7/30/2019 Uma estranha vingança - Aranzazu Rodrigues
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Uma estranha vingançaAránzazu Rodríguez
Joelma
Alex abriu os olhos, sentindo o sangue correr cálido por seu
peito. O tiro não tinha roçado o coração, mas a ferida era mais que
suficiente para matá-lo, e o momento não demoraria a chegar. A
cada respiração ficava mais difícil manter-se consciente, mas
continuou lutando enquanto amaldiçoava aquele desejo
desesperado que o impedia de abandonar-se nos braços da morte.
Uma parte dele continuava esperando que ela aparecesse, obeijasse e dissesse que tudo era um engano e que o amava.
Há mais de duzentos anos Alex vaga pela terra. Traído, morreu
às mãos de quem mais amava, e vive esperando a oportunidade de
ressarcir-se disso. Estamos ante um homem que fez da vingança
sua meta, seu motivo para seguir existindo. E quando a
oportunidade chega… Elisa é uma jovem normal e simples,
acossada pelas lembranças de um passado que não lhe pertence.Ingênua e inocente, não chegou nem a vislumbrar tudo o que a
espera. Sua pacífica e agradável vida se vê sacudida até os
alicerces quando um homem misterioso começa a visitá-la… Seus
caminhos se encontram, e surge a magia…
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PRÓLOGO
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Alex abriu os olhos, sentindo o sangue correr cálido por seu
peito. A bala não tinha roçado o coração, mas a ferida era mais
que suficiente para matá-lo, e o momento não demoraria a
chegar. A cada respiração se tornava mais difícil manter-seconsciente, mas continuou lutando enquanto amaldiçoava esse
desejo desesperado que o impedia de abandonar-se nos braços
da morte. Uma parte dele continuava esperando que ela
aparecesse, o beijasse e dissesse a ele que tudo era um engano
e que o amava.
A neve ao seu redor estava tingida de vermelho, o aroma do
sangue não demoraria a atrair aos lobos. Esse mesmo frio era o
que o mantinha consciente, mas não continuaria assim por
muito tempo. Sua visão começou a falhar rapidamente, e
fechou os olhos para conter as lágrimas que se acumulavam
neles ao compreender a magnitude de seu engano. Não só elepagaria as consequências. Mas agora já era muito tarde.
Uma estranha paz o invadiu, imergindo-o em algo que se
assemelhava ao sonho, levando consigo todo rastro de dor.
Alex sorriu, dedicando um último pensamento a sua família.
Se isso era a morte… não era tão ruim.
A dor voltou, mais forte que nunca, seguida pelo prazer
mais intenso que havia conhecido em toda sua existência.
Tudo se tornou branco, e logo sua visão retornou.
Estranhamente, as coisas foram se tornado cada vez mais
definidas, os contornos mais precisos, as cores mais vivas. E a
cima de tudo, o homem que estava ajoelhado ao seu lado.Tinha os olhos fechados e um ricto1 de concentração no rosto.
1Ricto – contração dos lábios ou face. (Aurélio)
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Parecia que estava sofrendo, pois segurava o pulso esquerdo
com força.
Alex quis falar com ele, perguntar quem e o que era, porque
essa beleza não podia ser humana. Mas captou o aroma do
sangue que gotejava pela mão do homem, e o desejou
desesperadamente. Ele parecia saber disso, abriu os olhos e o
olhou.
- Mais? - levantou o pulso ferido em um gesto inquisitivo.
Alex não pensou, puxou o homem para si e grudou os
lábios à ferida. O prazer voltou feito em ondas, ao tempo que
bebia. A abominação deste ato não causava repugnância nele,
como deveria ser. Era uma comunhão, um vínculo que estava
acima das normas humanas. Não havia nada errado nisso, no
pulso do sangue na boca, na calidez de suas veias, no abraço
do homem. Não soube quanto tempo passou até que o homem
retirou seu pulso e o enfaixou com um lenço.
- Parece - disse o homem que ficou muito pálido. - que já
basta.
- Quem é?- perguntou Alex que se reclinou. Em sua camisa
uma mancha vermelha testemunhava o ferimento, mas não
restava nem sinal dela em sua pele. Estava completamente
curado.
- O dilema não é quem sou, irmão. - respondeu o homem. –
E sim o que sou. E o que você é.
- Não entendo - sacudiu a cabeça - estava morrendo e
agora…
- Agora está morto. Nada poderá ferir você outra vez, nem a
enfermidade nem o tempo nem as armas humanas. – puxou
Alex para levantá-lo e fez um gesto com a mão, apontandopara o bosque nevado - Contempla o mundo, irmão, pois
agora é teu. Meu nome é Gabriel, e sou um vampiro. Igual a
você. - sorriu - Bem-vindo à família.
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CAPÍTULO 1
O sol acabava de se pôr. Ainda se sentia o calor abrasador
que tinha assediado a cidade durante todo o dia embora a brisa fresca que chegava do mar anunciasse que ia ser uma
noite fria.
Alex despertou sobressaltado. Estava aí, sentia-a de novo
depois de dois séculos esperando. A mesma aura, a presença.
Olhou pela janela do quarto do hotel. Montões de pessoas pela
rua, passeando, voltando para casa do trabalho. Poderia serqualquer cidade do mundo, isso nunca mudaria. Amantes,
amigos… tudo o que ele não podia ter. Nunca suportava
contemplá-los, sentir-se tão isolado deles quando foi igual.
Mas esta vez era diferente, e não ia deixar que a solidão o
distraísse. Esta vez havia alguém escondido na multidão,
alguém a quem ele queria encontrar.
Só tinha chegado à cidade de passagem antes de reunir-se
com Gabriel em Paris. Havia sido uma enorme casualidade,
ou ao menos isso pensaria se acreditasse nelas. Quem poderia
imaginar que ia encontrar o motivo de sua existência nesse
lugar… Vestiu-se rapidamente logo que baixou o último raio de sol.
Enquanto fosse de dia ele pareceria alguém quase normal,
exceto pelos óculos do sol que não poderia tirar sob nenhuma
desculpa. Mas isso não significava que saísse frequentemente
à rua enquanto o sol estivesse alto. Não pertencia à minoria
que gostava de sair de dia, com seus poderes minguados eseus sentidos reduzidos a um nível quase humano.
Qualquer um poderia atacá-lo durante o dia, bom, qualquer
um que soubesse como atacá-lo… e para começar tinha que
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acreditar nele, o que era impossível nesse século. Ah, a era da
tecnologia. Que maravilha.
Saiu do hotel ignorando os comentários da recepcionista a
respeito das áreas noturnas da cidade para sair em uma sexta-
feira. Deixando-se levar pelo instinto se aproximou da área
histórica da cidade. Era muito tarde para os turistas e muito
cedo para os adolescentes (e não tão adolescentes) com
vontade de andar. Continuou caminhando até que a viu. Mas
não era ela. A jovem que caminhava tranquilamente alheia a
sua observação não se parecia em nada com quem devia ser.
Sondando sua mente captou seu nome: Elisa.
Elisa voltava para casa depois do trabalho, como todas as
tardes. Sorria enquanto o vento retirava seu cabelo do rosto,
refrescando-a depois do calor da cafeteria. O vestido de verãoformava redemoinhos em torno de suas pernas enquanto
sapateava pelas ruelas da cidade velha. A maioria das pessoas
preferia o caminho marítimo para ver o entardecer, assim o
centro estava bastante vazio. E adorava essa solidão pacífica
do anoitecer.
De repente, sem nenhum motivo se sentiu incômoda.
Observada. Lutando contra o impulso de começar a correr,
girou sobre si mesma para averiguar a causa da repentina
sensação. Não havia tal causa, a rua deserta, as janelas
estavam fechadas. Esfregou as têmporas dizendo-se que era
apenas uma sensação, uma estúpida sensação que passaria em
dez minutos se a ignorasse. Continuou caminhando, evitando
o medo, cantarolando para si mesma tentando tirar da mente
aquela idéia absurda. Seu apartamento ficava ainda a umas
cinco ou seis ruas de distância, o que lhe pareceu uma
eternidade.
Pensou que era impossível, mas a impressão de ser vigiadaaumentou ainda mais, suas têmporas pulsavam, sentia em sua
mente: alguém a olhava, observava-a.
- Por favor… Quem está aí?- perguntou a beira do pânico -
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Por favor… por que está me observando?
Alex se retirou um pouco da mente dela, dando-se conta deque a transtornava com sua presença. O pranto da jovem o
inquietou mais do que deveria, fazendo-o sentir-se mau.
Escondeu-se entre as sombras, esperando que não o visse.
Nunca houve nenhuma resposta a sua pergunta, embora
Elisa tampouco a esperasse.
Segurando a bolsa, pôs-se a correr sem parar até que chegou
a seu apartamento e fechou a porta com chave. Sentiu-se
ridícula, mas o gesto lhe deu segurança. Não podia parar de
tremer, assim fez o que o sempre a relaxava: encheu a
banheira de água, jogou os sais de banho com aroma de rosas
e se meteu nela. A água quente a relaxava e fazia sentir-se
bem, tanto que inclusive conseguiu esquecer a angústia dessa
tarde e convenceu-se de que tinha sido idéia dela, que o calor
a tinha transtornado.
Quando saiu enrolada em uma toalha só podia pensar no
jantar e no filme que tinha planejado ver essa noite, algo
romântico e agradável para chorar a vontade. Daquela vez,suas amigas não insistiram em sair na sexta-feira… e com um
pouco de sorte também poderia ficar em casa no sábado, com
um bom livro entre as mãos e uma taça de vinho branco à
mão. Suspirou. Aos vinte e quatro anos já tinha gostos de
solteirona.
Teria que comprar um gato. Pôs alguns pedaços de pizza
para esquentar enquanto vestia um robe. Encolheu-se no sofá
com a comida requentada em seus joelhos, e deu play.
Alex apareceu no balcão da humana. Estava dormindo,
deitada no sofá e enrodilhada enquanto os créditos de um
filme terminavam de passar na tela em frente dela. Tinha-aencontrado depois de tantos anos. Tudo nela havia mudado.
Seus cabelos já não eram loiros, e sim vermelhos escuro. Sua
pele já não era branca, tinha um tom dourado que só se
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conseguia passando tempo sob o sol. Respirava pausadamente
envolvida em um penhoar branco que deixava descobertas
suas pernas dobradas e os pés descalços. Como tinha mudadotanto? Haviam prometido a ela que a reconheceria, e o fez.
Mas não era a mulher a quem queria vingar-se.
Esta jovem não parecia a mesma que o destruiu. Ficou
olhando-a através do vidro, enquanto ela continuava seu
pacífico sonho. Não foi o mesmo naquela tarde. Normalmente
os seres humanos nunca detectavam sua presença, mas ela o
percebeu e pôs-se a correr, refugiando-se inconscientemente
no único lugar em que estaria a salvo dele. No momento.
Desgostou-o que o temesse dessa forma, que tivesse reagido
fugindo ante ele. Franziu o cenho ante esse pensamento. Ele
vivia para vingar-se, assim que o terror da jovem tinha que lhedar alguma satisfação em vez de fazê-lo sentir remorsos, não é
verdade? Mas em vez disso se sentia como se tivesse feito mal
a uma menina, assustando-a sem motivo.
Voltou a contemplá-la. Imersa em seu sonho estava
realmente bonita. Pacífica. Algo se rebelou em seu interior
ante a idéia de machucá-la, mas ignorou. Disse-se que não
importava, que já tinha ocorrido isto com ele antes e que
saberia como dirigi-la. “Poderei resistir”, pensou enquanto
olhava fixamente a curva de seu rosto, os lábios entreabertos
em uma ameaça de sorriso e os cabelos roçando-a como uma
carícia. O desejo de tocá-la se tornou irresistível. Apoiou as
mãos contra o vidro do terraço, sabendo que estava proibido
de entrar até que ela autorizasse, sabendo também que se o
visse grudado a sua janela a meia-noite ia levar um susto de
morte. Chamou-a mentalmente, despertando-a. Viu-a
revolver-se entre as almofadas, o robe abrindo-se enquanto
girava sobre si mesma, deixando ver seu pescoço e clavículas,
quase até o nascimento dos seios. Uma profusão de desejo oatravessou o deixado desconcertado. Viu a si mesmo beijando
aquele pescoço de cisne, separando o robe até encontrar-se
com seus seios e… Basta! Tinha que deixar disso ou acabaria
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entrando, mesmo contra as normas.
Elisa despertou com a sensação de ter dormido muitotempo. Durante um segundo se sentiu totalmente
desconcertada quando ao virar-se descobriu que não estava
onde deveria estar: em sua cama. Logo recordou o filme que
tinha tentado ver e que, evidentemente, teria que suspender
para outro dia. Uma olhada a seu relógio a informou que
passava da meia-noite. Suspirou e decidiu que o melhor plano
era ir para a cama, dado que nem sequer conseguiu ficar
acordada o tempo suficiente para terminar um triste filme de
hora e meia de duração.
Saiu da sala em direção a seu dormitório, suspirando com
antecipação quando viu sua cama coberta com o suave
edredom de plumas. Desamarrou o robe e deslizou entre oslençóis, acolhendo com um calafrio o frescor do cetim sobre
sua pele nua. Não demorou nem um minuto para adormecer,
e menos ainda para começar a sonhar, o que a surpreendeu
porque muito poucas vezes sonhava.
Estava em um quarto estranho, que ela nunca tinha visto,
mas que sabia que lhe pertencia. Os lençóis que a envolviam
eram mais ásperos que os seus, arranhado sua pele sensível.
Uma calidez a envolvia, uma que não procedia dos lençóis
nem das mantas. Um corpo masculino dormia contra suas
costas, um de seus braços rodeando-a possessivamente, suas
pernas entrelaçadas com as dela. A cabeça do homem estava
apoiada perto do pescoço dela, de tal forma que sentia sua
respiração.
Quando tentou mover-se para poder olhar para ele, ele
despertou e falou com ela.
- Amor, já está acordada?
- Bom dia. – ouviu a si mesma responder. - Como dormiu?
- Com você ao meu lado? Impossível estar melhor -
respondeu o homem enquanto depositava um beijo na curva
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de seu pescoço. O braço que a envolvia puxou-a para girá-la e
ficar cara a cara com ela.
Se tivesse podido fazer algo, teria suspirado. O homem que
a olhava era a perfeição masculina reencarnada. Os cabelos
escuros caíam até os ombros dele enroscando-se em suaves
cachos. Seu rosto era perfeito, a testa orgulhosa, o nariz
cinzelado e o queixo um pouco arrogante. Os olhos eram
assombrosamente verdes e quando sorriu covinhas se
formaram em suas faces, cobertas por uma sombra de barba.
O olhar desses olhos era de uma adoração absoluta, de um
amor incondicional.
Surpreendeu-a que ela não sentisse nada por esse homem,
absolutamente nada. A forma em que a olhava indicava que
estava completamente apaixonado por ela, mas tudo que elapodia sentir era desejo. Um desejo intenso, mas sem estar
tingido nem de ternura nem de carinho. O amor era só por
parte dele, e Elisa se perguntou por que seria.
Quando ele a beijou devolveu seu beijo, acariciando seus
cabelos, puxando-o contra ela. Mas tudo era falso, só luxúria.
Elisa se horrorizou, apanhada dentro do sonho, tentando
separar-se do homem que a amava, mas sem poder fazer
nada. Estava perdida em sua própria imaginação, como se
fosse só uma espectadora sem poder de decidir. Uma
espectadora que o vivia em primeira pessoa.
Finalmente, terminou o beijo. Acariciou sua face, sorrindopara ele suavemente.
- Amo você. - disse. - É a luz de minha existência.
- Eu também o amo. - ouviu-se responder de novo, apesar
da mentira machucá-lo. Por que não podia controlar esse
sonho? Ia ferir o homem que a amava, tinha certeza. Mas nãopodia evitar. Ouviu-se continuar falando, com essa voz que
soava estranha aos seus ouvidos. - Mas tem que partir. Se meu
irmão o vê partir me prenderá.
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- Sabe que poderíamos evitar isso se você se casasse comigo.
- respondeu ele.
- Ainda não, carinho. Sou muito jovem, e não posso fugir
com você. Sabe disso, ambos sabemos.
- Não a importa que não tenha fortuna?
- Não, sabe que não. Meu amor, se puder estar com você
não importa onde. Mas meu irmão precisa de mim. Ainda nãoaprendeu a dirigir as terras desde a morte de papai, e sabe.
Não posso falhar com ele.
Mentira! Tudo isso era mentira! Elisa queria gritar. A
mulher que falava, porque não podia a considerar como ela
mesma, não o amava. Ele era seu melhor amante, e queria
conservá-lo até que seu compromisso com um duque fosseoficial. Só alentava porque sabia que ele nunca ficaria com ela
se estivesse comprometida com outro homem. A morte do
marquês, seu pai, só era uma desculpa para pospor o
casamento, para ela dava no mesmo que ele já não estivesse e
as preocupações de seu irmão não a importavam no mais
mínimo.
Viu-se levantar da cama e aproximar-se de um espelho de
corpo inteiro. Tinha o aspecto de ser muito antigo, já que não
era de vidro, e sim de metal polido. Os contornos se viam
imprecisos, mas ela chegou a distinguir uma figura muito
mais voluptuosa do que a que possuía. Seus seios eram
grandes e seus quadris, arredondados.
Também era mais baixa, e menos delgada que o normal.
Cobria-a uma cabeleira loira que chegava até além dos seus
quadris, completamente lisa. Quando se aproximou mais do
espelho encontrou refletido um rosto oval que tinha certa
semelhança com o seu, salvo pelos olhos que eram azuis emlugar do tom violáceo que tinham os seus e que tantas
preocupações lhe deu, além de serem menores e rasgados.
Quando a mulher se virou para contemplar seu amante,
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Elisa pôde fixar-se nos detalhes do quarto. Definitivamente,
não era de sua época O quarto era de pedra, chão e paredes,
embora o primeiro estivesse quase que completamente cobertocom alguns tapetes enormes. O mobiliário era pesado, feito de
madeira maciça, e escasso.
Havia uma cama, um armário com as portas fechadas e uma
mesinha onde descansavam uma jarra e uma bacia de prata. A
cama era enorme e estava situada em cima de… uma
plataforma? Também tinha dossel e cortinas de veludo que a
cobririam totalmente se as soltasse. As paredes estavam
cobertas com tapeçarias, e mal havia janelas, que eram pouco
mais que aberturas na rocha. A parede norte era coberta por
uma enorme lareira, ainda acesa.
- Pensa que talvez possa estar grávida?- perguntou ohomem com uma indubitável ilusão no rosto.
- Não. É totalmente impossível – ela refutou. - Sangrei na
semana passada. - ignorou a desilusão do rosto do homem
quando respondeu a ele tão friamente.
Outra vez a verdade revelou-se para ela: essa mulher nuncapoderia ter filhos. Foi a uma parteira quando ficou grávida
pela primeira vez, e o aborto a deixou estéril, o que a satisfazia
porque podia entregar-se ao prazer sem nenhuma restrição. E
quando seu marido quisesse um filho, ela se disporia a supri-
lo com o de alguma criada. Todos sabiam que uma mulher
grávida não podia ser tocada por seu marido, assim não teriaproblemas para manter a farsa durante o tempo que durasse.
- Catalina… - sua voz era doce e sedosa, impregnada de um
carinho que a fez sentir inveja. - Você gostaria de ter meu
filho?
- Claro que sim, meu amor. Não há nada que me fizesse mesentir mais feliz que levar seu filho em meu ventre. Seria um
pai maravilhoso. Mas agora - disse aproximando-se dele e
voltando a beijá-lo - deve ir. Por favor.
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Sorriu para ela, devolveu-lhe o beijo e começou a vestir-se.
Pela sua roupa se adivinhava que não era um homem muito
rico. Uma camisa de linho e uma calça escura colocada pordentro das botas de couro eram toda sua vestimenta. Prendeu
os cabelos na nuca, embora umas mechas se desprendessem.
Fez gestos para partir, mas antes de sair pela porta se virou e
levantou a mulher nos braços, dando um último beijo nela,
deixando para ela um último a amo antes de partir. E ela
devolveu o beijo e a declaração, desejando já o seguintemomento para estarem juntos.
Elisa se viu embargada pelo asco pela mulher que era,
perversa e sem coração e que só procurava seu próprio prazer.
Via-se que o homem a amava com toda sua alma, enquanto
ela o utilizava sem o menor remorso. Nem sequer era fiel a ele.
A mesma cama que ainda conservava seu calor tinha sido
testemunha de muitos mais encontros que os deles dois.
Encontros dos quais ninguém sabia nada, exceto ela e os
amantes.
Quando saiu do quarto suspirou e chamou à criada para
que preparasse um banho para ela. Nessa tarde deviaconhecer seu prometido. Em menos de um mês estaria casada.
E seria imensamente rica.
Nesse momento o sonho mudou, como se estivesse vendo
um filme e houvessem chegado os comerciais. Encontrou-se
de novo em seu quarto, colocada entre seus lençóis, chorando
em silêncio pelo homem que tanto a amava e a quem ia trair.
Sabia que não podia estar acordada, mas tampouco tinha a
nítida sensação de estar sonhando.
Ouviu uma leve batida na janela.
Ela ameaçou levantar-se da cama, mas estava nua e no
balcão havia inequivocamente uma figura masculina. Assim,
se envolveu nos lençóis e foi até a janela. E ali estava ele.
Alex observou encantado como ela ajustava as bordas do
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lençol ao redor de seus peitos. Ficou completamente surpreso
quando o viu, apesar de estar utilizando quase todo seu poder
para manter-se oculto. Queria que ela ouvisse o ruído e abrissea janela, um convite mudo, sem vê-lo. Agora tudo tinha ido
água a baixo, como tinha driblado suas defesas? A surpresa se
converteu em estupefação quando Elisa estirou os braços e
abriu as portas do terraço, convidando-o a entrar em sua casa.
Perdendo sua única defesa contra ele.
Alex não esperou uma segunda indicação, e ela observou
fascinada como o homem que estava em seu sonho entrava
dentro de seu quarto, esta vez era ela que o via, não a outra
mulher, Catalina. Estava mudado: sua pele que antes era
bronzeada pelo sol agora era muito mais branca, e parecia
mais fina. Seus olhos brilhavam como esmeraldas. O que não
tinha mudado eram seus cabelos, e ela se sentiu tentada a
capturar uma mecha entre seus dedos para ver se eram na
verdade tão suaves como pareciam.
Algo em seu subconsciente a alertou “perigo”, mas ela
ignorou fascinada pelo desconhecido.
Alex estendeu a mão para tocar as lágrimas que ainda tinha
nas faces. Agora que estava em frente dela, depois de tantos
anos, não tinha coragem para fazê-lo. Para destroçar sua vida
igual a ela tinha destroçado a dele. Porque ela era e não era
Catalina.
- Por que chora?
- Tive um sonho ruim - respondeu Elisa negando com a
cabeça e levando as mãos ao rosto, gesto que ele impediu
segurando-as com a sua.
- O que sonhou, pequena?
- Bom… deixei de sonhar? Porque isto ainda é um sonho,
não é verdade?
- Verdade - mentiu ele. – Mas deveria me contar isso
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ajudará você a dormir melhor.
- Sonhei que era outra mulher - respondeu Elisa. - Sonheique estava com um homem, um homem que me amava, mas a
quem eu não amava. E o machucava. Esse homem… se
parecia muito com você, mas foi há muitos anos.
Alex apertou os dentes, sentindo como suas presas
cravavam-se no lábio inferior até que sentiu o gosto de sangue
em sua boca. Elisa não tinha estado sonhando, esteverecordando, relembrando sua traição. Não havia engano
possível: era ela, tal qual a cigana lhe havia dito. Mas estava
chorando. Não se lembrava de sua traição, mas chorava por
um erro que não era dela. Era inocente.
- Sofria por enganá-lo? - perguntou bruscamente.
- Sofria porque me amava e eu o enganava. Porque ele era
sincero e eu não. Sabe - disse com um sorriso triste em seu
rosto. - Sempre quis que alguém me amasse assim, tão
completamente quanto ele o fazia. Nunca estive apaixonada,
mas sempre desejei poder amar alguém e ser correspondida.
Mas nesse sonho… brincava com o amor. E não gostei de mim- disse negando com a cabeça. - Não queria machucá-lo.
Ficou olhando o homem em seu quarto, completamente
séria. Ele devolvia seu olhar com a mesma seriedade, sem
nenhum indício de ternura ou cumplicidade. Seu rosto era
uma máscara de indiferença.
- Nem sequer sei por que demônios estou contando isto a
você. Não disse isso a ninguém – suspirou - mas bom… menos
mal, normalmente não me lembro do que sonhei ao despertar,
se não estaria completamente envergonhada.
- Não é nada vergonhoso desejar ser amado, nem amar. -
respondeu ele em um sussurro.
Elisa desejou poder fazer algo por ele. Parecia deprimido,
triste. Desejava tanto abraçá-lo que doía, mas se conformou
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pondo uma mão na face dele e acariciando a maçã de seu
rosto. Ao instante que o tocou, uma corrente elétrica passou
dele a ela. Ambos ficaram paralisados, sentindo como o desejoaumentava feitos ondas, ouvindo as respirações compassadas
de ambos.
Logo, como em câmara lenta ele a atraiu contra si e a beijou.
Seus lábios estavam tão frios e suaves como mármore vivo.
Ela o rodeou com os braços e correspondeu ao beijo dele
enquanto enterrava os dedos nas ondas escuras de seus
cabelos, que eram tão suaves como prometiam. Enquanto isso,
as mãos de Alex deslizavam por suas costas, seu pescoço, seus
ombros, em um movimento suave, apertando-a contra ele.
Elisa entreabriu os lábios em um suspiro mudo e ele invadiu
sua boca, o deixando provar seu sabor, lhe mordiscando os
lábios.
Suspirou quando esses lábios riscaram um caminho úmido
por sua garganta, justo em cima de seu pulso que palpitava
freneticamente. Alex abriu a boca e roçou-a com as presas,
saboreando a frescura de sua pele e a tentação dos batimentos
do coração sob seus lábios.
Era tão doce! Desejava-a como há muito tempo não se
permitia desejar nada.
Rápido. Urgente. Sentia-se a ponto de explodir, e ela soube
quando se arqueou e sentiu a prova irrefutável de sua paixão.
Em vez de afastar-se gemeu, e se esfregou contra ele, ofazendo estremecer.
Até que recordou. Ela também tinha mostrado antes esse
tipo de paixão desinibida. Alex a tinha atribuído ao amor, mas
tinha se enganado. Completamente. E agora não voltaria a
cometer esse mesmo engano. Podia ser que tivesse mudado,
mas continuava sendo Catalina, embora disfarçada de moça
inocente. Não cumpriria sua vingança ainda, mas estaria
esperando. Esperando que sua verdadeira personalidade
surgisse à luz de novo para poder levar a cabo a vingança
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que levava mais de dois séculos forjando.
Reunindo de novo seus poderes desapareceu do quarto, aomenos para os olhos dela. Esta vez não pôde encontrá-lo, a
pesar de está a menos de um metro.
Ofuscando a mente dela, voltou a colocá-la em sua cama,
cobrindo-a com a colcha enquanto ela voltava a dormir
profundamente. Certamente pensaria que tudo tinha sido um
sonho muito vívido, assim não tinha motivos para preocupar-se. Apesar de tudo não se atreveu a desfazer o emaranhado de
lençóis em seu corpo, e sim deixou que acreditasse que tinha
se enrolado ao girar nos sonhos. Vê-la nua teria acabado com
seu autocontrole.
Sentindo asco de se mesmo e apartou os cachos vermelhos
de seu rosto, recordando o olhar de paixão nesses olhos
impossíveis. Sentia seus cabelos incrivelmente quentes em
suas mãos, deixando-se acariciar. Fazendo das tripas coração
se separou e saiu de novo ao terraço, fechando a vidraça
detrás dele, sabendo que poderia voltar quando quisesse.
Agora não tinha forma de escapar dele.
CAPÍTULO 2.
Elisa se levantou na manhã seguinte, com a sensação de ter
dormido bem e profundamente. Estava enrolada nos lençóis e
coberta com a colcha. Recordava ter sonhado algo… Deus
santo! Tocou seus lábios. O beijo… o homem. E estranhamente
estava enrolada no lençol, tal como sonhava ter feito antes deabrir a janela para ele. Mas isso não era possível. Embora
tampouco estivesse acostumada a ter sonhos tão vividos,
assim podia resumir como uma estranha noite. A porta-
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janela do terraço estava fechada confirmando a ela que pelo
menos não era sonâmbula, o que agradecia. Tampouco havia
alguma prova de que alguém tivesse pisado no terraço queconectava a sala com seu quarto. “Nem rastros do homem
misterioso” disse para si mesma. Tudo normal. Então por que
tinha a sensação de que algo de vital importância tinha
acontecido essa noite? Suspirou. Certamente eram apenas os
retalhos do sonho tentando perturbá-la. O mais estranho era
que essas lembranças não a abandonaram ao despertar, e simseguiram dando voltas em sua cabeça.
Depois de toda a manhã tentando concentrar-se nas tarefas
mais simples se deu por vencida: era um caso perdido de
distração crônica. As imagens da mulher de seu sonho se
repetiam cada vez mais rápida e furiosamente em sua cabeça,
imagens dela, do homem que a amava, de seu irmão, de seu
pai… de pessoas que não conhecia de forma alguma, mas que
tinha a sensação de conhecer por toda a vida. Sentando-se no
sofá, pegou um caderno e escreveu tudo o que recordava do
sonho, e os fragmentos que vinham à sua cabeça
espontaneamente que eram basicamente relacionados entre as
imagens e seu parentesco com ela. Antes de poder se precaver
havia esboçado uma espécie de árvore genealógica em
miniatura, com mais que algumas flechas para designar aos
seus amantes.
Quando Alex subiu no avião continuava desconcertado.
Logo que abandonou o quarto de Elisa se pôs a caminho.Pagou uma pequena fortuna pela passagem de avião de
primeira classe de um homenzinho quando se inteirou de que
não havia nenhuma disponível para o primeiro vôo. Tinha
embarcado às cinco e meia da madrugada, e com um pouco de
sorte não teria que suportar as horas mais quentes. Se tivesse
podido evitar, não voaria até o anoitecer, mas isso não estavanem em consideração. A pesar de sua relutância em viajar de
dia sentia que era absolutamente necessário afastar-se dela o
mais rápido possível. Tinha encontrado ela procurando
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vingança, mas não parou para pensar muito nas
consequências. E nunca chegou nem a imaginar que ainda o
afetasse dessa forma. Mas não podia enganar a si mesmo, nãoera em Catalina que esteve pensando quando beijou aquela
pequena mortal, e sim em Elisa. Quando a teve em seus braços
foi tão bom, perfeito. Como nunca antes se sentiu, nem sequer
sendo mortal.
E agora estava longe, separavam-nos algo mais que
quilômetros. Estava na mansão de Gabriel, protegido sob seu
escudo e seus poderes. Não eram nem meio-dia quando
atravessou as portas da imensa casa, e imediatamente sentiu
seu poder, sua essência. O imortal estava em casa.
Entrou com passos vacilantes quando a porta se abriu
sozinha. Sabendo onde estaria seu amigo se encaminhou paraa biblioteca que ocupava a maior parte do andar térreo.
Estava sentado em uma poltrona, mas se levantou quando
Alex entrou na sala, com um cavalheirismo já passado de
moda. E de fato parecia um cavalheiro, vestido com um traje
negro que certamente havia custado uma dinheirama.
O mais estrito dos juizes diria que ele era muito belo. Uma
pessoa normal acreditaria que se aproximava do divino.
Realmente tinha um rosto sobrenatural, a pele branca e sem
máculas, os olhos azuis emoldurados por cílios muito longos
para pertencerem a um homem. Os cabelos loiros caíam em
ondas, emoldurando seu rosto claro à perfeição. O corpomagro se movia com a cadência da morte em cada passo. Esse
era Gabriel. O velho. O imortal.
Sorriu um pouco quando se aproximou de Alex. Este
estremeceu quando sentiu sua aproximação, a presença do
antigo dobrando ao neófito2. O sorriso de Gabriel não afetava
seus olhos, frios como o gelo. Só havia uma emoção que podia
2Neófito - novato
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animar esse olhar pensou Alex, e essa era a ira. E realmente
ninguém quereria o ver zangado, não se quisesse continuar
vivendo para contemplar um novo dia.
- Irmão - começou quando ficaram frente a frente, quase à
mesma altura.
- Encontrou-a, não é mesmo?- O rosto de Gabriel brilhou
quando assentiu. Não era necessário responder essa pergunta.
- Sim - confirmou Alex.
- Conta-me – Ele disse guiando-o para as poltronas em
frente ao fogo.
Em cima da mesinha auxiliar havia alguns livros
encadernados em couro e alguns copos. Gabriel o fez sentar-se, antes de estender a mão para eles e enchê-los com o líquido
âmbar de uma garrafa combinando. Estendeu para ele o
primeiro e Alex o bebeu de um gole antes de voltar a enchê-lo.
Gabriel não provou a bebida e sim a cheirou, aspirando seu
perfume, admirando o corpo e a qualidade do conhaque
francês que fazia girar entre suas esbeltas mãos.
- Encontrei-a. É ela, mas ao mesmo tempo não é. Parece uma
moça simples, quase uma menina. Não chega nem aos vinte e
cinco anos. - Alex duvidou - e não sabe nada do que fez.
- Mas recordará - respondeu Gabriel. - A mulher disse que o
faria, e sabe tão bem quanto eu que nunca falhou.
Alex fechou os olhos enquanto recordava as palavras que a
velha cigana havia pronunciado há tanto tempo, sabendo que
Gabriel também estaria relembrando dela.
“Nasceu para amar, e por amor morreu. Aquilo que aquecia
seu coração mudou agora para ódio. Mas seu destino se fará
esperar, pois não alcançará seu fim nesta vida. A mulher que
esperas ainda não nasceu. Quando o fizer saberá, pois é seu
destino se encontrar de novo com ela. Quando a olhar verá
passado e presente, estará em suas mãos escolher seu
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futuro”.
- Irmão, sabe que nunca aprovei essa obsessão por voltar aencontrá-la. - Gabriel tinha o cenho franzido.
- Gabriel… - começou a dizer Alex. - Sabe tão bem quanto
eu que se algo me manteve vivo nesses primeiros anos foi a
idéia de encontrá-la.
- Os primeiros anos, sim. Mas, ainda não encontrou nadapelo que viver?
- Sim. Quero percorrer o mundo, quero ver o que nunca
pude nem imaginar. Estou envolto nesta vida, embora me
pese. Não vou abandoná-la.
Levantou o olhar para encontrar-se com os olhos de Gabriel.Por um segundo lhe pareceu ver a emoção cintilando neles,
mas passou tão rápido que não pôde diferenciar se era emoção
verdadeira ou simplesmente um capricho da luz. Quando
falou, sua voz tinha a mesma frieza de sempre.
- Tem que tomar cuidado.
- Por quê? Uma simples mortal não pode me machucar.
- Uma das coisas que o ensinei é a não subestimar o perigo-
disse secamente, quase zangado - venha da fonte que vier,
inclusive dos mortais. Mas não acredito que sua pequena
mortal ofereça mais perigo que o de distrai-lo.
- Distrair-me?
- Não se deu conta? Começaram de novo. Acreditava que
era mais perceptivo franziu o cenho. - Pena que tenha me
equivocado.
Merda. Outra vez? Agora que parecia que a paz haviavoltado…
- Isso é impossível. Acabamos com eles, Estão extintos há
um século.
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Gabriel soltou uma gargalhada irônica enquanto se
levantava da poltrona e se aproximava do fogo.
- Às vezes me esqueço do quanto é inocente – disse –
Acreditava de verdade que não voltariam? Sempre o fazem.
Não há paz para nós, irmão. O máximo que podemos esperar
é um pequeno descanso, e teve sorte. Esta pausa foi das
longas.
- Assim voltamos a ser caçados, não é verdade?
Outra gargalhada foi a resposta de Gabriel ante a tristeza de
Alex.
- Só se quiser sê-la. Eu não sou a caça de ninguém - afirmou.
- Pelo menos agora não. - continuou em um sussurro tão baixo
que Alex não pôde afirmar havê-lo ouvido. Além disso, nãosão mais que neófitos. Não sei quantos bastardos deixamos
vivos, mas decidiram voltar a começar.
- Quem os encontrou?
- Nikolai, na Rússia. Um grupo pequeno, quatro caçadores.
Mataram sua companheira e ele comunicou tudo antes de sesuicidar. Pobre infeliz, podia ter nos dado uma mão.
Infelizmente, se houver um grupo de quatro na Rússia
certamente há alguns mais dispersos por aqui. E aumentam
rapidamente, se aceitarmos o passado como referência.
- Quer que fique aqui?- Era muito mais seguro permanecerem grupo.
- Não estou preocupado com minha segurança. – disse
interpretando o que Alex não havia chegado a dizer. - Estou
preocupado com a sua, e mais se estiver distraído. Que hora
ruim a pequena puta escolheu para reencarnar. - o insulto
soava mais brusco na suave voz de Gabriel. - por que… vai
voltar para essa cidade, não é verdade?
- Não tenho outra opção.
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- Transformarão ela em presa se souberem que tem algo a
ver com você.
- Não quero que outros a matem, quero matá-la eu mesmo,
entende? Mas antes tenho que fazer que se apaixone por mim,
quero que sofra o que mim fez sofrer. Quero destroçar seu
coração, não só tomar sua vida.
- Tenha cuidado irmão - respondeu Gabriel olhando-o com
um gesto que não pressagiava nada bom. - Não vá cair naarmadilha que você mesmo colocou. Em qualquer caso, sabe
onde me encontrar. Não duvide em me chamar, tem o irritante
costume de tentar morrer cada vez que dou as costas a você. E
tendo em conta que é meu melhor amigo, não acho muita
graça nisso.
Alex se debateu com a pergunta que o corroia há muito
tempo. Sabia que não era o momento, mas tampouco pôde
resistir e contê-la de novo.
Gabriel já tinha se levantado e ia para a porta da biblioteca,
caminhando tão sigilosamente que nem o excelente ouvido de
Alex podia captá-lo. A aura de frieza que sempre o rodeavaparecia menos densa que o normal, e podia ter sido isso que
lhe deu a oportunidade de fazer a pergunta.
- Por que eu?- Gabriel se virou para ele.
- Por que você o quê?- perguntou. Seu tom zangado fazia
ver que já sabia o motivo da pergunta, mas que se negava alhe responder, como cada vez que abordava algo pessoal.
- Por que me transformou? Nunca teve um neófito, em
todos seus anos de vida. Mas me transformou.
- Estava morrendo.
- Viu muito mais pessoas morrer.
- O que quer que eu diga?-saltou.
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- A verdade.
- A verdade… a verdade não é o que queríamos que fosse.Transformei você porque apesar de está ali deitado com um
balaço no peito e a alma destroçada pela traição continuava
querendo viver, continuava se agarrando à vida com todas
suas forças. Transformei-o porquê abriu os olhos, olhou-me
sem me ver, e sorriu por um momento. - Sacudiu a cabeça
como querendo sacudir a imagem da mente. – transformei-o
porquê foi capaz de amar, e incapaz de trair a quem amasse. E
eu nunca deixaria morrer alguém assim. Não quando morreria
por algo como isso.
- Gabriel…
Mas o vampiro já tinha saído pela porta antes que Alex
pudesse acabar a frase. Tampouco estava seguro do que diria
se pudesse terminá-la. Era muito difícil ver o lado vulnerável
de Gabriel, sempre tão distante, tão frio, tão complexo.
Inclusive depois de levar mais de duzentos anos convivendo
com ele não sabia nada dele, nem de seu passado. Cada vez
que algo o tocava, dava um passo para trás e se afastava. Não
deixava que ninguém o entendesse.
Alex fechou os olhos, repentinamente esgotado. Embora
pudesse passar acordado uma semana seguida se quisesse, os
de sua espécie tinham que dormir, ansiava abandonar-se ao
doce esquecimento da inconsciência. Mas não podia
descansar. A pesar do esgotamento, alimentar-se era maisimportante. Já notava o suave puxão da fome nas veias, essa
ânsia por sangue que não podia frear. Girando sobre si mesmo
saiu da biblioteca. Igual a ele mesmo, Gabriel sempre tinha
reservas de sangue em algum lugar, se por acaso não pudesse
ou não desejasse sair para alimentar-se.
Encontrou-as na cozinha, e sorriu ao ver o contraste entre os
dois frigoríficos: um estava cheio de comida normal e comum,
comida de mortal; o outro estava lotado de bolsas de sangue,
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roubadas de um banco. Ainda tinham o logotipo grudado.
Fazendo uma careta, tirou algumas delas e uma taça. Osangue congelado era tão ruim… tão insípido. Uma imagem o
assaltou, ele mesmo dobrado sobre o pescoço de Elisa, ela
tinha a cabeça arremessada para trás em um claro convite e os
dedos enredados em seus cabelos, puxando-o para ela, para a
veia em que seu pulso palpitava freneticamente…
Amaldiçoou quando um ruído no exterior o fez voltar para a
realidade. Estava apoiado contra a geladeira, com a taça na
mão, contemplando-a como um completo imbecil. Suas presas
cravadas contra o lábio inferior, totalmente alongadas. Isto
tinha que terminar, e tinha que ser rápido. Esvaziou a taça de
um gole, sentindo o sabor insosso do sangue refrigerado.
Enxaguou o cristal e o deixou onde estava. Olhou seu relógio.
Eram às três da tarde. Não queria abandonar ainda o refúgio
de Gabriel, mas se quisesse chegar ao anoitecer… teria que
apressar-se.
Suspirando, saiu da cozinha para dirigir-se à porta
principal, olhando com nostalgia a imensa escada que levava
ao andar de cima, onde seu quarto estaria fresco e confortável,preparado para recebê-lo. Recolheu sua jaqueta na entrada e
estava terminando de fechá-la quando a voz de Gabriel
ressoou no vestíbulo.
- Não é necessário que se apresse tanto. - disse enquanto
descia as escadas. - Posso levá-lo tão logo anoiteça.
- Fala sério?
- Assim saberei onde está caso me necessite.
- Virá se o chamar?
- Não me incomodei em manter você vivo duzentos anos
para deixá-lo morrer agora, irmão. Além disso, se tiver razão
necessitaremos de todos e cada um dos nossos para combater
dentro de muito pouco tempo.
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- Rezo para que esteja equivocado - sussurrou Alex.
- Espero que sim. Agora suba e descanse, logo que o sol sepôr o chamarei.
Assentindo com a cabeça, Alex começou a subir as escadas.
Ao ver que Gabriel não subia parou em seco.
- Você não vai dormir? Você não gosta de sair de dia.
- Talvez faça uma exceção. - respondeu sorrindo -Tampouco gosto da sujeira gelada que tomou no café da
manhã. E à luz do dia as pessoas ficam muito mais… crédulas.
Alex sorriu e continuou subindo, sussurrando um “que
tenha sorte”. Em seu quarto as cortinas estavam fechadas,
evitando que o sol e o calor do verão entrassem. Tomou umaducha rápida e deslizou entre os lençóis, sentindo-se seguro,
em casa.
A ultima coisa que veio a sua mente antes de dormir foram
os incríveis olhos de uma ruiva, assombrados depois de seu
beijo.
CAPÍTULO 3
Sentindo-se completamente estúpida, Elisa se encontrou a
meio caminho do restaurante com Emma. Sua melhor amiga
não aceitava um não como resposta, muito menos quando o
não ia acompanhado de “estou cansada” ou “não gosto de”.
Quando ela ligou de manhã ela tinha declinado o convite, em
consequência direta ela se apresentou ao meio-dia em suaporta. Tão logo a abriu, Emma entrou na casa. Com uma só
olhada repassou o moletom de Elisa, os produtos de limpeza e
os papéis em cima da mesa.
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- Vamos almoçar.
- Não, sério… - começou a objetar.- Elisa, não era uma pergunta. Ou você se veste ou a visto
eu, e acredite, depois de ter compartilhado meu quarto não me
escandalizaria com nada.
- Dê-me quinze minutos.
- Dou a você o que queira. Posso fofocar?
- Sinta-se a vontade - disse enquanto se dirigia ao seu
quarto. - Faz calor lá fora? - gritou do outro quarto.
- Sim, faz tanto calor quanto ontem. Assim ponha algo
fresquinho.
Sorrindo enquanto a ouvia continuar tagarelando, Elisa
tentava decidir o que vestir. Decidiu-se por uma saia branca e
vaporosa até os joelhos com um top azul. Pegou uma jaqueta
branca e calçou sandálias leves. Uma olhada no espelho disse
que seus cabelos era uma tarefa impossível, assim se rendeu e
o deixou solto.- Que tal estou? - voltou a aparecer na sala.
Emma levantou só um pouco a cabeça, olhando-a de cima
abaixo.
- Se ao menos se incomodasse em se maquiar um
pouquinho…
- Não, não comece - cortou. - Você é você e eu sou eu. Nem
eu pedirei a você que ponha um moletom e venha correr
comigo nem você tentará me fazer parecer uma modelo, de
acordo?
- Eu não pareço uma modelo - protestou Emma enquanto selevantava.
Elisa a olhou dos dedos dos pés com uma manicura perfeita,
seguindo pelo caríssimo traje de duas peças de Ralph
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Lauren, cuja saia era um pouco mais curta do que devia. Os
cabelos loiros brilhavam em descaradas ondas ao redor de seu
rosto, e a maquiagem deixaria qualquer mulher com inveja…E não parecia uma modelo? Vê se pode!
- Deixemos esse tema de conversa - concluiu Elisa. - E
vamos almoçar.
Quando estavam no segundo prato, Emma começou a pedir
informação. Tinha passado todo o caminho ao restaurantetentando investigar se Elisa estava escrevendo uma novela
romântica, e tinha se cansado de receber indiretas.
- Se não estar escrevendo nada, o que são todas aquelas
anotações?
- Eram apenas anotações tolas, banalidades…
- É uma merda – interrompeu - reconheço uma história
quando a vejo diante de mim. Leio desde que tinha cinco anos,
e sei distinguir um texto científico de uma novela. E isso é
uma novela.
- Bom… na realidade não. São coisas que me vêm à mente.
- Coisas que lhe vêm à mente?
- Lembranças…
- Lembranças do que? – inquiriu elevando as sobrancelhas -
Você não viveu no século XVIII, carinho.- Vê? Isso é o mais estranho. Ontem à noite tive um sonho…
bom, na realidade tive dois - retificou. - No primeiro deles eu
era uma mulher, Catalina. E aconteciam umas coisas muito
estranhas. Eu era ela, era como se estivesse em seu corpo e
vivesse o que ela viveu. – contou tudo - Não podia fazer nada
para evitar. E me acredite, ela era uma autêntica puta.
- Oooh! Disse puta? É isso uma amostra de veneno? Quem é
você e que fez com minha melhor amiga?
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- Continuo sendo eu, imbecil - disse de brincadeira
enquanto dava uma cotovelada nela.
- E me conte… Qual era o segundo sonho?
- Esse foi o mais estranho… O homem do primeiro sonho,
lembra-se? - interrompeu-se ligeiramente, até que Emma
assentiu - Pois… apareceu em meu quarto. Falamos e… -
ruborizou-se até a raiz do cabelo e terminou a frase
sussurrando - beijou-me.
- Beijou você? - gritou Emma, fazendo que várias pessoas se
virassem para olhá-la e que Elisa se encolhesse ainda mais.
Depois pareceu pensar - Estava bom?
- Emma!
- Não me venha com desculpas, menina. Estava bom ou não
estava bom?
- Estava para comê-lo entre pão bimbo3 - admitiu Elisa -
Muito alto, moreno, olhos verdes… vamos, de seu tipo.
- Não sonhou nada mais? Só um beijo?- O que queria, que isso me levasse a cama?
- Droga, mais é claro! Terá que ver, Eli… é dissimulada até
nos sonhos. Pelo menos você poderia iniciar no terreno da
fantasia… - começou a dizer com um tom que Elisa já tinha
ouvido muitas vezes. - Já que no real não se atreve.- Ser virgem não é crime. - rebateu.
- Não até chegar aos vinte e cinco. Depois passará à
3Bimbo é uma marca de pães e bolachas.
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categoria de excêntrica e amiga… tenho uma reputação a
manter. Não pode ficar esperando o príncipe azul
eternamente.
Ignorando o tema que se repetia em muitas de suas conversas,
Elisa seguiu seus pensamentos. A deliciosa comida a recordou
de um tempo em que sair para um restaurante era motivo de
celebração, quando ainda vivia com sua família. A saudade a
golpeou com seu gosto agridoce, assim decidiu fazer uma
visita à tarde. Implicaria em algumas horas extras de
condução até a casa de sua mãe, mas tinha vontade de voltar a
vê-la, embora muito mais a sua irmãzinha. Quando saiu de
casa há uns seis anos para ir à universidade nunca pensou que
conseguiria sentir saudades dela desse modo. Mal tinha
completado os dez anos e parecia um demônio que só mexia
em suas coisas e roubava sua maquiagem. Quando não a teve
por perto aprendeu que podia sentir saudades de um
demônio.
