Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP
Faculdade de Ciências da Saúde
Curso de Odontologia
Tratamento Restaurador Atraumático:
uma revisão de literatura
Trabalho de Graduação
apresentado à
Universidade do Vale do
Paraíba para a conclusão
do curso de Odontologia
Alunas: Adriana Rodrigues Martins
Aline Sandes Ferreira
São José dos Campos – SP
2001
Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP
Faculdade de Ciências da Saúde
Curso de Odontologia
Tratamento Restaurador Atraumático:
uma revisão de literatura
Trabalho de Graduação
apresentado à
Universidade do Vale do
Paraíba para a conclusão
do curso de Odontologia
Alunas: Adriana Rodrigues Martins
Aline Sandes Ferreira
Orientador: Caio L`Astorina
São José dos Campos – SP
2001
Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP
Faculdade de Ciências da Saúde
Curso de Odontologia
TRABALHO DE GRADUAÇÃO
2001
Título:
“Tratamento restaurador atraumático: uma revisão de literatura”
Alunas:
Adriana Rodrigues Martins
Aline Sandes Ferreira
Orientador:
Caio L’Astorina
Banca Examinadora:
Ilene Cristine Rosia César
Jarbas Francisco Fernandes dos Santos
São José dos Campos – SP
2001
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, Jesus e Neusa, que tudo fazem e
fizeram por mim.
Adriana
Dedico este trabalho à Deus e aos meus pais, Sebastião e Gislene, que
muito fizeram por mim.
Aline
AGRADECIMENTOS
Agradecemos em primeiro lugar aos nossos pais que em todos os
momentos de nossa vida estiveram ao nosso lado nos apoiando e
incentivando.
Aos nossos irmãos, amigos, tios e primos que sempre acreditaram em
nosso trabalho.
Ao mestre e amigo Caio L`Astorina que esteve ao nosso lado desde o
início da graduação e que continuará em nosso coração para sempre.
Ao mestre José Benedicto de Mello que apesar de somente um ano de
convívio soube nos ensinar a ter amor pela profissão.
Por fim e por tudo agradecemos à Deus, que nos colocou no meio de
pessoas maravilhosas.
“A odontologia é uma profissão que exige o senso estético de um
artista, o conhecimento de um médico, a destreza manual de um
cirurgião e a paciência de um monge”
Pio XII
RESUMO
O tratamento restaurador atraumático consiste na remoção de estrutura
dentária cariada usando apenas instrumentos manuais e restaura a cavidade
preparada com um material adesivo, desenvolvido para esta finalidade, o
cimento de ionômero de vidro.
O material adesivo restaurador, o cimento de ionômero de vidro, foi
escolhido por se aderir a estrutura dental e continuar tendo efeitos preventivos
pela liberação de fluoretos.
A opção por instrumentos manuais foi feita para tornar a técnica
acessível a todos os grupos populacionais, além de causar menos trauma para
os dentes e ter baixo custo.
Por ser uma técnica manual de remoção de tecido dental cariado, não
exige infra-estrutura voltada ao atendimento odontológico, equipamentos
elétricos e sofisticados sistemas restauradores.
Neste trabalho foi realizada revisão de literatura com o objetivo de
avaliar a aplicabilidade e propriedades do tratamento restaurador atraumático..
LISTA DE ABREVIATURAS
TRA: tratamento restaurador atraumático
CIV: cimento de ionômero de vidro
S. Mutans: Streptococcus Mutans
SUMÁRIO Pág. 1- INTRODUÇÃO.............................................................01 2- PROPOSIÇÃO.............................................................04 3- REVISÃO DE LITERATURA........................................05 4- DISCUSSÃO................................................................11 5- CONCLUSÕES............................................................14 6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................15
1- Introdução
2- Proposição
3- Revisão de Literatura
4- Discussão
5- Conclusões
6- Referências
Bibliográficas
1
INTRODUÇÃO
A filosofia moderna na Odontologia, a respeito do tratamento restaurador
de lesões cariosas enfatiza a detecção precoce e interceptativa do ciclo
cariogênico proporcionando a mínima intervenção restauradora na estrutura
dental, fazendo uso de aplicações de fluoretos, selantes e restaurações
preventivas.
