GT 15 - Sociologia Digital
Sociabilidade Virtual na terceira idade: novas formas de relacionamento emtempos de Covid-19.
Luana Costa Bidigaray, UFPEL, Programa de
Pós – Graduação em Sociologia pela
Universidade Federal de Pelotas, Brasil.
Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES)
– Código de Financiamento 001.
Arielson Teixeira do Carmo, UFPEL, Programa
de Pós – Graduação em Sociologia pela
Universidade Federal de Pelotas, Brasil.
Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES)
– Código de Financiamento 001.
12 a 17 de julho de 2021
UFPA – Belém, PA.
IntroduçãoCom o advento da crise sanitária estabelecida a nível mundial em razão do
vírus Sars-CoV-2, o cotidiano social do mundo foi inesperadamente ressignificado,
especialmente, as relações sociais de indivíduos que fazem parte dos grupos
considerados em iminente risco.
A Organização Mundial de Saúde – OMS, instituição de maior referência
em saúde, recomendou o isolamento social horizontal como principal medida de
prevenção e proteção contra o vírus, esse isolamento tem como propósito a
redução das interações físicas e sociais como uma forma de evitar o contágio em
larga escala entre a população, sobretudo à idosa a qual tem maior grau de
letalidade.
A intensificação desse distanciamento social impossibilitou, ainda mais, as
práticas de sociabilidade na terceira idade, alterou-se a forma de se relacionar; de
trabalhar; de estudar; de se exercitar, de conviver com o outro; de se sociabilizar
com o mundo exterior, ou seja, de existir nos dias que correm, incorporando
novos padrões de urbanidade social.
As mudanças sociotécnicas, da robótica, da microeletrônica, o avanço da
informática, da internet, das Tecnologias da Informação (TICS) e Comunicação
mediada por computador e mais recentes por aparelhos eletrônicos como tablets
e celulares são produtos da globalização e mundialização do capital que teve
seus avanços durante a década de 1990. Tais avanços tecnológicos influenciaram
diretamente o cenário político, social e econômico a nível global e passaram
rapidamente a fazer parte do cotidiano dos atores sociais (MISKOLCI, 2017;
CASTELLS (2011); LEVY 1999).
Durante anos de 1995 com o aprimoramento da tecnologia e de acesso à
internet, a sociologia passou a se preocupar com as relações que se
estabeleciam mediadas pela relação de comunicação mediadas por
computadores e pelas TICS, ou também, o que se passou a conhecer de
ciberespaço. Até este momento, a preocupação era com as relações de
sociabilidade que se estabeleciam no online, sem necessariamente estabelecer
relações com o offline. Contudo, com as transformações tecnológicas ao longo do
tempo, a popularização da internet, dos smartphones a preços populares e com
eles o desenvolvimento de aplicativos de relacionamentos, de encontros,
mensagens instantâneas e diferentes redes sociais se tornou mais emergente e
necessária que as relações online fossem analisadas em paralelo com o mundo
offline (CARNEIRO E DWYER, 2012; MISKOLCI, 2017).
Nesse contexto, a vida cotidiana não estava dissociada do contexto online.
As transformações tecnológicas acompanhavam o fluxo de mudança e
transformação social e para além disso, interferiam na própria dinâmica offline
dos usuários de chats e atualmente dos aplicativos e redes sociais, ou seja, a
sociabilidade digital passa a ser encarada em relação com os cenários da vida
cotidiana dos atores sociais. (CARNEIRO E DWYER, 2012).
