RODRIGO BEZERRA DA TRINDADE
MONOGRAFIA
Monografia apresentada ao Curso de Medicina
Veterinária da Faculdade de Ciências da Saúde
da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito
parcial para obtenção do título de Médico
Veterinário.
Orientador: Dra. Ana Laura Angeli
CURITIBA 2007
II
II
RESUMO
A tristeza parasitaria é uma doença que vem gerando preocupações para os
produtores rurais que vivem em regiões endêmicas. Com isso, o interesse em
estudá-la e obter conhecimento para combatê-la. Neste presente trabalho, há uma
revisão de literatura sobre a Babesiose e Anaplasmose, que juntas formam o
complexo tristeza parasitaria (CTP), gerado por uma anemia devida a hemólise dos
eritrócitos.
III
III
SUMÁRIO
1. Introdução............................................................................................................4
2. Anaplasmose ...................................................................................................5
2.1 Fontes e Meios de Transmissão ....................................................................6
2.2 Transmissão por insetos hematófagos...........................................................6
2.3 Transmissão Iatrogênica ................................................................................7
2.4 Transmissão Transplacentária .......................................................................8
2.5 Fatores Predisponentes .................................................................................8
2.6 Raças .............................................................................................................8
2.7 Sinais Clínicos................................................................................................9
2.8 Diagnostico ..................................................................................................10
2.9 Tratamento...................................................................................................10
3. Babesiose ......................................................................................................12
3.1 IMunidade e Suscetibilidade a infecção .......................................................13
3.2 Fatores de risco ...........................................................................................14
3.4 Resistência...................................................................................................15
3.5 Fatores Ambientais ......................................................................................15
3.6 Importância Econômica................................................................................16
3.7 Patogênese ..................................................................................................17
3.8 Imunologia....................................................................................................19
3.9 Achados Clínicos..........................................................................................19
3.10 Patologia Clinica.........................................................................................20
3.11 Achados de Necropsia ...............................................................................20
3.12 Diagnostico Diferencial...............................................................................22
IV
IV
3.13 Tratamento.................................................................................................22
4. Controle da TPB (Tristeza parasitaria bovina) ...............................................23
5. Conclusão ..................................................................................................2827
Bibliografia .............................................................................................................29
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1. INTRODUÇÃO
As infestações por carrapatos são de grande importância na produção de
doenças dos animais. Além da sua função como vetores e reservatórios potenciais
de doenças. Vários carrapatos são hematófagos ativos e podem causar morte por
anemia. Infestações maciças de carrapatos causam desconforto suficiente para
interferir na alimentação dos animais, podendo ocasionar queda na produção e
baixo ganho de peso (RADOSTITS, 2002).
Segundo estudos de produção e sanidade no Brasil, Argentina e Uruguai, os
produtores apontam o carrapato Boophilus microplus e os agentes por eles
transmitidos, Babesia bovis, B. bigemina e Anaplasma marginale, causadores do
complexo Tristeza Parasitária Bovina (TPB), como um dos maiores problemas
sanitários dos rebanhos (MADRUGA et al., 1986; SPÄTH & MANGOLD, 1986;
SOLARI et al., 1992).
Os carrapatos são vetores mais importantes de muitas doenças causadas
por protozoários (Babesiose) e riquétsias (Anaplasmose), em muitos casos,
sobrevivem por varias gerações. Quando presentes em grande numero, os
carrapatos danificam o couro e causam queda na produção, além de anemia e
morte. Eles também produzem taxa de prevalência e mortalidade durante períodos
secos, assim como atraso na engorda, retardando o momento do abate dos animais
(RADOSTITS, 2002).
Entretanto, a necessidade de aumento e melhoria da produtividade
agropecuária vem causando transformações radicais no manejo dos campos
(introdução de grandes áreas de agricultura e de pastagens cultivadas) e dos
animais (cruzamentos industriais, com introdução de raças européias onde só havia
zebuínos e vice-versa, com aumento da densidade populacional de bovinos). Estas
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transformações alteram de maneira importante à estabilidade em relação à sanidade
do rebanho, agravando o equilíbrio parcial que existe entre bovinos e carrapatos,
podendo trazer conseqüências desastrosas em relação a TPB (FURLONG &
EVANS, 1991).
Quando se propõem fazer o controle dessas doenças, é necessário saber
quais carrapatos são vetores, quantos hospedeiros o carrapato parasita durante seu
ciclo evolutivo e quais animais podem atuar como hospedeiro (RADOSTITS, 2002).
2. ANAPLASMOSE
Na África do Sul, Theiler (1910) estudando eritrócitos de bovinos afetados
por anemia aguda, descreveu um pequeno agente, diferenciando-o do agente
causador da febre do Texas. Segundo o autor, a partir de características tintoriais, a
ausência de citoplasma e a localização no eritrócito, propuseram o nome de
Anaplasma marginale. Esse agente não possui retículo endoplasmático e membrana
nuclear, e é Gram negativo (AMERAULT ET. AL, 1973). Ristic e Keier (1984) o
consideram dentro da Ordem Rickettsiales, Família Anaplasmataceae. Nos
vertebrados, se comporta como intraeritrocitário obrigatório (KOCAN ET. AL, 2000)
infectando animais domésticos e inúmeros silvestres (KUTTLER, 1984), causando
anemia progressiva e icterícia (Ristic, 1960), com fraqueza e anorexia. A destruição
eritrocitária ocorre por mecanismos que envolvem a participação de anticorpos, com
a remoção dos eritrócitos opsonizados pelo sistema monocítico fagocitário no baço
(GAUNT, 2000).
