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“Terra fértil, ouro verde”. Os folhetos de propaganda da CTNP.
Londrina – 1930-1950. Cristina Ribeiro dos Santos (graduando do curso de História, Universidade Estadual de Londrina.) Co autora: Profª. Drª Ana Heloisa Molina, (departamento de História, Universidade Estadual de Londrina.)
Este texto visa analisar os folhetos no período de 1930 - 1950 da colonização do Norte
do Paraná realizado pela Companhia de Terras Norte do Paraná, veiculados à formação de
Londrina e região. Tais panfletos refletem o discurso e suas transformações e adequações
realizados pela Companhia na aquisição de terras e nos mostram também o uso de elementos
escritos e imagéticos da colonização efetuada nessas terras. O discurso da Cia Norte do Paraná
é carregado de imagens e símbolos que nos remetem sempre à terra fértil, à ocupação pacífica,
ao progresso, às riquezas do café, enfim, um paraíso terrestre.
Um dos fatores que propiciaram essa visão sobre a região consistiu na divisão das
terras em pequenos lotes feitos pela Cia Norte do Paraná, o que proporcionou certa facilidade
no acesso a essas terras e uma visão de “socialização da colonização e da produção” 1. Para
as autoras Steca & Flores (2002), não houve essa “socialização” das terras, apenas o discurso,
os lucros foram para os vendedores das terras e não para os colonos. Assim esse tipo de
discurso reafirmou a idéia da terra da promessa e foi refletido a todo o momento nos panfletos,
em sua elaboração, em suas frases, como:
“O melhor rumo o melhor futuro é collocar – se (sic) no Norte do Paraná Adquirindo uma área de terras, por pequena que seja da Comp. De terras Norte do Paraná. Terras extraordinariamente privilegiadas pela natureza [. . . ]
As melhores terras roxas- clima saluberrimo2”.
1 OBERDIEK, Iak, Hermann. “A imigração judaica – alemã no Norte do Paraná- O caso de Rolândia.”
Dissertação do mestrado, UNESP, 1989 pg. 10
2 Paraná Norte. Londrina, 7 de abril de 1935
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OBERDIEK (1989) aponta que na vinda da missão Montagú3, os ingleses perceberam
a viabilidade do projeto “Norte do Paraná” um investimento rentável e seguro, e assim foram
adquiridos 544 000 alqueires ao todo, entre compras feitas de ex-companhias, posseiros com
documentos verdadeiros ou não, e claro do Estado.
A Companhia utilizou-se de um dos mais modernos meios de comunicação do período,
o jornal, e através deste podemos perceber a amplitude dos negócios iniciados nos trópicos
pela Inglaterra, levados por vendedores da Companhia por todo o Brasil, atraindo pessoas dos
Estados de São Paulo, Minas Gerais e do Nordeste, além dos imigrantes que já viviam no país
e na Europa. Outro aspecto a ser analisado é o histórico, pois se percebe nos folhetos, o
período de início do desenvolvimento do café na região e no Brasil, o seu auge e também o
seu declínio.
Outro fato histórico que podemos analisar é o fato da Inglaterra ter vislumbrado
possibilidades de lucro no Brasil, isto nos remete à repatriação dos seus investimentos no
exterior, e que nos revela ainda a crise enfrentada pela Europa neste período após a quebra da
bolsa de Nova York (1929) acrescida de seu esforço na Segunda Grande Guerra Mundial. No
Brasil também se sentia o resultado desta crise, com a queda dos preços da saca do café, e por
conseqüência a queima das sacas, por ordem do presidente, na tentativa de estabilizar o preço
do café. Esse é o contexto que se inicia as atividades da CTNP4 na região, e que podemos
perceber e associar aos folhetos.