Emma a acompanhou. Enquanto estavam no carro não
deixou de insistir para que saísse com um de seus amigos que,
segundo ela, estava completamente deslumbrado por Elisa. Senão tivesse passado pela mesma situação milhares várias
vezes até mesmo riria. Mas depois de cinco ou seis encontros
frustrados já não saltava de alegria ante os mais que absurdos
planos de Emma. O conceito de encontro às cegas era mais
que suficiente para deixar um sabor muito ruim na boca dela.
Ao atravessar o portão de entrada a acolheu o suave aroma
de rosas. O jardim estava tão bem cuidado como sempre, as
flores de todas as cores contrastando com o imenso par de
carvalhos que flanqueava a porta principal. Ao contemplar a
grandiosidade da casa da família quase se sentia
envergonhada de seu pequeno apartamento na cidade.
Quase. Havia lhe custado muito tempo e dinheiro ficar
independente para se envergonhar do que tinha obtido com
seu empenho.
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Antes que pudessem bater na porta principal esta se abriu,
deixando ver a ainda bonita figura de uma mulher que devia
rondar os cinquenta anos. Ruiva e de olhos cinza parecia-semuitíssimo com sua filha, que se lançou em seus braços
imediatamente. A mulher a abraçou sorrindo, logo se separou
e abraçou também a Emma.
- Bem-vindas meninas, Como estão?
- Muito bem, mamãe - disse Elisa ao mesmo tempo em queEmma assentia. - E você?
- Já sabe, filha. Estou… aborrecida como a morte, É que aqui
nunca vai acontecer nada interessante? Poderia se casar e me
dar netos, embora só fosse para mudar um pouco minha
existência.
- Que lhe dê netos para que se divirta? - exclamou Elisa -
Mamãe, por mim pode comprar um cão, porque para os netos
ainda faltam alguns anos de espera. Tem Dafne em casa. Não
se entretém?
- Sua irmã?- bufou - Vida é o que sobra a essa moça, não fica
nem um segundo em casa. E quando está não sai da
biblioteca… juro isso a você, não sei o que acontece com ela.
- Chama-se adolescência - demarcou Emma - é
malditamente curta. Logo chega tudo isso de amadurecer e se
acabou o bom da vida.
- Não dirá o mesmo quando chegar a minha idade -
respondeu a senhora. - Mas passem, querem um café?
- Sim senhora - respondeu rapidamente Emma.
- Querida, me chame de Rafaela. - disse com um sorriso -
Todo mundo o faz.
Rafaela os conduziu à cozinha, depois de explicar com um
sorriso a Emma que era muito mais rápido que ordenar que
preparassem o café. A senhora parecia completamente à
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vontade entre fogões enquanto ordenava que Elisa e a Emma
se sentassem e relaxassem. O aroma do café não demorou a
encher a cozinha. Ambas as garotas soltaram um gritinhoquando a mãe pôs sobre a mesa um grande prato repleto de
pasteizinhos.
- Diga-me, carinho. O que a trouxe por aqui?
- Só queria lhes ver, mamãe.
- Não está preocupada com nada de verdade? Normalmente
não passa aqui nos fins de semana… não quero dizer que eu
não adore a mudança - disse apertando a mão dela que
sustentava. - mas o instinto maternal me diz que há algo que a
preocupa.
- Nada.
- Sabe o que eu acredito? - interveio Emma. - Que como teve
sonhos estranhos ficou um pouquinho tocada, e queria ver sua
família.
- Sonhos estranhos? - Rafaela elevou as sobrancelhas - Que
tipo de sonhos? Pesadelos?
- Não, mamãe. Tolices.
- Bom, se só forem tolices melhor dormir esta noite em casa.
Sentir-se-á mais segura e Dafne adorará ter você por aqui.
Falando de sua irmã, já deveria ter chegado. Vou chamá-la por
telefone, garotas, desculpam-me?
- Claro que sim, mamãe. Vá.
A mãe saiu para a sala com o telefone sem fio na mão. De
onde estavam ainda podiam ouvir o eco da conversa da
mulher com sua filha.
- Por que contou? - cochichou furiosamente.
- Porque estava preocupada e não queria contar isso a mim.
Como precisava relaxar a trouxe para o melhor lugar do
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mundo: a casa de sua mãe. É totalmente óbvio que esse
maldito sonho a transtornou, assim hoje deixará que mamãe
faça chocolate para você e a meta na cama e amanhã rirá de simesma, entendeu?
- Entendi - assentiu enquanto sua mãe voltava a entrar na
cozinha. - Mamãe, decidi ficar esta noite, se não se importar.
- Claro que não carinho - disse radiante - quer ficar também
Emma isto parecerá uma volta à infância.
- Eu adoraria, mas não posso - disse radiante - esta noite
tenho um encontro, um desses que não se pode deixar para
trás por nada no mundo, fui clara? Assim não, melhor
voltamos à infância outro dia. E falando de encontros e de
partir, acredito que já é hora de ir.
- Espere - disse Elisa - veio em meu carro, assim o mínimo
que posso fazer é levá-la para casa.
- Se me levar para casa - respondeu Emma ao mesmo tempo
em que se levantava e dava um beijo na face de Elisa - sei que
não voltará. Então sua mãe me dará uma bronca, e sabe o
medo que me dá zangada. Assim até mais tarde!
Emma se encaminhou até a porta principal, de onde gritou:
- Elisa, Rafaela! Dafne já voltou.
Elisa pôs-se a correr para a entrada, preparando-se para
envolver sua irmã em um abraço de urso. Enquanto Dafnecaminhava para ela notou o quanto sua irmã havia mudado
em pouco tempo.
Elisa se considerava uma mulher medianamente atraente,
ou ao menos os homens nunca tinham fugido correndo
quando falava com eles. Mas sabia perfeitamente que sua
beleza empalidecia quando a comparavam com sua irmã.
Embora ambas fossem altas e magras, a elegância de Dafne era
algo impossível de imitar. Eram passos de bailarina adquirido
nos muitos anos passados no estudo do balé que Elisa tinha
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evitado.
Dafne também era ruiva, mas de um tom mais escuro que ode Elisa, caindo em ondas até a linha da cintura. Seus olhos
eram como os de sua mãe, dois imensos círculos cinza claro
em vez do violeta que Elisa herdou de seu pai.
Redondos e grandes, davam ao rosto dela uma expressão de
inocência, emoldurados por cílios que pareciam postiços. A
pele era muito mais clara porque como se queimava comfacilidade evitava expor-se ao sol muito frequentemente.
Enfim, era uma beleza juvenil que prometia uma mulher
impressionante com o passar dos anos.
A jovem atravessou correndo o vestíbulo e se jogou nos
braços de sua irmã, cobrindo-a de beijos. Rafaela também
chegou ao vestíbulo e se uniu ao abraço, as três contentes por
estarem juntas de novo.
Alex chegou à cidade mal tinha escurecido. Gabriel tinha
cumprido sua palavra e o levou usando uma habilidade que,
conforme havia dito a ele, ainda demoraria um século ou dois
para aprender. Os humanos o chamavam de teletransporte.Assim que se foi, estendeu sua mente e a buscou. Um golpe de
pânico o sacudiu ao não notar sua presença em seu
apartamento. Seguiu estendendo-se, abrangendo toda a
cidade. Mas tampouco estava. Abafando um gemido usou seu
potencial ao máximo, sabendo que se de verdade havia um
caçador perto o encontraria, que se Gabriel estivesse ali comele já teria lhe dado um murro. Mas lhe dava exatamente no
mesmo, não ia perdê-la nesse momento, não depois do que
havia lhe custado encontrá-la. E o eco de sua presença
alcançou-o por fim. Estava nos subúrbios, quase longe de seu
alcance. Não esperou nem dez minutos para ficar em caminho.
A casa em que Elisa estava era enorme, muito de seu estilo.
A entrada era flanqueada por dois grandes carvalhos, e havia
flores plantadas em toda parte. Avançou pelo caminho
pavimentado com pedras até chegar a casa, cuja entrada não
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poderia cruzar. Outra vez o maldito dilema.
Elisa estava na cozinha com sua mãe e sua irmã,conversando sobre tudo e sobre nada, como sempre que
estavam juntas. Tudo era perfeito, e depois da torta de
chocolate da sobremesa estava convencida de que nada
poderia ir mal. Estiveram até tarde vendo Romeo e Julieta,
amenizado pelo sarcasmo de Rafaela e as lágrimas de Dafne,
que não se importava muito com Romeo, mas que não
suportava ver o Leonardo Di Caprio morrer. De repente sua
irmã ficou tensa.
- Não notam nada estranho?- Elisa ficou de cabelo em pé
quando um estremecimento percorreu suas costas.
- Não… não noto nada - disse Rafaela. – Você também vai se
unir ao clube de “tenho sonhos estranhos”?
- Não, mamãe. Vou me unir ao clube de “tenho a sensação
de que estão me observando”, mas não se preocupe, já passou.
- Bom, acredito que é hora de ir dormir antes que
comecemos a ter visões e chamar o Gasparzinho, não é
mesmo?- riu Rafaela. - Eu pessoalmente estou moída. Assim
boa noite, garotas - acrescentou beijando-as.
Elisa e Dafne ficaram sozinhas na sala, mudando de canal
em busca de algo para ver na televisão.
- Bom, Dafne… Que tal tudo?
- Bem… sinto falta de você. - respondeu sua irmã um pouco
triste.
- Já faz muito tempo que não moro com vocês.
- Já, mas antes nos ligava frequentemente, e agora nem isso.
- Sei, carinho. - disse abraçando-a de novo - Mas veja isso
pelo lado positivo, finalmente tem todo o espaço somente para
você.
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Dafne bufou em resposta ao comentário enquanto pegava
outro pedaço de chocolate e o comia.
- Ainda não sei o que é que faz com tanta comida - disse
Elisa.
- Queimo-a. Enquanto você se esquivava de qualquer tipo
de exercício, eu sempre gostei do balé. Sabia que cheguei a
competir?
- Sim, mamãe me disse isso, mas não pude ir vê você porque
não me deram o dia livre no trabalho. – explicou - Mamãe me
mandou uma foto sua e de seu par. Estavam lindos realmente.
- Sim… estou a uma temporada dançando com ele. É muito
simpático. - disse enquanto se ruborizava um pouco.
- Uh! Ruborizou? Não me diga que você gosta desse
menino! Mas ainda é muito jovem…
- Não sou tão jovem - refutou Dafne zangada - Já tenho
dezesseis anos...
- Bom, vovozinha… como é ele? - É muito alegre, e me faz rir. Também é muito bonito… -
voltou a ruborizar-se.
- Gosta?
- Q-Que? Eu vou para a cama - disse levantando-se
rapidamente e tropeçando com a poltrona enquanto quase sepunha a correr. - boa noite!
Alex riu quando viu a irmã mais nova sair correndo da sala,
com as faces como cerejas. Seguiu Elisa enquanto ela subia as
escadas. Tinha tido sorte ao conseguir o convite: um
mensageiro trazia um pacote urgente, e necessitava daassinatura da senhora da casa, assim tiveram que convidá-lo a
entrar. Eram uns pequenos ardis que se aprendiam com a
idade, e unidas a um golpe de sorte costumavam funcionar
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bastante bem.
Mantendo-se oculto nas sombras da escada, ouviu comoElisa girava à direita. Ele a seguiu até dentro de seu quarto
sem que ela o percebesse de novo.
Dafne o tinha captado um segundo dentro da sala, enquanto
ele enfocava toda sua atenção em Elisa. Ao dar-se conta teria
se dado pontapés. Se Elisa podia senti-lo era normal que sua
irmã também o fizesse. Se Elisa tinha uma percepção fora docomum, Dafne também a teria. Pareciam-se muito e se
amavam ainda mais. Vê-las todas reunidas em família havia
tocado um ponto sensível dele. Ele também teve uma família
que o amava, até que encontrou Catalina.
Elisa se meteu no banheiro e tomou uma ducha. Sorriu ao
vestir o pijama que sua mãe deixou para ela em cima da cama.
Era uma calça enorme com uma camiseta branca como parte
de cima, antes adorava esse pijama, mas não o levou ao
mudar-se. Quando saiu do banho a surpreendeu uma figura
diante da janela. Antes que pudesse mover-se, a figura estava
diante dela com o dedo em seus lábios a impedindo de falar.
- Não vai gritar, não é mesmo? - Elisa negou com a cabeça e
o homem voltou para sua posição ante a janela.
- Quem é você?
- Quem acredita que sou?- sorriu. - Logo se moveu para que
a luz da lua batesse totalmente no seu rosto e Elisa teve queconter um grito de novo: Era o homem do sonho!
- Não pode ser - negou Elisa - Você não é real, é só um
sonho!
- Pareço um sonho querida? - voltou a se aproximar e
retirou uma mecha que caía sobre seu rosto.
- Não… mas quem é? E como entrou no meu quarto?
- Sou um homem muito… persistente. - sorriu de novo. -
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Há poucas coisas que me impedem de fazer o que quero.
Acredito que já descobriu isso na outra noite. E esta casa não é
o Forte Knox, precisamente.
- Ainda não sei como se chama… nem o que quer de mim. -
titubeou.
- Mas eu sim sei como você se chama… Elisa. E é obvio, sei
o que quero de você. - disse completamente seguro.
Elisa retrocedeu assustada ante a aura que o desconhecido
projetava. Deveria ter começado a correr, ou gritar, mas
estranhamente queria permanecer justo onde estava, apesar
do medo. Alex se aproximou um pouco mais dela, que não
podia retroceder mais. Ao ver sua intenção de fugir, ele voltou
a sorrir.
- Teme-me? - disse percorrendo seu pescoço com um dedo. -
Tem o pulso acelerado, e está tremendo - riu. - Mas não
acredito que seja de medo, não é verdade?
Elisa não respondeu, estava confusa. O beijo que tinham
compartilhado voltou para sua mente, e quase
inconscientemente reclinou o pescoço para trás para receber
sua carícia. O ambiente no quarto mudou subitamente,
esquentando-se. O homem também parecia afetado. Seus
olhos estavam mais escuros, fixos nela, e sua respiração era
rápida. Presa nesse olhar, Elisa umedeceu os lábios,
aproximando-se dele.
- Não… - sussurrou - definitivamente não é de medo. Talvez
aconteça com você o mesmo que a mim.
- E o… que acontece com você?- A mão rodeou seu pescoço
e se apoiou em sua nuca, puxando-a contra ele.
- Seu beijo me persegue até nos sonhos. Não acontece omesmo com você?
- N- não.
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- Mentirosa. Então se beijar você de novo, Não me
corresponderá? Negará que me deseja? - quando Elisa não
respondeu aproximou sua boca da dela. - Só há uma forma decomprovar.
Elisa quis resistir, mas logo que seus lábios se roçaram
perdeu todo vestígio de prudência. Correspondeu ao beijo,
puxando-o contra ela, desejando mais dele. Mas ele não
permitiu. Separou-se dela e acariciou seus lábios com o
polegar.
- Na verdade, meu nome é Alex.
Alex caminhou para a porta e a abriu, mas antes que saísse
para o corredor Elisa o agarrou pelo braço e o virou para ela.
- Não se preocupe preciosa. – acariciou seus cabelos. -Voltarei, prometo-lhe isso. Agora durma.
Voltou a usar seu poder para fazê-la dormir, e a levou até
sua cama quando ela caiu como que desmaiada em seus
braços. Agasalhou-a com as mantas e ficou olhando como
dormia. Não pôde resistir e selou seus lábios com um beijo.
Depois saiu pela porta, pensando que havia muitas
possibilidades de que caísse na mesma armadilha que estava
tentando armar para ela. Teria que ter muito cuidado, teria
que se imunizar ante ela para terminar sua vingança. O pior
de tudo é que estava começando a pensar se na realidade
queria cumpri-la.
CAPÍTULO 4Elisa voltou a sonhar. Era de novo Catalina, presa no corpo
da loira para contemplar sua vida. Esta vez não estava com o
homem, e sim com uma criada que a vestia e outra que a
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penteava. Elisa tentou contar quantas capas de roupa tinha em
cima, mas fracassou. Quando terminaram de vesti-la e
prenderam seus cabelos, o espelho mostrava a imagem deuma mulher muito bela, com um rosto angelical e um rubor
quase virginal no rosto. Os olhos azuis pareciam enormes
depois da máscara para os cílios que fez trazer da França, e a
cor do vestido contribuía para ressaltá-los.
As criadas fizeram uma reverência e partiram quando seu
irmão entrou em seu quarto. O homem estava vestido
luxuosamente, com os cabelos amarrados na nuca com uma
fita preta, tal como ditava a moda. Ele entrou e contemplou
Catalina com um sorriso no rosto.
- Está muito bonita, irmã. - disse com um sorriso. - O duque
não poderá resistir a sua beleza.
A mulher se contemplou no espelho com um orgulho pouco
dissimulado, acariciando o veludo do vestido com a mão
direita, admirando o brilho dos diamantes em seu pescoço.
Isso era pelo que vivia, as jóias, as roupas bonitas… “puta” -
pensou Elisa- “maldita egoísta”.
Inclusive seu irmão estava enganado, pensando que ela
amava o duque em segredo e procurava o matrimônio por
isso. Não sabia nada dos amantes que introduzia as
escondidas logo que podia, nem do dinheiro que esbanjava
livremente. O pobre homem acreditava que ficava com ele
para ajudá-lo depois da morte prematura do pai de ambos, e aamava por isso.
Catalina enlaçou o braço com o de seu irmão e desceram os
degraus. Elisa estava atônita com o luxo que desprendia essa
casa. O veludo e a seda estavam por toda parte, embora o
edifício tivesse o aspecto de ser muito antigo. Entraram em
um salão bonito no qual já havia outras três pessoas. O mais
baixo deles ficou de pé e saudou Catalina com uma
reverência. Elisa soube no mesmo instante: era o duque. Um
homem baixinho e obeso que carecia de todo caráter,
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enfeitado com uma roupa de veludo que se esticava a altura
do ventre proeminente deste.
Catalina se dirigiu para ele sorrindo docemente, como se
não pudesse conter a alegria ao aproximar-se. O homem
sustentou sua mão e aproximou os lábios a ela sem chegar a
tocar sua pele, tal como ditava o protocolo. Sentaram-se um
em frente ao outro, e a reunião começou. Elisa presenciava
atônita como Catalina desdobrava todo seu arsenal de
encantos para o duque, que se encontrava totalmente
encantado por ela.
Depois de conversar durante o que a Elisa pareceram horas,
levantaram-se e se dirigiram para o salão principal, que estava
preparado para o que parecia uma festa.
E assim era. Em menos de meia hora começaram a chegar os
convidados. Elisa se sentia já meio enjoada entre tanta gente,
sem poder controlar nenhum de seus movimentos, enquanto
que Catalina se encontrava em seu meio, falando com todo
mundo.
No meio da festa captou um olhar do duque. Catalina oolhou fixamente e saiu para o balcão. O jardim era enorme, e
caminhou até uma pequena fonte que havia perto, sentando-se
justamente a beira da água adotando uma pose lânguida e
sedutora, com a cabeça virada de propósito para a água de
forma que se pudesse contemplar a curva de seu pescoço e os
cachos loiros dispostos em forma de coroa.
- Minha senhora, sua beleza supera inclusive a das estrelas.
– Catalina fingiu sobressaltar-se, levando uma mão ao peito
em um gesto elegante.
- Duque! Assustou-me.
- Sinto muito querida.
- Sabe que não deveríamos estar a sós, não somos parentes
nem casados… - olhou para o chão, tímida.
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- Catalina… - suspirou o duque - Acaso pensa que não
conheço seus sentimentos?
- Duque!- Catalina se ruborizou - Por favor… não me
ponham em evidência. Se souberem o que sinto, não seja tão
cruel de mencioná-lo.
- Mas devo mencioná-lo para dizer a você que eu também a
amo, senhora.
- Não pode ser! Será possível essa sorte?- Catalina olhou
fixamente ao duque.
- É possível, e se você confessar seu amor e me prometer
fidelidade eu oferecerei minha mão a você em matrimônio, e
pedirei a sua. - disse o duque rodeando-a com os braços.
- OH! Claro que amo você!- disse ela abraçando-o por sua
vez. - Vai falar com meu irmão?
- Esta mesma noite, se assim desejar.
- Claro que sim… não posso esperar para ser sua esposa.
A esta altura do sonho todo se tornou impreciso, até quenão restou mais que escuridão. Pouco a pouco, os contornos
voltaram a se delinear e Elisa voltou a sentir-se dentro do
corpo da mulher. Estava de novo em seu quarto, e o homem
estava com ela.
- Por quê? Catalina, por favor, vamos fugir. Ainda temostempo. - a súplica em sua voz partiu o coração de Elisa.
- Meu amor, sabe que não posso. - Elisa sentiu as lágrimas
correndo por suas faces. Não era possível, Estava chorando?
Deus! Nunca acreditou ser possível poder chorar
espontaneamente. Mas essa mulher era capaz de chorar
apenas pensando nisso. Que lástima que não tivesse nascidono século XXI, Hollywood perdeu uma grande atriz!
- Sim pode. Podemos!- O homem se levantou da cama e se
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aproximou dela. – Não tem porque casar-se com ele.
- Obrigam-me a casar com ele! Por favor, não arruíne osúltimos dias que temos para ficarmos juntos. – Catalina
soluçou. - Por favor, fique comigo até que me case.
- Ficar com você? Como posso? Como posso beijar à
prometida de outro homem, fazer amor com você? Porque
agora é dele. Sua mulher, sua futura mulher.
O homem voltou a sentar-se na cama e enterrou a cabeça
entre as mãos ao mesmo tempo em que soluçava. O coração
de Elisa se partia ao vê-lo sofrer. Catalina se aproximou dele e
levantou sua cabeça. Ele tinha o aspecto de um homem
destroçado, arrasado.
Quando ela tentou beijá-lo, ele se separou dela.
- Não posso, Catalina. Tente ser feliz com seu marido. Eu
não posso tocar à mulher de outro homem.
- Não vá! - gritou Catalina. - Não pode me deixar!
Alexander!
Alexander. Elisa ofegou quando tudo voltou ao seu lugar. O
Alex que conhecia era exatamente igual ao Alexander do
século XVIII. Mas isso era impossível. Sentindo o sonho
afastar-se, Elisa lutou por poder permanecer um momento
mais, para poder agarrar-se a última fresta da vida de Catalina
para poder saber a verdade. Mas não pôde.
- Elisa! Elisa, por favor, acorde!
Elisa despertou lentamente, apenas consciente de que sua
irmã a estava sacudindo. Depois de alguns segundos,
conseguiu escapar do agarre de Dafne o suficiente para
reclinar-se. Não recordava de haver se deitado na cama,
tampouco haver tirado os sapatos. Uma vez que viu que sua
irmã já estava completamente acordada, Dafne deixou de
sacudi-la e se sentou na beira da cama.
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- Dafne…
- Estava gritando - respondeu sua irmã à pergunta aindanão formulada. - Chorava e chamava o tempo todo a um tal
Alex.
- Não pode ser…
- Eram esses os sonhos dos quais falou com mamãe? Porque
parecem muito vívidos.Tudo veio a sua mente de repente: o segundo beijo, a ordem
para que dormisse… o homem tinha que ser real e não podia
sê-lo.
- São muito vívidos. - respondeu à pergunta de sua irmã -
Tanto que acredito que estou enlouquecendo.- Com o que sonha?
- Com outra vida - confessou.
- Quer dizer com a reencarnação?
- Algo assim. - assentiu Elisa.- Quer que fique dormindo contigo?- perguntou Dafne
enquanto se aproximava dela. - Como você fazia quando eu
tinha sonhos ruins, lembra-se?
- Claro. Eu adoraria.
Dafne se deitou na cama e abraçou sua irmã. Esta apoiou acabeça no travesseiro e a abraçou por sua vez.
- Agora durma. Não vai acontecer nada.
Alex observou as duas abraçadas, aconchegadas uma contra
a outra. Tinha tentado partir, mas a voz de Elisa o deteve antes
de sair à rua. Tão logo saiu do quarto ouviu Elisa sussurrar“Catalina”. E ele tinha dado a volta e entrado de novo.
Observou como ela se retorcia entre os limites do sonho,
enquanto revivia seu passado. Teve que conter-se para não
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abraçá-la quando começou a chorar, mas quando começou a
gritar seu nome não pôde mais aguentar em seu quarto e
chamou sua irmã. Esta era suficientemente sensível para ouvirsua chamada e foi no mesmo instante.
Vendo-a consolar sua irmã, Alex conseguiu suficiente força
de vontade para abandonar a casa e voltar para o hotel.
Voltaria a vê-la na noite seguinte. Não queria pressioná-la
muito. Elisa dormiu tranquila o resto da noite, enquanto Alex
mantinha-se acordado em seu hotel até que o sol nasceu.
Mas havia alguém mais que tampouco dormia.
O caçador sentiu a vibração de poder nos ossos. Sorriu ao
dar-se conta de que teve a sorte de encontrar a um deles
sozinho e desprotegido. E devia ser um neófito, disse-se,
porque nenhum dos que sobreviveram a guerra anterior se
atreveria a usar seus poderes de um modo tão manifesto e
despreocupado.
Rastreou a vibração, que o levou a uma casa de campo nos
subúrbios da cidade. Seguiu o vampiro a uma velocidade
sobre-humana, a tempo de vê-lo enganar a mulher que abriu aporta para ele inocentemente. Centrou-se nela: cinco
presenças, todas humanas. Havia duas mulheres jovens e três
mais velhas.
O vampiro entrou na casa e ficou observando às três que
estavam na sala sentadas diante da televisão. Sua atenção
estava centrada em uma delas, nem a mais jovem nem a mais
velha. E na verdade tinha que ser um neófito, porque inclusive
a mais jovem das mortais captou sua intrusão. Não era capaz
de proteger-se de três mortais? Isso ia ser mais fácil do que
parecia.
Depois de passar um bom tempo as observando, o vampirosubiu as escadas detrás da moça, e entrou em seu quarto. O
caçador não pôde ouvir a conversa, mas o beijo que deram
esclareceu mais que simples palavras. Isso ia ser muito
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divertido… Tal como lhe tinha ensinado a experiência, a
melhor forma de acabar com um vampiro era atacar a sua
companheira. A mortal podia ser inocente no momento, mascedo ou tarde se daria conta de quem era seu amante. E aí se
decidiria seu destino.
Tirou seu celular e lhe atenderam quase imediatamente.
Com um sorriso no rosto disse só três palavras.
- Eu o encontrei. - Do outro lado da linha responderam algoque fez o caçador se zangar, negou veementemente. Depois
assentiu, e desligou o telefone.
A casa central o reprovou por não ter informado antes, mas
tinha se retratado rapidamente. Os outros caçadores estavam
prevenidos, embora a presa fosse dele.
Havia uns dez grupos mobilizados na Espanha, e outros
seis em Portugal. Poderiam estar na cidade em menos de uma
hora, com reforços suficientes para acabar com uns cinco ou
seis deles. Eram mais que suficientes, mas não seriam
necessários.
Inspirou fortemente, enchendo os pulmões com o suave ar
noturno. A caça tinha começado.
CAPÍTULO 5
Elisa conseguiu que Dafne não contasse nada a sua mãe do
pesadelo. Na amanhã seguinte depois de tomar o café da
manhã já estava a caminho de seu apartamento. Ligou para
Emma só para encontrar-se com uma amiga muito feliz depois
de ter conhecido “o homem perfeito” que, segundo ela, a
tiraria do maravilhoso mundo do celibato.
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Quantas vezes tinha ouvido isso? Perdeu-se na quinta, e
decidiu não continuar contando. Ainda a assombrava a
confiança de Emma no sexo masculino.
A manhã estava quente, e ao passar pela praia viu que
ainda estava deserta. Não pôde resistir à magia do mar e
estacionou o carro para ir dar um passeio. Perfeito, que mal
havia em chegar um pouco tarde em casa?
Descalçou-se, sorrindo ao sentir a areia suave sob os pés.Com as sandálias na mão se aproximou do mar, fugindo com
um gritinho quando a água gelada chegou aos seus
tornozelos. Encontrou um lugar resguardado do vento entre
umas rochas e se sentou na areia. Abraçando os joelhos tentou
de novo buscar uma solução ao problema desses sonhos
estranhos. Era evidente que tinha que ter sonhado também osegundo encontro com Alex. Um homem não podia viver
duzentos e cinquenta anos, era antinatural. Mas os encontros
eram muito reais para serem sonhos... gemeu e levou as mãos
à cabeça. Estaria perdendo a razão?
Ainda estava divagando quando viu alguém parado perto
dela. Elisa levantou a cabeça assustada para encontrar um
homem de uns cinquenta e poucos anos, com cabelos grisalhos
e vestido elegantemente, que sorria enquanto a olhava
curioso.
- Poderia parecer indiscreto, mas o que faz uma mulher tão
bonita só na praia?
- Pensar… - sorriu ela. - Que outra coisa poderia ser?
O homem lhe inspirava confiança. Tinha um rosto amável e
tanto o traje que vestia quanto o impecável corte de cabelo
falavam de alguém seguro de si mesmo, acostumado a estar
rodeado de pessoas.
- Deveria ser crime deixar tão preocupada alguém como
você.
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- Como sabe que estou preocupada?- perguntou Elisa. -
Talvez esteja pensando em algo agradável.
- Levo muito tempo lidando com as pessoas para perceber a
diferença – sorriu - posso me sentar?
- Claro, a praia é de todos - disse Elisa dando um lugar a ele
perto dela - Não se preocupa por sujar seu traje com a areia?
- Isso é o bom de ser o chefe - brincou o homem enquanto sesentava - se eu chego com o traseiro cheio de areia no
escritório ou me bajulam e copiam meu exemplo ou ignoram e
fingem que estou perfeito. De todos os modos e dado que
estamos no domingo acredito que me salvarei das críticas.
Tenho reputação de negreiro, mas ainda não os faço trabalhar
nos domingos.
- Claro! Tinha esquecido que dia era.
- Isso demonstra que tinha a cabeça em outra coisa. Nunca a
vi pela praia antes.
- Vem muito frequentemente?
- Sempre - disse o homem - Embora esteja acostumado a
trocar de roupa - observou sorrindo. – o mar também relaxa
você?
- Sim. - disse Elisa fixando-se de repente na estranha maleta
que o homem carregava. – Com certeza, que maleta mais
estranha. Você é músico?
- Algo assim. - respondeu o caçador pondo a mão sobre a
maleta na qual carregava sua espada. - Mas ainda não me
contou o que fazia aqui - mudou de tema.
- Contei sim. Estava pensando.
- Não sentem sua falta? Seu marido…
- Não sou casada… mas de toda forma devo ir. - O homem
ficou de pé e a ajudou a levantar-se.
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Elisa se afastou caminhando pela areia, observada
atentamente pelo caçador. No momento, só no momento, não
era a presa que procurava. A garota não sabia absolutamentenada sobre o vampiro, é mais, nem sequer pensava que era
real. O caçador riu de sua inocência. Se fosse em outra época
ela já estaria em uma igreja se confessando e contando tudo
em vez de passeando pela praia tão cedo. A ignorância deste
século era o melhor escudo para os vampiros, embora não
para os caçadores. A inquisição… ah, aquela sim foi umagrande época. Certo, morreram muitos inocentes, mas o
número de vampiros também foi reduzido drasticamente,
apanhando-os sob a luz do dia quando não podiam defender-
se.
O caçador recolheu a maleta feita sob medida que continha
a espada ritual. Todos os membros da comunidade recebiam
uma quando conseguiam entrar, mas somente os guerreiros
tinham as originais, uma das primeiras, forjada em prata, ouro
e ferro. A sua o acompanhava desde o século quinze. Sabia
que não restavam muitas batalha para combater, e o último
século de escuridão tinha pesado em sua alma. Agora deveria
estar escolhendo ao próximo guerreiro para ocupar seu posto,
alguém a quem passar seus poderes e sua herança antes de
entregar-se à morte.
Suspirou quando pensou na morte não tão distante.
Gostaria que fosse numa batalha, com sua arma bem
empunhada e as mãos manchadas com o sangue de seusinimigos em vez de morrer nas mãos de seu sucessor, a morte
marcada para todos os que envelheciam dentro da
comunidade. Ele ainda não tinha escolhido seu sucessor, mas
não demoraria. Já havia alguns alunos que eram sérios
candidatos a tal honra. Só era questão de fazer o juramento, e
o destino ficaria selado. Mas antes… antes queria ter o prazerde uma última caçada, de um último instante de ação, embora
fosse com um vampiro jovem e fraco.
Elisa subiu para seu apartamento. Não gostava de fazer
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faxina, nem tampouco de cozinhar algo complexo. Pegou um
livro e tentou concentrar-se na leitura, mas tampouco podia
ficar mais de cinco minutos seguidos sentada. Ao dar-se contade que tinha três capítulos lidos sem lembrar-se
absolutamente de nada atirou o livro contra o sofá e esfregou
as têmporas. Ia enlouquecer se continuasse dando voltas nisso,
assim fez a única coisa que lhe ocorreu: foi até o estojo de
primeiro socorros e pegou o frasco de soníferos. Para tirar a
maldita história da cabeça teria que conhecer o final, e paraisso teria que voltar a dormir, portanto os soníferos eram
necessários - se convenceu.
Com o frasco apertado fortemente e totalmente nervosa foi
até seu quarto. Deitou-se na cama, agasalhando-se com a
manta sem despir-se. Sopesou4 o frasquinho nas mãos, ainda
não estava completamente decidida. Mas não havia nenhuma
outra forma possível de livrar-se dos malditos sonhos a não
ser conhecendo a história completa, assim teria que fazê-lo,
embora fosse contra todos seus costumes.
Armando-se de coragem, tomou uma das pilulazinhas rosa.
Enquanto tudo se nublava recostou-se contra os travesseiros,convocando a imagem de Catalina, deixando-se ir.
Despertou com o som da janela abrindo-se. Reclinou-se na
cama, assustada. Não tinha sonhado nada, como era possível?
Escondeu a cabeça entre as mãos quando uma pontada de dor
brocou seu crânio. Isso era o ruim dos soníferos, sempre
davam enxaqueca. Amaldiçoou entre dentes enquanto tentava
levantar-se.
- Não se pode forçar isso. - disse uma voz ao seu lado. –
Virão a você quando estiver preparada para elas.
Elisa levantou a cabeça para ver Alex sentado na poltrona
ao lado da janela.
4Sopesar – tomar com a mão o peso de. (Aurélio)
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Merda! Era real ou continuava sonhando? Só havia uma
forma de averiguar. Levantou a mão e beliscou-se na
bochecha. Quase saltou da cama com a dor, o que confirmouque definitivamente não estava dormindo. Sua cara de susto
fez Alex soltar uma gargalhada, se levantou da poltrona e se
dirigiu a ela.
- Ainda acredita que está sonhando? Não é para ofender,
mas sua imaginação não dá para tanto. E, além disso, se
machucou - disse passando a ponta do dedo pelo beliscão da
face dela.
- Volta a estar em meu quarto - disse ela.
- Bom, óbvio - abriu os braços - mas não é a primeira vez.
- É a primeira vez em que estou acordada! - Elisa saltou dacama.
- Bom… tecnicamente não - sorriu Alex. - Sempre fica assim
desorientada ao despertar?
- Não… quero dizer, sim… Como você se sentiria se
encontrasse um estranho em seu quarto? Um estranho a quemainda por cima beijou duas vezes pensando que era um
sonho… - continuou para si mesma.
- Beijou-me só porque pensou que era um sonho?-
perguntou Alex franzindo o cenho.
- Ouviu isso?- Elisa deixou de dar voltas pelo quarto.
- Tenho ouvido muito bom. Agora me responda.
- Tecnicamente não o beijei. Você me Beijou. Eu só…
correspondi ao beijo.
- Ah, claro. Só correspondeu ao beijo.- Quer deixar de falar nisso? Quero saber o que faz em meu
quarto, e de passagem, em meus sonhos. É o mesmo
Alexander do sonho? Porque pelo menos fisicamente é.
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- Tem que saber disso de verdade?- parecia triste.
- Sim. Preciso, preciso igualmente saber por que eu sou essamulher.
- Elisa… acredita em reencarnação?
- Acredito que pode ser verdade. - Não acreditava
realmente, mas tampouco descartava nenhuma opção. Elisa
não era católica, mas respeitava as opiniões dos outros.- Bom, pois… acredito que isso poderia ser a resposta. Você
é a reencarnação de Catalina. – afirmou - Mas ao contrário da
maioria das pessoas, você conserva lembranças de sua vida
anterior.
- E você é a de Alexander?- perguntou ela.- Sim… pode ser. - afirmou ele, evadindo-se.
- Mas eu não sou Catalina.
- Não - Alex se aproximou dela e roçou sua face. - Não é.
Elisa se afastou dele e voltou a sentar-se na beira da cama.- Isto é muito estranho. - disse agitando a cabeça - muito
estranho. Você também é muito estranho. Aqui estou eu, com
um homem incrivelmente bonito que afirma que sou a
reencarnação de uma puta do século XVIII e para isso entra
em meu quarto de noite, e não é a primeira vez. Só que antes
pensava que era um sonho!- exclamou.
- Um grande resumo da nossa história, Mas que tal se
fizermos uma pequena mudança?
- Uma mudança? No que?
- Não sei você, mas eu estou farto de vê-la às escondidas,penetrar em quartos a meia noite e que pense que está
sonhando.
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- Algo que ainda não sei por que faz – Ela interrompeu.
- Deixemos esse assunto para mais tarde. Por agora pedireia você que confie em mim nisso. O que ia dizer a você –
prosseguiu - É se gostaria de jantar comigo esta noite.
- Para jantar?
- Sim, é o que se faz não? Se um homem quer conhecer você
a convida para jantar, a leva a um restaurante e fala com você.Logo paquera com ele e pede a você um segundo encontro…
já sabe, tudo isso - disse rindo.
- Eu adoraria ir jantar contigo e paquerar para um segundo
encontro, se me der um momento para que me troque.
- Espero você no salão.Alex se sentou no sofá e começou a mudar de canal. O som
da água o distraía e o fazia imaginar Elisa nua, recebendo o
calor da água em sua pele. Com um gemido jogou a cabeça
para trás ao mesmo tempo em fazia girar os quadris tentando
encontrar um alívio ao que agora crescia dentro de sua calça.
Se continuasse assim ia enlouquecer. Com um salto, levantou-se. Elisa escolheu justo esse momento para abrir a porta do
banheiro, e o aroma do sabonete se mesclou com seu próprio
aroma fresco, chegando até ele. A tortura de Alex piorou,
acrescentando a fome ao desejo.
Caminhou para ela, que estava enrolada em uma toalha
com os cabelos molhados e indefesa, e a envolveu em seus
braços, beijando-a com fúria. Elisa o puxou contra ela,
surpreendida pelo inesperado beijo, mas desejando-o tanto
quanto ele.
Alex se separou quando sentiu suas presas crescendo.
Tentou afastar-se, mas ela se arqueou contra ele e se ofereceuinconscientemente, inclinando a cabeça para trás. Com um
gemido atravessou a pele fina com os dentes, provando o
primeiro sorvo de sua essência.
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Teve que conter-se para não cair de joelhos, arrastando-a
com ele. Essa mortal era o mais especial que tinha provado em
sua vida, o sangue era néctar contra seus lábios.
Elisa gemeu perdida no prazer mais absoluto. Não sabia o
que Alex estava fazendo, só que não queria que parasse
nunca. Atraiu sua cabeça ainda mais, excitando-o a continuar
um pouco mais, ele apoiou o abraço em torno de seu corpo,
acariciando suas costas enquanto ela enlaçava uma perna com
as dele, tentando tê-lo ainda mais perto.
Parou quando sentiu que ela estava começando a se enjoar.
Amaldiçoou-se ao ver que cambaleava e avançou para lamber
as duas marcas gêmeas que se destacavam na brancura de sua
pele. Ela se deixou, agora lânguida em seus braços. Embora
estivesse um pouco enjoada não tinha causado nenhum danoa ela, e a levou ao seu quarto, ajudando-a a sentar-se.
- Sinto muito. - a desculpa escapou de seus lábios antes que
pudesse conter-se.
- Não sinta - respondeu ela - Quando puder respirar
normalmente darei obrigado a você. Alguma vez lhe disseramque é realmente bom beijando?
- Não, na verdade não - disse sorrindo. - Sou?
- Não pode nem imaginar. - interrompeu-se e pareceu
repensar - OH, merda, estou alimentando seu ego. E já é
presunçoso o suficientemente. – Alex respondeu com umagargalhada – Agora - continuou ela - Continua querendo me
levar para jantar, embora tenha deixado que me beijasse antes
da despedida?
- É obvio. Quem disse que eu gosto de fazer as coisas na
ordem?
- Pois me dê três minutos para que saia do país das
maravilhas e me visto, OK?
- Claro - respondeu ele, mas não se foi, e sim ficou
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olhando-a com um sorriso.
- Bem… agora é quando se vira e me espera na sala -ordenou ela.
Alex voltou a rir e fechou a porta detrás dele. “Maldito seja,
amigo”- pensou - “está voltando a cair como o imbecil que é.”
CAPÍTULO 6
O caçador observou ao casal no restaurante. Comportavam-
se como amantes, piscando um para o outro através da mesa,tocando-se a cada momento e pela mínima desculpa. Quando
ela sorriu e ofereceu um bocado de sua sobremesa a ele em
seu próprio garfo, o vampiro a olhou com algo que se não
fosse adoração estava muito perto.
A mulher estava perdida. Também teria que matá-la, era
sua companheira, embora nenhum dos dois soubesse ainda.
Deixaria que descobrissem isso antes de entregar-se por
completo à caça.
Primeiro tinha que fazer outra coisa. Quando o vampiro
deixou à mulher em sua casa, despedindo-se dela com um
beijo, o seguiu. Alojava-se no melhor hotel, como não, os desua espécie tinham paixão pelo luxo. Algumas gorjetas bem
dadas permitiram que ele soubesse que ocupava a melhor
suíte, no último andar. Quando teve toda a informação
possível enviou a si mesmo à central.
Atravessou os corredores bem iluminados do castelo que se
transformou em sua base na Espanha, até chegar à porta dupla
que faria tremer os joelhos de qualquer um que não fosse ele.
O líder estava atrás da porta pintada de preto, certamente
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esperando notícias.
De longe se ouvia o entrechocar das espadas dos alunosmais jovens. A instituição se escondia sob a aparência de base
de treinamento militar para guarda-costas de elite. Os alunos
eram cuidadosamente selecionados e treinados desde crianças,
raramente se fazia uma exceção. Separava-os de suas famílias
desde a infância para evitar que desenvolvessem laços que os
tornariam mais fracos. O caçador havia sido uma criança há
muito tempo atrás, mas ainda recordava de sua mãe, do modo
que o abraçava quando fazia frio, seu aroma de lavanda das
flores que cortava durante o dia e de sua voz quando cantava
para que ele dormisse. Tinham-no recrutado aos sete anos, e
tinha trocado sua família e sua mortalidade por uma vida
extremamente longa ao serviço de uma causa nobre. Ainda
havia dias em que se arrependia do que havia feito.
Armou-se de coragem e atravessou a porta dupla. Ele estava
sentado atrás da escrivaninha, aparentemente relaxado. Os
cabelos escuros estavam presos em sua nuca e a luz fazia mais
evidente a marca circular em sua face. Seus olhos negros
estavam fixos nele, o escrutinando. O caçador fincou o joelhono chão e esperou.
- Levante.
- Sim meu senhor. Estou profundamente agradecido por ter
permitido que eu continuasse no caso - disse fazendo uma
pequena inclinação com a cabeça.
- Já escolheu seu sucessor? - cortou-o com voz seca.
- Sim, meu senhor. Escolhi ao jovem Marcos para que siga
meus passos.
- Marcos, eh? - o outro pareceu pensar - É um bom aluno:
forte, brilhante e com vontades de entrar em combate. Pena
que o acolhemos muito tarde, podia ser o guerreiro perfeito.
Embora suponha que essa pequena característica lembre a
você mesmo… muito bem guerreiro, que assim seja.
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Designe Marcos como seu sucessor. Ele levará sua espada na
batalha e manterá seu nome vivo. E agora me conte a respeito
de sua presa.
- É um neófito, senhor. Ou ao menos não sabe usar seus
poderes tão bem quanto deveria. Será uma presa fácil.
- Não se precipite.
- Está apaixonado… por uma mortal. - O líder soltou umagargalhada enquanto se lambia.
- Então será fácil sim. Acabe com ela. Acabe com sua família
e com qualquer um que saiba sobre o vampiro, uma limpeza
ao velho modo.
- Com supremo gosto, senhor. - repetiu a reverência e sedispôs a sair.
- Ah, outra coisa - o caçador se deteve antes de sair pela
porta - Desfruta disto… porque não voltará a participar de
outra. Chegou o momento de você partir, aceita?
- Aceito, senhor. - inclinou-se uma vez mais e abandonou aestadia.
Voltou para a cidade, e pela primeira vez em séculos,
embebedou-se até cair deitado na cama. A vigilância
começaria amanhã.
Elisa estava feliz. Não havia outra palavra para definir.
Tinham passado duas semanas da noite em que Alex a levou
para jantar, e após isso quase vivia em uma nuvem.
Estava apaixonando-se por ele, e não havia nada que fazer
para evitar. Cada encontro descobria um Alex amável edivertido, e também carinhoso e protetor. Não havia voltado a
aparecer em sua casa no meio da noite, mas dava no mesmo,
porque passavam muitos dias juntos. Recolhia-a ao sair do
trabalho e iam até a orla marinha, ou jantar, ou
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simplesmente conversavam enquanto caminhavam sem rumo
certo. Com ele ao seu lado havia aprendido a apreciar a beleza
do pôr-do-sol que antes ignorava.
O desejo continuava palpitando entre eles igual ao primeiro
dia, e apesar disso não tinham passado de alguns beijos e
carícias que a faziam recordar sua época de adolescência. Se
não visse o desejo tatuado no rosto de Alex cada vez que se
separavam a contra gosto dela teria começado a suspeitar. Em
vez disso o amaldiçoava pelo estrito controle que mantinha
sobre si mesmo, quando a única coisa que ela desejava era
tirar sua roupa e perder-se nele.
Emma estava que não cabia em si de felicidade ao ver que
sua amiga finalmente havia demonstrado ser humana e tinha
perdido a cabeça por um homem. O dia em que o conheceudemorou dez minutos para separar os olhos de seu corpo, e
meia hora mais para deixar de dar olhadas incrédulas para ver
se ele se esfumava no ar.
Outra noite mais se enfiou na cama sozinha, desejando que
Alex não tivesse se despedido com um beijo e partido.
Relaxou e deixou o livro que estava lendo na mesinha de
cabeceira, sorrindo ao ver o ramalhete de rosas brancas que ele
havia lhe dado há dois dias. Alex parecia não ter limite no que
se referia aos detalhes, e não havia cômodo na casa em que
não houvesse um ramalhete de rosas frescas, de todas as cores.
Recolocou os travesseiros e fechou os olhos, rezando para
dormir logo para não chegar ao trabalho feito um zumbi.
Alex a observou dormir lentamente, como todas as noites.
Não pôde afastar-se dela nenhum dia desde o primeiro, e já
tinha deixado de lutar consigo mesmo: amava-a. Quão único o
preocupava era em como contar a verdade a ela. Uma mulher
do século vinte e um não acreditava em vampiros, nãoacreditava em caçadores famintos por sangue nem em almas
que reencarnavam para poder encontrarem-se de novo. Não
podia dizer a verdade a ela, embora mentir para ela doesse
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nele, não ainda. Daria tempo a ela para que o amasse como ele
já a amava. Quando ela já estava profundamente adormecida
entrou em seu quarto e se sentou na poltrona, contemplando-aenquanto dormia. Essa era sua nova rotina, embora Elisa não
tivesse se inteirado ainda e pensasse que estava
completamente sozinha.
Mas essa noite não foi igual às outras. Quase no mesmo
instante em que adormeceu, Elisa começou a retorcer-se sob os
lençóis. E Alex amaldiçoou por esse novo pesadelo que
perturbava seu sono, sabendo que certamente seria o último.
Elisa não merecia sofrer por seu passado, isso pertencia a ele.
O sonho havia voltado. Depois de duas semanas de
ausência, Elisa tinha começado a pensar que já não voltaria a
ser Catalina outra vez. Mas tinha se equivocado. Estava denovo no corpo da mulher.
Olhou para baixo. Estava vestida mais esplendidamente que
nunca, e Elisa soube que era um vestido de noiva. Mal a
deixava mover-se, mas Catalina sabia como caminhar vestida
com ele. Suas criadas estavam com ela, desejando a ela o
melhor em seu futuro casamento, as mais velhas choravam e
as jovens suspiravam de inveja enquanto ruborizavam ao
escutar os comentários a respeito da noite de núpcias.
A carruagem a deixou à porta da catedral. Elisa chorava por
dentro enquanto o casal recitava as palavras que o sacerdote
mandava. A missa foi longuíssima e em latim, por isso nãopodia entender nada do que se dizia.
A festa após a cerimônia foi eterna, ou ao menos isso lhe
pareceu. Quando Catalina ficou no quarto esperando seu
marido Elisa compreendeu de repente o que se veria obrigada
a ver e sentir, e lutou para despertar, cedendo ao pânico.
Quando o marido entrou na habitação todo começou a
esfumar-se, e ela deu as graças a Deus por isso.