A anaplasmose bovina esta presente nos seis continentes. Sua
disseminação é determinada por um grupo de vetores biológicos e mecânicos. As
regiões tropicais e subtropicais são endêmicas para a doença devido á grande
população de vetores presentes, diferente das áreas de clima temperado, onde a
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infecção é esporádica. Surtos de anaplasmose também pode ocorrer após a
utilização de instrumentos contaminados para descorna, vacinação, castração ou
colheitas de amostra de sangue, havendo alto risco no caso de transfusão de
sangue, a transmissão do anaplasma também se dá pela via transplacentária
(RADOSTITS, 2002).
Os bovinos são suscetíveis ao A.marginale e A.centrale e espécies
selvagens também agem como reservatórios significativos do A.marginale. A
prevalência da infecção dos bovinos, nas áreas endêmicas é muito alta, excedendo
os índices de soropositividade 60%, ficando, muitas vezes, próximos dos 90%
(RADOSTITS, 2002).
2.1 FONTES E MEIOS DE TRANSMISSÃO
A fonte de infecção é sempre o sangue de um animal infectado. A
recuperação de uma infecção aguda resulta numa infecção persistente,
caracterizada por períodos repetitivos de riquetsemia. Os portadores funcionam
como fontes de infecção para todo o rebanho. Muitas vezes, o nível de parasitemia é
tão baixo que impede a visão do parasita no sangue, porém a identificação pode ser
feita por meio de analise do ácido nucléico (RADOSTITS, 2002).
2.2 TRANSMISSÃO POR INSETOS HEMATÓFAGOS
A contaminação de um animal para outro ocorre, principalmente, por meio
de insetos. Uma ampla variedade de artrópodes atua como vetores, mas os
carrapatos da família Ixodidae e as moscas da família Tabanidae são os principais.
Nas regiões tropicais e subtropicais, o carrapato boophilus spp. tem uma grande
importância; já no oeste dos estados Unidos, o Dermatocentor spp. é o principal
vetor (RADOSTITS, 2002).
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O microorganismo passa por um ciclo completo de desenvolvimento nas
células intestinais do carrapato, estando presente nas glândulas salivares durante a
fase final do ciclo. O microorganismo torna-se infectante nos diferentes estágios do
carrapato, embora existam poucas evidencias de transmissão transovariana. A
transmissão transestadial do carrapato é significativa em algumas espécies,
ocorrendo durante a migração do vetor de um hospedeiro para o outro, no repasto
inclusive da vaca para o bezerro. Os parasitas sobrevivem por longos períodos,
cerca de 120 dias (RADOSTITS, 2002).
Parece haver fases de desenvolvimento do Anaplasma spp. nos insetos
voadores, como os tabanídeos, que agem como importantes vetores mecânicos,
chegando a infectar ate mesmo duas horas após o ingurgitamento (RADOSTITS,
2002).
2.3 TRANSMISSÃO IATROGÊNICA
A anaplasmose dissemina-se também, mecanicamente, por meio de agulhas
hipodérmica e instrumental de castrações, descornas, alem de transfusões
sangüíneas (RADOSTITS, 2002).
Do mesmo modo, os instrumentos contaminados com sangue usados para
trabalho reprodutivo, tais como; cânulas de infusão, instrumentos de transferência de
embriões e equipamentos de inseminação, ocasionalmente podem espalhar a
infecção (William C. Rebhun).
A facilidade de disseminação da infecção pode variar de acordo com a
virulência da cepa do protozoário. Alguns meios de disseminação são mais
importantes em alguns paises do que em outros. A disseminação da anaplasmose
ocorre igualmente por meio da utilização de bovinos infectados por A.marginale,
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como doadores de sangue para imunização contra babesiose. A relação à infecção
ocorre três semanas mais tarde em relação a babesiose (RADOSTITS, 2002).
2.4 TRANSMISSÃO TRANSPLACENTÁRIA
A infecção intra-uterina ocorre igualmente nos bovinos, porem é mais
freqüente em condições experimentais do que a infecção a campo podendo
ocasionar aborto ou infecções neonatal (RADOSTITS, 2002).
2.5 FATORES PREDISPONENTES
Idade a Infecção, todos os bovinos são suscetíveis à infecção, entretanto a
idade em que são acometidos constitui o determinante principal de gravidade da
doença clinica. Animais jovens são suscetíveis à infecção, mas raramente exibem
sinais clínicos. A infecção por volta dos seis meses de idade e aos três anos
aumenta o risco da doença. Os animais com mais de três anos de idade geralmente
são acometidos por uma forma superaguda e fatal da doença (RADOSTITS, 2002).
2.6 RAÇAS
As raças zebuínas são tão suscetíveis à infecção quanto as européias, bem
como seus cruzamentos, também em relação a idade de acometimento. Quando
livres no pasto, os zebuínos não são atingidos com tanta intensidade, devida a sua
relativa resistência a infestações maciças por carrapatos. Entretanto, os efeitos da
infecção sobre o ganho de peso e os parâmetros clinicopatológicos são iguais para
as duas raças. Bovinos de pelagem preta ou vermelha são mais suscetíveis à
infecção do que aqueles com pelagem branca, particularmente nas regiões onde as
moscas agem como vetores. Raças leiteiras são mais sujeitas à transmissão
iatrogenica (RADOSTITS, 2002).
