 9h da manhã e só
terminaram às 18h, levaram cerca de 30 mil pessoas ao local. Além de
atividades culturais, a Secretaria de Saúde montou uma tenda com
informações sobre sífilis congênita (doença passada de mãe para
filho) e a Secretaria de Esportes e Lazer levou mais de 700 crianças de diversas comunidades para participarem de
minitorneios esportivos, apresentações de taekwondo, além das demais atividades oferecidas no Parque.
... e encanta o público do Salão Estadual de Turismo
Já no Salão Estadual do Turismo, realizado nos dias 22 e 23 de outubro,
em uma tenda de 3.200 m² montada sobre a praia de Copacabana,
milhares de pessoas puderam conhecer não só os roteiros turísticos de
Petrópolis, como também a tradição do canto coral da cidade, através de
uma belíssima apresentação do Coral Municipal.
Santos Dumont (interpretado pelo ator petropolitano, Sylvio Costa
Filho), também esteve presente, atraindo os olhares de curiosos, que
faziam questão de tirar uma foto com o Pai da Aviação.
Alguns dos principais eventos da cidade foram divulgados através das
presenças das Rainha e Princesas da Bauernfest, do Anjo do Natal de
Luz e da “Chef” do Petrópolis Gourmet.
Foto: Isabela Lisboa
Foto: Alexandre Peixoto
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07
ormalmente, quando pensamos na construção
de Petrópolis, vêm à mente os imigrantes
alemães, italianos, portugueses, franceses e
ingleses que deram à cidade a sua fisionomia
europeia. Porém, não se pode esquecer a
marcante presença dos negros africanos e brasileiros que
também contribuíram para o desenvolvimento da região,
mesmo sem opção: já que, muitas vezes, viviam a triste
condição escrava.
Mesmo antes de nossa cidade existir, a presença negra na
região já era reconhecida. Em 1736, o recenseamento feito
pela Paróquia de Nossa Senhora do Inhomirim registrava que,
de Engenhoca à Paraíba do Sul, existiam 22 fazendas e sítios
habitados por 343 almas “entre brancos e negros”. De tal
forma que o primeiro batizado registrado nas terras da futura
Petrópolis foi de uma menina, “a mulatinha Jacinta”, em 26 de
outubro de 1734, na Capela de Nossa Senhora da Conceição
das Pedras, em Araras. Estes negros trabalhavam na lavoura
e nos cuidados domésticos, mas eram principalmente
ferreiros, muleiros, canoeiros, ou seja: exerciam ofícios
necessários àqueles que cruzavam as serras, em busca do
sertão. Com o tempo, sua presença cresceu, como em todo o
Brasil Colônia: anais de época registram que na Fazenda do
Padre Corrêa, em Corrêas, “mais de 400 escravos de ambos
os sexos” trabalhavam na produção de todo o tipo de
artesanato e, em especial, ferraduras para animais de carga e
montaria. Além disso, a mão negra, escrava ou liberta – assim
como a dos índios Coroados – somou seus esforços à alemã e
francesa, na abertura da Estrada Normal da Serra da Estrela.
Embora a presença do imigrante europeu tenha sido
predominante, não é correto afirmar que nossa cidade não
possuía escravos. A prova está nos jornais da época que não
se cansavam de anunciar compras e vendas, assim como
recompensas para quem devolvesse aos donos os fugitivos,
que não escapavam apenas no núcleo urbano, mas também,
e principalmente, das fazendas de café do Vale do Paraíba
(leia a Bisbilhoteca - pág 14).
De fato, os escravos dos nobres e ricos burgueses que vinham
para o veraneio acompanhavam seus senhores, para assisti-
los nos serviços domésticos. E a sofisticação dos hábitos
acabou criando marcantes personagens, também, na crônica
da cidade. Precursora das modernas “chefes de cozinha”, a
negra Sofia ganhou fama internacional como “a cozinheira
dos embaixadores”.
