TESTES PSICOLÓGICOS - T.A.T (Teste Apercepção
Temática)
TESTE T.A.T ( TESTE APERCEPÇÃO TEMÁTICA)
É um teste projetivo, de personalidade, de análise qualitativa,
clínico e individual;
I - INTRODUÇÃO
Henry A. Murray e colaboradores elaboraram o TAT na Clínica
Psicológica da Universidade de Harvard, nos EUA. Foi apresentada
em 1935 a primeira série de pranchas e em 1945, foi publicada a
terceira revisão, a que foi considerada a definitiva e por nós hoje
conhecida.
Quando o TAT foi elaborado, os autores aplicavam-no em sujeitos a
partir de 4 anos de idade, no entanto isso não é realizado
atualmente, sobretudo pelo surgimento de teste aperceptivo
temático infantil que é o CAT (Teste de Apercepção para Crianças)
nas formas Animal (CAT -A), Humano (CAT -H) e animal escala
especial (CAT-S), bem como o teste Symonds apropriado para
adolescentes.Em geral, TAT atualmente é amplamente aplicado em
adultos e, às vezes em pré-adolescentes ou adolescentes.
II - FUNDAMENTOS TEÓRICOS
Para criar o TAT, Murray partiu do princípio de que diferentes
indivíduos, frente a uma mesma situação vital, a experimentam
cada um a seu modo, de acordo com sua perspectiva pessoal. Essa
forma pessoal de elaborar uma experiência revela a atitude e a
estrutura do indivíduo frente à realidade experimentada. Assim,
expondo-se o sujeito a uma série de situações sociais típicas e
possibilitando-lhe a expressão de sentimentos, imagens, idéias e
lembranças vividas em cada uma destas confrontações, é possível
ter acesso à personalidade subjacente. Esse procedimento, nas
situações apresentadas, favorece a projeção do mundo interno do
sujeito.
Partindo desse princípio, Murray, com sua assistente
Christiana Morgan, procedeu à escolha do material que viria a
constituir o TAT: fotografias de pinturas em museus, anúncios em
revistas, fotos de filmes de cinema e de outras fontes, que
posteriormente foram redesenhados para apresentar um estilo
uniforme. O produto final são reproduções de situações dramáticas,
de contornos imprecisos, impressão difusa e tema inexplícito.
Exposto a esse material, o indivíduo, sem perceber, identifica-se
com uma personagem por ele escolhida e, com total liberdade,
comunica, por meio de uma história completa, sua experiência
perceptiva, mnêmica, imaginativa e emocional. Dessa forma,
podem-se conhecer quais situações e relações sugerem ao
indivíduo temor, desejos, dificuldades, assim como as necessidades
e pressões fundamentais na dinâmica subjacente de sua
personalidade.
Em relação ao conceito de projeção, Murray comenta que o
sujeito percebe o ambiente e responde ao mesmo em função de
seus próprios interesses, atitudes, hábitos, estados afetivos,
desejos etc. – em outras palavras, o indivíduo estrutura a realidade
de acordo com suas próprias características. No caso do TAT, em
vez de projeção, falamos em apercepção, ou seja, não uma mera
percepção de um objeto, mas toda uma interpretação de uma cena.
A percepção depende do campo de estímulos (fator externo)
e das necessidades do indivíduo (fator interno). Quando o campo
de estímulos é mais estruturado, predomina o fator externo na
percepção; quando o campo de estímulos é menos estruturado,
predominam os fatores internos na percepção. Nos métodos
projetivos, os estímulos são pouco estruturados e as instruções
permitem grande liberdade de resposta.
Para a mente aberta e humanista de Murray, a teoria de Freud
sobre as pulsões inconscientes, sexuais e agressivas pecava por
ser uma simplificação excessiva da complexidade multifacetada da
motivação humana. Murray admirava Freud e sua obra, mas
acreditava que sua primeira teoria libidinal era excessivamente
restrita e limitada. Desenvolveu então sua personologia, uma
teoria basicamente motivacional em que são centrais os conceitos
de necessidade e pulsão.
Necessidade é um construto que representa uma força, na
região cerebral, que organiza a percepção, a apercepção, a
intelectualização, a conação e a ação, de modo a transformá-la em
certa direção, ou seja, em uma situação satisfatória existente. Em
outras palavras, a necessidade gera um estado de tensão que
conduzirá a ação no sentido de chegar à satisfação, que por sua
vez reduzirá a tensão inicial, ou seja, restabelecerá o equilíbrio. A
necessidade pode ser produzida por forças internas ou externas e é
sempre acompanhada por um sentimento ou emoção.
A presença de uma necessidade pode ser identificada:
1. efeito ou resultado final do comportamento.
2. padrão ou modo do comportamento envolvido.
3. atenção seletiva e resposta a uma determinada classe de
objetos-estímulo.
4. expressão de uma determinada emoção ou afeto.
5. expressão de satisfação quando se obtém determinado efeito, ou
de desapontamento quando o resultado é negativo.
Pressões são os determinantes do meio externo que podem
facilitar ou impedir a satisfação das necessidades, representando a
forma como o sujeito vê ou interpreta seu meio. A pressão está
associada a pessoas ou objetos ou mesmo o ambiente que se
acham envolvidos, diretamente, nos esforços que o indivíduo faz
para satisfazer suas necessidades. "A pressão é um objeto é o que
pode fazer ao sujeito ou para o sujeito, ou seja, o poder que tem
para afetar o bem estar do sujeito". Conhecemos muito mais as
possibilidades do indivíduo quando temos uma descrição não
apenas de seus motivos ou tendências, mas também a maneira
pela qual ele vê ou interpreta seu meio.
Ambiente é favorável quando ele facilita a obtenção da
necessidade. É desfavorável quando ele dificulta e neutro não está
relacionado com a necessidade.Murray organizou várias listas de
pressões, para fins especiais. Exemplo disso é a classificação
contida na tabela a seguir, destinada a representar eventos ou
influências significativas da infância. Na prática, essas pressões não
apenas são vistas operando em determinadas experiências do
indivíduo, mas também, se lhes atribui uma função quantitativa para
indicar sua força ou importância na vida do mesmo indivíduo.
III – MATERIAL DO TESTE
O conjunto completo é constituído por 31 pranchas que abrangem
situações humanas clássicas. Segundo as instruções originais, a
cada sujeito devem ser aplicados 20 estímulos, perfazendo o total
de vinte histórias. O grau de realismo é variável, sendo as 10
primeiras mais estruturadas e as 10 últimas menos estruturadas.
Cada prancha apresenta impressos no verso, apenas um número
ou um número seguido de uma ou mais letras. O número indica a
ordem em que o estímulo deve ser apresentado, na série, e as
letras referem-se ao gênero e/ou idade aos qual o estímulo se
destina.
Os quadros, impressos em branco e preto, representam
situações de trabalho, relações familiares, perigo e medo, atitudes
sexuais, agressão e uma prancha em branco que permite
associações mais livres. O uso de figuras nas pranchas tem por
objetivo facilitar a produção do sujeito, que tem que encarar
determinadas situações típicas que nos interessa que sejam
exploradas e permite padronizar a interpretação.
TEMAS EVOCADOS PELOS ESTÍMULOS
1) PRIMEIRA SÉRIE
PRANCHA 1
O MENINO E O VIOLINO
Um rapaz está contemplando um violino colocado sobre a mesa
à sua frente.
A) Área que explora:
- Dever: submissão - rebeldia
- Aspirações, expectativas, ambições, frustrações, ideal do Ego,
fantasias vocacionais.
- Atitude frente ao dever
- Imagem dos pais
B) Interpretação dos adultos:
Aparecem temas que expressam a opinião que o sujeito tem
de suas atitudes e a imagem dos pais.