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2.7 SINAIS CLÍNICOS
A probabilidade de uma enfermidade de uma enfermidade clinica associada
com uma infecção com o A.marginale é diretamente proporcional à idade do animal
suscetível. Existem exceções, especialmente quando um estresse extraordinário,
doses infectantes fortes, parasitismo com vetor forte ou doenças intercorrentes
superam as resistências aparentes nos bovinos mais jovens, muitos animais com
menos de um ano de idade apresentam uma infecção inaparente ou sinais muito
suaves. A incubação na infecção natural varia de 20 a 40 dias e é seguida por uma
doença aguda caracterizada por sinais drásticos de febre (40 a 41,7ºC), depressão,
anorexia, estase gastrointestinal, anemia, desidratação e queda na produção. A
severidade dos sinais clínicos é proporcional ao grau de anemia. Encontra-se
presente uma icterícia em muitos casos agudos, mas esta pode não aparecer a
menos que o animal afetado sobreviva dois ou mais dias. Não ocorre uma
hemoglobinúria. A hemólise resulta de uma destruição eritrocitica pelo sistema
reticuloendotelial e, portanto, é primariamente extravascular. A mortalidade varia,
mas pode atingir 50% nos casos agudos. Os bovinos infectados sobrevivem a sinais
agudos podem permanecer fracos, anêmicos e ictéricos e emagrecer
significativamente, os bovinos adultos suscetíveis introduzidos em rebanhos
endêmicos podem sofrer sinais superagudos e morrer dentro de um a dois dias.
Supõe-se que os animais infectados permanecem portadores do organismo,
independente do grau do estado soropositivo subseqüente. A recuperação de uma
doença aguda pode exigir semanas. O abortamento pode ocorrer durante o período
agudo ou convalescente (WILLIAM C. REBHUN).
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2.8 DIAGNOSTICO
Os testes de FC de aglutinação em cartão rápido constituem os meios de
confirmação da infecção mais comuns, mas não podem ficar positivos ate uma
semana após a infecção aguda. Esses mesmos testes sorológicos são bastante
úteis para detectar os bovinos portadores crônicos que podem não apresentar sinais
clínicos. O diagnostico nos casos agudos é auxiliado por testes que verificam a
anemia severa (hematócrito Ht, baixo e anemia regenerativa) e também descartam
uma hepatopatia como causa da icterícia. O exame microscópico dos esfregaços de
sangue completo corado com os corantes de Wright novo azul de metileno ou
Giemsa pode permitir a identificação do A.marginale nas hemácias. O organismo se
parece com um ou mais corpúsculos esféricos na periferia das emacias, e deve ser
diferenciado do pontilhamento basofilico e dos corpúsculos de Howell-Jolly.
(WILLIAM C. REBHUN).
2.9 TRATAMENTO
O tratamento efetivo com vários agentes quimioterapicos é possível, mas as
maiorias das recomendações atuais indicam a oxitetraciclina como tratamento de
escolha (WILLIAM C. REBHUN). Na dose de 6 a 10 mg/kg de peso corpóreo,
diariamente durante três dias consecutivos, ou uma única aplicação de oxitetraciclina
de longa ação, na dose de 20mg/kg intramuscular. A administração concomitante de
cipionato de estradiol, na dose de 14,3mg/kg, parece melhorar a taxa de
recuperação, por promover a parasitemia durante o tratamento. A tetraciclina elimina
a infecção, persistindo a imunidade (Otto M. Radostits, Clive C. Gay, Douglas C.
Blood, Kenneth W. Hinchcliff). O dipropionato de imidocarb (5mg/kg intramuscular
em duas doses, em intervalos de 14 dias) esteriliza os bovinos infectados (WILLIAM
C. REBHUN). Transfusões de sangue são indicadas em animais com hematócrito
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inferior a 15%. O tratamento parenteral com tetraciclina, na dose de 10 a 30mg/kg
diariamente, por 10 a 16 dias, ou com injeções intravenosas de 22 mg/kg de peso
corpóreo diariamente, durante cinco dias, é eficaz na eliminação da infecção
(RADOSTITS, 2002).
Sempre se indica acaricidas e medidas de controle de moscas para reduzir a
população de vetores o máximo possível. Esses produtos químicos devem ser
aplicados ou utilizados nas maneiras aprovadas com relação aos bovinos leiteiros
(WILLIAM C. REBHUN).
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3. BABESIOSE
Etiologia; Babesia bovis, B.bigemina, B.major. B. divergens, B.ovata, B.
ovata oshimensis.
A ocorrência do protozoário causador da doença relaciona-se à distribuição
geográfica dos carrapatos transmissores. De modo geral, as espécies B. bigemina e
B.bovis ocorrem nos trópicos e subtrópicos. As espécies B. major e B.divergens
prevalecem nas regiões temperadas. Assim, a B. bigemina ocorre na América do
Sul, oeste da Índia, Austrália e África; a B. argentina, nos trópicos, incluindo as
Américas do Sul e Central, Austrália, Ásia e sul da Europa. A B. divergens ocorre no
noroeste da Europa, inclusive Espanha e Eire, sendo a principal causa da babesiose
no Reino Unido. A B.bovis, manifesta-se na Europa, América do Sul e África; a B.
berbera, na região mediterrânea da Europa e norte da África; e a B.major, no Reino
Unido e Europa em geral (RADOSTITS, 2002).
Protozoários viáveis somente são encontrados na corrente sanguínea de
animais durante a infecção ativa. Os carrapatos são os vetores naturais da
babesiose; os agentes persistem e passam parte do seu ciclo vital nesses
hospedeiros invertebrados. As espécies B.bovis e B.bigemina passam parte do seu
ciclo vital no interior do carrapato Boophilus microplus (RADOSTITS, 2002).
Quando animais adultos são infectados, tornam-se portadores por períodos
variáveis de tempo, podendo chegar até dois anos. Quando sofrem reinfecções
freqüentes, como acontece em áreas endêmicas, passam a condição de portadores
pelo resto da vida. O conhecimento do ciclo vital do carrapato é fundamental para
seu controle. Carrapatos de um único hospedeiro são mais fáceis de erradicar e
propagam menos a doença do que os de dois ou três hospedeiros. O controle de
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carrapatos capazes de sobreviver tanto em animais domésticos como silvestres
constitui um problema relevante (RADOSTITS, 2002).
