FACULDADES INTEGRADAS APARÍCIO CARVALHO
FRANCELY DE ARAÚJO BARROSO ROSSATTO
GEENVAN VIANA ALVES
GEIZA FERREIRA BARBOSA
MICHELLE BATISTA ANGELO
NATÁLIA JOICE DE SOUZA LEITE
PATRÍCIA BRANDÃO ALVES
ROSANA GOES DE SOUZA
GEORGE BERKELEY
Porto Velho, RO
2012
FRANCELY DE ARAÚJO BARROSO ROSSATTO
GEENVAN VIANA ALVES
GEIZA FERREIRA BARBOSA
MICHELLE BATISTA ANGELO
NATÁLIA JOICE DE SOUZA LEITE
PATRÍCIA BRANDÃO ALVES
ROSANA GOES DE SOUZA
GEORGE BERKELEY
Trabalho apresentado como requisito para obtenção de nota parcial na disciplina de Psicologia: Ciência e Profissão no Contexto Contemporâneo, sob a orientação da Professora Maria do Socorro Pontes da Silva Bezerra, das Faculdades Integradas Aparício Carvalho- FIMCA.
Porto Velho, RO
2012
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.....................................................................................................................4
1. GEORGE BERKELEY: VIDA E OBRA......................................................................5
2. SUAS CONCEPÇÕES...................................................................................................7
2.1. Os sentidos da visão e tato.....................................................................................7
2.2. Teoria Imaterialista de Berkeley............................................................................9
2.3. Empirismo............................................................................................................10
2.4. Deus, para Berkeley.............................................................................................12
3. ALGUMAS DIVERGÊNCIAS DOUTRINÁRIAS SOBRE BERKELEY.................13
3.1. Realismo ou Idealismo?.......................................................................................13
3.2. Platonista?............................................................................................................14
CONCLUSÃO.....................................................................................................................16
REFERÊNCIAS...................................................................................................................17
INTRODUÇÃO
Durante o séc. XVIII o Bispo George Berkeley (1685-1753) dedica grande
parte da sua vida ao ensino da filosofia, apesar de ser um teólogo. Durante esse
período ele percorre alguns lugares do novo mundo (América do Norte) com o
intuito de montar um centro de pesquisa voltado principalmente para compreender
o funcionamento da mente e da memória e como isso afeta a nossa percepção
do mundo exterior. Apesar de ser jovem Berkeley já tem seu nome
reconhecimento como filósofo brilhante, entretanto esse reconhecimento não lhe
rende dinheiro suficiente que ele possa realizar seu grande desejo. Algum tempo
depois Berkeley recebe uma herança, abandona o bispado e segue para Oxford,
onde dedica-se inteiramente às pesquisas. Que mais tarde darão grande
contribuição ao empirismo crítico.
4
1. GEORGE BERKELEY: VIDA E OBRA
Sobre a vida de George Berkeley, Daniel E. Flage (2004), professor de
filosofia do Departamento de Filosofia e Religião da James Madison University
Harrisonburg, nos traz alguns dados importantes. O autor diz que “George
Berkeley nasceu em Kilkenny, ou próximo a esta, na Irlanda, em 12 de março de
1685”. Segundo pesquisas do autor, Berkeley foi criado no Castelo Dysart, e
apesar de seu pai ser inglês, sempre considerou-se irlandês.
O pesquisador diz que em 1696, Berkeley ingressou no Kilkenny College,
e que em 21 de março de 1700, ingressou no estudo superior do Trinity College
de Dublin, vindo a receber seu título de bacharel em 1704.
Flage diz ainda que Berkeley permaneceu associado ao Trinity College
até 1724. Ali tornou-se um Junior Fellow em 9 de junho de 1707, e depois de
completar seu doutorado, tornou-se um Sênior Felow em 1717. O autor ensina
ainda que, “como era prática comum para os acadêmicos britânicos à época,
George Berkeley foi ordenado como um sacerdote anglicano em 1710”.