O tratamento restaurador atraumático (TRA) se enquadra como uma
restauração preventiva, onde vale ressaltar que sem sombra de dúvida a
aplicabilidade de programas preventivos em higiene bucal com a finalidade de
identificação e controle dos agentes etiológicos da cárie estejam efetivamente
controlados.
O TRA se resume na remoção de estrutura dentinária injuriada utilizando
tão somente instrumentos manuais e por fim restaurando a cavidade preparada
com um material adesivo, no caso o cimento de ionômero de vidro modificado
(CIV), dentre inúmeras vantagens esta o fato desses materiais serem
recarregados com fluoretos presente no meio bucal, proporcionando uma
liberação de fluoretos constantemente.
Esse recarregamento pode ser alcançado através de várias fontes como
dentifrícios fluoretados e aplicações tópicas de flúor pelo profissional.
O emprego desta técnica dispensa a utilização de equipamentos mais
sofisticados e ainda, a anestesia local raramente se faz necessária. No entanto
não pode ser confundido com o processo de adequação do meio bucal, onde é
definido como sendo um conjunto de medidas que leva ao controle da doença
cárie. É a fase preparatória de reintegração da cavidade bucal às suas
condições normais de estética e função. O TRA deve ser considerado uma
medida de promoção de saúde, devendo, também ser visto como um programa
de controle da cárie de caráter permanente, não é uma etapa de transição mais
sim um tratamento curativo definitivo.
A técnica do TRA é um caminho a se trilhar para o tratamento da cárie
dentária, dirigido a Saúde Pública onde se prega a educação e saúde de
2
crianças e adultos nas resoluções dos problemas do meio bucal relacionados
às lesões cariosas.
O emprego dessa terapia teve início em meados dos anos oitenta e
posta em prática em atendimentos dirigidos a população de área carente, sobre
tudo em países com infraestrutura precária, onde o tratamento restaurador
convencional se torna inviável. E ainda, o TRA pode ser um importante fator de
auxilio no estacionamento das doenças em casos de pacientes com alto risco
de cárie, como ocorre em crianças soropositivas onde uma intervenção
convencional não tem indicações devido a complicações sistêmicas
ocasionadas pela AIDS (Síndrome da Imuno deficiência adquirida).
A odontologia, em sua concepção como profissão destinada a promoção
e manutenção da saúde bucal, tem como principal desafio o controle da
doença cárie, que ainda continua a ser um enorme problema de saúde pública.
No Brasil a população apresenta uma preocupante situação em relação à sua
ocorrência.
Embasados nos inúmeros estudos que mostram a alta prevalência e
incidência de cárie, nos atenta que ainda há muito trabalho a ser realizado,
sobretudo junto às populações carentes.
Uma das explicações talvez mais lógicas para que tenhamos altos
índices para tais parâmetros no Brasil ou em outros países com graves
problemas sociais e a enorme disponibilidade de carboidratos, pois são fontes
de energia acessíveis, bem difundidas em meio a pessoas de baixa renda.
Sabe-se que, estas fontes de energia alimentares são possuidoras de
grande potencial cariogênico, que associado à falta de informação, dinheiro e
costume para hábitos de higiene, culminam ambiente propício para instalação
do ciclo cariogênico.
A placa bacteriana associada a lesões de cárie geralmente contém altas
concentrações de S. Mutans, isolado da lesão em 1924 por Clarke e associado
à etiologia da doença além de um outro microorganismo que é o responsável
pela sua progressão da mesma, os Lactobacilos que permanecem aderidos à
placa bacteriana dando início a um ciclo: se há placa bacteriana, esses
3
microorganismos estarão presentes e mais freqüentes serão as lesões. O ciclo
então deve ser interrompido.
O tratamento odontológico visa não apenas reabilitar o paciente mas
assegurar-lhe condições futuras de saúde, fato que pode ser alcançado através
do TRA que aqui além de um processo curativo assume também caráter
preventivo atuando como interceptor de tal processo cíclico, que
comprovadamente tem apresentado ótimo desempenho para tal função.