Assim, sendo, com o cenário de distanciamento e isolamento social posto
pelo cenário pandêmico, o uso de tecnologias, dos celulares e de computadores
se tornarem mais frequentes. O uso de aplicativos de comunicação via webcam
marca o período de pandemia, seja para reuniões de trabalho, para aulas remotas
ou até mesmo para encontros e interações entre as pessoas. É, pois, a partir
deste momento tão delicado da história da humanidade que pretendemos neste
ensaio trazer reflexões iniciais acerca da sociabilidade digital de pessoas idosas
no online e suas relações com seus cenários da vida offline. Os idosos são
considerados como principais grupos de risco de contaminação pela COVID-19, e
muitos deles encontram-se confrontados com as dificuldades do isolamento social
e de sociabilidade face a face. Se em um período considerado “normal” os idosos
têm suas sociabilidades cada vez mais cerceadas, no momento pandêmico essas
sociabilidades se tornam mais restritas, fazendo com que muitos deles recorram
ao uso de tecnologias, aplicativos e redes sociais como forma de interação e
sociabilidade.
A pesquisa em questão ainda se encontra em andamento e a proposta dos
autores é compreender essas sociabilidades digitais, principalmente a utilização
de redes sociais como o Facebook, no cotidiano dos idosos, a partir de teorias
sociológicas de envelhecimento que embasam a coexistência do isolamento e da
atividade, permeando a importância do universo virtual em tempos de Covid-19.
A pesquisa, embora esteja em fase exploratória, consiste em uma
metodologia de análise de redes sociais – ARS (KUNRATH; JUNIOR, 2012). Essa
metodologia compreende examinar um conjunto de atores sociais que permeiam
relações sociais entre si, que por sua vez, criam redes de interações e
interconhecimento social. Os grupos da terceira idade que estão sendo
investigados fazem parte da rede social do Facebook, são eles: “Grupos jovens
da terceira idade-nossa gente” e “Grupo da Terceira idade”.
1. Teorias Sociológicas do Envelhecimento.
1.1.Teoria do desengajamento e o isolamento social.Nas sociedades modernas, o envelhecimento já era questão inquietante
em aspectos biológicos e fisiológicos, no entanto, a partir de meados do século
XX, os problemas de ordem social começaram a ser evidenciados nos estudos
das ciências sociais, sendo um deles a adaptação do indivíduo – do idoso à
sociedade ao longo do seu ciclo de vida (NERI, 2013).
As teorias sociológicas do envelhecimento se deram origem com Nascher1,
fundador da geriatria e precursor da sociologia médica. Essas teorizações
ganharam espaço no cenário americano antes da primeira guerra mundial, porém,
cientistas de diferentes áreas ambicionavam a criação de uma teoria geral que
descrevesse o fenômeno do envelhecimento. Após a segunda grande guerra,
muitas conjecturas sobre o envelhecimento sobrevieram, no entanto, nenhuma
debatia a interdisciplinaridade como ponto de integração entre os saberes que
versam sobre o processo do envelhecer. A biologia teorizou em sua vertente
biológica, assim como a psicologia considerou os estudos pela lógica do
comportamento do indivíduo, enquanto, as teorias sociológicas do
envelhecimento buscavam compreender como o sujeito se adaptava a uma
1 Ignatz Leo Nascher, fundador da geriatria e precursor da sociologia médica, em sua obra - Asdoenças da velhice e seu tratamento, incluindo o envelhecimento fisiológico, o cuidado domiciliar einstitucional e relações médicos legais - (NERI, 2013).
determinada sociedade na proporção que envelhece, e ainda, como a coletividade
social determina esses padrões de envelhecimento (DOLL et al., 2007).
As teorias sociológicas do mundo do envelhecimento se dividem em três
gerações: a primeira geração (1949-1969) trabalham com os aspectos do micro
social - papéis
e grupos sociais, assim, realçando o indivíduo como padrão de análise; a
segunda geração2 (1970 -1985) e a terceira (década de 1990) abordam teorias
em estrutura macro; sendo que as teorias de terceira geração buscam uma
síntese das duas gerações anteriores, isto significa, uma unidade de análise mais
ampla entre o indivíduo e a estrutura.
De acordo com o Doll et al. (2007) a teoria do desengajamento pertence à
primeira geração, e, edificou-se por uma pesquisa realizada por Cumming e
Henry, que posteriormente, foi publicada em um livro Growing Old no ano de
1961. Essa teoria se construiu a partir de uma perspectiva teórica Funcionalista
Estrutural empreendida por Talcott Parsons3, o qual escreveu o prefácio do
aludido livro.
