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CAPTULO 9
DINMICA DA SNTESE NEOCLSSICA
A teoria keynesiana baseia-se, como vimos, fundamentalmente na rigidez de preos e
salrios como forma de justificar o ativismo poltico. A sntese neoclssica elabora essa
questo. Esta sntese engloba: (a) a teoria keynesiana da demanda agregada, (b) a teoria
clssica da oferta agregada como referncia de longo prazo, (c) uma teoria de como os
preos se ajustam em desequilbrio no curto prazo. Em qualquer momento, a economia pode
se achar em equilbrio ou no. Se a demanda excede a oferta, a inflao se acelera; casocontrrio, ela diminui.
Se num modelo incluindo a demanda keynesiana e a oferta clssica, for dado um
aumento determinado em M (oferta monetria), sabemos que haver aumento proporcional
em Psem alterary(figura 78).
Figura 78 Efeito de Aumento em M sobre P e y
Com isso, apenas o nvel de preos se altera (proporcionalmente). Produto, taxa de
juros e salrio real no se alteram.
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Inflao e Crescimento da Moeda
Imaginemos agora uma situao em queMest crescendo continuamente. Nesse caso,
o preo tambm estar crescendo continuamente. Como conseqncia, surge uma diferena
entre taxas de juros real e nominal.
Em nossos modelos, quem quiser aplicar seu dinheiro pode comprar ttulos. Um ttulo
que paga uma taxa nominal rnpor perodo e custa V0render ao fim desse perodo:
V1 = V0(1 + rn)
Para calcular a taxa de juros real (r), deflaciona-seV1 pela inflao esperada (e) no
perodo para obter seu valor atual (V10):
V10 = V0(1 + rn) /(1+e) = V0(1 + r )
e logo:
1 + r = (1 + rn)/ (1 +
e
)e
( 1 + rn) = ( 1 + r) (1 + e) = 1 + r +
e+ r
e
e
rn= r + e+ r
e
Se a inflao e a taxa real forem relativamente baixas repode ser ignorado tal que
rn = r + e (87)
Uma implicao desse resultado que, no grfico ISLM, o ponto de encontro das
curvas no o equilbrio se e 0. Enquanto a funo de investimento (na IS) depende da taxa
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real de juros, a funo de demanda por moeda (na LM) depende da taxa nominal. Ento, o
equilbrio ser como na figura 79.
Figura 79 Equilbrio com Expectativa de Inflao
preciso notar que o equilbrio emy* (pleno emprego) tem os preos subindo a uma
taxa (= e por hiptese). Supe-se queMesteja tambm crescendo a essa taxa; se no, LM
estaria se movendo para a esquerda; ou seja, em equilbrio:
e
P
P
M
MM ==
=
=
Ou seja,
M taxa de crescimento da moeda. Imaginemos agora um aumento na taxa
de crescimento da oferta de moeda. Para vermos como isso se relaciona com o preo,
tomemos a equao de equilbrio no mercado de moeda:
ms= md
ou
),( yrmP
Mn=
logo, tomando logaritmos:
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dt
yd
yd
yrmd
dt
rd
rd
yrmd
dt
Pd
dt
Md nn
n
nln
ln
),(lnln
ln
),(lnlnln+=
e, assim,
y
y
r
r
M
Myr
+= (88)
onde: r = elasticidade demanda de moeda em relao a rn; y= elasticidade da demanda de
moeda em relao a y.
Numa situao de equilbrio,M, Pey crescem a taxas constantes, dadas por:M
M
,e
y
y
. Alm disso, rn = r + e e = e.. Se admitirmos que r constante (depende de
tecnologia e preferncias temporais da sociedade), assim como e, temos que em equilbrio
nr
= 0. Deduzimos ento que em equilbrio:
= yM y (89)
H evidncias de que y 1 para vrias economias; logo, se
=yM , a taxa de inflao
tenderia a zero. No que segue supomos, por simplicidade, que 0=
y ; portanto, para que = 0
necessrio que 0
=M .
A Teoria Neoclssica de Ajustamento de Preos
Parte-se de duas proposies: (a) os preos aumentam quando h excesso de demanda
no mercado, (b) o ajustamento de preos assimtrico, respondendo mais a excesso de
demanda do que a excesso de oferta. Na figura 80, essas proposies associam-se curva
decrescente e convexa (nas 2 ltimas partes). Notar que u* a taxa natural de desemprego.