C) Clichês:
Temas que manifestam atitude do sujeito frente ao dever e
com freqüência as suas aspirações:
1. Os pais, geralmente, impõem ao menino a praticar ou estudar o
violino; referido comumente pelos sujeitos como sendo dominados
pelos pais. Diante dessa exigência o menino reage com
passividade, conformismo, oposição, rebeldia ou fuga à fantasia,
reação que corresponde, em geral à do sujeito em condições
semelhantes da realidade.
2. Outras histórias freqüentes se referem às aspirações, objetivos,
dificuldades do herói: ordinariamente pertinentes em sujeitos
ambiciosos.
D) Distorções:
Interpreta o menino como sendo cego ou que está dormindo;
em relação ao violino ou o percebe mal, ou uma das cordas está
solta; confusão do objeto identificado como sendo um livro.
E) Omissões:
Não consegue ver o arco ou o violino, ou ambos.
F) Simbolizações:
1. O herói está preocupado porque uma corda está solta ou
arrebentada, portanto intocável: freqüente em sujeitos que tem
sentimento de culpa devido à masturbação ou que sofrem de
ansiedade de castração.
2. O herói analisa ou pesquisa acerca do funcionamento e do
mecanismo interno do violino: sujeitos preocupados (ansiedade de
castração) ou de curiosidade das questões de ordem sexual.
PRANCHA 2
A ESTUDANTE NO CAMPO
Cena campestre: no primeiro plano está uma jovem com livros
na mão; ao fundo, um homem está trabalhando no campo e uma
mulher mais idosa assiste.
A) Área que explora:
- Conflitos de adaptação intrafamiliares
- Conflito com a feminilidade e com as formas de vida: campesina
X urbana; instintivo X intelectual; virgindade X maternidade.
- Nível de aspiração
- Atitude frente aos pais
B) Interpretação dos adultos:
Aspirações pessoais do sujeito e de sua situação intrafamiliar.
C) Clichês:
Revelam as reações do herói (a jovem do primeiro plano ou o
homem do fundo) frente ao ambiente pouco cordial ou que não a (o)
estimula, ou diante dos problemas enraizados pelas dificuldades de
relacionamento familiar. Denuncia como o paciente vê seu
ambiente, seu nível de aspiração e suas atitudes frente a seus pais.
PRANCHA 3 RH
RECLINADO (A) NO DIVÃ
No chão, encostado a um sofá, está agachado um rapaz com
a cabeça reclinada sobre o seu braço direito. Ao seu lado, no chão,
há um revolver.
A) Área que explora:
Frustração, depressão, suicídio.
B) Interpretação dos adultos:
Principais frustrações do sujeito, fatores aos quais são
atribuídas reações frente aos mesmos.
C) Clichês:
Histórias que expressam depressão; rejeição e suicídio. O
rapaz foi injustiçado e o mesmo acaba tendo mal procedimento.
Mais especificamente denunciam as situações que o sujeito
considera sendo frustradores de seus desejos, assim como suas
reações e seu estilo na resolução dos problemas.
D) Distorções:
1. O jovem é visto como moça, pelos sujeitos com fortes tendências
femininas;
2. O revolver é visto como um brinquedo ou outra coisa menos
hostil, pelos sujeitos incapazes de expressar sua agressão de forma
manifesta.
E) Omissão:
Do revolver
PRANCHA 3 MF
A JOVEM NA PORTA
Uma jovem está de pé e cabisbaixa cobrindo o rosto com a
mão direita. Seu braço esquerdo está estendido para frente,
apoiando-se numa porta de madeira.
A) Área que explora:
Desespero culpa abandono, fracasso, violentado e perdido.
B) Interpretação dos adultos:
Revelam os principais fatores causadores das frustrações e
sua reação frente aos mesmos.
C) Clichês:
Dá lugar à expressão de sentimento de desespero e culpa
PRANCHA 4
UMA MULHER ENLAÇA O HOMEM, RETENDO-O.
Uma mulher enlaça um homem, cujo rosto e corpo estão
desviados dela, como se ele tentasse afastá-la.
A) Área que explora:
- Abandono, ciúmes, infidelidade, competição.
- Conflitos matrimoniais
- Atitude frente ao próprio sexo e ao sexo oposto
B) Interpretação dos adultos:
- Conflitos vivenciados pelo sujeito na vida real e a forma como o
encara e enfrenta.
C) Clichês:
Histórias de conflitos (discussão ou drama de um eterno
triângulo amoroso) do casal que está no primeiro plano. A figura
seminua no fundo é a amante ou noiva do homem. O homem
deseja desvencilhar-se da mulher para realizar algum plano, mas
ela quer retê-lo. Traduzem as dificuldades do sujeito em sua vida
matrimonial ou suas atitudes frente às mulheres e o sexo.
D) Omissão: -
Da mulher semidespida.
PRANCHA 5
MULHER IDOSA À PORTA
Uma mulher de meia-idade está de pé no limiar de uma porta
entreaberta, olhando para dentro de um quarto.
A) Área que explora:
- Imagem da mãe ou esposa (protetora, vigilante, castradora).
- Ansiedades paranóides
B) Interpretação dos adultos:
Inter-relações mãe-filho
C) Clichês:
A mulher de idade mediana descobriu um ou mais indivíduos
em atitudes que prefere ignorar; ou inspeciona o quarto por uma ou
mais razões. Revela as atitudes e expectativas do sujeito frente a
sua mãe (visto como superprotetora, proibindo ou censurando), a
sua esposa ou às situações frente às que sente curiosidade.
D) Distorções:
A mulher é vista como sendo homem; a mulher examinando a
parte externa da casa; dois quartos ao invés de um; o abajur como
sendo uma cortina.
PRANCHA 6RH
O FILHO QUE VAI PARTIR
Uma mulher madura e gorda está, de pé, de costas para um
jovem de elevada estatura. Este olha para baixo, com uma
expressão perplexa.
A) Área que explora:
- Atitude frente à figura materna
- Dependência X Independência
- Abandono, culpa
B) Interpretação dos adultos:
Comportamento frente à situação edipiana.
C) Clichês:
Filho solicita a sua mãe permissão para levar ao cabo um
projeto largamente planejado, abandonar seu local para ir trabalhar
numa outra cidade; casar-se ou alistar-se no exército. Seus desejos
quase sempre estão em conflito com os da mãe. Revela a atitude
do sujeito frente à figura materna (sentimentos de culpa,
dependência x independência, superproteção) e os fatores que
produzem e justificam seu afastamento.
PRANCHA 6 MF
MULHER SURPREENDIDA
Uma mulher jovem, sentada na borda de um sofá, olha para trás,
por cima do ombro, para um homem mais velho, com um cachimbo
na boca, que parece dirigir-lhe a palavra.
A) Área que explora:
Expectativas, temores, pressão, suspeita, extorsão.
B) Interpretação dos adultos:
Comportamento frente à figura paterna.
PRANCHA 7RH
PAI E FILHO
Um homem grisalho está olhando para um jovem que
contempla o espaço com semblante carrancudo.
A) Área que explora:
- Atitude frente à figura paterna (adulto, autoridade).
- Submissão, rebeldia
- Necessidade de ser aconselhado, de ajuda, de apoio, orientação.
- Ameaça de homossexualidade
B) Interpretação dos adultos:
Comportamento intrafamiliar
C) Clichês:
O jovem recorre ao velho em busca de conselhos; ou ambos
discutem um problema de mútuo interesse. Reflete a atitude do
sujeito frente ao pai; aos adultos e à autoridade em geral
(dependência, obediência, rejeição, desafio). Pode expressar as
tendências anti-sociais e a atitude do sujeito frente à terapia.
PRANCHA 7MF
MOÇA E BONECA
Mulher idosa sentada num sofá, próxima de uma menina,
falando-lhe ou lendo-lhe. A menina, que está com uma boneca no
regaço olha para longe.
A) Área que explora:
- Imagem da mãe
- Atitude frente à maternidade.