Durante muitos anos, o combate aos carrapatos como meio de controle a
babesiose baseou-se no fato de que as babesias sobrevivem no interior dos vetores
durante varias gerações, sem haver necessidade de passarem ao hospedeiro
vertebrado, o que acontece com algumas espécies da babesia, porem a B. bovis,
parasita de significativa importância, não persiste no interior do Boophilus microplus
como agente infectante além do estagio larval. A transmissão transovariana ocorre
da fêmea adulta ingurgitada para as larvas, mas não persiste alem desse estagio.
Tal permanência ou ausência dela constitui importantes características, devendo ser
determinadas para cada babesia ssp, e vetor, caso se pretenda instituir programas
de controle bem fundamentados (RADOSTITS, 2002).
A B. bigemina e a B. caballi persistem por varias gerações no interior dos
carrapatos Boophilus microplus e Dermatocentor nitens, respectivamente. As
espécies B.bigemina e B.bovis (berbera) são transmitidas pela via transovariana no
Boofhilus annulatus. Agulhas e instrumentos cirúrgicos contaminados também
podem transmitir a infecção mecanicamente. O sucesso desse modo de transmissão
depende fundamentalmente do grau de parasitemia pertinente a cada espécie.
Assim a probabilidade de transmissão mecânica é pequena em relação à B.bovis e
grande quando se trata da B.equi e B.bigemina (RADOSTITS, 2002).
3.1 IMUNIDADE E SUSCETIBILIDADE A INFECÇÃO
A imunidade da babesiose é complexa, parecendo haver fraca relação entre
o grau de imunidade e o nível de anticorpos séricos. Desenvolve-se sólida
imunidade nas infecções naturais pela maioria das espécies de babesia. Se
ocorrerem reinfecções seguidas, a imunidade tornará permanente. Quando o
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tratamento é feito prontamente e de modo eficaz, com destruição dos protozoários
antes da produção de anticorpos, não há desenvolvimento de imunidade. Não
acontecendo reinfecções, os protozoários sobrevivem no interior do hospedeiro por
período variável de tempo, geralmente seis meses, desaparecendo em seguida.
Persiste, então, uma imunidade estéril por tempo superior a seis meses, tornando-se
o hospedeiro novamente susceptível cerca de um ano após ter sido infectado. Esses
períodos de infecção latente e de resistência a reinfecção são bastante variáveis,
havendo também respostas diferentes conforme a raça bovina e a espécie de
Babesia (RADOSTITS, 2002).
3.2 FATORES DE RISCO
Todas as raças bovinas são igualmente susceptíveis à B.bigemina, porém os
zebuínos apresentam maior resistência à B.bovis do que as raças européias. O gado
zebu se mantém relativamente livre da doença em razão a sua resistência a
infestações pesadas por carrapatos. A suscetibilidade e a infecção variam conforme
a idade do animal e a estação do ano. Bezerros e potros de mães suscetíveis são
altamente sensíveis à infecção e passiveis de desenvolver doença clínica desde o
nascimento até dois meses de idade, quando, então, desenvolvem imunidade inata
que persiste ate seis meses de idade. Bezerros e potros de mães infectadas
recebem anticorpos pela via colostral, persistindo essa imunidade passiva por três a
quatro meses após o nascimento. Infecções mais intensas ocorrem em animais do
grupo etário de seis a doze meses, sendo incomum a infecção em animais com mais
de cinco anos. Animais com idade inferior a um ano são infectados principalmente
pela B.bigemina, e aqueles com idade superior a dois anos, pela B.bovis. A idade
media em que bezerros de áreas enzoóticas se infectam é de 11 semanas, porem
nessa idade os sinais clínicos e as alterações patológicas são pouco intensas e
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fugazes. Depois de seis meses de idade, verifica-se o aumento do numero de
animais infectados nas zonas enzoóticas (RADOSTITS, 2002).
3.4 RESISTÊNCIA
Em zonas enzoóticas, os animais que normalmente apresentam doença
clínica são introduzidos com finalidade reprodutores, destinados ao abate ou em
transito. O gado nativo dessas áreas raramente é afetado em virtude da resistência
natural que apresentam os jovens, e a imunidade passiva via colostro que recebem
de mães imunes é gradualmente substituída por um estado de imunidade ativa.
Casos clínicos graves que ocorrem nesses animais normalmente são conseqüentes
a algum tipo de estresse, como o parto, inanição ou doença intercorrente. Tais
quebras de imunidade têm maior probabilidade de ocorrer nas infecções
concomitantes com outra espécie de parasita, particularmente Anaplasma marginale
(RADOSTITS, 2002).
3.5 FATORES AMBIENTAIS
Sabe-se que existe uma variação estacional na prevalência da babesiose
clinica, que apresenta valores mais elevados após ter a população de carrapatos
atingindo seu ponto mais alto. Por exemplo, na Inglaterra, a babesiose é uma
doença de primavera, verão e outono por essa razão. Dos fatores climáticos, a
temperatura é o mais importante em virtude do seu efeito à atividade dos carrapatos,
temperaturas mais altas aumentam essa atividade, a umidade e precipitação
pluviométrica afeta pouco. Mesmo a temperatura tem efeito limitado, uma vez que o
limiar de 7º - 10ºC de temperatura mínima é ultrapassado. Perdas grandes ocorrem
em zonas marginais, onde a população de carrapatos varia consideravelmente
conforme as condições ambientais. Nas estações em que ocorre a diminuição da
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população de carrapatos, a infecção pode desaparecer, havendo perda de
imunidade. Assim, nas estações favoráveis em que a multiplicação de carrapatos, a
infecção se propaga rapidamente naquilo que se transformou em uma população
suscetível. Situações semelhantes podem ser criadas artificialmente, ao serem
instituídos programas ineficientes de banhos carrapaticidas, capazes de reduzir a
população de carrapatos a níveis baixos, porem incapazes de mantê-la sob controle
(RADOSTITS, 2002).
