EDITORIALFazer parte de uma mudança significativa no mundo é uma possibilidade muito remota no tempo de vida de um indivíduo. Com alguma sorte (e atenção) integramos uma cadeia de mudança que pode demorar várias gerações a concretizar-se.
Mesmo assim, contra as probabili-
dades, algumas pessoas dedicam
a sua vida a ser “condutores”
de conhecimento: professores,
investigadores, intelectuais, ar-
tistas. Possuídos de um desejo de
avançar para o que agora os ultra-
passa, empreendem em estudar,
compreender e modelar o desco-
nhecido, na expectativa (entre
outras, é certo) de oferecer algo
novo, melhor, inspirador a quem
venha depois.
No “país pequeno que faz por
caber numa Europa cansada”, esse
Portugal de que falava o espetácu-
lo Cara, de Aldara Bizarro, as pes-
soas que se dedicam a tais causas
vão sendo empurradas borda fora.
Curiosamente, uma professora de
Físico-química sensível à natureza
da sua profi ssão, alertou-me mais
uma vez para a problemática do
esquecimento organizado: se uma
geração, ou duas ou três, decidir
privar os vindouros do acesso a de-
terminadas ligações numa cadeia
de conhecimentos, o futuro fi cará
empobrecido, a escolha será me-
nor, a mudança mais improvável.
Por isso, sem recato, dedicamos
estas linhas curtas aos intelectu-
ais e criadores portugueses que
silenciosamente vamos deixando
de ler, de ouvir ou de ver.
Design
Atelier Martino&Jaña
Textos de
Ema Nunes
Grécia Rodriguez &
Leonardo de Albuquerque
Joana Providência
Leonor Keil
Manuela Calheiros
Manuela Paredes
Marta Martins
JORNAL DO SERVIÇO EDUCATIVO SETEMBRO A DEZEMBRO 2014 | NÚMERO 27
Coordenação
Elisabete Paiva
Edição
Elisabete Paiva e
Sandra Barros
Produção Gráfica
Susana Sousa
Comunicação
Bruno Barreto
Marta Ferreira
Susana Magalhães
Patrícia Portela
Laboratório LURA
(conteúdos)
Lara Soares
Patrícia Portela &
Cláudia Jardim &
Sónia Baptista
Distribuição
Carlos Rego
servicoeducativo@
aoficina.pt
ISSN 1646-5652
Tiragem 3000 exemplares
TRILHOS
A Arte como Farol…Manuela Calheiros pág. 9
PISTAS
Como nasceram as Fábulas elementaresPatrícia Portela pág. 3
JORNAL DE ARTES E EDUCAÇÃO
A MONTANTE
Artemrede: Uma rede de mediação cultural inscrita no território Marta Martins pág. 4
"SE A CRIANÇA SE ELEVA ATÉ AO ADULTO ATRAVÉS DO JOGO, O ADULTO TAMBÉM NECESSITA DO JOGO PARA RECONHECER NA CRIANÇA O SEU OUTRO. QUANTO MAIS AS SOCIEDADES TENDEM A ABSORVER AS SUAS CRIANÇAS NAS SUAS PREOCUPAÇÕES ANSIOSAS, MENOS VALOR ATRIBUEM AO JOGO. QUANTO MAIS RECONHECEM A SUA AUTONOMIA, MAIS ACEITAM A IDEIA DE AS VEREM REPRESENTAR, LONGE DAS SUAS DORES E DOS SEUS TRABALHOS."ROLAND DORON, IN LE JEU DE L'ENFANT (1972)
Joana Providência e Leonor Keil *
MIRAGINAVASOBRE O PROCESSO DE
PESQUISA E CRIAÇÃO
Um dia o Miraginava bateu-me à porta
Faz talvez um ano que recebi uma
chamada da Leonor Keil a propor-me que
partilhasse consigo a reconstrução de um
espetáculo que tinha desenvolvido com a
sua Mãe. Miraginava, nome vindo de um
livro de Mia Couto, era um espetáculo de
sombras. Quando nos encontrámos para
aprofundar a ideia, a Leonor foi falando
de como se fora imbuindo do universo
de Lourdes Castro para chegar àquelas
sombras. Desta conversa, e depois do
visionamento do vídeo do espetáculo,
marcou-me a delicada e bela relação en-
tre Mãe e Filha. Talvez influenciada pela
força dessa imagem propus à Leonor o
texto Quando eu nasci, de Isabel Minhós
Martins. Neste texto, somos transporta-
dos de novo para dentro da barriga da
nossa Mãe e é daí que somos levados a
fazer uma viagem sem fim por tudo o que
não conhecíamos quando apenas vivía-
mos na barriga da nossa mãe. É como se
voltássemos a nascer, a olhar, a sentir e a
cheirar pela primeira vez.
No processo de construção de Miragi-
nava com a Margarida Gonçalves e a
Leonor, passámos horas a explorar e a
experimentar sombras; algumas dessas
improvisações surgiram de propostas
preestabelecidas, mas curiosamente
fomos muitas vezes surpreendidas por
imagens completamente mágicas, que
nos deixavam estupefactas perante
qualquer coisa que nos ultrapassava,
cativando-nos de uma forma arrebatado-
ra, como se o mundo das sombras escon-
desse pequenos segredos inimagináveis,
que nos transportam para um qualquer
espaço poético bem longe daqui.
Joana Providência
O fascínio pelas sombras é algo que me
acompanha desde muito pequena.
Perseguir e brincar, dançar e gesticu-
lar, ficar hipnotizada pela sombra é
algo que nos acontece frequentemente,
suponho eu?!
Quando eu e a minha mãe decidimos
“Brincar” e criar algo, pensámos no mun-
do mágico da Lourdes Castro. O objetivo
não só nos uniu como harmonizou o
inverno, dos dias frios surgiram imagens
para sonhar e pensar.
Num dos livros do Mia Couto encontrei
a palavra Miraginava, que não diz
nada em concreto mas ao mesmo tempo
abre portas e janelas à nossa pergun-
ta. Surgiu a vontade de desenvolver o
projeto e ampliá-lo, pensei logo na Joana
Providência que acompanho há muitos
anos, e cuja obra tem uma coerência, uma
inspiração e um universo que me fascina.
Voltou a chamar-se Miraginava, até pa-
rece que se descobriu uma palavra que
descreve as sombras nas nossas vidas.
Leonor Keil
As autoras deste texto seguem a norma do acordo
ortográfico de 1990.
…como se o mundo das sombras escondesse pequenos segredos inimagináveis, que nos transportam para um qualquer espaço poético bem longe daqui.
Num dos livros do Mia Couto encontrei a pa-lavra Miraginava, que não diz nada em concre-to mas ao mesmo tempo abre portas e janelas à nossa pergunta.
Miraginava é um espetáculo que propõe ao público de todas as idades um encontro entre a dança e as sombras. Partindo da obra da artista plástica Lourdes Castro (Funchal, 1930-), que centra a sua pesquisa na sombra de plantas, pessoas ou objetos, tendo sempre como matéria de suporte a “poesia”, Miraginava é uma viagem misteriosa ao delicioso mundo das sombras, onde o universo poético de Lourdes Castro se cruza, rasga e dilui no texto Quando Eu Nasci, de Isabel Minhós Martins (publicado pela editora Planeta Tangerina).