De início, a colonização dessas terras fora o resultado dos interesses dos ingleses e do
Estado. O primeiro visava os lucros e o segundo o desenvolvimento do Norte do Paraná, pois a
partir da colonização passariam a ser recolhidos impostos e taxas das atividades comerciais
decorrentes5. Esse acordo levou a um vantajoso negócio para a CTNP, pois esta adquiriu
primeiramente terras do Estado (350.000 alqueires do Estado a um custo de 8.712 contos de
3 Missão Montagú: Visita feita ao Brasil (não convidada pelo então presidente Artur Bernardes) chegou no dia 31 de dezembro de 1923, sendo organizada por bancos credores ingleses, para acertar problemas relacionados com as dividas externas do Brasil. 4 Daqui por diante usaremos CTNP para simbolizar a Companhia de Terras Norte do Paraná 5 OBERDIEK, Iak, Hermann. “A imigração judaica – alemã no Norte do Paraná- O caso de Rolândia.”
Dissertação do mestrado, UNESP, 1989. Pg. 49
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réis) sendo consideradas as mais férteis.6 A CTNP teve em seu contrato outros benefícios
como doze anos para liquidarem a dívida com o Estado.
Contudo o Estado estava fazendo certa concorrência a CTNP com o Norte Novíssimo,
que compreende as cidades de Paranavaí, Umuarama e Campo Mourão. Por esse motivo a
CTNP fez propaganda com características apologéticas de suas terras7 e que aparecem nos
panfletos como, por exemplo, na frase: “A SAÚVA, praga mais terrível das zonas cafeeiras do
Brasil, Não EXISTE no Norte do Paraná e muito menos nas TERRAS DESTA
COMPANHIA.”8
Podemos perceber que de início a propaganda fora dirigida aos imigrantes /migrantes
que queriam se tornar proprietários e não para aqueles que viriam apenas como trabalhadores,
pois, quando se colonizou as terras da CNTP na década de 1930 a necessidade não era de mão
de obra para trabalhar a terra, visto que não havia fazendas construídas na região e não havia a
necessidade de mão de obra para trabalhar nestas fazendas. Como nos ilustra as autoras
STECA E FLORES (2002) quando destacam que o desejo do projeto de colonização era que
viessem compradores e não trabalhadores para que o lucro fosse certo, pois, estes realizariam a
dinamização da região.
Para solucionar o problema de mão de obra na criação da infra-estrutura (como abertura
de ruas, construção da ferrovia, derrubada da mata, entre outros) utilizou-se a força de trabalho
daqueles que ficavam ociosos durante o intervalo da primeira colheita, como a do milho e
fumo, sendo uma opção de renda antes da primeira safra do café. Em muitos casos o serviço
era aceito pela CNTP como abate nas parcelas, o que sugeria a idéia de ter um auxílio da Cia.
Para maior compreensão desse contexto OBERDIEK (1989) nos coloca um aspecto
muito importante, o mundo não atravessava um bom momento econômico devido à quebra da
bolsa em Nova York em 1929, e isto reduzia o dinheiro em circulação no período e o café,
principal produto de exportação do Brasil, não dava mais lucros como antes, devido à recessão
que se abateu no mundo e principalmente nos Estados Unidos, nosso maior comprador
naquele momento. Os grandes fazendeiros não se interessavam por grandes investimentos,
6 STECA, Lucinéia C & FLORES, Mariléia D.O Norte pioneiro in: História do Paraná. Londrina: Ed UEL, 2002. Pg. 138 7 OBERDIEK, Iak, Hermann. “A imigração judaica – alemã no Norte do Paraná- O caso de Rolândia.”
Dissertação do mestrado, UNESP, 1989. Pg.91 8 Paraná Norte, Londrina 18 de novembro de 1934.
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pois tinham medo de que seus lucros fossem reduzidos com a queda do valor da saca. Assim a
estratégia inicial da CTNP foi à venda das terras para serem organizada a produção, ou seja,
em pequenos lotes, pois estes lotes menores eram mais lucrativos do que os vendidos em
grande quantidade que eram longe dos centros comerciais e com o valor reduzido.
Sobre esse fato podemos perceber nos folhetos o discurso da CTNP que exalta a
facilidade no pagamento, como por exemplo, “Facilidade de pagamento em prestações
módicas, no alcance de todos os bolsos”9.
A venda em pequenas propriedades não só daria a possibilidade de conseguirem mais
compradores como também o lucro seria maior. Isso porque em pequenos lotes se investia
menos para o cultivo e oferecia mais comodidade aos compradores (fácil acesso às estradas,
ao núcleo urbano e a comercialização do que produziam). As geadas também faziam parte da
escolha, pois o pequeno lote não se plantava exclusivamente café, se o prejuízo viesse seria
pequeno, e o mesmo não ocorria nas grandes propriedades onde geralmente se produzia
somente o café.