3.6 IMPORTÂNCIA ECONÔMICA
A babesiose bovina, entre as referidas doenças, é a mais importante
economicamente devido às perdas diretas na produção e por motivo da restrição ao
deslocamento do gado, imposta pelas leis de quarentena. Muitos animais morrem ou
entram em longo período de convalescença, com conseqüente perda na produção
de carne e leite. Os gastos eventuais com imunização e tratamento aumentam essas
perdas econômicas. O tratamento precoce e efetivo pode reduzir a 5% o coeficiente
de mortalidade (RADOSTITS, 2002).
O coeficiente de mortalidade em surtos de babesiose eqüina é alto, porem
as perdas maiores são traduzidas pela impossibilidade de os animais de corrida ou
de esportes acometidos participarem de competições. É o que acontece
especialmente em relação ao movimento de eqüinos entre paises, com a finalidade
de participarem de competições internacionais cada vez mais freqüentes. Outro tipo
de perda é que ocorre a morte de potros infectados ainda na vida uterina. Nos anos
60, quando da ocorrência de um surto de babesiose eqüina clínica nos Estados
Unidos, de vários casos na Austrália e de diversos testes soropositivos no Reino
Unido, pensou-se estar diante de uma doença emergente que se supôs ser de
grande importância, a ponto de ameaçar a industria eqüina, o que na realidade não
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ocorreu. Os coeficientes de morbidade e mortalidade alem das perdas causadas
pela babesiose em outras espécies animais, são difíceis de terminar, em virtude de
se comportarem como doenças enzoóticas nas áreas em que ocorrem
(RADOSTITS, 2002).
3.7 PATOGÊNESE
Quando um animal se infecta, a multiplicação dos protozoários no sangue
dos vasos periféricos ou dos vasos vicerais, alcança seu ponto máximo com o
desenvolvimento de hemólise, clinicamente detectável, constituindo o principal efeito
patogênico, e ocorrendo após um período de incubação de 7 a 20 dias. A hemólise
resulta em anemia acentuada, icterícia e hemoglobinúria. A morte normalmente é a
ocorrência seguinte em conseqüência da anóxia anêmica. Os animais que
sobrevivem mais tempo apresentam alterações isquêmicas nos músculos
esqueléticos e cardíaco (RADOSTITS, 2002).
Nas infecções pela B.bovis, observa-se vasodilatação e hipotensão
acentuada, resultante da estimulação provocada por substancias vasoativas
produzidas, sendo verificado, também, um aumento da permeabilidade vascular. A
seguir, ocorre estase circulatória e choque. Alem disso, pode ocorrer, igualmente,
coagulação intravascular disseminada (CID) e, em conseqüência, trombose
pulmonar fatal, que são características (Otto M. Radostits, Clive C. Gay, Douglas C.
Blood, Kenneth W. Hinchcliff). A B.bigemina é um agente hemolítico destituído de
muita complicação, não provocando, por isso, esses efeitos vasculares e da
coagulação. Tem sido observado que, na infecção por B. bovis em bovinos, ocorre
seqüestro de eritrócitos parasitados nos capilares da substância cinzenta do
encéfalo (ZLOTNIC, 1953; CALLOW & MACGAVIN, 1963; ROGERS, 1971;
PATARROYO et al., 1982). Isso provoca eventos químicos e imunológicos que
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induzem uma manifestação clínica distinta, caracterizada por sinais neurológicos e
conhecida como babesiose cerebral (CALLOW & MACGAVIN, 1963; KESSLER et
al., 1983). Com freqüência, casos de babesiose cerebral são confundidos com
outras doenças do sistema nervoso central de bovinos, inclusive com a raiva
(BARROS, 2003).
A suscetibilidade à infecção pela Babesia ssp, diminui com a idade, porem a
gravidade da doença clinica aumenta. Por exemplo, bezerros de cinco a seis meses
de idade, infectados pela B.bovis, pouco demonstram a infecção; animais de um a
dois anos de idade apresentam doença de gravidade moderada, e vacas velhas
apresentam doença clinica grave, geralmente fatal (RADOSTITS, 2002).
Os animais que sobrevivem tornam-se portadores, condição em que é
mantida uma infecção sub-clinica, inofensiva, garantida pela existência de sensível
equilíbrio imunológico entre protozoários e anticorpos. Esse equilíbrio é rapidamente
rompido diante de situações, como estresse de transporte, privação de alimentos
prenhez e doenças concomitantes. Os animais portadores apresentam resistência à
infecção pela B.bovis por períodos de ate dois anos. Nas reinfecções freqüentes,
como as que ocorrem em áreas enzoóticas, a proteção é continua, porem a
virulência do sangue em transmissões experimentais varia em virtude do
(RADOSTITS, 2002).
desaparecimento periódico, no sangue periférico, de formas infectantes do
parasita O período de tempo em que os bovinos mantêm sua capacidade infectante
para os carrapatos é consideravelmente maior (um ano) para a B.bovis, quando
comparado com a B.bigemina (quatro a sete semanas). Por outro lado, a incidência
maior ocorre nos animais mais jovens, e a velocidade de reinfecção também é
maior, quando se trata da B.bigemina.
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Em vacas prenhes, aparentemente não ocorre infecção intra-uterina, porem
a imunidade passiva é transferida ao recém-nascido via colostral (RADOSTITS,
2002).
