Seminário Escoteiros do Mundo 12 a 15 de Novembro de 2015
Paris, França Relatório de participação
Autora: Fernanda Soares
O Seminário Escoteiros do Mundo, promovido pela Organização Mundial do
Movimento Escoteiro, ocorreu durante os dias 13, 14 e 15 de Novembro de 2015 em
Paris e teve como objetivos principais informar sobre as mudanças no novo guia do
Escoteiros do Mundo e trocar informações com participantes de países que já
implementam o programa em suas associações.
Ambos objetivos foram cumpridos. Ressalta-se que, além dos dois objetivos
acima citados, o seminário fomentou diversos momentos de debate acerca do
programa. Muitas questões puderam ser levantadas e pontos importantes do programa
puderam ser olhados de forma mais detalhada. Esses debates ajudam a esclarecer e
aprimorar certos aspectos do programa, caso realmente não fiquem somente nas salas
do seminário.
O seminário contou com a presença de representantes de 18 países. O clima
geral do evento foi bastante leve e descontraído, o que facilitou a troca de
informações e a formação de parcerias.
A participação do Brasil no seminário foi bastante proveitosa, tanto no que diz
respeito à obtenção das informações descritas nesse relatório quanto na oportunidade
de mostrar o sólido trabalho que tem sido feito por aqui. O painel com a matriz
metodológica que está sendo desenvolvida aqui no Brasil ficou exposto durante todo
o evento e causou bastante interesse em alguns participantes. Seria apropriado os
enviar o draft em inglês, assim que possível.
12 de Novembro
Na noite que antecedeu o início oficial do seminário, após o jantar no hotel, os
participantes foram reunidos na sede dos Escoteiros da França para realizar uma
sessão que objetivou estabelecer quais eram os objetivos do evento e quais eram as
expectativas dos participantes. Tais expectativas coincidiram bastante, ou seja,
pessoas de diferentes países, com diferentes fases de implementação do programa
estiveram ali para conhecer as novidades que a OMME traria e trocar experiências.
Foram realizadas também algumas dinâmicas de interação.
13 de Novembro
O primeiro dia do seminário começou com um relato do Dominique Bernard,
então Secretário Geral na época do lançamento do Escoteiros do Mundo em 2004.
Nesse relato, o Dominique Bernard explicou como e porque surgiu a idéia do
Escoteiros do Mundo. Haviam seis demandas que deveriam ser atendidas com a
criação do programa:
1) Revitalização das seções seniores do Movimento (Ramos Sênior e
Pioneiro, no caso brasileiro). Conseguiríamos medir a qualidade do Escotismo
auferindo o numero de jovens que vivem o Escotismo após sua saída do
Movimento. Assim, o programa teria foco especial na transição do jovem para
vida adulta, com foco numa contribuição positiva para a sociedade.
2) Parceria com a ONU, daí o uso dos Objetivos do Milênio desde a
proposta original.
3) Irmandade Universal de Serviço. O programa traria uma mudança
de mentalidade, seguindo a idéia da educação pelo amor substituindo a
educação pelo temor, trazendo a dimensão da amizade universal.
4) Educação para uma cidadania universal, com foco nos valores dos
Direitos Humanos.
5) Método Escoteiro, com o programa sendo baseado nas TRÊS fases:
explorar, responder, agir.
6) Cooperação internacional e participação juvenil. Dominique conta
que percebeu que o Escotismo tentava fazer tudo sozinho, isolado, e percebeu
que poderíamos atingir resultados mais significativos se agíssemos em
parceria com outras instituições. A participação juvenil, que permeia,
obviamente, todas as fases do programa, seria evidenciada pela participação
do jovem também na avaliação do seu próprio projeto.
Dominique Bernard explicou, ainda, que o nome do programa,
Escoteiros do Mundo, é para lembrar que é isso que somos: escoteiros do
mundo, antes de ser escoteiros do Brasil, da França, de Camarões, etc. Não
houve, contudo, qualquer menção às fontes metodológicas externas ao
Movimento Escoteiros das quais o Escoteiros do Mundo utilizou.
A sessão seguinte foi conduzida pelo Hany Abdulmonem, atual diretor de
Programa de Jovens do Bureau Mundial. Essa sessão, bastante aguardada, expôs as
novidades trazidas pelo atual guia do programa. São elas:
- Flexibilidade do Programa: a idéia é que, mantendo os itens originais
do programa, as associações podem agora modificar o conteúdo da fase de
treinamento (descobrimento). Obviamente, o objetivo educacional deve ser mantido.
- Descentralização da licença do programa: introduziu-se o formulário
online para a solicitação da implementação e criou-se um espaço no intranet para
disponibilização do material promocional, educativo, e outros.