Neste sentido, a teoria desengajada, também chamada como teoria do
desvínculo, concebe o processo de envelhecimento a partir das mudanças do
sujeito com seu meio social. Afirma que o desengajamento social ocorre por meio
de um processo natural de desvinculação entre o idoso e a sociedade, e que o
rompimento desses laços embasam-se a partir do senso comum dos próprios
idosos e com o meio social que está inserido. Por essa razão, essa teoria se
fundamenta na percepção da teoria da estrutura da ação social Parsoniana -
dando ênfase à subjetividade das condutas dos atores sociais, do se relacionar
com os objetos e com o mundo. Seus aspectos epistemológicos também
evidenciam uma abordagem estrutural, porém individual - como a parsoniana;
alicerçando-se em valores e regras como pressupostos epistêmicos,
3 Talcott Edgar Frederick Parsons foi um sociólogo estadunidense. Seu trabalho teve grandeinfluência nas décadas de 1950 e 1960 (DOLL et al., 2007). Ciência que estuda e analisa ocomportamento humano, os processos mentais e a personalidade de cada pessoa e como ela sefamiliariza diante da sociedade, em meio a múltiplas culturas e em meio ao mundo (DOLL. et al.,2007).
2 Teorias que compõem a segunda geração, são elas: Teoria da Continuidade, Teoria do Colapsode Competência, Teoria da Troca, Teoria da Estratificação por idade, Teoria Político Econômica doEnvelhecimento. (DOLL et al., 2007). As teorias que fazem parte da terceira geração, são elas:Construcionismo social, Teoria crítica,Perspectiva do curso de vida (DOLL et al., 2007).
considerando o ambiente deste agente sendo como singular ou coletivo, culturais
ou simbólicos, visto que esse ator singular se remete para o exterior, para o
mundo externo, assim, percebe-se a si mesmo neste ambiente.
Desse modo, pode-se sustentar que o afastamento social advém de forma
espontânea, de forma satisfatória,
uma vez que oferece (falsamente) uma maior autonomia de vida, em
contrapartida, reforça o desengajamento em termos sociais, não levando em
conta complexidades como o social, o psicológico entre outras áreas
interdisciplinares que acompanham o processo de envelhecimento do indivíduo.
Ou seja, dialoga apenas no âmbito do dualismo entre indivíduo e sociedade. Isso
se materializa na citação transcrita:
A teoria do desengajamento não esclarece a heterogeneidadeentre os indivíduos, pois propõe solução para o dualismo pessoa– ambiente, afirmando que as demandas biológicas e sociaisse assemelham na velhice, apresentando estilos de vidahomogêneos (DOLL et al., 2007, p. 18). (Grifos nossos).
Seguindo nesse silogismo, de que a velhice não é heterogênea, podemos
apontar, que essa teorização sobre desengajar-se fundamenta-se em três
proposições: assegura que o isolamento é uma ocorrência usual, inevitável e
favorável. Inevitável, uma vez que existe uma pré fase para ocorrer o
desvinculamento com a coletividade (uma preparação naturalizada dentro das
relações sociais em que aquele ator social está inserido), na qual a sociedade se
mobiliza para que o inevitável seja protelado, como por exemplo, as fragilidades
do corpo ou da mente que são contemplados no processo de envelhecimento,
assim, quando é materializado torna o processo de desvinculação necessário.
Isto porque, envelhecer em sociedades contemporâneas significa a
sistematização de um processo gradual em que a coletividade se ausenta na
oferta de papéis e práticas sociais para esses indivíduos, tornando o
desengajamento um processo natural, inadiável e articulado entre indivíduos e
sociedade / atores e estrutura, na justificativa da harmonia social na sociedade
(DOLL et al., 2007). Ou seja, ela se torna favorável, porque prepara o indivíduo
velho para a solidão, como consequência, a morte; enquanto viabiliza novos
espaços para indivíduos mais jovens na sociedade - organizando o bom
funcionamento social (DOLL et al., 2017; NERI, 2013).