Miguel Duclós (1997), ainda complementa tais informações, dizendo que
Berkeley “foi o primogênito de seis filhos, e que aos onze anos estudou no colégio
da cidade natal, onde há poucos anos fora aluno Jonathan Swift, autor do célebre
livro As viagens de Gulliver”.
Segundo comentários de Lisa Downing, a primeira importante obra
publicada de Berkeley, intitulada Ensaio para uma nova teoria da visão (1709),
“constituiu uma influente contribuição para a psicologia da visão e também
desenvolveu doutrinas relevantes para seu projeto idealista”. A autora ressalta
ainda que, na casa de seus vinte anos, Berkeley publicou suas obras mais
duradouras, o Tratado sobre os princípios do conhecimento humano (1710) e os
Três diálogos entre Hylas e Philonous (1713).
Interessante é o comentário de MADJAROF (1998) ao dizer que “As
intenções apologéticas de sua obra aparecem claramente nos artigos polêmicos,
que escreveu em 1713, no jornal The Guardian, contra as idéias de um célebre
livre-pensador, Arthur Collins”.
A autora Lisa Downing também afirma que em 1720, enquanto Berkeley
completava uma viagem de quatro anos pela Europa como tutor de um jovem,
5
compôs a obra De Motu, “um tratado sobre os fundamentos filosóficos da
mecânica em que desenvolveu suas concepções sobre filosofia da ciência e
articulou uma abordagem instrumentalista para a dinâmica Newtoniana”
(DOWNING, 2004).
Seguindo em ordem cronológica, DOWNING (2004) diz que, depois de
sua viagem continental, Berkeley retornou à Irlanda e reassumiu sua posição no
Trinity até 1724, quando foi nomeado Deão de Derry. Nesta época Berkeley
começou a desenvolver seu projeto para fundar um colégio nas Bermudas. Em
suas palavras, “ele estava convencido de que a Europa encontrava-se em
decadência espiritual e que o Novo Mundo oferecia esperança para uma nova
idade do ouro”.
Lisa elucida ainda que, tendo assegurado um alvará de licença e a
promessa de fundos do Parlamento Britânico, Berkeley rumou para a América em
1728, com sua recente esposa, Anne Forster. “O casal passou três anos em
Newport, Rhode Island, esperando o dinheiro prometido, mas o apoio político de
Berkeley deixou de existir e eles foram forçados a abandonar o projeto e retornar
para a Inglaterra em 1731” (Ibidem, 2004, p. 02).
Sobre este episódio, Miguel Duclós (1997) diz que “como achava a
Europa já um tanto decadente, viajou para a América tentando realizar um projeto
seu: o de criar uma escola para evangelizar os povos selvagens. Fica três anos à
espera de recursos e volta para a Inglaterra”.
MADJAROF (1998) cita ainda que em 1740, sobrevém uma epidemia na
Irlanda, que o improvisa como médico. Berkeley cuida de suas ovelhas com água
de alcatrão (receita que conheceu na América), na qual vê um remédio universal,
o que o leva a uma cadeia (seiris, em grego) de reflexões muito platônicas sobre
a natureza, a Providência e Deus, que ele nos oferece em sua última obra, "Síris
ou Reflexões e pesquisas filosóficas concernentes às virtudes da água de
alcatrão e diversos outros temas conexos entre si e originados um do outro"
(1744).
Para a autora, quando estava na América, Berkeley compôs o Alciphron,
“uma obra de apologética cristã dirigida contra os “livre-pensadores” que ele
considerava inimigos do anglicanismo estabelecido”. Downing comenta que o
“Alciphron é também uma importante obra filosófica e uma fonte decisiva das
concepções de Berkeley sobre a linguagem” (DOWNING, 2004, p. 02).