*
Joana Providência e Leonor Keil são
ambas mulheres “da dança” - Leonor
mais conhecida enquanto intérprete,
Joana mais conhecida enquanto
coreógrafa. Aqui se juntam, enquanto
cocriadoras de Miraginava.
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PISTAS CAMINHOS PARA FAZER JUNTOS2 | LURA
PISTAS CAMINHOS PARA FAZER JUNTOS
em parceria com Christoph de Boeck, uma
instalação para jardins sobre a relação
entre os homens e a natureza que o rodeia,
estreada no Teatro Maria Matos em 2012
(e desde então em circulação pela Europa
e nos Estados Unidos) e em conversa com
Cláudia Jardim, o outro lado deste duo que
mantém deste 2008 uma química daquelas
que não vem assinalada nas Tabelas peri-
ódicas. Falávamos então na nossa relação
deficiente não só com a natureza mas com
tudo o que produzimos ou mesmo recicla-
mos. Comecei a perguntar-me de que eram
feitas as coisas. E não foi sem espanto que
descobrimos que o vidro que entregamos
para reciclar no vidrão é moído para se
transformar em areia que depois é usada
para fazer cimento e construir prédios na
nossa cidade, e não propriamente para fa-
zer novas garrafas. As notas de 100 dólares
são feitas de calças de ganga recicladas. As
caixas de telepizza são feitas de cartão re-
ciclado a partir de documentos altamente
confidenciais dos serviços secretos Norte
Americanos. Os telemóveis precisam de
chips minúsculos feitos de elementos quí-
micos que só existem em dois ou três sítios
do mundo onde há permanente guerra civil
e onde um grama de tantalum vale mais do
que cem de ouro. E eu poderia continuar…
Ver o mundo pelas lentes do que é feito
é procurar uma nova perspectiva para
pensar sobre tudo o que gostamos mais
de ver, fazer e experimentar. Uma tabela
periódica pareceu-nos o catálogo perfeito
para iniciar essa investigação: “ O catálogo
de tudo o que pode cair em cima de um pé
e fazer mossa”. Tudo é feito de partículas,
células, átomos. Tudo é composto por ele-
mentos. Nós e as coisas. Somos todos feitos
de matéria semelhante. E é sobre isso que
falamos nas Fábulas elementares.
A autora deste texto seguem a norma do acordo ortográ-
fico de 1945.
Todos os dias nos confrontamos com varia-
dos objectos, muitos deles absolutamente
banais e que usamos diariamente e sobre
os quais pouco sabemos. Não sabemos de
que são feitos, por quem são feitos, porque
são feitos ou como vieram parar às nossas
gavetas, às nossas casas ou às nossas vidas
em geral. E quando falo de objectos não
falo só de copos, pratos, cadeiras, armá-
rios, livros; falo também de instalações
eléctricas, de canalizações de gás e água
ou incineradoras de lixo que mapeiam de
forma quase invisível os nossos dias e que
mantêm a nossa sociedade a funcionar na
ilusão de que tudo se pode resolver carre-
gando num botão.
O espectáculo Fábulas elementares nas-
ceu dessa vontade de saber o que está por
detrás desse botão, dentro do computador
mais high tech ou apenas na boneca de
borracha mais desconjuntada que ainda
guardamos com tanto afecto em casa como
se a imagem da nossa infância dependesse
dela. Todos os objectos têm uma história,
têm um passado e são o resultado de algu-
ma transformação, de alguma ideia ou de
algum processo químico ou biológico de um
ou vários materiais.
O projecto Fábulas elementares nasceu de
uma vontade de reflectir sobre a história
secreta de muitos dos objectos diários que
usamos e sobre os quais pouco sabemos.
A ideia surgiu depois de estrear Hortus,
Patrícia Portela*Como nasceram
as Fábulas elementares
*
Escritora e encenadora,
cocriadora do espetáculo
Fábulas elementares
…falo também de (objectos) que ma-peiam de forma quase invisível os nossos dias e que mantêm a nossa sociedade a funcionar na ilusão de que tudo se pode resolver carregando num botão.
Falávamos então na nossa relação deficiente não só com a natureza mas com tudo o que produzimos ou mesmo reciclamos. Comecei a perguntar-me de que eram feitas as coisas.
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A MONTANTE AS NOSSAS REFERÊNCIAS4 | LURA
sustentável e arreigada num território
geografi camente defi nido.
Destaco assim estas três ideias, as
quais, juntamente com o excerto da
nova missão da Artemrede que inicia
este texto, caracterizam o papel que
a Associação pretende desempenhar
nos próximos anos. É inquestionável
que a programação cultural continua
a ser o elemento central da razão de
ser da Artemrede. No entanto, é agora
assumida como prioridade estratégica
a aposta em projectos integrados,
“que potenciem o envolvimento
da comunidade, estimulem a
experimentação artística, o pensamento
crítico, o conhecimento e a aproximação
às artes e reforcem a participação dos
agentes culturais locais”.(1) Na verdade,
esta estratégia não é novidade no
contexto da actividade da Artemrede.
Ela tem vindo a ser desenvolvida de
forma reiterada ao longo dos últimos
anos. No entanto, o que é assumido
agora de forma clara é que as propostas
de mero acolhimento serão consideradas
em segundo plano face à promoção de
projectos que tenham como premissa
a mediação entre a obra artística e as
comunidades às quais se dirige. Citando
o fi lósofo Jacques Rancière: “É preciso
um teatro sem espectadores, no qual
quem assiste aprenda, em vez de ser
seduzido por imagens, na qual quem
assiste se torne participante activo, em
vez de ser um voyeur passivo.” (2)
O desenvolvimento de projectos de arte
comunitária tem sido, efectivamente,
uma das apostas da programação da
Artemrede. O caso do espectáculo
Vale, de Madalena Victorino, foi de tal
forma marcante junto das populações
que envolveu (e falo não apenas dos
participantes locais, mas das próprias
equipas dos teatros) que, passados
quase cinco anos da estreia, ainda
encontramos ecos da sua passagem
pelo território. De igual forma, a
Marta Martins*
Criada em 2005 para apoiar os
seus membros na programação
dos teatros e cine-teatros recém-
reabilitados da região de Lisboa e
Vale do Tejo, a Artemrede assume-se
actualmente como um projecto de
cooperação cultural com a missão
de desenvolvimento dos territórios
onde actua. Na verdade, nestes quase
dez anos de funcionamento, o papel
da Artemrede, a sua missão e os seus
objectivos foram alvo de contínuo
debate interno e externo: uma rede
de programação? Uma central de
compras? Um projecto político, artístico
e/ou económico? Independentemente
da maior ou menor relevância de
algumas destas discussões, tudo isto
foi alvo de refl exão durante o processo
de planeamento estratégico que a
Artemrede desencadeou este ano tendo
em vista o horizonte 2015-2020. Este
processo, amplamente participado pelos
Associados da Artemrede, contou ainda
com contributos externos valiosos,
provenientes das mais diversas áreas
de intervenção na sociedade, num
Encontro realizado em Abril passado.