Nesse sentido, a teoria sociológica do desengajamento e o isolamento
social horizontal em tempos de covid passam a ser dinâmicas sociais que se
interpenetram e se potencializam, uma vez que o isolamento social tornou-se uma
nova forma de se apresentar ao mundo em compasso com essa teorização. A
partir disso, a teoria do desengajamento se estabelece como uma estrutura de
análise para examinar como ocorre esse intenso distanciamento em virtude do
vírus, na vida dos idosos, em um contexto de pandemia; ilustrando como se opera
esse fenômeno social, já que a construção de redes de solidariedade e de
interconhecimento por meio de associações, instituições e outras formas de
sociabilidade, passam a se fragmentar e impossibilitar as interações e práticas
sociais e presenciais entre eles e com a sociedade, dando espaço para aquela
tradicional velhice que reforça práticas de solidão, de exclusão e de rupturas
sociais.
1.2. Teoria da Atividade.Com esse novo cenário de isolamento intenso e com as extremas
mudanças nas formas de se relacionar entre as pessoas em tempos de Covid-19,
a tecnologia digital passa a ter um papel social intensificador e de relevância para
a socialização com o mundo exterior, no sentido de resgatar a atividade social nas
vidas cotidianas desses idosos e ressignificar novas formas de se relacionar no
mundo virtual nesses tempos de pandemia.
De acordo com Neri (2013) e Doll et al. (2007) a teoria da atividade
desenvolveu-se na década de 1940 por Havighurst, quando ocorreu a sua
publicação em uma obra científica, em seguida, na década de 1960, esse mesmo
autor criou a teoria da atividade que consiste em uma cultura de envelhecer
ativamente em seu meio social, evidenciando a participação do indivíduo em seu
contexto social e de envelhecimento.
Nesse sentido, Doll et al. (2007) afirma que ambas teorizações
(desengajamento e atividade) se encontram intimamente ligadas porque
construíram-se a partir de um mesmo estudo chamado de Kansas City Study, o
qual centraliza-se na análise do indivíduo. Como consequência, ambas,
fundamentam-se nas possibilidades de envelhecer com maior liberdade e
autonomia, porém, de formas distintas como já mensurado. Enquanto a primeira
foca no desengajamento social como principal prática de sociabilidade; a segunda
aponta para uma série de medidas que visam à autonomia como uma prática de
sociabilidade contribuindo para o bem-estar dos idosos dentro do seu contexto
social.
A teoria da atividade sustenta esse termo da atividade que propõe
repensar acerca daquelas práticas tradicionais de velhice, porém, de forma
oposta à teorização anterior, incorporando uma lógica de autonomia e
independência social a partir de novas práticas de inclusão que lhes permitam
envelhecer de forma saudável e participativa no meio social em que convivem.
A partir delas se possibiliza esclarecer o cenário social atual pandêmico
vivenciado pela terceira idade, uma vez que experienciam a coexistência de duas
dimensões: a da solidão e a busca de formas de vivenciar o novo normal e social
em seus cotidianos.
Com isso, o debate pretendido entre essas teorizações de envelhecimento
e o universo virtual consiste em analisar como ocorre o papel da sociabilidade
digital para a terceira idade em tempos de Covid, considerando que a internet já
vem se estabelecendo como um espaço social na rotina diária das pessoas,
assim como, vem sendo utilizada como uma ferramenta de informação para os
indivíduos; a internet ganha um significativo espaço como dispositivo de
sociabilidade digital. Assim, essas mídias digitais que já faziam parte do nosso
cotidiano, se intensificam ainda mais em faixas etárias avançadas, como novas
redes de interação social, de experiências e de afetos para idosos e idosas em
isolamento, como consequência, também, tornam-se espaços de agência
sociológica de pesquisa.