Porém, é correto afirmar que a tradição abolicionista da
Família Imperial realmente fez da cidade um polo onde
eminentes pensadores da época, como Joaquim Nabuco,
buscavam encerrar este vergonhoso capítulo da história
nacional. Na atual Praça da Liberdade, era comum que negros
libertos vendessem seu artesanato para obter recursos para
libertar outros negros. A Princesa Isabel, a Redentora, que
NEGRA
08 Petrópolis A Revista da Cultura e do Turismo
E A MAO DA NOBREZA
N
Texto: Eliane Maciel l Ilustrações: Jean Baptiste Debret e reprodução
libertou todos os escravos em 13 de maio de 1888 – e os de
Petrópolis mais cedo, em 01 de abril do mesmo ano – fez da
camélia o seu símbolo pessoal: a linda flor branca, que ainda
floresce nos jardins do Museu Imperial, era produzida no
quilombo instalado no local onde, hoje, se encontra o bairro do
Leblon. Adotando o símbolo, os intelectuais da época, num
gesto que os identificava, também traziam a camélia à lapela,
como símbolo da pureza de seus anseios de liberdade e
justiça social.
Petrópolis e os Quilombos
A história registra a presença de pelos menos três quilombos
importantes na região onde, hoje, se encontra Petrópolis. O
mais antigo foi o da Vargem Grande, no atual bairro da
Fazenda Inglesa, formado por cerca de 200 escravos fugitivos
por volta de 1820: deste, a única lembrança é o nome do rio
que corta o local, o Rio do Quilombo. O mais famoso foi o de
Manoel Congo, o maior do estado do Rio de Janeiro, que
abrigou escravos fugidos, principalmente, das fazendas de
Paty do Alferes, no atual Vale das Videiras. E o outro, ocupado
em 1852 em terras doadas por um dos pioneiros da cidade,
Agostinho Corrêa da Silva Goulão, é a comunidade da Tapera,
cujos descendentes acabam de ser reconhecidos como
legítimos “quilombolas”, ou seja: herdeiros das terras e da
cultura de seus antepassados.
O quilombo de Palmares foi uma vila
localizada entre Alagoas e Pernambuco.
Surgiu no final do século XVI, só foi
destruída em 1695 – e chegou a abrigar 20
mil pessoas, a maioria delas, escravos
fugitivos dos canaviais pernambucanos.
Palmares, provavelmente, foi um dos nossos
maiores e mais bem organizados quilombos.
Seus moradores lutavam para resgatar
outros escravos. As autoridades coloniais
tentaram invadir o quilombo mais de 40
vezes, sem sucesso. Em 1678, tentaram um
acordo com Zumbi, sua maior liderança:
não atacariam mais o quilombo, nem fariam
retaliações aos fugitivos, se os negros
foragidos retornassem à escravidão. Zumbi
não aceitou a condição e a guerra foi
retomada, com força total. Em 1694,
Palmares foi invadido e destruído. Zumbi,
foragido, ainda lutou um ano pela causa da
libertação até morrer em batalha, em 1695.
ALGUMAS CURIOSIDADES SOBRE ZUMBI E O QUILOMBO DE PALMARES
09
Escravas de diferentes nações
10
Tutte le sapore portano a Petrópolis
Petrópolis Gourmet homenageia a Itália
Texto: Júlia Ourique l Fotos: Bruno Wanderley
Quer saber mais? Acesse www.petropolisgourmet.com.br
e confira a programação completa.
Acompanhe também as novidades pelo Twitter
@PetroGourmet e pelo Facebook Petrópolis Gourmet.
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ópolis
Q ue tal saborear os melhores pratos italianos na cidade
mais charmosa da Região Serrana?
Quinto melhor polo gastronômico do país, quem visita a
Petrópolis Imperial se depara com centenas de restaurantes,
prontos para oferecer as mais variadas iguarias da
gastronomia. E para celebrar esta tradição é realizado, há 11
anos, o Petrópolis Gourmet que este ano traz como tema
“Sapore D'Italia – A tradição da cucina italiana na serra”.
O tema é uma homenagem ao Ano da Itália no Brasil, que
acontece até meados de 2012 e será marcado por vários
eventos em todo país, valorizando a cultura e a contribuição
deste povo na terra tupiniquim.
De 03 a 26 de novembro, o público está convidado a contemplar
o talento de chefs gastronômicos nacionais e internacionais,
através de oficinas e uma série de eventos culturais,
especialmente preparados para os apreciadores da boa mesa.