4
PROPOSIÇÃO
O objetivo deste trabalho é avaliar a técnica de tratamento restaurador
atraumático (TRA) mediante revisão de literatura, no que diz respeito à
aplicabilidade, custo, durabilidade, e eficácia.
5
REVISÃO DE LITERATURA
Segundo FUSAYAMA et al. já em 1966, ao avaliarem a dureza da
dentina, a alteração de cor e a invasão microbiana em lesões cariosas de
dentina, constataram que a desmineralização e a alteração de cor precedem a
invasão bacteriana, sendo que essa distância é maior no caso de lesões
agudas e menor no caso de lesões crônicas. Concluíram que quando retirada a
dentina amolecida, restaria uma dentina desmineralizada, mas não infectada ,
passível de remineralização.
FRENCKEN em 1980, diante do preocupante quadro relacionado à
prevalência e à severidade da cárie em seu país, buscava uma solução que
aliasse a remoção da cárie e o pronto preenchimento da cavidade preparada
com um material que tivesse um papel selador capaz de permanecer viável por
um longo período de tempo, além de levar algum benefício terapêutico a
cavidade bucal, porém utilizando–se apenas instrumentos manuais sem a
utilização de instrumentos rotatórios.
NEWBRUN em 1988, concluiu que quando a lesão cariosa se
estabelece, a primeira camada encontrada é a de tecido decomposto ou
necrótico, seguido por uma zona de invasão bacteriana. A zona de
desmineralização aparece em seguida dessa, compreendendo-se, assim, que
a alteração tecidual precede a penetração microbiana, a partir da liberação de
toxinas e ácidos. Estas zonas são vistas como entidades distintas nas lesões
de lenta progressão, enquanto que nas lesões ativas elas se mesclam
continuamente, em função de seu rápido desenvolvimento.
Em 1991 THYLSTRUP & FEJERSKOV avaliaram quando o açúcar como
fonte microbiana de energia, contribuindo na patogênese da cárie de duas
formas, não necessariamente distintas: onde polímeros produzidos
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proporcionam a aderência dos microorganismos aos dentes ou os produtos
finais metabólicos excretados produzem a queda no pH do ambiente bucal.
Ainda em 1991 em mais uma de suas publicações THYLSTRUP &
FEJERSKOV avaliaram a predominância dos microrganismos encontrados nas
superfícies dentais que apresentam cárie e constataram que os de
microrganismos mais freqüentemente encontrados são os Lactobacilos e
S.mutans.
FORSS, NÄSE & SEPPÄ em 1991, desenvolveram um estudo para
avaliar os níveis de flúor e S.mutans presentes na placa aderida ao CIV
comparados a outros tipos de materiais restauradores. E puderam concluir que
devido ao flúor liberado pelo CIV, um aumento nos níveis de fluoretos foram
encontrados na saliva e podem também ser encontrados na placa aderida a
esse tipo de material. A proporção de S.mutans na placa adjacente as
restaurações ionoméricas é menor do que aquelas coletadas nas placas
aderidas ao amálgama e outros compostos restauradores também envolvidos
na pesquisa. Os mesmo autores também avaliaram que o alto nível de flúor na
placa pode inibir o crescimento de microorganismos acidúricos e acidogênicos,
os quais estão associados com a iniciação da cárie.
FORSS et al. em 1991 não encontraram atividade antimicrobiana em
restaurações de CIV envelhecidas nem quando da aplicação de fluoreto.
PALENIC et al. 1992 afirmam que o crescimento bacteriano é inibido nas
superfícies das restaurações de CIV, sendo esta inibição atribuída ao baixo ph
e devido a liberação de flúor, que é dependente do pH do meio bucal, sendo
que quanto menor, o ph, maior a liberação de fluoreto.
SEPPÄ et al. em 1992 atentam para o fato de que as mudanças da
microflora causadas pelo CIV após certo tempo diminuem e desaparecem.