B) Interpretação dos adultos:
Comportamento intrafamiliar
PRANCHA 8RH
A INTERVENÇÃO CIRÚRGICA
Um adolescente olha diretamente para fora do quadro. O cano
de um rifle é visível a um lado e, ao fundo, a cena nebulosa de uma
operação cirúrgica, como a imagem de uma divagação.
A) Área que explora:
- Direção da agressividade
- Imagem do pai
- Medo da morte
B) Interpretação dos adultos:
Nada em especial
C) Clichês:
Em geral o adolescente é o herói.
1. O cenário ao fundo representa sua fantasia ou desejo de ser
médico, em cujo caso se delata a ambição do sujeito.
2. Atirou contra a pessoa que está sobre a mesa e agora aguarda o
resultado da operação: história que expressa as tendências
agressivas do sujeito em dadas ocasiões dirigidas contra uma
determinada pessoa.
D) Omissão:
Do rifle.
E) Simbolizações:
Se amputar a perna da pessoa que está à mesa, geralmente,
reflete ansiedade de castração.
PRANCHA 8 MF
MULHER PENSATIVA
Uma jovem está sentada com o queixo apoiado sobre a mão,
seus olhos estão distantes.
A) Área que explora:
Problemas atuais e fantasia
B) Interpretação dos adultos:
Relações com o grupo do próprio sexo nas áreas: profissional,
familiar e sexual. Conflitos atuais, tensões e esforço para
solucioná-los.
PRANCHA 9RH
GRUPO DE VAGABUNDOS
Quatro homens de macacão estão deitados sobre o gramado,
repousando.
A) Área que explora:
- Trabalho e ociosidade
- Relacionamento com o próprio grupo sexual
- Homossexualidade.
B) Interpretação dos adultos:
Relacionamento com o próprio grupo social nas esferas:
familiar, profissional e sexual.
C) Clichês:
Os homens estão descansando ou dormindo após uma dura
jornada de trabalho ou tomando um breve descanso antes de
retornar ao trabalho.
As histórias de sujeitos mais esforçados concluem como retorno
ao trabalho.
PRANCHA 9MF
DUAS MULHERES NA PRAIA
Uma jovem com uma revista e uma bolsa na mão, espia
detrás de uma árvore uma outra jovem trajada elegantemente, que
corre ao longo de uma praia.
A) Área que explora:
- Competição feminina
- Rivalidade feminina
- Espionagem, culpa e perseguição.
B) Interpretação dos adultos:
Relações com o grupo do próprio sexo nas atividades
profissionais, familiares e sexuais.
PRANCHA 10
O ABRAÇO
A cabeça de uma mulher encostada no ombro de um homem.
A) Área que explora:
- Atitude frente à separação
- Conflito do casal
B) Interpretação dos adultos:
Conflitos amorosos e sexuais
C) Clichês:
O homem e a mulher expressam seu mútuo afeto. Indica em
geral, a atitude do sujeito frente à separação da pessoa amada,
assim como seu grau de dependência à figura paterna.
Normalmente denuncia como o sujeito considera sua mulher ou as
relações entre seus pais.
D) Distorções:
A idade é confundida e sexo do homem e da mulher as
sombras faciais são interpretadas de diferentes maneiras.
2) SEGUNDA SÉRIE
PRANCHA 11
PAISAGEM PRIMITIVA DE PEDRAS
Uma estrada à beira de um profundo desfiladeiro entre
elevadas escarpas. Na estrada, aparecem figuras obscuras à
distância. De um lado da vertente rochosa assoma a longa cabeça
e o pescoço de um dragão.
A) Área que explora:
- Ansiedade frente ao perigo
- Angústia frente aos instintos
B) Interpretação dos adultos:
- Fantasias e tendências sexuais e agressivas.
- Dificuldade de controle e respostas a situações perigosas.
C) Clichês:
Em geral, reflete a atitude do sujeito frente ao perigo e sua
maneira de experimentar a ansiedade. As figuras obscuras (homens
ou animais) são vistas como se estivessem sendo atacadas pelo
dragão e normalmente descrevem suas técnicas defensivas: indica
o temor do sujeito à agressão e os meios desencadeados para
vencê-lo.
O personagem masculino pode ser um cientista ou um
explorador das regiões desconhecidas: revela sua curiosidade ou
desejo de experimentar situações novas ou perigosas.
D) Distorções
Esta prancha oferece a maior quantidade de possibilidades
aos erros perceptivos: o dragão é visto como um caminho; a cabeça
do dragão como sua margem; o fundo como uma cascata; as
paredes do abismo como sendo o castelo; as pedras como sendo
cabeças humanas. A confusão do grupo de homens com o inseto é
comum e não constitui um indicador especial.
E) Omissão
Do dragão
F) Simbolizações:
O monstro geralmente constitui uma representação simbólica
das exigências instintivas que ameaçam seu interior. As histórias
que se referem às dificuldades para dominar o animal e aquelas em
que o herói é perseguido pelos animais, podem refletir dificuldades
de se controlar ou se adaptar aos impulsos e tensões sexuais.
PRANCHA 12H
O HIPNOTIZADOR
Um jovem está deitado num sofá com os olhos fechados.
Debruçado sobre ele, a forma esguia de um homem idoso, a sua
mão estendida para o rosto da figura recostada.
A) Área que explora:
- Relação transferencial à situação de prova
- Ameaça ao homossexualismo
B) Interpretação dos adultos:
- Atitude frente aos adultos
- O papel de passividade e a atitude frente ao
terapeuta.
- Tendência homossexual latente e experiências
homossexuais ocultas.
C) Clichês:
O herói (em geral o homem que está deitado) está dormindo e
o ancião veio despertá-lo, ou é hipnotizado por este homem, ou
está enfermo e o ancião veio perguntar-lhe pela sua saúde.
Geralmente revelam a atitude do examinando frente aos homens
adultos e seu ambiente, o papel da passividade em sua
personalidade e, à vezes, sua atitude frente à terapia.
D) Distorções:
Com respeito aos dedos das mãos, e em casos raros ao sexo
de um dos dois homens; o jovem pode ser visto como mulher pelos
sujeitos com fortes componentes femininos.
E) Simbolizações:
As histórias em que o jovem que está deitado está se
submetendo ou pode ter sido forçado a ser hipnotizado pelo homem
maduro, geralmente denunciam tendências homossexuais latentes
ou experiências homossexuais encobertas.
PRANCHA 12 F
A CELESTINA
Retrato de uma mulher jovem. Ao fundo uma velha misteriosa,
com xale sobre a cabeça faz caretas.
A) Área que explora:
- Tentação instintiva e defensiva
- Relação mãe-filha
B) Interpretação dos adultos:
- Atitude da filha frente ao controle materno.
- Tendências ao controle das irmãs
C) Clichês:
Proporciona oportunidade de expressar a atitude frente à
figura da mãe ou da filha, e envelhecimento e o matrimônio.
D) Distorções:
Nos casos psicóticos raros, a jovem é vista como um homem.
PRANCHA 12RM
O BOTE ABANDONADO
Um barco a remo está parado à margem de um rio que corre
entre o arvoredo de uma floresta. Não há figuras humanas no
quadro.
A) Área que explora:
Fantasias desiderativas (desejos)
PRANCHA 13 HF
MULHER SOBRE A CAMA
Um jovem de pé e com a cabeça inclinada, coberta por seu
braço. Atrás dele, a figura de uma mulher deitada numa cama.
A) Área que explora:
- Atitude frente ao relacionamento heterossexual (ansiedade).
- Sentimento de culpa
B) Interpretação dos adultos:
Tendências sexuais, relacionamento e conflitos no amor, e
matrimônio e a vida erótica.
C) Clichês:
Quase sempre traduzem a atitude do sujeito frente às mulheres e
ao sexo, às vezes frente aos sentimentos de culpa e a atitude frente
ao alcoolismo. Histórias mais freqüentes: temas sexuais.