Os restaurantes participantes do Petrópolis Gourmet (são 24
no total) deverão preparar o seu menu inspirado nesta culinária,
buscando seus ingredientes mais peculiares e seus sabores
mais característicos. “Sem dúvida a homenagem à Itália é um
grande atrativo, ela está presente na vida da maioria das
pessoas e os restaurantes de Petrópolis vão ter a oportunidade
de explorar clássicos e novidades desta culinária”, disse Bruno
Wanderley, presidente do Petrópolis Convention & Visitors
Bureau, realizador do evento.
Segundo os organizadores do evento, o Festival gera um
grande fluxo turístico na cidade, movimentando R$ 10 milhões,
só na parte hoteleira. Os shoppings Arcádia, Estação, Vilarejo e
o bairro Vale do Cuiabá receberão o público do evento que deve
atrair este ano 15 mil pessoas.
O ex-chef do programa Mais Você da Rede Globo, Márcio
Moreira, participará da Cozinha Itinerante “Nossa Panela
Brasil”, através de oficinas. E no Vale do Cuiabá o diferencial
será a interação dos chefs com o público durante a preparação
dos pratos. Na cozinha montada para o evento, todos poderão
assistir a preparação das receitas, e no final o público poderá
experimentar as delícias produzidas. Um dos pontos principais
do projeto é ensinar a população a reaproveitar alimentos em
suas receitas para inovar e, claro, economizar também.
Uma das grandes novidades desta edição é a parceria com a
Casa D'Itália Anita Garibaldi, que desde 1987 atua preservando
a história dos imigrantes italianos na cidade. A instituição é
responsável, juntamente com a Fundação de Cultura e Turismo
de Petrópolis, pela realização da “Serra Serata – A Festa
Italiana de Petrópolis”, que ocorre todos os anos em
homenagem àqueles que acrescentaram, na construção da
identidade petropolitana, muitos de seus traços característicos
como a alegria e a valorização da tradição.
11Petrópolis A Revista da Cultura e do Turismo 11
Texto: Vitor Sznejder
Fotos: divulgação
Petrópolis é a maior exportadora de serviço, com faturamento
superior a US$ 1 bilhão/ano, despontando nas áreas de
tecnologia e mecânica leve, tendo recebido, somente em 2009,
R$ 71 milhões de investimentos das empresas do setor , gerando
mais de mil empregos por conta dos incentivos fiscais
concedidos pela Prefeitura. Nos últimos dois anos e meio, a
cidade tem oferecido incentivos fiscais a empresas de alta
tecnologia, gerando centenas de novos empregos.
Frei Thomas Borgmeier nasceu em
1892 na Alemanha. Depois de
terminar o ginasial, decidiu tornar-
se franciscano e imigrou para o
Brasil em 1910. Veio estudar
Teologia em Petrópolis, entre 1915
e 1918. Influenciado por um
cientista alemão que dirigia o
Museu Paulista, interessou-se pelo
estudo das formigas e, em 1955, a
editora Vozes publicou sua obra sobre as “Formigas-correição
neo-tropical”, alvo de seu especial interesse. Reconhecido
mundialmente pelos seus trabalhos entomológicos, Frei
Borgmeier publicou, ao longo de sua carreira, mais de 5 mil
páginas sobre formigas e insetos.
As Formigas-Correição
Também conhecidas pelos nomes tauoca, tanoca ou taoca,
essas são formigas carnívoras, que se organizam em expedições
e vivem em constante movimento. O grupo inclui mais de 200
espécies de subfamílias, muito comuns na América do Sul e na
África. Segundo os estudiosos, existem cerca de 10 mil espécies
em todo o mundo, sendo 2.500 originárias e exclusivas do Brasil.
Supõe-se que surgiram entre 80 e 140 milhões de anos atrás e se
dividem, resumidamente, em três castas: as “rainhas”, que tem
função reprodutora e vivem entre dez a 20 anos; as “machos”,
que têm a única missão de copular com a rainha e depois disso
morrem; e as “operárias”, que constituem a maioria,
responsáveis pela procura de comida e água, cuidar da rainha,
dos filhotes e da segurança do formigueiro.
Você já ouviu falar em Mirmecologia? E nas formigas-correição?