A imagem voltou um momento mais tarde. Estava na
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cama, nua, e o duque vociferava algo. Ele também estava nu
da cintura para cima, e desarrumado. O lado direito do seu
rosto doía, e Elisa pôde comprovar que teria um bomhematoma ao ver o quanto estava inchado.
O homem voltou a aproximar-se da cama fora de si, e
Catalina se encolheu intuindo outro golpe que não se fez
esperar. A força da bofetada a fez gritar enquanto ricocheteava
contra o colchão e lhe saltavam as lágrimas. O duque a
levantou e a agarrou pelo pescoço, golpeando-a contra a
parede.
- Não é virgem. - sacudiu-a. - A quem se entregou, puta?
- Se - senhor… - gaguejou Catalina. A mão em seu pescoço a
estava asfixiando e lutava por respirar. Elisa sentiu pena da
mulher que estava sendo tão duramente castigada. Seu plano
era fácil: quando ele dormisse, ela faria um pequeno corte e
deixaria o sangue correr, simulando que era sua virtude que
manchava os lençóis.
De repente uma idéia cruzou a mente de Catalina. Elisa a
conheceu no mesmo instante, e negou desesperada. Mas nãopodia fazer nada para evitar o que ia acontecer.
- Explique-se - o duque a jogou no chão, onde Catalina ficou
enfraquecida, tentando recuperar o ritmo de sua respiração.
- Senhor… marido… você sabe que vos amo. Eu não perdi
minha virtude. - O homem soluçou pateticamente - umhomem que eu não amava, um pretendente frustrado ante
meu amor por você me… - interrompeu-se, medindo a reação
do duque, que tinha deixado de passear pelo quarto e tinha
ficado olhando para ela fixamente. - estava sozinha… e não
pude… não pude fazer nada - começou a chorar como se seu
coração se partisse só de recordar.
O duque se aproximou dela e a levantou nos braços.
Catalina não se moveu, mas Elisa soube de sua satisfação
quando ele a deixou com cuidado em cima da cama. O
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duque acariciou com ternura todos e cada um dos golpes que
havia dado nela há apenas alguns minutos atrás.
- Meu amor, amor, sinto muito… - disse o homem que
continuava acariciando-a suavemente. - É só que sou um
homem ciumento e não podia entender que desse a alguém o
que era meu, perdoa-me por minha brutalidade?
- Claro que sim meu amor. - Catalina envolveu os braços ao
redor dele com ternura. - Só sinto não ter tido coragem decontar isso antes a você.
- Como se chama?
- O que?
- Como se chama o infame que se atreveu a desonrar você?Necessito seu nome para poder me vingar.
- Você já o conhece - Catalina duvidou um instante antes de
dar o nome de seu amante, o homem que se atreveu a rechaçá-
la - Chama-se Alexander Gray.
- O filho do visconde? O que está meio arruinado, que temterras perto das suas?
- Sim - assentiu Catalina - É ele. Suponho que queria riqueza
e tentou me seduzir. Ao não conseguir, quis me arruinar para
você sabendo que teria que ir a ele se minha virtude estivesse
arruinada. Mas eu confiei em você, sabia que me protegeria.
- E assim será, amor. Juro a você que antes que o dia de
amanhã termine esse homem terá pago pelo que fez a você.
Tudo se desvaneceu de novo, mas Elisa já não queria ver
mais. Mesmo sem querer encontrou-se de novo andando, e
Catalina estava especialmente alegre. Caminhava
rapidamente, quase saltitando, por um passadiço bastanteescuro. Um criado levava uma tocha diante dela e lhe indicava
o caminho para o que pareciam as masmorras. O duque a
esperava diante de uma cela diminuta e escura. O aroma
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que emanava dela era insuportável, de podridão e sujeira.
Catalina, sempre tão recatada, cobriu a boca com um lenço
bordado. Seu marido estendeu a mão para ela e a convidou aentrar no interior da cela. Hesitantemente, como se não
quisesse sujar-se, Catalina entrou no diminuto cubículo.
Alex estava ali, pálido e aparentemente inconsciente. Tinha
o rosto arroxeado, e a camisa coberta do que parecia sangue
ressecado. O duque avançou e lhe deu uma bofetada, fazendo-
o despertar. Piscou ante a visão de Catalina, e estendeu uma
mão para ela. Catalina retrocedeu e Elisa se sentiu morrer
quando viu o olhar de incompreensão no rosto de Alex, que
ainda não tinha se precavido do que ocorria.
- É este o bastardo?
Catalina o olhou outra vez. Alex tinha conseguido levantar-
se e a olhava com a alma nos olhos. Apesar de tudo o que
tinha passado, ainda confiava nela. O que Elisa não teria dado
para que alguém a olhasse desse modo, e essa mulher ia
condená-lo com uma palavra. Sem separar seus olhos dos
dele, Catalina falou:
- Sim.
O duque avançou e o fez dobrar-se com um murro em seu
estômago. Alex se inclinou sem fôlego, e recebeu um novo
golpe que o derrubou no chão. O duque chamou os criados e
ordenou a eles que o levassem ao bosque. Ofereceu o braço a
Catalina, e esta o segurou. Caminharam pelo castelo, até
chegar à porta principal onde um cavalariço tinha os cavalos
preparados para ambos. Rodearam o castelo, dirigindo-se ao
bosque atrás a carroça que os precedia e na qual ia Alex. A
carroça parou em uma clareira coberta de neve, e os criados
jogaram Alex no chão. O duque dispensou a ambos e jogou
algumas moedas para eles.
Elisa estava aterrorizada, sabendo o que viria a seguir.
Sentia-o na alma, na pele. E Catalina também sabia. E o pior
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de tudo é que o desejava. Agora teria sua vingança contra o
homem que não quis continuar ao seu lado quando ordenou a
ele.
Alex recuperou de novo a consciência ao contato com a
neve. Não vestia casaco, só a camisa que estava em pedaços.
Abriu os olhos e contemplou a clareira. Demonstrando uma
coragem que Elisa não acreditava que existisse, ficou de pé.
Alex também sabia o que o esperava, e o confrontou com
integridade. O duque tirou uma pistola e a preparou,
apontando ao peito dele.
- De joelhos, escória.
- Não. – A palavra soou firme em seus lábios, o orgulho de
um homem que havia perdido tudo. – Não morrerei de
joelhos.
- Sim morrerá de joelhos. Só necessita de um pouco de
persuasão.
Avançou para ele com a arma para o alto. No último
momento a virou e a pegou pela culatra, dando um golpe
brutal nas costas dele que o fez cair no chão.
Alex tentou esquivasse, mas estava muito fraco e só pôde
gemer quando o duque o chutou.
Voltou para junto de Catalina e rodeou sua cintura com um
braço ao mesmo tempo em que levantava a arma, apontando
de novo para o peito de Alex, que lutava para respirar com o
que certamente seria um par de costelas quebradas.
- Isto é algo pessoal - disse o duque- Atreveu-se a desonrar a
minha esposa, e pagará com algo mais que sua vida. Morra
com o peso de sua mãe e irmã sobre sua consciência. Morra
sabendo que minha mulher nunca o amou. Morra como o cãoque é, só na neve.
E dizendo isto, atirou em seu peito. A força da bala
derrubou Alex de costas, seu peito subia e descia
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rapidamente, enquanto sua camisa adquiria um tom
carmesim.
Alex enfocou o olhar, e o centrou nos olhos da mulher,
sussurrando pela última vez seu nome com o fôlego de uma
vida que já não lhe pertencia.
Catalina se virou e se afastou de braços com seu marido,
sem sequer voltar a olhar para atrás uma última vez, enquanto
Alex sangrava na neve.
Alex se balançou com Elisa nos braços. Já estava a alguns
minutos gritando e soluçando, agarrada a ele com todas suas
forças. Era impossível despertá-la, a única coisa que pôde
fazer foi abraçá-la e esperar a que o sonho terminasse.
- Já está carinho, deixa-a ir… deixa-a ir.
- Alex? - Elisa não podia parar de chorar.
- Tsss… - Alex continuava abraçando-a, acariciando seus
cabelos e as costas com movimentos suaves e calmantes. - Já
passou. Quer me contar isso.
- Alex, matou você… o acusou em falso.
- Sei – acariciou sua face, secando suas lágrimas. - Sei de
tudo, carinho.
- Como pôde fazê-lo?
- Não sei. Suponho que lhe pareceu a solução adequadapara conservar o que queria.
- Mas se eu era ela…
- Não - interrompeu-a- Você nunca foi ela, nem nunca será.
Você nunca faria mal a alguém que a amasse, sei.
Elisa não podia parar de chorar. Abraçou-se a ele com todas
suas forças, não tinha idéia de que faria se não tivesse ali com
ela. Sua presença a acalmava, a fazia sentir-se segura. Alex
continuou abraçando-a até que ela se acalmou. Reprimindo
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um último soluço, fixou os olhos nele.
- Obrigado. - disse enquanto roçava seus lábios em um beijoque era apenas um roce.
- Não tem que me agradecer nada. – Ele alisou seus cabelos -
Eu gosto de estar contigo.
- Eu gosto que esteja aqui… - disse ela - Outra vez em meu
quarto. Como no princípio.- Sim. - sorriu ele. - Porém tudo mudou desde então - disse
pensando na vingança que já não queria cumprir. Tinha
encontrado a paz sem precisar dela.
- É realmente um homem muito estranho. Não conheço
ninguém que se colocaria em meu quarto à noite… é mais – continuou - Se algum homem entrasse em meu quarto para
me olhar enquanto durmo ficaria muito, muito aborrecida.
- E eu?
- Você é diferente. – Envolveu a face dele com sua mão, e
Alex fechou os olhos desfrutando da ternura de sua carícia.- Há mais um paralelismo com aquela noite - riu Elisa ao
dar-se conta no que estava enrolada. Alex também riu,
puxando a ponta do lençol.
- Sempre dorme nua?
- Sempre. – ela confirmou. Logo sorriu - Não vai me dizerque você é um menino de pijama, não é mesmo?
- Não, eu não sou um menino de pijama.
- Alegro-me, porque seria uma decepção saber a esta altura
que continua dormindo com o do Winnie The Pooh.
- Nunca tive um pijama do Winnie the pooh.
- Bem, eu tampouco. O meu era da Minnie mouse - sorriu
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ela.
- Estaria bonita realmente com ele.- Mentiroso - adiantou-se e o beijou. Ele correspondeu seu
beijo com uma paixão que igualava a dela. Quando ela se
aproximou mais e rodeou sua nuca com as mãos, ele se
separou.
- Bem, agora que já não tem pesadelos - começouatropeladamente, sua voz rouca denotava quanto a desejava. -
Acredito que deveria ir.
Elisa decidiu em um segundo o que ia fazer. Amava Alex,
não podia negar, e queria que esta noite fosse especial.
Fechou-se o círculo que a mantinha unida a Catalina, e ela
queria abrir o seu. E queria ele com ela, para sempre.
Alex acreditou que sua mandíbula ia cair quando ela saiu
da cama e desatou o nó que sustentava o lençol contra seu
peito. Este caiu como um redemoinho branco aos seus pés e
Elisa ficou frente a ele, totalmente nua ao seu olhar. Estendeu
os braços para ele e sorriu.
- Não vá, Alex. Esta noite não.
CAPÍTULO 7
Alex não pôde reagir, só a olhou assombrado, sem mover-
se. Elisa baixou os braços pouco a pouco, a desilusão gravada
nos olhos. Até que ele reagiu.
Em um só movimento a puxou contra ele e a beijou. Ela
suspirou de alivio ao mesmo tempo em que correspondia ao
beijo, saboreando-o.
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Ele a levantou nos braços sem deixar de beijá-la, e a deixou
em cima da cama. Alex parou e a observou. Queria conservar
esse momento para sempre, ao vê-la entre os lençóis com seuscabelos se destacando como fogo, suas faces ruborizadas e sua
pele dourada. Seus seios eram generosos, as pontas rosadas. A
cintura fina continuava em quadris arredondados e pernas
longas e torneadas. Sua beleza o deixava sem fôlego.
Avançou para beijá-la de novo descendo por seu pescoço
em uma lenta tortura. Ela se arqueou para ele, sedutora, o
estimulando a continuar. Os lábios dele procuraram seus seios
e ela gemeu puxando sua cabeça, deslizando suas mãos pela
gola da camisa para poder acariciar sua pele. Quando isto não
foi suficiente o afastou e começou a desabotoar seus botões
pouco a pouco, acariciando cada centímetro de pele que ficava
descoberta com mãos e lábios. Alex gemeu e se desfez da
camisa o mais rápido que pôde, atirando-a no chão. Ambos
suspiraram quando se encontraram, pele contra pele.
- É perfeita - sussurrou Alex contra o pescoço de Elisa,
percorrendo-o com os lábios. - Tão doce… tão suave. - Elisa
gemeu ante suas palavras, totalmente encantada.
Alex a recostou de novo contra os travesseiros, despindo-se
por completo antes de colocar-se sobre ela. Elisa acolheu seu
peso, acariciando-o suas costas e sentindo como seus
músculos se contraíam sob seus dedos.
Elisa sentia suas mãos por toda parte, tentando-a, levando-acada vez mais alto.
Quando separou suas coxas gemeu, perdida em um prazer
que não sabia que existia. O gemido se converteu em um grito
quando ele a roçou com os dedos, riscando círculos,
explorando. Ela se perdeu no prazer que ele lhe dava,
procurando mais, arqueando-se contra sua mão em busca de
suas carícias.
- Vem para mim, carinho - disse ele enquanto aumentava
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a pressão, a velocidade, sentindo como ela estremecia embaixo
dele.
Elisa se deixou levar pela sensação, seus gemidos
sossegados pelos lábios dele enquanto alcançava o clímax.
Alex a contemplou enquanto ela retornava pouco a pouco a
realidade.
- Isso foi… fantástico - ofegou Elisa.
- Pois não foi mais que o princípio.
- Sei. - ela sorriu movendo-se contra ele, o acariciando com
seu corpo até que ele gemeu e a beijou.
Com cuidado se posicionou contra ela, que rodeou seus
quadris com as pernas, envolvendo-o. Alex rompeu o beijo e aolhou nos olhos, ao mesmo tempo em que se introduzia nela.
O grito de dor o surpreendeu e o fez compreender o presente
único que havia dado a ele. Elisa tinha os olhos cheios de
lágrimas que escapavam sem que ela pudesse evitar. Ele
beijou-as, comovido.
- Sinto muito… amor, não há outro modo, mas prometo avocê que não haverá mais dor, nunca mais - ofegou quando
ela o apertou instintivamente - OH, Deus… é que é tão
pequena…
Elisa se derreteu ante sua ternura. A dor tinha desaparecido,
e começou a mover-se, exigindo mais dele. Ele sorriu e
começou a deslizar-se lentamente, criando um ritmo para os
dois, levando-a de novo ao êxtase até que ela gritou seu nome
com cada impulso.
Alex sibilou5 quando suas presas começaram a crescer de
novo, ansiando algo mais que seu prazer. Conteve-se até que
5Sibilar – produzir som agudo ou prolongado soprando, silvar, assobiar (Aurélio).
No dicionário de espanhol diz que é pronunciar um som inarticulado de S i e ch,
como quem pede silêncio.
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ela alcançou o orgasmo e o envolveu com seu corpo, fazendo-
o ficar a beira do clímax e abandonar toda prudência. Inclinou
a cabeça de Elisa para trás, expondo seu pescoço, onde a veiapalpitava freneticamente.
Descobrindo suas presas afundou-as em sua suave pele,
bebendo sua essência, submergindo no êxtase mais profundo
de sua existência.
Quando tudo terminou caiu em cima dela, que o acolheumeigamente. Logo girou sobre suas costas e a recostou contra
seu peito, abraçando-a. Elisa suspirou e apoiou a cabeça em
seu ombro. Levantou os olhos e se encontrou com seus
incríveis olhos verdes, que a olhavam fascinados. Alex foi
quem rompeu o silêncio.
- Fui o primeiro. - disse suavemente. - Era virgem.
- Sim, foi o primeiro - afirmou Elisa roçando seus lábios
nele.
- Por quê? Por que esperou até agora para me dar isso?
- Porque o amo. - A confissão abandonou seus lábios antesque ela pudesse fazer algo para evitar. Fechou os olhos e
baixou a cabeça para não ver sua expressão. Era óbvio que
tinha se precipitado.
Deslizando um dedo por seu queixo, Alex solicitou que ela
o olhasse novo. Não havia reprovação em seus olhos, nem
estranheza. Só ternura.
- Obrigado. – falou - Obrigado por me deixar ser o primeiro,
obrigado por me amar. – os olhos dele encheram de lágrimas e
a puxou contra ele como se lhe desse vergonha que o visse,
apoiando sua cabeça na dela. - Se soubesse o que isso significa
para mim… - calou-se abruptamente. Os minutos passaramsem que nenhum deles rompesse o silêncio.
- Não tem importância que não me ame, Sabe?- Elisa se
decidiu a romper o silêncio - Sei que é muito cedo para isso,
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não faz nem um mês que nos conhecemos. Porém eu o
esperarei – continuou - Até que você também possa me dizer
que me ama, ou até que me diga que não pode me amar e medeixe.
Alex não respondeu, só a abraçou contra si quando sentiu
seu coração se quebrar por ouvir estas palavras. Ela não queria
pressioná-lo… Deus, se soubesse quanto a amava. Não podia
dizer a ela não depois do que tinha passado com Catalina. O
amor o tornava fraco, o amor o desorientava. Apesar do
quanto a amava não podia confiar totalmente nela, não queria
dar a ela esse poder sobre ele.
Esperou até que soube que tinha adormecido. Sua
respiração fazia cócegas no peito dele, seus cabelos estavam
enredados em seu braço direito, que a rodeava. Alex baixou acabeça e a beijou docemente, procurando não despertá-la.
Olhando-a, confessou para ela o que ardia em sua alma, aquilo
que não podia dizer a ela quando o escutasse:
- Amo você. – começou – Amarei você eternamente.
Qualquer sentimento que eu houvesse confundido com amor
empalidece em comparação ao que sinto por você. Morreria
por você agora mesmo sem duvidar, se isso a fizesse feliz.
Elisa, é a proprietária de minha alma, de meu coração e de
meu corpo. - seus olhos voltaram a encher-se de lágrimas
enquanto a contemplava, adormecida e em paz. - Por favor,
não me deixe nunca… por favor, não me traia nunca.
Fechou os olhos, o sono o chamava. Não poderia haver nada
melhor que dormir com ela em seus braços, nada mais terno
que sentir sua respiração sobre a pele, os batimentos do seu
coração junto ao dele. Converteu-se no mais importante em
sua vida, entrando em seu coração e ocupando um lugar nele.
Sua segurança era a coisa mais importante, assim fez uma
varredura mental no apartamento, só para assegurar-se de que
não havia nada estranho. Também com a mente reforçou a
porta principal e as janelas. Quando terminou se abandonou
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ao calor sedativo de sua amante, abraçando-a e fechando os
olhos. Seria a primeira vez em quase três séculos que dormia
com uma mulher ao lado, que não escapava antes doamanhecer. E era maravilhoso.
Elisa despertou acalorada. Um braço rodeava seus ombros
de forma possessiva ao mesmo tempo em que outro
descansava em seu quadril. As pernas de ambos estavam
entrelaçadas, seus rostos frente a frente. Tinham dormido
abraçados, como amantes que eram. Este último pensamento a
fez ruborizar até a raiz do cabelo, desconcertada ao dar-se
conta do grau de intimidade que tinham alcançado.
Repentinamente nervosa tentou livrar-se de seu abraço sem
despertá-lo, mas não funcionou.
Alex abriu os olhos para encontrar-se apanhado em olhosvioleta. Elisa o sustentou durante alguns segundos, depois
desviou os olhos. Ele sorriu ao ver o rubor que denotava seu
acanhamento colorindo suas faces. Acariciou-a com a pontas
dos dedos, desconcertando-a ainda mais. Elisa estremeceu
com sua carícia e se afastou um pouco mais dele.
- Arrependeu-se? - Ela negou com a cabeça. – Então vem
aqui e me abrace.
Elisa mordeu o lábio, em dúvida. Logo em um gesto
totalmente inocente envolveu a cintura de Alex com seus
braços e se recostou contra seu peito. Levantou a cabeça para
receber seu beijo e ele a agradou, beijando-a docemente, semsinal da paixão da noite anterior.
- Espere um segundo - disse ele saindo da cama. - Volto
agora mesmo.
Saiu dentre os lençóis e vestiu a calça que estava jogada ao
seu lado. Sorrindo e inclinando-se para beijá-la uma últimavez, abandonou o quarto. Elisa se sentou, fazendo uma careta
ao sentir seus músculos doloridos. Não podia acreditar no que
estava acontecendo. Então ouviu o som da água no
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banheiro. Estava tomando banho antes de partir? Pelo menos
poderia havê-la avisado… Se deixou cair para trás nos
travesseiros, pensando no homem que estava a apenas umaparede de distância dela.
Era tão diferente de todos os outros, tão estranho que ela
temia nunca chegar a compreendê-lo totalmente. Ao mesmo
tempo sentia como se o conhecesse por toda a vida, estava
completamente à vontade ao seu lado. E acima de tudo, estava
completamente apaixonada por ele.
A porta voltou a abrir-se, deixando ver Alex com um sorriso
travesso nos lábios.
Sem dizer uma palavra se aproximou dela e a levantou em
seus braços como se não lhe custasse nenhum esforço, o que
era verdade. Levou-a através da casa até o banheiro principal.
Ela se agarrou ao seu pescoço, surpreendida quando ele abriu
a porta.
- Alex, O que fez?
Ele apenas a olhou com aquele sorriso que a fazia perder a
noção do tempo antes de girar para que ela pudesse ver a
banheira coberta de pétalas de rosas. Ela deu um gritinho
assombrado, antes que ele a colocasse dentro. As rosas
flutuavam pela superfície da água, enchendo tudo com seu
aroma doce e espesso. Ele começou a ensaboar os cabelos dela,
prestando atenção a cada mecha. Quando ela o olhou
inquisitivamente, ele sorriu e girou sua cabeça para ensaboá-
los.
- Eu adoro seus cabelos – disse - É como seda viva.
- Obrigado.
- Não seja tímida comigo. - sussurrou em sua orelha - Nuncamais, combinado?
Ela assentiu com a cabeça enquanto ele seguia lavando-a
lentamente. Até que a ternura se converteu em paixão de
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novo. Ao ver que fazia uma insinuação de entrar na banheira
com ela, começou a rir.
- Tem que estar muito seguro de sua masculinidade para se
colocar em uma banheira cheia de pétalas de rosa – ela
comentou.
- Fique tranquila, carinho - disse ele com o desejo brilhando
nos olhos. - Demonstrarei isso a você em um minuto.
Acabou de despir-se e entrou na água perfumada. Elisa
deixou de rir quando o sentiu contra ela, os corpos
encontrando-se sob a água. E ele demonstrou.
- Tem que partir, não é verdade? - disse Elisa. Estavam
sentados na sala, aconchegados. Elisa tinha ligado para o
trabalho para desculpar-se, a primeira vez que mentia paraseu chefe em toda sua vida, mas tinha valido a pena.
- Sim - respondeu ele - Tenho que ir. Estou há um tempo
fazendo hora, mas não posso adiar mais.
- Sei - respondeu ela. Ele tinha ficado cada vez mais sério
segundo passavam as horas. Seu olhar era triste, como se nãogostasse do fato de separar-se dela.
E não gostava. Mas sua presença em sua casa não era
adequada de forma alguma. Em seu estado, não poderia
protegê-la convenientemente até que o sol se pusesse. Sua
presença ali durante o dia só podia trazer problemas a ela.
Além disso, quanto mais horas passavam mais fraco ficava. Já
mal podia sentir a presença dos outros inquilinos do edifício, e
dentro de muito pouco tempo estaria de novo a um nível
mortal, desprotegido. Se fosse voltar para o hotel teria que ser
nesse mesmo momento.
O olhar triste nos olhos dela o comoveu.
- Voltarei esta noite, combinado? - Elisa assentiu com a
cabeça. Ele se inclinou e a beijou - E amanhã. E depois de
amanhã. E no seguinte - disse selando cada frase com um
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beijo.
- Espero você - respondeu ela - Agora vá antes que mearrependa de deixar você ir - brincou.
Alex saiu pela porta principal, estava muito fraco para
mover-se de terraço em terraço. Ao chegar à rua a luz do sol o
perturbou, e ele amaldiçoou por haver esquecido os óculos de
sol que tanta falta lhe faziam. Manteve-se escondido nas
sombras, os olhos baixos, sabendo que seus olhos cintilariammuito e chamariam a atenção das pessoas. Percorreu-o um
calafrio: algo se aproximava, algo que não deveria estar ali.
Amaldiçoou de novo e tentou localizar a fonte da sensação,
mas era impossível, estava muito fraco. Durante um segundo
ficou em dúvida entre voltar para casa de Elisa e mantê-la a
salvo. A salvo como se estava mais indefeso que um bebê?
Decidindo-se pela segunda opção, pôs-se a correr para o hotel.
Pelo menos assim ela estaria segura. Fosse o que fosse essa
presença, perseguiria a ele.
Alex entrou em seu quarto e ficou a andar nervosamente de
parede a parede. Um pequeno celular dava voltas em sua mãoenquanto pensava. Devia ligar para ele só por causa de uma
sensação? Mas Alex o conhecia bem, e sabia que Gabriel se
ofenderia se não o fizesse. Antes que pudesse pensar duas
vezes, marcou o número. Gabriel respondeu ao segundo
toque, sua voz era espessa como se tivesse estado dormindo,
algo totalmente lógico vendo a hora que era.
- Allô ? - respondeu em francês.
- Gabriel, sou eu.
- O que ocorreu?- sua voz soou repentinamente alerta, os
restos de sono completamente esquecido.
- Não sabia se devia incomodá-lo… mas certamente se
incomodaria se não dissesse nada a você.
- Você não me incomoda, mon frère. – duvidou um
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segundo. - Pelo menos não na maior parte do tempo. Assim se
ocorreu algo, conte-me. Estava começando a me preocupar.
- Você não se preocupa - rebateu Alex.
- Não realmente, mas era uma forma de falar.
Simplesmente, estranhei que não me ligasse. E bem, o que está
acontecendo? A mulher não escapou de você, não é mesmo?
- É muito pior que isso - Alex estava reticente a contar aoseu amigo, sabendo que não acharia nenhuma graça - Estou
apaixonado por ela.
- Merda. Outra vez? – exclamou - Você não aprende? Não
lhe bastou que essa mulher o matasse uma vez, volta por
mais?
- Ela não é Catalina. E não quero falar nesse assunto.
- Ande com cuidado. Se o matar outra vez, eu não poderei
trazê-lo de volta. E para que demônios me acordou se não foi
para me dizer isso?
- Senti uma presença.- Eles?
- Não sei. Foi faz um momento, estava fraco.
- Ah, genial. Assim agora caminha pelas ruas em plena luz
do dia, sem nenhum temor. – vociferou Gabriel no telefone. -
Você está pedindo a gritos que o matem, e alguém vai escutaro chamado, asseguro-lhe isso. – interrompeu-se. – Conte-me
mais.
- Não há nada mais que contar. Senti-o durante um
segundo, fiquei em dúvida e vim para o hotel. Se forem eles já
sabem onde durmo.- Venha para Paris.
- Não posso. Elisa está aqui. Não vou deixá-la desprotegida.
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- Não houve resposta do outro lado da linha. - Gabriel?
Um brilho de luz iluminou o quarto, não mais forte que oflash de uma câmara. O vampiro apareceu perto da janela, os
traços tensos enquanto olhava para fora.
Alex não interrompeu sua concentração, sabendo que estava
analisando o lugar. Gabriel tinha a cabeça inclinada para a
direita e os olhos fechados, como se estivesse escutando algo.
O poder que emanava era inconfundível, não podendo seroculto ante nenhum deles. Todo ser sobrenatural, tanto
vampiro quanto caçador, o sentiria e se dobraria ante ele.
A energia retrocedeu, de novo para o homem loiro. Virou-se
e ficou olhando Alex nos olhos, antes de assentir com a cabeça.
- Há um deles aqui, na cidade. Um ancião.
- Como pode fazer isso? Transportar-se, rastreá-lo em pleno
dia.
- Alex, há realmente poucas coisas que não possa fazer. - sua
atenção voltou a desviar-se. - Não está observando você. Não
sei o que olha, mas não é a você.
- Elisa - disse Alex enquanto ficava de pé bruscamente. - Vai
atrás dela. Encaminhou-se a porta, para encontrar o imortal
impedindo sua passagem. Tinha uma expressão decidida no
rosto que poucas vezes via. Negou com a cabeça, empurrando
Alex suavemente para dentro.
- É meio-dia. Não pode fazer nada por ela. Só conseguirá
que o mate.
- Não posso deixá-la assim!- gritou Alex fora de si. – deixe-
me sair.
- Não. - a negativa foi categórica.
- Gabriel. Vou sair por essa porta.
- Não. - repetiu ele. - Não vai a lugar algum. Vai me
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CAPÍTULO 8
Elisa acabava de vestir-se quando a campanhia soou. Nãotinha nem idéia de quem podia ser… porque se negava a
pensar que fosse Alex que tinha voltado. Abriu a porta, só
para encontrar-se com o homem que tinha visto na praia há
algumas semanas. Ele sorriu cortesmente ante o desconcerto
de Elisa.
- Senhora, posso falar com você? Asseguro que é urgente.
- Eh… Como soube onde vivo?
- Sinto muito, de verdade. Poderia ser tão amável de me
convidar a entrar? Tenho que contar algo a você.
- Não sei se será adequado… não o conheço. - Ele assentiucom a cabeça, dando razão a ela.
- Se quisesse lhe fazer mal teria feito na praia. - raciocinou. -
Por favor.
Elisa se afastou para um lado, convidando-o a entrar sem
dizer nada. O homem avançou até a sala e parou no centrodesta, sem sentar-se até que Elisa o convidou com um gesto.
Ela se sentou em frente e o olhou fixamente.
- Quer tomar algo? Tenho café, chá, refrescos… lhe
ofereceria algo mais forte, mas não bebo.
- Um café estará bem, obrigado.
Quando voltou com as xícaras notou que o homem estava
totalmente quieto, com uma mão repousando em cima da
estranha maleta na qual reparou antes. Elisa estendeu a xícara
para ele e o homem levantou os olhos surpreso, como se
tivesse estado concentrado em outra coisa.
- Bom, a que devo sua visita?
- Sinto se isto soa embaraçoso mas… você mantém uma
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relação com um indivíduo chamado Alexander?
- Eh?- Elisa estava assombrada. - Desculpe minha grosseria,mas por que demônios isso interessa a você?
- Eu asseguro, é muito importante. Por favor, me responda.
- Sim, mantenho uma relação com Alex. - O homem
suspirou, como aborrecido.
- Sabe o que ele é?
- O que é? Não me vai dizer que é um traficante de drogas
ou algo assim, não é verdade?
- Não. É muito pior. Diga-me, não notou que tem um
comportamento estranho?
- Comportamento estranho? Como o que, por exemplo?
- Nunca o viu ao meio-dia, não é verdade?
- Sim, sim o vi. - rebateu ela - Hoje mesmo.
- Mas nunca antes de hoje…
- Não, mas isso é normal sabe? Chama-se ter um trabalho.
- Alguma vez pareceu que ele sabia o que estava pensando a
cada momento? - continuou o homem. Quando ela não
respondeu, ele continuou - Não aparece de repente sem que
você saiba como chegou? Não se move muito rápido? Seus
olhos não brilham de forma antinatural? Não sei até que pontosão íntimos - duvidou um segundo - mas nunca se sentiu
fraca, enjoada depois de ter estado com ele?
- Como se atreve a me perguntar isso?- Elisa avermelhou-se
repentinamente e se levantou, disposta a mandá-lo embora.
- Ocorreu. Estou seguro, por isso se ofendeu.
- E o que importa? São só coincidências, tolices.
- Não são coincidências. - O homem negou com a cabeça. -
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Quer saber o que Alex é? Alex é um monstro.
- Um monstro? Que tipo de monstro?- Uma criatura abominável, um ser que deve ser destruído,
um parasita que se nutre da humanidade. Seu amante é um
vampiro.
- Um vampiro?- soltou uma gargalhada irônica. - Sim,
claro… e você, O que é? Frankenstein?- Diria melhor Van Helsing. Eu sou um caçador.
Enquanto falava alcançou o estojo que tinha ao seu lado e o
abriu, deixando ver uma espada prateada enorme, como as
que via nos livros de história. Tirando-a do estojo mostrou-a.
- Isto – começou - é uma espada cerimonial. Virtualmente aúnica coisa que pode matar um vampiro é a prata. Como vê,
está banhada nela. Se não acredita em mim ponha algo de
prata e se aproxime dele de modo que fique em contato com
sua pele. Verá como se afasta imediatamente. Ou melhor
ainda, um pequeno corte. Verá o efeito que só algumas gotas
de sangue têm nele.
- Por que está me contando tudo isto?
- Porque como disse, sou um caçador. Pertenço a minha
ordem, e devo cumprir meu dever por mais desagradável que
me resulte. Alex é um vampiro, e minha seguinte presa. A
última, deveria acrescentar. Se não se afastar dele cairá ao seulado. E eu fiz tudo o que pude. Lembre-se.
O homem fez uma pequena inclinação com a cabeça e
partiu, deixando Elisa no salão, atônita. Não queria acreditar
em nada do que o homem lhe disse, mas já era tarde. Tinha
cumprido sua missão, tinha semeado a dúvida em sua mente.
Levantou e se dirigiu ao porta jóia. Havia um pequeno anel de
prata, um que Dafne tinha dado em seu último aniversário.
Era muito simples, uma pequena ametista mais escura do que
o normal engastada no metal precioso. “É como seus olhos,
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assim tem que ser para você” Havia dito sua irmã enquanto
ela o desembrulhava. Ela o deslizou em seu dedo do meio,
contemplando o brilho da pedra. Já sabia o que provaria,embora o fato de duvidar a atormentasse. Os vampiros não
existiam! Desgraçadamente, muitas coisas coincidiam para
não semear dúvida em sua mente.
Gabriel observou o caçador que saía do apartamento com
um sorriso nos lábios.
O bastardo tinha motivos para sorrir, agora poderia fazer o
que quisesse dentro da casa sem nenhuma restrição. O homem
caminhou pela rua, com Gabriel pisando em seus calcanhares.
Acabaram diante do hotel onde Alex dormia. O caçador parou
na calçada da frente, sondando em busca do vampiro. Gabriel
confundiu seus sentidos, camuflando a presença de Alex.
Foi sua vez de sorrir quando o homem sacudiu a cabeça,
confuso. Levou as mãos às têmporas e voltou a procurar,
ampliando o raio de distância. Tampouco esta vez achou
nada.
Tirou o celular e ligou enquanto se afastava. Estavamseguros, embora fosse só por algumas horas. O vampiro subiu
à suíte e se sentou na poltrona, disposto a velar o sono de seu
amigo.
Alex despertou tão logo o sol se pôs. Ficou de pé de um
salto e amaldiçoou pela pontada que lhe provocou uma dor
aguda na cabeça. De repente se lembrou de tudo. Gabriel o fez
dormir quando ele queria sair em busca de Elisa.
- Ela está bem - disse sua voz de um canto. - Não fez mal a
ela.
- Maldito seja… fez-me dormir!- Alex sentiu que a ira
voltava a crescer nele.
- Atacou-me - o imortal caminhou tranquilamente até o
centro do quarto, parando sob a luz do abajur. Como
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sempre, estava vestido de preto, assim a luz só conseguia
destacar a palidez de sua pele e o brilho de seus cabelos.
- Ela estava em perigo.
- E você não podia fazer nada. Se tivesse ido seria um lindo
montão de pó. – disse duramente. - E sua adorada igual a
você, sem nenhuma culpa.
- Está bem?- Sim, perfeitamente. Ele só foi conseguir o convite, embora
não saiba o que disse a ela. Eu não podia entrar.
- Foi até lá? Expôs-se?
- Se ela fosse machucada você teria sofrido, irmão. Não
podia permitir que fosse, mas eu podia ir. Quis explicar isso avocê, mas você, teimoso como é não esperou o suficiente.
Atirou-se em cima de mim como um maldito cavernícola.
- Vou vê-la.
- Vê. - disse Gabriel com um sorriso irônico no rosto. - Na
verdade, irmão, vendo você assim só posso desejar quenenhuma mulher cruze meu caminho.
- Um dia verá que compensam os dores de cabeça que dão.
- Não, acredito que o meu é um amor de uma noite - Alex
soltou uma gargalhada.
- Seus amores de uma noite não o abraçam ao dormir. Não
sorriem para você pela manhã.
- Porque vou lhes dou a oportunidade - riu o outro. - Vai
convertê-la?
- Ainda não sabe o que sou - Alex ficou repentinamentesério - Não sei como dizer a verdade a ela. Não é algo que as
pessoas desta época aceitem facilmente. Mas sim. - continuou.
- Se ela me aceitar, se me amar como diz que faz e quiser unir-
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se a mim a converterei.
- Alegro-me por você. - O outro lhe fez um gesto e saiu doquarto rapidamente.
Quando Alex se foi, Gabriel ficou contemplando as luzes da
noite. A cidade o chamava, atraindo-o inclusive depois de
toda sua existência.
Ele era Gabriel, o imortal, o velho. Uma lenda dentro de sua
própria espécie, temido e respeitado por todos, um dos
maiores guerreiros de suas filas. Nem sequer Alex sabia que
idade tinha na realidade, e era de longe o ser mais próximo
dele. Ele era quem era, e ponto. Sua vida tinha um sentido
claro: vivia por e para acabar com a ordem dos caçadores, paradestruí-los, comunidade por comunidade. Não havia lugar
para o amor nem a amizade dentro de sua vida, nem
tampouco queria que houvesse. Exceto seu aluno, cuja
lealdade e inocência ganharam um lugar dentro de seu
coração, era completamente indiferente a todo o horror do
mundo. E assim tinha que ser.
Alex chegou ao apartamento de Elisa num piscar de olhos.
Seus poderes estavam no máximo, como sempre que o sol se
punha. Bateu na porta, já impaciente por vê-la, mas quando
ela abriu soube imediatamente que algo estava errado. Evitavaseus olhos, como se houvesse algo que não se atrevia a
perguntar. Ele esperou, ficando mais tenso a cada respiração,
até que ela ficou nas pontas dos pés para roçar seus lábios.
Afastou-se da porta e o deixou entrar, pegando sua mão.
Elisa se virou ao senti-lo dar uma sacudida e soltar sua mão.
Assombrada, olhou fixamente o pequeno anel que já tinha
esquecido que usava. O homem tinha razão, não podia tocar
em prata.
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Alex viu o brilho do temor nos olhos de Elisa e soltou a
primeira coisa que lhe veio à cabeça.
- Não tinha notado que usava um anel - sorriu como pôde -
Furei-me.
Ela sorriu ante sua resposta, parecendo bastante aliviada.
Teria que ter cuidado de não demonstrar o efeito que a prata
tinha nele. Uma quantidade como a do anel só podia lhe
causar uma pequena ardência, mas a surpresa tinha agidocontra dele e não pôde dissimular. Seu organismo rechaçava o
metal, interpretando-o como a ameaça que era.
- Hoje um homem muito estranho esteve aqui. – comentou –
Elisa enquanto passavam à sala, onde se sentaram no sofá, tão
perto quanto podiam. Ele a puxou para seus braços,
enterrando a cabeça em seus cabelos para embeber-se em seu
aroma, que o embriagava como se de vinho se tratasse. Ela se
apoiou contra ele, acariciando-o com a face enquanto ele
beijava seu pescoço.
- O que queria?
- Falou-me de você. - Elisa sentiu que Alex ficou tenso entre
seus braços. Afastou-a e olhou-a nos olhos, totalmente sério,
como se quisesse averiguar o que pensava só através de seu
olhar.
- O que ele disse a você?
- Quer saber de verdade? Embora seja uma loucura?
- Sim.
- Disse-me… - titubeou - Disse-me que era um vampiro – ela
sorriu, como se zombasse de si mesma. - Também comentou
que a prata não lhe caia bem.
- Por isso você pôs o anel?- ele perguntou.
- Como sabe que é de prata? Bom, dá no mesmo. Quando se
foi comecei a procurar no porta jóia e coloquei este. Logo me
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esqueci de que o tinha posto até que chegou. Não é alérgico à
prata, não é mesmo? - Alex não respondeu. - Vamos, não vai
dizer que é um vampiro.
Elisa se separou dele, olhando-o com cautela e começando a
respirar agitadamente enquanto o olhava. Ele a deixou afastar-
se, embora a única coisa que queria era abraçá-la.
-Diga que me pregaram uma peça pesada. Diga-me o e
acabe com isto. - Mas ele não respondeu, só ficou sentado,olhando-a fixamente.
Ela fez a única coisa que lhe ocorreu, a única que sabia que
podia provar imediatamente a verdade ou a mentira.
Fechando os olhos, mordeu o lábio até que sentiu dentro de
sua boca o sabor metálico do sangue.
Alex o cheirou e ficou tenso imediatamente, lutando contra
si mesmo, mas foi em vão.
Mesmo prendendo a respiração o sangue o chamava com
seu canto de sereia. Se fosse qualquer outro mortal podia
resistir e ganhar, mas não contra ela. Gemeu quando sentiu as
presas alongando-se, seu corpo endurecendo-se. O aroma do
sangue, seu sangue, flutuou pela sala. Apertou os lábios,
sentindo as presas se cravarem no inferior, uma pontada de
dor que o obrigava a manter-se cordato.
Ela voltou a aproximar-se, até estar em frente dele. Alex
baixou a cabeça, mas ela não permitiu e voltou a levantá-lacom um dedo em seu queixo. Acariciou seus lábios apertados
com a ponta dos dedos, já presa pela certeza de uma realidade
inevitável.
- Abra a boca. - ordenou. Ao ver que não lhe fez caso, voltou
a repetir a ordem. - Alex, abra a boca. Agora.
- Não é necessário - disse ele entre dentes afastando o olhar.
- É necessário sim. Por favor… tenho direito de conhecer a
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verdade.
Ele a olhou, e Elisa teve que desviar o olhar ante a tristezaem seus olhos verdes. A única coisa que queria era abraçá-lo e
repetir para ele que o amava, mas não podia. Não até saber
que tudo tinha sido uma brincadeira, ou que ele tinha
brincado com ela sem que soubesse nada de sua natureza.
Abriu a boca muito devagar, e ela pôde vê-las. Duas presas,
compridas, afiadas e mortais repousavam contra seu lábioinferior. Como podia não havê-las notado antes?
- Crescem quando vou me alimentar. - respondeu à
pergunta que não havia formulado. - Por isso não as percebeu
antes.
Elisa levou um dedo a seu lábio inferior, que aindasangrava, e recolheu um pouco do fluido na ponta de seu
índice. Lentamente aproximou o sangue dos lábios de Alex,
que a olhava assombrado. Ela roçou seus lábios com o dedo
ensanguentado. Alex gemeu ante o contato, lambendo o lugar
onde ela o havia tocado, reclinando a cabeça contra o sofá e
fechando os olhos, vencido pelo prazer momentâneo de seusabor.
Elisa retrocedeu aterrorizada, tanto pelo que ele tinha feito
como pelo que ela tinha provocado. Sentou-se no chão, no
canto oposto de onde ele estava, sem deixar de olhar para ele
horrorizada.
- É um vampiro. – tentou respirar em um ritmo regular, mas
seus pulmões a ignoravam. - É… um vampiro! Supõe-se que
vampiros não existem!- gritou com um deixe de histeria na
voz. - supõe-se que são contos para crianças!
- Elisa, coração, se acalme. – A voz de Alex era sedativa,
tranquila - Tente respirar.
- Não quero respirar! Quero saber por que você é um
vampiro, quem é o homem que veio a minha casa… ai,
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Deus… apaixonei-me por você… deitei-me contigo! E você
esteve mentindo para mim o tempo todo.
- Elisa, não menti para você. Não lhe disse isso antes porque
sabia que não reagiria bem. - aproximou-se dela, tentando
acalmá-la. Quando tomou seu rosto entre as mãos para obrigá-
la a olhá-lo Elisa se retorceu freneticamente e se retraiu mais
contra a parede.
- Não me toque - disse a beira do pânico - Não me toque. -Ele retirou as mãos, ferido profundamente em sua alma. -
Alguma vez há…? Quero dizer, você fez…? - disse tocando o
pescoço inconscientemente.
- Sim. - confessou Alex. - bebi de você.
Foi então quando Elisa perdeu o conhecimento.
CAPÍTULO 9
Despertou em sua cama. Bastou uma olhada no quarto para
encontrar Alex sentado em sua cadeira, ao lado da janela.
Olhava-a preocupado, mas sem tentar aproximar-se dela. Ela
recordou o ataque de pânico, onde tinha gritado para ele que
não a tocasse, voltou a ver a expressão de dor em seu rosto
quando fugiu de seu contato. Quando o rechaçou.
- Sinto muito - começou ela. Sua voz soava muito mais
rouca que o normal, talvez porque tentava conter as lágrimas,
talvez por tudo que tinha gritado antes. - Sinto ter montado a
cena de antes.
- Não se desculpe, por favor. A culpa de tudo isto é minha, e
ouvir você me pedir perdão não faz mais que fazer que me
sinta pior. Devia ter contado isso antes a você, é mais, devia
ter encontrado coragem para me afastar de você desde o
primeiro momento. Para deixar que pensasse que nosso
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beijo tinha sido um sonho.
- Deixei-me levar pelo pânico - continuou ela, ointerrompendo. - Não agi normalmente. Alex, por favor, vem
aqui.
Alex se aproximou da cama lentamente, como se não
quisesse assustá-la. Segurou a mão que estendia para ele e se
sentou ao seu lado. Ela estendeu a mão que estava livre e o
acariciou na face, sentindo o roce da pele suave contra seusdedos. Ele abriu muito os olhos, surpreso de que ela estivesse
tocando nele, e soltou a mão dela que tinha entre as dele. Ela
aproveitou para emoldurar o rosto de Alex entre elas e
aproximar seus lábios dos dele. Ele não se moveu enquanto o
beijava, e quando Elisa se separou viu as lágrimas brilhando
em seus olhos. Bloqueou a primeira que caiu com seus lábios eo rodeou com seus braços, embalando-o contra ela. Ele a
abraçou tão forte que lhe custava respirar, mas não disse nada.
Ambos necessitavam do contato.
- Preciso saber de tudo - disse Elisa quando se separaram - E
necessito de tempo para assimilar, só alguns dias para pensar,
de acordo?
- São teus. É um de nossos costumes. Só me diga o que quer
saber.
- Primeiro… quero que me fale a respeito de você. Seus
costumes, poderes… Tudo.
- De acordo. Somos imortais desde o momento em que
nascemos para esta nova vida. Não nos afeta nem o tempo,
nem a enfermidade, nem a maioria das armas. Temos poderes
psíquicos: lemos mente, podemos manipular as lembranças e
dirigir aos humanos. Podemos convocar e atrair objetos
fisicamente, e nossa força e velocidade são sobre-humanas. Osmais velhos realizam coisas incríveis, a melhor delas é o que
vocês chamariam de teletransporte. Quanto mais velho for um
vampiro, mais forte fica. Eu tenho trezentos anos, passei a
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etapa de neófito, embora seja muito jovem para nossos
cânones6.
- Como se convertem em vampiros?
- O vampiro que quer converter um humano tem que
sangrá-lo até a beira da morte - ao ver a cara de horror de Elisa
sorriu - Não dói. Você mesma comprovou. É um prazer, tanto
para o vampiro quanto para o humano. Uma vez que bebe
dele o alimenta com seu próprio sangue, tanto quanto possalhe proporcionar. Quanto mais dê, mais poderoso será o
neófito. É costume que mais de um vampiro proporcione
sangue ao mortal, dessa forma fica mais forte.
- É o que fizeram com você?
- Não - negou Alex. - Gabriel me encontrou agonizando eme transformou. Deu-me tudo o que necessitei e ainda mais.
Sendo como é um dos mais poderosos que pude conhecer não
foi necessário ninguém mais para me transformar.
- Encontrou-o agonizando? - Logo pareceu pensar na
pergunta. – Você… você é ele, não é verdade? O homem com
quem sonhava não é ninguém se não você. Está vivo desde
então, sobreviveu. Não é nenhuma reencarnação nem nada
parecido. OH, Deus… o machucaram tanto. – retificou -
Machuquei tanto você.
- Não - negou terminantemente. - Você não me fez nenhum
dano. Você não é ela, e nunca mais quero que volte a pensarisso. A culpa foi só dela, de seu egoísmo.
- Matou-a?
- Não. Mas não foi porque não desejasse. Houve uma
predição, de uma velha cigana. Disse-me que não podia matá-
la, se não teria que esperar outra vida para cumprir minhavingança. E que quando voltasse a encontrá-la teria a opção de
6Cânon – regra geral de donde se inferem regras especiais. (Aurélio)
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escolher.
- Por isso me procurou? Para se vingar? - perguntou ela.- No princípio sim. - ao ver a dor em seus olhos a acariciou,
tentando consolá-la. – Senti você por acaso, quando ia para
Paris me reunir com Gabriel.
Encontrei você, e desde o primeiro momento soube que não
era ela. Nessa mesma noite a beijei. Quis cumprir meu destino,sem me dar conta que podia escolher. E escolhi conhecer você.