Dessa forma, a teoria da atividade e a sociabilidade passam a se tornar
mecanismos norteadores e de delimitação na pesquisa, para repensar as lógicas
da sociabilidade digital na terceira idade, examinando em que medida essas
novas reconfigurações sociais, em um novo universo que é o virtual, tão distante
de suas práticas, memórias afetivas e sociais, proporcionam inclusão e
socialização entre os idosos e a sociedade.
2. Sociabilidade DigitalMiskolci (2016) afirma que as pesquisas acerca da sociologia e da
sociabilidade digital são iniciativas que buscam compreender o contexto
sociotécnico no qual estamos inseridos. E que a era da comunicação digital não
se origina apenas por meio de rupturas sociais, mas, também de continuidades e
fenômenos que não podem mais serem compreendidos em separado.
Para ele, a sociedade digital está intimamente conectada com os
fenômenos sociais que a sociologia estuda, os quais passam a serem repensados
e analisados a partir de um contexto mediado pela exposição virtual. Como cita:
Em termos sociológicos, o que define nossa era é a conexão emrede por meios tecnológicos de forma que digital se opõe aoanalógico enfatizando o aprimoramento técnico enquanto aconexão em rede por meios comunicacionais baseados emplataformas enfatiza a maneira como se constroem relaçõessociais. Assim, ao referirmo-nos a mídias digitais tendemos asintetizar ambas as transformações – tecnológica e social – oumelhor, um mesmo processo histórico – ainda em consolidação –de mudança sociotécnica de uma sociedade baseadapredominantemente nas relações face a face para uma em que asrelações mediadas pela conectividade ganham importânciamesmo que não substituam as presenciais. (MISKOLCI, 2016, p.283).
Carneiro e Dwyer (2012), também, afirma que a evolução acerca dos
estudos da sociabilidade a partir das tecnologias de informação, devem ser
problematizados a partir das interações entre os espaços do online e do offline.
Aponta para três gerações de pesquisa acerca da sociabilidade digital, e ainda,
revela que as duas primeiras gerações de pesquisas se referem a espaços
organizacionais virtuais como o trabalho e também como perspectivas culturais;
entretanto, a terceira geração compreende a sociabilidade online articulada com
outras dimensões sociais de vida dos usuários.
Carneiro e Dwyer (2012) complexificam a importância dessa
recontextualização do ciberespaço, evidenciando que essas extensões sociais
não podem ser analisadas de forma isolada, uma vez que são perspectivas e
espaços sociais que os sujeitos vivenciam. A seguir sua citação:
“(...) vários aspectos desses contextos possibilitam ou restringema habilidade dos participantes, participantes potenciais e nãoparticipantes para aprender, acessar e navegar nos fóruns. Umavez on-line, participantes apoiam-se nas experiências off-line paranegociar e interpretar sua interação on- line”(CARNEIRO;DWYER, 2012, p.107).
Exemplo disso, e também, apontado por Milkocis (2016), são as chamadas
Jornadas de Junho de 2013 - aumento da tarifa de transporte público que
mobilizou inúmeros estudantes a protestar na cidade de São Paulo - as quais
foram organizadas por meio das tecnologias em redes. Isso se materializa,
quando Carneiro e Dwyer (2012) apontam que a sociabilidade virtual se constitui
além dos espaços online, mas, também, em espaços offline em que usuários em
coletividade costumam frequentar. As referências etárias e geográficas, em
articulação, por meio dessas redes, foram essenciais para a organização e a
realização do protesto na avenida paulista.
Isso demonstra que a contextualização dos usuários online seja em sua
localização geográfica, local de trabalho e de estudo, idade, relacionamento
amoroso, laços familiares, opiniões políticas, demarcam e criam identidades que
fortalecem as relações virtuais entre eles.