3.8 IMUNOLOGIA
Anticorpos contra os parasitas são produzidos, sendo utilizados no
diagnostico sorológico. Os títulos mais elevados verificam-se em soros de vacas que
sofreram a infecção e seguidas reinfecções. Todavia, o grau de imunidade resultante
não tem relação com o titulo de anticorpos. Os anticorpos podem ser passivamente
transferidos pelo soro ou colostro. A imunidade é especifica para cada cepa de
B.bovis. No entanto, quando a infecção é produzida por cepa heteróloga do parasita,
verifica-se o aumento da resposta imune (RADOSTITS, 2002).
3.9 ACHADOS CLÍNICOS
Nas infecções a campo, o período de incubação é de duas a três semanas.
Infecções sub-clinicas são razoavelmente comuns particularmente em animas
jovens. A B.begemina e B.bovis provocam síndromes agudas, clinicamente
indistinguíveis e caracterizadas pelo aparecimento súbito de febre elevada (41ºC),
anorexia, depressão, fraqueza, parada na ruminação e queda na produção de leite.
As freqüências respiratória e cardíaca mostram-se aumentadas, e a coloração
vermelho-tijolo das conjuntivas e mucosas logo se transforma na palidez extrema,
característica da anemia intensa. Nos casos terminais, observam-se icterícia intensa,
hemoglobinúria e diarréia freqüente. Os animais gravemente enfermos morrem
repentinamente, ao atingirem esse quadro, após curso de doença de apenas 24
horas. Nos sobreviventes o estado febril normalmente persiste durante uma semana,
e a duração do curso total é de aproximadamente três semanas. Vacas prenhes
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geralmente abortam e os animais sobreviventes recuperam-se de maneira gradativa
e grave emaciação e anemia, que constituem seqüelas inevitáveis (RADOSTITS,
2002).
Uma síndrome sub-aguda também pode ocorrer, particularmente em animais
jovens, com febre ligeira e ausência de hemoglobinúria. Raramente os animais
infectados pela B.bigemina apresentam babesiose cerebral, caracterizada por
incoordenação e seguida de paralisia do posterior ou por mania, convulsões e coma.
A mortalidade é alta nesses casos, apesar de instituído o tratamento (RADOSTITS,
2002).
3.10 PATOLOGIA CLINICA
O diagnostico de babesiose em animais clinicamente acometidos, baseia-se
na demonstração de dos protozoários em esfregaços de sangues capilares, corados
pelo Giemsa; sangue venoso fornece resultados falso-negativos nas infecções pela
B.bovis. Não existe correlação precisa entre o percentual de eritrócitos parasitados
(parasitemia) e a gravidade dos sinais clínicos. Também, nas infecções pela
B.bigemina, os parasitas são abundantes nos capilares periféricos; quando se trata
da B.bovis, o encontro de parasitas torna-se mais difícil. Essa dificuldade pode ser
contornada pela feitura de esfregaços sanguíneos espessos, porem, quando se
pretente maior exatidão, devem-se empregar os testes de transmissão, de
preferência realizados com bovinos esplenectomisados procedente de zonas livres
de carrapatos (RADOSTITS, 2002).
3.11 ACHADOS DE NECROPSIA
Em qualquer espécie, nos casos agudos de babesiose em que os animais
morrem após curto período de doença e durante a crise anêmica, as lesões
21
características são icterícia, sangue aquoso, tecidos descorados, aumento do baço,
que apresenta consistência mole, e fígado visivelmente aumentado, mostrando
manchas de coloração castanho-escura. A vesícula biliar apresenta-se distendida, a
bile tem aspecto viscoso e granuloso; os rins mostram-se aumentados, de cor
escura, e a bexiga contem urina de coloração castanho-avermelhado. Hemorragias
hequimoticas podem ser observadas no endocárdio, alem da excessiva quantidade
de liquido sanguinolento no interior do saco pericárdio. Coagulação intravascular
intensa constitui lesão característica, observada tanto em bovinos como em eqüinos
(RADOSTITS, 2002).
Nos casos subagudos e crônicos, a carcaça encontra emaciada, porem não
ocorre hemoglobinúria; as outras alterações, observadas nos casos agudos, também
estão presentes, mas são menos intensas. O exame laboratorial de esfregaço de
sangue periférico, de fragmentos dos rins e músculo cardíaco, bem como nos casos
suspeitos de infecção pela B.bovis de cérebro constitui procedimento fundamental
para fechar o diagnostico, os esfregaços sanguíneos e dos tecidos devem ser feitos
ate oito horas após a morte, no caso do tecido cerebral ate 28h, e corados pelo
Giemsa para a pesquisa da B.bovis (RADOSTITS, 2002).
O teste da imunofluorescência indireta feito sobre esfregaços permite a
utilização de tecidos colhidos há mais tempo. Os esfregaços de órgãos são ainda
utilizáveis ate cinco dias após a colheita, desde que conservados a 22ºC. A
morfologia do B.bigemina muda rapidamente após a morte do animal,
assemelhando-se a B.bovis. O soro sanguíneo colhido após a morte pode também
ser utilizado na detecção de anticorpos em testes sorológicos (RADOSTITS, 2002).
22
3.12 DIAGNOSTICO DIFERENCIAL
Para confirmar o diagnostico, e necessário verificar antecipadamente a
presença do carrapato vetor no local, a não ser que o animal tenha vindo de zona
enzootica no mês precedente. Clinicamente, são sugestivas da babesiose:
morbidade alta e ocorrência de casos letais entre os que apresentam icterícia,
hemoglobinúria e febre. Todavia, a confirmação do diagnostico pelo exame de
esfregaços sanguíneos ou por métodos de transmissão experimental é
indispensável. Embora os achados de necropsia, como esplenomegalia, icterícia,
hemoglobinúria, rins escuros e aumentados, alem de equimoses no fígado e
miocárdio, sejam altamente sugestivos da doença, devem ser confirmados pelo
exame e encontro, nos tecidos, dos protozoários causadores de enfermidade
(RADOSTITS, 2002).