1. Homem contempla ou manteve relações sexuais com a mulher
(esposa, noiva ou prostituta) na cama.
2. A mulher, esposa do herói, está morta ou enferma e se descrevem
os sentimentos do jovem, comumente representam a hostilidade,
contra a esposa ou às mulheres em geral.
D) Distorções:
Grande variedade, incluindo especulações acerca do fundo e
dos objetos sobre a mesa.
E) Omissões:
Da mulher que está sobre a cama.
PRANCHA 13R
UM MENINO ESTÁ SENTADO NA SOLEIRA
Um menino sentado na soleira da porta de uma cabana de
madeira.
A) Área que explora:
- Carências, solidão, saudade, abandono e expectativas.
PRANCHA 13M
RAPARIGA SUBINDO AS ESCADAS
Uma jovem está subindo um lance de escada em espiral.
A) Área que explora:
- Carência, solidão e expectativas.
PRANCHA 14
HOMEM À JANELA
A silhueta de um homem (ou mulher) contra uma janela
iluminada. O resto do quadro é totalmente negro.
A) Área que explora:
- Homem adentro: fantasias, expectativas, evocação
- Homem afora: evasão, aventura sexual, roubo
- Choque ao negro
B) Interpretação dos adultos:
Denunciam os determinantes das ambições, preocupações,
expectativas e eventualmente, fantasias de suicídio.
C) Clichês:
Permite a expressão das frustrações, expectativas, ambições e
preocupações, inclusive suicidas.
D) Distorções:
O homem é visto como uma mulher, ou que está subindo em
algum lugar.
PRANCHA 15
NO CEMITÉRIO
Um homem negro, de mãos unidas, está em pé entre
sepulturas.
A) Área que explora:
- Morte, culpa e castigo.
- Choque ao negro
B) Interpretação dos adultos:
- Atitude e sentimentos do sujeito frente à morte e à perda de
membros da família.
C) Clichês:
A figura delgada reza ante a tumba de um morto. Descreve
seus sentimentos e atitudes, passados e presentes frente à mesma.
A pessoa morta geralmente representa a pessoa a quem dirige ou
experimenta uma forte agressividade.
D) Distorções:
O Homem é visto como sendo uma mulher. Em suas mãos
retém uma lâmpada ou um livro; os túmulos como sendo platéia de
um teatro.
PRANCHA 16
PRANCHA EM BRANCO
A) Área que explora:
- Relação transferêncial à situação da prova.
- Ideal do EGO
B) Interpretação dos adultos:
Aspirações e possessões
C) Clichês:
Na maioria das vezes gira em torno dos problemas interiores
de grande importância, ou deixa manifestar a atitude frente ao
examinador.
PRANCHA 17RH
O ACROBATA
Um homem nu está suspenso em uma corda. Está para galgar
ou descer pela corda.
A) Área que explora:
- Nível de aspiração
- Exibicionismo ou narcisismo
- Masturbação
B) Interpretação dos adultos:
- Vontade de triunfar, nível de aspiração e tendências exibicionistas.
- Problemas pessoais, relações interpessoais e atitudes frente às
dificuldades do mundo exterior.
C) Clichês:
Em geral não provoca nenhum tema significativo. O homem da
corda é visto como:
1. Está demonstrando sua habilidade atlética ou física ante um
público numeroso, o qual revela o desejo de ser reconhecido, seu
nível de aspiração ou as tendências exibicionistas do sujeito.
2. Tema que pode expressar as situações ou problemas difíceis de
resolver para o sujeito ou as reações ante as emergências. Se
este tema é repetitivo, estereotipado, elaborado em excesso e seu
teor afetivo e seu desenlace são intensos, representa as
expectativas e esperanças do sujeito em escapar-se das suas
dificuldades.
D) Distorções:
Quanto ao fundo, ao homem
E) Simbolizações:
O herói que sobe e desce pela corda: preocupação
masturbatória.
PRANCHA 17MF
A PONTE
Uma ponte sobre a água. Uma figura feminina debruça-se do
parapeito. Ao fundo estão altos edifícios e pequenas figuras de
homem.
A) Área que explora:
- Frustração, depressão
- Autocastigo, suicídio
B) Interpretação dos adultos:
Frustrações e reações frente ao controle familiar. Sentimentos
depressivos e tendências ao autocastigo.
C) Clichês:
Com freqüência provoca:
1. Fortes sentimentos de dúvida e a tendência do sujeito a manter a
esperança ou a ceder (suicídio).
2. Atitudes frente à partida ou aparecimento de um objeto amado.
D) Distorções:
A ponte é vista como balcão da casa, a mulher como homem;
perspectivas equivocadas.
E) Omissões:
Da mulher ou do grupo de trabalhadores.
PRANCHA 18 RH
ATACADO PELAS COSTAS
Um homem é agarrado por detrás por três mãos. As figuras
dos seus antagonistas são invisíveis.
A) Área que explora:
- Ansiedade, culpa
- Idéias paranóides, ataque homossexual
B) Interpretação dos adultos:
Atitudes frente às condutas socialmente desaprovadas.
C) Clichês:
Histórias estereotipadas relacionadas a roubos, ou à bebida,
que expressam atitudes frente aos vícios (alcoolismo ou ingestão de
drogas). Podem, assim mesmo, expressar a ansiedade do paciente
frente à agressão dirigida contra o terapeuta.
1. O herói tem bebido ou sofrido um acidente e as mãos pertencem
às pessoas que o ajudam.
2. O herói está sendo atacado pelas costas, e as mãos pertencem
aos seus agressores.
D) Distorções:
Os dedos das mãos como correntes; da expressão facial,
posição e estado da pessoa do fundo.
E) Simbolizações:
Geralmente denunciam as tendências homossexuais latentes
ou experiências homossexuais encobertas do sujeito.
PRANCHA 18MF
MULHER QUE ESTRANGULA
Uma mulher aperta o pescoço de uma outra mulher, a quem
parece estar empurrando sobre o corrimão de uma escada.
A) Área que explora:
- Agressividade e apoio
B) Interpretação dos adultos:
Agressividade e relação com a figura materna e parentais do
sexo feminino.
C) Clichês:
Estimula as atitudes agressivas. Expressam as relações com
as figuras da filha, irmã, mãe e figuras femininas em geral; os
ciúmes, sentimentos de inferioridade e reação frente a relações
submissas.
D) Distorções:
Da conotação agressiva; da perspectiva, e raramente, do sexo dos
personagens.
PRANCHA 19
CABANA COBERTA DE NEVE
Quadro fantasmagórico com formações de nuvens, pairando
sobre uma cabana coberta de neve.
A) Área que explora:
- Carência e conforto; vazio e plenitude; frustração e segurança.
B) Interpretação dos adultos:
Explora os sentimentos e desejos de segurança; como
responde o sujeito frente às barreiras que o interceptam.
C) Clichês:
Oferece dificuldade: os pacientes a consideram como
fantasmagórica. A cabana está cercada pela neve, mas seus
habitantes estão acomodados. Descreve-se o estado destes e
como superam a situação, reflete o desejo de segurança do sujeito
e o modo como enfrenta as circunstâncias frustradoras de seu
próprio meio.
D) Simbolizações:
A preocupação pelos "olhos" (as aberturas da cabana) pode
denunciar os sentimentos de culpa do paciente.
PRANCHA 20
SOZINHO DEBAIXO DA ILUMINAÇÃO
Figura de um homem ou mulher iluminada de modo tênue,
apoiando-se num candeeiro de rua, numa noite escura.
A) Área que explora:
- Preocupações, abandono, culpa, castigo.
B) Interpretação dos adultos:
Problemas íntimos, preocupações, tendências sexuais ou
agressivas.