Surgiram assim doze orientações
estratégicas, as quais comunicam uma
Artemrede que se pretende mais aberta
ao exterior, politicamente mais forte
e com uma maior capacitação técnica.
Uma rede de mediação cultural assente
na promoção das artes (amplamente
entendidas), coesa e fi nanceiramente
Artemrede: Uma rede de mediação cultural inscrita
no território
É inquestionável que a programação cultural continua a ser o elemento central da razão de ser da Artemrede. No entanto, é agora assumida como prioridade estratégica a aposta em projectos integrados, “que potenciem o envolvimento da comunidade…”
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5 | LURAA MONTANTE AS NOSSAS REFERÊNCIAS
Artemrede tem vindo a aumentar a
oferta das suas propostas de carácter
educativo e pedagógico, as quais têm
sido importantes instrumentos de
comunicação com públicos organizados e
famílias. No entanto, esta programação
deve agora evoluir de uma proposta
paralela aos espectáculos apresentados
nos teatros, para uma programação
integrada, que tenha em conta factores
e dinâmicas locais. Deveras, o território
onde a Artemrede actua é social e
culturalmente distinto, com diferentes
níveis de experiência, investimento
e reflexão no campo das artes e da
cultura. O conhecimento desse território
e a constituição de parcerias locais
são, assim, elementos essenciais para
o cumprimento dos objectivos a que a
Artemrede se propõe. É evidente que
os projectos artísticos não funcionam
de igual forma nos treze concelhos que
constituem a Artemrede e onde existem
realidades tão díspares que influenciam
de forma determinante a boa recepção
das propostas. Neste sentido, uma
relação de proximidade e confiança
com os programadores e equipas dos
teatros e de outros equipamentos
culturais integrantes da Artemrede
é fundamental. Mas, para além dos
profissionais dos Associados, afigura-
se agora como importante a criação
de parcerias locais que aprofundem
essa relação com o território e o
conhecimento das suas dinâmicas e
dos seus agentes. Uma escola, uma
associação ou uma empresa podem ser
aliados indispensáveis na construção de
projectos artísticos com ramificações de
ordem social, pedagógica, ou outras.
Ressalvo, no entanto, que o que se
pretende com a mediação dos projectos
artísticos não é uma transmissão do
saber (técnico, intelectual) do artista
perante o espectador/receptor nem, por
outro lado, a utilização indiscriminada
e, por vezes, artificial, de participantes
amadores em projectos de artistas
profissionais. Pelo contrário, a mediação
que pretendemos tem necessariamente
que constituir-se como um diálogo, no
qual ambas as partes contribuem e
participam no mesmo nível hierárquico,
embora, obviamente, desempenhando
diferentes papéis.
Volto, assim, a Rancière, quando afirma
que o espectáculo, a performance, a
obra artística “não é a transmissão
do saber ou do respirar do artista ao
espectador. É antes essa terceira coisa
de que nenhum deles é proprietário, da
qual nenhum deles possui o sentido”(3).
É, assim, este o caminho que traçámos
e que desenvolveremos nos próximos
anos. É seguro, no entanto, de que ele
só será bem sucedido se contarmos
com um rede forte e coesa de membros,
parceiros e cúmplices estratégicos.
A autora deste texto segue a norma do acordo ortográfico de 1945.
Uma escola, uma associação ou uma empresa podem ser aliados indispensáveis na construção de projectos artísticos com ramificações de ordem social, pedagógica, ou outras.
*
Diretora Executiva da
Artemrede
(1) Artemrede - Orientações Estratégicas 2015-2020, pág. 8.(2) Rancière, Jacques (2010), O espectador emancipado, Lisboa: Orfeu Negro, pág. 10.(3) Idem, pág. 25.
LABORATÓRIO PARA METER AS MÃOS NA MASSA6 | LURA
A Patrícia Portela, a Claúdia Jardim e
a Sónia Baptista fazem teatro, dança,
cinema, e escrevem noutros projetos
como o Teatro Praga ou a Prado e juntas
são um trio com muita química, daquela
que não vem nas tabelas periódicas mas
que é tão fundamental como o oxigénio.
Os espetáculos que fazem são jogos,
armadilhas, peripécias e sobretudo
“coisas” que se transformam noutras e
que são acessíveis para qualquer idade.
Para este projeto inventaram, expe-
rimentaram e aprenderam sobre os
materiais e partilham aqui algumas das
suas experiências assim como algumas
perguntas que as fascinaram. Ainda não
conseguiram transformar o chumbo em
ouro mas tentam fazê-o todos os dias
com a criação de novos espectáculos e
novos livros.
Ingredientes1 jarra comprida
mel
detergente
água
óleo de fritar batatas fritas
álcool etílico
parafina
Num jarro colocar primeiro uma camada
de mel, depois uma camada de detergen-
te, depois deitar água por cima até fazer
mais uma camada, de seguida o óleo,
depois o álcool e finalmente a parafina –
irão reparar que os diferentes ingredien-
tes nunca se misturam ficando separados
uns dos outros e criando uma espécie de
arco-íris de densidades.
http://www.stevespanglerscience.com/
lab/experiments/seven-layer-density-
column
Ingredientes
Para a Massa:
Para cada camada colorida (serão 7
camadas no total!)
1 iogurte de sabor tuti-fruti
4 ovos
Usando o copo do iogurte como medida:4 copos de açúcar
4 copos de farinha de trigo peneirada
com fermento
½ copo de óleo de girassol
1 colher (chá) de corante, escolhendo uma
das seguintes cores: azul, verde, amarelo,
rosa, roxo, vermelho e laranja
Para a Cobertura:
500 gramas de natas para bater bem
frias
2 colheres de sopa de açúcar
¼ xícara (chá) de essência de baunilha
Preparação
A primeira coisa a fazer é ligar o forno a
1800C para que quando lá coloques o bolo
ele esteja bem quentinho!
Coloca os ovos numa bacia e bate durante
3 minutos.
Adiciona o iogurte, o açúcar e o óleo sem
parar de bater.
Quando conseguires um creme, diminui a
velocidade e junta a farinha envolvendo
bem todos os ingredientes.
Coloca 1 colher (chá) de corante colorido
e mistura bem.
A massa está pronta !!!
Após untar e enfarinhar uma forma
redonda ou quadrada despeja a mistura
e leva ao forno por aproximadamente 30
minutos a 1800C.
Espeta um palito e se ele sair seco é por-
que o bolo está pronto! Retira do forno e
deixa arrefecer. Repete a operação com
todas as massas.
Empratar
Escolhe um prato muito bonito, que
seja grande o suficiente para que o bolo
fique seguro.
Um a um, coloca os bolos sobrepostos e
alinhados. Talvez seja necessário aparar
as pontas com uma faca grande (pede
ajuda a um adulto!).
Por fim, a cobertura!
Bate as natas com a essência de baunilha
e com as colheres de açúcar.