Agora mesmo morreria antes de fazer o mais mínimo dano a
você, asseguro-lhe isso.
- E sobre o homem que veio a meu apartamento? Por que
ele sabia o que é?
- Isso é uma história muito longa - Alex suspirou - Mas
posso fazer uma versão reduzida dela para você. Há milhares
de anos nasceu o primeiro vampiro. Alguns dizem que ainda
está vivo, outros que já morreu, mas todos concordam que
devia ser uns três ou quatro mil anos antes de Cristo. Os
descendentes de sangue deste vampiro foram dez, seus
próprios filhos, e isso também está documentado. O último
deles a ser criado era o mais poderoso de todos, alimentado
pelo sangue de todos os anteriores. Diz-se que os vampiros
mais fortes da atualidade provêm dessa linha de sangue. Uma
das lendas que circulam entre nós assegura que Gabriel é
descendente direto desse décimo filho. - Elisa o olhou
assombrada, e ele assentiu com a cabeça. - Há dias em que
chego a acreditar nisso Mas não posso me desviar do tema. O
homem que veio a sua casa pertence à Ordem. É um grupo de
fanáticos empenhados em exterminar a todos os vampiros da
terra.
-A criação da ordem remonta ao ano mil, aproximadamente.Seu fundador foi um alquimista que estava obcecado em
alcançar a imortalidade. Para conseguir isso capturou um
vampiro e tentou que ele o convertesse em imortal. O
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vampiro concordou sob tortura e iniciou a transformação, no
entanto algo saiu errado. Estava tão fraco que foi incapaz de
terminar o que começou, de modo que criou um híbrido. Essefoi o primeiro caçador. Possuía fortes poderes psíquicos e
físicos, mas não era imortal. Só envelhecia mais lentamente
que os outros humanos. E isso o deixou furioso.
-O vampiro conseguiu escapar e, como vingança ao homem
que o havia obrigado a convertê-lo raptou sua filha, uma
jovem inocente. Apaixonou-se completamente por ela, e ela
por ele. O alquimista perseguiu o vampiro por todo mundo,
tentando fazer que devolvesse sua filha, enquanto que o
vampiro tentava esconder-se dele para viver seu amor junto à
moça sem que ninguém os separasse. Acreditou que o havia
evitado, mas o pai tinha novos e fortes poderes, e não
demorou a encontrar os amantes.
- O vampiro e ele se enfrentaram em uma luta de morte
assim que se encontraram cara a cara. A mulher mortal, vendo
que ia ser a causa da morte de seu pai ou de seu amante,
pegou uma adaga e atravessou seu coração com ela. Esse foi o
ponto de partida da guerra entre vampiros e caçadores, oamor de uma mulher.
- O alquimista procurou por todo mundo seres
amargurados, crianças desprezadas e repudiadas, e as treinou
para nos exterminar. Compartilhou o dom que roubou do
vampiro com todos eles, e fundou a Ordem, cujo destino final
é acabar com todos nós. Os novos membros são criados no
ódio por nossa espécie, totalmente doutrinados desde sua
mais tenra infância, e treinados para nos matar. O homem que
veio a ver você é um deles.
Elisa estava assombrada, tentando assimilar a torrente de
informação que acabava de receber. De repente se lembrou deum pequeno, mas crucial detalhe.
- Levava uma espada com ele. - sua voz soou preocupada. -
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Disse que era a única coisa que podia matar um vampiro.
- É verdade. Há poucas formas de acabar com um de nós. Adecapitação, desde que se separe a cabeça do corpo
completamente. Também podemos sangrar, mas isso é quase
impossível devido à rapidez com que cicatrizamos. A forma
mais eficaz de matar um vampiro é atravessar seu coração
com algo de prata. A prata evita que cicatrizemos na
velocidade normal, assim é a arma mais poderosa contra
qualquer vampiro. Graças ao céu, esta debilidade também foi
“herdada” pelos caçadores, assim estamos em igualdade de
condições nesse aspecto.
- Isto é tudo?
- Sim, acredito que sim. Não me ocorre nada mais que
contar a você. - disse ele. - Se tiver alguma dúvida ligue para o
meu celular e responderei a você.
- Já vai?- perguntou esperando com todas suas forças ouvir
um não por resposta. - por que reagia assim, se foi ela mesma
que pediu? De repente o fato de ele ser um vampiro não tinha
importância, se isso o mantinha com ela.
- Você queria que eu fosse - respondeu Alex. – Necessita de
tempo para pensar tranquilamente.
- Na verdade agora não estou tão segura de querer que vá.
- Voltarei em dois dias. Duas noites. Não se preocupe
carinho, ficará bem, mas lembre-se que não deve contar isso a
ninguém ou o porá em perigo. A Ordem se caracteriza por não
deixar testemunhas de nenhum tipo.
- Isso quer dizer que querem me matar?
- Se não se afastar de mim provavelmente. A decisão é sua,
mas quero que saiba que Gabriel e eu não deixaremos que
aconteça nada com você.
- Gabriel está aqui?- disse ela com curiosidade - Eu
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gostaria de conhecê-lo.
- Temo que não seja a cordialidade em pessoa - riu Alex. -Não se ofenda se for um pouco duro com você, é só que os
humanos não o agradam. Para falar a verdade, o agradam
muito poucos seres viventes. Mas a protegerá. E não se
preocupe, não acredito que demore a conhecê-lo.
- Agradeça a ele de minha parte.
- Farei isso. Até logo.
E sem dizer mais nada partiu.
Elisa dormiu o resto da noite sem sobressaltos. Quando
amanheceu se levantou para ir trabalhar, mas tinha uma
mensagem na secretária eletrônica avisando que a cafeteriapermaneceria fechada por quinze dias, já que tinha se
quebrado um encanamento e iam aproveitar os trabalhos de
reparação para reformar a cozinha. Quase saltou de alegria
quando ouviu a mensagem, Quinze dias livres! De toda forma,
o verão estava acabando e ela logo teria que deixar o trabalho
para voltar para a universidade, onde só restava o último ano
para terminar.
Ligou para Emma, que veio imediatamente a sua casa,
procurando saber dos últimos detalhes da relação. Teve um
bom desgosto quando Elisa disse a ela que estavam dando um
tempo, mas se recuperou rápido. Decidiram dar um passeio,
mas fazia muito calor para fazer algo que não implicasse estarà sombra. Emma propôs colocar biquínis e ir à praia, mas só
passaram por lá, a imensa aglomeração na areia as convenceu
que não ia ser a coisa mais relaxante do mundo.
Emma ficou pensando um momento, meditando onde
poderiam estar bem sem aglomerações. Até que deu com a
solução perfeita.
- Bom… que tal se voltássemos para casa de sua mãe? -
propôs – Gostaria de voltar a vê-la e me prometeu a receita
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de seus sorvetes caseiros…
- Acredito que é boa idéia - disse Elisa pensando natranquilidade da casa, com sua maravilhosa piscina privada
reluzindo ao sol. Sua mãe adoraria tê-las por ali aborrecendo.
Foram no carro de Emma, que como lhe recordou
constantemente sua amiga, era muito mais novo e rápido que
o de Elisa. Para ela dava exatamente no mesmo, um carro era
um instrumento para ir do ponto A ao B, sem tanta cerimônia.Mas Emma adorava sua Mercedes, chamando-a de seu bebê e
tendo-a sempre no ponto. O esportivo reluzia enquanto
engolia os quilômetros, e Elisa sorria enquanto seus cabelos
faziam redemoinhos impossíveis detrás dela. Entre o
conversível e a música no máximo as duas pareciam Thelma e
Louise fora do tempo.
Rafaela as recebeu na porta depois de sair para verificar de
onde vinha o estrondo que o esportivo de Emma causava. Ela
tampouco compartilhava sua afeição pelos carros caros, e
menos ainda se eram ruidosos, mas Dafne saiu correndo da
casa para admirar a Mercedes, percorrendo a tapeçaria com a
ponta dos dedos em um gesto de admiração absoluta. Emma
sorriu ao encontrar nela uma igual e ambas se abandonaram a
uma descrição dos atributos do carro que para Elisa e Rafaela
soou como se falassem em chinês.
- Olá mamãe - saudou Elisa abraçando-a. Depois apontou
para as duas garotas com a cabeça. - Não se preocupe, um dosseus sorvetes e se esqueceram de quantos cavalos esconde esse
motor.
- Espero que sim - respondeu Rafaela - Porque se tiver que
tê-las muito tempo falando de válvulas e correias as expulso
casa.
- Eu espero que não! - gritou Dafne - Sou menor de idade,
não pode me abandonar! - continuou com gesto teatral,
deixando cair a mão sobre a testa como se fosse sofrer um
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desmaio.
- Não ia abandonar vocês… só as desterrar a praia. Inclusivedaria bebidas a vocês!
- Eu prefiro me desterrar a piscina. - Elisa se estirou e tirou
do porta-malas a pequena bolsa cheia de roupas. - Uma vez
que não tenho trabalho…
- Já queimou o bar? - perguntou sua irmã. Depois se viroupara sua mãe, totalmente séria. - Mamãe, deve-me trinta
euros. Disse isso a você, antes do segundo mês.
- Apostou que eu queimaria o bar?
- Não se zangue filha, não apostamos que o bar se
queimaria… - Não, claro que não… servia qualquer dano:
eletrodomésticos, incêndios, inundações…
Elisa soltou um grito e começou a perseguir sua irmã dentro
de casa. Ela escapuliu para a porta traseira e se defendeu atrás
da piscina, saltando as poças da borda com agilidade. Em umsegundo se desfez do vestido que vestia, descobrindo um
biquíni branco e se atirou na água usando a borda como
trampolim. Elisa desistiu da perseguição: Dafne tinha
aprendido a nadar antes dos três anos e na água era
completamente insuperável. Além disso, Elisa não queria
começar o dia com um banho vestida na piscina. Assim
deixou sua irmã girando na água e rindo a gargalhadas dela e
se reuniu com sua mãe e com Emma na cozinha, ante um
imenso recipiente do que em muito pouco tempo seria um
maravilhoso sorvete caseiro. Em pouco tempo sua irmã
também estava bicando o recipiente quando sua mãe se
virava, e convencendo Emma e Elisa a fazerem o mesmo. As
risadas ressonaram na cozinha quando as pegou em fragrante
e lhe deu uma tapa no pescoço.
Era bom estar em casa.
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CAPÍTULO 10
- Vai abrir um buraco nesse tapete se não deixar de andar de
um lado para o outro.
Alex se deteve o tempo suficiente para dirigir um olhar
zangado ao seu criador, e recomeçou o vaivém através da sala.
- Acredita que fiz o que devia?- Não esperou resposta,
respondeu ele mesmo. – Sei que fiz. Ela me pediu isso, eu o
devia. Só serão dois dias… que de toda forma eram
obrigatórios… sim fiz o correto.
- Na verdade, eu adoro as conversas unilaterais. - Gabriel se
levantou da poltrona e se serviu outra taça. - Quer beber
enquanto passeia?
- Não, não quero nada - respondeu Alex sem olhar para ele.
- Pois então fique quietinho durante um segundo para que
possa me ouvir - disse Gabriel. Quando Alex parou no tapete,
este sorriu. - Que paz… agora sim, amigo. Se quer meu
conselho, fez o que devia. Necessitavam desses dois dias, não
só pela lei, e sim para pensar. Dê tempo a ela, não imponha a
ela seus desejos no calor do momento. Tudo isso só leva aodesastre. Se o escolher, sejam felizes. Se não… acredite-me, é
melhor assim.
Alex se surpreendeu ante o tom de amargo conhecimento
do vampiro. Sua voz, sempre tão bonita quanto indiferente,
estava tingida com algo muito próximo ao pesar, instável
como poucas vezes antes.
- Gabriel… há algo que não tenha me contado?
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- Mon frère , na realidade há poucas coisas que sabe.
- Talvez seja o momento para começar a contá-las.- Não há nada em meu passado que possa ajudar você.
Deixei-o para trás, e desenterrá-lo não serviria de nada.
- Talvez sim. - repôs Alex rapidamente.
- Não cabe a você decidir. Graças a Deus - murmurou.
- Não confia em mim?
- Se não confiasse em você não estaria aqui, arriscando meu
traseiro por sua pequena mortal. - A voz do vampiro soou
seca, mas com um toque de humor. Mas para Alex não fez
graça nenhuma, porque respondeu irado.
- Nunca pedi isso a você.
- Não, mas devo isso a você. Inclusive se não fosse como é,
teria que protegê-la.
Alex ficou olhando para Gabriel. Este não disse mais nada,
surpreso que a afirmação tivesse escapado de seus lábios. Alexo ajudou mais que ninguém, mesmo sem saber. Não
respondeu nada, e o silêncio impôs sua carga densa entre os
dois. Alex percebeu a negativa de Gabriel, seu desconforto por
ter revelado algo de si mesmo que não queria que soubessem
e tentou mudar de assunto, compreendendo a confusão de seu
amigo e querendo evitá-la.- A que de refere com isso de que se não fosse como é?
- Alex, vejo nas pessoas. Sei quando uma pessoa é boa,
quando é mesquinha, quando menti ou quando a nobreza
enche seu coração. Vejo Elisa melhor do que você possa
sonhar algum dia. Não se preocupe - disse ante o cenhofranzido de Alex. - Não é nada romântico nem sentimental, é
somente um fato. Ela é uma boa mulher. Faria tudo por
alguém a quem amasse, sem importar o sacrifício... Ela é como
você, que acreditava no amor inclusive às portas da morte.
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Tirou-o e se vestiu, resignada a uma noite de insônia. Desceu à
cozinha sem fazer ruído para não despertar à casa que dormia.
Com um pouco de sorte encontraria café, ou algo frio para beber.
Com a xícara entre as mãos subiu até seu quarto, onde
decidiu que ficaria dando voltas um pouco mais. Sentou-se na
poltrona e ficou olhando o céu, perdida em seus pensamentos,
ou melhor, em um pensamento concreto. Sentia tanta falta
dele que era quase físico.
Franziu o cenho quando viu uma figura no jardim. O
caçador não seria nunca tão avoado para estar tão quieto no
centro do jardim. A dúvida se dissipou quando as luzes da
piscina cintilaram em um cabelo vermelho escuro. Dafne saiu
das sombras e se sentou na borda da piscina, com seu pijama branco brilhando na semiescuridão. Ela tampouco podia
dormir?
Dafne mergulhou os tornozelos na água, movendo os pés
suavemente. A noite estava muito quente, e seu pijama curto
era mais que suficiente para estar lá fora. Esteve inquieta o dia
todo, com a sensação de ser observada. Por isso saiu para o
jardim. Quanto mais se afastava da casa, menos intensa era a
impressão.
- O que se supõe que é? E por que diabos vigia a casa?-
perguntou ao ar. - Não me deixa dormir, sabe?
“Sinto muito” soou uma voz em sua cabeça.
Gabriel sorriu quando a garota deu um salto e ficou em pé
de um salto, escorregando ligeiramente na borda da piscina.
Viu-a inclinar a cabeça, como se tentasse ouvir algo longínquo.
Logo sua voz voltou a chegar até ele.
- Ouve? Voz em minha cabeça… Está aí?- Ao não ouvir
nenhuma resposta sacudiu a cabeça, incrédula. - Genial. Estou
ficando louca. Agora ouço vozes, justo o que me faltava. Se
Elisa já me dizia que eu era uma excêntrica… dentro de
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pouco porei uma armadura e incitarei à guerra.
O vampiro não pôde resistir. “Joana D’Arc ouvia mais deuma voz. E não era ruiva”. -Dafne voltou a dar um saltinho ao
ouvir sua voz.
- Agora vai dizer que conhecia a Joana D’Arc?
“Vi-a algumas vezes. De longe.”
- Claro. Totalmente normal. Estou louca. – afirmou - Estoulouca, louca, louca… - cantou. - Agora deixa de espiar, que
quero dormir, sim?
Gabriel a seguiu até que se enfiou de novo em cama, e
dormiu antes que captasse sua presença. A curiosidade tomou
conta dele, e se aproximou mais da garota. Era realmenteestranho, mas não podia sentir nada a respeito dela,
absolutamente nada. Nem seu caráter, nem seu estado de
ânimo… era quase como ser mortal, ou estar com um dos
anciões. Quando tentou aprofundar um pouco mais, franziu o
cenho para ele e se virou para lhe dar as costas, rebatendo-o
inclusive adormecida. Parecia muito jovem para poder
controlar sua percepção, porém conseguia arrumasse bastante
bem. Quando deixou de tentar entrar em sua mente ela voltou
a virar-se para ele, encolhendo-se em posição fetal. Gabriel
suspirou e a cobriu com as mantas, apartando um cacho
rebelde de sua face.
À mente do vampiro chegou uma idéia alarmante: se Alexfalhasse, tudo estaria perdido para a jovem. Não teria
descanso em toda sua existência, sempre perseguida por algo
pelo qual não tinha nenhuma culpa. Isso se tivesse sorte e
conseguisse conservar sua vida.
Gabriel se rebelou contra essa idéia. Não devia se importar,
mas o afetava. Eram inocentes destroçados por uma guerra
muito antiga para poder recordar seu princípio. A maioria dos
vampiros não sabiam porque lutavam, só o faziam para
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sobreviver.
Entretanto, a realidade se impôs rapidamente quando seuinstinto saltou: o caçador tinha chegado.
Gabriel prendeu todo seu poder dentro dele mesmo, para
que o homem não pudesse senti-lo. O caçador não chegou a
entrar na casa, se limitou a enfocar sua atenção em cada um de
seus habitantes. Dafne voltou a mexer-se na cama, inquieta.
Antes de pensar no que estava fazendo colocou a mão em
seu ombro para tranquilizá-la. Ficou atônito quando ela
levantou o ombro e acariciou sua mão com sua face, ficando
tranquila.
O caçador partiu depois de ter comprovado que só as
mulheres estavam na casa, e Gabriel também se foi atrás dele.Só faltava um dia de vigilância antes que Elisa tomasse sua
decisão. Esperava que tudo saísse perfeitamente, pelo bem de
todos.
Alex viu Gabriel pela janela antes que chegasse. Estava
atravessando a praça, estranhamente avoado para ser ele. Não
fez nenhuma tentativa por ocultar-se nas sombras, e isso
porque o sol acabava de sair e não usava óculos escuros.
Entrou na recepção, e deixou de vê-lo até que abriu a porta do
quarto em que dormia.
- Está bem? - perguntou a Gabriel imediatamente.
- Insone, mas bem. - pareceu duvidar antes de perguntar -
Sabe que sua irmã mais nova é psíquica?
- Dafne? – Alex estava estranhando, e ainda assim tudo
parecia encaixar perfeitamente. - Não, não sabia. Elisa pensa
que é extraordinariamente perceptiva, nada mais.
- Não é.
- E por que me perguntou isso?
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- Sentiu-me.
- A você?- a voz de Alex refletia a incredulidade que sentia.- E nem sequer estava me centrando nela.
- Isso é realmente extraordinário. Alucinante. Teremos que
tomar cuidado com ela até que aprenda a controlar-se.
- Isso é o estranho. Já sabe fazê-lo, pelo menos
inconscientemente. – Gabriel também parecia impressionado.
- Já sabe controlar?
- Não pude saber nada dela. No que diz respeito à Dafne,
poderia ser uma caçadora e não nos darmos conta.
- Não é uma caçadora. - rebateu Alex rapidamente.- Claro que não, principalmente porque tem família. Só era
um poderia.
- Vai fazer algo a respeito?
- No momento… vou dormir até o meio-dia. Está bem o
suficiente para mantê-las vigiadas até então?
- Estou. Despertarei você quando começar a fraquejar.
- Bom então. Vou para a cama.
- Descanse.
Gabriel atravessou a porta que comunicava ambos osquartos e se enfiou na ducha imediatamente. Tinha perdido a
conta das horas que estava acordado, e seu corpo exigia seu
descanso a gritos. A água quente logo conseguiu relaxá-lo, e
só se sentiu bem quando se enfiou dentro das mantas. Podia
sentir todos e cada um dos hóspedes do hotel sem fazer
nenhum esforço. Viu como se estivesse ali o narcotraficante dosétimo andar, contando as bolsinhas de veneno dispostas em
cima da mesa de vidro. No segundo andar, um casal fazia
amor. Ele estava sendo infiel a sua mulher, mas sua amante
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não sabia. Havia um grupo de adolescentes em excursão, todo
hormônios e diversão. A cacofonia de vozes e pensamentos
exerceu um efeito hipnótico, mergulhando-o em um sonoprofundo, quando a maioria das pessoas acabava de
despertar.
Do outro lado da porta, Alex mantinha seus olhos fixos em
sua amante, que havia conseguido dormir, finalmente. Elisa
tinha adormecido na cadeira, olhando o jardim. Inconsciente
de que um dos mais poderosos vampiros vivos esteve em sua
casa, de que um caçador sedento de sangue a observava e de
que sua irmã era mais extraordinária do que pensava.
Dormia placidamente, sem saber que o que ela considerava
como sua vida não demoraria muito em dar outro giro radical.
CAPÍTULO 11
Elisa se levantou meio-dia, com a cabeça torcida para a
esquerda. Com um gemido, tentou pôr a cabeça direita e
ouviu o som de suas vértebras rangendo. Definitivamente,
dormir em uma cadeira era ruim para as costas.
Quando desceu para tomar o café da manhã descobriu que
somente ela continuava na cama ao meio-dia. Dafne tinha
olheiras, mas segundo Rafaela tinha acordado às nove da
manhã, ajudando-a com as tarefas, e Emma já tinha comido
sorvete correspondente a seis pessoas e estava se queixando
de uma dor de cabeça enorme. Definitivamente, havia dias em
que se comportava como uma criança.
Comeram no jardim, aproveitando o bom tempo. Dafne
estava mais esquiva que o normal, mas Elisa atribuiu isso a
que não tivesse dormido e não fez perguntas, tampouco se
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preocupou até que sua irmã explicou o porquê de sua insônia.
- Não teve uma sensação estranha esta noite?- perguntouDafne.
- Sensação estranha?- Emma levantou a cabeça dentre suas
mãos. - Não, a que se refere com sensação estranha?
- Como se estivessem lhe olhando.
- Outra vez?- Rafaela suspirou. Conforme parecia, não era aprimeira vez que sua filha se queixava disso mesmo. -
Carinho, Quem pode estar espiando você?
- A mim não, a casa. Quando saio ao jardim, passa um
pouco. E não é uma paranóia, é como se alguém soprasse
minha nuca.- Isso é uma tolice. – Emma inclusive parecia divertida.
Dafne se fixou nos olhos de sua irmã, completamente séria,
e soube sem palavras que Elisa não acreditava que sua
sensação fosse uma tolice. Esperou que Rafaela e Emma se
afastassem um pouco para perguntar a ela.- Sabe a que me refiro não é verdade?
- Sei.
- Também o sente?- Dafne parecia esperançosa.
- Não, eu não posso captar o mesmo que você. Só aconteceuuma vez comigo.
- Por que me acontece isso?
- Não posso dizer isso a você. Só posso prometer a você que
passará rápido, e que a culpa é minha. Quando for embora
daqui, passará.- Já se foi, e eu continuei sentindo. Menos frequentemente,
mas continuava estando ali. Pode me dizer pelo menos o que
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é?
- Não. Mas posso dar um conselho a você - Elisa sofria porter que manter sua irmã afastada, mas sabia que só
conseguiria pô-la em perigo se contasse a verdade a ela. - Se
descobrir quem a observa, se afaste dele. Entre em casa e não
deixe que ele entre por nada do mundo. De acordo?
- Antes não me escondia nada - o olhar nos olhos de sua
irmã parecia mais decepcionado que triste. - Espero que saibao que está fazendo.
- É muito…
- Não me diga que sou muito jovem para entender, porque
sabe que não é verdade, e insulta a ambas dizendo isso. -
Dafne a cortou zangada - É verdade que tenho dezesseis anos,mas não sou nenhuma menina tola.
Dafne partiu zangada enquanto Elisa se deixava cair na
cadeira. Sua irmã já não era a criança que acreditava, e não
poderia protegê-la para sempre. Mesmo assim, tampouco
poderia faltar à promessa que fez a Alex.
- A vida não é justa, não é verdade?
Elisa ficou tensa de repente, a voz soou muito perto de seu
ouvido. Girou sobre si mesma para encontrar ao homem, a
esse maldito homem de pé justo detrás dela. O caçador sorria,
sabendo que Elisa o reconhecia pelo que era. A mulher se
esticou na cadeira, esperando que a atacasse, que risse, algo
exceto a calculada indiferença no rosto do assassino.
- Vai me matar?- levantou a cabeça em um gesto orgulhoso
e inconsciente. O caçador viu sua coragem nesse gesto de
orgulho, e reconheceu uma boa rival nela. Ou um bom aliado,
se a sorte lhe fosse propícia.
- Não - respondeu ele. - Não vou matar você. Custou-me
muito encontrar você.
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- Então porque está em minha casa?
-Vim propor um acordo a você. - o homem sorriumisteriosamente. – O vampiro deu dois dias para você pensar.
Cumpriu as normas, não obstante a escondeu realmente bem.
Não pude sentir você em todo o dia de ontem, e perdoe-me se
a ofendo, não acredito que você tenha podido fazer esse
trabalho. Alguém esteve encobrindo você. Está desfrutando de
seu livre-arbítrio. E eu devo dar a você a terceira opção.
- A terceira opção?
- Seu amante ofereceu a você ficar com ele. Compartilhar
sua vida e levar você ao seu lado por toda a eternidade.
Também ofereceu o afastamento a você. Partiria e você
continuaria como se nada tivesse acontecido, vivendo sua vida
como mortal. Eu vim para propor a você a terceira opção. Se
nos entregas o vampiro, sua família ficará protegida. Viverá
mais que nenhum outro mortal, e o fará em paz em nossa
comunidade.
- Está oferecendo entrar na ordem?- O homem respondeu
com uma gargalhada divertida antes de começar a explicar.
- Não, querida. Estou oferecendo a você entrar na
comunidade. Será uma protegida da Ordem. Nós somos
guerreiros, não pode entrar em sua idade e sem treinamento.
A comunidade é formada por aqueles que estão sob nossa
proteção e cuidado, famílias que ao chegar seu momento se
entregaram à Ordem e receberam a vida como presente.
- Tudo isso se entregar Alex a você.
- É obvio. - assentiu com a cabeça - Uma vida por outra.
Também poderia entrar se contribuísse com um filho a nossa
causa, ou alguém que possa se transformar em um guerreiro,
com o tempo. Mas este não é o caso. - disse movendo a mão
como se jogasse a idéia para um lado - A vida que oferecemos
a você é magnífica, querida. Tem até esta noite para decidir.
Lamento não haver dado mais tempo a você, mas a
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esconderam muito bem.
- Você é muito amável, mas acredito que não necessito atéesta noite para me decidir - disse Elisa levantando-se, com o
porte de uma rainha. - Minha lealdade está com os que amo, e
a Ordem não consta dessa lista. Minha escolha está tomada
desde o momento em que tive liberdade para decidir, e não
lhes diz respeito de forma alguma. Entendeu?
Alex saltou quando detectou a presença do caçador, ecorreu até o quarto de Gabriel. Mal passavam alguns minutos
do meio-dia, e seus poderes já estavam baixos ao mínimo.
Gabriel se levantou de um salto antes que a porta
terminasse de abrir, e estava vestido antes que voltasse a se
fechar. Não precisou de palavras, Alex tampouco as deu. Um
brilho iluminou o quarto, e o imortal já não estava ali. Alex
reuniu suas últimas energias para tentar averiguar o que
aconteceria na casa, sentindo-se totalmente indefeso por não
poder ir lá.
Elisa tentava respirar enquanto a mão do homem
pressionava sua traquéia. Fora jogada no chão, embora nãorecordasse como tinha chegado ali. Aterrada, viu que o
homem abria a maleta e tirava a espada da capa. Sentiu a
ponta metálica em seu pescoço, seguida pelo quente fluir do
sangue que ia tingindo de vermelho sua camisa. O homem
que se propunha a matá-la nem sequer piscou quando suas
lágrimas saltaram. “Estou vendo a face da morte” pensou ela.O caçador tomou ar e levantou a espada alguns centímetros,
empunhando-a com ambas as mãos. Mas a espada nunca
desceu.
O homem caiu no chão com a brutalidade do golpe, antes
de poder reagir. Elisa estremeceu quando uma vibração
sacudiu a terra, uma emanação de poder que a aterrou mais
ainda do que estava. O caçador foi atirado a seis metros dela,
segurando a espada, embora só o peso de cinco séculos de
treinamento conseguiu que não a soltasse quando recebeu
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109
o impacto. Ficou em pé com dificuldade, cambaleante, mas
orgulhoso, e levantou a espada. Seu oponente não fez nem o
menor movimento ante o desafio implícito em seus gestos, e oignorou completamente, girando-se para Elisa.
- Está bem?
Ela assentiu com a cabeça. Tinha a garganta muito dolorida,
e não podia falar. O homem loiro se dirigiu novamente ao
caçador, e o levantou no ar.
- Está em seu direito de fazer a escolha. Até a meia-noite é
intocável. Como a Ordem se atreveu a quebrar o pacto? - O
caçador ficou de pé, só para voltar a cair ante um simples
gesto de Gabriel. - Agora vá. E vai deixá-la em paz, ou
enfrentará a mim. E já sabe o que acontecerá a você se a
Ordem se inteirar que a atacou em período seguro… e sabe
que não será agradável. - ante a cara de assombro do homem,
sorriu - Sim, sei perfeitamente que quebrou as ordens, pensa
que sou idiota?
O homem ficou de pé e pôs-se a correr, dando as costas a
Elisa e ao vampiro.
Gabriel se aproximou e estendeu a mão para ela, e ela a
usou para levantar-se. Ele a puxou até uma cadeira e serviu
um copo de água a ela.
Elisa aproveitou a distração para observá-lo. Era magnífico,
embora o pólo oposto de Alex. Talvez um pouco mais alto,com uma beleza completamente desumana. Muito etéreo para
sentir-se a vontade com ele, muito poderoso para inspirar
confiança.
- Suponho que saiba quem sou.
- Gabriel?- sua voz soava áspera e sua garganta doíahorrores, mas pelo menos podia falar.
- O mesmo - respondeu o homem sentando-se em frente
dela. Não usava óculos de sol, e os olhos azuis brilhavam
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sobrenaturalmente. Elisa pôde notar que o sol o incomodava, e
esticando um braço dobrou a sombrinha de forma que o
mantivesse a sombra. Gabriel pareceu surpreso por tão singelogesto, e sorriu para ela em agradecimento.
- Não é tão terrorífico quanto acreditava.
- O quê?- O vampiro parecia estupefato.
- Não dá tanto medo como esperava - voltou a dizer Elisa,esta vez rindo abertamente da cara de surpresa do vampiro.
- Está me dizendo que não dou medo a você?
- Agora não. Quando chegou me assustou bastante, mas
agora mesmo parece bastante… normal, dentro do que cabe.
- Alex contou a você algo a respeito de mim?- perguntouGabriel.
- Algo - Elisa encolheu os ombros, tentando ao mesmo
tempo não ofender Gabriel e não expor Alex.
- Não se incomode - sorriu o vampiro - Posso ler mentes, ao
contrário de seu apaixonado.
- Pode o quê? Isso é impossível!
- Não é.
- Demonstre-me isso.
- Está pensando que sou um prepotente, que só disse a vocêque lia mentes para assustá-la e que na realidade não o faço.
Também pensa que me faço o interessante com as lendas sobre
o décimo filho, e que sou um presumido porque não me
dignei a fazer o mais mínimo caso do caçador, e sim o
derrubei sem nem sequer olhá-lo.
- Eh…
- Desculpas aceitas - sorriu Gabriel. - Teria que ver a mente
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de Alex, a tua não se pode nem comparar com a dele.
Elisa teve uma idéia.- Você gosta de música? – Gabriel assentiu, um pouco
confuso pela mudança de assunto. - Pois cada vez que esteja
perto, vou pôr BSO na minha mente.
-Hem?
- Exatamente. Quando quiser se colocar em minha mente,vou pôr música para você. – franziu o cenho - Eu não gosto
que invadam minha intimidade, de acordo?
Gabriel não saía de seu estupor. Estava falando com ele
como se fosse um menino! A ele!
Só para testar, sondou ligeiramente os pensamentos deElisa, e quase deu um salto quando uma cançãozinha popular
começou a soar em sua mente, com seu ritmo insistente e
simples. Elisa soltou uma gargalhada ao ver a cara de horror
de Gabriel, e tentou deixar de pensar na canção, mas o ritmo
tinha se enfiado em sua cabeça e não era capaz de esquecê-lo.
Frustrada, franziu o cenho tentando recordar outra melodia,mas era impossível.
O vampiro se deu conta do que ocorria e também se pôs a
rir, recostando-se para trás na cadeira, relaxando. Elisa se
assombrou ante a mudança que a risada havia produzido nele.
Parecia um rapaz jovem e alegre, sem rastro do enigmático
vampiro que havia aparecido um momento antes.
- Fica muito mais bonito quando sorri. - Gabriel deixou de
rir, atônito.
- Sempre tem que dizer algo que me surpreenda?
- Você não gosta de minha faiscante personalidade?- sorriuela.
- Agora entendo porque o parvo do Alex a acha tão
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fascinante. É na verdade irreverente, espontânea.
- Falando de Alex… - começou Elisa.- Se não houver mais remédio - cortou-a Gabriel – Mas, por
favor, nada de sentimentalismos nem doçuras demais. Não
acredito que possa aguentar uma partida dupla disso.
- Nada de sentimentalismos - resmungou Elisa -
definitivamente, tinha que ser um homem. Isso não se curacom os anos. - a risada de Gabriel voltou a soar no jardim. - Só
queria perguntara você por que ele não veio em seu lugar.
- Porque sob o sol do meio-dia é tão indefeso quanto um
gatinho.
- Já me contou isso. Por que você não está indefeso? Ele medisse que ocorria a todos os vampiros…
- Porque eu, ma petite , sou muito mais velho, muito mais
poderoso e muito mais preparado que ele.
- Também é muito mais modesto?- espetou-o Elisa.
- Não - confessou Gabriel. - Definitivamente, essa parte eusaltei. Vai me deixar terminar?- Elisa assentiu – Como eu
dizia, meus poderes também se reduzem durante o dia. O que
ocorre é que sou muito mais forte, e inclusive com poderes
reduzidos sou capaz de causar muitos problemas. Além disso,
Alex não teria podido vir. É a tradição, uma noite para decidir
seu caminho. Não pode ver você até que o sol se ponha.
- Vai vir aqui?
- Pessoalmente, eu recomendaria a você não ficar. O único
que pode fazer o truquezinho de desmaterializar-se sou eu, e
ele terá que vir a pé. Além disso, para o que têm planejado não
serve a casa de mamãe - disse com um sorriso diabólico.
- É realmente irritante.
- É parte de meu encanto - riu Gabriel - Vê? Está
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sorrindo. Isso implica que no fundo gosto de você. Embora
não tenha medo de mim.
- A sério o surpreende que não tenha medo de você?
- Na realidade não, sabe? De toda forma, não poderia
machucar você… teria Alex me aporrinhado toda a eternidade
e, vendo o quanto pode ser insuportável, a eternidade é muito
tempo.
- De toda forma, obrigado. Vai fazer o truquezinho do flash
ao ir?
Gabriel soltou outra gargalhada. Havia tempos que não ria
tanto como agora.
- Sim, vou fazer o truquezinho do flash. Quer fechar seusolhinhos? – brincou enquanto se levantava.
- Não, quero me despedir. - ficou nas pontas dos pés e deu
um beijo na face dele. - Obrigado por me dar uma mão antes.
- De nada - respondeu Gabriel justo antes de desaparecer no
ar.Alex esperava no quanto, dando voltas como alma penada.
Um brilho no quarto contíguo indicou a volta de Gabriel, e o
vampiro se precipitou para ele, os dois quase colidindo.
Gabriel se afastou bem a tempo, e ficou em frente de Alex.
Como sempre, a expressão de seu rosto não dizia nada a
respeito de seu estado de ânimo.
- Está bem - disse Gabriel - um pouco machucada, mas bem.
Por que não o detectou antes?
- Ocultava-se, e usou minhas próprias carências para
refugiar-se nelas. Fez mal a ela?
- Apertou um pouquinho sua traquéia, mas nada muito
grave.
- Matá-lo-ei. - Gabriel percebeu a ira que emanava de seu
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acredita que sou?
- Não era por isso - disse Alex - Estou tentando fazer meucelebro voltar a funcionar.
- Não se incomode - disse Gabriel - vai voltar a perder a
cabeça logo que a veja. E só faltam… - olhou o relógio - seis
horas.
Elisa entrou em casa e se encontrou com as três mulheres nasala. Emma queria descer a cidade para comprar algumas
tolices, mas nem Dafne nem Rafaela queriam acompanhá-la.
Elisa também declinou o convite, e Emma se foi sozinha,
resmungando.
Rafaela partiu em menos de cinco minutos, pois tinha
combinado com seu clube de leitura e não queria chegar tarde.Tão logo se foi, Dafne suspirou e agarrou a cabeça entre as
mãos, esgotada. Elisa se fixou em sua irmã, estava muito
pálida, sentada na poltrona. Rafaela não se deu conta, mas
parecia a ponto de desmaiar.
Tentou aproximar-se dela, mas Dafne, armando-se de
integridade se levantou e partiu.
Sozinha de novo, olhou o relógio. Ainda faltavam seis horas
para o anoitecer, seis horas! Não tinha nem idéia em que
ocupar o tempo até então. Sua irmã estava zangada com ela,
Alex estava longe e Emma na cidade. Ia ser uma tarde muito
aborrecida…
CAPÍTULO 12
A praia voltava a estar deserta. O entardecer parecia
diferente para Elisa, mais puro, mais intenso. Talvez
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porque cada segundo que passava a aproximava mais de Alex.
De um vampiro.
Ainda não tinha assimilado isso de tudo. Era má sorte que o
primeiro homem por quem se apaixonava resultasse não ser
um homem! Mas claro, Elisa sempre soube que não era uma
garota normal. Quando o restante de suas amigas estavam
aprendendo a flertar e saindo com meninos, ela vivia em seu
mundo. Não é que não gostasse de ir às festas, nem dançar,
nem tomar alguns drinques com os amigos. Tinha tantos
amigos homens como mulheres, mas nunca quis chegar a algo
mais. Simplesmente, era diferente. E essa diferença a levou a
apaixonar-se pelo homem mais impressionantemente bonito,
terno e inteligente que tinha conhecido, O que tinha de mau?
Nada. Então por que demônios não podia aceitar de tudo o
fato de que não era humano? Estava completamente
apaixonada, sabia. Não havia volta atrás. E por mais que
pesasse, a decisão já estava tomada.
A presença de Elisa era intensa na cidade. Depois de dois
dias vigiando cada movimento seu, estava mais sintonizado
que um radar. Podia encontrá-la em qualquer lugar, e não osurpreendeu que estivesse na praia. Adorava o mar.
aproximou-se de suas costas, aspirando seu aroma. Ela o
percebeu e se virou sorrindo.
- Pensava que ainda demoraria - disse.
- Não podia aguentar nem um segundo a mais dosnecessários. - aproximou-se mais dela. – Estou esperando este
momento há dois dias.
- Eu também - confessou ela sorrindo para ele.
- Já se decidiu?- em seus olhos se notava a dúvida, e algo
mais. Pela primeira vez viu medo em seu olhar, e isso aconvenceu mais que qualquer outra coisa que pudesse dizer
ou fazer.
- Decidi – afirmou - Estive pensando até o último
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minuto, sabe?
- A Ordem fez uma proposta muito generosa a você - Alex aolhou como que duvidando. - Teria uma vida segura, sem
mudanças, e muito longa.
- Como sabe que a Ordem me visitou?- ela pareceu pensar
um segundo - Gabriel. Foi ele, não é verdade?
Alex assentiu com a cabeça, querendo que ela não visse otemor em seus olhos. Se escolhesse afastar-se dele… não sabia
o que faria. Cada segundo de espera o angustiava. Tentou
respirar lentamente, desfazer o nó que tinha no peito, mas
tampouco funcionou. A única coisa que podia fazer era
contemplar seus imensos olhos de ametista e tentar receber o
golpe o mais levemente possível. Sem separar seus olhos do
de Alex, Elisa começou a falar:
- Ofereceram-me uma vida muito longa, muito segura -
disse ela - Ofereceram-me amparo. Mas tudo isso em troca de
entregar você.
- Quer que me entregue?- a voz dele tremeu.
- Faria isso?- Alex inspirou profundamente, reunindo toda
sua integridade para não desmoronar nesse mesmo momento.
- Sim - pôs nessa simples palavra sua alma, esperando que
ela a destroçasse.
Sem esperar outro segundo, ela se jogou em seus braços.Apoiou a cabeça em seu peito, tentando evitar as lágrimas que
logo deslizavam pelas suas faces. Abraçou-o com todas suas
forças. Com a cabeça ainda contra seu peito, ela soluçou.
- Acredita de verdade que faria isso? Ofereceram-me uma
vida tranquila se entregasse a quem amo. Como podia aceitar
isso? - Não estava segura se a ouviria, mal conseguia entender
a si mesma entre os soluços. - Não quero machucar você, não
quero que lhe façam mal. – ressaltou - Quero estar ao seu lado,
quero que me deixe amar você como merece ser amado.
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Não me importa se for um vampiro, não me importa se você
não pode me amar, eu amarei pelos dois.
Os braços de Alex a rodearam, aproximando-a tanto dele
que doía. Mas Elisa não queria soltar-se, só queria ficar assim
o resto de sua vida. Já não havia dúvidas, tinham se dissipado
assim que o sentiu perto dela. Queria uma vida ao seu lado,
mais ainda, queria uma eternidade ao seu lado. Ofegou
quando sentiu o mundo ao seu redor dissolver-se, e se agarrou
mais a ele. Isso não era pela emoção do momento! Quando
levantou a cabeça estavam em seu apartamento. Alex também
parecia um pouco surpreso, embora a única enjoada fosse ela.
Franziu o cenho quando recordou que, segundo Gabriel, Alex
não podia transportar-se.
- Você fez isso?
- Não - negou com a cabeça e sorriu - Acredito que foi um
presentinho de Gabriel, para que não déssemos um espetáculo
na praia.
- Terei que dar obrigado a ele. Embora seja incômodo.
Alex emoldurou seu rosto entre as mãos, olhando-a tão
intensamente que tudo parecia dar voltas. Tudo exceto essas
íris esmeralda fixas nela, cheias de promessas e de vida.
Tomou ar fortemente e fechou os olhos, disposto a fazer o que
jurou não repetir nunca a outra mulher.
- Amo você. - os olhos dela voltaram a encher-se delágrimas, e ele as limpou com os polegares, bloqueando seu
caminho pelas faces da jovem. - Amo tanto você que dói.
Quero passar o resto de minha vida fazendo você feliz, ao seu
lado.
- Quero ser igual a você, sua companheira.
- Minha esposa? - perguntou ele. Os olhos dele brilhavam
otimistas - Sei que neste século não está muito de moda casar-
se, mas me daria a honra de se casar comigo?
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- Sim - sussurrou ela. - Sim! OH, Deus, claro que sim!
- Compartilhará suas noites comigo?- Minhas noites - beijou-o - e meus dias.
- Aceitará ser um monstro para ficar ao meu lado?
- Você não é um monstro. Só é de outra espécie. E eu quero
estar contigo, seja como for. Se você não pode ser mortal, eu
serei imortal para você. Inclusive se isso implicar em bebersangue - franziu o nariz.
- Já verá como não é tão ruim - ela seguiu com o nariz
franzido, em um gesto encantador.
Alex sorriu e deu um beijo na ponta do nariz dela, antes de
tomar seus lábios. Ela gemeu e jogou os braços em seupescoço, enredando os dedos em seus cabelos. Como havia
podido sentir tanta falta dele? Ele a levantou nos braços e a
levou até seu dormitório.
Quando a deixou sobre a cama sorriu.
- Tem que me prometer que nunca nos desfaremos destacama. - Fez cócegas em sua barriga.
- Estamos a ponto de fazer amor e lhe ocorre pensar nisso?
Então não o distraí muito - disse enquanto desabotoava a
camisa. - Mas posso arrumar isso rapidamente. – Puxou a saia
e a tirou. Ao ver a cara que Alex fez sorriu. – Continuapensando em móveis? - Desafiou-o.
- Não… agora mesmo não posso pensar em nada.
- Pois penso em me encarregar de que tudo siga assim.
Alex puxou sua camisa, mas ela afastou suas mãos. Foi
desabotoando cada botão lentamente, tomando seu tempopara cobrir de beijos cada centímetro de pele que conseguia
alcançar. Quando a tirou de tudo, Alex lhe respondeu
acabando de despi-la. Avançou para tomar um seio entre
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pescoço. Agora cabia a ele decidir, embora a decisão já
estivesse tomada. Apesar disso quis dar a ela uma última
chance para retratar-se.
- Está segura de que quer fazê-lo?- disse contra sua veia.
Levantou seu rosto para olhá-la nos olhos e ela assentiu com a
cabeça.
Antes de poder voltar a pensar ele fincou as presas em sua
pele, fazendo o que nunca tinha planejado: criar um novovampiro. Mas ela não era um neófito normal e comum, e com
essa criação selava seu destino.
Quando um vampiro tomava uma companheira, era uma
decisão irrevogável. Poderia criar mais dos seus, mas nunca
teria essa união com eles. Só podiam fundir suas almas uma
vez em toda a eternidade, e Alex a escolheu para isso. A partir
desse momento, estivessem onde estivessem, sempre
poderiam encontrar um ao outro e reunir-se.
Só pedia a Deus não equivocar-se. Esse era o medo de todo
vampiro: que sua companheira não fosse à correta. E ela era
muito jovem para entender esse nível de compromisso.
O sangue de Elisa o queimava em sua mortalidade. Era uma
substância pura, cheia de vida. Alex entesourou cada matiz,
pois era a última vez que o sentiria. A partir dessa noite o
sangue de sua amante seria puro, potente, mas não mortal.
Não estaria viva, não poderia saciá-lo. Elisa estava deixando ir
sua vida de mortal nos braços de um vampiro, confiando
completamente que ele não a deixaria morrer. E não o faria,
prometeu-se Alex. Elisa renasceria mais forte que nunca,
perfeita em sua imortalidade. Era sua promessa.
Alex tinha visto criações que deram errado, algumas delas
falharam porque o vampiro não pôde parar a tempo. Nãohavia mais nenhum dos seus no quarto, assim não poderia
permitir-se perder o controle. Sem deixar-se distrair pelas
convulsões de sua amante, se concentrou no pulsar do
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sangue, cada vez mais lento, mais suave. Quando esteve
seguro de que não pulsaria uma só vez mais se continuasse,
separou-se dela e levou seu pulso direito aos lábios, abrindoum ferimento com os dentes. O sangue começou a brotar
abundantemente, mais intenso que o habitual, repleto da vida
de Elisa. Aproximou o pulso dos lábios, e deixou cair algumas
gotas dentro de sua boca, esperando que revivesse. Quase
entrou em pânico ao ver que não reagia imediatamente. Os
segundos que passaram foram eternos, até que ela abriu osolhos e inspirou fortemente.
Elisa não podia ver nada, não podia ouvir nada. Quão único
podia sentir era o sangue em seus lábios, e cheirá-lo correndo
pelo pulso de Alex. Ele aproximou o ferimento aos lábios,
deixando-a continuar bebendo do néctar de suas veias. Ela se
perdeu nas sensações, balançando-se no compasso do
batimento de seu coração. Desejou que esse êxtase não
terminasse nunca, mas o fez quando a dor chegou. Gemeu
pela agonia que se apropriava de seu corpo, sentindo que cada
centímetro dela estava em chamas.
Alex soube exatamente o momento em que o prazer trocouà dor, e retirou o pulso de sua boca. O sangue não ofereceria a
ela nenhum consolo para sua dor, só tinha que esperar que ela
passasse. Em sua própria conversão estava tão ferido que mal
a notou, mas Elisa estava sofrendo algo que nunca antes tinha
conhecido, uma tortura para os sentidos. Seu corpo se dobrava
pela força do pranto enquanto ela se balançava em sua dor.
Não suportava vê-la sofrer, assim fez a única coisa que lhe
ocorreu: sustentou-a em seus braços enquanto sussurrava em
seu ouvido que passaria rápido, que a amava e que estariam
sempre juntos. Seus soluços ressoavam contra seu peito,
embora pouco a pouco fosse acalmando-se.
Quando a dor desapareceu, sentia o corpo todo formigando.
Elisa se separou do abraço de Alex, e se reclinou de novo.
Sentia-se melhor que nunca, e ao mesmo tempo estranha
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dentro de seu corpo. Assombrada, sentiu que algo roçava seu
lábio inferior.
Deus santo, tinha presas! Embora fosse previsível… afinal,
agora era uma vampira.
Alex sorriu quando viu sua surpresa e acariciou seu lábio
inferior, primeiro com a ponta dos dedos e depois com seus
próprios lábios.
- Ainda tem fome?
Ela voltou a gemer quando o aroma do sangue chegou ao
seu nariz. Sim, ainda tinha fome. Alex riu quando sentiu suas
próprias presas crescendo e a puxou contra ele.