Pois Petrópolis foi a sede - de 16 a 20 de outubro passados - do XX
Simpósio de Mirmecologia e do I Encontro de Mirmecologia das
Américas, congresso internacional voltado para o estudo das
formigas. Mais de 400 especialistas passaram pelo Instituto
Teológico Franciscano de Petrópolis, sede do simpósio
organizado pela Universidade Rural do Rio de Janeiro. O
homenageado especial foi o Frei Thomas Borgmeier (1892-1975),
reconhecido mundialmente pelos seus estudos sobre o mundo
dos insetos - iniciados aqui mesmo, no início do século passado -
tendo se dedicado, principalmente, ao estudo dessa espécie de
formiga, a já mencionada “correição”.
A Mirmecologia - palavra de origem grega - estuda todos os
aspectos das formigas - da biologia à taxonomia, da fisiologia à
ecologia, e da biogeografia à sua importância econômica. É uma
subdisciplina da entomologia e está inserida na categoria da
zoologia.
Quer saber mais? Acesse: www.myrmeco2011.com.br
Petrópolis: Turismo de Negócios e Acadêmico
A escolha da cidade como sede desse encontro tem sua
explicação na história de um dos maiores estudiosos desse
assunto, cientista alemão que escolheu Petrópolis para estudar e
viver. Mas também indica o crescimento, em Petrópolis, do
chamado turismo de negócios e reafirma a vocação acadêmica da
cidade - centro de referência em Medicina, por exemplo - e
também tecnológica (vide Petrópolis-Tecnópolis, Centros de
Inclusão Digital e outras iniciativas).
SSSDE MIRMECOLOGIA
reúne cientistas em PetrópolisDE MIRMECOLOGIA IMPÓSIO IMPÓSIO
reúne cientistas em Petrópolis
Um Franciscano voltado à Entomologia
12 Petrópolis A Revista da Cultura e do Turismo
Concedida a: Isabela Lisboa Fotos: Isabela Lisboa
o mês em que se comemora o Dia Nacional da
Cultura (05 de novembro), a Revista Petrópolis
foi até o bairro Glória, no Rio de Janeiro, para
conversar com Flavio Aniceto. Responsável pela
consultoria do Plano Municipal de Cultura de Petrópolis,
aprovado em 2010, pela Câmara de Vereadores, este
cientista social, produtor e consultor cultural, ganhou o
carinho e o respeito dos segmentos culturais locais,
através de seu profissionalismo, simpatia e respeito à
diversidade.
Agora ele recebe a nossa equipe para falar sobre sua
trajetória e as políticas públicas que vem transformando
Petrópolis e o país.
N
12 Petrópolis A Revista da Cultura e do Turismo
Entrevista
FLAVIO FLAVIO ANICETOANICETO
Em nome da CulturaEm nome da Cultura
Petrópolis A Revista da Cultura e do Turismo 13
O processo
envolve reunir as
pessoas e discutir as
políticas públicas......
13Petrópolis A Revista da Cultura e do Turismo
Revista Petrópolis – Peça fundamental na
elaboração do Plano Municipal de Cultura
de Petrópolis, você também tem sido uma
importante ferramenta na elaboração de
políticas públicas culturais em diversas
cidades do Rio de Janeiro. Como surgiu
esse interesse pelas causas culturais?
Flavio Aniceto - Foi na escola, há quase 20
anos. Eu comecei a fazer teatro ainda no
primário. Era um teatro bem politizado: o
Teatro do Oprimido de Augusto Boal.
Passávamos o dia todo na escola com uma
série de atividades culturais e políticas
filosóficas. E eu acabei me envolvendo nesta
última com apenas 12 anos.
RP – Você é natural de Nova Iguaçu, mas
foi na capital que se envolveu
definitivamente com o segmento. Como
se deu essa ponte?
FA - Ainda na baixada eu comecei a
participar de outras questões da política de
Nova Iguaçu. Era um período que tinham
muitas greves, muitos acontecimentos,
então passei a vir para o Centro ( do Rio de
Janeiro), para passeatas. A partir daí
comecei a me dedicar à política mais estrita,
com os movimentos sociais e estudantis.
Em 1996, fui trabalhar na Câmara dos
Vereadores do Rio de Janeiro. No ano
seguinte, houve a retomada dos movimentos
ligados ao samba e à Lapa e, como eu era a
pessoa mais próxima deste tipo de
linguagem, comecei a atuar colaborando
com os projetos e fazendo um pouco a ponte
entre algumas ações da Câmara. A minha
questão com políticas públicas para a
Cultura vem deste período.
RP - Então quer dizer que você fez parte
deste movimento que tem transformado a
Lapa?