Cobre o bolo com as natas e serve a toda
a família!!!
EXPERIÊNCIA 1 A DENSIDADE DAS ÁGUAS
EXPERIÊNCIA 2 BOLO ARCO-ÍRISUma receita para domingo à tarde…
Experiência 1 Patrícia
Portela, Claudia Jardim
e Sónia Baptista
Experiências 2 e 3
Lara Soares
7 | LURALABORATÓRIO PARA METER AS MÃOS NA MASSA
Se desenharmos uma linha que atra-
vessa esta folha de papel e a divide em
duas partes iniciamos o nosso exercício.
Agora temos o lugar dos de cima e o lugar
dos de baixo…
Mas quem são os de cima e quem são os
de baixo? O que existe nestes lugares?
Pessoas? Objetos? Cores? Animais?
Será que os de baixo sobem e os de cima
descem? Conseguimos desenhar um túnel
que liga os dois lugares? E se virarmos a
folha ao contrário, o que acontece?
EXPERIÊNCIA 3 OS DE CIMA E OS DE BAIXO*
*Os de cima e os de baixo, de Paloma Valdivia, é um livro recomendado pelo Plano Nacional de Leitura, editado pela Kalandraka Portugal em 2009. Podes ler ao alto
ou de pernas para o ar… Mas tens mesmo de o espreitar, porque te ajudará a viajar neste exercício de desenho que aqui te propomos.
LIVRE COMO UM LIVRO
para esse desenvolvimento pessoal,
escolar e profi ssional dos jovens que
se revelaram cidadãos sensíveis, ativos
e interventivos.
O poder da palavra está, sem dúvida, na
forma como a vivemos e como fazemos os
outros vivê-la!
Manuela Paredes
O primeiro contacto com o projeto
“Livre com um livro” fez-se através do
convite do coordenador do Núcleo de
Estudos 25 de Abril, o Prof. Amadeu
Faria, ao qual a EB 2/3 D. Afonso
Henriques respondeu afi rmativamente.
Quem poderia resistir a um tema tão
entusiasmante?
Mãos à obra! Havia que selecionar
poesias de intervenção e talentos
e motivar alunos para a leitura
(na Biblioteca Escolar e nas aulas
de Educação para a Cidadania e
Português). Além disso, era fundamental
descodifi car o conteúdo dos poemas e
aperfeiçoar a dicção. Em suma: dar às
palavras a dimensão que requeriam!
«O teatro é o palco do mundo», como
dizia Shakespeare, e é essencial para
olharmos a vida com outra dimensão e
engrandecermo nos. Eis o mote dos que
aderiram à iniciativa, trocando algumas
manhãs da interrupção letiva da Páscoa
para conviver e aprender com diretores
artísticos no palco privilegiado do
pequeno auditório do CCVF.
A experiência foi rica pelas ferramentas
importantíssimas do campo do teatro
que facultou: exercícios corporais e de
voz, concentração, posicionamento,
controlo das palavras, autoestima,
capacidade de absorver o sabor do
texto poético — um dos conteúdos
programáticos transversal a todos os
níveis de escolaridade —, interação com
discentes da ESFH [Escola Secundária
Francisco de Holanda, também
participante] e ensinamentos da
companhia que nos recebeu.
No dia 1 de maio, o Palco foi deles e
gostaram!
Desejamos que projetos similares se
repitam, com periodicidade, pois são
aliados efi cazes do processo de ensino
aprendizagem. Ajudaram-nos a dar mais
voz à palavra escrita e oral. De facto,
foi extremamente proveitoso vermos os
alunos a agirem num contexto exterior à
sala de aula, soltando talentos.
Ema Nunes
As autoras deste texto seguem a norma do acordo ortográfi co de 1990.
Manuela Paredes* e Ema Nunes **
*
professora bibliotecária da
Escola Secundária Francisco
de Holanda
**
professora bibliotecária
da Escola EB2,3 D. Afonso
Henriques
A Escola tem como um dos objetivos
fundamentais, desenvolver, nos jovens,
um domínio da língua com o máximo
de efi cácia, quando fala, ouve falar,
lê e escreve. Então, se se pretende
que no fi nal do seu percurso escolar,
os alunos se tornem ouvintes ativos e
críticos, bem como falantes capazes
de adequar as variedades da língua
oral às circunstâncias da comunicação,
possuidores de uma capacidade
comunicativa efi caz, é fundamental
que essa mesma Escola lhes possibilite
a participação em situações de
intercâmbio oral onde possam expor,
argumentar, explicar e debater com os
pares e com os adultos sobre os mais
vários conteúdos da vida escolar e/ou
extraescolar.
É, neste contexto, e consciente da
importância do desenvolvimento
da interação oral para a formação
integral do aluno, que a Escola se
abre à comunidade, respondendo
afi rmativamente aos desafi os do
Serviço Educativo do Centro Cultural
Vila Flor, e tendo, desta vez, um outro
parceiro, o Núcleo de Estudos 25 de
Abril. As bibliotecas das escolas sede
do Agrupamento de Escolas Francisco
de Holanda e Agrupamento Vertical
de Escolas D. Afonso Henriques
participaram no projeto “Livre como
um livro”.
Nos dias 14, 16 de abril e 1 de maio,
um grupo de professores e alunos
encontraram-se no Centro Cultural Vila
Flor para desenvolver o projeto proposto.
Tratava-se de trabalhar o texto poético
com os alunos, que haviam já escolhido,
com os professores, um poema
subordinado ao tema “liberdade”. Para
isso, contaram com o Igor Gandra e a
Carla Veloso, do Teatro de Ferro.
À semelhança de outros trabalhos
desenvolvidos com o CCVF, desta feita,
o teatro associou-se à Escola, para
desenvolver/aperfeiçoar e usufruir
do prazer de sentir as palavras e a
importância da expressão corporal, que
a completa. Esta experiência inovadora,
que levou os jovens da sala de aula
para o palco do CCVF, marcá-los-á pela
refl exão sobre o poder da palavra dita.
A comunicação é um todo, constituído
pela palavra, pela entoação que lhe é
dada, pela força que lhe é conferida,
que se completa com a expressão
corporal, com a cumplicidade entre
pares. Este projeto desenvolveu, com
profi ssionais do mundo do teatro, essas
competências, transmitindo aos jovens
a paixão pela palavra dita, como se, eles
próprios, se transformassem em atores,
a prepararem-se para o palco da vida.
O trabalho desenvolvido contribuiu
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LIVRE COMO LIVRE COMO UM LIVROUM LIVRO
para esse desenvolvimento pessoal, para esse desenvolvimento pessoal,
escolar e profi ssional dos jovens que escolar e profi ssional dos jovens que
se revelaram cidadãos sensíveis, ativos se revelaram cidadãos sensíveis, ativos
e interventivos.e interventivos.
O poder da palavra está, sem dúvida, na O poder da palavra está, sem dúvida, na
forma como a vivemos e como fazemos os forma como a vivemos e como fazemos os
outros vivê-la!outros vivê-la!