- Acredito, amor, que isso é um sim.Elisa se aconchegou contra ele, acariciando seu pescoço com
os lábios. Quando encontrou o ponto exato sentiu o toque leve
de sua língua antes da espetada de dor que causaram suas
presas ao entrar na pele sensível do pescoço.
Ele esperou alguns minutos, sentindo sua excitação crescercom cada sorvo, até que não pôde aguentar mais e a possuiu,
em corpo e sangue. Moveram-se juntos, criando a harmonia
perfeita, unidos como nunca nenhum mortal poderia estar.
CAPÍTULO 13
Alex despertou pela segunda vez em sua vida com Elisa
enredada entre seus braços. Ela já estava há algum tempo
acordada, e olhava para o teto com um sorriso nos lábios e
uma expressão curiosa no rosto. Curioso por saber o queestaria fazendo, virou-se e sentou a ambos. Ela o olhou
fixamente, e logo soltou uma gargalhada.
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- O que é tão engraçado?
- A vizinha do andar de cima está chorando com atelenovela. Quem vê telenovelas às seis da manhã?
- Pode ouvi-la?- perguntou com um sorriso.
- Posso ouvir meio edifício - sussurrou ela. - E não só o que
dizem, e sim o que sentem. Mas não o que pensam - disse com
uma careta.- Não estranho. Isso nem eu posso fazer.
- Pois é um aborrecimento. Teria gostado de saber o que
pensam.
- Não é tão maravilhoso, pergunte a Gabriel. A maioria das
vezes é muito incômodo saber o que as pessoas pensam devocê.
- Sobre tudo se tiver a aparência de Gabriel, não?
- Acha ele bonito?- perguntou rapidamente.
- Claro que o acho bonito, quem não acharia?- Claro. Quem não? - bufou Alex.
Separou-se dela e a olhou com o cenho franzido. Elisa não
entendia nada, que demônios supunha que tinha feito errado
para que a fulminasse com os olhos? Tentou procurar o
motivo, mas não lhe ocorreu nada que pudesse havê-lozangado tanto em tão pouco tempo. Uma idéia maluca lhe
veio à mente, mas a desprezou. Impossível! Não podia estar…
Mas estava. Alex não achou nenhuma graça em ouvir Elisa
comentar a beleza de Gabriel. Saber que o achava bonito fez
que o ciúme carcomesse suas vísceras, ele, que nunca o havia
sentido antes. Fulminou-a com os olhos, consciente de que elanão tinha idéia do por que se zangou. Viu seu rosto iluminar-
se ao descobrir o motivo, e logo voltar a apagar-se. Alex não
tinha idéia de como reagiria, mas a última coisa que
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esperava é que atirasse o travesseiro nele.
- Está ciumento! Como pode estar com ciúmes?- recriminou-o - Acabo de dizer a você que o amo, acabo de me converter
em… Olhe! Tenho presas! - disse fazendo uma careta - E a
única coisa que lhe ocorre é franzir o cenho para mim quando
digo que seu melhor amigo é bonito? Pois vá se acostumando,
porque não penso em me conter quando Brad Pitt aparecer na
televisão…
- Brad Pitt?
- Sim, Brad Pitt, o homem mais bonito do mundo, o mais
espetacular, o do traseiro mais… - calou-se - Bom. Fez uma
idéia, não?
- Fiz uma idéia - disse rodeando-a com os braços. - Sintomuito.
- Ciúmes… - beijou-o - Isso é uma estupidez. Além disso,
Gabriel é muito bonito, não sei se me entende. Irreal.
- Deixa de falar de Gabriel ou vou sentir antipatia por ele.
- Se você aguentou duzentos anos…
- Duzentos e cinquenta - interrompeu-a.
- Duzentos e cinquenta?
- Sim. Converteu-me em 1759, e isso faz um total de
duzentos e quarenta e oito anos, quatro meses e cinco dias.
- Deus santo… Que idade tinha quando aconteceu?
- Vinte e oito anos.
- Era muito jovem.
- Você é mais jovem do que eu era. Mesmo Gabriel era mais jovem que você quando o converteram. Estranho, é raro
encontrar um vampiro que supere os trinta anos. Somos uma
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raça jovem. Eternamente.
- Gabriel tinha menos de vinte e quatro anos?- Sim. Nunca fala de seu passado, mas me contou isso. Foi
um descuido de sua parte.
À mente de Alex voltou à cena, o castelo coberto de neve, o
ser que o olhava mortalmente sério da outra ponta da sala,
perto do fogo.Alex tinha estado desesperado, desejando voltar a ser
mortal, chorando todas as noites pelo que nunca mais teria.
Inclusive tinha se negado a alimentar-se até que Gabriel o
obrigou, imobilizando-o e dando a ele seu próprio sangue.
Naquele tempo não havia bancos aos quais subtrair o fluido
vital, e o obrigou a recorrer a uma técnica tabu entre osvampiros. Só os amantes compartilhavam sangue depois da
transformação, mas Alex não sabia. E Gabriel tinha superado a
repulsão natural a esse ato para permitir que ele continuasse
vivendo.
Gabriel se encontrava sentado em sua poltrona favorita. Em
suas mãos cintilava uma taça de vinho e sustentava com
cuidado um livro em seu colo. Costumava passar noites
inteiras lendo perto do fogo, quando não tinha que alimentar-
se e a Ordem lhe dava uma pausa.
Alex entrou na sala muito rápido, sustentando na mão a
carta de sua família.
- Quero voltar a vê-las. - exigiu.
- Sabe que não pode. - Deixou o livro de lado. Em seus olhos
brilhava a compaixão, mas Alex não se deu conta. Estava
muito ensimesmado em sua fúria, em seus desejos de
vingança.
- Vai jogá-las à rua. Minha mãe está muito doente. Quero
voltar a vê-las disse mais alto.
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- Alex, seja razoável. Não pode ver sua família agora.
Enviaremos dinheiro para elas, saldaremos suas dívidas.
- Não seja estúpido.
- Alexander, se apreciar algo em sua existência, não cometa
o erro de me insultar. Minha paciência não é legendária. -
Gabriel ficou de pé, o poder emanando dele em uma ameaça
silenciosa. Alex retrocedeu um pouco, mas não se deixou
intimidar.
- Não quero saldar suas dívidas. Gabriel, quero voltar para
minha família.
- Não pode. Não é sua família, porque você já não é um
mortal.
- Porque você me fez isto! - gritou.
- Porque você estava morrendo. - repôs o imortal friamente.
- E se houvesse morrido, ninguém poderia ajudá-las.
- Eu não queria morrer! Eu não pedi a você que fizesse isto
comigo!- Mas ia morrer. - Gabriel era implacável. - E se deseja tanto
se libertar desta vida, é muito fácil. Eu mesmo o ajudarei, se o
agradar.
- Eu não quero me libertar desta vida - a fúria de Alex
crescia por momentos. - Eu não queria esta vida. Eu nãomerecia morrer! E você me fez isto….
Alex não pôde terminar a frase, antes de poder pronunciar
uma só palavra mais estava contra a parede. Gabriel o tinha
suspendido e lançado contra a parede em um segundo. A
estrutura rangeu ligeiramente, e notou que caíam pedacinhos
de estuque sobre ambos.
A cara do vampiro era apavorante, os lábios jogados para
trás mostrando as presas e o rosto convertido em uma máscara
de ódio. Quando falou o fez lentamente, remarcando cada
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Aránzanzu Rodriguez - 01 Uma Estranha
Vingança
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129
- Perdão, estava distraído.
- No que pensava? Estava falando comigo, e de repente emoutro mundo.
- No dia em que Gabriel me disse que morreu aos vinte
anos.
- Vinte? - O rosto de Elisa refletia o horror que sentia. - Era
tão jovem? Parece mais velho… não muito, mas não aparentavinte anos.
- Carinho, em outras épocas com vinte anos já era um
homem. As mulheres se casavam aos quinze, ou inclusive
antes. Não se levava tudo com tanta calma como agora.
- Certo , mas tão jovem… continua me parecendo muito brutal, em alguém que mal tinha começado a viver. Nem
sequer eu estava totalmente segura de que não era muito cedo
para mim, e tenho quatro anos a mais. É por isso que tinha
aquela cara?
- Que cara?
- Essa cara triste que fica às vezes quando me olha. Como se
não estivesse me vendo, e ao mesmo tempo… não sei. Não
posso explicar.
- Não. - surpreendia-o sua percepção, tão aguçada, e dando
sempre no ponto exato. - Suponho que fico assim quando
penso no passado.
- Quer me contar isso?
- Hoje não - sorriu ele. - Hoje é um dia para explorar, para
que veja o que nunca viu e sinta o que não sentiu. Não para
perder-se entre as névoas do passado. Voltou a nascer -
levantou-a nos braços e deu um giro com ela pelo quarto. – Hoje vamos celebrar.
- E o que vamos fazer?- sorriu ela - Falta pouco para
amanhecer. Posso sentir. - soltou uma gargalhada. - Posso
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Aránzanzu Rodriguez - 01 Uma Estranha
Vingança
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130
sentir! Você também?
- Claro.- Sinto-me tão estranha…
- Entendo. Que tal se começarmos pela cozinha?
- Eu voto pelo banheiro – propôs Elisa. - Eu não gosto da
idéia de tomarmos café da manhã nus…
- Entretanto a mim parece estupenda - disse olhando-a de
novo com desejo. Ela escapou de seus braços e parou em
frente dele.
- Não, não, não… - negou com um dedo – Temos tempo
para isso depois. E tenho fome. - disse. Logo pareceu
concentrar-se em si mesma e retificou. - Acredito. - soltou umgrunhido. - Necessito algo, mas não sei o que é. Você sabe? -
Alex soltou uma gargalhada.
- Não pode necessitar de sangue, acabo de converter você.
Assim suponho que tem fome. Para falar a verdade, também
não comi.- Comida? Quer dizer, Comida de verdade? Acreditava que
os vampiros viviam apenas de sangue…
- Amor, os vampiros vivem – disse ressaltando as palavras -
de sangue, mas também comemos e bebemos. Viu-me comer,
não é verdade?- É verdade - afirmou ela.
- Pois então vá tomar banho.
- Hem?
- E enquanto você toma banho, eu vou fazer algo paratomarmos no café da manhã, de acordo?
- Por que não toma banho comigo?- perguntou com um
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Vingança
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131
sorriso.
- Porque supostamente está com fome – ele respondeurapidamente. - E se entrar na ducha, posso assegurar a você
que não sairemos por muito tempo de debaixo da água. Assim
não entrarei nesse banheiro até que você saia.
Ela entrou no banheiro com uma gargalhada, enquanto que
Alex se dedicava a explorar a cozinha. Contemplou os
armários, rigorosamente ordenados, cada coisa em seu lugar.A cozinha refletia sua personalidade: os armários eram
pintados de amarelo e verde, e abrindo a despensa encontrou
uma pequena coleção de xícaras que competiam umas contra
as outras no ridículo. Achou graça em uma com forma de
vaca, e a separou das outras.
A geladeira estava cheia com o oposto de tudo que havia na
sua: muita fruta e verdura, carne fresca… em vez de
hambúrgueres e pizzas pré-cozidas. Bufou, pensando que
nada podia ser completamente perfeito. Se gostava de comida
saudável, comeria comida saudável. Embora não tendo que se
preocupar com colesterol nem demais achaques7 , a comida
lixo era realmente boa. Suspirou ao tirar o pacote de donuts, a
caixa de sorvetes e o tablete de chocolate. Menos mal! Era
humana! Bom, agora não… mas isso dava no mesmo.
Levou o chocolate para a sala, suco e fez uma salada de
frutas com as frutas que encontrou, polvilhando-a de açúcar.
Ao atravessar o corredor ouviu o ruído da água, e a elacantarolando suavemente. Tentou resistir… três segundos.
Elisa se sobressaltou quando ele a abraçou pelas costas e
começou a mordiscar seu pescoço.
- Você não tinha prometido ficar fora?- disse quando
conseguiu respirar de novo. Alex a olhou maliciosamente,com aquele sorriso que a fazia esquecer até seu nome.
7Achaques – doenças sem gravidade, mal-estar. (Aurélio)
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- Menti. - disse simplesmente, para depois voltar a beijá-la
antes que ela pudesse dizer mais nada.
Um bom tempo depois conseguiram vestir-se e chegar a
sala, onde ela contemplou a mesa com o café da manhã,
surpreendida.
- Fez isto antes de vir me atacar na ducha?
- Claro. Que tipo de ser acredita que sou? Mas…. Prepareium café da manhã frio - confessou. - No caso de não conseguir
resistir à tentação, como depois aconteceu.
- Vai ter o gosto igual?- perguntou olhando a comida
dubitativamente. - Quer dizer… já não a necessitamos como
antes, Não é?
- Quando disse a você que não a necessitava? Temos que
comer sim, não tão frequentemente como os mortais, mas é
necessário. E não, não vai ter sabor igual - repôs com um
sorriso. - Quer provar?
Elisa assentiu com a cabeça, mas ficou olhando a comida
com aspecto indeciso.
Com cuidado, Alex pegou uma pequena porção de fruta e a
estendeu. Ela se decidiu e mordeu o morango, abrindo muito
os olhos quando notou o sabor. Era muitíssimo melhor!
Sentia… como se todos os morangos do mundo estivessem
reunidos naquele bocado. Olhou para seu companheiro comos olhos arregalados e ele rio de sua expressão de
incredulidade.
- É muitíssimo melhor! - quase gritou quando acabou de
engolir. - Como podia comer comigo e manter a cara de
indiferença?
- Porque, como a tudo, se acostumará com o tempo - repôs o
vampiro. – E poderá dissimular para que ninguém se dê conta
de que…
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- De que há uma orgia em sua boca?- ela acabou a frase.
-Eu adoro essas expressões modernas. Agora provachocolate. É uma pena que não o tivesse em minha infância,
teria sido um dos primeiros a sofrer de obesidade infantil.
Continuaram brincando e dando-se de comer mutuamente
até que a manhã esteve avançada. Elisa se surpreendeu
quando os poderes que mal tinha adquirido começaram a
desaparecer rapidamente, mas Alex explicou a ela que eracompletamente normal. Não gostou nada, mas aceitou sem
problemas.
Um pouco mais tarde queria sair pela cidade para descobrir
tudo o que sua nova vida oferecia, mas Alex se negou.
- Por que não? Só dar uma volta.
- Não podemos sair até que seja reconhecida como vampiro.
Sinto muito, carinho.
- Reconhecida como vampiro? Que diabos é isso? E por que
sempre há cláusulas estranhas em tudo o que faz? Diz-me que
é um vampiro: não pôde me ver por dois dias; converte-meem vampiro e tenho que ser “reconhecida”. Há algo mais que
não saiba ou isso é tudo?
- Isso é quase tudo. - disse ressaltando o quase. - Ser
reconhecida não é nada extraordinário, e quando muito
demorará uns dois dias, embora espere que menos.
- E de que se trata?
- Bom… os vampiros mais velhos formam o conselho, sabia
disso?
- Não - disse ela zangada.
- Pois agora já sabe - sorriu ele. - E não se zangue, cenho
franzido fica muito mal em você. Não podia falar disso a
nenhum mortal, assim não pude contar isso a você.
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- E se tivesse me contado isso?
- Não sei. A lei diz que me julgariam por traição e medecapitariam.
- Está brincando?
- Não. O conselho é nosso órgão vital, que nos mantém
unidos e fortes. Se alguma informação sobre ele for revelada e
chega à ordem seria terrível, e poderíamos acabar mortos eenterrados, assim é muito punido que se fale dele.
- Entendo.
- Como estava dizendo a você, os vampiros mais velhos
formam o conselho. São dez, como os filhos da lenda, e são os
que decretam as leis e controlam a todos os nossos. Quandoum novo vampiro é criado, o conselho tem que dar sua
aprovação.
- E se não?- um calafrio percorreu suas costas.
- Matariam você - mas ao ver a cara de horror dela retificou
rapidamente - Mas isso não aconteceu em cinco séculos, assimnão se preocupe.
- Grande consolo - disse ela com a voz entrecortada.
- Já verá como nada acontecerá - respondeu ele sorridente.
- Isso espero. Não chegamos até aqui para que me matem,
não é verdade? - Alex respondeu com uma gargalhada.
- Agora, Que tal se formos a nossa casa? Como tecnicamente
também é minha casa posso levar você sem ter nenhum
problema com as normas. Assim poderá conhecer Gabriel
oficialmente
- Oficialmente?
- Supõe-se que nunca deveria ter dado uma mão a você, isso
é intervir. E durante os dois dias da tomada de decisões não se
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pode intervir na decisão de nenhum modo.
- Ah… pois por mim foi como se não o tivesse conhecidonunca - sorriu ela.
- Então, vamos. Continuarei contando mais sobre o conselho
a você.
CAPÍTULO 14
Gabriel não podia acreditar no que estava fazendo. Uma
parte de sua mente seguia incrédula, e com a outra parteinsultava a si mesmo. Não era de estranhar que uma imensa
dor de cabeça estivesse começando a enlouquecê-lo. Olhou
com expressão otimista o frasco de aspirinas que tinha na
mão, uma tolice, sabendo que nenhum medicamento ou droga
o afetaria. Jogou-o longe dele, e se virou.
Continuou pensando, mas se rendeu à evidência: tinha queir, embora só fosse por um momento. Fechou os olhos e se
concentrou em seu destino. Quando voltou a abri-los já tinha
chegado.
Verificou o lugar: estava vazio de toda presença. O caçador
tinha se retirado essa madrugada. Gabriel sabia por que, tinhasentido no mesmo instante o batimento do coração do novo
vampiro. Elisa já não era humana, e sua aura de neófito enchia
toda cidade. Ela e Alex teriam que partir logo, pelo menos até
que ela aprendesse a se controlar. A Ordem não duvidaria em
atacar, não com uma companheira recém criada. Se alguém
necessitava de amparo nesse momento, era Elisa.Então porque estava ali? Nem sequer ele mesmo sabia.
Deveria ir embora antes que acontecesse algo mais, algo que
seria completamente culpa dele, mas não queria. Ninguém
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poderia localizá-lo, nenhum caçador, nenhum humano. Era
curioso, estar de pé no meio de um jardim ao meio-dia e saber
que ninguém o veria. Caminhou até chegar à borda da piscina,onde a jovem nadava com braçadas longas e elegantes.
Agachou-se na borda, o suficiente para roçar a água com a
ponta dos dedos.
Dafne deixou de nadar para limitar-se a flutuar na água. Os
cabelos formavam redemoinhos ao seu ao redor enquanto ela
se impulsionava até a borda. Ficou parada exatamente em
frente a Gabriel, que não se moveu esperando a reação dela.
Isto também era um teste. Ele não podia ver nada nela, e
queria saber se ela era imune a todos seus poderes. Parecia ser
que sim, porque não perguntou a ele o que fazia em uma
propriedade privada vendo-a nadar. Só ficou contemplando o
espaço que ele ocupava, um lugar que ela via vazio, mas que
sabia que não estava.
Dafne sentiu o momento em que deixou de estar sozinha no
jardim. Era outra vez essa sensação de vigilância, não a que
punha seus cabelos em pé, e sim a outra. A que a fazia sentir-
se protegida, a sensação da voz de sua mente. Recordou comum sorriso o dia em que pôs voz nessa presença silenciosa, a
conversa sobre Joana D’Arc.
- Está aqui, não é verdade?
Gabriel ficou paralisado no lugar. Ela o sentia, Como podia
ser isso? Ninguém podia senti-lo se estivesse se ocultando,nem os membros do conselho eram capazes! Olhou-a
fixamente, tentando compreender o porquê dessa mente
estranha. Ela franziu o cenho, mas avançou para ele. Cruzou
os braços sobre a borda da piscina e apoiou a face em cima,
sem deixar de olhar para ele.
- Eu não gosto que tente se colocar em minha mente. É
realmente incômodo, sabia? - Ao ver que Gabriel se mantinha
em silêncio, continuou falando - Hoje não vai falar comigo?
Pois deve saber que eu não gosto nada de falar sozinha. E
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Aránzanzu Rodriguez - 01 Uma Estranha
Vingança
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vou me zangar se continuar tentando se colocar em minha
mente.
Gabriel não respondeu a ela, só ficou olhando como
mudava a cor de seus olhos conforme ia se zangando. Bufou8 e
tomou impulso para afastar-se dele, quando algo a deteve.
Gabriel ao dar-se conta de que se afastava estendeu a mão e
roçou sua face.
Ela parou no momento em que a tocou, e fechou os olhos,como se tentasse senti-lo só pelo tato. Mas se afastou antes que
ela pudesse comprovar se na verdade era algo tangível ou só
uma sensação.
- Quem é? - perguntou. - Não é um fantasma, não é mesmo?
Bom, pensando bem, gostaria muitíssimo. Até poderia
escrever algo para a televisão. Os fantasmas estão na moda.
“Não, não sou nenhum fantasma” - respondeu Gabriel.
- Pensei que não fosse falar comigo. - sorriu ela.
“Não pretendia fazê-lo. Não queria assustar você.”
- Não ia assustar me. Sempre senti coisas estranhas perto de
mim. – Confessou ela. – Embora nunca antes tivesse falado
com nenhuma delas.
“Sentiu isso sempre?”
- Sempre. - disse completamente segura. - Mas não disse aninguém, nem sequer a minha irmã. Não quero que pense que
estou louca.
“Sabe que não está louca. Só é uma pessoa muito especial.”
- Isso me parece um eufemismo para louca. Com certeza
diriam no manicômio. “Não aconteceu nada, carinho, é que éespecial” - sorriu ela. - por que você está aqui?
8Bufar – expelir com força o ar pela boca e/ou pelo nariz.
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Vingança
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138
“Para proteger você” - respondeu Gabriel antes de poder
pensar.
- Proteger-me do quê?
“Coração, não posso dizer isso a você”.
- Vai ficar aqui muito tempo? - Ao ver que não respondia,
ela voltou a sorrir. - Agora vai me dizer que já tem que partir,
não é sim?“Sim. Tenho que partir”.
- Vai voltar, não é mesmo? - Ela levantou os olhos, olhando-
o nos olhos embora não pudesse vê-lo. Gabriel não pôde
suportar a intensidade do olhar, e retirou o seu. Virou-se para
partir sem responder a ela, mas algo o deteve. Voltou aaproximar-se dela, e tomou seu rosto entre as mãos.
“Vou voltar. Prometo.”
E antes de poder fazer mais alguma estupidez, afastou-se.
Dafne saiu da piscina para ouvir sua mãe chamando-a.
Como sempre passava as manhãs nadando, Rafaela já sabiaonde encontrá-la. Nenhuma das duas falou durante a refeição,
mas à mulher não escapou o olhar ausente que tinham os
olhos da jovem. Era um dia abafadiço, o calor apertava forte,
mas as nuvens escuras pressagiavam tormenta. “Não
demorará a descarregar” pensou Dafne, e se assustou, porque
por um segundo soube que algo mais que a tormenta estava seformando.
Elisa caminhava pela rua protegida atrás de um imenso
óculos de sol que não lhe pertencia. Ainda assim, eram muito
claros para ela porque seus olhos ardiam ao mínimo raio deluz que se filtrava. Os óculos eram apropriados para Alex, que
o tinha colocado em cima de seu nariz antes de sair de casa,
dizendo que ela necessitaria muito mais que ele. Ele tinha
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Vingança
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os olhos entreabertos, e lacrimejavam pelo sol do meio-dia. Ao
passar por uma óptica suspirou aliviado e saiu cinco minutos
depois com um modelo novo para ela. O pôs, e seus olhosagradeceram imediatamente a escuridão que os envolvia. Mal
podia ver através das lentes, mas pelo menos sua cabeça não
doía.
Caminharam durante um tempo, até chegar a uma casa
enorme no centro. Elisa se surpreendeu ao vê-la, pois parecia a
típica casa de família, dessas que imagina com uma cerca
branca e muitas crianças ao redor. Alex sorriu e explicou a ela
que um hotel estava bem, mas que se planejavam ficar um
tempo em uma cidade sempre alugavam uma casa ampla para
viverem nela.
Levou-a até a sala, que ainda estava um pouco desordenadapela mudança, mas que parecia perfeitamente habitável.
- Gabriel?- perguntou Alex em voz alta. - Gabriel, está em
casa?
Ninguém respondeu. Alex deu de ombros e se virou para
ela.
- Já que não há ninguém em casa, Que tal se mostrar a você
nosso novo lar temporário?
- Eu adoraria. E depois de viver aqui?
- Aonde queira - sorriu ele - Carinho, o mundo é nosso.
- Sempre quis ir ao Egito. Podemos ir ao Egito? - perguntou
sorridente.
- Podemos acampar na cabeça da esfinge, se a agradar. -
respondeu ele. – Um momento… - disse falando para si
mesmo - Quem controlava o Egito?... Acredito que Abdel e
Aisha. Do conselho? Hmmm… acredito que sim. Não são
absolutamente territoriais e gosta dos novos, assim não haverá
problema.
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Aránzanzu Rodriguez - 01 Uma Estranha
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- Quando voltar a se expressar de modo compreensível me
chame, Sim?
- É muito simples. Em cada país habitam de forma fixa um
ou dois vampiros dos anciões. São os encarregados de
protegerem aos mais jovens de nós e de dar o alarme se a
Ordem atacar. Chamamos eles de guardiões.
- Abdel e Aisha são os do Egito?
- Exatamente. Embora não sejam apenas guardiões, já o
verá. É um casal de companheiros, antes Abdel estava só e
Aisha se encarregava de… acredito que era da Jordânia, mas
não estou seguro. Não diga isso a Gabriel, ficaria bem
aborrecido caso se inteire que não sei os nomes dos guardiões.
- É tão importante saber disso?
- Quando chegar a um país novo deve chamá-los. Eles
saberão que está aí e contarão com você se a necessitarem, ou
darão uma mão a você se necessitar deles. Costuma haver dois
por país, exceto no EUA, que está dividido em quadrantes… e
na França, que só há um.
- Gabriel é um deles?- perguntou.
- Gabriel, amor, é o único da França. E da Espanha, porque
Diego e Maria não suportam caçar.
- Um momento… Quantos anos Gabriel tem? - Alex soltou
uma gargalhada.
- Acredito que isso só ele e seu criador sabem. - disse o
vampiro. - Quão único sei é que supera os quinhentos anos
porque do contrario não poderia ser um ancião.
- Bom, eu diria que tenho uns dois mil trezentos e sete, mais
ou menos. – uma voz do vestíbulo os interrompeu. - Mas meagradaria que deixassem de falar de minha vida.
Gabriel entrou na casa como um relâmpago de cabelos
loiros. Fechou a porta rapidamente atrás dele, sabendo que
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Aránzanzu Rodriguez - 01 Uma Estranha
Vingança
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Elisa era especialmente sensível à luz. Sacudiu a cabeça e
passou as mãos pelos cabelos, como se livrando de um
pensamento incômodo.
- Gabriel! - Alex caminhou para ele, sorridente.
- Bom dia, irmão. – logo olhou para Elisa e sorriu. - Tem a
sorte de ter uma companheira bonita. Felicidades - e abraçou
Alex. - Felicidades a você também, - puxou-a pela mão e deu
dois beijos nela. - seja bem-vinda.
- Gabriel, tenho que apresentar Elisa ante o conselho. - disse
Alex.
- Sei. Quer que eu os convoque?
- Sendo um dos guardiões fica mais fácil - Gabriel sorriumisteriosamente ao ouvir isso.
- Claro - afirmou Gabriel - convocarei ao conselho.
Alex deu obrigado a ele e se afastou com sua companheira
escada acima. Gabriel sorriu fugazmente antes de sacudir a
cabeça e transportar-se ao seu quarto. Atirou-se na cama e baixou as persianas com a mente. “É um idiota” se disse
“Gabriel, é completamente estúpido”. Tinha feito uma
promessa, e ele nunca descumpria uma promessa. “Voltarei”
Como podia ser tão idiota? Virou-se para a mesinha de noite e
pegou o telefone celular. Marcou o três e o asterisco, e esperou
que tocasse. Ao terceiro toque respondeu uma voz masculina.
- Gabriel?- disse pesadamente, como se tivesse estado
dormindo.
- Sou eu.
- É um autêntico aporrinho - respondeu a voz - Aqui é dia,
Sabia?
- Perfeitamente - respondeu Gabriel. - Aqui também, sabe
bem que só são três horas de diferença entre a Espanha e seu
lar. E não me insulte ou chutarei seu traseiro até que não
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Aránzanzu Rodriguez - 01 Uma Estranha
Vingança
Projeto Revisoras Traduções
142
possa se sentar por alguns séculos.
- Que demônios quer? - grunhiu.- Reunião do conselho. Esta noite.
- Aconteceu algo urgente?
- Um novo vampiro.
- Novo ou companheira?- a voz do outro parecia divertida.- Companheira, irmão. - respondeu rapidamente. - Não teve
sorte. - disse em tom de brincadeira.
- Não me diga que por fim se apaixonou!- gritou em seu
ouvido.
- Seus olhos não verão isso - respondeu Gabriel.
- Então, por que tanta urgência em convocar o conselho?
- Limite-se a pôr a cadeia em marcha e não faça perguntas,
sim?
- Perfeitamente. Vemo-nos esta noite.Com um clique cortou a conexão. Bem, já estava feito.
Agora tinha um bom tempo para ficar tranquilo enquanto os
enamorados percorriam a casa. Sem mal se dar conta
adormeceu. Despertou-o a presença dos seus. O conselho
estava chegando, e não poderiam entrar em sua casa se não os
convidasse. Levantou-se da cama e se olhou no espelho,despenteado e com a roupa amassada. Não podia descer
assim, não para uma cerimônia formal, mas mal restava
tempo.
Alex e Elisa esperavam que os líderes do conselho se
acomodassem no salão. Não tinha visto nenhum deles, eembora Alex a tranquilizasse dizendo que tudo sairia bem, ele
também tinha as mãos frias, e tremia ligeiramente. Por fim os
chamaram de dentro. Elisa entrou detrás de Alex, para vê-los
sentados em semicírculo. Eram seis homens e quatro
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Vingança
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144
- Membros do conselho: apresento-me ante vocês com uma
petição; a de aceitar este novo neófito entre nós.
- Quem a criou?- perguntou um ancião de cabelos cinza que
vestia uma túnica e acariciava com delicadeza um machado de
duplo fio.
- Eu a criei - respondeu Alex.
- E com que motivo? - perguntou a ruiva.- Com o de ser minha companheira.
- Tomará sob sua responsabilidade durante seus anos de
neófito?- falou o homem da cimitarra.
- Farei isso.
- Bem - disse uma mulher muito loira. - Então só falta dizer,
há alguém entre nós que respalde este compromisso?- olhou a
seus companheiros.
Alex sabia o que vinha a seguir, e rezou para que algum
membro aceitasse verter seu sangue por ela. Gabriel deu um
passo adiante e desembainhou sua espada.
- Eu aceito respaldar este compromisso - disse enquanto
dava um pequeno corte na palma de sua mão e pressionava
para que o sangue brotasse. - Eu, Gabriel, serei o aval deste
juramento, e o executor se o romperem. - Com a mão sã,
embainhou de novo a espada, e pegou a adaga que lheestendia o ancião. Virou-se para Alex e Elisa e a ofereceu. -
Aceitam minha palavra?
Alex avançou e pegou a adaga da mão de Gabriel. O olhar
nos olhos de seu mentor denotava orgulho, e ele se sentiu
reconfortado por isso. Olhando para Elisa também deu um
corte em sua palma, e com um gesto de ânimo estendeu aadaga para ela. Ela assentiu, compreendendo o que devia
fazer, e fez brotar o sangue, estremecendo quando o fio
atravessou sua pele.
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Gabriel estendeu sua mão, e ambos a apertaram ao mesmo
tempo, unindo seu sangue com o do vampiro. Logo Gabriel
separou a sua, e entrelaçou as mãos de Alex e Elisa. Voltou asua posição inicial, e Elisa pôde comprovar com alívio que a
maior parte da tensão que rodeava o conselho se dissipou. Os
anciões pareciam muito mais amistosos que no princípio, e
inclusive alguns deles sorriam.
Alex esperou que o presidente falasse. Agora tinha que
apresentar aos membros do conselho, um por um. Olhou para
Erik, o ancião, que era o que tinha feito às honras em sua
apresentação. Mas não foi ele quem falou.
Gabriel olhou para seu tutelado e amigo. Lamentou-se por
não haver contado a ele nos três séculos que tinham
compartilhado, mas sempre houve algo que o reteve no últimominuto. Não era necessário que Alex tivesse toda a
informação, e era inseguro para ele mesmo. Mas não se
perdoou ante a cara de assombro e decepção de Alex quando
deu um passo adiante e começou a apresentar o conselho, tal e
como correspondia a ele.
- Agora, e como corresponde apresentarei você ao conselho
- disse encontrando os olhos de Elisa.
Ela observou cada um dos nomes, tentando memorizá-los.
Começou pelo Erik, o ancião que sustentava o machado de fio
duplo. A segunda a ser apresentada foi à mulher ruiva que
tinha chamado sua atenção por sustentar um arco. Seu nomeera Gwen. O seguinte homem, um gigante de pele de ébano
com a cabeça completamente raspada, se chamava Thomas.
Sustentava uma arma que ela não entendeu, mas cujo aspecto
mortífero a dissuadiu rapidamente de continuar olhando. O
homem moreno da cimitarra resultou ser Abdel, um dos
poucos dos que Alex tinha falado a ela, e a mulher muito belaque se sentava ao seu lado era sua companheira, Aisha. Ela era
a única que não levava nenhuma arma à vista. David apenas
se limitou a assentir com a cabeça quando Gabriel disse seu
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nome, e parecia estar pensando em outra coisa enquanto
revolvia os cabelos com uma mão. A mulher que vestia o que
parecia uma túnica se chamava Sofía, e a de cabelos castanhoescuro que carregava a espada da águia era Maria. O último a
ser apresentado foi Phil, que sorriu para ela e piscou um dos
olhos quando Gabriel disse seu nome. Simpatizou com ele de
imediato.
- E eu - continuou o vampiro destacando a si mesmo - Sou
Gabriel. Como sou… - aspirou antes de continuar a frase - o
presidente do conselho, serei eu quem a julgará. Quem a
castigará, ou a eliminará se ocorre de nos trair. Agora, me
permita ser o primeiro a dar os parabéns a você, e as boas-
vindas a nossa grande família. – disse inclinando a cabeça
para Elisa. Logo se virou para o grupo que continuava sentado
- Alguma objeção? - ninguém respondeu. - Bom, pois então
declaro fechada a sessão.
Agora saiam de minha casa antes que a ordem decida vir
caçar.
A última frase foi recebida com risadas por parte do
conselho, antes que a maioria levantasse. Em menos de um
piscar de olhos, as armas desapareceram da sala, todas exceto
a espada de Gabriel, que continuava pendendo de suas costas.
Os membros do conselho se aproximaram de Elisa para dar os
parabéns a ela. Só duas figuras não se moveram em toda a
sala: Alex e Gabriel.
Alex estava estupefato. Saber que Gabriel era parte do
conselho era uma surpresa, mas inteirar-se de que era o
presidente era muito para uma só tarde. Por que não tinha
contado antes? Não podia acreditar que depois do que tinham
passado juntos, depois das batalhas, as noites passadas
conversando, depois de ter visto meio mundo ao seu lado nãoconfiasse nele. Com razão não estava preocupado pela
admissão de Elisa. Sendo o presidente do conselho só tinha
que dizê-lo e ela já estava dentro. Sentiu uma mão sobre
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seu ombro, e levantou a cabeça para encontrar o olhar de seu
amigo.
- Sinto muito. - disse simplesmente Gabriel.
- Foi você… todo este tempo? - assentiu com a cabeça. -
Inclusive quando eu me iniciei?
- Erik presidiu nesse dia porque eu estava envolvido. Por
isso pensou que era ele.- E nunca me contou isso. Não confiava em mim? - Gabriel
desviou o olhar. - Claro que não. Não confia em ninguém, por
que eu ia ser a exceção?
- Alex…
- Não me fale nesse tom - cortou Alex rapidamente.
- Gabriel! - interrompeu Maria, que estava entre Elisa e
Gwen. – Vamos agora, necessita de algo?
Gabriel negou com a cabeça e ambas as mulheres
desapareceram imediatamente. Elisa ficou um pouco surpresa,
mas já começava a acostumar-se a que as pessoasdesaparecessem ao seu redor. Depois de receber a saudação de
todos os membros e descobrir que apesar de seus aspectos
intimidantes eram muito amáveis, estava muito mais
tranquila. Aisha inclusive a convidou a hospedar-se em sua
casa, se ao final quisessem viajar para sua terra. Mas apesar de
tudo não perdeu a tensão que havia entre Alex e Gabriel desdeque este começou a falar. Agora estavam frente a frente,
olhando-se em silêncio.
Gabriel ameaçou dizer algo, mas Alex deu meia volta e
partiu. O resto do conselho ficou congelado ante o desprezo,
mas Gabriel só negou com a cabeça.
Um a um, os outros vampiros foram partindo. Elisa e
Gabriel ficaram quietos na sala, agora vazia. Gabriel sorriu e
se aproximou dela.
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CAPÍTULO 15
Dafne soltou uma gargalhada enquanto tentava puxar ovestido para baixo. O modelito não era dela e sim de sua
melhor amiga, e tendo em conta que a ultrapassava em quase
dez centímetros, ficava indecentemente curto. Judith enlaçou
seu braço com o dela, e arrastou sua amiga até outra discoteca.
O porteiro as olhou e as deixou passar na mesma hora, sem
pedir suas carteiras nem cobrar as entradas!
Olharam-se felizes e soltaram outra risada. “Não voltarei a
provar a vodca” prometeu a se mesma Dafne, quase ao
mesmo tempo em que outra voz respondia a ele “mentira”.
Ela retificou “não voltarei a provar vodca até que complete os
dezoito anos”, e sua consciência respondeu com outra
gargalhada.
- Carinho, o que está fazendo? - perguntou sua amiga.
- Falo comigo mesma - sorriu Dafne.
- Está bêbada?- Dafne soltou uma gargalhada. A outra a
olhou incrédula - Não pode ter tão pouca resistência, só tomouuma vodca.
- E me encantou - assegurou Dafne. - Além disso, é normal
que não tenha sua resistência, OH rainha da noite que acredita
que é melhor porque já completou os dezoito.
- Se não fosse por mim e meus dezoito não estaria aqui.
- Feliz aniversário! Vamos dançar?
Ambas se perderam no mar de gente, de corpos girando ao
ritmo da música e olhares de admiração. Um bom tempo
depois, Dafne notou que um rapaz a olhava fixamente. Fez
como se não tivesse notado, mas Judith não deixou isso passartão facilmente.
- Esse gostosão está olhando você - disse ao seu ouvido.
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Vingança
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- Já me dei conta antes…
- E o que está esperando? Vá até lá e o convide para umdrinque…
- Convidá-lo para um drinque?- Dafne se surpreendeu.
- Se for tímida faça um gesto para que ele se aproxime. Bom,
melhor eu o fazer. - disse Judith piscando um dos olhos para o
rapaz do bar, que começou a se aproximar imediatamente.- Ficou louca!- Dafne deu um saltinho. - O que faço?
- Seja você mesma. - Judith se virou e olhou para um rapaz
que estava detrás dela. Jogou a escura cabeleira sobre um
ombro e dirigiu a ele um sorriso de derrubar um elefante
adulto. Apoiou a mão em seu braço e o olhou franzindo oslábios. - Convida-me para um drinque, carinho?
O rapaz a agarrou pela cintura e a levou até o bar a uma
velocidade vertiginosa.
Dafne ficou se perguntando que demônios tinha Judith que
os fazia cair de joelhos com uma só piscada. Seus olhos seencontraram com outros mais escuros, os do rapaz do bar, que
já tinha chegado próximo dela. Dafne descobriu que tinha que
levantar a cabeça para olhá-lo, e isso porque usava os saltos de
Judith, com seus bons sete centímetros de altura. Ele sorriu e
se aproximou mais para que ela o ouvisse em meio à música
estrondosa.
- Dança realmente bem, sabe?- sua voz era sensual e baixa, e
um calafrio percorreu Dafne.
- Sou bailarina - respondeu também no ouvido do jovem.
- Já me parecia isso. Chama-se Dafne, não é verdade?- ela se
afastou, surpresa.
- Como sabe meu nome?
- Conheço sua irmã – sorriu ele. – Vocês se parecem
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Vingança
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ficou alucinada. Um porsche! O rapaz do bar tinha um
porsche era impossível.
- Este carro é seu?- perguntou alucinada.
- Claro, você não gosta?
- Se eu não gosto? Pelo amor de Deus, é um porsche 911,
quem não iria gostar?
Ele riu enquanto abria a porta para que ela passasse. Aadmiração dela era contagiosa, sobre tudo para ele, que não
apreciava o veículo de forma alguma, era só um traste que ia
mais depressa que os outros. Fim.
Conduziu rápido, sem prestar atenção às indicações da
jovem. Ele sabia perfeitamente onde era sua casa. Estacionouna entrada e desceu imediatamente para abrir a porta para ela.
Ela sorriu ante o gesto de cavalheirismo e o convidou a
acompanhá-la até a porta. Dafne tirou os saltos no alpendre e
os recolheu na mão para não fazer ruídos. Com um pouco de
sorte, Rafaela não despertaria com o som dos pés descalços.
Amaldiçoou dormir no último andar, enquanto se virava para
despedir-se de Marcos.
Trocaram os números de telefone, e justo quando ia entrar
viu Marcos inclinar-se para ela. Deus santo, ia beijá-la! Seu
primeiro beijo! Dafne não sabia como reagir, e se achou
vendo-o aproximar-se sem poder mover-se.
Retesou-se quando viu o jovem se aproximar dela, seus
pensamentos eram óbvios. Não deveria estar tão
tremendamente zangado por algo que era normal, mas estava.
Inexplicavelmente, quão único queria era subir o menino
em seu carro e mandá-lo de novo para casa, o mais longe
possível dela.
Gabriel sorriu com falsa alegria quando ela virou a
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cabeça no último instante, e os lábios só roçaram a face da
jovem. Uma espécie de satisfação o fez soltar outra risada
quando viu a cara de desencanto do jovem.
Dafne ruborizou e ficou nas pontas dos pés para dar um
beijo na face dele.
- Sinto muito - disse ela.
- Ligará para mim?- perguntou Marcos.- Com certeza. Se não, sempre resta o recurso de você me
ligar - sorriu ela. – Não esqueça que dei meu número a você.
Não posso escapar.
- Boa noite então.
- Boa noite.
Seguiu mentalmente Dafne enquanto subia as escadas. Ela
ia com passos não completamente seguros, e inclusive lhe
escapou uma risadinha quando acabou de subir ao último
andar. Transportou-se para perto, e detectou o indefinível
aroma de álcool misturado com seu sangue. Tinha tomadoalgo? Gabriel sorriu recordando as primeiras farras de sua
juventude, embora Dafne tenha começado realmente cedo.
Ela se meteu entre os lençóis com um suspiro, muito
cansada para pensar em nada. Havia retirado a maquiagem
rapidamente, e dado que não encontrou nenhum pijama limpo
se deitou só com uma camiseta que ficava três tamanhosmaior. Antes de adormecer, voltou a recordar a cena do beijo,
o beijo que ela havia rechaçado. Por que teria feito isso?
“Porque ele não a merecia, e você sabe” - disse Gabriel. Viu-
a reclinar-se ligeiramente, e logo se deixar cair em cima dos
travesseiros de novo.
- Só fiquei nervosa. - contra-atacou Dafne.
“Mentirosa” – A voz em sua mente soava tingida com
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regozijo.
- Eu gosto dele. - a voz soltou um bufo e Dafne sorriu - Pode bufar mentalmente?- a resposta foi outro bufo.
Dafne ficou em silêncio esperando que ele voltasse a falar,
coisa que não fez.
Depois de um segundo, rompeu o silêncio.
- Está de mau humor?
“Bastante”
- OH, vamos, Por essa tentativa de beijo?
“Entre outras coisas” Gabriel voltou a sentar-se na poltrona
da qual se levantou, preparado para partir rapidamente, masparou ao voltar a iniciar a conversa.
É que não pode dormir?
- Não pode está com ciúmes - disse com um bocejo - Os
fantasmas não ficam com ciúmes.
Ele se aproximou de novo dela para responder, mas ela jáestava profundamente adormecida. Afastou os cabelos da face
dela, e acariciou os lábios suaves com a ponta dos dedos.
- Mas eu não sou um fantasma - disse falando com ela pela
primeira vez em voz alta. Logo, com um flash, desapareceu.
Marcos dirigiu até chegar à base. Seu mestre10 o esperava depé ante as portas duplas, visivelmente nervoso.
- Saiu bem?- perguntou o homem.
- Começou.
10A palavra mestre quando usada pelos vampiros tem um sentido de mentor,
professor, já quando usada pela Ordem dos caçadores tem um sentido de
domínio de subordinação.
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CAPÍTULO 16
Marcos entrou com passos firmes, tal como o ensinaram. Era
hora de conhecer o líder, ao único imortal entre os caçadores.
Seu mestre caminhava ao seu lado, um pouco mais nervoso.
Passava as mãos pelos cabelos já prateados, olhava-o e voltavaa começar. Marcos sabia o porquê do nervosismo: Seu tempo
estava acabando. Em alguns meses teria que morrer, e não
queria fazer isso da forma ritual. Marcos tampouco.
Não queria matar o homem que tinha dado a ela a
oportunidade de ser algo mais, o homem que o tirou das ruas
de Nova Delhi quando não tinha mais que sete anos, ou talvez
oito. Ninguém tinha se ocupado de anotar a data de seu
nascimento e sua mãe estava mais preocupada em não morrer
de fome, mendigando do amanhecer até que o sol se punha.
Não tinha nenhum motivo para preocupar-se com o menino
que nasceu de uma das muitas violações que tinha sofrido. Só
tinha ficado com ele porque com um bebê em seus braços, asesmolas aumentavam muito.
Tinha-no encontrado meio morto de fome, com os lábios
partidos por sua última escaramuça e sem vontade de
continuar lutando. O homem da maleta tinha os cabelos
brancos e parecia amável. Se tivesse tido forças teria tentadotirar sua carteira.
Transpirava dinheiro por todos os lados. Agachou-se em
meio à imundície do beco e falou para ele de outro tipo de
vida, uma vida afastada da fome e da dor, uma vida
extraordinariamente longa e cheia com tudo o que o dinheiro
pudesse comprar.
Longe da Índia, longe de sua mãe e dos vagabundos das
ruas alguém o treinaria para ser um guerreiro, para lutar
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157
contra o que a maioria das pessoas considerava impossível,
assegurou o homem. Fariam-no poderoso, sábio. Só tinha que
ser fiel, completamente fiel. E o tinha sido, durante osseguintes quinze anos.
Marcos saiu dentre as brumas do passado para encontrar-se
parado diante de uma imensa porta negra. O nervosismo do
mestre se redobrou, coisa que o irritou bastante. A porta se
abriu sem nenhum som, revelando um homem sentado diante
da maior escrivaninha que já tinha visto. O fogo da lareira o
iluminava de lado, revelando o rosto de um homem que não
aparentava mais de quarenta anos.
Mestre e aluno se inclinaram ao mesmo tempo em sinal de
respeito. O imortal apenas assentiu com a cabeça, e os
convidou a se aproximarem com um gesto.
- Vai tudo bem?
- Perfeitamente senhor - disse o mestre.
- Têm o novo plano preparado?
- Sim.
- Funcionará? - disse olhando fixamente para Marcos.
- Sim, senhor. Estou quase seguro.
- Quase seguro? Isso não é aceitável.
- Sempre há algo que pode variar - disse Marcos - Masacredito que a teremos, e muito em breve.
- Está seguro de que é psíquica?- disse disparando flechas
ao mestre com o olhar. - Não podemos nos permitir outra
humana normal e comum entre nós.
- É psíquica - afirmou Marcos. - Estive com ela, sei. E tenhoconvite para entrar na casa.
- Bem, então sigam adiante. Já sabem o que têm que
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- Vemo-nos no seguinte fim de semana?
- Acredito que não. E mais, melhor que não.- Bom, então deixo você. Um beijo!
- Um beijo, carinho.
Mal tinha deixado o telefone quando este voltou a tocar.
- Sim?- Olá, bela - a voz acariciadora de Marcos produziu um
calafrio nela.
- Olá. - respondeu ela. Não pôde dizer nada mais antes que
o nó no estômago ameaçasse engoli-la.
- Que tal dormiu?
- Bem, E você? - disse ela rapidamente.
- Bem, mas não muito. Não queria despertar, mas vejo que é
madrugadora. - Ela assentiu com a cabeça como uma boba.
Por que assentia se ele não podia vê-la?
- Sim… - respondeu, alegrando-se de que sua voz não
soasse débil - Sempre preferi madrugar.
- Então… gostaria de almoçar comigo? Queria convidar
você para jantar, mas vendo que já está acordada não gostaria
de esperar tanto tempo.
Em um gesto infantil, Marcos cruzou os dedos e trocou o
celular de mão enquanto andava pelo quarto. Não seria difícil
comer com ela, a noite anterior tinha se mostrado como uma
jovem muito agradável e divertida, mas tímida. Além de
extremamente bonita, com seus cabelos vermelho escuro e
seus enormes olhos cinza, o que fazia seu trabalho algo muitoagradável.