FA - Com certeza. Na ocasião não percebi o
que estava fazendo, mas olhando 10 anos
depois, sim.
Eu cheguei a falar sobre isso em Petrópolis,
na fase final do meu trabalho, sobre esta a
questão e a de se fazer um corredor cultural,
uma das propostas do Plano de Cultura.
RP – Mas o movimento da Lapa surge, a
princípio, com pequenos grupos
culturais organizados pela sociedade
civil, não?
FA – Sim. Algumas pessoas colocam como
marco, por exemplo, Lefe Almeida que é um
produtor cultural que, com outros sócios,
transformam um pequeno antiquário na Rua
do Lavradio nº 100, em uma casa de samba e
de choro. Outro grupo de Osvaldo Cruz, que
é mais do subúrbio, também começa a fazer
ações debaixo dos Arcos (da Lapa). Desta
forma, a Câmara entra com algumas ações
para essa área. Com o início de outros projetos
em Santa Teresa e em Botafogo, a Câmara
entra também no processo e começamos a
fazer algumas seções todo ano, em torno do
Dia do Samba.
RP – Até este momento, as políticas
culturais ainda não eram bem definidas.
Quando se dá essa mudança?
FA - Mais ou menos em 2003, no início do
governo Lula, do Ministro Gilberto Gil e com a
gestão do Antonio Grassi na FUNARTE, há
uma ebulição de acontecimentos. A primeira
Conferência de Cultura, muitos seminários...
Então as pessoas começam a descobrir um
mundo novo e todo mundo fica eufórico.
RP- Neste momento você acredita que a
sociedade civil começa a ter mais voz?
FA – O processo envolve reunir as pessoas e
discutir as políticas públicas. O que foi feito em
Petrópolis. É claro que você tem lá, a lei do
Sistema e o Plano (Nacional de Cultura), mas
existe este processo que eu acho muito
importante de se juntar as pessoas, elas terem
voz e serem ouvidas. Então o que começou
entre 2003 e 2005 se tornou um caminho
natural de participação.
RP - Como surgiu o convite para fazer
parte da elaboração do Plano Municipal de
Cultura de Petrópolis?
FA - Eu conheci o Pedro Troyack (Gerente de
Programação Cultural da Fundação de
Cultura e Turismo de Petrópolis), por conta
dessa trajetória política e cultural. Com a
aprovação, em 2009, do Plano (Municipal de
Cultura) na Conferência de vocês, ele
precisava de alguém para trabalhar como
consultor. Ele buscou alguns nomes aqui no
Rio e acabou chegando ao meu.
RP - E como foi para você a realização
deste trabalho em Petrópolis?
FA - O trabalho foi maravilhoso. Eu senti certo
impacto porque tive uma mudança cultural
muito grande. Mesmo com a proximidade do
Rio de Janeiro, é outro universo, outro
mundo.
Em Petrópolis existem algumas pessoas
ainda com questões muito arraigadas e eu
estava entrando em um terreno novo,
politicamente, socialmente e culturalmente.
E como em qualquer lugar, você vê os
pequenos ódios e amores de uma
comunidade cultural que não gosta da
outra.
No meu caso, pessoalmente, foi uma
experiência incrível porque pude perceber,
na prática, essa diversidade cultural.
E do ponto de vista técnico, o trabalho foi
bem feito. Não exatamente por minha
aptidão ou minha competência, mas pelo
resultado e, principalmente, pelo processo
realizado.
RP – Qual fator você acredita que torna
Petrópolis tão diferente da Capital?
FA – Petrópolis é uma cidade que tem um
sentimento, devido sua formação, muito
europeu. As pessoas são mais fechadas.
Mas a cada dia fui aprendendo a lidar com
isso e foi muito importante para mim.
Porque saí dessa experiência lidando muito
bem com todas as pessoas e, até hoje, nos
falamos por e-mail ou redes sociais.
RP- Podemos dizer que Petrópolis é um
case de sucesso no que se refere ao
Sistema e Plano Municipal de Cultura no
Estado?
FA – É sim. Após um ano daquele processo
novo, acho que falta apenas fazer uma
“ c o s t u r a ” f i n a l , d i v i d i n d o a s
responsabilidades entre o poder público e a
sociedade civil. Mas com certeza, este foi o
case do estado do Rio de Janeiro.