A colonização em pequenas propriedades visava além dos motivos citados acima, a
criação de mão de obra disponível para a ação do capital, pois esses lotes menores eram
situados na região urbana com uma função muito importante, além de abrigar os imigrantes,
estes iriam dinamizar o consumo de mercadorias. O fluxo de emigrantes e imigrantes era
importante ao ocasionar a valorização das terras e a continuidade do complexo comercial e
proporcionar ainda a mão de obra para o trabalho que fora sendo exigida com o passar do
tempo e com o avançar do desenvolvimento da região.
Para OBERDIEK (1989) a CTNP planejou a ocupação urbana com a intenção de criar
um complexo comercial com três cidades para serem os núcleos urbanos centralizadores do
processo: Arapongas, Apucarana, Maringá e Londrina que foi a sede da Companhia. Para tais
planos fora utilizados imigrantes que tivessem um perfil adequado, burguês possuidor de
recursos econômicos, com nível cultural universitário e conseqüentemente aspiração de vida
diferenciada qualitativamente da vida de um simples colono. Vieram para o Norte do Paraná,
segundo o mesmo autor, os imigrantes europeus de países em estados políticos semelhantes
9 Paraná Norte, 18 de novembro de 1934.
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como Portugal com Salazar, Alemanha com Hitler, Espanha com Franco, Itália com
Mussolini, e o Japão com o militarismo.
Os primeiros imigrantes normalmente eram pessoas que não tinham dificuldades
financeiras, o que os distinguia era a necessidade de sobrevivência física e imediata e a posse
de recursos econômicos para recomeçarem bem a nova vida. Por essas características em sua
maioria não eram agricultores / camponeses, pois emigrar custava caro. Esses migrantes
/imigrantes que vinham comprar as terras dos núcleos urbanos dinamizavam-nos, pois, o
compromisso dos compradores era o de construírem necessariamente uma casa no prazo
determinado e assim fechar um circuito vicioso: recursos – compras –recursos – compras.
Esse fato aparece nos panfletos, onde se exalta o rápido desenvolvimento da região,
como a frase corrobora:
“Quem attesta exhuberantemente as vantagens de adquirir-se terras da
Companhia, são os compradores dos 948 LOTES VENDIDOS EM 1934- São
também as 568 CASAS erguidas em Londrina - as machinas e as serrarias
em seu intenso trabalho quotidiano – o progresso vertiginosso de Nova
Dantzig , Rolandia e Heimtal,onde três novas cidades estão se erguendo
como três maravilhas que surgem do seio da mata....(sic)10
Outro panfleto que faz menção a esse fato é o datado de cinco de abril de 1936 que diz
que a média de construção de casas na cidade de Londrina é de setenta e cinco casas por mês.
Dessa forma inferimos a criação de uma imagem forte que se perpetua até os dias de hoje
como sendo uma região e um pólo de desenvolvimento. Os ingleses aproveitaram ainda esse
momento para implantarem uma cultura internacionalizada onde os produtos internacionais
tinham mais valor e criou-se o mito da colonização inglesa ser a melhor e única.
E ainda segundo OBERDIEK (1989) esse processo de ocupação do Norte do Paraná
pelo capital, leva a uma utilização de uma camada minoritária de colonos e uma proletarização
de outra grande camada. Era a garantia do sucesso do próprio projeto: vantagens e lucros
econômicos. O destaque para o autor é a importância do capital financeiro empregado nesse
início de colonização, e cita a teoria de Lênin para explicar o desenvolvimento, que julga o
10 Paraná Norte, Londrina7 de Abril de 1935
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capital inicial o estopim para desencadear um processo que gera recursos para o seu próprio
desenvolvimento e o lucro, que foram várias vezes superiores ao capital empregado.
Dessa forma a CNTP fornecia sementes e implementos agrícolas aos produtores
através das casas comerciais, recebia as safras dos colonos para comercializar e fazia o
escoamento das safras através da estrada de ferro beneficiando-se com o intermédio, enfim a
colonização foi organizada no intuito de fornecer lucro e se auto financiar.