Então, essas dimensões entre isolamento e atividade social que permeiam
a vida dos idosos em tempos de Covid-19, de certa forma, dialogam com a
dinâmica entre o viver entre o offline e o online, já que o universo do
envelhecimento e do mundo virtual passaram a se relacionar e se interpenetrar
nesses tempos de pandemia, por meio da ferramenta da sociabilidade digital,
possibilizando novas experiências, interações e afetos para esses idosos e idosas
em um espaço virtual que se conecta com seu mundo social, reconfigurado pelas
mídias digitais, especialmente em grupos de terceira idade no facebook.
3. MetodologiaA pesquisa, embora esteja em fase exploratória, consiste em uma
metodologia de análise de redes sociais – ARS, a qual compreende examinar um
conjunto de atores sociais que permeiam relações sociais entre si, que por sua
vez, criam redes de interações e interconhecimento social.
De acordo com Kunrath, Junior (2012) às ARS possibilizam a
sistematização e a análise de informações sobre as relações que se estabelecem
em uma determinada rede social. Essas informações tanto centrais (forma e
conteúdo) como as relacionais que oportunizam a identificação desses atores e
seus encadeamentos, de maneira a reconhecer os delineamentos de interação
entre si (observando quem se relaciona com quem, localização, sentido
econômico, afetivo, político, intensidade, duração, formalização, etc). Dessa
forma, percebendo como ocorre essa rede social.
A técnica da ARS, inicialmente, se dará por observações, e,
posteriormente, consistir-se-á com entrevistas em profundidade com idosos e
idosas que interagem nos grupos de terceira idade no facebook.
4. Considerações FinaisA pesquisa ainda se encontra em andamento, contudo, levantamos
algumas hipóteses acerca da sociabilidade de idosos a partir dos grupos
Facebook: “Grupos jovens da terceira idade-nossa gente” e “Grupo da Terceira
idade”. Os idosos buscam nestes grupos estabelecer contatos afetivos, de
amizade, compartilhamento de desejos, angústias e emoções. O cenário da
pandemia impossibilita os encontros face a face, porém, abre espaço para a
sociabilidade e interações online com perspectivas de encontros no offline pós
pandemia. Os idosos que utilizam o facebook se adaptam a tecnologia e
acompanham o cenário de inovações e transformações sociotécnicas.
Estas reflexões, embora iniciais, buscam contribuir para os estudos da
sociologia digital com olhares voltados para a sociabilidade digital na velhice.
Assim como, abre possibilidades de estudos que se interessam pelas questões de
gênero e sexualidade em aplicativos e sites de encontros virtuais voltados para a
terceira idade
Referências
CARNEIRO, Ana . Maria; DWYER, Tom. A pesquisa da sociabilidade on-line: três
gerações de estudos. REVISTA USP , São Paulo, n. 92 • 2012, p. 100-113.
DOLL, Johannes. et al. Atividade, Desengajamento, Modernização: teoriassociológicas clássicas sobre o envelhecimento. Revista Estudosinterdisciplinares de envelhecimento, UFRGS, Porto Alegre, v.12, p.7-33, 2007.
KUNRATH, M; JUNIOR,R. Diz-me com quem andas, que te direi quem és”: uma –Breve – Introdução à Análise de Redes Sociais. REVISTA USP , São Paulo, n. 92• p. 114-130, 2012. Disponível em:<https://www.researchgate.net/publication/275609309_DIZ-ME_COM_QUEM_ANDAS_QUE_TE_DIREI_QUEM_ES_UMA_-_BREVE_-_INTRODUCAO_A_ANALISE_DE_REDES_SOCIAIS>. Acesso em 20.06.2021.
NERI, Anita Liberalesco. Conceitos e teorias sobre o envelhecimento. In: MalloyDiniz, Fuentes e Cosenza (Orgs.) Neuropsicologia do envelhecimento: UmaAbordagem Multidimensional. ARTMED: Porto Alegre, cap.16, 2013.
MISKOLCI, Richard. Sociologia Digital: notas sobre pesquisa na era daconectividade. Contemporânea – Revista de Sociologia da UFSCar, v. 6, n. 2,jul.-dez. 2016, pp. 275-297.
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