Dafne permaneceu em silêncio alguns segundos, e Marcos
respeitou esse tempo para que ela pensasse. Ao ouvir a
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- Não posso fazer isso.
Seu mestre o olhou surpreso. Por quinze anos Marcos tinhasido o aluno mais fiel da ordem, e diferente dos outros. Nunca
tinha se queixado, jamais tinha se rebelado. E agora que já era
tarde, agora que era seu sucessor descobria que não tinha
caráter?
- Por quê? - disse com os dentes apertados, o rosto
completamente indiferente. – Dê-me só uma razão para nãomatar você por traição.
- Nunca matei ninguém - disse Marcos. - Ainda. Mas não
posso começar com alguém a quem conheço. Não posso. -
Marcos sabia que essa mentira era a única que tinha
possibilidades de funcionar. Seu mestre sorriu e se aproximou
dele para pôr uma mão em seu ombro.
- Não se preocupe, jovem. Não vai sair, de toda forma. Só
queria que soubesse. O trabalho é meu, e só meu. Nenhuma
delas será sua primeira morte, não se preocupe.
O mestre saiu do quarto, e Marcos se deixou cair em cima
da cama. Com a cabeça entre as mãos, chegou à única
conclusão que não queria que ocorresse jamais:
Ele não podia ser um caçador. Não podia assassinar a
sangue frio, nem permitir que o fizesse. E o pior de tudo é que
depois de quinze anos voltava a estar sozinho.
Completamente.
Recolheu todas suas coisas rapidamente. Era pouco o que
possuía, e menos ainda o que queria conservar. Pôs-se a andar
pelo corredor com a mochila nas costas, sem se preocupar com
os olhares que recebia. Ao sair se virou no último segundo
para contemplar o único lar que tinha conhecido, o único onde
havia sentido algo que se parecia com felicidade.
Parou um táxi que o levou até o hotel mais próximo. Tão
logo entrou no quarto, tirou de sua mochila o papel com o
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número de telefone. Marcou o número e esperou. No terceiro
toque, uma voz masculina lhe respondeu. Não a reconheceu,
como podia se nunca o tinha visto antes? Mas nessa voz vinhao eco do poder, da sedução inata que todos os de sua espécie
possuíam.
- Diga? - Marcos não respondeu. Quando o vampiro voltou
a falar, soava um pouco irritado. - Vamos, fale por que não
responde?
- É você Alexander? - perguntou Marcos.
- Sim, eu sou Alex. Que deseja?- Marcos não perdeu tempo
com tolices.
- A ordem vai atrás de Elisa, e o primeiro passo é sua
família. Se as apreciar um pouco, salve-as. Não acredito quecheguem à manhã.
- Como você sabe disso? E por que está me contando isso?
- Sei e ponto. Faça algo rápido. -Desligou o telefone.
Elisa estava ainda meio adormecida quando Alex recebeu aligação. Não era suficientemente hábil para ouvir a conversa a
um nível tão baixo de som, mas o temor no olhar de Alex a
assustou. Este foi ficando cada vez mais nervoso, e quando
desligou ficou olhando-a fixamente.
- Amor, o que está acontecendo?
- Quem sabe que você e eu estamos juntos? A quem contou
que saíamos?
- A poucas pessoas. Ultimamente estive um pouco afastada
de meus amigos. - sussurrou Elisa, assustada pelo olhar de
pânico nos olhos verdes dele. - Alex, o que está acontecendo?
- Diga-me seus nomes. Todos e cada um deles.
- Minha família sabia… e Emma. Também Caro e Chema,
Diana, Cecília… e Manuel.
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Ficou olhando fixamente para Elisa, empalidecendo mais
ainda ao ouvir a última frase. Se não acreditasse impossível,
diria que o que animava os azuis olhos do vampiro era omedo. O imortal passou as mãos pelos cabelos, jogando os
cachos para trás em um gesto de nervosismo. Logo enfocou o
olhar em Elisa e Alex de novo.
- Vou chamar os guardiões - disse simplesmente. - Esperem
ordens, não saiam daqui aconteça o que acontecer, de acordo?-
Alex assentiu com a cabeça. - Volto em um minuto.
E desapareceu.
- Isto é extraordinário - Alex falou no ouvido de Elisa, que
continuava abraçando-o. - Nunca tinham se mobilizado tão
rapidamente. Com certeza temos tempo para pará-los.
- Isso espero. - Elisa o olhou nos olhos, e ele sentiu sua dor
como se fosse dele. - Alex, é minha família.
- Sei, amor. - Apertou-a mais forte contra si e aspirou ao
aroma de seus cabelos. - acredite, sei o que se sente. E não
penso em deixar que ocorra isso a você.
- Perdeu sua família?- Ele assentiu com a cabeça.
- Tinha uma irmã mais nova – contou – mais ou menos da
idade de Dafne, acredito que um pouco mais velha. Sonhava
em se casar e ter muitos filhos loiros, embora eu a chateasse
sempre dizendo a ela que seriam muito morenos, como ela. –
Elisa sorriu.
- É muito jovem - disse ela - Dafne não sonha tendo filhos
nem se casando, e sim em ser independente e ir à
universidade. Vi-a crescer, dia pós dia. Não pode morrer, não
ainda. Tem tanto que experimentar, tanto que ver… tanta
vontade de seguir adiante - soluçou.
Interrompeu-os um novo flash quando Gabriel chegou.
Olhou fixamente ao casal, antes que no salão começassem a
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surgir novos brilhos.
- Não morrerá - disse a Elisa. Depois colocou uma mão nopeito e baixou a cabeça. - Prometo isso a você.
Apareceram mais duas figuras, e ele voltou a converter-se
no guerreiro que tinha visto em sua iniciação. Dando ordens a
torto e a direito, organizou a partida em menos de cinco
minutos. Vigiariam casa por casa a todos os que pudessem
estar ameaçados, e se reuniriam depois na de Elisa para pôr asua família a salvo.
Nada podia sair errado.
Exceto se Ordem já tivesse se posto em marcha.
CAPÍTULO 17
A campanhia soou insistentemente. Emma saiu da duchacorrendo, enrolada em uma toalha e com os cabelos pingando
por todo o piso. Escorregou na entrada e abriu a porta. Um
homem mais velho estava ali, com uma maleta na mão e uma
expressão mortalmente séria.
- Você é Emma Díaz Santos?
- Sim, eu sou. Que deseja?
- Polícia - disse o homem tirando uma carteira do bolso e
mostrando a ela a identificação. - Posso entrar?
- É obvio, agente.
Emma se afastou para um lado, e o homem entrou na casa
até chegar à sala.
- Importa-se se eu for me vestir? Pegou-me saindo do
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banho. – apontou para a toalha. - Sente-se e fique a vontade.
- Não é necessário - disse o caçador. - Só são algumasperguntas e partirei rápido.
- Pergunte então. - consentiu a jovem.
- Você conhece Elisa?
- Claro. É minha amiga há anos.
- E alguma vez viu seu namorado?
- Alex? Claro que o vi.
- Nesse caso sinto muito. - disse enquanto se levantava. Ela
não teve tempo nem para gritar.
O caçador limpou a lâmina de sua espada na toalha que agarota tinha usado. O sangue deixou no tecido branco uma
dupla linha sinistra, abominavelmente carmesim. A prata
cintilava novamente quando a guardou na maleta e se
encaminhou ao endereço seguinte de sua lista. Restavam seis.
Alex entrou a toda pressa no primeiro apartamento. O fatode poder passar já era o sinal do que o estava esperando, mas
não acreditou. Não havia vida naquele lugar, gritaram seus
instintos. Elisa apoiou uma mão em seu braço, ela também
podia sentir.
Seus olhos já estavam cheios de lágrimas quando chegaram
ao quarto. Alex entrou diante dela, esperando um ataque quenão se produziu. Em troca, o macabro cenário que contemplou
o fez cambalear, e estendeu a mão para impedir que ela visse.
Elisa só negou com a cabeça e entrou detrás dele.
Soluçou ao ver o casal em cima da cama, abraçados. O braço
da Chema rodeava sua noiva para protegê-la, mas já nãoimportava. Ambos estavam mortos, e o aroma de sangue era
inconfundível. Contra sua própria vontade sentiu suas presas
crescerem, e soluçou mais forte. Alex a rodeou em um abraço,
e a tirou do quarto. Ela deixou-se levar, não tinha forças
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nem para continuar respirando. A sala começou a dar voltas
ao seu redor enquanto ela lutava por serenar-se. A voz de
Alex em seu ouvido era tudo o que a mantinha no território daconsciência.
- Elisa, carinho, não se deixe levar. Temos mais lugares aos
quais ir, temos que tentar ajudá-los. - sussurrou desesperado
em seu ouvido. - Vamos, levarei você para casa. Gabriel e eu
nos encarregaremos de tudo, prometo isso a você.
- Não. - Respondeu ela, debatendo-se entre seu abraço e
lutando para manter-se inteira. - Quero ir, não quero ficar sem
saber nada, sem saber… - soluçou de novo - se alguém mais
morreu, ou se aconteceu algo a você e ao Gabriel.
- Vamos, então.
Dafne despertou sobressaltada. Desceu da cama e
estremeceu ao sentir o chão frio sob seus pés. Ainda um pouco
atordoada, concentrou-se na sensação que percorria seu corpo,
uma sensação que conhecia bem já fazia algumas semanas:
alguém estava observando-a. Um calafrio e um
pressentimento a fizeram descer correndo as escadas, aomesmo tempo em que ouvia a campanhia tocar. Sua mãe saiu
e a abriu rapidamente, devia ter estado na sala ou na cozinha.
Ainda vestia a roupa do dia, mas tinha os cabelos revoltos
como se tivesse adormecido no sofá. Quando Dafne chegou ao
início das escadas o relógio da entrada começou a repicar,
tocando a meia-noite. O pressentimento se fez mais forte, eDafne começou a chorar antes de correr escada abaixo. Mas
era muito tarde.
Rafaela abriu a porta da casa com um sorriso, e o rosto
impreciso do caçador foi a ultima coisa que viu em sua vida,
antes que a espada atravessasse seu coração. O caçador a
retirou rapidamente, deixando o corpo cair no chão perto da
entrada. O olhar fixo de sua mãe enlaçou o de Dafne, que
ficou paralisada na metade da escada.
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Vingança
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168
O caçador limpou a espada com parcimônia, como se não
tivesse pressa. Logo levantou os olhos, e o feitiço de seus olhos
a capturou totalmente. Começou a avançar para ela, a espadano alto, a pose de um predador. Dafne retrocedeu escada
acima, sabendo que era inevitável. Antes que ele subisse o
primeiro degrau, uma voz conhecida subiu da entrada.
- Mestre - Marcos entrou na casa, rodeando o cadáver de
Rafaela. – Dei-me conta de que o ofendi com minha covardia,
e queria reparar essa imensa falta.
O homem desviou o olhar de Dafne e o posou em seu
discípulo, que caminhava para ele tranquilamente.
Observando a decisão em seus olhos, pegou uma adaga de sua
cintura e a estendeu.
- Então cumpra a missão – disse - E me faca sentir orgulho
de você.
Marco recolheu a adaga das mãos de seu mestre e subiu os
degraus um a um.
O peso familiar da arma entre seus dedos fez que todos os
anos de serviço o revoltassem, exigindo sangue. O motivo
pelo qual tinha vindo quase deixou de ter sentido, em honra
ao cumprimento de seu dever. Sua mão apertou mais
firmemente o punho, preparado para matar. Mas nesse
momento o olhar de prata de Dafne apanhou o seu, e ele
sentiu o monstro se afastar, e ressurgir o homem sob o feitiço
desses olhos inocentes.
Aproximou-se dela até que quase se tocaram, e
aproximando sua boca do ouvido da jovem, sussurrou o mais
baixo que pôde:
- Quando colocar a adaga no seu coração, me empurre
escada abaixo tão forte quanto possa, e corra. Eu o entreterei
durante um tempo. Depois se esconda até que sua irmã
chegue, Entendeu? Se me ouviu bem, pisque duas vezes -
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decisões, limitou-se a olhá-lo nos olhos e esperar. O caçador
reconheceu sua coragem, e assentiu com a cabeça para ela.
- Sabe que vou matá-la. - Disse simplesmente.
- Sei.
- Quer continuar vivendo?
- Vai me deixar viver? - Dafne o olhou com receio. Isso era
bom, pensou o caçador, não se pode confiar repentinamenteem ninguém.
- Talvez - disse evasivamente. - Primeiro teria que estar
seguro de que não representa nenhuma ameaça.
- Se representasse alguma ameaça não estaria aqui,
encurralada e desarmada - disse ela com a ira cintilando emsua voz.
- Bom ponto - sorriu o caçador. - Mas representa sim uma
ameaça para nós.
- O quê?
- Sabe de nossa existência - assegurou o caçador- e isso é o
pior que podia acontecer a você.
- Então, o que vai fazer? Apagar minha memória?
- Não. Vou propor um acordo a você. Você vem conosco
pacificamente, sem criar nenhum problema nos entendemos?E nós a deixamos viver. Inclusive pode ser que seja
recompensada… muito generosamente.
- Claro… parece tão simples. - respondeu ela suavemente. -
Só uma pergunta. Por que matou minha mãe?- o homem
permaneceu silencioso. - O que aconteceu, não responde?
Mata minha mãe e quer que vá com você! Quem pensa quesou? - cuspiu em seus pés. - Maldito bastardo!
Plaf! O som do golpe retumbou no ar antes que Dafne
sentisse a dor. Caiu contra o corrimão, e o choque tirou sua
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respiração. Sobrepondo-se à dor, tentou enfocar de novo os
olhos. O homem havia voltado a levantar a espada, justamente
a altura de seu coração, ela ia morrer.
Alex entrou na casa a toda velocidade, quase tropeçando em
Marcos, que continuava inconsciente. Seguindo a presença do
caçador, subiu as escadas. Elisa também tinha entrado, mas ao
ver o corpo de sua mãe caiu de joelhos, incapaz de reagir. Viu
como seu amante subia escada acima a uma velocidade
antinatural, mas não teve forças para segui-lo. Não tinha
forças para nada, exceto para embalar sua mãe entre seus
braços, cujo rosto evidenciava a surpresa de sua morte.
Mais acima ouviu a voz de sua irmã, como se de um sonho
se tratasse. Dafne era a única que lhe restava, e não podia
permitir que a arrebatassem. Como em um sonho, começou asubir as escadas e chegou dando tombos ao balcão onde viu
Alex e a sua irmã. Alex estava na entrada, desarmado e
olhando para o caçador, que tinha a ponta de sua espada
apoiada no pescoço de sua irmã. Dafne estava sentada
instavelmente em cima da balaustrada, e suas pernas
penduravam para o vazio. O caçador ria, sabendo-se vitorioso.
- Vamos, pequena. - zombou - Tem poucas opções, não é
verdade? Pode se deixar cair - enumerou - Certamente se
mataria, mas eles - disse apontando para Alex e para Elisa
acabariam comigo. Também pode lutar contra mim - sorriu -
isso seria delicioso, matar você com minhas próprias mãos e
em baixo de seus narizes. Ou vir comigo e ser um dos nossos -
olhou-a fixamente nos olhos - Imortais e poderosos, não a
tenta? A decisão é sua.
Dafne estava aterrada. A ponta da espada acariciava seu
pescoço, e não tinha dúvidas de que ia morrer. Só não queria
que nada acontecesse a Alex e a sua irmã.
Era por sua culpa, com certeza sim. Pessoas normais não
podiam sentir o que ela sentia, nunca teriam atraído ao
assassino a sua casa. Sua mãe morreu por ela, porque não
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chão ilesos, muito perto de onde aterrissou o caçador, que já
tinha levantado a espada disposto a lutar.
Gabriel deixou Dafne no chão lentamente e se separou dela,
ficando entre sua figura e a do caçador. Um suspiro abafado
indicou a ele que a garota havia desmaiado, e agradeceu que
não fosse ouvir o que ocorreria a seguir. Gabriel ficou tenso e
esperou. O homem de cabelos prateados soltou uma nova
bravata e arremeteu contra ele, que se moveu tão rápido
quanto um relâmpago. O caçador observou o imortal do chão,
sentindo a ponta da espada prateada em seu peito. Seus olhos
se arregalaram quando reconheceu ante quem estava na
realidade, a arma brilhando para testemunhar. A voz do
vampiro se ouviu ressoante, carregada de poder.
- Já fez sua miserável oferta. Sabe qual é o pacto, e tem doisdias. Aproxime-se dela em menos de quarenta e oito horas e o
matarei. Bom, não. Matarei você de toda forma, mas não se
aproxime dela ou aprenderá o que é dor. E não restará uma só
regra por desobedecer, nisso tem minha palavra. E agora, Vá!
O caçador olhou uma vez mais para Gabriel com ira, antes
de desaparecer. Alex saltou do balcão com Elisa para ver como
estava Dafne. Elisa gritou e abraçou sua irmã, ainda
inconsciente. Esta protestou e franziu o cenho, a ponto de
despertar.
- Vamos para casa - disse Gabriel, agachando-se para
levantá-la nos braços. Alex assentiu e aproximou-se de Elisaenquanto Gabriel se concentrava.
Quando sentiu o familiar puxão da força arrastando-o para
casa, aproximou-se mais dela, que olhava fixamente sua irmã.
Alex ficou atônito ao ver Dafne acordada nos braços de
Gabriel. Olhou-o fixamente e logo passou os braços pelos seus
ombros, apoiando a cabeça em seu pescoço. Gabriel a apertou
contra si e sorriu ao ouvir a garota.
- Não é um fantasma… é de verdade.
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CAPÍTULO 18
Alex olhou ao redor, dando-se conta de que não estavam na
casa que haviam comprado na Espanha, e sim no lar de
Gabriel, a mansão de Paris. O imponente vestíbulo era
inconfundível, assim como a escada dupla que levava ao
andar de cima.
Elisa apareceu no segundo seguinte, claramente enjoada.
- De verdade odeio isso - sussurrou ela.
- Enjoada?
- Com certeza. Minha irmã?- olhou ao redor, assustada. -
Onde ela está?
- Vem com Gabriel. Já verá como chegam agora mesmo.
Justo nesse momento o conhecido brilho iluminou o salão
pela terceira vez. Gabriel apareceu com Dafne nos braços, que
imediatamente ficou mais pálida do que estava.
- Acredito que vou vomitar - disse a Gabriel, apoiando a
cabeça em seu peito.
- Não, calma. Acontece sempre, já verá que em cinco
minutos estará perfeita.
Baixou-a e a sentou no sofá, indicando a ela que pusesse a
cabeça entre os joelhos.
Dafne obedeceu, e em menos de cinco minutos a cor tinha
voltado ao seu rosto. Elisa se aproximou de sua irmã
lentamente, e ela a contemplou pensativa. Com um soluço, a
abraçou ao mesmo tempo em que repetia “eu sinto muito”
uma e outra vez. Dafne se separou de sua irmã e ficou
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olhando-a fixamente.
- Não é a mesma - disse examinando seu rosto, agora mais brilhante, mais belo que nunca. - Estendeu a mão e acariciou a
face de Elisa, que tremeu ante o escrutínio a que era
submetida.
- Não sou a mesma.
- Por que fizeram mal a mamãe?- Não sei - respondeu Elisa chorando. Dafne não chorava, só
a olhava fixamente.
Alex se aproximou de sua companheira e a abraçou, sem
saber como consolá-la.
- Por que nos observavam continuamente? Por que vocêfalava comigo?- disse olhando para Gabriel - Quem era esse
homem? O que significa que tenho dois dias? Dois dias para
quê? – gritou. Levantou-se enquanto falava, e ficou parada no
meio do vestíbulo olhando para os três vampiros que tinha em
frente. Gabriel sacudiu a cabeça e a olhou.
- Não vai aceitar que contemos isso a você amanhã, na é
mesmo?- Dafne negou com a cabeça. - Elisa, Você pode?- Ela
também negou entre soluços. - Então eu o farei.
Gabriel avançou para Dafne e a pegou pelos braços para
fazê-la sentar-se na poltrona individual, exatamente em frente
a Alex e Elisa. Ele se sentou no braço da poltrona, ao seu lado,e acariciou sua face.
- É uma pessoa extremamente sensível, além de tudo o que
haveria acreditado capaz, por isso sei que vai aceitar o que
temos que dizer a você. Sei perfeitamente que vai ser chocante
e incrível, que vai pensar que estamos completamente loucos.
Mas nos dê tempo para esclarecer tudo antes de se negar
categoricamente, de acordo?
- De acordo - respondeu Dafne com um fio de voz.
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Vingança
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Gabriel tomou ar e a olhou nos olhos.
- Somos vampiros. - confessou. - Os três, Alex, Elisa e eu. -Dafne olhou espantada para sua irmã, que assentiu com a
cabeça.
- Apaixonamo-nos - disse Alex. - Sua irmã aceitou ser minha
companheira, quando soube o que era em realidade.
- Não pode ser verdade… - disse olhando para Gabriel. – Você é um vampiro também?
- Ele me criou - disse Alex - E eu a sua irmã. - levantou a
mão que sustentava entre as suas e a beijou.
- Eli… isto não pode ser certo, não pode ser verdade.
Gabriel a fez olhá-lo de novo e retraiu os lábios deixando-aver… um par de presas. Dafne estendeu a mão até que sentiu
a espetada de uma delas na ponta dos dedos. O imortal a
separou deles depois de depositar um leve beijo na ponta de
seus dedos.
- Mataram a mamãe?- perguntou aniquilada.- Não, é obvio que não - a dor na voz de Alex era evidente. –
Nenhum vampiro faria mal a sua mãe, nem a você. Nunca.
- Então, quem foi? E por quê?
- Existe uma raça parecida com a nossa - explicou Gabriel
com um brilho resistente no olhar. - dedicam-se a nos caçar e aexterminar cada vampiro que possam encontrar. Eles mataram
sua mãe, e a todos que sabiam que Elisa era a companheira de
Alex.
Foram eles quem lhes fizeram mal, não nós. No mesmo
instante em que sua irmã e Alex se apaixonaram, eles astiveram sob vigilância. Isso era o que você sentia todo o
tempo, seus poderes.
- Poderes?
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- São uma espécie muito parecida conosco, já lhe disse isso.
Têm as mesmas habilidades psicológicas, e levam muito a
sério. Alex e eu nos encarregamos de protegê-las. Tambémsentiu aos dois: a Alex na primeira noite e a mim assim que
me aproximei.
- E falou comigo.
- Na realidade não queria fazê-lo, mas quando você pediu
explicações por haver estado espiando não pude fazer outracoisa. Na realidade não foi a mim que sentiu, e sim ao caçador.
- Por que queria me machucar?
- Para acabar com sua irmã, e com Alex.
- E mataram mamãe - disse Dafne. Toda a dor que tinhaestado contendo caiu sobre ela como uma pedra, e seus olhos
voltaram a encher-se de lágrimas, tanto de tristeza quanto de
fúria por tudo o que tinha acontecido. Sacudiu a cabeça,
lutado contra elas, e olhou para sua irmã, abraçada a Alex. A
ira se duplicou. - Por sua culpa.
- Não - Elisa negou rapidamente - Não, Dafne… eu nãosabia, juro a você que não…
- Não foi culpa dela, nem minha - Interveio Alex lançando
um olhar zangado para ela. - Fizemos tudo o que pudemos
para mantê-los a salvo. E deveria recordar que se não
tivéssemos chegado você não estaria viva.
- Alex, não - Gabriel franziu o cenho para ele, zangado.
- Foi sua culpa. - Tudo ficou em silêncio, só interrompido
pelo ruído do pranto de Elisa. - Foi tudo sua culpa! Sua e dele
– apontou para Alex. - Se não tivesse se metido em nossas
vidas, mamãe continuaria viva! Se não tivesse se convertido
em um vampiro como ele… Ainda teria família!
- Ainda… me tem…. - Conseguiu dizer Elisa. - É minha
irmã…
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- Não.
- Claro, é muito jovem ainda. – sorriu - E o primeiro amor éterrível, o mais intenso, o mais louco. Às vezes, como no caso
de Elisa, é o definitivo. Outras temos que sofrer antes de
encontrá-lo, como aconteceu com Alex. Mas quando o
encontrar saberá. É como se tirassem a terra de debaixo de
nossos pés e nada mais importasse exceto essa pessoa, como se
o universo fosse um suspiro, e o tempo nada mais que uma
palavra. Quer que cada segundo seja eterno, e ao mesmo
tempo passe rápido para estar mais tempo ao seu lado. Se
houvesse sentido isso compreenderia, e saberia por que ela
reagiu como tem fez só para estar com ele.
- Você esteve apaixonado - afirmou Dafne. – amou desse
modo para poder compreendê-la?- Gabriel a olhou fixamente,tanto que ela se assustou apesar dele continuar sustentando-a
gentilmente.
- Sim, amei assim. - respondeu sem deixar de olhá-la. - Faz
muito tempo.
- Onde ela está? - perguntou, meio esperando ver a mulheraparecer repentinamente.
- Morta. - respondeu secamente. - E sim, antes que pergunte,
lembro como se tivesse sido ontem. – suspirou - Mas isto é sair
do tema, e falei muito.
Agora tem que dormir – afirmou - Já passou por muito paraum dia. Não pense e deixe que o tempo se ocupe de acalmar
as feridas. Embora pareça que não, até a pior delas cicatriza
com o passar dos dias.
- Não vou poder dormir.
- Eu a ajudarei. Farei você dormir e não se dará conta.
Levantou-se com ela nos braços, e Dafne não disse a ele que
podia caminhar perfeitamente. sentia-se melhor perto dele,
protegida e segura. E isso era algo que necessitava nesse
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momento. Dafne não sabia como ia fazer para dormir, quando
a imagem de sua mãe caindo ao chão a perseguia.
Gabriel abriu uma porta com a mente, e entrou em um
quarto lindo, claramente feminino e muito acolhedor. Os
móveis eram claros e tanto as cortinas como a colcha em que
Gabriel a deixou eram brancas.
O vampiro se virou e rebuscou por um momento dentro do
armário, até encontrar outro pijama, parecido com o queDafne ainda vestia. Estendeu-o e saiu do quarto enquanto ela
se trocava, assegurando a ela que voltaria em cinco minutos.
Quando voltou a entrar, ela já estava na cama, agasalhada
até o queixo. Gabriel se aproximou do leito e se concentrou em
adormecê-la. Dafne foi relaxando, mas ao ver Gabriel afastar-
se um passo voltou a despertar rapidamente, seus olhos muito
abertos pelo pânico. Estirou-se e agarrou a mão do vampiro,
aferrando-se a ela desesperadamente.
- Não me deixe sozinha - suplicou. - Por favor, não vá.
Gabriel voltou a aproximar-se da cama, mas desta vez se
sentou na beira. Beijou a mão da garota e a soltou, antes de
tirar a jaqueta e jogá-la descuidadamente ao chão. Acariciou a
face da jovem, desejando com toda sua alma apagar o olhar de
medo de seu rosto, embora soubesse que era impossível. Essa
noite a perseguiria por toda sua vida.
- Posso pedir a você que me abrace? – sussurrou - Só até quedurma, não quero ficar sozinha. - fez uma pausa enquanto
Gabriel tentava recuperar-se da surpreendente petição. -
Tenho medo - confessou em outro sussurro. - Eu estava
dormindo quando ele chegou. Não quero despertar outra vez
assim.
- Não se preocupe, chérie. Não a deixarei sozinha. Prometo a
você que estarei aqui quando despertar - disse enquanto tirava
os sapatos e se deitava ao seu lado, em cima do edredom.
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A jovem se encolheu imediatamente em posição fetal, e ele
acomodou as costas dela em seu peito, passando um braço
pela cintura dela. Depois a cobriu com as mantas, e começou afalar com ela em sua língua enquanto a fazia dormir. Dafne
não entendia nada do que ele dizia, mas sua presença e sua
voz lhe indicavam que não estava sozinha, que de algum
modo a protegeria de qualquer perigo. E dormiu.
CAPÍTULO 19
Elisa se atirou em cima da cama, chorando depois de
desprender-se dos braços de Alex. O vampiro tentou
aproximar-se, mas ela se embolou e fugiu dele.
- Elisa… - Alex engoliu em seco, tentando ser forte para ela.
- Elisa, por favor, me deixe…
- Não… - ela se balançava, soluçando. – deixe-me um
minuto, por favor. Deixe-me sozinha… preciso ficar sozinha.
- Não posso deixar você sozinha, amor. Não vou deixar você
agora, nem nunca. E embora agora não queira estar comigo
precisa de mim. Deixe-me ficar com você, amor. Não se isole,
Elisa.
Alex rodeou a cama, mas ela voltou a retroceder e a
encolher-se no outro canto do leito.
- Não pode me entender- disse ela- Não quero estar com
ninguém, não quero ver ninguém… só quero ficar só e chorar
a vontade, por que não me entende?
- Entendo você perfeitamente.
- Como?- soluçou ela.
- Já disse a você que perdi toda minha família, não é
verdade?- ela levantou os olhos e olhou-o, assentindo com
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a cabeça. - O que não disse foi que praticamente eu mesmo os
assassinei, por minha estupidez.
- CO… como?
- Eu era o cabeça da família, meu pai morreu quando eu
tinha quinze anos. Eu era quem se encarregava de administrar
tudo, quem se ocupava de que minha irmã e minha mãe
estivessem bem e felizes. Quando me apaixonei por Catalina e
insisti em desafiar o duque, selei não só minha sentença, mastambém a delas. Não tendo mais filhos varões, tudo o que
minha família possuía, que não era muito, passou diretamente
para meu primo, um bastardo inútil preocupado apenas em
aparentar o que não era e gastar tudo jogando.
Não demorou nenhuma semana para expulsá-las de casa, e
elas tiveram que mudar para a cidade, sem nada mais que o
que vestiam. O duque se encarregou de que ali não pudessem
encontrar nem um só trabalho decente. Gabriel e eu
mandamos dinheiro para elas, mas já era tarde quando nos
inteiramos onde estavam. Minha mãe tinha morrido, a
assaltaram. Minha irmã… - fechou os olhos - Minha irmã se
suicidou nessa mesma noite, em um quarto imundo na pior
estalagem da cidade. Não cheguei a tempo nem para enterrá-
la, descansa em uma fossa comum. Não sei nem onde
enterraram minha mãe. – Fez uma pausa – Acredita agora que
a entendo?
Elisa ficou olhando-o com os olhos arrasados em lágrimas.
- Não quero perder minha irmã, é tudo o que resta de minha
família.
- Passará - assegurou Alex – Apenas é muito jovem, está
perdida e triste. Dê a ela alguns dias para que pense e reflita.
Para que se dê conta de que você não fez nada de errado.
- Mas fiz. Se não tivesse me convertido…
- Não tinha nenhuma opção, teriam matado você e a elas.
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Agora temos uma chance. Como é uma de nós, poderemos
enviar os guardiões para protegê-la.
- Mas me odeia. Minha própria irmã me detesta.
- Passará, quando entender tudo e se recuperar do que
aconteceu esta noite.
- Espero que sim. - Sussurrou. Depois o olhou nos olhos e
deu um sorriso trêmulo. – Sabe que o amo, não é mesmo?- Não tanto quanto eu a você, Elisa. Isso eu posso jurar.
Elisa suspirou, e logo foi adormecendo com o som do
coração de Alex como arrulho. Ele esperou ela dormir e, com
cuidado para não despertá-la, levantou-se da cama. O sol
estava a ponto de sair e a claridade não demoraria aincomodar sua companheira, assim fechou as grosas cortinas
de forma que não entrasse nem uma fresta de luz dentro do
quarto. Sigiloso, saiu pela porta e a fechou atrás dele.
Não tinha sono, e sim muitas coisas que falar. Onde Gabriel
teria se metido? Decidiu ir à biblioteca, dado que era o lugar
mais seguro para encontrar o imortal.
Entrou na biblioteca, para encontrar-se só nela. O aroma
familiar dos livros o envolveu e Alex inalou profundamente,
satisfeito. Embora não fosse nem metade do bibliófilo11 que
Gabriel era, sabia apreciar um bom livro e também tinha
passado muitas tardes entre essas quatro paredes, quando
eram apenas os dois e Alex estava tão consumido pela idéia de
vingança que nada nem ninguém poderia distraí-lo.
Tinha passado muito tempo desde aqueles dias, e graças à
imensa paciência de Gabriel aprendeu que a vida não era para
se deixar correr em vão, e começou a treinar para combater à
Ordem. A essas alturas seria um guardião se houvesseaceitado o posto, mas o rechaçou porque não queria que nada
11Bibliófilo – colecionador de livros. (Aurélio)
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Vingança
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- Estou irritável trinta dias ao mês, hoje estou simplesmente
de saco cheio até os ossos. – bufou - E na verdade importa que
tenha feito ou não uma promessa a você? Estaria ali inclusivese não tivesse prometido.
- Nunca suportou ver um inocente sofrer.
Gabriel fechou os olhos e contou até dez. Depois, ao ver que
a contagem anterior não funcionava para minguar sua
irritação, deixou-se cair em uma poltrona e rezou para que elapassasse sozinha, coisa que, como era de esperar, não ocorreu.
- Alex, fale de uma vez. - disse soltando o ar devagar e
controladamente.
- Quero os guardiões as protegendo.
O olhar azul de Gabriel o perfurou até que a única coisa que
seu instinto lhe gritava era para pôr-se a correr antes que a
fúria do vampiro caísse sobre ele. Soube antes que ele
respondesse que ia se negar e soube igualmente que não
serviria de nada protestar.
- Por que não?
- Não posso. Movi-os hoje contra as normas, e só porque
estávamos em meio a uma caçada. Não posso mantê-los
protegendo a elas todo o tempo. O conselho não permitiria.
- Você é o presidente do conselho - assinalou Alex - Você é o
conselho.
- Eu não sou nada - sorriu Gabriel - Isso era uma das coisas
pelas quais não disse isso a você em seu tempo. Não tenho
poder para quase nada, exceto para o que eu mesmo possa
fazer. Não posso mover os guardiões sem motivo, nem
convocar o conselho por qualquer coisa.
- Não é sem motivos, inocentes estão morrendo.
- Muito poucos – Gabriel virou a cabeça para a janela. - Se
movesse os guardiões e a Ordem notasse, seria um
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Aránzanzu Rodriguez - 01 Uma Estranha
Vingança
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açougue. Atacariam antes que nós pudéssemos reagir. Esta
noite cometi uma estupidez, e não serviu para nada. Nenhum
dos dois conseguiu evitar.
- Você…
- Nem sequer eu posso estar em dois lugares ao mesmo
tempo - cortou Gabriel.
- Então não podemos fazer nada?- Não. Ninguém mais além de nós pode intervir.
- Merda. Não pode fazer de verdade ou não quer tentar?
- Acredita que eu gosto desta situação? Que desfruto vendo
você e sua sofrer? Que eu gosto que uma jovem esteja lá em
cima totalmente destroçada por algo que não é culpa dela eque não pôde evitar? Ela viverá sempre com medo, Alex. Faria
o que fosse para evitar isso. Mas não está em minhas mãos,
entende? Não posso fazer nada.
Alex amaldiçoou enquanto começava a andar pelo tapete.
Era um gesto que adotava sempre que estava nervoso, e estavez não ia ser menos. Gabriel se estirou na poltrona e começou
a passar as mãos pelos cabelos, um gesto muito dele que
atirava ao chão sua fama de imperturbável. Logo suspirou e se
levantou, servindo um drinque. Quando levantou a cabeça
para seu amigo ficou atônito ao ver que Alex sorria
malignamente.
- O que diabos está acontecendo com você? - Alex voltou a
rir. - No que pensa?
- Em que… - Alex voltou a rir. - estando presos nesta merda
de situação, não me ocorre ninguém mais indicado para
compartilhá-la que você. - Agora foi a vez de Gabriel sorrir. - É
uma grande sorte que meu maldito melhor amigo seja um dos
velhos, de verdade.
- Não me chame velho, filho - Gabriel o apanhou em um
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Aránzanzu Rodriguez - 01 Uma Estranha
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abraço rápido, surpreendendo Alex pela raridade do gesto. -
Agora vou vigiar à bela adormecida do andar de acima, antes
que desperte.
- Qual das duas?
- A que não tem um companheiro que arrancaria minha
cabeça… Que tentaria arrancar minha cabeça - corrigiu-se –
caso me ocorresse vigiá-la enquanto dorme. – Ao voltar a
olhá-lo nos olhos, os de Gabriel cintilaram com sinceridade -Sairemos desta, Alex. Os quatro.
- Espero que sim, porque ou saímos juntos ou não acredito
que haja saída possível.
Suas palavras, embora tivessem sido ditas sem pensar,
caíram com o peso de uma profecia.
Ambos ouviram a verdade nelas e afastaram os olhos,
intimidados. Alex começou a subir a escada devagar, com os
passos cansados de quem sente o peso do mundo sobre os
ombros. Gabriel tomou um caminho mais rápido e se dispôs a
velar o sonho da jovem que dormia intranquila, com as marcas
das lágrimas ainda no rosto.
CAPÍTULO 20
Sua cabeça ia explodir. As ferroadas eram contínuas e
dolorosas, imensamente irritantes. Marcos apalpou a testa
com cuidado para encontrar o ferimento, e a tirou manchada
de sangue. Tinha um golpe bastante feio, embora não grave. O
sangue não indicava nada, ferimentos na cabeça costumavam
sangrar muito embora não tivessem importância. Havia outras
partes de seu corpo que terminaram bastante piores.
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Aránzanzu Rodriguez - 01 Uma Estranha
Vingança
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189
A dificuldade ao respirar indicava que ao menos uma de
suas costelas tinha saído bastante esmagada, se não quebrada.
Tentou ficar em pé, mas o joelho direito também falhou e omandou direto de volta ao chão.
- Bem, bem - disse a si mesmo - Agora já sabe o que não
funciona. Assim faça-o trabalhar. – concentrou-se e voltou a
levantar-se, agora um pouco mais estável - Com cuidado…
cuidado… - um primeiro passo cambaleante.
O segundo custou menos, e o terceiro já tinha algo parecido
com equilíbrio. A articulação danificada tremeu ligeiramente,
mas já podia senti-la curando-se. Era uma das coisas boas que
tinha sua vida: tudo doía muitíssimo, mas não demoraria a
deixar de fazê-lo.
O que o preocupava era a outra dor, uma que não
diminuiria segundo passasse o tempo. Sentia como se uma
pedra estivesse pousada sobre seu peito, custava-lhe respirar,
custava-lhe inclusive pensar no porquê da aflição. Dafne
estaria morta. A estas alturas, já teria deixado de existir -
pensou. E ele era o culpado.
Ela tinha acreditado nele, ainda quando não o conhecia.
Dafne tinha rido, havia brincado, tirado brincadeiras,
contando a ele tolices de sua vida e tentando surrupiar dele
pequenos detalhes da sua. Tinha aberto as portas de sua casa,
e acreditado nele.
Tinha que encontrá-la – pensou – Tinha que encontrar seu
corpo, levá-lo para sua irmã, enterrá-lo… qualquer coisa
menos deixá-lo para a ordem para que o incinerassem e se
desfizessem dele.
Inspirou profundamente. Seu aroma ainda estava no ar,
flutuando suavemente. Ele sabia que esse aroma seincrementaria no segundo andar, onde ela passava mais
tempo. E agora mesmo era o único que restava, assim melhor
entesourá-lo.
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Aránzanzu Rodriguez - 01 Uma Estranha
Vingança
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190
O relógio da entrada soou uma vez: já era madrugada. Fez
rapidamente seus cálculos: o ataque foi antes da meia-noite,
assim a Ordem mandaria alguém para limpar a casa por voltadas cinco ou às seis da manhã, quando a proximidade do
amanhecer impedisse os vampiros aproximar-se. Isso dava a
ele uma margem de três horas no mínimo e cinco no máximo.
Era tempo mais que suficiente.
Subiu ao andar de cima e enfrentou sua imagem no espelho.
Os mesmos olhos negros de sempre devolveram seu olhar. O
que esperava, que algo mudasse por fazer uma única coisa boa
em toda sua vida? Se nem sequer tinha se saído bem… tinha
se arriscado para protegê-la e nem isso tinha conseguido. Não
havia nenhuma mudança em seu aspecto, nada que indicasse
que já não pertencia à Ordem; os olhos continuavam tão
escuros e vazios como sempre, a pele igualmente morena. O
sangue coagulado obscurecia sua têmpora direita e grudava
seus cabelos à cabeça, chegando inclusive a manchar a borda
da sua camiseta. Tirou-a com cuidado; era a única que tinha e
não podia permitir-se fazer compras. Limpou-se rapidamente,
com cuidado para que não restasse nenhuma gota no lavabo
para testemunhar que esteve ali.
O aroma de seu sangue sufocou durante um momento o
perfume que flutuava por toda a casa, mas não demorou a
voltar a invadir o banheiro quando terminou de limpar-se.
Saiu do banheiro e seguiu seu aroma até o último quarto do
corredor. Ali era tão forte que quase o enjoava e estava por
toda parte, no roupão enrugado em cima da poltrona, no
travesseiro, na toalha com a qual secou os cabelos… Levantou
o travesseiro e enterrou o nariz em suas dobras. Passeou pelo
quarto, mas ao chegar à poltrona algo o parou em seco. Outra
presença, algo muito mais escuro esteve ali. O que demônios
faria um vampiro no quarto da garota? E o aroma não era o deAlex, estava completamente seguro.
Revistou a casa de cima abaixo, mas não encontrou nem
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Aránzanzu Rodriguez - 01 Uma Estranha
Vingança
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rastro da jovem. O corpo sem vida de Rafaela continuava na
entrada, não tinham levado ela. Por um segundo pensou que
em vez de matá-la poderiam havê-la capturado, mas com umsorriso reconheceu que não o teriam deixado vivo a menos
que estivessem fugindo rapidamente. A traição não era algo
perdoado facilmente entre os caçadores. Assim só restava uma
opção… que seu mestre tivesse tido que fugir rapidamente,
sem tempo de acabar o trabalho. A onda de alegria que o
percorreu foi incrível.
Se seu mestre tinha fugido… o aroma que detectou no
quarto não foi nenhum engano. Dafne estava protegida por
vampiros, Por vampiros! Soltou uma gargalhada enquanto
girava sobre si mesmo. Estava segura durante quarenta e oito
horas, e depois ele ia encontrá-la.
Elisa despertou confusa. Sua cabeça pesava, como sempre
que chorava, e seus olhos ardiam. Desceu da cama com
cuidado para não incomodar Alex, que dormia abraçado a ela.
Não queria despertá-lo, porém passear por uma casa vazia
tampouco a atraia no mais mínimo.
Saiu ao corredor com a ideia de descer ao primeiro andar e
comer algo, mas mudou de opinião ao ver a segunda porta
entreaberta. Entrou silenciosamente para não despertar Dafne,
que parecia uma bola entre as mantas. Sua respiração era
suave, estava relaxada.
Ao aproximar-se da cama um movimento chamou sua
atenção. Gabriel estava sentado em uma poltrona,
profundamente adormecido. Sua cabeça apoiada no respaldo
e os cabelos caíam sobre sua testa, desalinhados. Parecia tão
jovem… quando na realidade era um dos seres mais antigos
que Elisa veria em toda sua vida.
O vampiro se moveu inquieto antes de abrir os olhos. Toda
a vulnerabilidade que Elisa viu nele desapareceu e voltou o
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Vingança
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Gabriel de sempre. Seus olhos perfuraram Elisa durante um
segundo antes de reconhecê-la e suavizar-se. Levantou-se
agilmente e caminhou até a borda da cama. Elisa o seguiu comos olhos até que ficou ao seu lado, e apoiou a mão em seu
ombro.
- Sinto muito - disse o vampiro, em voz baixa para não
despertar a jovem.
- Obrigado - Elisa deu um apertão em sua mão. - Se nãofosse por você, estaria morta – apontou para Dafne com a
cabeça enquanto sentia Gabriel retesar-se detrás de ela. –
Agora ambas devemos a vida a você. – estremeceu-se – Juro a
você que quando a vi saltar pelo balcão…
- Sei - assentiu ele. Ela o olhou assombrada. - Sinto o que
você sente, lembra-se?
Elisa deu um sorriso trêmulo.
- Ultimamente não faço mais que chorar - Elisa secou uma
lágrima rebelde que tentava descer por sua face.
- Não teve um início fácil. Mas o tem feito muito bem.Superará.
- Minha irmã me detesta, não é mesmo? - os olhos de Elisa
encontraram os azuis de Gabriel.
- Não sei - negou com a cabeça, rompendo o contato com ela
- Não posso ver nada em Dafne.
- Não pode? Por que não?
- Tampouco sei. Desde o primeiro momento que a vi, esteve
fechada para mim. Nem um pensamento, nenhuma sensação.
É uma folha em branco.
- Sempre foi assim - Elisa esboçou um sorriso triste,
nostálgica - Nunca pude chegar a conhecê-la de tudo, e muito
menos tentar adivinhar o que pensa. É uma garota muito
amável e divertida, mas é muito difícil chegar a ela. Pode
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viver toda uma vida ao seu lado e não conhecê-la
absolutamente, ou ao menos eu tenho essa impressão. Nem
sequer sabia que ela se sentia observada até que foi muitotarde. Não pude ler nela.
- Nunca transmite nada?
- Só a vi completamente entregue quando dança. Deixa-se
levar pela música e é ela mesma, sem artifícios, sem guardar
nada.
- Eu gostaria de vê-la dançar - Elisa olhou para Gabriel, que
exibia um meio sorriso.
Ficou alucinada ao passar pela sua cabeça a idéia do
vampiro apaixonado pela sua irmã, acaso poderia ser esse o
motivo de que a cuidasse tanto? Elisa o negou rapidamenteenquanto observava o imortal a seu lado.
Gabriel soube no mesmo instante o que Elisa estava
pensando, o que ele negou para si mesmo uma e outra vez. E
embora se impusesse todas as objeções possíveis, as ouvir na
mente de Elisa piorou seu humor, se isso fosse possível.
Afastou-se dela bruscamente, tentando em vão que ela não
notasse sua irritação.
Elisa soube que tinha ofendido Gabriel logo que o olhou de
novo. Tinha a mandíbula rígida e olhava fixamente à frente,
deixando que os cabelos cobrissem seu perfil. Sua frieza a fez
sentir-se como no primeiro dia, fazendo que quase voltasse atemê-lo. Tomou ar para desculpasse, mas antes de poder dizer
algo ele se virou para onde estava e sustentou seu olhar. Ela
retrocedeu um passo antes de dar-se conta do que havia feito,
e ainda assim teve que conter-se para não continuar
retrocedendo.
- Não se preocupe com isso - disse o vampiro. A voz fez que
um calafrio percorresse as costas de Elisa, o medo se
converteu em uma pedra em seu estômago. – Não tocarei nem
em um cabelo de sua querida irmãzinha, asseguro isso a
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você. Limitar-me-ei a mantê-las vivas até que tudo isto
termine para depois desaparecer. É o que faço sempre, e o faço
realmente bem. - Não pôde ocultar o ressentimento em suaspalavras, embora tivesse tentado. Não havia nada que o
incomodasse mais que perder o controle, e o perderia se
continuasse sentindo a compaixão e o medo na mente de Elisa
- Além disso… nunca misturo prazer com negócios. - Ela
ofegou, surpreendida.
- É o que tudo isto é para você? Negócios?- O medo e o
pesar foram substituídos rapidamente pela ira, e Gabriel quase
suspirou de alívio.
- Sou o presidente do conselho, recorda?- Deu meia volta e
abriu a porta. - Se sair daqui me avise. E pelo amor de Deus,
não tenha medo de mim. Acredita que vou matar você sóporque me ofendeu? Alex ainda continua vivo.
Gabriel saiu antes que ela pudesse dizer algo, e fechou a
porta. Elisa já sabia reconhecer a pequena vibração no ar que
produzia ao transportar-se, e não se surpreendeu ao senti-la.
Dafne começou a se mexer logo que Gabriel se foi da casa, e
Elisa ficou atônita ao ver com seus próprios olhos a conexão
que havia entre os dois.
Alisou os cabelos de sua irmã, afastando-os do rosto. Elisa
estimava ao Gabriel, e sabia que devia a ele muito mais do que
podia chegar a lhe compensar. Ele foi quem interveio diante
do conselho por sua conversão, ele foi quem se ofereceuvoluntário para apadrinhá-los. Gabriel tinha lutado para
salvá-la no jardim, quando o caçador a encontrou. Tinha
salvado a vida de Dafne nessa mesma noite, resgatando-a
quando tudo estava perdido para ambas.
E apesar de tudo, quando pensou em Dafne e ele juntos…
não pôde aceitar a idéia. Ela era muito jovem e inocente, e ele
muito velho. Ele tinha visto mais do que correspondia a
qualquer ser humano, e sua irmã mal tinha começado a
descobrir o que era a vida realmente. Muito velho, muito
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Vingança
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poderoso, muito perigoso… se repetia como um mantra na
cabeça de Elisa. E havia se encarregado de que Gabriel
soubesse, ofendendo-o de passagem. Como podia ser tãoestúpida? Ela nunca teria apostado em sua própria relação
com Alex se soubesse toda a verdade, entretanto agora não
viveria sem ele. Poderia desculpar-se, mas sabia que ele nunca
aceitaria suas desculpas.