Manuela ParedesManuela Paredes
O primeiro contacto com o projeto O primeiro contacto com o projeto
“Livre com um livro” fez-se através do “Livre com um livro” fez-se através do
convite do coordenador do convite do coordenador do Núcleo de Núcleo de
Estudos 25 de AbrilEstudos 25 de Abril, o Prof. Amadeu , o Prof. Amadeu
Faria, ao qual a EB 2/3 D. Afonso Faria, ao qual a EB 2/3 D. Afonso
Henriques respondeu afi rmativamente. Henriques respondeu afi rmativamente.
Quem poderia resistir a um tema tão Quem poderia resistir a um tema tão
entusiasmante? entusiasmante?
Mãos à obra! Havia que selecionar Mãos à obra! Havia que selecionar
poesias de intervenção e talentos poesias de intervenção e talentos
e motivar alunos para a leitura e motivar alunos para a leitura
(na Biblioteca Escolar e nas aulas (na Biblioteca Escolar e nas aulas
de Educação para a Cidadania e de Educação para a Cidadania e
Português). Além disso, era fundamental Português). Além disso, era fundamental
descodifi car o conteúdo dos poemas e descodifi car o conteúdo dos poemas e
aperfeiçoar a dicção. Em suma: dar às aperfeiçoar a dicção. Em suma: dar às
palavras a dimensão que requeriam!palavras a dimensão que requeriam!
«O teatro é o palco do mundo», como «O teatro é o palco do mundo», como
dizia Shakespeare, e é essencial para dizia Shakespeare, e é essencial para
olharmos a vida com outra dimensão e olharmos a vida com outra dimensão e
engrandecermo nos. Eis o mote dos que engrandecermo nos. Eis o mote dos que
aderiram à iniciativa, trocando algumas aderiram à iniciativa, trocando algumas
manhãs da interrupção letiva da Páscoa manhãs da interrupção letiva da Páscoa
para conviver e aprender com diretores para conviver e aprender com diretores
artísticos no palco privilegiado do artísticos no palco privilegiado do
pequeno auditório do CCVF. pequeno auditório do CCVF.
A experiência foi rica pelas ferramentas A experiência foi rica pelas ferramentas
importantíssimas do campo do teatro importantíssimas do campo do teatro
que facultou: exercícios corporais e de que facultou: exercícios corporais e de
voz, concentração, posicionamento, voz, concentração, posicionamento,
controlo das palavras, autoestima, controlo das palavras, autoestima,
capacidade de absorver o sabor do capacidade de absorver o sabor do
texto poético — um dos conteúdos texto poético — um dos conteúdos
programáticos transversal a todos os programáticos transversal a todos os
níveis de escolaridade —, interação com níveis de escolaridade —, interação com
discentes da ESFH [Escola Secundária discentes da ESFH [Escola Secundária
Francisco de Holanda, também Francisco de Holanda, também
participante] e ensinamentos da participante] e ensinamentos da
companhia que nos recebeu. companhia que nos recebeu.
No dia 1 de maio, o Palco foi deles e No dia 1 de maio, o Palco foi deles e
gostaram!gostaram!
Desejamos que projetos similares se Desejamos que projetos similares se
repitam, com periodicidade, pois são repitam, com periodicidade, pois são
aliados efi cazes do processo de ensino aliados efi cazes do processo de ensino
aprendizagem. Ajudaram-nos a dar mais aprendizagem. Ajudaram-nos a dar mais
voz à palavra escrita e oral. De facto, voz à palavra escrita e oral. De facto,
foi extremamente proveitoso vermos os foi extremamente proveitoso vermos os
alunos a agirem num contexto exterior à alunos a agirem num contexto exterior à
sala de aula, soltando talentos.sala de aula, soltando talentos.
Ema NunesEma Nunes
As autoras deste texto seguem a norma do acordo As autoras deste texto seguem a norma do acordo ortográfi co de 1990.ortográfi co de 1990.
Manuela Paredes* Manuela Paredes* e Ema Nunes ** e Ema Nunes **
* *
professora bibliotecária da professora bibliotecária da
Escola Secundária Francisco Escola Secundária Francisco
de Holanda de Holanda
** **
professora bibliotecária professora bibliotecária
da Escola EB2,3 D. Afonso da Escola EB2,3 D. Afonso
HenriquesHenriques
A Escola tem como um dos objetivos A Escola tem como um dos objetivos
fundamentais, desenvolver, nos jovens, fundamentais, desenvolver, nos jovens,
um domínio da língua com o máximo um domínio da língua com o máximo
de efi cácia, quando fala, ouve falar, de efi cácia, quando fala, ouve falar,
lê e escreve. Então, se se pretende lê e escreve. Então, se se pretende
que no fi nal do seu percurso escolar, que no fi nal do seu percurso escolar,
os alunos se tornem ouvintes ativos e os alunos se tornem ouvintes ativos e
críticos, bem como falantes capazes críticos, bem como falantes capazes
de adequar as variedades da língua de adequar as variedades da língua
oral às circunstâncias da comunicação, oral às circunstâncias da comunicação,
possuidores de uma capacidade possuidores de uma capacidade
comunicativa efi caz, é fundamental comunicativa efi caz, é fundamental
que essa mesma Escola lhes possibilite que essa mesma Escola lhes possibilite
a participação em situações de a participação em situações de
intercâmbio oral onde possam expor, intercâmbio oral onde possam expor,
argumentar, explicar e debater com os argumentar, explicar e debater com os
pares e com os adultos sobre os mais pares e com os adultos sobre os mais
vários conteúdos da vida escolar e/ou vários conteúdos da vida escolar e/ou
extraescolar. extraescolar.
É, neste contexto, e consciente da É, neste contexto, e consciente da
importância do desenvolvimento importância do desenvolvimento
da interação oral para a formação da interação oral para a formação
integral do aluno, que a Escola se integral do aluno, que a Escola se
abre à comunidade, respondendo abre à comunidade, respondendo
afi rmativamente aos desafi os do afi rmativamente aos desafi os do
Serviço Educativo do Centro Cultural Serviço Educativo do Centro Cultural
Vila Flor, e tendo, desta vez, um outro Vila Flor, e tendo, desta vez, um outro
parceiro, o parceiro, o Núcleo de Estudos 25 de Núcleo de Estudos 25 de
AbrilAbril. As bibliotecas das escolas sede . As bibliotecas das escolas sede
do Agrupamento de Escolas Francisco do Agrupamento de Escolas Francisco
de Holanda e Agrupamento Vertical de Holanda e Agrupamento Vertical
de Escolas D. Afonso Henriques de Escolas D. Afonso Henriques
participaram no projeto “Livre como participaram no projeto “Livre como
um livro”.um livro”.
Nos dias 14, 16 de abril e 1 de maio, Nos dias 14, 16 de abril e 1 de maio,
um grupo de professores e alunos um grupo de professores e alunos
encontraram-se no Centro Cultural Vila encontraram-se no Centro Cultural Vila
Flor para desenvolver o projeto proposto.Flor para desenvolver o projeto proposto.