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“Logo após retornar a Londres, Berkeley compôs a Teoria da visão, confirmada e explicada, uma defesa de sua obra anterior sobre a visão, e O analista, uma aguda e influente crítica dos fundamentos do cálculo Newtoniano. Em 1734 ele tornou-se Bispo de Cloyne, e, deste modo, retornou à Irlanda. Foi na Irlanda que Berkeley escreveu sua última, estranha, e mais vendida (em seu próprio tempo) obra filosófica. Siris (1744) tem triplo objetivo: estabelecer as virtudes da água de alcatrão (um líquido preparado deixando-se o alcatrão de pinheiro em repouso na água) como uma panacéia médica, fornecer base científica em apoio da eficácia da água de alcatrão, e levar a mente do leitor, gradativamente, à contemplação de Deus. Berkeley morreu em 1753, logo após mudar-se para Oxford a fim de acompanhar a educação de seu filho George, um dos três de seus sete filhos a sobreviver à infância” (Ibidem, 2004, p. 03).
COBRA (1997), ainda diz que atividades filantrópicas dirigem-no para a
política e a medicina. Segundo ele, Berkeley torna-se o propagandista da água de
alcatrão, tida como um remédio universal e em 1752, abandona a cidade de
Cloyne e segue para Oxford, onde faleceu.
Segundo FLAGE (2004), Berkeley morreu em 14 de janeiro de 1753,
enquanto sua esposa estava lendo para ele um sermão. O autor diz que, segundo
a vontade de Berkeley, seu corpo foi mantido cinco dias desenterrado, até que ele
se tornasse desagradável pelo cheiro cadavérico, uma precaução que visava
prevenir um sepultamento prematuro.
2. SUAS CONCEPÇÕES
2.1. Os sentidos da visão e tato
Segundo a Tese de Mestrado defendida por Cláudia Bacelar Batista
(2005), a questão da visão é um tema que perpassa toda a filosofia de Berkeley.
Para ela, além de ele próprio ter editado cinco vezes An Essay Towards a New
Theory of Vision, dedicou a esta questão o quarto diálogo do Alciphron,
publicando mais tarde a obra concernente à visão que considerou uma teoria
tomada em seu sentido pleno, The Theory of Vision, or Visual Language
Vindicated and Explained. Para a autora, isto tem uma razão de ser. Ela diz que
para Berkeley, diferentemente do tato, da audição, do olfato e do gosto, é muito
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mais a visão que nos dá a falsa impressão da existência de mundo exterior e
independente da percepção – impressão reforçada pela imaginação ou sugestão
e renovada pela linguagem.
Para FLAGE (2004), o objetivo de Berkeley na Nova Teoria da Visão, era
mostrar a maneira como percebemos, por meio da vista, à distância, a magnitude
e a posição dos objetos, bem como considerar a diferença que existe entre as
idéias da vista e do tato e se existe alguma idéia comum a ambos estes sentidos.
Para o autor, como muitos filósofos do período, Berkeley parece assumir que o
tato fornece acesso imediato ao mundo. Ele diz ainda que para Berkeley, não
existe qualquer semelhança entre idéias visuais e táteis.
“Não existe espaço objetivo, espaço "em-si", para Berkeley. [...] Existem dois espaços distintos: um visual, relativo ao sentido da visão, e o que possui apenas duas dimensões, e um espaço tátil (a exploração tátil me revela, na origem, as distâncias dos objetos), o que me ensina a decifrar as correspondências entre esses dois tipos de sensações (visuais e táteis).” (MADJAROF, 1998)
Segundo a Enciclopédia Mirador Internacional, “em Um ensaio para uma
nova teoria da visão, Berkeley procurou demonstrar a natureza da percepção
visual da distância, da grandeza e da posição dos objetos”.
Assim, afirmam eles, a tese central de Berkeley é a de que a apreensão
perceptiva dessas qualidades não pertence originariamente à visão, mas ao tato.
O fato de percebermos visualmente os objetos seria conseqüência de uma
associação progressivamente fixada entre certas sensações visuais ou, pelo
menos, certas sensações musculares correspondentes aos movimentos oculares
e às idéias de distância, grandeza e posição, proporcionadas pelo tato.
Ainda segundo a Enciclopédia Mirador Internacional, para Berkeley, à
visão corresponde apenas à percepção da luz e das cores. Dessa forma,
visualmente, as idéias de distância, grandeza e posição seriam provocadas pelos
próprios movimentos oculares, que funcionariam como sinais. “Seriam não
distâncias ou grandezas, mas somente sinais que apreenderíamos pela visão.”