Hematuria enzootica, Pielonefrite bovina enzootica, Teileriose tropical,
Hemoglobinúria puerperal, Hemoglobinúria bacilar, Leptospirose, Intoxicação crônica
pelo cobre são estas doenças que possuem sinais clínicos semelhantes aos
encontrados na babesiose.
3.13 TRATAMENTO
O tratamento inicial visa à destruição dos protozoários no paciente. Existem
drogas eficazes para essa finalidade em bovinos, porem a fase inicial da doença é
aguda; se o tratamento for retardado por muito tempo, o animal poderá morrer de
anemia, apesar da esterilização do sangue. Resultando a doença de uma vacinação
com vacina viva, todo cuidado deve ser tomado para evitar a completa esterilização
do sangue, antes que anticorpos sejam produzidos em quantidade suficiente para
conferir uma imunidade douradora. O tratamento não tem efeito supressor sobre os
23
protozoários que vivem no interior dos carrapatos que parasitam os bovinos nesse
momento (RADOSTITS, 2002).
Os medicamentos mais usados são: aceturato de diminazeno, dipropionato
de imidocab, diisetionato de amicarbalida e a fenamidina. A parvaquona,
buparvaquona e alovaquona foram introduzidas recentemente, tendo apresentado
bons resultados em ensaios clínicos. As tetraciclinas são amplamente empregadas,
porem sua indicação para os animais com doença aguda não é mais recomendada.
São úteis quando administradas simultaneamente com babesias vivas, funcionado
nesse caso, como quimioesterelizantes, sendo os parasitas controlados e produzida
imunização efetiva (RADOSTITS, 2002).
4. CONTROLE DA TPB (TRISTEZA PARASITARIA BOVINA )
Os métodos de profilaxia empregados para as hemoparasitoses são: o
controle dos vetores, a quimioprofilaxia, a premunição e o uso de vacinas. O controle
de carrapato constitui-se em uma medida de controle da TPB e pode ser
implementado em dois níveis: erradicação e controle estratégico. A campanha de
erradicação do carrapato B. microplus foi iniciada nos Estados Unidos em 1906 e é
mantida atualmente pela vigilância sanitária (RISTIC & MONTENEGRO-JAMES,
1988). Estudos realizados na Argentina (SIGNORINI & MATTOS, 1989) e em Porto
Rico (CROM, 1992) exemplificam áreas que têm como objetivo a erradicação do
carrapato. No Brasil, é utilizado o controle estratégico em determinadas áreas
(OLIVEIRA, 1993), mas freqüentemente, observa-se o uso indiscriminado de
produtos carrapaticidas. Com o objetivo de aumentar a produtividade, os pecuaristas
têm adotado práticas de manejo como a estabulação e a aquisição de animais com
melhor potencial genético. Essas práticas têm contribuído para a proliferação da
população de carrapatos e, assim, das áreas de instabilidade enzootica aos
24
hemoparasitos. Portanto, o carrapato não deve ser erradicado da propriedade, e sim
controlado, de forma que os animais sejam parasitados durante todo o ano com
infestações baixas, permitindo assim doses infectantes adequadas de Babesia.
O controle de carrapato, associado à imunização de animais susceptíveis,
constitui uma medida apropriada de profilaxia dessa hemoparasitose em
determinadas áreas de instabilidade enzootica. Para a anaplasmose, deve-se
manter o controle de moscas na propriedade, principalmente nas estações
chuvosas, quando a população de dípteros hematófagos é maior, controlando assim
as taxas de infecção por A. Marginale.
A quimioprofilaxia baseia-se no uso de drogas específicas em doses
subterapêuticas. Na anaplasmose, consiste em 2-4 aplicações de sub doses de
tetraciclina (2-4mg/kg/pv), pela via IM, intervaladas de 21 em 21 dias. Esse período é
estabelecido de acordo com o período de incubação da doença e pode ser
implementada a partir de 30 dias de idade do animal. As subdoses quimioterápicas
permitirão ao animal adquirir a infecção sem sinais clínicos ou com sinais brandos.
Para a babesiose, tem-se empregado o imidocarb na dosagem de 1-2mg/kg/pv, com
resultados satisfatórios (KUTTLER & JOHNSON, 1986), nos bezerros ao serem
colocados a pasto. Esse procedimento evita a presença do agente no organismo ou
mantém sua população em níveis sub clínicos, estabelecendo o estado de portador
ao animal. Apresenta a desvantagem de levar a resistência a antibióticos a outros
patógenos, como por exemplo, a Escherichia coli (HIRSH et al., 1974). A premunição
constitui-se em um método de controle muito utilizado, com a finalidade de promover
o desenvolvimento de imunidade contra as hemoparasitoses (BRASIL et al., 1982;
LIMA, 1991, NOGUEIRA et al., 1991).
25
O processo se baseia na inoculação de sangue de animal portador em
animais susceptíveis e com seu subseqüente tratamento usando drogas específicas.