- Revitalização da Rede Escoteiros do Mundo: percebendo que a atual
Rede tem um papel tímido no programa, a proposta da OMME é revitaliza-la. Foi
enfatizado que a Rede é um dos passos fundamentais do programa, servindo como
“fonte de experiências e treinamento.” Quando questionado sobre a possibilidade de
incluir os jovens na Rede durante a elaboração e realização do projeto para que o
benefício da troca de experiências pudesse ser incluído num projeto em andamento,
Hany Abdulmonem esclareceu que existem outras ferramentas atualmente que
cumprem esse papel (suporte ao jovem que está realizando o projeto) tais como rede
sociais, emails, e outros. A inclusão do jovem na Rede, portanto, deve permanecer no
final do projeto.
- Promoção do Escoteiros do Mundo: Ações como: foco maior no
distintivo do que na logo propriamente dita; ênfase na cor vermelha (ramo Pioneiro),
destaque para a palavra Award (premiação, prêmio) em detrimento da palavra
Program (programa) para referir-se ao Escoteiros do Mundo, para que façamos uma
diferenciação entre o Escoteiros do Mundo e o Programa Escoteiro em si.
- Recursos: O Guia Escoteiros do Mundo (jovens) e o Manual de
Implementação do Escoteiros do Mundo (Associações Escoteiras Nacionais).
- Bases: Foi enfatizado que a base é um item do programa mas que ela
pode ser flexibilizada para melhor atender as diversas realidades. Uma base é onde
realiza-se o descobrimento e ela pode ser permanente ou não.
- Foi criado um distintivo especial para os apoiadores do Escoteiros do
Mundo; similar ao do jovem, porém com uma borda azul.
Após o almoço foram apresentadas algumas experiências de diferentes países.
Destaca-se aqui a experiência da França, que foi mais detalhadamente discutida nessa
sessão. A França tem o Escoteiros do Mundo completamente integrado ao programa
do Ramo Pioneiro, desta forma, por ano, aproximadamente 1.200 jovens realizam o
programa. O programa é realizado em três fases, que tem, ao todo, 3 anos de duração:
a primeira delas consiste nas boas vindas e na formação de um time para a realização
do programa, que será executado nas duas fases posteriores. A segunda fase é a
definição do local da realização do projeto (geralmente outro pais) e a execução do
projeto em si. Esse projeto pode ser inédito, completamente desenhado pelos jovens,
ou pode ser um projeto existente no local de destino. É na segunda fase que são
realizados os “treinamentos” para a execução do projeto, similares ao que chamamos
de descobrimento. A terceira fase é a fase de avaliação do projeto. Nessa fase, dá-se
foco à avaliação individual, o seja, ainda que o projeto tenha sido realizado em grupo,
a avaliação do impacto mesmo é individual.
O jovem que não sabe qual projeto fazer ou não sabe para onde deseja ir, ou
quer saber mais sobre os projetos de outros jovens, pode acessar o site
COMPAGNONS.SGDF.FR onde há um banco de dados sobre todos os projetos.
Dessa forma, os jovens podem selecionar um projeto e juntar-se a uma equipe.
14 de Novembro
A programação do dia 14 de Novembro foi alterada em razão dos atentados
terroristas ocorridos em Paris na noite anterior. Estava prevista a realização de um
tour pela cidade apos o almoço. Esse tour foi substituído por sessões que envolviam a
divisão dos participantes em pequenos grupos temáticos para a discussão de alguns
pontos do programa. Participei dos grupos que debateram: descobrimento, identidade
visual e cerimônia de premiação e parcerias. Apenas o grupo que discutiu o
descobrimento acabou promovendo um debate razoavelmente relevante.
Coloquei questões que já haviam sido debatidas no Brasil para a discussão,
tais como o momento da definição do projeto. Sobre esse ponto, a metodologia da
OMME (seguida pela maioria dos países que apresentaram suas experiências) define
que o jovem deve sair do descobrimento evento de aproximadamente quatro dias)
com um projeto definido, incluindo aspectos como local, ação na comunidade, tempo
de duração, e outros. Tudo isso baseado nas experiências vividas apenas no
descobrimento, que é realizado num contexto específico, numa comunidade
específica. Expus que, no Brasil, a metodologia está sendo pensada de maneira
diferente nesse ponto e houve boa recepção em relação a isso. Foi enfatizado, ainda,
que o descobrimento não precisa ser feito, necessariamente, em uma das áreas de
trabalho do programa.