Conforme comentários de MADJAROF (1998), “na Teoria da Visão,
Berkeley parte do seguinte problema: Como podemos ver a distância de um
objeto?” O raio luminoso, explica ela, orientado perpendicularmente ao olho, só
projeta um ponto que invariavelmente é o mesmo, quer a distância seja longa ou
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curta. “Por conseguinte, falando estritamente, não vemos a distância”. Para ela,
Berkeley afirmava que um cego de nascença, ao qual fosse dado ver
repentinamente, teria a impressão de que todos os objetos tocavam seus olhos.
“Compreendemos bem que, para Berkeley, o cubo que vejo e aquele em que toco
não são um só e mesmo objeto! [...] É por preconceito que acredito na existência
de ‘objetos’”.
Importante ressaltar que a mesma autora (MADJAROF, 1998) evidencia
que, vinte anos após o obra de Berkeley, o cirurgião Cheselden publicará,
nas Philosophical Transactions of the Royal Society, a observação de um menino
de quatorze anos, operado de catarata, que parece confirmar o ponto de vista de
Berkeley. Ela cita também que Voltaire, em sua Filosofia de Newton, 1741, torna
conhecida essa experiência que Condillac e Diderot discutirão em sua Carta
sobre os cegos para uso dos que vêem.
2.2. Teoria Imaterialista de Berkeley
Conforme definição do Dicionário On Line de Português, imaterialismo é
“s.m. Sistema dos filósofos que negam a existência da matéria”. Todavia, o
imaterialismo de Berkeley ia além da simples negação da matéria.
“Para ele, o conceito de existência está diretamente ligado ao conceito de percepção. [...] O mundo, para ele, não tem uma realidade independente da mente, sua tese imaterialista faz o mundo desaparecer. Berkeley denomina realidade os objetos que estão na percepção. Somente existem os dados que estão na percepção” (FARIAS, 2010).
Segundo a Enciclopédia Mirador Internacional, Berkeley negou
enfaticamente a possibilidade de existirem idéias abstratas. Nossas idéias seriam,
assim, sempre relativas a objetos particulares.
Eles citam que, “a única generalidade que se poderia revelar nelas seria
a de sua significação: a idéia que temos sobre, por exemplo, certo triângulo,
poderia, com efeito, servir para representar qualquer triângulo”.
A Enciclopédia diz que, no fundo, Berkeley não contesta a existência de
idéias gerais, desde que não se considere a generalidade como atributo da
própria idéia e apenas se veja nela um sistema de relações com outras idéias do
9
mesmo gênero. “O que parece inadmissível a Berkeley é a existência de idéias
gerais e abstratas no sentido de idéias de conteúdo indeterminado”.
A enciclopédia finaliza o tema dizendo que esses princípios formam a
base da teoria imaterialista de Berkeley. “Não que ele tenha negado a existência
dos objetos. De fato, eles existem”. Citam, contudo que, segundo Berkeley,
existem apenas na condição de objetos percebidos. "Ser é ser percebido", é uma
das fórmulas doutrinárias do filósofo, citam eles.
MADJAROF (1998) diz que para Berkeley, toda abstração é ilegítima.
Segundo ela, “não posso representar em meus pensamentos uma coisa sensível
ou um objeto isolados da sensação que deles tenho; o objeto e a sensação são
idênticos e não podem ser abstraídos um do outro’.”
“Eis uma porta alta e sólida, pintada de verde e contra a qual me choco dolorosamente. Não é verdadeiramente uma coisa material que existe como tal, fora de minhas sensações! Absolutamente, responde Berkeley. Esta porta nada mais é do que uma soma de representações mentais, um conjunto de "idéias". Sua forma e a extensão que ela ocupa são sensações; sua cor verde uma sensação visual, o contato de minha mão com ela uma sensação tátil e a própria dor que sinto após o choque é um estado de consciência. Não possuo mais o direito de dizer que tenho uma ou várias idéias da porta, posto que ela não passa de um conjunto de idéias”. (MADJAROF, 1998).