Essa medida determina uma proteção à infecção, mesmo que ocorram variações
entre amostras das espécies dos hemoparasitos e, em condições tropicais, é
provavelmente o procedimento de imunização mais eficaz. Apesar da premunição
apresentar alto custo, riscos como a disseminação de doenças e a ocorrência da
“doença hemolítica do recém-nascido”, esses são mínimos se comparados àqueles
ocasionados pela introdução de bovinos susceptíveis e não protegidos em áreas
enzoóticas (LIMA, 1991). A premunição moderna consiste na utilização de inócuos
padronizados de cada agente (A. Marginale, B. bigemina e B. bovis), em geral
congelados em nitrogênio líquido. Os inócuos são produzidos em bezerros
esplenectomisados e o número de parasitas/ml de sangue é quantificado (105 a 107
hemácias parasitadas) (KESSLER et al., 1987b). Esse número de parasitos
inoculados, diretamente dependentes da virulência da amostra, torna previsível o
período em que os animais apresentarão sinais clínicos e, até mesmo, a intensidade
das infecções.
Vários métodos de vacinação têm sido desenvolvidos e estudados em
condições de laboratório e de campo, como medidas imunoprofiláticas contra a
babesiose bovina. Na maioria deles, utiliza-se como vacina sangue infectado de
animais geralmente esplenectomisados, contendo formas vivas atenuadas
(CALLOW & MELLORS, 1966) ou inativadas (TAYLOR, 1989). Outra linha de
pesquisa explora o uso de estágios de Babesia no carrapato (esporozoíto) como um
meio de indução de imunidade protetora contra essa parasitose (McELWAIN et al.,
1992). As vacinas atenuadas para B. bigemina e B. bovis são usadas, com
resultados satisfatórios, em determinados países como: Austrália, Argentina,
26
Uruguai, especialmente nas áreas de instabilidade enzootica. No Brasil, trabalhos
com o isolamento e a atenuação de amostras de campo de B. bigemina e B. bovis
foram desenvolvidos inicialmente na EMBRAPA-CNPGC, seguindo-se a metodologia
australiana (KESSLER et al., 1987a, 1987b; KESSLER e t al., 1991). Testes
avaliando a patogenicidade e imunogenicidade dessas amostras demonstraram
baixa patogenicidade para B. bovis, pois não foram observados casos de doença
clínica após vacinação.
Em relação à B. bigemina, essa amostra apresentava relativa virulência,
sendo verificada a doença clínica em alguns animais. Nesses testes, foram
demonstrados também que as duas amostras eram altamente imunogênicas,
protegendo os animais contra posterior desafio. Atualmente, existem uma vacina
comercial e outras amostras vacinais com resultados promissores em diferentes
centros de pesquisa. Em associação com as amostras atenuadas de Babesia, tem-
se utilizado o A. centrale, que confere proteção parcial contra o A. Marginale,
apresentando bons resultados (KESSLER et al., 1991). A irradiação de Babesia foi
também uma outra tentativa de desenvolvimento de vacina para o controle da
babesiose (WRIGHT, 1990). Entretanto, apesar de evidências de algum grau de
proteção contra cepas homólogas e heterólogas, essa linha de estudo não teve
continuidade. Com o advento da tecnologia do DNA recombinante, vários trabalhos
têm sido feitos para o desenvolvimento de uma nova geração de vacinas contra a
babesiose.
O primeiro teste de vacina contra B. bovis, utilizando proteína recombinante,
mostrou pequena proteção contra desafio com cepas heterólogas (TIMMS &
BARRY, 1988). Apesar dos trabalhos já realizados apresentarem sucesso limitados,
muito pesquisadores acreditam que a vacina ideal contra babesiose bovina só será
27
produzida através da biotecnologia, seja através da clonagem de genes e expressão
de proteínas recombinantes e pela síntese bioquímica de polipeptídios. Para a
anaplasmose, existem três tipos de vacinas desenvolvidas. A vacina atenuada que
utiliza amostra de A. Marginale (RISTIC et al., 1968), a qual é submetida à indução
de mutação, pela exposição à radiação e seleção após duas passagens seriadas em
cervídeos e ovelhas. Após aplicação, os animais desenvolvem resposta imunológica
humoral e celular (RISTIC & CARSON, 1977). No Brasil e em outros países, têm
sido feitos experimentos com amostra atenuada de A.marginale.
A imunidade conferida por essa vacina é capaz de diminuir as perdas
econômicas causadas pela morbidade e mortalidade após um desafio experimental
ou natural com amostras virulentas de Anaplasma. O outro tipo é a vacina inativadas
desenvolvida a partir de sangue de animais previamente inoculados no pico da
parasitemia, sendo posteriormente as células sanguíneas lavadas, lisadas e
liofilizadas (BROCK et al., 1965). No Brasil, não têm sido realizados estudos a
respeito do emprego dessa vacina e não há autorização de sua comercialização
pelas autoridades competentes. E, por último, a imunização através da espécie
Anaplasma centrale, que causa infecção branda ao animal, podendo amenizar a
severidade da infecção pelo A. Marginale. O A. centrale induz uma imunidade parcial
contra A. Marginale e vem sendo usada como vacina heterólogas, em função de sua
menor patogenicidade. Essa vacina tem sido usada em vários países e, no Brasil,
está sendo difundida pela EMBRAPA e Estado do Rio Grande do Sul (KESSLER e t
al., 1991).
28
5. CONCLUSÃO
A anaplasmose, isoladamente ou em conjunto com a babesiose, com a qual
forma o complexo “Tristeza Parasitária Bovina”, é responsável por perdas
econômicas muito importantes na pecuária mundial, afetando a performance
esperada dos animais, e limitando a produção. As perdas ocasionadas são: morte,
redução do peso corporal, atraso no crescimento, efeitos diretos no ciclo estral,
abortos e baixa fertilidade em touros (Ribeiro & Lima et al. 1995). Também ocasiona
importantes gastos com a mão de obra e com os tratamentos e manejos especiais
(SACCO, 2001). Souza et al. (2000), ressaltaram que os custos com tratamentos e
com as medidas de controle destes quadros, são responsáveis por prejuízos
superiores a um bilhão de dólares americanos anuais no Brasil.
29
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