A utilização da ferrovia pela CNTP que fazia o transporte das mercadorias tanto no
escoamento da produção como na importação dos produtos europeus também é motivo de
análise, pois esta fora um grande instrumento de arrecadação para a Cia Norte do Paraná,
como também um meio de atrair os investidores para a região, sendo uma forma de contato
com o exterior. Podemos perceber nos folhetos como a estrada de ferro era exaltada e motivo
de orgulho para região. Nos panfletos a estrada de ferro é citada em grande parte das edições.
Como no exemplo,
“Facilidade de communicação com os grandes centros, por boas estradas
de automovel e pela Companhia Ferroviária São Paulo Paraná que com
suas linhas férreas, está concorrendo para a maior rapidez do progresso
desta futura zona, bem como a valorização de suas terras;....” (sic) .11
A construção da ferrovia representou uma ligação com o moderno com o progresso.
Uma conseqüência da aquisição da estrada de ferro em 1930 foi o aumento das vendas de
terras, como observou STECA e FLORES (2002) a ferrovia foi “responsável pela integração
social e econômica da região, com o resto do Estado e do país [. . .],”12 .
A imagem da ferrovia foi muitas vezes ligada diretamente com o progresso, pois esta
atravessava a floresta selvagem e a natureza levando o desenvolvimento para a região. Esse
investimento era tão importante para a manutenção da imagem e para o projeto de colonização
da CTNP. Desde 1934, já se sabia que todas as ferrovias seriam nacionalizadas, porém o risco
lhe trouxe muitos lucros com a valorização das terras, com as importações, com as
exportações de grãos, e com o transporte de pessoas, além de venderem a estrada de ferro em
1944 pelo dobro do que investiram.
11
Paraná Norte, Londrina 18 de Novembro de 1934. 12STECA, Lucinéia C, e FLORES, Mariléia d. .O Norte pioneiro in: História do Paraná. Londrina: Ed. UEL, 2002.pg. 145
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Na maioria dos panfletos, porém, esses investimentos apareceram apenas como ruas,
estradas de ferro, estradas para o escoamento das safras, infra-estrutura em geral, como
comércio, casa de implementos agrícolas, enfim tudo que facilitasse a vinda dos novos
colonos, e não para a recuperação do capital empregado. O capital empregado inicialmente
fora de $ 750.000 libras esterlinas, a venda para os investidores paulistas em 1943 foi de
1.520.000 libras esterlinas, o dobro do que realmente investiram. Porém, o que se fixou no
imaginário popular foi uma colonização perfeita e que retirou a região do mapa dos sertões do
atraso e colocando-o no mapa do desenvolvimento e do moderno.
Sobre essa questão da visão dicotômica moderno /atrasado, o progresso da cidade e o
atraso do sertão, ARRUDA (200) nos esclarece, essa diferenciação
“A cidade é moderna, progressista, representante dos modernos valores,
onde as atividades políticas desenvolvem-se segundo os padrões da
modernidade democracia, convencimento pelo uso da razão, livre e
liberdade de opção. Lugar de vivência e atuação de cidadãos livres e
conscientes. O Sertão é arcaico, lugar da ação política clientelista, dos
coronéis, do populismo, da violência e onde não há possibilidade de ação
política de cidadãos livres e conscientes”.13
O progresso aparece nos discursos lembrando retoricamente ao futuro comprador que
nas terras da CTNP estava presente a civilização, modernidade, colonização, riquezas.
Podemos perceber nos folhetins o honroso e rápido trabalho de retirada desta região do
“Sertão”.
“Onde há três annos era Sertão, hoje é progresso, trabalho, estradas
admiráveis, terras intensamente cultivadas e um novo município com o seu
apparelhamento judiciário e admistrativo”.14
Esse discurso fora construído de forma planejada e incisiva ao ponto que ao se pensar
no Norte do Paraná logo se fixa imagem e palavra como o progresso à ocupação planejada e
pacifica, terra roxa, cafeicultura, pé vermelho. Esse foi um processo que fora estruturado na
versão do ponto de vista da Companhia de Terras Norte do Paraná e o que lhe convinha no
momento que era mitificar a região como o novo Eldorado e assim obter mais lucros.