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Por trs dessas curvas est basicamente a curva de Phillips (1958), dada na figura 81,
que associava o desemprego taxa de crescimento dos salrios no Reino Unido. Tratava-se de
trabalho basicamente emprico, no h fundamentao terica precisa.
Figura 80 Curvas de Ajustamento de Preos
W
u* u
Figura 81. Curva de Phillips
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Em 1960, Lipsey ofereceu alguns fundamentos tericos para a curva de Phillips em
termos de excesso de demanda no mercado de trabalho, que afetaria positivamente a taxa de
crescimento do salrio nominal (
W):
)(s
sd
N
NNfW
=
f>0
ondeNd= demanda por trabalho,Ns= oferta de trabalho. Alternativamente:
)( s
ds
N
NNfW
=
ou
)(ugW =
geprovoca deslocamento para a direita da demanda por
trabalho maior do que o da oferta; disso resulta aumentos emNey.
Naturalmente, a situao se inverte quando as expectativas de inflao comeam a
reagir. Isso quer dizer que o trade-off apenas temporrio; dura apenas enquanto as
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expectativas no se ajustam inflao. Supe-se que, no final do processo, a taxa de inflao
observada e esperada se igualem, ou seja, as expectativas no permanecem erradas
indefinidamente. Entoy = y* (pleno emprego) novamente.
Na figura 82, reduz-se o desemprego a u1somente enquanto a expectativa e= 0 < 1.
Cada curva tem validade no curto prazo apenas e est associada expectativa correspondente
ordenada de sua interseo com a linha vertical de abcissa u0. No longo prazo no h trade-
off, a curva de Phillips uma linha vertical. Se eventualmente e = 1, o desemprego volta a
u0. Se, ainda, tivermos o caso dee> o desemprego fica maior do que u0. Por exemplo, se
inflao for igual a zero e a expectativa 1, o desemprego ser u2, maior do que o natural
(u*).
Figura 82 Elevao em seguida de elevao em e
interessante verificar o mecanismo de formao de expectativas considerado por
Friedman (o esquema de expectativas adaptativas):
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et
et-1= (t-1
et-1) 0
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A Poltica Monetria
Inicialmente a economia se acha em pleno emprego com inflao0
0
=
M
M . Se se
aumentar a taxa de
0
M
M para
1
M
M, do ponto de vista esttico-comparativo, haveria o
deslocamento de LM para a direita, assim como da demanda agregada, com a inflao
esperada mantida em
0
0
=
M
M . Ver figura 83.
Figura 83 Efeito de Aumento em
Mno Diagrama ISLM
QuandoM
M
aumenta, LM move-se continuamente para a direita, criando excesso
demanda e, portanto, maior inflao. Para fins didticos, imagine que e inicialmente no se
altera. Ento LM se desloca at L1M1, quando supomos que a inflao alcana o crescimento
monetrio ou seja,
1
1
=
M
M
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Como estar a oferta agregada? Enquanto no mercado de trabalho 0 =e , temos
uma oferta agregada elstica e o produto aumenta, por exemplo, ay1com inflao 1 .
Suponha agora que a expectativa de inflao se ajuste. Para fins didticos, suponha
que ela alcance 11 =e . Isso ter dois efeitos, separados apenas didaticamente. Do lado da
demanda, desloca-se entre L1M1e I0S0aty2, por exemplo. Do lado da oferta, o aumento em
e desloca a oferta de trabalho para a esquerda, reduzindo a oferta agregada. Aumento de
demanda e reduo de oferta provocaro uma acelerao da inflao que ultrapassa
temporariamente
1
M
M . Isso necessrio pois se e aumentou para e1 ento rn tambm
aumentou; logo a demanda por moeda caiu. Para equilbrio nesse mercado, a oferta real de
moeda deve cair. Quando o nvel desejado deP
M alcanado, a inflao volta a ser
1
1
=
M
M . Houve, portanto, um overshootingde inflao, ilustrado na figura 84.