Segundo AYERS (2001), o “imaterialismo” de Berkeley é um sistema
metafísico contrário à “filosofia moderna” de Descartes, Locke e outros
mecanicistas, cuja explicação da matéria como substância independente,
Berkeley considerava instituir um rival de Deus. Para eles, o objetivo central de
Berkeley não é como popularmente se supõe colocar em dúvida a existência
física dos objetos. Assim, as coisas sensíveis ou corpos existem, mas como seres
inertes dependentes de uma mente que os percepciona. Citam ainda que
Berkeley nunca argumenta simplesmente que o “materialismo” deixa espaço à
dúvida, mas antes que postula algo contraditório, indeterminado, ou, em qualquer
caso, ininteligível.
2.3. Empirismo
Segundo definição de CELETI (acesso em 17/03/2012), o empirismo é a
escola do pensamento filosófico relacionada à teoria do conhecimento, que pensa
10
estar na experiência à origem de todas as idéias. O nome empirismo vem do
latim: empiria (experiência) e -ismo (sufixo que determina, entre outras coisas,
uma corrente filosófica). Temos, assim, a “corrente filosófica da experiência”.
Segundo o autor, Berkeley pode ser classificado no que ficou chamado
“empirismo britânico, iniciado por John Locke. Segundo CELETI, para Berkeley, o
que conhecemos do mundo não é realmente o que o mundo é. O mundo não é o
que percebemos dele. Podemos perceber o mundo através dos sentidos, mas
não conhecê-lo de verdade.
BATISTA (2005), diz que, ao negar o caráter absoluto da verdade,
Berkeley coloca-se em oposição ao Racionalismo, não por opor-se à razão ou por
negá-la, mas por não conceber que dela possamos derivar princípios verdadeiros
e necessários, uma vez que esses, por serem absolutos, não se submeteriam a
provas ou a controle. Estes por sua vez, fazem prova do empirismo.
DULCÓS (1997) afirma categoricamente sobre Berkeley “_ É um
empirista”. Segundo o autor, Berkeley achava que não podemos conceber uma
coisa do nada. Ser é ser percebido, dizia Berkeley. “As únicas coisas com
existência efetiva são Deus e os espíritos humanos”. Berkeley dizia que não
devemos discutir coisas das quais não temos idéias. As idéias são palavras com
significado. O conhecimento gira em torno das idéias. “Todas as idéias vem de
fora ou de dentro, as de dentro são pensamentos”. “A percepção é uma recepção
passiva”.
Confirmando o mesmo entendimento sobre o empirismo do filósofo,
COBRA (1997) diz que Berkeley nega que fique alguma coisa, se tiramos do
objeto todas as suas qualidades, tanto as primárias (extensão, consistência) como
as secundárias (cores, sons, etc.), considerando-as produto de nossos sentidos.
Segundo o autor, como as qualidades dos corpos dependem da nossa mente,
então não podemos atribuir aos corpos mesmos à atividade de causar sensações
em nós.
Então, resume COBRA (1997), para Berkeley, é Deus que causa em nós
as impressões. “O que pensamos serem corpos não tem existência real, existem
apenas como impressões em nossa mente”.
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2.4. Deus, para Berkeley
“No que se refere a Deus, o senso comum acredita que todas as coisas são conhecidas ou percebidas por Ele exatamente pelo fato de se crer na Sua existência. Berkeley, contudo, inverte essa lógica: ele conclui a existência de Deus pelo fato de que as coisas sensíveis devem ser percebidas por Ele, pois sem essa apreensão perceptual elas se dissolveriam e se aniquilariam”. (ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL, acesso em 16/03/2012)
BATISTA (2005) diz que para Berkeley, o mundo é então a linguagem
(leis da natureza), formada por sinais (ou percepções), e através dela Deus nos
fala ao espírito. Atividade e causa, princípio constante e unificador, que mantém e
sustenta as leis naturais, Deus faria com que as coisas permaneçam, mesmo
quando ninguém mais as percebe. Assim, “a presença de Deus em um tratado
sobre a visão decerto o subtrai do território da mera cientificidade”.