13ARRUDA, Gilmar. Cidades e Sertões: entre a história e a memória. Bauru: Edusc, 2000 pg.09 14 Paraná Norte, Londrina 7 de Abril de 1935 .
8
Um dos instrumentos mais incisivos foi a veiculação da propaganda no jornal Paraná
Norte que durante anos fora um grande aliado para a divulgação desses ideais, sendo algo
curioso o cuidado que os ingleses tiveram com este veículo, pois podemos perceber que
durante os anos que a Companhia esteve sobre o seu domínio o anúncio fora de página inteira,
porém após sua venda em 1943, o anuncio foi minimizado. Panfletos datados da década de
1950 mostraram que a propaganda é reduzida, e é menor comparada a outros anúncios, o que
nos sugere que os novos proprietários não teriam o mesmo objetivo publicitário que os
ingleses.
Em 1943 os novos donos assumiram a CTNP e em 1951 passou a se chamar
Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP) que vendeu mais terras como nunca
havia se vendido antes na região, que demonstrou o amplo e certeiro trabalho de mitificação
da região. Porém, mesmo que a Cia Norte do Paraná não tenha vendido todas as terras, (a Cia
não conseguiu vender até 1943 -30% dos lotes), o lucro como podemos verificar foi alto, e isto
se deveu em grande parte à estrada de ferro, pois se beneficiava do projeto de colonização que
vinha desde a venda e da compra dos produtos produzidos como da manutenção dessas
famílias naquela região.
Analisaremos agora um panfleto (em anexo) que exemplifica esse tema veiculado ao
jornal Paraná Norte com a data de Londrina, agosto de 1941. Com uma fotografia de
Londrina, este jornal traduz uma inovação para a propaganda da Companhia de Terras Norte
do Paraná e se utiliza daquele suporte para confirmar o argumento escrito. Acerca desta
estratégia DEBRET, (apud LEITE, 1998, pg.9), reafirma a necessidade de vincular o texto
verbal e o imagético dando assim uma amplitude da idéia, e que tais textos se complementam.
Esta fotografia confirma o que era escrito, e dito pelos vendedores da Cia Norte do
Paraná. Provavelmente foi tirada no intuito de mostrar o melhor da cidade de Londrina,
revelando ao observador com um olhar mais atento suas intenções, levando em conta o
“recorte” feito da cidade, pois, o fotografo escolheu o ângulo e levou em consideração o
público alvo e o sentido que esta imagem teria que transmitir ao seu interlocutor. Esse recorte
foi feito de um ponto alto da cidade, mostrando assim Londrina em sua plenitude tanto da
possibilidade de crescimento, quanto como o comércio e a agricultura, tendo como suporte a
mata virgem que aparecem nas laterais e no fundo da imagem.
KOSSOY, (apud CARNICEL, 2002 pg.52) comenta:
9
“A fotografia é o resultado de um processo de criação/ construção técnico-
cultural- estético de uma realidade imaginada, de acordo com a ênfase
pretendida em função da finalidade ou aplicação a que se destina”.15
Desta forma, inferimos que a idéia do fotógrafo da Companhia era de exaltar o melhor
da região, e principalmente a melhor cidade pelo ponto de vista da Companhia. Há uma
segunda intenção na fotografia que nos permite perceber a necessidade de mostrar um lugar
com ruas, casas, uma cidade já próspera esperando o próximo morador que venha somar-se a
ela e tirar seus lucros certos, sendo que para isso não tenha que morar em uma floresta fechada
com suas doenças e dificuldades encontradas normalmente em início de uma povoação. Essa
imagem elimina qualquer outra imagem ou imaginário (sertão) do futuro comprador que possa
afetar a idéia de pregresso do lugar. Assim podemos perceber que a foto recortada na
paisagem mostra as regiões que abrangem o centro urbano, apenas o que seria atrativo para os
futuros compradores.