C) Clichês:
A figura medita sobre diversos problemas interiores, de
relativa importância: aguarda a noiva (ou o noivo), ou planeja o
ataque a uma vítima. Revela os temas que preocupam seus
problemas, atitudes heterossexuais e as tendências agressivas do
sujeito.
IV – ADMINISTRAÇÃO (MURRAY, 2005, P. 21-23).
Preparação do Sujeito
A maioria dos sujeitos não precisa de nenhum preparo, além
de algum motivo razoável para se submeter ao teste. Mas, para os
que forem muito limitados, pouco responsivos, resistentes ou
desconfiados, bem como aqueles que nunca passaram por provas
escolares ou testes psicológicos, é melhor que se comece com uma
tarefa menos exigente antes de ser submetido ao TAT. As crianças,
geralmente, produzem melhor depois de algumas sessões
dedicadas à expressão de suas fantasias, verbalizadas por meios
de brinquedos e brincadeiras.
Ambiente de teste
O ambiente de cordialidade, o aspecto do consultório e de seu
mobiliário, assim como o sexo, a idade, as atitudes e a
personalidade do psicólogo, são capazes de afetar a liberdade,
vivacidade e a direção da atividade imaginativa do sujeito. A meta
do psicólogo é conseguir maior quantidade de material, com a
melhor qualidade possível, conforme as condições circunstanciais.
Dado que a execução depende totalmente da boa vontade e
criatividade momentâneas do sujeito, e também que a criatividade é
um processo delicado, fundamentalmente involuntário, que não
pode ser forçado, nem irá desabrochar num clima áspero, frio,
intelectualmente arrogante ou de algum modo não empático, é
importante que o sujeito tenha bons motivos para sentir que o
ambiente é acolhedor e que capte que estão presentes a
receptividade, a boa vontade e o apreço por parte do psicólogo.
Instruções
I – Primeira sessão
O sujeito deve sentar-se numa cadeira confortável ou, então,
reclinar-se num divã. As instruções serão lidas para ele devagar,
utilizando-se uma das seguintes formas:
Forma A (aconselhável para adolescentes e adultos de
grau médio de inteligência e cultura): “Este é um teste de
imaginação que é uma das formas da inteligência. Vou mostrar-lhe
algumas pranchas, uma de cada vez, e a sua tarefa será inventar,
para cada uma delas, uma história com o máximo de ação possível.
Conte-me o que levou ao fato mostrado na prancha, descreva o que
está acontecendo no momento, o que as personagens estão
sentindo e pensando. Conte depois como termina a história.
Procure expressar seus pensamentos conforme eles forem
ocorrendo em sua mente. Você compreendeu? Como você tem
cinqüenta minutos para as 10 pranchas, você pode utilizar cerca de
5 minutos para cada história. Aqui está a primeira prancha”.
Forma B (aconselhável para crianças, adultos pouco
inteligentes ou de pouca instrução): “Este é um teste para contar
histórias. Eu tenho aqui algumas pranchas que vou lhe mostrar.
Quero que você faça uma história para cada uma delas. Conte o
que aconteceu antes e o que está acontecendo agora. Fale o que
as pessoas estão sentindo e pensando e como termina a história.
Você pode fazer o tipo de história que quiser. Compreendeu? Bem,
então aqui está a primeira prancha. Você tem 5 minutos para fazer
uma história. Faça o melhor que puder”.
As palavras exatas dessas instruções podem ser modificadas
para se adaptarem à idade, inteligência, personalidade e condições
peculiares de cada sujeito. Mas é melhor, de início, não dizer: “Está
é uma oportunidade para você usar livremente sua imaginação”,
pois essa forma de instrução suscita, algumas vezes, no sujeito, a
suspeita de que o psicólogo pretende interpretar o conteúdo de
suas associações livres, como ocorre na psicanálise. Tal suspeita
pode causar grave dano à espontaneidade do pensamento do
sujeito. Convém que ele acredite que o psicólogo está interessado
tão somente em sua aptidão criativa ou literária.
Terminada a primeira história (e desde que haja base para
isso), o sujeito deve ser discretamente elogiado. E, a menos que as
tenha seguido com precisão, é preciso relembrar-lhe as instruções.
Assim, o examinador poderá dizer: “Certamente essa foi uma
história interessante, mas você esqueceu de dizer como o menino
reagiu quando sua mãe o repreendeu, deixando a narrativa no ar.
Não houve de fato um verdadeiro desfecho para a sua história.
Você gastou nela três minutos e meio. As outras podem ser um
pouco mais compridas. Procure fazer o melhor que puder com esta
segunda prancha”.
De modo geral, é preferível que o psicólogo não diga mais
nada no restante do tempo, exceto (1) para informá-lo se estiver
muito atrasado ou muito adiantado em relação ao tempo previsto,
por ser importante que o sujeito complete a série de dez histórias e
dedique mais ou menos a mesma quantidade de tempo a cada uma
delas; (2) para estimulá-la com um discreto elogio de vez em
quando, pois essa pode ser a melhor maneira de incentivar a
imaginação; e (3) se o sujeito omitir algum detalhe fundamental, as
circunstâncias antecedentes ou o desfecho, lembrar-lhe com
alguma breve observação tal como: “o que levou a essa
situação?” De modo algum deve o psicólogo envolver-se em
discussões com o sujeito.
O psicólogo deve interromper uma história demasiado longa e
inconsistente, perguntando: “E como ela termina”, podendo dizer ao
sujeito que o que importa é o enredo e não uma grande quantidade
de detalhes. Os sujeitos que ficam intensamente absorvidos na
descrição literal das pranchas devem ser alertados com tato de que
este constitui apenas um teste de imaginação. Se o sujeito fizer
perguntas sobre detalhes pouco claros, o psicólogo deve
responder: “Podem ser o que você quiser”. Não se deve permitir
que o sujeito construa várias narrativas para uma mesma prancha.
Se perceber que está orientando nessa direção, convém dizer-lhe
que deve aplicar seus esforços numa única história mais longa.
As histórias devem ser registradas com detalhes, usando
abreviações comuns ou pessoais.
Ao marcarmos a segunda sessão, convém que o sujeito não
saiba ou que não seja levado a pensar que lhe serão solicitadas
novas histórias. Ter essa expectativa em mente pode levá-lo a se
preparar mediante a busca de enredos lidos em livros ou em filmes
vistos por ele que, nessas condições, voltaria equipado com um
material mais impessoal do que o produzido quando obrigado a
inventar as histórias no impulso do momento.
II – Segunda sessão
É desejável que haja um intervalo de, pelo menos, um dia
entre a primeira e a segunda sessão. Nessa segunda parte, o
procedimento é semelhante ao utilizado na anterior, salvo num
aspecto: a ênfase nas instruções sobre a completa liberdade da
imaginação.
A prancha 16 é dada com uma instrução especial: “Veja o que
você pode ver nesta prancha em branco. Imagine alguma cena aí e
descreva-a em detalhe”. Se o sujeito não conseguir, o examinador
deve dizer: “Feche os olhos e imagine alguma coisa”.Depois que o
sujeito der uma descrição completa daquilo que imaginou, o
psicólogo deve dizer: “Agora me conte uma história sobre isso”.
O exame completo com o TAT compreende o uso das duas
séries de pranchas, em duas sessões, separadas por um intervalo
de tempo mínimo de um dia e um máximo de uma semana. Se não
essa possibilidade, recomenda-se o emprego das dez pranchas da
segunda série, consideradas como estímulos mais eficazes. Em
determinados casos, o examinador pode escolher as pranchas mais
importantes para a abordagem dos problemas em foco. Sempre que
possível, entretanto deve dar preferência ao exame completo. As
pranchas são apresentadas na ordem estabelecida pela numeração
Após a coleta das histórias procede-se ao inquérito, para a
suplementação de dados imprecisos, assim como para pesquisar a
fonte de idéias.
V – Interpretação (MURRAY, 2005; SHENTOUB, 1951).