O ponto complicado dessa anlise ocorre quando temporariamente LM se estabiliza
em L1M1com =
1M
M1
e> . Se eno se alterasse, ter-se-ia a um equilbrio com produto
maior quey*, porque a expectativa de inflao est defasada no mercado de trabalho tambm.
Mas a partir de certo momento as expectativas vo se corrigir. A avana-se para
frente para y>y1 no diagrama ISLM e para trs na curva de oferta agregada. Claramente
haver excesso de demanda, no possvel manter 1. A inflao se acelera e LM comea a
voltar, portanto. Ao mesmo tempo, as expectativas se ajustam inflao maior.
claro que rn vai aumentando e, portanto, no final (M/P) diminui. No mercado de
trabalho, quando e = ,y = y*. Nesse caso como
1
1
=
M
M e rn2>rn0.
Notar que se volta a y*com rnmaior e tambm maior. Porm, no se sabe o trajeto
para chegar l. Os neoclssicos no ajudam nesse aspecto. No se pode descartar mesmo um
padro oscilatrio em torno do equilbrio final.
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Figura 84 Efeitos de Aumento emMM
sobre e e
No perodo de ajustamento, o crescimento em Mprovoca, portanto, reduo de juros,
aumento no produto e emprego e na inflao. Posteriormente, os juros se elevam e a economia
volta ao caminho de longo prazo.
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A Poltica Fiscal
Considera-se um aumento dos gastos do governo, sem alterao de 00 =
M . Isso deve
deslocar IS para a direita. Supondo que as expectativas no se alterem, localiza-se a nova
renday1> y*. O excesso de demanda deve aumentar a inflao, temporariamente, resultando
num nvel menor de M/P (LM ainda se move para a esquerda). Quando y* se restabelece
00 =
M de novo. A inflao esperada no precisa se alterar. As taxas de juros se elevam
mantendo a diferena entre elas. A inflao aumenta temporariamente podendo induzir mais
trabalho. Isso se corrige com o tempo. Ver figura 85.
rn
M1
I1 M0
I0
L1
L0 S1
S0
y* y1 y
Figura 85 Efeito de Aumento nos Gastos do Governo sobre o Produto
A concluso que, durante o processo de ajustamento, crescero o produto, oemprego, os juros e a inflao. Esse perodo o que normalmente se considera como
relevante para examinar os efeitos das polticas macroeconmicas. No longo prazo, os efeitos
sobre produo, emprego e salrios reais desaparecem. Ver a figura 86.
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r
rn2
rn1
rn0
r2
r1
r0
t0 t1 t
,
M
1
00
=M
t0 t
1
0
0 y1 y*
y
Figura 86 Efeitos dos Gastos do Governo sobre Juros e Inflao
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Choque de Oferta
Seja uma elevao no preo de matrias primas. Isso desloca a demanda por trabalho
e, portanto, a oferta agregada para a esquerda. como se y* se deslocasse para a esquerda.
Para manter o nvel de pleno emprego (que agora ser ponto de excesso de demanda) ser
preciso inflao maior (1) para reduzir o salrio real (P
Ww = ). O excesso de demanda gera
essa inflao.
Inicialmente alta, a inflao vai baixando para 0= 0
M . LM recua, os juros aumentam
mantendo a diferena. O emprego absoluto cai. Ver figura 87.
Variando as Expectativas de Inflao
Suponha um aumento na expectativa de inflao para e1 como na figura 88. Sabemos
que temos que avanar o produto aty1, ou seja, at que LM e IS se distanciem pela nova taxa
esperada e1> 0. A curva de Phillips deve-se deslocar para cima.
O aumento na diferena (rn r) ocorre pela venda de ttulos (cujo rendimento real ir
diminuir) e compra de bens durveis e estoques de bens no-durveis para se livrar de
dinheiro. O preo dos ttulos cai e rnaumenta. Os preos de durveis e estoques aumentam e r
diminui.
Com o aumento em rn , devido ao aumento em e, passa a haver excesso de oferta de
M e excesso de demanda de bens. Comy1> y*haver aumento de preos (isto , 1>0) at
que resulte a um nvel menor de M/P e corrija o mercado de moeda (LM vai para esquerda), e
o excesso de demanda desaparea.