“Ora, se as idéias sensíveis não são causas de si mesmas, tampouco podem essas causas estar em nós, espíritos finitos e limitados; logo, a causa eficiente só pode ser Deus, que dá ordem ao mundo, garantindo a forma e o conteúdo verazes da percepção. Deus assegura assim o efeito ontológico e cognitivo do conhecimento e transforma a linguagem dos signos em um instrumento para que o homem possa tornar perceptível o mundo. [...] Esse Deus afigura-se lógico e necessário” (BATISTA, 2005).
Segundo a Enciclopédia Mirador Internacional, a teoria de Berkeley é de
que não poderia existir um mundo sensível sem um espírito ativo - e que, já que o
mundo sensível não procede do espírito dos homens, é preciso, sem dúvida, que
proceda de Deus. Ressaltam que, para o filósofo, só conhecemos idéias, e, além
das idéias, só existe a mente que as percebe e Deus, que faz com que a mente
possa percebê-las. “Para Berkeley, afirmar que existe um mundo material é cair
nas falácias da abstração, ou seja, é considerar o ‘ser’ das coisas como
independente do ‘ser percebidas’”.
Oportunos são os comentários de MADJAROF (1998) ao dizer que da
primeira à segunda edição de seus Princípios do Conhecimento, é possível notar
o aprofundamento do pensamento de Berkeley. Segundo ela, na primeira edição,
Berkeley mostra que as idéias, isto é, as representações mentais, são
essencialmente passivas. “É Deus quem nos fornece nossas ‘idéias’, mas não
temos idéia do próprio Deus, posto que ele é atividade suprema. Como, então,
12
podemos conhecê-lo?” Todavia, autora expõe que a segunda edição traz uma
resposta a esse problema e Siris vem explicitar essa resposta: temos uma noção
de Deus.
Explicando os pensamentos de Berkeley, MADJAROF (1998) diz que
Deus já estava encarregado de explicar as admiráveis correspondências entre
dados táteis e visuais, era ele o autor dessa linguagem universal e benfazeja da
natureza. Segundo a autora, Berkeley nos diz que Deus é quem nos envia, numa
ordem harmoniosa, nossas "idéias", isto é, nossas percepções. Ela cita que a
“ordem de minhas "idéias", sua admirável concordância com as "idéias", isto é,
com as percepções dos outros espíritos, estão erigidas como prova do poder e da
bondade do Criador”.
“Basta pensar que o espetáculo do universo, longe de ressaltar de maneira ininteligível uma matéria opaca, é diretamente imprimido pelo Criador na consciência das criaturas. O mundo é uma mensagem de Deus. É um "discurso que Deus faz aos Homens"; ele me fala diretamente quando decifro o mundo sensível. [...] Em todo caso, vemos, por tudo isso, o alcance apologético que Berkeley pretende dar a seu imaterialismo. Aos materialistas, aos ateus que proclamam: Deus não existe, a alma não existe, Berkeley responde: "É a matéria que não existe. “Só Deus e os espíritos existem.” (MADJAROF, 1998)
3. ALGUMAS DIVERGÊNCIAS DOUTRINÁRIAS SOBRE BERKELEY
3.1. Realismo ou Idealismo?
“A filosofia de Berkeley, portanto, é a filosofia do realismo concreto levada às suas últimas conseqüências: o que existe é o que vemos e tocamos. O que não vemos e não tocamos não existe. [...] Do mesmo modo, Berkeley - antes de Bergson - rejeita como ficção o tempo abstrato, homogêneo e mensurável dos físicos. O único tempo real é o tempo concretamente percebido; "mais longo na dor do que no prazer". (MADJAROF, 1998)
Segundo a autora MADJAROF (1998), o que Berkeley rejeita é a
realidade de uma substância material que seria o suporte misterioso, invisível,
impalpável, das qualidades sensíveis. “O que ele não admite é a coisa que estaria
oculta sob nossas representações”. Para ela, Berkeley não nega, portanto, a
13
existência das coisas sob a condição de que se aceite que existir é "ser
percebido" e nada mais.