A – Herói principal (protagonista)
Murray centraliza a interpretação no herói principal como
catalizador das projeções do sujeito. Outros autores, porém como
Piotrowsky, reconhecem haver projeção em outros personagens,
sobretudo projeções de impulsos não aceitos, quanto mais
inconscientes seriam os impulsos neles projetados.
Os traços do herói corresponderiam à imagem, real ou ideal,
que o sujeito tem de si. O herói seria o catalizador principal das
projeções do sujeito, sobretudo segundo a linha interpretativa de
Murray.
Idade: Informa-nos se o sujeito se percebe como jovem,
criança, homem maduro ou velho.
Sexo: Informa-nos sobre a identificação do sujeito com o
próprio sexo ou com o sexo oposto.
Personalidade: As atitudes, sentimentos, conduta, traços, etc,
traduzem-nos as qualidades que o sujeito possui, crê ou deseja
possuir.
Aparência física: Relaciona-se com os interesses do sujeito,
sua imagem corporal, seu ideal físico, sobretudo se trata de figuras
ambíguas.
Multiplicidade de heróis:
Tal multiplicidade pode "resultar do deslocamento da
identificação e revelar importantes fases, ou aspectos
contraditórios, ou uma dissociação mais ou menos forte da
personalidade do sujeito".
Identificação: Em geral, o herói principal é:
- O personagem em quem o narrador está mais interessado, cujo
ponto de vista o narrador adota.
- Quem mais se assemelha ao sujeito em termos objetivos e reais
(regra não rígida).
- Pessoa que figura no quadro.
- Pessoa que desempenha papel principal.
Entretanto, deve-se ter atenção aos seguintes pontos:
- Pode haver uma seqüência de protagonistas.
- Dois impulsos podem ser representados por dois protagonistas (o
conflito seria então mais intenso do que se os dois impulsos
estivessem representados num só protagonista).
- pode haver numerosos protagonistas parciais.
- o personagem principal pode ser simplesmente um elemento do
meio ambiente do sujeito e não alguém com quem ele se identifica,
o protagonista estaria num personagem secundário.
Caracterização: Identificando o herói principal, analisa-se nele:
- Dados pessoais, idade, sexo, profissão, etc.
- Características psíquicas, vocação, habilidades, interesses,
adaptação.
- Tendências e traços caracterológicos: superioridade (capacidade,
poder, fama), inferioridade, masculinidade-feminilidade,
ascendência, submissão, etc.
- Atitude frente à sociedade, autoridade, colegas e parentes.
- Características físicas.
Suas Necessidades
Caracterizar as necessidades do herói (ver lista)
Seus estados interiores e emoções
- Decepção, desilusão, depressão, aflição, melancolia, mágoa,
desespero (abatimento).
- Alegria, felicidade, excitação.
- Amor, desconfiança.
- Conflitos, passividade-atividade, dependência-independência,
realidade- prazer, medo, ansiedade, angústia, sentimentos de
culpa.
- Mudança emocional.
B. OUTROS PERSONAGENS
Faz-se igualmente sua caracterização. Comparam-se os
homens e as mulheres. Investigam-se os traços das mulheres de
idade, bem como dos homens de idade.
Seus atributos revelam como o sujeito visualiza as pessoas
com as quais se encontram emocionalmente ligado (pai, irmão, etc.)
Pode haver, entretanto um deslocamento, como por exemplo, no
caso da polícia representar a figura paterna.
C. AMBIENTE/ PRESSÃO
Caracterizar o ambiente e as pressões (ver lista)
D - OMISSÃO/ DISTORÇÃO
Omissão: Não percepção e não inclusão na história de elementos significativos
manifestos na Prancha.
Distorção: Alteração perceptual dos elementos significativos
manifestos na Prancha.
E - ELEMENTOS DE COMPORTAMENTO
Os sinais aqui reunidos correspondem à expressão, pela
conduta, de certa ansiedade e de mal estar provocadas pela
prancha. Segundo o contexto clínico, elas permitem prejulgar a
natureza patológica das respostas.
Exclamações - Comentários
Toda observação verbal com relação às pranchas e toda
expressão de alegria, de desgosto, de admiração, de surpresa, etc.
testemunham certa labilidade emocional e impulsividade. Traduz o
desejo do sujeito de "neutralizar" o objeto, entrando imediatamente
em sua intimidade, como também a necessidade de se identificar
com o objeto, de se projetar. Esta atitude que reflete certa perda de
distância é seguida freqüentemente pelas projeções diretas,
referências pessoais, etc.
Digressão
Toda observação "à margem" do teste, formulada durante a
exibição das pranchas. Ex.: "como faz calor aqui". Estas
observações têm a mesma significação que as exclamações, mas
confirmam melhor a necessidade que o sujeito experimenta de se
subtrair à tarefa de fugir da ansiedade provocada pelo exame ou,
por uma determinada prancha.
Necessidade de fazer perguntas
Toda intervenção do examinador para solicitar a continuação
das histórias (mais), ou o final da mesma (F), ou então dos dois
(mais, F). Podem-se encontrar duas categorias de sujeitos aos
quais é necessário fazer perguntas.
Sujeitos ansiosos que se põem eles mesmos as perguntas e tem
desejos de confirmação para continuar sua narração, e que se
beneficiam com a intervenção do examinador.
Sujeitos que, malgrado às múltiplas perguntas, não chegam a
sobrepujar sua incapacidade de construir uma história. Suas
defesas, quer de ordem neurótica ou psicóticas, são muito mais
estruturadas do que as do sujeito da primeira categoria.
Necessidade de aprovação
Toda expressão que tenha por finalidade atrair a atenção do
examinador. Ex.: "está bem feito? "A necessidade de aprovação se
encontra nos sujeitos ansiosos e que, além do mais, têm tendência
a uma emotividade lábil. Um de seus mecanismos de defesa
consiste em procurar segurança por meio de uma série de
reinvidicações afetivas.
Ansiedade manifesta
Toda manifestação exteriorizada de temor, de mal estar
(expressões verbais, mímicas, posturais). A ansiedade manifesta
pode se exprimir de várias maneiras e, tal como: a temperatura nos
doentes, traduzir um simples "estado febril" ou se indício de
doenças de toda sorte.
O comportamento ansioso pode se traduzir, dentre outras por
atitudes posturais embaraçadas e gestos estereotipados como: mão
na testa, dedos nos cabelos, fumar nervosamente, pela careta, pela
transpiração, pelas maneiras de olhar a prancha, ou de ficar
sentado, etc.
É importante observar, se esta ansiedade ocasiona uma
perturbação na elaboração do tema, ou se permanece de qualquer
modo isolada, o que é indício de uma estruturação muito mais
caracteriológica.
Observações críticas
Toda observação destinada a desvalorizar as situações do
exame, seu interesse, o material usado, etc. Ex.: "não é bonito isso
que o senhor está me mostrando"; "parece que o senhor faz
questão de escolher as pranchas mais feias"; "pra que serve tudo
isto?".
Esta expressão manifesta agressividade e traduz uma
estruturação do caráter muito elaborado e é indicativo de adaptação
defeituosa. Incluiremos ainda uma outra forma de crítica: aquela
que diz respeito aos personagens. Aqui a crítica é acompanhada
por referências pessoais e de uma projeção muito forte, portanto de
uma perda de distância em relação à prancha, que é vista como
uma realidade "horrível" Ex..: (pr..2) a pessoa da direita está
grávida. Isto não me agrada... Este tipo de respostas testemunha
tendências paranóides pronunciadas.
Cinismo
Toda atitude insolente ou desdenhosa desafiando a situação
incômoda. O cinismo indica certo afastamento, e mesmo uma
espécie de isolamento afetivo, e mostra uma estruturação
caracterial de defesa mais séria. É também uma das manifestações
do comportamento esquizofrênico, mas não se pode interpretá-lo
neste sentido, senão em um contexto clínico patológico particular.