Notar que L1 M1 no estvel, pois, na verdade, e0 e
M= 0, prossegue o aperto monetrio.
Se as expectativas voltarem a 0, ter que haver antes uma reduo na inflao abaixo
de 0 para recuperar M/P e LM voltar ao nvel original.
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Ns
0 rn1,r0
w0I0 M1
Nd
0 M0
w1L1
Nd
1 S0
L0
N1 N* N y1 y* y
1
0 0
y1- y* o y-y*
rn1,r0
1
rn0
0=
M r0
t0 t1 t t0 t1 t
w
Figura 87 Efeitos de Choque de Oferta
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rn,r0
I0 M1
1 M0
0 1 L1
S0
L0
y* y1 y
1
0
0
0 y y*
Figura 88 Efeitos de Variao Temporria na Expectativa de Inflao
Avaliao da Sntese Neoclssica
A sntese neoclssica aperfeioou a interpretao macroeconmica de uma srie
de eventos. Por exemplo, a teoria Keynesiana explica a grande depresso pela queda do
investimento e posterior recuperao pela poltica fiscal.
A sntese neoclssica obtm explicao mais aproximada dos fatos. Inicialmente
h uma grande queda da expectativa da inflao, a ponto de tornar a taxa real maior que a taxa
nominal de juros. Segue-se uma queda de investimentos devido a incertezas econmicas e
contraes monetrias, piorando a situao. A sada da crise d-se pelo crescimento de M,
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gastos do governo e substancial elevaes das expectativas inflacionrias, que tornam a taxa
real de juros negativa.
A dcada de 1960 foi a dcada neoclssica por excelncia, quando, graas
estabilidade da expectativa inflacionria, se observou uma curva de Phillips relativamente
estvel e que permitiu pleno xito das polticas fiscais.
Na dcada de 1970, alm dos choques de oferta como os de petrleo e
commodities, quase todas as alteraes na inflao e no emprego parecem relacionar-se s
expectativas. Aqui os neoclssicos se perdem.
Em suma, a sntese neoclssica tima se as expectativas no variam. Alm disso,
ela consegue explicar bem as consequncias das variaes nas expectativas.Seu ponto fraco relaciona-se a no poder explicar o porqu de as expectativas
variarem. Por isso, acaba-se tomando essas variaes como exgenas ou ajustando lentamente
a eventos passados. No h teoria para explic-la. No se faz uso da informao disponvel
para prever a inflao.
EXERCCIOS
1) Verificar que a taxa de inflao esperada de acordo com o esquema de expectativas
adaptativas uma mdia ponderada das taxas observadas no passado. Mostrar que a
soma dos pesos utilizados nessa mdia igual a um.
2)
Analise os efeitos de curto e longo prazos sobre a taxa de inflao, taxas de juros
nominal e real e nvel de emprego de uma reduo na taxa de crescimento da oferta
monetria de acordo com a sntese neoclssica.
3) Uma economia que se achava em pleno emprego sofre um choque negativo permanente
de oferta. (a) Quais sero os impactos sobre o emprego e o salrio real? (b) Qual o
impacto sobre o investimento privado? Por qu? (c) Que poltica poderia serrecomendada para recuperar o nvel de emprego a curto prazo?
4) Considere que a taxa percentual esperada de inflao se forme da seguinte maneira:
(et-
et-1) = 0,5 (t-1-
et-1)
e a taxa percentual de inflao observada se ajusta de acordo com:
(t - t-1) = 0,5 ( tM
- t-1)
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onde tM
a taxa percentual de crescimento da oferta monetria, et e t so,
respectivamente, a taxa esperada de inflao e taxa observada de inflao no instante t.
Admita que at t = , tM
= et= t= 20% e que para t (+ 1), tM
= 30%, isto ,
ocorre um aumento de 10 pontos porcentuais na taxa de crescimento monetrio de (+ 1)
em diante.
a.
Teoricamente, para que valores devem convergir te et no longo prazo?
b.
Quais as trajetrias de te et de t = at t = (+3)?
c. Se a Curva dePhillips for dada por
t = et - 2,5 (ut u
*),
qual ser a trajetria de ut (a taxa percentual de desemprego) em relao taxa de
pleno emprego (u*) no mesmo perodo? Para que valor deve convergir ut?
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