Os outros grupos que participei tinham um viés mais informativo do que de
debate, propriamente dito. Informações essas que já estavam disponíveis nos
materiais oficiais lançados recentemente. É compreensível que isso ocorra nesses
eventos dado o fato de que o perfil dos participantes é heterogêneo: há pessoas com
vasto conhecimento sobre o programa mas também há pessoas que estão justamente
colhendo informações para iniciar um processo de implementação do programa em
seus países. São, portanto, momentos necessários, mas que, no caso brasileiro acabam
não acrescentando muito conteúdo.
Nesse dia houve, ainda, uma apresentação da representante da UNESCO para
falar dos patrimônios culturais da humanidade e a importância de preservá-los. É
interessante frisar que, como existe uma parceria entre ONU e OMME e,
particularmente, a UNESCO e a OMME tem trabalhado juntos em diversos
programas, projetos que são realizados em locais reconhecidos como patrimônios
culturais da humanidade ganham um reconhecimento especial da OMME e da ONU.
15 de Novembro
O último dia do seminário foi dedicado à realização de fóruns abertos com
temas propostos pelos participantes. Participei de dois deles: um sobre o papel da
Rede e outro sobre a experiência da Singapura com o programa.
Sobre a Rede, levantei novamente a questão da relevância atual da mesma e a
possibilidade de inclusão dos jovens enquanto estão desenvolvendo o projeto,
proposta que será analisada pelo Bureau posteriormente. Desse fórum surgiu a idéia
da criação de um grupo de coordenadores e membros de equipes do programa, que foi
feito no Facebook. É um bom espaço de troca de informações e fonte de ajuda para
vários países, alem de um meio de manter contato e desenvolver parcerias.
No fórum sobre a experiência de Singapura foi possível conhecer um pouco
melhor sobre um dos projetos realizados naquele país que envolve a utilização do
futebol como meio de inserção social.
Apos a realização dos Fóruns, deu-se a sessão de avaliação do evento e
perguntas gerais sobre o programa. Nesse momento pude fazer algumas perguntas
sobre pontos discutidos em reuniões no Brasil que ainda não haviam sido
esclarecidos, tais como:
- Quais os elementos-chave no programa Escoteiros do Mundo que não podem
ser “modificados”, sob pena de descaracterização do mesmo?
* As fases do programa
* As horas de serviço voluntário
* As horas do descobrimento
Outros aspectos podem ser modificados; até porque existe uma clara
flexibilidade nessa proposta de atualização do programa.
- Todo o processo de reconhecimento do Escoteiros do Mundo pode ser feito
pela Associação Escoteira Nacional? Sim. E isso pode ser feito de forma
descentralizada também, ou seja, não apenas em um local do pais, mas vários locais
podem conduzir esse processo de reconhecimento.
- Os jovens que estão envolvidos de alguma forma com um projeto do
Escoteiros do Mundo mas não o estão conduzindo podem receber um “passaporte
especial”, ou um pin, ou um distintivo? Sim.
- O projeto Escoteiros do Mundo pode ser realizado por um grupo de pessoas
ou individualmente? Sim. Se for feito por um grupo de pessoas, deve-se ter em mente
que a avaliação é sempre pessoal, procurando identificar como o processo fez do
jovem uma pessoa melhor. A avaliação deve, obviamente, focar no processo e não no
resultado em si.
Após essa sessão foi realizada a avaliação final do evento e o encerramento.
Parcerias
Pude conversar bastante com pessoas da Dinamarca, Tailândia, França,
Canadá, Portugal e Singapura sobre a realização de parcerias. Esses países estão
diferentes estágios de implementação do programa; a Dinamarca, por exemplo está
iniciando agora, ao passo que a Tailândia já o aplica faz 8 anos. De qualquer forma, é
interessante promover a troca cultural com esses países, realizando projetos com
jovens de lá.
De modo geral, esses países seguem a metodologia proposta pela OMME com
poucas adaptações culturalmente necessárias. Percebi que o resultado disso é a
realização de alguns projetos com, a princípio, pouco impacto social; algo como
pintura de escolas em bairros carente, arrecadação de agasalhos, etc. Projetos muito
parecidos com o que são realizados durante um Mutirão Pioneiro ou um MutCom.
Não me parecem ser o tipo de projeto que estamos esperando dos nossos jovens no
Brasil. É por isso que vejo essas parcerias como uma excelente oportunidade de troca
cultural mas com baixo potencial para uma troca metodológica propriamente dita. De
qualquer forma os contatos foram realizados e as portas abertas.
Fotos Foto oficial em frente a Sede dos Escoteiros da França
Noite internacional (13 de Novembro)
Sessãoplenária(14deNovembro)
Paineldamatrizmetodológicaexpostoduranteoevento
Top Related