A autora (MADJAROF, 1998) ainda comenta que “Berkeley recusa todo
ceticismo e aceita o dado tal qual é: "O cavalo está na cocheira e os livros estão
na biblioteca como antes"; o chamado idealismo de Berkeley não passa de um
realismo ingênuo. A aparência é que é a verdadeira realidade”.
Discordando de MADJAROF, o autor FLAGE (2004) diz que Berkeley foi
na verdade um idealista, uma vez que sustentou que os objetos ordinários são
apenas coleções de idéias, as quais são dependentes da mente. Flage entende
que para Berkeley , o mundo não consiste senão de mentes e idéias.
Enquanto MADJAROF entende que Berkeley seria um realista, buscando
a existência das coisas a partir de sua existência no mundo real captada pelos
sentidos, FLAGE entende Berkeley de modo totalmente oposto, como um
idealista, que não admitia a existência das coisas no mundo real, mas no mundo
das idéias, como uma percepção lógica do mundo.
Citando estes dois autores, exemplificamos que ainda existem
divergências doutrinárias quanto à definição de George Berkeley como um filósofo
seguir da corrente realista, ou das concepções idealistas.
3.2. Platonista?
Outro desacordo entre os estudiosos de George Berkeley reside em seu
enquadramento como pensador platonista. Citamos aqui um representante da
corrente majoritária que nega ser Berkeley um pensador platonista:
“Para o filósofo George Berkeley, idéias abstratas são não entidades, ou seja, não constituem idéias que na realidade temos e sim descrições incoerentes de ideias que imaginamos ter. Assim, para ele, as idéias não possuem existência própria, necessitando, sempre, da presença de alguém que as perceba. Uma opinião oposta aos clássicos pensamentos de Platão, para quem as idéias (abstratas ou não) existem de fato, independentemente de haver ou não uma mente humana para percebê-las, uma vez que se encontram fora de nós, no universo, concebidas por um Ser Superior”. (OLIVEIRA; AMARAL, 2001)
Não obstante o fato de a maioria da literatura pesquisada por nossa
equipe ser de posição negativa quanto a tal definição, mister se faz apor os
comentários de certa autora dissidente.
14
Costica Bradatan (2006), diz não existir consenso entre os especialistas
sobre Berkeley quanto à exata medida em que Berkeley foi um platônico. Alguns
especialistas inclusive negam que ele foi um platônico.
Segundo a autora (BRADATAN, 2006), o que é mais interessante sobre a
tradição Platônica não é tanto seu núcleo de idéias de Platão quanto sua notável
abertura para outras filosofias, visões de mundo e sistemas de pensamento.
“É fundamental ao platonismo, em praticamente qualquer aspecto, que este mundo, o mundo que nós percebemos por meio dos sentidos e sobre o qual mantemos uma diversidade de opiniões, não é o mundo real. Este mundo é um mundo de mudança, dissolução, e, para todos nós, morte; tudo quanto tem a marca da irrealidade. O mundo real é imutável, incorruptível, um lugar de vida eterna: é, para Platão, o domínio das Formas”. (LOUTH ,1994, p. 54)
Segundo BRADATAN (2006), até meados do século XX as primeiras
obras filosóficas de Berkeley foram em geral compreendidas no estrito contexto
da “nova filosofia”, e seu pensamento colocado sem problemas dentro do
repertório temático, metodológico e programático do “empirismo britânico.” Porém
a autora ressalta que durante os últimos trinta anos ou mais, entretanto, vários
estudos têm sido publicados tratando precisamente da presença nos primeiros
escritos de Berkeley de alguns tópicos específicos que poderiam ser vistos como
pertencendo à tradição platônica.
Em sua obra intitulada “George Berkeley e a tradição platônica”,
BRADATAN (2006) aponta as diversas semelhanças existentes entre as obras
comuns à tradição platônica, e as obras de George Berkeley, finalizando assim
defini-lo como um pensador de linha platonista.