Quanto ao número de Lactobacillus na amostra, pode-se perceber que a maior
7
proporção da queda de seu número se deu entre a quarta e sétima semanas
após o TRA.
SEPPÄ et al. em 1992 afirmam que o CIV tem sua ação antibacteriana
beneficiada pelo contato com fluoreto em alta concentração, efeito este que
pode ser até superior àqueles encontrados nos períodos iniciais da
restauração.
PITIPHAT et al. em 1993 acompanharam, durante seis meses, 93
restaurações, obtendo sucesso de durabilidade em 87% em restaurações de
uma face e 56% de duas ou mais faces, realizadas conforme a técnica do
tratamento restaurador atraumático.
BENELLI et al. em 1993 encontraram menor quantidade de S. mutans
na placa e maior concentração de flúor na placa formada próximo a superfícies
restauradas com ionômero de vidro do que com compósitos. Foi observado
pouco efeito do CIV na população de Lactobacillus.
FISCHMAN & TINANOFF em 1994 avaliaram a quantidade de S. Mutans
nos tratamentos realizados pela técnica do TRA e concluíram que com o
passar do tempo a diminuição do número de S. Mutans se deu em menor
proporção do que a inicial.
PITIPHAT et al. em 1994 em seus estudos atenta para uma reflexão
acerca do tratamento público odontológico em países do terceiro mundo a
partir de procedimentos simples, menos invasivos, adequados à realidade das
pessoas.
FRENCKEN et al. em 1994, puderam comprovar a efetividade das
restaurações efetuadas pelo método do TRA: após um ano as restaurações
realizadas, num total de 529, constatou-se o sucesso de 79% nas restaurações
de uma superfície e 55% nas restaurações de duas superfícies.Além disso o
8
autor atenta para um fato relevante, no que diz respeito ao ponto de vista
econômico pois o equipamento necessário para o emprego do TRA, contrasta
em número e natureza com o equipamento convencional, exigindo poucos e
simples instrumentos.
Segundo THYLSTRUP & FEJERSKOV em 1995, a paralisação do
processo carioso não requer um tratamento restaurador sofisticado, com alta
tecnologia, mas sim somente a remoção da biomassa microbiana cariogênica,
a partir da curetagem das lesões, retirando-se a maior parte do tecido
amolecido, necrótico e desorganizado. Em seguida, é feito o selamento das
cavidades, sepultando-se, então as bactérias remanescentes, cuja contribuição
para a destruição da estrutura dentinária é extremamente limitada. Em função
das propriedades bactericida e bacteriostática do material utilizado e da
dificuldade de se obter o substrato provindo do meio bucal reduz-se
significativamente a produção de ácido, paralisando a desmineralização e
controlando a progressão da lesão cariosa.
FORSS et al. em 1995, pesquisaram as concentrações de flúor,
S.mutans e Lactobacilos na placa envelhecida no CIV, e concluíram que os
índices microbianos apresentaram-se diminuído graças as propriedades deste
cimento que tem significativa eficácia na diminuição da microflora cariogênica.
PHANTUMVANIT et al. em 1996 avaliaram 241 restaurações de CIV de
uma superfície em dentes permanentes durante três anos, encontrando 93%
de sucesso.
Em 1997, MASSARA et al. concluíram que como todo tratamento, o TRA
necessita ser monitorado, isto é, são necessárias reavaliações periódicas a fim
de examinar as condições das restaurações realizadas. Esta técnica deve fazer
parte de um programa de combate à doença cárie, constituído-se de uma etapa
curativa, que é o TRA, e uma etapa preventiva, onde se enfatiza a escovação
9
dentária, o emprego de fluoretos, mais precisamente o uso de dentifrícios
fluoretados, e o controle da doença.