Tratava-se de trabalhar o texto poético Tratava-se de trabalhar o texto poético
com os alunos, que haviam já escolhido, com os alunos, que haviam já escolhido,
com os professores, um poema com os professores, um poema
subordinado ao tema “liberdade”. Para subordinado ao tema “liberdade”. Para
isso, contaram com o Igor Gandra e a isso, contaram com o Igor Gandra e a
Carla Veloso, do Teatro de Ferro.Carla Veloso, do Teatro de Ferro.
À semelhança de outros trabalhos À semelhança de outros trabalhos
desenvolvidos com o CCVF, desta feita, desenvolvidos com o CCVF, desta feita,
o teatro associou-se à Escola, para o teatro associou-se à Escola, para
desenvolver/aperfeiçoar e usufruir desenvolver/aperfeiçoar e usufruir
do prazer de sentir as palavras e a do prazer de sentir as palavras e a
importância da expressão corporal, que importância da expressão corporal, que
a completa. Esta experiência inovadora, a completa. Esta experiência inovadora,
que levou os jovens da sala de aula que levou os jovens da sala de aula
para o palco do CCVF, marcá-los-á pela para o palco do CCVF, marcá-los-á pela
refl exão sobre o poder da palavra dita.refl exão sobre o poder da palavra dita.
A comunicação é um todo, constituído A comunicação é um todo, constituído
pela palavra, pela entoação que lhe é pela palavra, pela entoação que lhe é
dada, pela força que lhe é conferida, dada, pela força que lhe é conferida,
que se completa com a expressão que se completa com a expressão
corporal, com a cumplicidade entre corporal, com a cumplicidade entre
pares. Este projeto desenvolveu, com pares. Este projeto desenvolveu, com
profi ssionais do mundo do teatro, essas profi ssionais do mundo do teatro, essas
competências, transmitindo aos jovens competências, transmitindo aos jovens
a paixão pela palavra dita, como se, eles a paixão pela palavra dita, como se, eles
próprios, se transformassem em atores, próprios, se transformassem em atores,
a prepararem-se para o palco da vida. a prepararem-se para o palco da vida.
O trabalho desenvolvido contribuiu O trabalho desenvolvido contribuiu
© D
irei
tos
Res
erva
dos
© D
irei
tos
Res
erva
dos
8 | LURA TRILHOS MARCAS QUE FICARAM E QUEREMOS PARTILHAR
TRILHOS MARCAS QUE FICARAM E QUEREMOS PARTILHAR 9 | LURA
que frequentemente não vemos, seja que está ao nosso lado, seja nas profundezas da história da humanidade…Permite-nos ver que não estamos sozinhos… que há outros que sentem ou veem como nós, aqui ou no outro lado do mundo… hoje como ao longo dos tempos…”A Arte como farol desenvolveu-se em
quatro sessões de duas horas com cada
turma inscrita, sempre antecedidas de
um momento exclusivo para os professo-
res, normalmente na semana anterior, no
qual dávamos inputs específi cos para o
seguimento do trabalho, de acordo com o
nosso conhecimento das turmas e as suas
inquietações pessoais.
Os temas foram variados A arte como lugar de resistência, de liberdade…; A arte faz-se para transformar as imagens do quotidiano… para tornar visível…; A arte faz-se para dizermos o que não podemos dizer de outra forma… e Visita à exposição patente no CIAJG. Ao longo
destas sessões, falamos do valor do si-
lêncio, da importância do saber escutar,
refl etimos através das palavras de Daniel
Barenboim que “tudo está ligado” e que a
música pode ser um elemento facilitador
da comunicação e do diálogo entre os po-
vos, descobrimos pela voz de Huxley que
“a experiência não é o que nos acontece mas sim o que fazemos com o que nos acontece”; desta refl exão saltamos para
outras como o que signifi ca ser “génio”,
ou como é que o ato criativo é vivenciado
pelos diferentes autores, pintores, poe-
tas…. Depois, houve tempo também para
pensar sobre a importância do saber e o
perigo da ignorância e como é que a arte
nos ajuda a ver e a sentir isto melhor, nes-
se contexto também se pensou sobre o
valor da liberdade e sobre a importância
da rebeldia consciente.
Os alunos e os professores que participa-
ram neste projeto querem, aqui e agora,
deixar o testemunho desta parceria; com
certeza que haveria muito mais para
dizer mas, por vezes, é difícil transmitir
por palavras algumas das emoções que
vivemos e experimentamos. Além disso,
algumas delas queremos guardá-las nas
caixinhas das nossas memórias e das nos-
sas vivências…
“A Arte como Farol foi um projeto inten-
samente enriquecedor no qual foi não só
promovida a aquisição de conhecimentos
acerca da arte, como a partilha de experi-
ências, sentimentos e pontos de vista. Em
cada sessão o tema era apenas um ponto
de partida para uma viagem cujo fi m não
era o destino mas a própria viagem. Ao
abrirmos a mente, o coração, descobrimos
dentro de nós características e emoções
que nos eram desconhecidas até então.
Assim, a arte é apenas um ponto de par-
tida, uma linha guia, que nos acompanha
na hora da viagem ao longo da vida. Mais
importante ainda é não esquecer a ideia
de que a arte não é reservada para ape-
nas um grupo específi co, pelo contrário,
é uma companheira disponível para qual-
quer Homem que mantenha o seu coração
aberto aos corações dos outros.”
Inês Miguel
A ARTE COMO FAROL…
Confrontados com um desafi o oriun-
do do CIAJG – Centro Internacional
das Artes José de Guimarães [Serviço
Educativo d’A Ofi cina], os docentes da
Escola Secundária de Caldas das Taipas
dos conselhos de turma dos 12o anos do
Curso Cientifi co-Humanístico de Artes
Visuais consideraram que seria motiva-
dor e enriquecedor que os seus alunos
participassem no Projeto A Arte como
farol e o tivessem como tema centraliza-
dor do seu Plano de Turma.
Para que este projeto fosse possível, e em
primeira instância, tivemos a aceitação
dos órgãos de gestão da Escola, sendo,
desde logo, um elemento facilitador do
processo. Depois foi a vez dos alunos,
ainda que alguns, inicialmente, algo
apreensivos, nos tenham dado “carta
branca” e confi ado na nossa experiência
pois, tal como nós, acreditaram que este
Projeto lhes poderia vir a proporcionar
momentos de refl exão sobre temáticas do
seu mundo, a arte, e poder-lhes-ia per-
mitir questionar o que à partida poderia
parecer resolvido, contribuindo para a
partilha de experiência e para a constru-
ção do saber.
Estes desafi os contribuem para nos
desassossegar, alterando quotidianos
fossilizados, quebrando rotinas. Contri-
buem também para que nos espantemos
com o mundo, para vermos nele uma eter-na novidade. E foi com estes pressupos-
tos que acreditamos nas palavras que a
promotora do projeto colocou na sinopse
de apresentação e quisemos segui-las: “A Arte como farol é um programa formati-vo concebido para o ensino secundário, que parte da ideia de que a arte, tal como um farol, nos ajuda a encontrar o nosso lugar, a situar-nos – aponta caminhos possíveis, fortalece escolhas e pode até salvar. Torna visível, ilumina, o
Manuela Calheiros*e alunos da Escola
Secundária de Caldas das Taipas
Estes desafi os contribuem para nos desassossegar, alterando quotidia-nos fossilizados, quebrando roti-nas. Contribuem também para que nos espantemos com o mundo, para vermos nele uma eterna novidade.