Dafne voltou a mover-se dormindo, e Elisa se resignou a
chamar o vampiro. Se Gabriel continuasse longe acabaria por
despertar, e necessitava do descanso. Resignando-se, mandou
uma chamada para ele, e esperou até que o vampiro entrou no
quarto para partir.
Gabriel entrou tentando ignorar Elisa. Pensou que teria mais
tempo para se tranquilizar antes que o chamasse de volta, masessa não era sua noite. Ela partiu tão logo ele cruzou a soleira,
assim não supôs nenhum problema.
Dafne voltou a mover-se dormindo. Sabia perfeitamente
que estava sonhando, mas não podia fazer nada para evitar
que as imagens desfilassem dentro de sua cabeça. O sonho era
circular, sem um princípio nem um fim, só uma sucessão dos
momentos que tinha vivido. Uma e outra vez ouviu a
campanhia da porta e viu sua mãe cair ao chão, uma e outra
vez Marcos tentou adquirir para ela alguns segundos de vida.
Gabriel se levantou da cadeira do canto logo que Dafne
chamou pela primeira vez. Quando finalmente conseguiudespertar, ele já estava ao seu lado, e seu rosto foi o primeiro
que viu ao abrir os olhos. Enfocou o olhar e se reclinou
rapidamente, fazendo que Gabriel se separasse da cama para
deixar espaço para ela.
- Tive um pesadelo - disse ela secando os olhos.
- Sei. - Assentiu ele.
- E você ficou comigo. Obrigado. E também por me ajudar a
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dormir.
- Não me agradeça. Está melhor?- Dafne assentiu com acabeça. – Precisa comer algo. Subo algo ou pode descer para
comer?
- Prefiro descer. - Dafne olhou ao seu redor. - Onde
estamos?
- Em minha casa - respondeu Gabriel enquanto estendia um jeans e uma camiseta para ela. – Trouxe isto para você, espero
que sirva.
Dafne entrou no banheiro com os objetos, mas continuou
falando enquanto se trocava.
- Onde fica sua casa? Nos subúrbios?- Não exatamente - respondeu o vampiro, apoiando-se
contra a porta que dava para o banho. – Fica no centro… de
Paris.
- Paris?- Dafne abriu a porta de repente, ainda despenteada
e descalça. - Estou em Paris? Paris de Notre Dame? A TorreEiffel? O Louvre? O arco do triunfo? Os campos Elíseos?
- Acaso há outra Paris? - Sorriu Gabriel. Dafne
correspondeu a ele com o primeiro sorriso de felicidade
autêntico que nunca tinha visto nela.
- Temos tempo de ver a cidade? É seguro? Podemos? Leva-me?- parou um segundo a enxurrada de perguntas - Sabe falar
francês? Por que vive aqui?
- Dê-me um segundo e começarei a responder. - riu Gabriel,
e inspirou fundo - Temos um dia e meio para ver a cidade, é
completamente seguro, claro que podemos e sim, levarei você.
Sei falar francês, seria complicado viver aqui se não soubesse,e vivo aqui porque esta é a área que me atribuíram para
proteger e porque eu adoro.
- Não há assassinos por aqui? - O medo sombreou os
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enquanto a percorriam. Não parou nem por um momento de
fazer perguntas a respeito de tudo: se havia comprado as
antiguidades ou se eram dele, desde quando vivia na casa, emque bairro estava, quanto distava da torre Eiffel… Gabriel
respondeu todas suas perguntas, assombrado pela inata
curiosidade da garota e reprimindo-se para não fazer a ela
suas próprias perguntas.
Entraram juntos na cozinha. Ela a estudou com um olhar
calculador, olhando as bancadas polidas, os copos limpos e
secos, os pratos perfeitamente colocados e o fogão com a
tampa baixada e aspecto de desuso. Elevou uma sobrancelha
divertida e olhou para Gabriel.
- Parece que não usa muito isto - abrangeu a cozinha com
uma mão.
- Costumo pedir comida a domicílio. - Dafne enrugou o
nariz com desprezo e ele esclareceu - Nem sempre é comida
lixo, também encomendo aos restaurantes pescados e carne.
Eu não gosto de cozinhar.
- Preguiçoso. - Foi a única resposta de Dafne.
Gabriel suspirou e abriu a despensa para tirar o pote de
café. A cafeteira estaria também em algum armário, embora só
Deus soubesse qual. Afastou-se um passo e tentou recordar
onde demônios teria escondido o maldito utensílio, ignorando
o olhar de diversão da garota. Após um minuto, foi ela quem
rompeu o silêncio.
- Que tal se procurarmos nos armários? Talvez encontremos
o Santo Graal por aqui. - Gabriel assentiu, e ambos começaram
a abrir todas as portas da cozinha.
No final Dafne foi quem teve sorte. Com um grito de vitória
se levantou do chão, a cafeteira em sua mão direita levantada.
Dez minutos depois, o aroma do café fazia do cômodo um
paraíso.
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- Por que tem duas geladeiras? - Dafne olhou para Gabriel
por cima da borda de sua xícara. Este, ocupado em recuperar
dela um pedaço de croissant , ignorou-a.
Com um bufo, ela se levantou e abriu a porta da primeira.
Leite, fruta, iogurtes… parecia o empório da comida saudável,
incluindo brotos de soja e demais milagres contra o colesterol.
Se não tivesse visto o conteúdo das despensas poderia ter
pensado que seguiam uma dieta saudável.
Duvidando ao ver a cara de diversão de Gabriel, estendeu a
mão para pegar a porta da outra geladeira. O primeiro que
notou foi que a temperatura era muito mais baixa que na
outra. O segundo, que estava cheia de bolsinhas perfeitamente
ordenadas, formando filas. Ao se dar conta do que estava
vendo fechou a geladeira de repente.
- Droga isto parece a cozinha do Hannibal Lecter12. Não teria
que ter isso em um porão ou algo assim?
- Sim - Gabriel respondeu muito sério - Mas entre o ataúde,
os esqueletos e as virgens a sacrificar não tenho espaço no
porão. - Ela o olhou horrorizada, e Gabriel soltou umagargalhada. - E eu que acreditava que tinha senso de humor…
- Tenho senso de humor. O que ocorre é que falar sobre
esqueletos no porão não são minha especialidade.
Quando ele voltou a rir Dafne aproveitou a oportunidade
para jogar o pano de prato nele. Enquanto ele se esquivava,estirou-se e roubou dele o pedaço de croissant que restava.
A cara de assombro do vampiro era realmente cômica
enquanto Dafne terminava de comer o doce. Lambeu os dedos
e o olhou com seu melhor sorriso maligno.
12Hannibal Lecter é um célebre personagem de ficção elaborado pelo escritor
Thomas Harris, que surgiu pela primeira vez no livro Dragão Negro (1981). As
aventuras de Hannibal continuarem, no entanto, em O Silêncio dos Inocentes
(1988) e em Hannibal (1999).
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- Esqueci de dizer a você que também sou extremamente
vingativa quando a situação requer - sorriu ela.
- Acabo de me dar conta.
Gabriel ficou calado e olhou para a porta. Alex entrava
nesse momento, com aspecto de estar horrivelmente esgotado.
Apertou as têmporas com as mãos antes de ir para a geladeira
e pegar uma das bolsas de sangue.
- Importa-se? - Assinalou para o Dafne. Ela negou com a
cabeça e Alex serviu o sangue em um copo.
- Argh… é realmente asqueroso.
- Se soubesse a quantidade de lixo químico que tem um Big
Mac não diria isso - Alex brincou com o copo entre os dedosantes de voltar a olhá-la. - Está melhor esta amanhã?
- Suponho que sim. - Respondeu ela - Mas ainda não
consigo acreditar.
- Elisa está igual - suspirou ele.
Dafne afastou os olhos do vampiro e começou a retorcer oguardanapo.
- No entanto está empenhada em culpá-la? - Dafne não
respondeu. - E eu que pensava que era inteligente.
- Alex, vai pra merda - Gabriel o olhou zangado. - Poderia
deixar brigar por um momento, não?
- Não brigue você comigo, amigo. - respondeu Alex. - Elisa
está lá em cima destroçada só porque esta menina não quer
admitir a verdade. É muito mais fácil culpar a ela que à
Ordem, não é mesmo? Muito mais simples sobrecarregá-la
com a responsabilidade, porque ela está disposta a aceitá-la.- Elisa sabia no que se metia não é mesmo? Ela sabia da
existência dessa molesta Ordem que podia nos atacar. Ela
sabia que era um vampiro… E eu não tinha nem idéia de
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201
que algo assim poderia ser verdade! Passei mais de uma
semana quase sem poder dormir porque o filho da puta que
matou minha mãe estava observando. Elisa sabia, mas contou-me isso? Não! Isso podia pôr em perigo seu precioso Alex, que
não podia defender-se por se só… Você sabia que nos
atacariam, Acaso fez algo? Chegou quando era muito tarde,
isso é o que fez! Se tivesse servido para algo… mas não,
resgatou-me seu amiguinho - disse apontando para Gabriel. -
Porque você foi muito fraco para fazê-lo. Marcos ficou na casainconsciente por tentar, e nem sequer sei se continua vivo ou
não. E entramos neste caos por culpa dela, culpa sua e dela!
Assim não me diga que ela está chorando lá em cima e que
deveria ter pena dela, porque ela não pensou nem por um
segundo no que nos esperava quando o escolheu. Foi
completamente egoísta, não espere que eu seja altruísta comela! - disse batendo com um dedo no peito de Alex. - Assim
não se atreva a me julgar, nem imagine. Despertei uma noite e
minha vida tinha dado uma virada, e não precisamente para o
bem! E tudo porque minha irmãzinha se apaixonou por um
chupa sangue e decidiu que ele importava mais que nossas
vidas. Agora faça o favor de se afastar de meu caminho antesque me ocorra a idéia de começar a estacar pessoas enquanto
dormem, ou a envenenar a merda dessa geladeira.
Dafne empurrou Alex e saiu da cozinha. Em pouco tempo
ouviram a porta principal da casa fechar, quando ela saiu
correndo. Alex olhou para Gabriel.
- Vai procurá-la?
- Depois - respondeu ele - Necessita um minuto longe de
nós e tudo o que representamos.
- Odeia-nos.
- Disse algo que não fosse verdade?
- Não foi imparcial. Não podíamos dizer nada a ela, você
mesmo descumpriu as normas ao falar com ela.
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- Talvez devêssemos as haver descumprido - suspirou
Gabriel. Alex o olhou fixamente.
- Elisa tinha razão - disse olhando-o surpreso. - Está
apaixonado pela Dafne.
- Elisa se acredita muito esperta e tende a esquecer que,
tristemente, eu sou o único que sabe o que sinto.
- Então, não é verdade?- Alex - suspirou o vampiro - Eu gosto das mais maduras e
muito menos inocentes. Sou dos que pensam que o sexo de
uma noite é a melhor invenção desde que o mundo é mundo,
e não tenho vontade de mudar de pensamento. Não por uma
menina – grunhiu Gabriel.
- Só estava perguntando…
- Calma, sua companheira já se encarregou de deixar claro
para mim que fique bem longe de sua irmãzinha quando não
necessitar de minha ajuda para continuar viva.
- Disse a você desta maneira?- Alex estava assombrado. - Àsvezes é um pouco irracional, e agora está sob muita pressão…
- Igual a sua irmã.
- Entendo: Não julgue Dafne até que entenda sua situação.
- Exatamente. Agora vou procurá-la antes que meta-se em
problemas.
- Boa sorte.
CAPÍTULO 21
Marcos seguiu o rastro durante toda a noite. Dafne estava
ao norte, podia senti-la cada vez mais perto. Quando
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cruzou a fronteira as sensações se dispararam.
Era lógico que se refugiasse na França. O país era quase aterra prometida para qualquer vampiro, e um pesadelo para a
Ordem. Perderam mais guerreiros entre as fronteiras do país
da Gália13 que em todas as Américas juntas.
Um dos velhos vivia em Paris, certamente um membro do
conselho. Ninguém sabia à exceção dos próprios vampiros,
porque ninguém tinha saído vivo para contar.
Pois bem, agora Marcos teria a primeira oportunidade, se
não o matassem antes. A única coisa boa na maldita equação
era que se eles protegiam Dafne estaria completamente
segura.
Quando o sol saiu estava em Orleans. Já tinham passado dasdoze horas, e tinha outras trinta e seis para encontrá-la. As
trinta e seis horas mais longas de sua vida, pensou ele.
A presença de Dafne era mais forte ao norte, assim o mais
seguro é que estivesse em Paris. Não levaria muito tempo a
chegar, assim decidiu que se ia enfrentar uma manada de
vampiros de mau humor o melhor era fazê-lo descansado.
Registrou-se em um hotel dos subúrbios com um nome
falso. Seu quarto era pequeno, mas depois do centro em que
viveu a mais mínima privacidade era bem recebida. Mesmo
quando quase não podia nem se mover pelo cansaço, a ducha
o chamava com seu canto de sereia. Só de imaginar a águacorrendo pela sua pele… valia a pena esperar um momento
mais pelo sono. A água estava quase fria, mas a ducha lhe caiu
muito bem. Apesar da sobriedade do hotel havia sabonete e
xampu, o que agradeceu. Não teve tempo para fazer a mala, e
tudo o que tinha eram um par de mudas limpas, dinheiro e
sua arma. Tampouco necessitava de mais - pensou.
13Gália – antiga região da Europa.
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204
Atirando-se em cima da cama, procurou Dafne com seus
pensamentos. Estava dormindo e inquieta, mas segura.
Marcos se aconchegou entre os lençóis, sentindo sua
aspereza. Bloqueou o hotel contra qualquer um com um
mínimo de poder que pudesse cruzar suas barreiras e se
permitiu descansar.
O caçador entrou na sala de reuniões. O líder estava sentado
na cabeceira da mesa, rodeado pelos outros conselheiros. A
atmosfera da sala era de ira contida, e ele soube que sua morte
acabava de acelerasse o suficiente para sentir à parca14
respirando em sua nuca. E a maldita tinha um fôlego frio de
verdade.
Ninguém falou nem se moveu. Nove pares de olhos o
contemplavam, todos na sala exceto o líder, que estava
olhando para o fogo. A cadeira começou a girar em sua
direção com um chiado. “O momento perfeito para um filme
de terror” pensou o caçador profundamente apavorado.
Merecia tudo o que lhe pudesse acontecer, tinha perdido seualuno - cometendo traição, nada menos-, falhou em capturar à
psíquica e nem sequer pôde matá-la. Concluindo, tinham
dado uma surra de morte nele em menos de três segundos. A
única coisa boa era que agora tinham o rastro de um novo
vampiro. A ruim, é que era muito poderoso para capturá-lo.
Com um calafrio contemplou a figura que o olhava da
poltrona de couro. O rosto era extremamente pálido e os olhos
negros reluziam como brasas. Os cabelos estavam soltos, coisa
estranha nele. Caíam lisos e escuros da extremidade de sua
testa até debaixo do peito, brilhando na semiescuridão. A
14Parca – cada uma das três deidades infernais irmãs, Cloto, Láquesis e Átropos,
representadas com a figura de velhas, onde a primeira fiava, a segunda enrolava
o fio e a terceira cortava o fio da vida do homem. Em linguagem poética é a
morte
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única nota de cor estava na cicatriz de sua face direita. Depois
de tantos anos não era uma linha branca esvaída, continuava
de cor púrpura como se fosse uma ferida recente. Ninguémmencionava ao líder essa cicatriz, ninguém que queria
continuar vivo. O caçador voltou rapidamente à realidade
quando ele começou a falar.
- Irmãos - a voz soou por toda a sala. - Todos sabem por que
estamos aqui, Não é mesmo?- As outras nove vozes afirmaram
ao mesmo tempo. Assentiu com a cabeça e se voltou para o
caçador - Você também sabe, não?
- Sim, senhor.
- Sabe que falhou.
- Sim, senhor.
- Sabe que vai ser castigado.
- Sim, senhor. - repetiu pela terceira vez baixando a cabeça.
- Tem uma oportunidade para se defender. Dê-nos uma só
razão.- O aprendiz se revoltou contra mim e me atacou…
- E não pôde derrotar a um aprendiz?- interrompeu outro
dos que estavam sentados à mesa.
- Sim pude, mas deu tempo a ela. E eles chegaram, o
vampiro e sua companheira. Apesar disso a encurralei e nãorestava opção: ou comigo ou morria. Nem os dois monstros
puderam fazer nada para evitar.
- Então… como escapou, por caso se pode saber?
O caçador fez uma pausa e logo passou quão último
qualquer um acreditaria: sorriu. Um grande sorriso, satisfeito,que proclamava que ele tinha o total controle da situação.
- Foi bastante fácil - disse sem perder o sorriso - Apareceu o
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Imortal.
- O Imortal? - os olhos do líder se abriram com a surpresa.- Exatamente. Alto, imponente e muito poderoso. Convocou
o tratado entre ele e a menina e logo desapareceu com ela
depois de me obrigar a partir.
- Então como sabe quem era?
- Já tinha aparecido outra vez, senhor - o caçador ignorou apergunta - Quando ataquei à outra, antes que se convertesse
em um monstro, ele me impediu disso. Apareceu do nada e
me derrubou antes que pudesse respirar. Naquele momento
não sabia de nada, só pensei que era um antigo. Mas ontem…
ontem tirou sua arma pela primeira vez.
- A espada?
- Sim, senhor. Uma espada de prata, do punho até o fio. Não
há outra igual.
- Está seguro de que era completamente de prata?
- Só tinha uma tira de couro no punho, couro negro. Dizalgo a você?
- Era alto - o caçador assentiu com a cabeça - Loiro?- outro
assentimento - Magro e ágil. Extremamente bonito. Os olhos
azuis e uma aura mortal. - Mais assentimentos. - Então é ele.
O líder se contagiou com o sorriso do caçador, ficando depé. Os olhos dele brilhavam de emoção contida, e o rubor
aflorou em suas faces. Rodeou a mesa até ficar em frente do
caçador, e ante o assombro de todos o abraçou como a um
irmão.
- Vá agora - disse - Melhor, vão todos. Quero ficar sozinhoum momento.
Abandonaram a sala deixando-o no meio das cadeiras
vazias. Deu uma volta sobre si mesmo, a expressão febril
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ele sentou-se, virando-se para poder olhá-la nos olhos
enquanto falavam.
- Não me repreenda - começou a falar antes que ele pudesse
soltar o sermão. - Sei o que disse, acredito nisso e não vai me
convencer do contrário.
- Não queria convencer você de nada - ela o olhou surpresa,
mas os olhos de Gabriel não mentiam, era sincero.
- Acredita que o que disse era verdade?
- Acredito que você o sente como algo verdadeiro. - Agora
só era lástima o que nublava aqueles olhos, a pena a zangou
rapidamente.
- Ah, já vejo. Pobre menina tola que não faz outra coisa senão jogar a culpa em sua irmã porque não pode suportar que
mataram sua mãe e tentaram matá-la também. É tão fraca que
não é capaz de aceitar e afronta todo mundo, não é?
- É a pessoa mais forte que conheci. -Ela desviou os olhos. -
Não, me olhe. Olhe-me.
Pegou sua cabeça entre as mãos e a fez enfrentar seu olhar.
Os olhos do vampiro estavam muito perto e eram muito
bonitos, a verdade mais absoluta refletia em suas azuis
profundidades. Sua aura se estendeu para envolver a ambos
em um momento carregado de magia. Dafne achou que tinha
deixado de respirar, seus lábios entreabertos procurando o
fôlego que se esqueceu de tomar. O momento cresceu e
passou, deixando a ambos sobressaltados. Ela se mexeu
incômoda e Gabriel a soltou, demorando o suficiente para
roçar levemente suas faces com as pontas dos dedos, como se
doesse perder seu contato.
- Escute-me. - ordenou quando sentiu suas própriasemoções se agitarem dentro dele - Sinto muito, por você e por
sua irmã. Sinto por Alex e por todos os que caíram neste jogo
sinistro. Ninguém podia evitar, Elisa e ele estavam
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predestinados desde o princípio. Talvez se tivéssemos sido
mais cuidadosos, se o tivesse matado na noite em que
ameaçou sua irmã no jardim as coisas tivessem mudado.
- Ameaçou minha irmã?
- Quando Elisa estava em seu tempo de decisão, o caçador
se aproximou dela para lhe oferecer entrar na ordem em troca
da vida de Alex. Negou-se completamente e depois ele a
atacou. Tirei-o de cima a tempo e o mandei de volta, como éproibido ataque entre nós nessas quarenta e oito horas não o
matei, mas tampouco disse a ele quem eu era. Se soubesse que
Elisa estava sob meu amparo poderia ser que se assustasse e
não as atacasse, embora também haja a opção de que o fizesse
pior só para me machucar.
- Duas perguntas.
- Diga-me.
- O que é tempo de decisão? E a segunda… por que teria
que temer mais a você que ao Alex?
- O tempo de decisão é um dos poucos acordos que há entrea Ordem e os vampiros. Quando um mortal normal e comum,
alguém como você ou Elisa, se misturam em nosso mundo
têm um tempo para decidir se querem ficar ou não conosco. –
Ele negou com a cabeça, frustrado – Estou me explicando
muito mal – lamentou-se - vamos ver, vamos supor que você
me conhece faz tempo, e eu decida que vou pedir a você quese converta em um vampiro, ou você descubra o que sou. A
partir do momento que eu conto você tem quarenta e oito
horas para decidir se estar comigo e me aceita ou se pelo
contrário quer partir e não voltar a me ver. – Ela assentiu –
Bom… pois agora é quando se complica. Se a Ordem se inteira
que é algo para mim certamente fará sua própria propostapara me caçar. Nessas quarenta e oito horas pode ir com
qualquer um dos dois, sem que possamos feri-la por sua
decisão.
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- Assim se eu agora decidisse ir com a Ordem…
- Levaríamos você até eles e deixaríamos você ficar sem nosopor. - respondeu o vampiro imediatamente.
- Mas o caçador propôs que eu me unisse à Ordem antes
que soubesse quem eram.
- Coração, já disse a você antes que era especial. Tem
algumas capacidades que superam o normal.- Eh?
- Pode sentir qualquer um que tenha poderes psíquicos ao
seu redor, pode fechar sua mente para mim se assim desejar e
com certeza se treinarem você um pouco resultará muito
perigosa.- Deus muito santo! Eu faço tudo isso? - Ele apenas sorriu. -
E agora estou nisso das horas…
- Resta um dia e meio até que volte a estar em algum perigo.
- Se os escolher. - ressaltou ela.
- Se nos escolher. - Agora foi Gabriel quem apartou os olhos.
- Sinto muito – ela se apressou a desculpar-se. – Ofendi
você…
- Não se desculpe – ele voltou a sorrir para ela, mas ela
notou que continuava magoado pelo que havia dito. - É que sóo fato de que possa se unir a eles… - fechou os olhos e
respirou fundo. - Desloca-me.
- Se decidisse partir me mataria?
Gabriel se retesou e a olhou com tal cara de horror que ela
se arrependeu imediatamente do que disse. Sem pensar seaproximou dele e pegou sua mão que estava sobre o banco.
- Acredita seriamente que poderia matar você depois…? De
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que poderia machucar você?
- Não sei. - ela mordeu o lábio, fazia isso sempre que estavanervosa. A óbvia agitação de Gabriel a afetava muito para
pensar com claridade.
O vampiro soltou sua mão e se afastou dela tudo o que o
pequeno banco lhe permitia, e Dafne se doeu por perder seu
contato. Ele fechou os olhos e se inclinou para trás, tal como
ela estava quando a encontrou.
- Pensa de verdade que não temos sentimentos - cobriu a
cabeça com as mãos - Que somos monstros. Acredita que não
duvidaríamos em matar você se não se aliar a nós? Acredita
que depois de falar com você, de conhecê-la, poderia pegar
uma arma e matá-la sem pensar duas vezes?
- Sei que você não me faria mal - esclareceu ela, sem saber
muito bem por que estava tão segura dessa afirmação. - Mas…
e os outros? Acaso todos os vampiros são tão
pormenorizados? Com certeza mais de um me veria como
uma ameaça se eu não me aliar a vocês.
- Planeja ficar com eles? Depois de tudo o que fizeram a
você?
- Não quero ficar com ninguém, Não pode haver um meio
termo? Não pretendo lutar, não procuro vingança. Só quero
viver em paz, sem que ninguém machuque nem a mim nem
aos que amo em nome de uma luta que não entendo nemcompartilho.
- Não há precedentes. Não sei se aceitariam que soubesse a
respeito deles e a deixassem livre. Normalmente é um “ou
comigo ou com ninguém”, ou amigo ou inimigo. Uma
declaração de neutralidade pode não funcionar.
- Entendo.
O silêncio caiu sobre o casal, cada um perdido em seus
próprios pensamentos. Dafne via seu futuro, nunca em
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paz, nunca relaxada, e lhe afligia. Ela sempre quis ter uma
vida emocionante, mas seu conceito de emoção consistia em
um grande trabalho, viajem ao redor do mundo e conhecertodas as pessoas que pudesse. Agora a única coisa que
sonhava era com uma vida aborrecida sentada em qualquer
escritório, sem nenhuma noticia a respeito de vampiros ou
caçadores, sem nenhuma guerra milenar que a tivesse
apanhado justamente no meio.
Mas também teve que admitir que não queria partir, pelo
menos não em um futuro imediato. E que o vampiro que
sentava ao seu lado tinha noventa por cento de culpa nessa
decisão. Nunca havia se sentido tão bem com alguém, nem
com sua mãe, nem com Elisa… sempre havia algo dela mesmo
que mantinha oculto, mas isto agora não lhe acontecia. Com
ele podia ser ela mesma, e o tinha sido desde o começo,
quando pensava que ele era um fantasma ou um produto de
sua imaginação. E agora que havia perdido tudo, ele tinha se
convertido em seu centro, no lugar onde sabia que tudo ia dar
certo. Mais que isso, queria conhecê-lo, enfiar-se em sua alma
e saber o que ele pensava quando franzia o cenho, ou quando
exibia um meio sorriso em seus lábios. Ou, como agora,
parecia que o mais mínimo toque poderia quebrá-lo.
Então, ela decidiu. Ia ficar.
Gabriel se lamentava por ela. Entendia o que a jovem estava
sentindo e o entristecia saber que não podia fazer nada para
ajudá-la. Mas uma parte dele também estava decepcionada
por ela não querer ficar com eles. É que não via as vantagens?
Não teria que se preocupar com nada nunca mais, estaria
segura e protegida, poderia fazer com sua vida o que desejasse
apenas dizendo as palavras adequadas. Mas ela só queria se
afastar deles o mais rápido que pudesse. E isso doía mais em
Gabriel do que nunca pôde imaginar. Porque teve que aceitarque a queria ao seu lado, queria ver como a jovem especial
que via agora se transformava com o tempo em uma mulher
extraordinária. Queria ganhar seu carinho, que seus olhos
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se iluminassem cada vez que o vissem. Queria ele sorrindo
para ele todos os dias, e saber que era feliz. Maldita seja, por
isso sempre evitava os mortais.
- Gabriel… - Dafne sussurrou seu nome e ele a olhou. Ela
ficou sem respiração, nunca pensou encontrar tanta desolação
em seu olhar. Não sabia que essa mesma dor encobria seus
olhos.
- O quê? - respondeu no mesmo tom, apenas um sussurro.
- Não quero ir.
Gabriel fechou os olhos e suspirou. “Graças a Deus” –
pensou. A Ordem, o tempo de decisão, o conselho… tudo
dava no mesmo. Era uma das poucas vezes em que se sentia
completamente à vontade seu papel de presidente,simplesmente porque nada poderia detê-lo no que queria.
- Não tem porque ficar aqui para sempre - sorriu ele,
querendo explicar a ela tudo nesse mesmo momento. - Poderá
viajar para onde queira, poderá viver onde te der vontade,
com quem queira. - franziu o cenho ante este pensamento. - O
que vai jurar só diz que não revelará quem nós somos, ou
onde vivemos. Prometo a você que terá uma vida normal, se
assim desejar. Se deixar minha casa e assim quiser, nunca
voltará a ver um vampiro se não for absolutamente necessário.
Seus filhos e os filhos de seus filhos herdarão esse amparo,
embora não saibam.
Dafne o olhou nos olhos, o riso e o alívio refletidos nos seus.
Voltou a aproximar-se dele, sem ser consciente de que se
afastou por algum tempo. Gabriel deixou que voltasse a pegar
sua mão, dando um suave apertão na dela. O que queria na
verdade era abraçá-la, mas se conteve para não assustá-la.
Qual foi sua surpresa ao sentir os braços dela ao redor de seupescoço, apertando-o com força. Sustentou-a suavemente, sem
terminar de acreditar enquanto seu aroma o envolvia.
Separaram-se após algum tempo, ela sorrindo, ele ainda
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surpreso.
- Obrigado. – Ele apenas sorriu para ela. - Ainda resta umapergunta, não é verdade?
- Uma pergunta?
- Por que o caçador tem mais medo de você que de Alex? Se
os dois são vampiros…
- Esta pergunta é mais fácil. Eu criei Alex - esclareceuGabriel - Eu sou muito mais velho que ele e, portanto, muito
mais poderoso.
- De quanto mais velho estamos falando? - Ela elevou uma
sobrancelha.
- De muito mais velho. Não me faça dizer a você quanto.
- Agora fiquei curiosa! - queixou-se ela.
- Pois já sabe o que dizem da curiosidade e o gato...
- É mais velho que a Torre Eiffel?- provou ela.
- Sim. - Gabriel sorriu quando ela começou o jogo.
- Mais velho que Beethoven?
- Sim.
- Mais que Mozart?
- Entre Mozart e Beethoven não se passou tantos anos. - Elaarqueou a sobrancelha e ele suspirou - Sim, sou mais velho
que Mozart.
- Cervantes?
- Também.
- Ai, Deus… estou começando a me assustar.
- Disse isso a você.
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- Eu não gosto que me digam “Eu não disse” - franziu o
nariz.
- Sei - riu ele.
- Mmm… Mais que Shakespeare?
- Sim.
- Certo… vamos para meio milênio. Realmente é aborrecido,
de verdade. Leonardo Da Vinci?
- Mais velho ainda. Isto vai durar um bom tempo se
continuar assim.
- De acordo, vamos usar a força. Mais velho que Carlos
Magno?
- Mais velho, sim senhor.
- Julho César?
- Um pouquinho mais.
- Droga! É mais velho que a fome!
- E mais preparado, também.
- Não brinque… É pré-histórico!
- Não é para tanto. Sou da época da grande república
romana e todas essas tolices que obrigam vocês a aprenderem
hoje em dia. Apenas um pouco mais que Cayo Julho Césarque, por certo, foi um grande homem. Lastimo por Cleópatra.
- Era tão bonita quanto dizem?
- Nunca a vi, em sua época era vampiro, neófito, e tinha que
me manter afastado do sol. Mas deve ter sido uma grande
mulher para pôr aos seus pés os homens mais poderosos domundo.
- E levá-los a ruína, pelo menos a Marco Antônio.
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prazeroso - Agora se concentre e se deixe levar.
O suspiro exasperado de Dafne foi o último que se ouviuenquanto a luz iluminava o lugar.
CAPÍTULO 22
- Como se sente?- Alex estendeu a taça para Elisa. Ela olhou
o sangue com o cenho franzido e enrugou o nariz. O vampiro
revirou os olhos ante o gesto de asco de Elisa. - Tem que
beber, necessita-o. Se até eu sinto!
- Não se ofenda, mas é que ainda acho um pouco…
asqueroso, isso de beber sangue humano.
Alex sorriu ante seus escrúpulos, tomou um gole e se
inclinou para capturar seus lábios.
Elisa ofegou, surpreendida, antes de corresponder o beijo. O
leve gosto do alimento na boca de Alex a cativou e incitou,
fazendo que sua resposta fosse muito mais agressiva do que o
normal. Foi ela quem tomou as rédeas, saboreando cada fresta
da boca de seu amante, roçando com a língua a ponta de suas
presas. Alex mordeu seu lábio inferior antes de afastar-se,
rindo quando ela gemeu de frustração e tentou voltar a se
aproximar dele.
- Beberia de mim?- perguntou sorrindo. Viu as pupilas dela
se dilatarem enquanto olhava fixamente a veia de seu pescoço
e o sorriso desapareceu. O desejo o invadiu quando Elisa
lambeu os lábios, completamente concentrada nele.
Alex se separou só o suficiente para fechar a porta com
chave. Ao voltar para seu lado se deu conta de que já nada
cobria o corpo da vampira. Ele também se desfez de suas
roupas antes de entrar nos braços que ela estendia para ele.
Enterrou as mãos em seus cabelos aproximando-a para um
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beijo, mas ela resistiu e afastou seus braços, deixando-o de
costas sobre a cama.
Subiu por seu corpo até estabilizar-se sobre seus quadris.
Alex gemeu ao senti-la contra ele, e ela sorriu sabendo o poder
que tinha nesse momento. As mãos dele seguraram seus
quadris enquanto ela apoiava as suas sobre seu peito e
começava a mover-se lentamente contra ele. O vampiro
perdeu o controle e ofereceu o pescoço a ela voluntariamente.
Uma das mãos de Elisa prendeu seus cabelos, mantendo sua
cabeça para trás enquanto cravava suas presas na pele. A
súbita dor fez Alex estremecer, antes que o prazer percorresse
todo seu corpo feito ondas. Chegou rapidamente ao topo,
sentindo sua companheira estremecer em cima dele antes de
cair sobre seu peito. Alex não tinha força mais que para
abraçá-la, tentando recuperar o fôlego.
- Definitivamente - disse depois de um tempo - se for
transformar cada alimentação nisto, vou ter uma vida
maravilhosa ao seu lado. – Sentiu seu corpo vibrar com a
risada - Não, sério - insistiu. - eu adoro que você não goste do
sangue humano. Só que agora não sei como fazer paraenfrentar o resto do dia. Matou-me. - disse com um suspiro.
- Está morto há muito tempo. Não jogue a culpa em mim.
- Mmm… graças ao céu. Que tal uma ducha?
- Se me mover de cima. - Elisa levantou a cabeça para olhá-
lo nos olhos. Os dele cintilavam, mais verdes que nunca,
quando a suspendeu e a levou até o banheiro. - Você não disse
que não tinha forças para nada?
- Descobri reserva ocultas - Alex abriu a ducha e controlou a
temperatura, antes de colocar aos dois juntos debaixo do
chuveiro. – Como se sente?
- Maravilhosa - ela levantou a cabeça enquanto o jorro de
água alisava seus cabelos. Alex virou-a e pegou o xampu de
sua prateleira, criando espuma entre suas mãos antes de
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começar com os cachos.
- Adoro seus cabelos - sussurrou ele em seu ouvidoenquanto puxava suavemente seus cachos, penteando-os com
as mãos. – Prometa-me que deixará ele crescer muito, muito
comprido para mim. - Separou-o de seu pescoço e percorreu a
suave linha da clavícula com os lábios. Elisa gemeu, teria
prometido qualquer coisa nesse momento. - Quero senti-lo ao
nosso redor quando fizermos amor.
Ela voltou a gemer e se esfregou contra ele sensualmente.
- Que tal se começamos a praticar agora? - Alex soltou uma
gargalhada e suspendeu-a, sustentando-a contra a parede da
ducha. Olhou-a nos olhos, nublados pela paixão e sorriu.
- Criei um monstro - disse antes de beijá-la. - E eu adoro.
Um bom tempo depois conseguiram abandonar a ducha.
Continuavam rindo e tirando brincadeiras enquanto se
vestiam. Elisa ficou parada no centro do quarto durante um
segundo, escutando seu corpo.
- Tenho fome - disse ela. Alex arqueou uma sobrancelha eatirou um tênis nela. – De comida - esclareceu enquanto ele
voltava a sorrir.
- Normal - Alex olhou seu relógio. - Saltamos o café da
manhã e quase o almoço. Descemos para pegar algo?
Ela rio e saíram abraçados, rindo quando o estômago deElisa roncou em protesto. Encontraram Gabriel e Dafne na
sala, vendo televisão. Ambos estavam jogados na poltrona,
relaxados. A jovem monopolizava a maior parte do sofá de
três lugares, deitando-se sobre o braço do sofá e pousando os
pés nus nos joelhos do vampiro. Ainda estava coberta com seu
casaco, aconchegada dentro da veste que ficava ridiculamentegrande.
Gabriel levantou os olhos quando entraram na sala, e logo
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- Vai pedir comida a domicílio?- perguntou Elisa.
- Se espera que eu comece a brincar de cozinhazinha, sente-se e espere - brincou Gabriel. - Vamos… não temos todo o
tempo do mundo, sabem?
- Pelo menos eu não - disse Dafne, ganhando um sorriso do
vampiro.
- Bem, pequena mortal - respondeu Gabriel - sendo a quetem menos tempo… O que quer comer?
- Qual é a que você menos gosta?- Gabriel jogou a cabeça
para trás em outra gargalhada.
- A turca - respondeu rapidamente.
- Mentiroso - Dafne captou rapidamente. Não se deu contada surpresa dos vampiros ante essa afirmação.
- A Chinesa - disse abatido.
- Pois vamos aos rolinhos! - ela levantou o punho
simbolizando vitória.
- Torturadora - acusou-a o vampiro.
- Sim… é minha profissão favorita, mas nasci muito tarde
para exercê-la – riu ela.
- Então… selamos a paz a base de rolinhos?
O silêncio caiu sobre eles como uma pedra, e de repentetodos olharam incômodos ao chão. Gabriel pigarreou,
zangado, e por fim os outros três levantaram a cabeça e se
olharam uns aos outros, como considerando a proposta do
imortal. Elisa ainda estava em dúvida, e Alex receava as
intenções de Gabriel, suspeitando que ele tivesse uma
predileção muito forte por Dafne. Ela ainda não se sentiamuito segura, e também duvidava deixar passar tudo tão
rápido. Gabriel era o único que parecia completamente seguro
de si mesmo, com as mãos apoiadas nos quadris e um
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cenho obstinado no rosto.
- Eu não gosto da idéia de estar me fazendo de mamãepacificadora até que isto passe. – começou - E mais, só a idéia
me deixa de mau humor. E vocês não querem me ver de mau
humor. Já tentei separadamente sem nenhum resultado, assim
decidi que daqui não sai ninguém, nem com comida nem sem
ela, até que tudo esteja esclarecido. Portanto, vamos nos sentar
e falar.
Gabriel deixou o telefone sem fio em cima de seu suporte e
voltou a sentar ao lado de Dafne, que agora estava reclinada.
Vendo que outra vez mordia o lábio, estendeu a mão e pegou
a dela para tranquilizá-la. Soltou-a rapidamente ao ver o olhar
receoso de Elisa, mas obteve seu propósito, já que notou que a
jovem estava um pouco mais serena.
Não tinha sido sua primeira idéia forçar um enfrentamento
das quatro partes, mas ao ver o desconforto na sala soube que
era a única opção que restava. Juntos ia ser muito difícil vencê-
los, mas tal como estavam eram presa fácil, Elisa e Alex de um
lado, Dafne de outro e ele mesmo tentando navegar em um
ponto intermédio.
Os companheiros se sentaram na outra poltrona e ficaram
completamente em silêncio, de mãos dadas. Alex olhava para
Gabriel zangado, mas o imortal, como sempre, não dava a
mínima importância. Elisa se dividia entre assegurar-se que
seu companheiro estava ao lado e dar olhares de esguelha asua irmã. Dafne simplesmente olhava à frente, aparentemente
tranquila, mas Gabriel notava a leve palidez em seu rosto e a
forma com que suas mãos se agarravam com força as bordas
do casaco.
- Claro, como sou o mais imparcial do grupo - Alex lançou
um olhar assassino para ele e o vampiro lhe respondeu com
outro de produção própria - e o único que não tem seus
sentimentos envolvidos - outro olhar de ódio da parte de Alex
- serei eu que começarei a relatar os fatos. Alguma objeção?
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- silêncio. Alex estava zangado, mas não era tão suicida para ir
contra o presidente do conselho quando se punha agressivo.
- Pois bem. - continuou falando Gabriel - Como tudo o que
tem que ocorrer acaba ocorrendo, a profecia que fizeram a
Alex no momento de sua morte deu seus frutos. Nosso amigo
aqui presente seguiu os desígnios do destino e conheceu sua
companheira – apontou para Elisa. – Até o momento nada
estranho, salvo transgredir algumas normas que eu decidi
passar por cima. E se eu passei por cima delas, ninguém pode
queixa-se – concluiu.
A Ordem encontrou você - disse a Alex - e decidiu que era
um incauto bom de eliminar do caminho. Dado que já
sabíamos que tinham atuado na Rússia não foi uma surpresa
saber que continuavam ativos. O ruim vem agora; com suaexperiência deveria ter se coberto de tal forma que nunca o
encontrassem, mas o detectaram. Primeiro erro.
Elisa - virou-se agora para a jovem - soube graças a um
caçador que seu amante era um vampiro. Desgraçadamente,
depois de saber de tudo, correu para a casa da mamãe, pondo
todos em perigo. Segundo erro.
Alex, sabendo que Elisa estava em seu tempo de decisão e
em perigo, deixou-a ir e a pôs sob minha vigilância em vez de
ficar com ela. Terceiro erro.
A ordem atacou e enviou o caçador atrás de Elisa. Como
estava em seu período de decisão, eu não matei o caçador e
sim o enviei de volta, cumprindo as normas. Quarto erro.
Depois, por acaso entrei em contato com Dafne e deixei-a
vislumbrar quem eu era. Infelizmente, nego-me a ver isso
como um erro, já que salvou sua vida e não trouxe nenhuma
consequência grave até o momento.
Dafne sentiu a presença da Ordem vigiando a casa, mas não
disse nem a mim nem a sua irmã tão claramente quanto
deveria, já que Elisa pensou que percebia a mim ou a Alex.
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Quinto erro.
Todos cometemos erros, uns piores que outros. Todosatacamos uns aos outros, sem saber que isso nos prejudica
mais que nos beneficia. Além do que disse, há algo mais que
reprovar?
- Não está sendo imparcial - atacou Alex.
- Sei. Disse que era o mais imparcial do grupo, não que seriatotalmente.
- Isso não é justo - replicou Elisa.
- Infelizmente, a vida não é justa - Gabriel a enfrentou sério.
- Mas além das vicissitudes do ser humano, ou vampiro, ou
ser com consciência própria, alguma queixa? - negaram com acabeça. - Pois já está. Não vai haver mais enfrentamentos, nem
mais briga e mais rancores. Nós quatro fizemos merda, e
agora cabe enfrentar isso o melhor que possamos. E, crianças,
a próxima vez que os vê discutindo, mamãe vai chutar seus
traseiros. - disse apontando para eles com o dedo.
- Sim, mamãe - disse Alex em tom malicioso. - Só prometaque não vai baixar minha mesada.
Ao ver a cara de Gabriel compreendeu que o vampiro não
estava para brincadeiras. Olhou para Dafne sentada na
poltrona. Parecia extremamente jovem e indefesa, mas
devolveu seu olhar com coragem. Ele suspirou e estendeu a
mão para ela.
- Dado que o chefão falou… assinamos trégua?
- Trégua – ela apertou sua mão e sorriu.
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CAPÍTULO 23
Gabriel pediu a comida, que chegou em menos de meiahora. O entregador ficou paralisado na porta de entrada,
olhando assombrado à imensa mansão. Era impossível que
tivessem pedido dez porções de comida Chinesa nessa casa.
Maldição! Tinham-no extorquido outra vez. Estava a ponto de
dar meia volta quando saiu correndo da casa uma garota ruiva
e descalça acompanhada de um homem alto e loiro. Nãoabriram a porta para ele, e sim se aproximaram pessoalmente
à grade para recolher a comida. Ela sorriu para seu
acompanhante ao ver o logotipo do restaurante, e o homem
loiro elevou os olhos ao céu exasperado.
Não abriram a porta para ele em nenhum momento, e o
olhar que o cara lhe deu o dissuadiu de perguntar. A garotasorriu para ele enquanto pegava a metade das bolsas de
comida e esperava que o homem pegasse as que restavam e o
pagasse. O homem estendeu uma nota de cem15 e antes que
desse tempo de procurar o troco ele fez um gesto com a mão
que tinha livre.
- Fique com o troco. - A voz não admitia réplicas. Ele se
limitou a gaguejar um agradecimento antes que o casal desse
meia volta e entrasse na casa.
Quando subiu na moto ainda estava alucinando. Esperava
que esses dois pedissem muita comida a partir de agora. Claro
como a água que se encarregaria da entrega pessoalmente.
Quando Gabriel e Dafne entraram finalmente na casa, o
estômago de Alex roncava sem trégua. Ao ver as bolsas que a
garota trazia, elevou as sobrancelhas.
15
No texto original há uma expressão que quer dizer 1.000 pesetas queconvertido, equivale a R$ 15,68, porém esse valor não condiz com o textoentão troquei pela nota de cem reais e essa observação é apenas umaforma de manter a integridade do texto.
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- Só essa comida? - exclamou. - Pode-se saber quantos de
vocês vão jejuar?
- Isto - disse Dafne agitando as bolsas que tinha nas mãos -
São cinco poções. Cinco. – repetiu – Isso significa que
deveríamos poder comer os quatro só com o que tenho nas
mãos.
- Pois vamos passar fome - disse ele com a cara mais triste
que ela tinha visto.
Logo pegou uma das bolsinhas e olhou dentro. - vamos
passar muita fome - reiterou.
Gabriel entrou justamente nesse momento com o restante
das bolsas e bebidas. Alex se levantou para dar uma mão a ele,
sorrindo de felicidade ao ver o resto da comida. Juntosestenderam todos os pacotes em cima da mesa e tiraram os
palitos.
- Palitos? Eu não sei comer com palitos - disse Elisa
franzindo o cenho. - E acredito que Dafne tampouco, Sabe?
- Não. Mas posso seguir o plano de emergência.
- Plano de emergência?- Gabriel estava intrigado. Separou
os dois palitos e os pegou corretamente entre os dedos. -
Como é um plano de emergência para palitos chineses?
- Fácil. - Dafne pegou os palitos e os separou, tal como tinha
visto Gabriel fazer. Só que em lugar de segurar o rolinho o quefez foi cravá-lo para aproximá-lo da boca.
- Não preferiria aprender?- Gabriel soltou uma gargalhada
ao vê-la comer com seu estilo particular.
- Eu não disse isso. Somente que tinha meu plano de
emergência.
- Pois não é má idéia. - Elisa imitou seu exemplo e cravou
outro rolinho. - Só que nos faz ficar péssimas diante da
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ofensiva elegância destes dois.
E era verdade. Gabriel e Alex comiam como se tivessemnascido com os palitos nas mãos, nenhuma migalha sujava o
lado da mesa que ocupavam. Ambos comiam como se
moviam, com uma fluidez fascinante.
- Não se preocupe. - resmungou Dafne. - Quando ele nasceu
- disse apontando para Gabriel com um dedo - Nem sequer
havia garfos. Asseguro que suas maneiras eram muito pioresque os nossas. - Gabriel elevou uma sobrancelha, sorridente,
enquanto voltava a levar os palitos à boca com suavidade.
- Isso é verdade - respondeu - Mas agora mesmo as únicas
bárbaras por aqui são vocês duas. Olhem como deixaram
tudo. Que triste… duas garotas tão bem educadas. - negou
com a cabeça fazendo cara de pesar enquanto mostrava o lado
da mesa em que as garotas estavam, que estava cheio de
migalhas.
Elisa e Dafne se olharam atônitas ante a brincadeira do
vampiro, e fizeram a única coisa que podiam fazer: contra-
atacar. Em menos de um segundo, a impecável camisa deGabriel tinha duas manchas laranja: porco agridoce. A cara de
surpresa do vampiro foi algo que nenhum dos três esqueceria
enquanto vivesse. Os pedaços de carne foram escorregando
pouco a pouco pela camisa, aterrissando com um plaf na calca
antes de cair no chão. Ninguém se moveu enquanto
escorregavam, mas ante o ruído da carne caindo ao chão Alexfoi o primeiro a soltar a gargalhada.
E, como era de esperar… desatou-se a guerra. Meia hora
depois todos estavam cobertos de pedacinhos de comida,
especialmente Alex, que tinha sofrido a sanha16 de Gabriel.
Dafne aprendeu que em uma batalha de comida, o poder de
mover objetos com a mente era realmente vantajoso.
Vantagem com a qual ela não contava, lamentou-se enquanto
16Sanha – fúria (Aurélio)
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tentava tirar o macarrão que tinha nos cabelos.
Gabriel tentou alisar a camisa. Desistiu. Logo tentou tiraralgo pegajoso dos cabelos. Também teve que desistir. Suspirou
e ficou contemplando a comida que manchava a mesa.
- Eu adoro essa expressão de indignação - disse Elisa. – Olha
para ele, não tem a cara de um cachorrinho espancado?
- Até me dá um pouco de pena - sorriu Alex - Se não fossepor o quer que seja que tenha nas costas está começando a me
picar como o demônio.
- Bom… - ronronou Elisa - Se quiser subir para se banhar
prometo esfregar suas costas.
- Só as costas? E eu que adoro que me esfregue em… - Basta! – interrompeu Dafne, que tampava os ouvidos com
as mãos - Não preciso conhecer absolutamente nada da vida
sexual de minha irmã. Os traumas saem caros, sabe quanto
custa um psicólogo hoje em dia?