Segundo OLIVEIRA et al. em 1998, na técnica do TRA, a remoção da
cárie deve ser feita com o auxílio de colher de dentina, com movimentos
circulares de raspagens principalmente na junção amelodentinária. Todas
paredes devem estar apoiadas em dentina. Toda dentina infectada deve ser
removida exceto aquela que estiver recobrindo a polpa. Após a limpeza da
cavidade o seu tamponamento é efetuado com o cimento de ionômero de vidro,
os excessos são removidos com um escavador, a oclusão é avaliada e a seguir
procede-se o acabamento da restauração. Tudo isso deve ser feito antes da
presa do cimento, um verniz é então aplicado sobre a restauração para evitar
os processos de sinérise e embebição. As restaurações das superfícies
proximais de dentes anteriores devem ser feitas com o auxílio de matriz, cunha
e porta matriz. O isolamento relativo é o utilizado em restaurações da superfície
oclusal, em se tratando de fóssulas e fissuras deve ser realizado também o
condicionamento ácido das superfícies, previamente limpas com instrumentos
manuais, segundo as instruções do fabricante do cimento de ionômero de
vidro. No entanto a utilização do CIV em tal intervenções é questionável devido
aos seguintes fatores: a técnica causa o mínimo de invasão dos tecidos,
podendo ou não remover todo o tecido cariado,portanto não deve ser indicado
a pacientes que poderão fazer o tratamento brevemente, devendo devendo ser
realizado o tratamneto expectante.
CARVALHO et al em 1998, avaliou as propriedades cariostática e
antimicrobiana do CIV relacionadas com a liberação de flúor, que ocorre em
quantidades significativas por prolongados períodos de tempo, tanto in vitro
como in vivo. O flúor liberado pode ser incorporado aos tecidos mineralizados
do elemento dental, tornando-os mais resistentes ao processo de
desmineralização.
10
WEIDLICH et al. no ano de 2000, realizaram uma investigação para
avaliar a liberação e absorção de flúor em cimentos ionoméricos comparados
às resinas compostas. Relataram que os CIVs liberaram maior quantidade de
flúor nas primeiras 24 horas, após esse período a quantidade média de flúor
liberado decresceu. Os autores concluíram que os CIVs são capazes de
absorver flúor do meio enquanto que, as resinas não possuem tal propriedade.
NEVES & SOUZA em 2001 concluem que pela simplicidade da sua
técnica e sua funcionalidade, o TRA é um fator de auxílio no controle da cárie
dentária em populações especiais com alto risco de cárie, como é o caso de
crianças infectadas pelo HIV, em que as condições sistêmicas muitas vezes
podem dificultar uma intervenção convencional. A atuação limitada sobre a
microflora é interessante como terapia de choque nestes pacientes sob risco,
no entanto, o controle de higiene bucal deve ser eficiente como forma de
colaborar nesta terapêutica e na prevenção de novas lesões.
11
DISCUSSÃO
Avaliando as estruturas dentais diante da patologia cárie e o
comportamento desta doença durante sua evolução, o emprego de métodos
que promovam o restabelecimento da saúde bucal, faz-se necessários,
mantendo as estruturas dentais capazes de cumprirem suas funções normais.
No entanto, conhecendo a realidade sócio-econômica dos países em
desenvolvimento sabe-se que nem sempre é possível prover condições para
sanar os problemas de saúde bucal,dentre esses problemas o mais comum: a
cárie. Assim como salietam PITIPHAT (1994), FRENCKEN (1980), FRENCKEN
(1994) e relacionando doença com os problemas sócio-econômicos e a
necessidade de tratamentos alternativos aos convencionais, como o TRA.
A proposta de um tratamento que não necessite dos artifícios
convencionais, demonstram-se interessante como alternativa curativa, onde o
baixo custo e a simplicidade da técnica do TRA aliam-se para o êxito dos
resultados, conforme afirmam THYLSTRUP & FESERSCOV (1995).
O êxito da técnica do TRA está diretamente relacionado com o material
restaurador empregado, o CIV e suas propriedades, além de um correto
procedimento de limpeza da cavidade. A remoção do tecido cariado afetado
pela cárie deve ser minuciosamente realizada, atentando-se quanto aos
resíduos na cavidade, utilizando curetagem efetiva respeitando os limites
pulpares, assim como salientam FRENCKEN (1994), THYLSTRUP &
FEJSERSKOV (1995) e OLIVEIRA (1998).