«Por que é bela a arte? Porque é inútil. Por que é feia a vida? Porque é toda fi ns e propósitos e intenções. Todos os seus caminhos são para ir de um ponto a outro. Quem nos dera o caminho feito de um lugar donde ninguém parte para um lugar para onde ninguém vai! Quem desse a sua vida a construir uma estrada começando no meio de um campo e indo ter ao meio de um outro; que, prolongada, seria útil, mas que fi cou, sublimemente, só o meio de uma estrada.»in Livro do Desassossego (330), Bernardo Soares
*
Docente de português
na Escola Secundária de
Caldas das Taipas
UMA CAMINHADA DE ELEFANTES
PARA ENTENDER A VIDA E A MORTE
Viver a partida de um ser querido na
família talvez seja o primeiro momento
de contacto que uma criança possa ter
com a morte. Justamente, desse mundo
das sensações que gera um processo
natural mais inesperado como a morte,
tratou a A Caminhada dos Elefantes,
uma proposta teatral que fala sobre o
signifi cado do início e fi m da vida. Este
espetáculo inspira-se na história verí-
dica de um homem de nome Lawrence e
de uma manada de elefantes da África
do Sul. Quando ele morre, os elefantes
fazem uma caminhada misteriosa a sua
casa, para lhe prestarem uma última
homenagem.
Miguel Fragata e Inês Barahona foram
os responsáveis por esta criação artís-
tica. Ambos colocaram como premissa
que as crianças são seres humanos
plenos, competentes e, por isso, é ne-
cessário abordar todos os temas que as
afetam, inclusive a morte. “As crianças
têm um entendimento muito grande,
são capazes de absorver informação e
estímulo como um adulto pode fazer.
Nós sentimos, junto delas, uma relação
de igualdade. É uma troca de saberes”.
Assim sublinha Miguel, que teve a
responsabilidade de uma atuação im-
pecável frente às crianças, professores
e pais que assistiram. Inês, criadora e
encenadora, destacou que existem cer-
tos desafi os que devem estar presentes
como elementos de construção em toda
a peça de qualidade para crianças: “É
preciso que elas se sintam confortáveis
e envolvidas, que tenham surpresas e
momentos de participação. As crianças
ajudam-nos com o seu pensamento sin-
gular, misturam coisas impossíveis de
acordo com as regras da lógica”.
Grécia Rodríguez e Leonardo de Albuquerque*
E alunos do Colégio Luso-Internacional
de Braga
TRILHOS MARCAS QUE FICARAM E QUEREMOS PARTILHAR10 | LURA
“Este farol guiou-me ajudando-me a
perceber e aceitar certas obras como arte.
Desta forma, no futuro, as minhas esco-
lhas serão mais ponderadas, contribuin-
do para a realização de alguns sonhos.
Todas as sessões foram profícuas pois
tanto me ajudaram a mim como àqueles
que me rodeiam, uma vez que as experi-
ências que recebi, levei-as para um retiro
para partilhar com um grupo de jovens ao
qual pertenço.”
Cláudia Antunes
“Este projeto ajudou-me a adquirir novos
conhecimentos sobre o que é a arte. Tal
como o farol que com a sua forte luz alcan-
ça quilómetros de visão, a arte também
é assim penetra no interior humano e
ajuda-nos a descobrir o verdadeiro signi-
fi cado desta simples palavra que designa-
mos como arte.”
Marta Castro e Carlos Barbosa
“Arte como farol, assim como o farol pre-
tende iluminar o caminho dos barcos no
mar, este projeto iluminou todos aqueles
que nele participaram.
Aprender a olhar a arte de vários pontos,
de forma a termos outra visão do mundo
ajuda-nos a perceber melhor a sociedade
e o mundo que nos rodeia, pois a arte é um
espelho da sociedade. Com este projeto
senti-me fortalecida pois descobri outras
formas de entender e ver o mundo e isso
contribuiu para fi car mais consciente de
mim, dos outros e dos meus sonhos.”
Rita Mendes
“O projeto Arte como Farol contribuiu
para o nosso crescimento tanto a nível
cultural, como pessoal.
A dinamizadora do projeto foi excelente
pela forma como cativou e como interagiu
connosco. Ela fez-nos sonhar enquanto
assistimos às sessões.”
Patrícia Afonso
“O projeto Arte como Farol foi muito pro-
veitoso, ajudou-me a desenvolver novas
ideias e conhecimentos sobre a Arte e
tudo o que a envolve. Ajudou-me também
a compreender o conceito de arte alargan-
do-o a outras manifestações artísticas
que, por vezes, me era difi cil considerá-
las como tal.”
Ana Sofi a
“Quando fomos convidados a participar
no projeto Arte como Farol, a ideia inicial
que me assomou, até à primeira sessão,
foi que seria algo monótono, onde nos irí-
amos sentar a ouvir. Mas, depressa com-
preendi que não conhecia a professora
Magda, uma professora que, ao longo das
sessões, nunca temeu mostrar o olhar de
curiosidade e de atenção, enquanto fa-
lávamos, colocando-se no lugar de aluna
também. As sessões eram puro compa-
nheirismo. Aquela aprendizagem fez-me
lembrar a escola de Bahaus, onde cada
um tinha o direito de aprender e ensinar.
A música, as letras, as pinturas… tudo me
ajudou a ter uma visão mais atenta do que
se passa ao meu redor, uma motivação em
criar algo, por mais pequeno que fosse.
Assim, ainda que já voltasse sempre
para casa com aquela ânsia de usar o
que crio para mudar mentalidades,
agora, após participar neste projeto,
essa ideia fi cou mais reforçada e espero
nunca a vir a perder.”
Ana Vaz
Perante as palavras dos alunos, os
professores só querem deixar aqui o
testemunho da sua satisfação por terem
contribuido para este crescimento pes-
soal, íntimo, mas também crítico, social
e interventivo dos seus alunos, ao terem
aderido à proposta apresentada pelo
Serviço Educativo. Trabalhar convosco
foi, sem dúvida, um privilégio.
“As crianças têm um entendimento muito grande, são capazes de absorver informação e estímulo como um adulto pode fazer. Nós sentimos, junto delas, uma relação de igualdade. É uma troca de saberes”.
servicoeducativo@aofi cina.pt
Aceitam-se Colaborações, Sugestões, Ideias e Outras Coisas… para publicação neste Jornal
© D
irei
tos
Res
erva
dos
Uma chuva de ideias surgiu das crianças
que assistiram à peça em interpreta-
ções, opiniões e recomendações.