A grande maioria desses compradores eram estrangeiros ou profissionais liberais,
como afirma OBERDIEK (1989), e segundo o autor, esses profissionais preferiam ir para uma
localidade já desenvolvida com toda a infra-estrutura, e não apenas pelo fator comodidade,
mas pela profissão que exerciam que seriam mais prósperas em meios mais “civilizados”. .
BURKE (2004) nos coloca algo interessante sobre a questão da fotografia, ele compara
os fotógrafos aos historiadores, pois ambos selecionam quais aspectos do mundo real será
retratado. E ainda a fotografia não é inocente pelo fato que antes de se apertar o botão há uma
seleção de tema, moldura, lentes, emulsão e granulação pelo fotografo, pois esta fotografia
transmite uma mensagem, e para se transforma- lá em evidência basta saber interrogá-la.
Outro ponto que se pode colocar é a influência das imagens e dos discursos, na
construção de ideologia, na nossa percepção de mundo, estas imagens se tornam parte de um
discurso ideológico de progresso, e no caso dessa região atravessou gerações e espaços
geográficos, pois chegou a vários lugares do Brasil e do mundo, em uma simbologia de que os
ingleses fundaram uma região privilegiada, moderna, e ligada ao crescimento rápido e
vertiginoso, ou seja, uma nova Canaã onde a terra é a melhor, o lugar é o mais privilegiado e o
mais civilizado.
15
CARNICEL, Amarildo. Fotografia e inquietação: uma leitura da imagem a partir da relação do fotógrafo – fotografado. Resgate (11), 2002, pg. 52
10
Conclusão:
Por mais que a análise exija muita cautela ou o trabalho minucioso, com aplicação de
métodos de abordagem, trabalhar com as imagens se torna uma descoberta a cada leitura feita.
As simbologias contidas no domínio verbal e no imagético dos folhetos foram analisadas com
a certeza de que não seriam esgotadas na sua totalidade, pois são amplas e riquíssimas, para
podermos entendê-las. São documentos muito importantes para podermos entender esse
processo, que foi a colonização do Norte do Paraná no período de 1930 a 1950.
No entanto o que podemos concluir deste trabalho é que a CNTP utilizou um dos mais
modernos meios de comunicação do período: o jornal, e através deste percebemos a amplitude
dos negócios iniciados nos trópicos pela Inglaterra e ainda podemos analisar as mudanças e as
permanências no discurso da CNTP através desse tempo.
Outro aspecto é o histórico, pois se percebe nos folhetos o período inicial do
desenvolvimento do café, mudanças no Norte do Paraná e ainda o discurso e suas mudanças
do período de modernização de desenvolvimento no Brasil.
Entretanto, um fato percebido é o início do discurso de diferenciação do Norte do
Paraná e a nascente especificidade da região em uma identidade regional. Esse discurso
imagético que é dosado a cada panfleto com simbologias, e referências à civilização: “terras
das oportunidades”, “terra fértil e roxa”, do reconhecimento de um “Norte paranaense”,
contribuiu para essa região a se tornar uma referência às demais.
12
Bibliografia
ARRUDA, Gilmar. Cidades e Sertões: entre a história e a memória. Bauru: Edusc, 200.
BURK, Peter. Testemunha ocular Historia e imagem, Ed: EDUSC 2004
CARDOSO, Ciro F. e MAUADA, Ana M. História e imagem: os exemplos da fotografia e do
cinema. In Cardoso, Ciro F. e VAINFAS, Ronaldo. Domínios da História. RJ: Campus, 1997.
CARNICEL, Amarildo. Fotografia e inquietação: uma leitura da imagem a partir da relação do
fotógrafo – fotografado. Resgate (11), 2002.p.41-54.
LEITE, M. Lifchitz, Miriam. Imagem e Memória. Resgate (8) 1998. P. 9 – 16.
OBERDIEK, Iak, Hermann. “A imigração judaica – alemã no Norte do Paraná- O caso de
Rolândia.” Dissertação do mestrado, UNESP, 1989
SALGUEIRO, Heliana Angotti. Pierre Monbeig: A paisagem na óptica geográfica. In:
Paisagem e arte. SP. 2000.
STECA, Lucinéia C, e FLORES, Mariléia d.. O Norte pioneiro in: História do Paraná.
Londrina: Ed UEL, 2002.