Recusa
Rejeição à prancha e recusa a contar uma história. A recusa
testemunha tanto a agressividade como o bloqueio do sujeito; ou o
sujeito manifesta conscientemente a agressividade e rompe toda
relação; simplesmente recusando uma ou mais pranchas, ou se
limita ao silêncio, malgrado as instruções em conseqüência de um
choque profundo que bloqueou toda expressão.
Pode ser considerada como índice patológico engajado na
própria estrutura da personalidade, embora se encontre também
nos sujeitos normais, e mais particularmente nos psicossomáticos.
Não obediência às instruções
Ausência de um ou vários elementos da instrução: história
onde falta qualquer coisa: passado (P); solução (S); ação (A) e fim
(F).
A obediência às instruções pode ser considerada,
essencialmente como um índice de adaptação à realidade. Neste
sentido, material, examinador, situação de exame e instruções
formam um conjunto que o sujeito deve enfrentar e frente ao qual
deve adotar certa conduta.
Insistência no passado
Toda história que se desenrola quase exclusivamente no
passado, em detrimento do presente, que não é assinalado senão
por alusões ou implicitamente. Certos sujeitos sentem necessidade
de demorar-se longamente sobre o passado, sem, no entanto,
perder de vista a situação da prancha à qual eles chegam
finalmente. As situações da imagem parecem despertar neles um
eco longínquo, talvez vivido; a prancha não lhes serve senão de
pretexto para desenvolver um tema central sobre os
acontecimentos anteriores.
Outros sujeitos atêm-se igualmente ao passado, mas se
perdem e se acham muito desamparados assim que tenham de se
reportar à situação representada na prancha. Este tipo de reação
não se encontra a não ser, praticamente, nos psicóticos.
F - ELEMENTOS DE LINGUAGEM
Estas poucas observações reunidas sob o título "Linguagem"
estão longe de abranger tudo o que se pode observar em relação
ao sujeito no TAT.
Estilo falho ou frustrado
Expressão verbal pobre, vocabulário restrito. O estilo pobre,
ou falho, se encontra fatalmente nos débeis, mas também nos
sujeitos de inteligência normal e de um nível cultural pouco elevado.
Pode ser observado, igualmente, nos casos de psicose orgânica e
de problemas de origem psicossomáticas, com forte rebaixamento
de eficiência (nos hipertensos, por exemplo).
Estilo rebuscado
Todo o pedantismo ou afetação nas expressões verbais,
como o emprego repetido de um determinado tempo do verbo. é
encontrado em nível "normal" nos sujeitos com sentimento de
inferioridade muito acentuados e que procuram compensar e
se afirmar desta maneira particular. No domínio patológico, é típico
de esquizofrênicos e paranóico.
Expressões surrealistas
Efeitos verbais que não levam em conta a lógica da língua.
Ex.: "dois caminhos (ou retas) que se encontra e gritam: "viva o
Lula". As expressões surrealistas ou poético-herméticas, sem
procura voluntária de originalidade se encontram essencialmente na
esquizofrenia, e são acompanhados, freqüentemente de
neologismo.
Neologismo
Invenção de palavras novas. Os neologismos espontâneos
fazem parte do mesmo quadro clínico da esquizofrenia.
Perturbação no decurso do pensamento
Sintaxe perturbada, linguajar sem nexo, perda do fio do
pensamento. Difluência.
Fluidez verbal
Linguajar inconsistente, verboso, dominado pelas associações
de idéias sucessivas. Vai interpretar como os precedentes, mas em
um contexto diferente, se apresenta como sinal de comportamento
maníaco ou de deficiência intelectual. (Obs. conjunto de idéias
simplesmente jogadas).
Estereotipias (histórias desprovidas de sentimentos)
Toda repetição de fórmulas desprovidas de conteúdo afetivo,
é também a recusa no engajamento de afetos.
Contradição entre o tema e expressão
Toda expressão verbal ou mímica do narrador é inadequada
ao tema. Nos sujeitos normais, indica um defeito de identificação
super compensado, nos psicóticos esta discordância é muito mais
manifesta e é característica do quadro esquizofrênico.
Expressões "isto poderia ser"... Etc.
Toda expressão que permite ao sujeito não se comprometer
com uma afirmação direta, correspondem a uma tomada de
distância mais ou menos grande, que se encontra principalmente
nos hesitantes com estrutura obsessiva. (ex.: "a rigor poderia ser";
"pode-se esperar que").
Expressões "Percebe-se nitidamente que", etc.
Toda expressão que reforça o engajamento pessoal do sujeito
com uma afirmação direta Ex.: "É evidente que..."; "Não há dúvida
que..." Estas expressões categóricas correspondem a uma perda de
distância, engajando o sujeito a uma identificação e projeção direta.
G - RELAÇÕES INTERPESSOAIS
É evidente que um sujeito vive e se desenvolve criando ou
mantendo sem cessar relações, e que a menor dificuldade com
referências a estas, traduz um problema da personalidade do
sujeito. Estes relacionamentos não se limitam àquilo que se
entende comumente sob esta designação, isto é, às relações de
pessoa a pessoa, mas implicam também nos relacionamentos que
um sujeito mantém com um objeto material sobre o qual ele
transfere os seus sentimentos, e com ele próprio.
Sabemos também que cada sujeito conduz um diálogo interior
com os sentimentos que tem respeito ao objeto, diálogo consciente
ou inconsciente.
E o conjunto de todos estes relacionamentos com suas
tonalidades e as suas qualidades múltiplas que se transportam para
os movimentos dos personagens e suas relações nas histórias do
TAT compreende-se, portanto, a importância que atribuímos ao
significado das "relações interpessoais".
Relações positivas (em suas diferentes combinações) um
diálogo satisfatório entre os personagens.
Existe, evidentemente, uma infinidade de modalidades de
relações que se podem classificar de "positivas". É difícil, às vezes,
reconhecê-los como tais, sobretudo quando os afetos não são
explícitos. Dever-se-á mesmo, às vezes, recorrer ao exame das
soluções dos conflitos para compreender a qualidade das relações
interpessoais.
O examinador tem uma tendência a supor que as boas
relações entre heróis da história traduzem boa relação do sujeito
com seu meio ambiente. E isto é verdade para a maioria dos casos,
mas não é uma regra absoluta. A explicação está no fato de que as
relações interpessoais parciais de um sujeito podem ser excelentes
(no seu trabalho, na vida social, etc.), sendo todas negativas no
domínio da vida privada.
Uma outra razão de discordância entre as relações dos heróis
e as relações dos sujeitos é devida ao fato de que o narrador
projeta nas histórias, a uma só vez, aquilo que ele é, o que queria
ser, aquilo que não quer ser, aquilo que ele não é, etc. Novamente
o contexto e o conjunto do protocolo que darão a chave da
interpretação.
Relações negativas (em suas diferentes combinações) um
diálogo não satisfatório entre os personagens.
As relações são negativas quando existe uma ruptura do
diálogo e quando nenhum entendimento se estabelece entre os
personagens. s dificuldades que se encontram aqui são as mesmas
que nos sinais precedentes. Nós a encontramos, por exemplo, nas
histórias de relações homossexuais negativas, quando o narrador,
na realidade, tem relações homossexuais parcialmente positivas.
Pode ser mesmo que a maior parte das relações homossexuais do
sujeito seja positiva com exceção das relações com a mãe (no caso
de uma moça) ou com o pai (no caso de um rapaz).
Relações tensas
Relações muito carregadas de afeto e que não dão aos
personagens a possibilidade de descargas positivas. Nós
encontraremos esta tensão que invade a personalidade em casos
limites ou nas neuroses graves. As histórias são geralmente sem
final. O conflito é agudo e dramático.