A Mafalda [8 anos], cheia de metáforas,
explicou a partir do seu olhar, o signi-
fi cado da vida e da morte, inspirada no
simbolismo que a peça apresentou sobre
o primeiro sopro ao nascer e a ausência
dele ao morrer: “O ar é o espírito que
entra na pele, é como nós estarmos a
vestir um casaco, esse casaco está em
nós e depois, quando o tiramos, já não
tem vida, já não se mexe, pois não, fi ca
ali e pronto!”
É assim essa despedida, sensível e
agradecida como a caminhada de uns
elefantes, tão breve como um respiro,
tão profunda como a sabedoria de
uma criança.
“Nós podemos perder alguém de que
nós gostamos, mas vamos estar sempre
ao lado dela. Como quando a minha bi-
savó acabou de morrer e fi quei triste...
Imaginamos que ela ainda está viva.
Ela estava doente e nós pudemos falar
com ela por e-mail… mas como essas
pessoas já morreram já não podemos
mais fazer isso”.
Sara Joana Soares, 7 anos
“Eu tenho uma forma de recordar as
pessoas – no coração – e pensar que
estão sempre ao nosso lado. Assim estou
sempre feliz ao lado de minhas amigas
quando se vão embora”.
Sofi a Morales Ramos, 7 anos
“É assim: quando nós fi camos tristes, te-
mos que ser fortes. Não vou chorar. Isso
já passou, é passado. O futuro e o
presente ainda vamos ou estamos a pas-
sar. Esperamos bem que seja bom. Quan-
do nós estivermos tristes, vamos brincar
alguma coisa e depois esquecemos.
Brincamos, já não choramos, já não fi ca-
mos tristes, e assim podemos alegrar-
nos mais. Se alguém estiver a chorar, a
chuva também vai chorar, porque está
triste; mas se estiverem felizes, a chuva
vai cair, o sol vai aparecer e, depois, é um
arco-íris de alegria… e depois temos que
escolher cores de alegria”.
MarIa Inês Vale Durão, 8 anos“Para não fi car triste, ensinaram-me,
nós sorrimos. Quando nós sorrimos não
conseguimos pensar em coisas tristes”.
Gonçalo Horta, 9 anos
“Eu gostei quando eles ajudaram o bebé-
elefante. Fizeram uma nova amizade”.
Matilde Monteiro, 9 anos
“Quando uma pessoa nasce é como
soprar uma sopa que tem a sua vida,
recebe ar fresco, não é muito quente,
não é muito fria, quando sugamos o ar
para dentro parece que estamos a comer
esparguete. Na peça, vimos que Miguel
deitava ar sobre um boneco, era como se
o ar fosse o espírito dele, que entrava no
corpo, e quando chupava o ar estava a
tirar, a sugar o espírito – e depois, quan-
do morria, fi cava de cabeça para abaixo,
sem alma, não tinha vida, com os olhos
fechados, não movia as mãos”.
Mafalda Coelho, 8 anos
“Nós podemos transformar a tristeza
em alegria se vamos à praia ou vais para
o mar. Pensarmos em todos os momentos
bons que vivemos com essas pessoas.
Depois podemos acompanhar dando-nos
abraços, convidar a nossa família para
nós sentir-nos bem e nós sorrimos. E as-
sim lembramos dessa pessoa e sabemos
que ela está sempre no nosso coração.
Na casa de meus avós, os domingos
todos, toda a gente traz uma porta lápis,
lápis de cor, lápis de carvão, borracha,
fi ta-cola, papel e depois desenhamos
todos nós a sorrir e colamos na parede
com o nosso nome”.
Miguel Carvalho Araújo, 7 anos
“Quando alguém da minha família mor-
re, o meu cão ou os meus avós, eu faço
um desenho e ponho na porta do meu
quarto e na parede, e, depois, não sei
porquê, mas faço uma dança à volta das
folhas dos desenhos deles… “
Manuel Afonso Pereira, 8 anos
“A parte que eu mais gostei foi quando o
Miguel disse que não diria palavras tris-
tes, eram 5 palavras e nós 2 tínhamos
que fazer um sinal para ele não dizer”.
Maria João Tavares Martins, 8 anos“Ninguém da minha família já morreu,
mas acho que eu vou memorizar os mo-
mentos que passei com eles e se
calhar fi co um pouco triste... Para não
fi car triste posso fazer desenhos, como
disseram os meus colegas”.
Maria Barros Rodrigues, 9 anos
Os autores deste texto seguem a norma do acordo ortográfi co de 1990.
11 | LURANA LURA ESPAÇO DE TODOS PARA TODOS
*
estudantes de
Doutoramento em Estudos
da Criança – Instituto da
Educação da Universidade
do Minho; coordenadores
da página Conversas
Gigantes e da Associação
“Soy Niño, Sou Criança”
Teatro
24 E 25 DE OUTUBRO
O que é uma coisa é? ESTREIA
Inês de Carvalho
M/ 4 ANOS
Desenho, escultura, modelação, escrita, história
JULHO A DEZEMBRO
Oficinas CIAJG / Vai e Vem
Exposições/ Visitas orientadas
26 DE JULHO A 12 DE OUTUBRO
CIAJG A Composição do Ar João Botelho | "Só acredito num deus que saiba dançar" Maria Gabriela Llansol | O encontro inesperado do diverso Exposições/ Visitas orientadas
A PARTIR DE 25 DE OUTUBRO
CIAJG A Composição do Ar Ricardo Jacinto | Parque Escola do Porto: Lado B (1968-1978) Uma história oral
Visitas/ Oficinas/ Contos
13 DE SETEMBRO, 11 DE OUTUBRO, 08 DE NOVEMBRO, 13 DE DEZEMBRO
Sábados em Família
Teatro
28 E 29 DE SETEMBRO
Cinderela Teatro de Marionetas do Porto
Exposição/ Visitas orientadas
A PARTIR DE 25 DE OUTUBRO
André Cepeda/ Rien M/ 6 ANOS
Teatro
23 A 25 DE NOVEMBRO
Fábulas elementares Patrícia Portela
M/ 12 ANOS
Dança
12 E 13 DE DEZEMBRO
Linhas de Newton ESTREIA
Aldara Bizarro
Aulas/ conversas
A PARTIR DE SETEMBRO
Gabinete de desenho
Oficinas
OUTUBRO 2014 A ABRIL 2015
A Arte como farol Magda Henriques
Adultos
Oficina para professores
11 E 18 DE OUTUBRO
Design, subversão e cidadaniaHenrique Ralheta
Visita especial para professores
04 DE NOVEMBRO
André Cepeda
M/ 2 ANOS M/ 15 ANOS
Centro Cultural Vila FlorAv. D. Afonso Henriques, 7014810 431 Guimarães Tel 253 424 [email protected]
Apoios
MAPA DE BOLSOA nossa agenda do trimestre
Espe
tácu
lo "A
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ada
dos
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s" ©
Pau
lo P
ach
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Organização
Preços_Consultar condições específicas em www.ccvf.pt
Reservas para espetáculos
Tlf CCVF 253 424 700 / Fax 253 424 710Tlf PAC 253 424 715 [email protected]
Informações e reservas para outras atividades
Tlf CCVF 253 424 700 Tlf PAC 253 424 715 [email protected]
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