15
CONCLUSÃO
De acordo com a pesquisa que fizemos sobre o Teórico George Berkeley.
Concluímos que, ele foi um talentoso metafísico, famoso por defender o
idealismo, a concepção de que a realidade consiste exclusivamente de
percepções mentais.
Ele foi também um pensador diversificado, com interesses por religião, o
que foi fundamental para suas motivações filosóficas, por psicologia da visão,
matemática, física, moral, economia e medicina.
George Berkeley achava que todo o conhecimento chegava através dos
sentidos. Ressaltou bastante a importância das sensações táteis, visuais,
gustativas, musculares e olfativas nas percepções e nos processos psicológicos,
afirmava que a percepção, tanto primária como secundária, seriam fruto da
experiência. Sua doutrina principal era louvada de que o ser consiste em ser
percebido. Em outras palavras Berkeley diz: “Só existe aquilo que se pode
perceber”, em consequência, negava a existência de uma substância material,
acreditava apenas nas qualidades sensoriais. E a existência substancial só seria
possível ao espírito que para ele: ser e perceber. Berkeley fazia distinção entre os
objetos percebidos e os imaginados. Para ele, as nossas ideias estão para a
nossa mente como a natureza está para Deus, isto é, existe uma relação de
dependência entre elas. Completando seu pensamento, afirmava que a
percepção das coisas deveria conduzir à percepção de Deus como ponto central
do seu pensamento. Principalmente porque sua preocupação era mais metafísica.
Para Berkeley a verdadeira causa de todos os fenômenos era um espírito e na
maioria das vezes seria o mesmo espírito, ou seja, Deus.
16
REFERÊNCIAS
AYERS, Michael. George Berkeley. Trad. Jaimir Conte. Disponível em
www.cfh.ufsc.br/~conte/txt-ayers.pdf. Acesso em 17.mar.2012.
BATISTA, Cláudia Bacelar. Percepção e linguagem: A teoria da visão em
Berkeley. 2005. Dissertação (Mestrado em Filosofia)- Universidade Federal da
Bahia, Salvador, 2005.
BRADATAN, Costica. The Other Bishop Berkeley: An Exercise in
Reenchantment, Fordham University Press, New York, ISBN: 082-322-693-X, p.
18-39. Tradução: Jaimir Conte, 2006.
CELETI, Filipe Rangel. Empirismo. Disponível em
www.mundoeducacao.com.br/filosofia/empirismo.htm. Acesso em 17. mar.2012.
COBRA, Rubem Queiroz. FILOSOFIA MODERNA: Resumos Biográficos. Site
www.cobra.pages.nom.br, INTERNET, Brasília, 1997. Disponível em:
www.geocities.com/cobra_pages. Acesso em 16.mar.2012.
DOWNING, Lisa. George Berkeley. Trad. Jaimir Conte. Artigo publicado na
Stanford Encyclopedia of Philosophy. 2004. Disponível em:
http://plato.stanford.edu. Acesso em 14.mar.2012.
DUCLÓS, Miguel. George Berkeley – biografia e pensamentos, 1997.
Disponível em www.consciencia.org/berkeley.shtml. Acesso em 14.mar.2012.
ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL. Biografias: George Berkeley.
Disponível em http://educacao.uol.com.br/biografias/george-berkeley.jhtm. Acesso
em 16. Mar. 2012.
17
FARIAS, Vanderlei de Oliveira. Berkeley e a realidade mental do mundo. 2010.
Disponível em www.sumarios.org/sites/default/files/pdfs/45393_5471.PDF.
Acesso em 17. Mar.2012.
FLAGE, Daniel E. George Berkeley (1685-1753). Trad. Jaimir Conte. Artigo
publicado na The Internet Encyclopedia of Philosophy, 2004. Disponível em:
www.iep.utm.edu. Acesso em 14.mar.2012.
LOUTH, Andrew. Platonism and the Middle English Mystics. In Platonism and
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