No entanto, de acordo com os trabalhos de FUSAYAMA (1966),
NEWBRUN (1988), CARVALHO (1998), THYLSTRUP & FEJERSKOV (1991),
quando avaliada microscopicamente, a patologia cárie apresenta
peculiaridades no que diz respeito à sua organização durante sua evolução,
onde são observadas três áreas mais ou menos distintas: uma camada
superficial de tecido necrótico, uma camada profunda com porções
desmineralizadas e uma camada intermediária, com grande quantidade e
atividade de microrganismos. Com base nessas informações pode-se constatar
12
que uma remoção das duas primeiras camadas seria suficiente para prover
condições para restaurar o elemento dental, uma vez que as porções
desmineralizadas são passíveis de remineralização e os possíveis
microrganismos remanescentes não são mais significativos, devido à ação
bactericida e bacteriostática do CIV aliada à impossibilidade de obtenção de
substrato do meio para a nutrição microbiana, tais como os carboidratos
alimentares.
Quanto ao CIV, trata-se de um material com propriedades físico-
químicas que o tornam singular. A dinâmica dos fluoretos na superfície deste
material faz com que as condições dentais e mesmo bucais sejam alteradas,
com relação direta com a placa bacteriana e a disponibilidade de flúor na
saliva, inibindo a colonização do biofilme por microrganismos mais comumente
encontrados no processo carioso (S. Mutans e Lactobacilos) ou reduzindo esta
colonização, principalmente sobre as restaurações com este material e nas
superfícies adjacentes. Além disso, pela ação dos próprios íons flúor, este
material é capaz de promover a remineralização dos tecidos dentais atuando
de forma inversamente proporcional aos valores do ph, onde, quanto menor o
valor do ph maiores são os índices de íons flúor liberados. Da mesma forma
que afirmam THYLSTRUP & FESERSKOV (1995), FORSS (1995), PALENIC
(1992).
Porém, a dinâmica dos fluoretos observada nas restaurações de CIV
sendo intensa nas primeiras vinte e quatro horas tendendo a extinção, fato que
pode ser observado nas restaurações a longo prazo e conseqüentemente o
aumento de microrganismos no meio bucal passa a ser considerável de forma
inversamente proporcional, assim como afirmam FORSS, NÄSE, SEPPÄ
(1991), SEPPÄ (1992), FORSS (1995), FISCHMAN & TINANOFF (1994),
WEIDLICH (2000), BENELLI (1993).
Tendo em vista a limitada ação dos CIVs, embora de considerável valia,
as restaurações realizadas pelo método de TRA assim como todo tratamento,
devem ser monitoradas, avaliando-se as possíveis alterações do material e/ou
estruturas dentárias, embora alguns trabalhos mencionem o sucesso de boa
13
parte dos tratamentos realizados pela técnica do TRA, conforme PITIPHAT
(1993), FRENCKEN (1994), MASSARA (1997), PHANTUMVANIT (1996).
O TRA diante da sua metodologia simples e de baixo custo apresenta-se
como alternativa eficaz de tratamento, podendo ser empregado em situações
especiais como em comunidades carentes, indígenas e grupos de pacientes
comprometidos sistemicamente, como idosos, de acordo com OLIVEIRA
(1998), NEVES & SOUZA (2001).
No entanto, em situações onde os pacientes estejam em momentos
inoportunos para a realização do tratamento odontológico mas que brevemente
o farão, não é indicado o emprego do TRA, mas sim de um tratamento
expectante conforme afirma OLIVEIRA (1998).
14
CONCLUSÕES
Através da literatura consultada, podemos concluir que:
1- a eficácia do TRA demonstrou ser de grande importância para seu emprego
diário na clínica odontológica, principalmente nos serviços de atenção
odontológica pública, podendo com isso, promover saúde bucal com baixo
custo e grande eficácia.
2- o sucesso do tratamento restaurador atraumático decorre do somatório de
fatores: técnica fácil e de simples execução.
3- o CIV é o material de indicação para prática do TRA.
15
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16
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