RP - Petrópolis é a única cidade do
estado do Rio de Janeiro a ter um
Sistema Municipal de Cultura?
FA – Com Plano e Sistema aprovados,
acredito que apenas Petrópolis. Eu posso
estar enganado. Porque São Gonçalo
aprovou, mas ainda nada foi feito.
A r a r u a m a , p e l o a r r o j a m e n t o e
compromisso, deve aprovar o seu Plano
ainda este ano. Fomos conversar em
outras cidades, mas esbarramos em uma
série de questões burocráticas e legais.
Angra (dos Reis), por exemplo, tem a
intenção de fazer este ano, mas acredito
que somente em março (de 2012) vá se
concretizar.
14 Petrópolis A Revista da Cultura e do Turismo
Tratados como mercadoria, negros eram
comercializados através dos jornais do séc. XIX
Texto: Isabela Lisboa
B i s b i l h o t e c aB i s b i l h o t e c aG a b r i e l a M i s t r a l
G a b r i e l a M i s t r a lB i s b i l h o t e c a
B i s b i l h o t e c a
ANÚNCIOS DA ESCRAVIDÃO
ontes inesgotáveis de conhecimento, jornais e
periódicos antigos retratam os usos, os costumes e os
hábitos de uma época. Através deles “mergulhamos”
nas histórias, nos grandes acontecimentos e nos fatos curiosos do
dia a dia das sociedades de outrora.
Entre matérias de texto rebuscado, às vezes, quase poéticas,
encontramos anúncios pitorescos que retratavam bem a forma de
pensar e de viver das pessoas.
Os primeiros anúncios brasileiros, sobre venda de casas, foram
publicados por volta de 1807, no primeiro jornal carioca “Gazeta
do Rio de Janeiro”. Já em 1808, iniciavam-se os anúncios de
emprego:
Entretanto, o que mais nos chama a atenção são os anúncios
dedicados à venda e aluguel de escravos. Tratados como
mercadorias, eram anunciados como animais, através de suas
descrições físicas e habilidades. Quando fugiam, seus “donos”
usavam os jornais para publicarem seus desaparecimentos,
oferecendo gratificações a quem encontrasse os “fujões”.
O primeiro anúncio publicado referente a escravos foi em 07 de
janeiro de 1809:
É o triste registro de uma época, onde pessoas eram maltratadas,
presas e submetidas a inúmeras injustiças. Os textos que
apresentaremos a seguir são algumas reproduções de anúncios
publicados em 1858 e 1883, nos jornais O Parahyba e O Mercantil,
ambos de Petrópolis. Anúncios estes que esperamos continuarem
assim: antigos registros de uma história que não volta mais.
F
“Precisa-se de mulher para senhora inglesa, que
saiba lavar, engommar e coser”.
“Em 20 de agosto fugiu um escravo preto por nome
Matheus, mãos grandes, dedos grossos...”
Vende-se um vistoso moleque de 18 a 20 annos de idade,
muito bom pedreiro de cimalha e tornijo, na Rua do
Imperador nº 3. (O Parahyba - 24/01/1858)
Moleque
Na Rua do Imperador n. 3, empresta-se dinheiro sobre
penhores de prata, ouro e brilhantes. Na mesma casa
comprão-se escravos preferindo-se pretos fortes, ainda
que sem officio; havendo tambem para vender uma preta
que lava e cosinha, muito própria para casa de pouca
família, por 900$000. (O Parahyba - 17/06/1858)
Attenção
Desappareceo no dia 11 do corrente, de casa do Sr Jorge
Karmm, na Villa Thereza n. 14, tendo sahido com licença
para passear, a preta Rita, de nação Benguella, de altura
regular, falla ligeiro e tem dedo pequeno do pé um pouco
levantado, levou chalé de merino amarello, vestido de chita
em cassa, de babados com barra azul, e tem muitos signaes
de castigo no corpo. O abaixo assignado dá boa gratificação
a quem a apprehender, e protesta com todo o vigor da lei
contra quem tiver acoutado. Villa Thereza 15 de julho de
1858. J. Karmm. (O Parahyba - 18/07/1858)
PRETA FUGIDA.
Aluga-se uma parda escrava, sadia, com muito bom leite
(primeiro parto), boa conducta; para informações, nesta
typographia. (O Mercantil – 12/05/1883)
Amma de leite