Relações inconsistentes
Relações pouco vividas e às quais não se pode determinar o
caráter. Traduz certa ambigüidade de relacionamento, um defeito
de identificação. Nos casos muito pronunciados devemos pensar
em neuroses graves ou psicoses.
Relações ausentes (seja totalmente, seja parcialmente entre os
personagens)
Falta de relações entre os personagens evocados ou não.
Esta ausência é, em todo caso, um sinal grave, traduzindo uma
retração importante da libido. A ausência total de relações nos fará
pensar em uma estrutura psicótica; a ausência parcial significará
um mecanismo obsessivo.
Conflito intrapessoal tenso
Conflito entre o herói e ele mesmo. Os conflitos interpessoais
evocados devem ser distinguidos do conflito que se desenrola no
interior do herói, isto é, intrapessoal. Clinicamente estes conflitos
são uma redução maciça dos conflitos interpessoais. Traduzem, em
todo caso, uma estrutura psicótica fortemente narcisista e devem
ser notados na medida em que substituem os conflitos interpessoais
não evocados na história.
H - SOLUÇÃO DO CONFLITO EVOCADO (desfecho da história)
A adaptação de um sujeito à vida será avaliada facilmente, a
partir da qualidade das soluções que ele dá aos conflitos evocados
em suas histórias. é, em suma, o índice global de adaptação mais
seguro que nos oferece o TAT.
Isto não quer dizer que uma solução negativa implique
necessariamente numa inadaptação do sujeito a todos os domínios
da vida. Mas a relação entre a solução encontrada e o modo de
adaptação do sujeito é sempre existente.
a
)
b
)
Relações interpessoais positivas podem conduzir a
soluções positivas: teremos, então, um sujeito normalmente
adaptado;
Relações interpessoais negativas podem conduzir a
soluções positivas: teremos "sujeitos complexados", mas
conseguem vencer as suas próprias dificuldades, graças,
sem dúvida, a sistema de super compensação.
c)
d
)
Em nossa experiência com o TAT, temos tido ocasião de
encontrar relações interpessoais positivas ligadas a
soluções negativas. Ao se encontrar isto, o caso deverá ser
estudado;
Relações interpessoais negativas podem conduzir a
soluções negativas ou coexistir com elas. Isto assinala um
grau importante de inadaptação do sujeito ao mesmo tempo
em que uma homogeneidade de suas relações.
Estas ligações simples entre relações interpessoais e
soluções dos conflitos não são mais freqüentes. Encontraremos
mais freqüentemente, num mesmo protocolo, índices positivos e
negativos, o que é uma imagem fiel da vida. É o exame
aprofundado do protocolo inteiro que nos permite aproximar da
personalidade complexa do sujeito: a tônica deve ser colocada na
"estrutura dinâmica" (assim, as relações positivas e as soluções
positivas, ambas tendo sido placadas, estão longe de traduzir um
modo de adaptação perfeita. Testemunha somente a possibilidade
do sujeito estabelecer e de "manter relações à distância", sem
afetos e sem engajamento pessoal.
Com um grau de adaptação decrescente nós podemos
classificar as soluções positivas da seguinte maneira:
Solução adaptada
Toda história onde o personagem resolve a situação conflitual
em seu proveito e de maneira socialmente integrada.
Compromisso viável
Toda tentativa no sentido de evitar a resolução do conflito
aberto, encontrando-se uma solução intermediária aceitável
Dependente de ajuda exterior
Adaptação às situações dadas, graças às circunstâncias ou
às personagens favoráveis do meio exterior.
Hipotética
Toda solução positiva do conflito sendo remetida para o
futuro, sob condição. Exemplo: "Eles se casarão um dia, se tudo
correr bem".
Placada ou moralização
Todo clichê otimista e gratuito em lugar de solução de
conflito. É muito difícil catalogar essas soluções de maneira
"objetiva". É evidente, sobretudo na clínica que intervém escalas de
valores pessoais, morais e sociais, que podem variar segundo as
diferentes tradições ou culturas. Mas a clínica terá a última palavra,
sempre. Exemplo: (Trata-se de determinar se a solução seguinte,
dada pelo narrador, é adaptada ou neurótica) "uma moça que
queira deixar a mãe; esta tenta retê-la; a filha fica por ter pena da
mãe".
A despeito das tradições morais que consideram esta solução
como desejável, ela será qualificada pelo examinador como
neurótica, tendo em vista o conhecimento que hoje temos das
conseqüências de uma tal solução de conflito.
Soluções múltiplas
Toda história comportando diversas soluções. As soluções
múltiplas podem ser homogêneas quanto a sua qualidade ou
heterogêneas. Quando são heterogêneas e, sobretudo, quando a
última solução evocada é má, devemos concluir por uma adaptação
defeituosa. Se ao contrário, a última solução for positiva isto
significa que as defesas obsessivas são integradas apesar de tudo.
A multiplicidade de soluções, mesmo boas, testemunha o
medo do sujeito em engajar-se e se encontra mais freqüentemente
nas estruturas obsessivas.
Solução autopunitiva ou de fracasso
Toda história que termina desfavorável ao herói principal. Esta
espécie de solução traduz necessariamente uma má adaptação.
Mas traduz, além disso, uma conduta de fracasso propriamente
dita, que trás, na clínica psicanalítica, o nome de "neurose de
fracasso", estas respostas, muito infantis em geral, implicam numa
imaturidade afetiva.
Soluções por satisfação dos impulsos
Toda história na qual a solução é conseguida graças à
satisfação de um desejo ou uma tendência, sem se levar em conta
as exigências sociais e do Superego. O superego de um sujeito que
dá tais soluções é impotente ante a força do Id. Se a esta
configuração se junta uma má integração do Ego, ou se
encontramos várias respostas deste gênero, estaremos tratando
com estrutura psicótica. Mas se, ao contrário, a função de
integração do Ego é relativamente boa, estaremos em presença de
uma personalidade normal, com defesas psicóticas.
Solução discordante com relação ao tema
Todo final de história contradizendo a evolução do conflito.
Isto é quase incoerência, logo, por definição, psicótico.
Ausência de solução
O conflito evocado permanece aberto. A significação desta
ausência não pode ser explicada senão em função do contexto.
Pode ser encontrada, tanto no protocolo de um neurótico, como de
um psicótico, o sujeito normal que se omitiu à solução, da-la-á, em
geral, sob demanda do examinador.
VI - AS PARTES DO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO
PSICOLÓGICA E O TAT
1. Funcionamento cognitivo
A inteligência pode ser estimada a partir do vocabulário usado
nas histórias.
A percepção da realidade pode ser avaliada verificando se o
indivíduo percebe ou não as figuras de modo adequado e se as
histórias são ou não realistas. O pensamento pode ser avaliado
verificando se as histórias são organizadas ou não.
2. Afeto
Analisar as principais emoções atribuídas aos personagens e
as situações que despertam essas emoções. A adequação dos
afetos às situações deve ser analisada.
3 Auto-imagem e auto-estima.
As características dos heróis expressam a auto-imagem do
indivíduo. Os heróis são competentes ou incompetentes para lidar
com as situações? Como reagem ao cometerem erros? Como são
vistos pelos outros personagens?
4 Relacionamentos interpessoais.
As histórias do TAT são uma importante fonte de dados sobre
os relacionamentos interpessoais do sujeito. Além disso, considerar
o modo de o sujeito se relacionar com o examinador durante a
testagem. As atitudes frente a diferentes tipos de pessoas, tais
como os pais, companheiros amorosos, amigos e colegas de
trabalho devem ser descritas. Relações com a figura materna
costumam ser expressas nas respostas às figuras 2, 5, 6BM e 7GF.
Relações com a figura paterna costumam ser expressas nas
respostas às figuras 6GF e 7 BM. Relações com pessoas da
mesma idade, do mesmo sexo e do sexo oposto, costumam ser
expressas nas respostas às figuras 9BM, 9GF, 4 e 13 MF.
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