- Não… mas podemos averiguar.Elisa e Alex desapareceram rapidamente escada acima,
enquanto Gabriel ria.
- Esses dois necessitam mais tempo a sós.
- Bom… prometemos não esperá-los para jantar - sorriu
Dafne. Logo se mexeu incômoda na cadeira. - Acredito que eutambém deveria tomar uma ducha. Tenho algo grudado nos
cabelos, e não quero saber que demônios é.
- Se quiser depois de tomar banho, há uma piscina coberta
na ala sul.
- Você vai? – Gabriel sorriu.
- Claro. Também adoro estar dentro da água. Também
tenho uma no exterior, mas como eu não gosto muito de ficar
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no sol não costuma está cheia.
- Eu adorarei dar um mergulho de cabeça, mas… - eladuvidou - Não tenho biquíni.
- Tem sim - sorriu ele - Esta manhã encomendei um pouco
de roupa para você. Não pode usar essa roupa sempre.
- Como encomendou roupas se esteve comigo o tempo
todo?- Chamei por telefone.
- Por telefone?
- Coração, se tiver dinheiro você não vai às lojas. As lojas
vêm a você.
Ela sorriu um pouco desconcertada. Não estranhou de
forma alguma o gesto de Gabriel. Desde que tinha chegado
não fez outra coisa que não se preocupar com ela. Cuidar dela.
Ficou nas pontas dos pés e deu um beijo na face dele.
- Obrigado. Vejo você em um minuto, sim?
Gabriel ficou parado, ainda sentindo a calidez de seus lábios
contra sua pele. De repente um simples banho não lhe parecia
algo tão inocente, e pensou em não ir. Transportou-se para seu
quarto e se enfiou na ducha. Agora era muito tarde para
retratar-se. Só pedia para ter força de vontade suficiente para
não fazer nenhuma tolice.
- Gabriel está se apaixonando por Dafne.
Elisa levantou os olhos para olhar nos olhos de seu amante.
Seus olhares se uniram através do espelho em frente ao qual
se penteava, e ambos compreenderam. Alex estava deitadoencima da cama, sem vestir nada mais que a calca. Os cabelos
escuros ainda estavam úmidos pela ducha, emoldurando seu
rosto. Estava começando a frisar-se e ele afastou as mechas
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que caíam diante de seus olhos impacientemente.
- Não pode ser amor. É apenas um capricho. Algotemporário. - respondeu ela, querendo acreditar nisso.
- Você não conhece Gabriel. É verdade que é um sedutor,
mas não se envolve com ninguém. Seus amores são de uma
noite, sem nomes, sem sobrenomes. Não há lugar para
sentimentos. Nunca.
- Por favor. Gabriel é um homem experiente. Muito
experiente, na realidade. Que atrativo pode encontrar em uma
menina de dezesseis anos?
- Sua irmã é especial. - replicou Alex – notou como o sente?
Como sabe o que pensa? Ninguém pode fazer isso. Sua
conexão é incrível, ainda mais profunda que a nossa.
- O que está tentando dizer com isso?
- Nada. Dafne também o sente.
- Ela é jovem e impressionável. Pelo amor de Deus, Gabriel
é um vampiro. Um vampiro muito velho que salvou sua vida.Comporta-se bem com ela e é tão bonito que daria inveja aos
anjos, quem não se apaixonaria por ele? Além dessa aura de
impenetrabilidade que o rodeia… Não se pode negar que
Gabriel é fascinante, como ela não ia se sentir muito atraída?
Mas estamos falando de outra coisa, não de um amor infantil.
Ele não é precisamente um adolescente.
- Sua irmã também é muito bonita. E inteligente. Não
entendo como banaliza isso desse modo.
- Não estou banalizado. - replicou ela.
- Sim o faz. Você viu como a olha? E como ela olha a ele?
Como os dois estão em perfeita sintonia? Ela reage ante eleinclusive adormecida. Só vendo a forma como a toca… como
se fosse à coisa mais frágil do mundo. A forma como seus
olhos brilham quando a olha. Gabriel está enamorado, não
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é um capricho.
- Eu não gosto disso.- Sei - sorriu ele. - Também vi como o olhava quando
estavam na poltrona.
- Deu-se conta?
- Acredito que todo mundo se deu conta, amor. - Alex ria.
- É que não quero vê-la envolvida nisto - Elisa fez um gesto
com a mão.
- Você não é feliz comigo?
- Sim sou. Claro que sou - O olhar de Elisa resplandecia ao
contemplar Alex. - Mas não é o mesmo.- De toda forma acredito que não há por que se preocupar –
Alex seguiu falando - Ele é tão teimoso que não admitirá isso
em toda sua vida.
- Isso deixando de lado o fato de que se a quiser nenhum de
nos dois poderemos fazer ou dizer nada para impedi-lo -resmungou ela.
- Não posso acreditar que se oponha
- Não me oponho.
- Mentirosa.
- Não me oponho!- virou-se para ele com as mãos nos
quadris, seus olhos jogavam faíscas. Alex adorava ver essas
profundidades violetas brilhando quando se zangava, mas era
algo que não ia dizer a ela. Em troca optou por ser
condescendente.
- De acordo. Se você diz que não se opõe, então imaginei oolhar de ódio quando ele pegou a mão dela. - Olhou-a
esperando ver que desculpa inventaria.
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- Não vou dar razão a você. - replicou ela.
- Isso eu também sei – sorriu - Mas não me faz nenhumafalta. O tempo me dará isso por você.
- Prepotente.
- Sei. Não a encanto? - olhou-a com malícia ao ver que ela se
zangava ainda mais. A escova de cabelo saiu disparada para
sua cabeça, mas a pegou.- OH, quer morrer?
- Não, não quero. Já o fiz uma vez, e tendo em conta o
quanto dói morrer não gostaria de repetir, obrigado.
- Não sei como pude me apaixonar por você.
- É que sou um gênio beijando. - afirmou categórico. Ela
bufou.
- Não pode levar nada a sério?
- Levo você a sério - aproximou-se e a abraçou,
contemplando a imagem dos dois no espelho. – Amo você.- Eu também o amo - ela virou-se em seus braços e o beijou
como se tivessem todo o tempo do mundo, desfrutando do
simples roce de seus lábios, sem se apressar.
Ainda abraçados, sentiu Elisa rir contra seu pescoço.
- O que é tão engraçado?- Ela voltou a rir enquanto o olhavanos olhos.
- Realmente é um gênio beijando.
Gabriel a esperava na piscina. A água estava quase morna,acariciando-o enquanto se deixava flutuar com a cabeça
apoiada na borda e os olhos fechados. Apesar de ouvi-la
descer as escadas seguia lutando contra o impulso de
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partir. Ela não se zangaria, sabia. Simplesmente lhe diria que
tinha algo a fazer, que não podia ficar, e ela o compreenderia.
Soube o preciso momento em que entrou, não era necessário
abrir os olhos. Ela vestia uma camiseta por cima do biquíni,
mas a tirou assim que entrou por causa do calor opressivo do
lugar. Seu aroma o saturou, muito mais intenso na sala
fechada e úmida.
Forçou-se a se tranquilizar. Seu controle desabava, e ela nemsequer tinha falado.
Dafne se aproximou lentamente, como temendo incomodá-
lo. Não disse nada até que ele abriu os olhos e olhou
diretamente nos dela. Ela ficou parada, justamente na borda
da piscina, esquecendo-se até de respirar. O olhar de Gabriel
era hipnótico, quase tangível quando deslizou os olhos por
seu corpo. Ela estremeceu. Não pôde evitar. E não foi um
estremecimento de medo.
Tinha a intimidado. Gabriel amaldiçoou a si mesmo ao vê-la
a beira da piscina, sem mover-se. Ela mordeu o lábio inferior,
e ele não pôde menos que notar. Seria consciente dasensualidade desse ato? Com certeza não. Mas seus lábios
pareciam tão suaves… Sacudiu a cabeça para limpá-la, Em
que estava pensando? Pelo amor de Deus, era uma menina.
Uma menina. Ali parada, inocente, sem saber as loucuras que
passavam pela mente do vampiro. Sem saber que ele estava se
perdendo na curva de seu pescoço, imaginando seu saborentre os lábios. Suas presas começaram a crescer
imediatamente, e ele amaldiçoou enquanto tentava controlar o
instinto.
- Incomodo você? – Perguntou duvidosa. - Como disse que
podia descer se quisesse…
Gabriel negou com a boca fortemente fechada para que ela
não pudesse ver a prova de seu desejo. Tentou respirar fundo
e concentrar-se em qualquer outra coisa, mas com cada
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baforada de ar não fazia mais que intoxicar-se com seu aroma.
Sua cabeça dava voltas, e sabia que ou saía dali imediatamente
ou acabaria fazendo alguma estupidez da qual se arrependeriapor toda eternidade. Como alimentar-se dela. Ou fazer amor
com ela.
Todo seu corpo rugiu ante a segunda idéia, e ele teve que
abafar um gemido. Nunca em sua vida esteve tão por um fio.
Tinha que sair dali. Agora. Antes que o calor e seu aroma
acabassem com o pouco que restava de prudência. Procurou a
escadinha desesperadamente, até dar-se conta de que estava
justo ao lado dela. Muito perto - disse sua mente. Muito perto.
Mas não tinha outra opção, assim se encaminhou para ela.
- Não posso ficar - disse entre dentes. - Tenho coisas a fazer.
Dafne estava desconcertada por sua atitude. Por que se
comportava assim de repente? Parecia que quão único queria
era pôr distância entre os dois, e quanto mais melhor. Mas
todos seus pensamentos se evaporaram ao vê-lo subir pela
escadinha.
Deus… era fantástico. Magnífico. Se antes sentiu dificuldadeem respirar, agora não sabia como seguia em pé. Vestia um
traje de banho frouxo que envolvia seus quadris estreitos e
destacava-se contra o branco de sua pele. Nesse momento não
era um vampiro, e sim um homem. E um muito atraente -
pensou enquanto via os músculos ondular sob a pele.
Mal tinha pêlo, exceto uma linha fina que nascia sob seu
umbigo e se perdia na cintura do traje de banho. Seguiu-a com
os olhos. Suspirou e umedeceu os lábios inconscientemente.
Ele passou por seu lado e se deteve em seco ao ouvir o som. O
tempo congelou-se quando seus olhos se encontraram, e
pareceu ir em câmara lenta enquanto se aproximava dela.
Gabriel se dispunha a sair quando ouviu o suspiro abafado
de Dafne. Virou-se e o que viu o deixou estupefato. Ela o
desejava. Olhava-o fixamente, as pupilas dilatadas e os
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lábios entreabertos, úmidos. Não pôde evitar, não nessas
condições. Com uma mão em sua nuca a fez aproximar-se
mais dele. Com o polegar da outra delineou a borda de seulábio inferior, sentindo a respiração dela em sua pele.
Ia beijá-la. Ela sabia, e não podia esperar. Entreabriu mais os
lábios, e voltou a umedecê-los. Sua língua tocou o polegar do
vampiro, que gemeu. A mão que tinha na nuca subiu e se uniu
à outra para emoldurar seu rosto. Jogou sua cabeça para trás e
ela fechou os olhos ao ver que se aproximava. Sentiu seu
fôlego fresco contra seus lábios, quase podia saboreá-lo.
Sussurrou seu nome, e esperou. Mas o beijo nunca chegou.
Gabriel rompeu o contato.
- Sinto muito… - disse entrecortadamente, surpreendendo-
a. Sua voz soava rouca de desejo, e nem sequer ele podiaentender como conseguiu parar a tempo.
Suas mãos deixaram de sustentá-la e desapareceu. Dafne
ficou piscando confusa ante o repentino e inesperado
resplendor que a cegou. Gabriel tinha ido deixando-a plantada
e sim, ofegante. Por que teria se detido? Acariciou os lábios
com um dedo. Tinha estado tão perto, e o tinha desejado
tanto…
CAPÍTULO 24.
Dafne passeava pelo jardim, desfrutando da luz do sol.
Nenhum dos habitantes da casa a perturbaria enquanto o
astro rei estivesse no alto do céu.
Caminhou pelo caminho que rodeava a piscina, desfrutando
da sensação da pedra reaquecida pelo sol contra seus pés.Gabriel havia dito a verdade, estava vazia. Sentou-se na borda,
deixando as pernas caírem para dentro. Estava confusa.
Achou que a chamavam, mas isso tinha que ser coisa da
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sua imaginação.
- Dafne!Marcos voltou a tentar, mas ela parecia não ouvi-lo. Era
normal, não sabia ainda o quanto o jardim era grande. Só
sabia que estava no exterior…
Dafne voltou ao ouvir seu nome. Levantou-se e rodeou a
imensa casa até a porta principal. Havia alguém a esperandoali, alguém a quem conhecia. Pôs-se a correr para a grade que,
como sempre, estava completamente fechada.
- Marcos?- gritou o nome enquanto se aproximava. Ele
sorriu. - Marcos!
- Olá - sorriu ele.- Está bem? Pensei que estava… - ela abriu a grade e se
jogou em seus braços. - Obrigado por me ajudar.
- Não foi nada - disse ele enquanto a abraçava. - Sinto não
ter feito mais.
- Fez o que pôde - refutou ela - e salvou minha vida. Comome encontrou?
- A Ordem nos treina bem - ele rio, mas sua expressão
mudou ao ver o temor nos olhos da jovem. - Não se preocupe,
pequena. Deixei-os antes dessa noite.
- Mas o caçador… ele não sabia.
- Deixar a Ordem não é algo que se possa anunciar se quiser
continuar vivo - disse ele. – Abandonei-a na mesma noite em
que decidiram matar você.
- Por quê? - Ele sorriu.
- Carinho, nem sequer eu sei. Só sabia que não podia fazê-lo.
E de repente compreendi que não queria viver assim nem um
minuto mais.
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- E agora? - ele encolheu os ombros.
- Vou começar uma nova vida. Procurar um trabalho, umacasa… já sa be, ser aborrecido e normal. Inclusive poderia ir à
universidade.
- Parece genial.
- Quando acabar seu tempo de decisão…
- Não sei o que farei - cortou ela.
Marcos olhou para a imensa casa da qual tinha saído. Era
evidente que quem vivia ali tinha dinheiro. E a aura que a
rodeava era de tal intensidade que punha seus cabelos de pé.
Fosse quem fosse o vampiro que a acolheu, tinha poder
suficiente para protegê-la. Era uma boa escolha. Apontou paraa casa.
- Pode dar uma volta?
- Não sou prisioneira aqui - respondeu ela. - E eu adoraria
ver um pouco de Paris, finalmente.
- Então nos perderemos juntos - sorriu ele - Porque nuncaestive em Paris antes.
- Genial. Tenho que entrar um segundo…
Marcos fez um gesto de segui-la, mas antes de poder chegar
à cerca se encontrou com Gabriel cortando sua passagem. O
imortal, embelezado com jeans pretos e camisa combinando,situou a jovem a suas costas enquanto o encarava. Marcos não
fez nenhum movimento, sabendo que se o provocasse sua
vida chegaria ao seu fim. O olhar daqueles olhos azuis não
prometia nenhuma compaixão, refletia o assassino que
atemorizava toda a Ordem desde seus princípios. A única
concessão que fez foi descer desarmado, e Marcos não era tãoestúpido para acreditar que isso representava alguma
vantagem para ele.
- Gabriel… - a voz de Dafne era quase um sussurro.
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Nunca o tinha visto assim. Aterrorizante, poderoso,
impassível ou distante… mas nunca antes a apavorou como
agora.
Gabriel a ignorou e continuou vigiando Marcos. Este deu
outro passo para trás, afastando-se da casa. Levantou as mãos,
no gesto universal de “estou desarmado”, as palmas para o
vampiro, que pareceu relaxar um pouco.
- Não vim para machucá-la - disse Marcos lentamente.Gabriel sorriu, mostrando as presas.
- Se tivesse vindo para machucá-la já estaria morto.
- Sei - afirmou o jovem.
- Tampouco venho para levá-la a Ordem.- Outro ponto positivo na hora de conservar sua vida.
Lamento dizer a você que já sabia.
- Se já sabia disso, por que o atacou?- perguntou Dafne a
suas costas.
- Nenhum membro da Ordem entrará em minha casa -afirmou Gabriel.
- Mas ele já não é membro.
- Foi. Quem nasce na Ordem, morre na Ordem. Não vivi até
agora permitindo a entrada de estranhos. E você, mais que
ninguém deveria saber. – Olhou para Dafne duramente. – Nunca, e repito isso a você, nunca vai abrir a porta para
ninguém em minha casa, Entendeu?
- De acordo - ela assentiu com a cabeça - Embora isso não
seja justo.
- Deve ser coisa de família pensar que a vida é justa - disseduramente o vampiro.
- Não precisa ser sarcástico.
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- Coração, nasci sarcástico. Se quiser sair com ele não a
impedirei. É livre. As portas de minha casa estarão abertas
para você, mas não para ele. - ao ver que Dafne abria a bocapara discutir, virou-se e deu as costas a ela para dirigir-se a
Marcos. – Mesmo que já tenha deixado a Ordem e não
necessite de convite, entre nesta casa sem ela e regarei o
jardim com seu sangue.
E com tão alegres palavras voltou a desaparecer, não sem
antes fechar a grade na cara dele. Dafne fez um gesto de
desculpa e entrou na casa para buscar sua jaqueta. Ela franziu
o cenho para Gabriel, que a esperava na entrada, e se virou
para sair da casa. Ia abrir a porta quando a voz do vampiro a
deteve.
- Se decidir mudar de lado… diga-me, sim?
- Por quê?- Gabriel não respondeu. Ela se virou e tentou
enfrentar seus olhos. A maior surpresa foi que ele desviasse os
olhos. Dafne voltou a perguntar.
- Porque quero estar preparado quando tentar me ferir -
respondeu sem olhá-la.
- Acaso eu poderia ferir você?
O vampiro não respondeu e se virou, subindo as escadas
ignorando-a.
Dafne amaldiçoou o caráter volúvel do vampiro, que
parecia feito para tê-la inquieta o tempo todo. Suspirou.
Depois correu para a porta e a abriu, caminhando para Marcos
que a esperava sorridente.
Gabriel chegou até o topo da escada antes de ouvir a porta
principal fechar.
Virou-se e voltou a descer para dirigir-se para onde na
verdade queria estar, a biblioteca. Pena que Dafne estivesse
em seu caminho. Se havia algo que o incomodava era estar
esquivando-se dela como se fosse um menino nervoso, mas
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já tinha demonstrado com acréscimo que tendia a ser um
imbecil quando ela estava perto. Havia momentos em que
valia a pena sacrificar o orgulho, e este era um deles. Se aomenos não houvesse olhado o rapaz aquela forma… se não
tivesse sorrido para ele, aquele sorriso que iluminava todo seu
rosto… Não vá por aí - advertiu sua mente. - A não ser que
queira estripá-lo. Deu-lhe um calafrio quando se deu conta de
que na realidade estava avaliando os prós e os contra.
Deixou-se cair na poltrona mais próxima à porta,
amaldiçoando quando viu que a garrafa e os copos estavam
longe dele, sobre outro suporte. Para acabar o dia, necessitava
alimentar-se e não podia sair para caçar enquanto sua casa
fosse a creche municipal. Por fim cedeu e se levantou do sofá.
Com supremo cuidado puxou um dos cantos do bar móvel,
abrindo uma geladeira escondida. As bolsas vermelhas
perfeitamente alinhadas lançavam brilhos carmesins sob a luz
clara do eletrodoméstico. Escolheu a primeira que chamou sua
atenção, ao azar. Rompeu o selo e deixou cair o sangue na
taça. Cheirou-o; rançoso como todo sangue congelado. O
nome do doador ainda estava na bolsa.
- Bem, bem. Vamos ver que gosto tem, Jéssica Stewart -
disse enquanto dava o primeiro gole. Quase se engasgou. -
Jesus… espero que em vida fosse mais suculenta, porque
congelada… - fez uma careta e se aproximou da lareira.
Verão ou inverno, a biblioteca era um cômodo gélido. A
lareira permanecia continuamente acesa, e apesar do fogo mal
servir para nada devido ao tamanho da sala, Gabriel tinha
carinho por ela. Fazia-o recordar outros tempos. Embora não
hoje. Estava muito zangado para ficar nostálgico. E a fria e
insípida “coisa” – se negava a chamar de sangue a isso - que
tinha para saciar seu apetite piorava seu mau humor.
Aproximou a taça do fogo, mas a maldita não se aquecia nema tiros. Voltou a amaldiçoar e jogou o que restava no fogo.
Nem sequer se dignou a chiar um pouco.
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- Não sei por que se incomoda, sempre odiou sangue morto.
- Porque não posso sair de casa se vocês estiverem por aquiincomodando. – respondeu o vampiro sem virar-se para Alex.
- Que eu estivesse aqui nunca o impediu disso.
- Não, mas agora está seu encanto de companheira e seu
encanto de irmã.
- Detecto sarcasmo?- Alex caminhou até sentar-se em frentea Gabriel, que seguia ignorando-o.
- Vá pra merda.
- Não gosto. Elisa não me deixaria entrar na cama se fedesse
desse modo.
- Falando nisso, Não deveria estar na cama com ela?
- Dormimos toda a noite. Ainda não inverteu os horários.
- Deveria fazê-lo logo. Se sair de dia vai fritar, quererá
aproveitar as noites.
- Não acredito, pelo menos enquanto sua irmã esteja poraqui. Quer passar mais tempo com ela antes que se vá. -
Gabriel bufou – Está acontecendo algo com você?
- Restam doze horas, não é para tanto. Tampouco é que não
vá voltar a vê-la nunca caso se vá.
- E se decidir ficar conosco? Viveremos todos aqui?
- Fica com vocês, irmão. Você disse. Eu me desvinculo de
tudo isto tão logo resolva a merda da confusão que você
armou.
- Não ficará?
- Para rondar sempre entre você e sua companheira? Brincar
de ser a família feliz? - sorriu friamente - Acredito que não. Já
disse a Elisa em seu dia.
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- Nós gostaríamos que ficasse. Ambos.
- Mentiroso - sorriu Gabriel. - Nunca soube fazê-lo comoDeus manda. Irei vê-lo, de vez em quando.
- Não o fará. Você é pior mentiroso que eu.
- Vocês virão, que mais quer?- replicou Gabriel. – Faço isso
há muitos anos para mudar agora.
- Alguma vez vai deixar de ser tão malditamenteindependente? - Gritou.
- Não - respondeu simplesmente Gabriel. - Estou bem assim.
Alex suspirou e se recostou contra a poltrona. Seu amigo
não disse nada, limitou-se a olhá-lo fixamente. Passaram
alguns minutos em silêncio antes que Alex virasse a cabeçapara inspecionar a biblioteca.
- Onde está Dafne?
- Deveria saber?- Gabriel arqueou uma sobrancelha.
- Certamente.- Lamento dizer a você que não somos siameses. Está com o
Marcos.
- Marcos? Quem é Marcos?
- Um ex-caçador. – respondeu tranquilamente.
- CA-caçador?- Alex ficou de pé rapidamente. - Deixou-a
com um caçador? Você está louco ou o que?
- Ex-caçador. Foi dar uma volta com um ex-caçador. “Ex”
significa que se retirou. E não sou ninguém para proibir-la
- Preocupa-se com ela.- Pode tomar suas próprias decisões.
- Elisa não vai gostar de nada disso… - Para seu
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assombro, Gabriel soltou uma gargalhada.
- A pequena Elisa… - disse entre risadas - vendo como oconvence a ficar afastado… eu gostarei de ver isso.
- Vai dar algo quando se inteirar. Um caçador! E você… não
sei como demônios deixou-a ir.
- Traiu a Ordem por ela. Quê-la. Não fará nenhum dano a
ela, e ela necessita avaliar suas opções. Não sei se você selembra, mas amanhã a noite termina seu tempo.
- Pensei que nos escolheria - disse Alex – Tinha quase
certeza que escolheria você, pelo menos.
- A mim? Eu nunca entrei no acordo.
- Omitiria-se caso nos escolhesse?
- Não. Poria um guardião resguardando-a. Nem eu voltaria
a vê-la nem ela a mim. Fim do assunto.
- Mentiroso.
- Como quiser.- Foi por isso que houve o escândalo faz um tempo?
- Quis entrar, não deixei. Não houve escândalo. Não fiz
objeções a que saíssem, mas ele não vai entrar em minha casa
sem que eu dê a menor importância.
- Claro que não. Gabriel… Está com ciúmes? - perguntouhesitante.
- Eu… não… estou… com ciúmes… - disse entre dentes
Gabriel. - Para estar ciumento… teria que gostar dela.
- Acredito que já passou pela etapa de gostar dela. -
respondeu brincalhão.
- Quer me fazer um favor?
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- Claro.
- Apodreça. E depois… se enterre. Ou desapareça. Pra mimdá no mesmo.
- Ignora-me porque sabe que tenho razão.
- Você que é, a inoportuna voz de minha consciência?
- Se tivesse consciência…
- Alex? – A voz de Elisa interrompeu a série de insultos de
Gabriel.
- Olá amor. – O vampiro se levantou e deu um pequeno
beijo nela antes de sentá-la em seus joelhos. Ela olhou para
Gabriel, que continuava carrancudo, embora pelo menos
tivesse deixado de amaldiçoar.
- Olá, Gabriel - ele a saudou levantando o copo. Elisa olhou
ao redor e voltou a olhar para o vampiro. - Onde está Dafne?
- Tenho-a escondida no bolso - respondeu o vampiro.
- No… você está rindo de mim? Onde ela está?- Você pode explicar para ela - Gabriel apontou para Alex. –
Eu já tive o suficiente para um dia.
Deixando-os sozinhos, subiu para seu quarto. Pegou um de
seus livros e se sentou em uma poltrona, mesmo sabendo que
não poderia concentrar-se. Elisa e Alex discutiam na biblioteca, ele podia senti-los de cima, embora tivessem
parado rapidamente. Ligou a televisão e fez um pouco de
zapping17 , mas também se cansou. Por fim pôs um filme, e o
assistiu sem vê-lo enquanto as horas passavam. Pela primeira
vez em dois dias se sentia sozinho, muito sozinho. E vê o
carinho entre Alex e Elisa só fazia mais pesada essainquietação. Aparecendo na janela, viu Dafne e Marcos
17Fazer zapping = ficar mudando o canal.
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retornarem. De mãos dadas. Despediram-se com um abraço, e
ele pôde ver claramente o sorriso no rosto da jovem enquanto
fechava a porta. Pelo menos parece feliz - pensou ele.
Dafne entrou na casa, ainda aturdida pela proposta de
Marcos. O certo é que lhe parecia realmente boa, e dado que
toda sua vida tinha dado um giro, para algum lado teria que
dirigi-la. E viver na Itália… era viver na Itália, claro que sim.Longe de sua casa e das lembranças, dos vampiros, dos
assassinos e dos problemas. Começar de novo…
- O que fazia na farra com um caçador?
Dafne se sobressaltou quando ouviu a voz de Alex dentre as
sombras. Entrou lentamente, tentando encontrar a figura dohomem, algo impossível se ele não quisesse ser encontrado.
- Quer deixar que eu o veja? Eu não falo com seres
invisíveis.
- A não ser que seja Gabriel que fale com você.
- Pensei que era um fantasma. - Dafne se deixou cair em
cima da poltrona enquanto Alex ria.
- Um fantasma?- perguntou enquanto se sentava ao seu
lado. - Gabriel um fantasma? Eu gostaria de ver isso.
- Isso implicaria que morresse, e acredito que você nãogostaria disso.
- Não, tem razão - respondeu o vampiro. - Mas seria
interessante. Elisa estava preocupada com você. – mudou de
assunto.
- E mandou você me dar uma bronca?- Não. Vim por mim mesmo.
- Genial.
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- Está preocupada de que decida se unir a eles.
- Não vou me unir a eles. E Marcos não é um caçador, jánão. Também tem que começar do zero. Por que não juntos?
- Assim saem a sério.
- Dito assim parece meu pai esperando que venha pedir a
você minha mão - disse ela entre risadas.
- Bom, prometo não levá-lo ao altar com o canhão daescopeta nas costas. – Ele uniu-se a sua risada.
- OK. Assim concordamos que eu posso tomar minhas
próprias decisões, não é verdade?
- Rezo para que tome as corretas. - respondeu Alex.
- Rezar não serve de nada - respondeu ela. - Só para jogar a
culpa em Deus ou ao destino quando as coisas não saem como
deveriam. Somos culpados de nossas próprias decisões.
- Fala como Gabriel - sorriu Alex. - Não está se tornando
cínica?
- Gabriel não é cínico - apressou-se a responder Dafne. - Só
muito reservado. E um pouco amargurado, também.
Alex sorriu ao escutar a defesa da jovem.
- Alegra-me que pense isso.
- Acredito que é a primeira vez que faço algo que vocêgoste.
- Poderia chegar a me acostumar. - ela riu.
- Realmente não é um cara ruim.
- Homem, obrigado!- E me cairá ainda melhor quando convencer a Elisa de que
o que vou fazer é o melhor para todos.
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- De acordo - aceitou o vampiro. - Mas cabe a você
convencer Gabriel, de acordo?
- Convencer-me do quê? - Gabriel descia as escadas olhando
fixamente para Alex. Com o cenho franzido e meio
despenteado, tinha a cara de aborrecimento mais perfeita que
ela já tinha visto.
- De que vai partir com Marcos.
- Alex! - Dafne deu uma cotovelada nele - Não se supunha
que era eu que diria a ele?
- Queria ver sua cara. - Alex sorria diabolicamente enquanto
Gabriel avançava para eles. - E agora que já o deixei de mau
humor… vou encher o saco de sua irmã - beijou Dafne na face
antes de levantar-se e subir ao andar de cima.
Gabriel caminhou para ela e se sentou no sofá em frente, o
mais longe que pôde.
- Não parece surpreso.
- Não estou.- Ouça! Voltou a se colocar em minha cabeça? Deixe de fazer
isso!
- Não me meto em sua cabeça. Não me serve de nada. –
sorriu - Meti-me na de Marcos.
- Assim, já sabe que vou. A Itália.
- E nos escolheu.
- E os escolhi - afirmou ela.
- Gostará de Tamara. É uma das melhores guardiãs. - ela
negou com a cabeça.- Não quero guardiãs, nem guardiões, nem nada que tenha
que ver com o sobrenatural.
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7/30/2019 Uma estranha vingança - Aranzazu Rodrigues
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- Maldita mania de desaparecer cada vez que falamos de
algo! - gritou, sabendo que ele a escutaria. - Da próxima vez
farei que Alex o amarre! Prometo!
Subiu a escada zangada, e fechou a porta com uma batida.
Era um comportamento infantil, mas a fazia sentir-se muito
melhor. Tomou um longo banho, com espuma e todas essas
coisas que faziam que seu aborrecimento desaparecesse.
Ouviu as batidas na porta, mas as ignorou. Ninguém poderia
tirá-la de seu momento de relaxamento, ao menos não nesse
momento. Só cinco minutos mais… - e mergulhou a cabeça
para não ouvir nada.
Elisa suspirou e abriu a porta. Ouvindo sua irmã cantarolar
no banheiro, soube por que a tinha ignorado; rodeada de
água, Dafne estava em outro mundo.
Deixou a bandeja em cima de uma mesinha e se sentou em
cima da cama para deixar um bilhete para ela.
“Deixei seu jantar em cima da mesa. Alex e eu vamos sair e
Gabriel não deu sinal de vida.
Falaremos amanhã pela manhã.
Um beijo, Elisa.”
Eram três da manhã quando Alex e Elisa retornaram. O
jantar havia se alongado, e os dois acabaram em um pequeno
bar tomando alguns drinques. As doze haviam dadopassagem a uma, as duas… e se encontraram entre a pequena
porção dos noctívagos18 que a noite parisiense albergava no
meio da semana. Abriram com cuidado para não fazer ruído, a
casa estava em silêncio. Quando passaram diante da porta de
Dafne, Elisa fez um gesto.
- Vou entrar um segundo - sussurrou para Alex. – Espere-
18Noctívagos – que ou quem anda ou vagueia a noite. (Aurélio)
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me no quarto.
- É claro que esperarei por você - disse ele enquanto aolhava de cima abaixo. Ela rio e deu um soco nele.
- Controle-se - sussurrou.
Elisa acabou de abrir a porta, que estava só entreaberta. O
que viu a deixou atônita.
Gabriel estava sentado na beira da cama, contemplandoDafne enquanto ela dormia.
A expressão do imortal era de um desejo tal que chegava a
doer. Levantou o olhar para Elisa, e logo deixou a cabeça cair.
- Sei tudo o que vai me dizer - escuto sua mente. – Quer o
resguardar?
- Não ia dizer nada a você. Por que vai deixá-la partir? -
Elisa respondeu do mesmo modo.
- Você foi a primeira a me dizer que me afastasse dela,
lembra-se?
- Talvez tenha me arrependido.
- Talvez. - Ele sorriu. - Agora é muito tarde.
- Nunca é muito tarde - disse Elisa enquanto se levantava –
Pense nisso, Gabriel.
Elisa saiu sem fazer ruído, tal como entrou. Acariciando ocabelo de Dafne, Gabriel permitiu a si mesmo um segundo
para sonhar, para imaginar que poderia ficar ao seu lado. Mas
foi só isso. Um segundo. Porque era impossível, e ele sabia.
Não suportaria voltar a perder alguém a quem amava. Não.
Ela partiria em um dia, seria feliz, teria uma família… e ele o
resto da eternidade para esquecê-la. Tinha que afastar-se dela,resistir à tentação só algumas horas mais. Era muito tarde.
Levantando-se, chegou até a porta antes de render-se e dar a
volta. Só uma vez disse a si mesmo. - Ela nunca saberá. E
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aproximando-se mais, roçou seus lábios nos dela pela
primeira e última vez.
CAPÍTULO 25
Era mais de meio-dia, e a casa estava silenciosa como uma
tumba. Dafne sentiu um calafrio percorrê-la quando pensou
que a comparação não poderia ser mais exata. Vivia em uma
casa cheia de vampiros, o cenário perfeito para um filme de
terror. Mas os vampiros tinham deixado de ser monstros de
cinema e contos macabros, pelo menos para ela.
Aproveitou que estava sozinha para explorar de novo acasa. Era um lugar incrível, grande, mas acolhedor. Notava-se
que era um refúgio, um lar. Tudo dava a sensação de
comodidade, de familiaridade, das poltronas gastas da
biblioteca até os pequenos detalhes de cada cômodo que a
faziam pensar que não foram mobiliados ao azar, e sim com
um grande cuidado.
Um dos imensos relógios distribuídos por toda a casa
começou a soar. Só duas badaladas. Já era tão tarde? Suspirou.
Ultimamente tinha desenvolvido uma obsessão estranha por
saltar as refeições. Ia a caminho da cozinha quando a porta
principal se abriu. Ela deu um salto ante o ruído repentino,
antes de ver quem era que entrava e relaxar. Olhou-o dacabeça aos pés, Gabriel estava esplêndido com tênis, jeans
folgado e um pulôver cinza de verão. Os óculos de sol
impediam de adivinhar sua expressão, mas por uma vez tinha
os cabelos amarrados na nuca, o que lhe permitia contemplar
seu rosto completamente. Era a primeira vez que o via vestido
tão informalmente, quase parecia mais um jovem. O pulôverse grudava ao seu corpo e delineava seus músculos quando se
movia, o que fez que a boca de Dafne secasse.
Definitivamente, Tommy Hilfiger teria que contratá-lo
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como modelo.
Ele a saudou com a cabeça antes de tirar os óculos e osdeixar em cima do armário da entrada. Também soltou o rabo
de cavalo e passou uma mão pelos cabelos, despenteando-o e
soltando um suspiro de alívio.
- Por que o prende, se é óbvio que não gosta?
- É mais cômodo - sorriu ele, mas evitou olhá-la enquantofalava com ela - E chama menos atenção.
- E os óculos?
- Esses são necessários. - fechou os olhos com força e voltou
a abri-los, como se eles doessem. - Arde bastante se não os
puser. Principalmente ao meio dia. – disse apontando para as janelas, que graças às cortinas, deixavam a casa em uma
agradável penumbra.
- Então, por que saiu?
- Tinha que recolher algumas coisas - ele levantou no alto
uma bolsinha que levava na mão direita.- Ah. Ia comer algo, quer? - Ele negou antes que ela pudesse
terminar a frase.
- Tenho muito trabalho pendente e pouco apetite.
Tampouco espere por esses dois apontou para o teto. -
Continuam dormidos como troncos.Dafne suspirou tão logo entrou na cozinha. Tinha olhado
pra ela sem vê-la, fixando-se na parede detrás dela ou em suas
mãos, em vez de olhá-la nos olhos. E não sabia ainda como
consentiu em responder a ela, era óbvio que por ele teria
subido diretamente, sem falar com ela. Ela não queria isso.
Mas sabia que Gabriel queria levantar um muro antes que elase fosse. Por que demônios não poderiam ficar como amigos?
Era óbvio que ele não gostava tanto dela para lhe pedir que
ficasse, mas, acaso era tão complicado tentar manter algo,
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253
por pouco que fosse? Fez um sanduíche e se resignou a ter que
esperar que todos se levantassem. Seu tempo de decisão
expirava antes da meia-noite, e já tinham explicado a ela o queteria que fazer. Graças a Deus, era só um juramento, umas
poucas palavras que pronunciaria rápido. E teria que jurar
ante Gabriel, que como único representante do conselho, era
quem deveria servir de testemunha. Bom – consolou-se – pelo
menos terá que me olhar nos olhos mais uma vez.
Sentada ante a janela, observou como ia caindo a tarde sobre
a cidade que, no fim de tudo, não pôde explorar com ele.
Elisa despertou sobressaltada. Havia algo que tinha que
fazer, mas não se lembrava o que. E tinha dormido muito essa
noite, sentia a cabeça pesada. Levantou-se em silêncio e foi à
janela, abrindo as cortinas inconscientemente. Deu um grito aover que já era noite, e Alex despertou sobressaltado.
- O que aconteceu, que aconteceu? - saltou da cama ainda
nu e se aproximou dela.
- Já é noite!
- Graças a Deus.
- O quê?
- Se fizer essa tolice de abrir as cortinas de dia, ficará um
pouquinho carbonizada.
- Merda. Como dormimos tanto?
- Bom… eu estava esgotado, e você está brigando com a
defasagem dia/noite.
- Dafne vai embora hoje!
E saiu antes que ele pudesse dizer algo.Dafne continuava sentada ante a janela. Tinha começado a
chover, como se o tempo fizesse eco a sua tristeza. Elisa se
aproximou por trás, e apoiou as mãos sobre seus ombros.
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- Que horas são?- perguntou.
- Dez e meia. Passei a tarde toda escutando esse relógio.- A que hora Marcos chega?
- Em meia hora, às onze. Farei o juramento e nos partiremos
antes da meia-noite. Pegaremos o trem noturno e amanhã já
estaremos longe da França.
- Tenho que perguntar a você… eh… se… Marcos e vocêsão… quer dizer, se…
- Nunca pensei que a veria tão envergonhada de me
perguntar algo. - Dafne sorriu ao ver a vergonha de sua irmã. -
por agora somos apenas amigos, embora acredite que
poderemos chegar a… - suspirou - É um grande rapaz.- Perdoa, mas… e Gabriel? - Dafne encolheu os ombros –
Você gosta dele.
- Claro que eu gosto. É o homem mais bonito que vi em
minha vida, me resgatou da Ordem, preocupa-se comigo… é
evidente que tenho que gostar dele. Tenho que deixar de lernovelas românticas - ela sorriu como se desculpando. - Mas
passará, não é mais que uma tolice.
- Tem certeza? - Elisa olhou para sua irmã, que voltou a
desviar os olhos para a janela.
- Claro que sim - respondeu sem olhá-la. - Vou lá para cimame vestir.
Dez minutos depois, Marcos dava a décima volta diante da
porta de grade. Como as outras nove vezes, aproximou a mão
do porteiro eletrônico até roçá-lo, e a voltou a retirar. Olhou o
relógio. As dez e cinqüenta e cinco. Ainda não era a hora.
Passou as mãos pelos cabelos e começou a volta seguinte.Tinha dado alguns passos quando o chamaram. Olhou para
dentro e viu que o vampiro loiro caminhava para a porta.
Ficaram frente a frente, separados pela grade.
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- Marcos, não é mesmo?
- Sim.- Eu sou Gabriel. Acredito que esta manhã não nos
apresentamos apropriadamente – sorriu meio de lado. – Veio
buscá-la? - Marcos assentiu.
Gabriel respirou fundo. E para assombro de Marcos,
inclinou a cabeça e abriu a porta para ele, deixando-o entrarem sua casa. O olhar assombrado do jovem convenceu Gabriel
mais que qualquer outra coisa. Terminou de abrir a porta e fez
um gesto para ele.
- Siga-me.
Marcos se apressou a entrar, e o vampiro fechou a portadetrás dele. Caminharam em silêncio até a casa e, embora ele
morresse para dizer algo, sabia que Gabriel lutava contra seu
instinto e não gostaria de conversar. Logo descobriu que não
era o único.
Dentro da casa o esperavam outros dois vampiros. A um
conhecia, era a irmã de Dafne. O outro supôs que era seuamante, algo mais que óbvio pela forma como a segurava.
Olhou ao redor, esperando encontrar Dafne embora seus
instintos dissessem que não estava ali. Gabriel entrou detrás
dele e se sentou na única poltrona. Alex e Elisa ocuparam o
sofá de dois lugares a sua direita, e, depois de um gesto,
Marcos se sentou no que restava. O silêncio era mais pesadoque nunca, fazendo-o sentir-se péssimo. Mas, o que ele
poderia dizer?
- Dafne rechaçou a proteção dos nossos - Gabriel falou sem
o olhar. – Não quer que ninguém recorde a ele o que
aconteceu estes dias. Isso não significa que tenham que ficar
indefesos. Vou oferecer a você o mesmo que ofereci a ela, quer
que um guardião os vigie? Ante o primeiro sinal de perigo, os
nossos entrarão em ação.
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- Se ela já o rechaçou…
- Tecnicamente - interrompeu-o Alex - Ela rechaçou oamparo para si mesma. Se você aceitar, o guardião seria para
você, porque é um alvo em potencial para eles.
- Nós nos arrumaremos - disse Marcos enquanto negava
com a cabeça. - Eu não gosto de enganá-la.
Gabriel assentiu, e Marcos pôde ver que o vampiroaprovava o que acabava de ouvir. Uma faísca de respeito
reluzia em seus olhos quando por fim o olhou fixamente.
- Que seja assim, então. De toda forma, daremos a você uma
forma segura de nos contatar, no caso de precisar.
- Isso me parece bom.A atmosfera da sala se relaxou um pouco, e Marcos respirou
fundo.
- Para onde vão? - perguntou Alex.
- Itália.
- Por que a Itália? – Era a primeira vez que Elisa falava
desde que ele havia entrado.
- Não podemos ficar na Espanha, Traria lembranças ruins a
Dafne. Vocês estão na França, o que também a descarta. Itália
é o país mais próximo em que poderemos encontrar a
neutralidade que queremos.
- Sabe? Por mais longe que vá, se nos inteirarmos de que lhe
fez o mínimo dano poderemos encontrar você. - Alex lançou
um olhar assassino para ele de seu sofá.
- Alex! – Elisa saltou ante as palavras do vampiro e olhou
para Marcos, desculpando-se.
- Não fiz nada errado - respondeu ele - Só queria que…
Marcos - pronunciou o nome docemente, o que não fez nada
mais que aterrorizá-la - soubesse que deixarmos Dafne ir
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para longe não quer dizer que não nos preocupamos com ela.
E dado que Gabriel teve um repentino ataque de cortesia,
pareceu-me oportuno comunicar isso a ele a nosso novoamigo.
- Mas não pode ameaçá-lo assim, sem mais… - rebateu ela.
- Elisa, por favor, suba para buscar Dafne - interrompeu-a
Gabriel. - Já deveria estar aqui.
Elisa se levantou e o olhou fixamente, com os braços na
cintura. Alex a contemplou, pensando no quanto ficava
encantadora quando estava zangada. E era ainda mais bonita
quando o aborrecimento não se dirigia a ele. Apontando para
Gabriel com o índice, advertiu:
- Que não lhe ocorra seguir ameaçando ao menino, deacordo? - Gabriel esboçou um sorriso quase imperceptível.
- Agora você nos está ameaçando - respondeu.
- Já, mas vocês merecem isso. - O olhar de Elisa mudou
radicalmente quando os olhos de Gabriel se fixaram nela.
Ainda não está tudo perdido - os pensamentos dela
ressoaram em sua cabeça. Nenhum dos outros dois podia
ouvi-lo. - Gabriel, por favor, não deixe escapar esta
oportunidade.
A oportunidade já se foi, carinho. Já lhe disse isso ontem, é
muito tarde. Vá atrás dela.
Não é…
Por favor. - interrompeu-a. Ela suspirou e abandonou a sala.
O olhar curioso de Alex se encontrou com o de seu amigo.
Era consciente de que Gabriel e Elisa estiveram falando, masnão podia saber o quê. Antes que pudesse lhe dizer algo, este
já tinha começado a interrogar Marcos a respeito do que tinha
planejado para o futuro. Alex encolheu os ombros e se uniu à
conversa, consciente de que se Gabriel não quisesse dizer a
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ele nunca teria a resposta a essa pergunta.
Menos de dez minutos depois, Dafne descia as escadas comuma mochila nas costas. Seus olhos se encontraram
diretamente com os de Gabriel, antes de desviarem-se para
olhar para Marcos sentado a sua esquerda. Desceu e deixou a
mochila no chão, ao lado do sofá, enquanto se inclinava para
beijar Marcos no rosto. Sorriu para ele.
- Pronta? - perguntou a ela.
- Pronta - confirmou com um sorriso. - Só resta um
detalhe…
- Não resta nada - respondeu Gabriel. Ante a surpresa de
todos na sala, se explicou. - Se fizer o juramento estará ligada a
nós. Assim é livre, como antes de nos conhecer. Como queria.
- Obrigado - respondeu ela em um sussurro. Ele inclinou a
cabeça.
- Podem ir.
Gabriel se levantou da poltrona e se dirigiu a biblioteca semdizer uma palavra. Dafne ficou aturdida, só reagindo quando
viu a porta fechar-se detrás dele sem que a tocasse. Deu um
passo para a biblioteca, mas Alex a reteve.
- Melhor não - disse enquanto retirava a mão de seu ombro.
- Nunca gostou das despedidas. Suponho que voltaremos a
nos ver dentro de pouco, não?- Ele sorriu levemente e logo bufou, franzindo o cenho - Que pena que não fique mais
tempo. Talvez até pudéssemos ser amigos. Desde que
assinamos a paz melhoramos bastante em não nos atacar
mutuamente…
- E você conseguiu me cair bastante bem - completou ela. -
Diria que até vou sentir sua falta.
- Cuide-se muito – sussurrou para ela enquanto a abraçava.
- Não nos dê um desgosto.
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agarrando Marcos e desaparecendo com ele.
CAPÍTULO 26
Marcos sentiu a presença dos caçadores justamente antesque aparecessem. Mas era muito tarde. Os brilhos inundaram
o jardim quando quatro caçadores irromperam no jardim.
Tentou debater-se quando sentiu que o agarravam pelas
costas, dois pares de mãos mantendo-o imóvel. Os outros dois
se dirigiram a Dafne, mas ele não pôde ver se a agarraram
porque imediatamente o levaram para longe. E Marcos nãotinha a experiência necessária para resistir ao transporte.
Dafne gritou quando alguém a agarrou violentamente.
Puxaram seus cabelos com força, fazendo-a soltar um gemido
de dor. O cortante fio de uma adaga posou em seu pescoço e
ela sentiu as primeiras gotas de sangue escorregar por sua
pele. O caçador apoiou a cabeça em seu ombro, sorrindo
contra sua pele. Ela levantou os olhos para encontrar-se com
os de Gabriel, que também tinha chegado ao jardim.
- Um só movimento, vampiro, e a mataremos. - Gabriel os
olhou com aparente indiferença.
- Seu tempo de decisão terminou e, como podem ver, não se
converteu. Por que teria que me importar com o que
acontecesse a uma mortal?- Dafne o olhou assombrada e com
lágrimas nos olhos. - O que me intriga é outra coisa, Como
entraram? Não permiti suas passagens, disso estou seguro.
O caçador que sustentava Dafne riu enquanto deslizavalentamente a adaga por sua artéria, sangrenta paródia de uma
carícia.
- É muito curioso, sabe? Quando deixou o traidor pisar
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em sua casa abriu as portas para nós - Gabriel amaldiçoou. -
Sim… foi realmente incrível como caiu. Um caçador será
sempre um caçador, não importa o que diga.
O segundo caçador avançou alguns passos, comprovando
que o vampiro estava desarmado. Dafne o reconheceu
imediatamente, era o mesmo que havia matado sua mãe.
Pegou sua própria arma e a brandiu diante de Gabriel, como
se vangloriando por ele estar indefeso. O vampiro continuou
indiferente.
- Deveríamos entrar – sugeriu - Já que têm acesso a minha
casa, não é necessário que os mortais descubram nossa
pequena guerra.
Os caçadores olharam um para o outro e assentiram. Gabriel
subiu depois do primeiro e antes que o que ainda ameaçava
Dafne. Elisa e Alex estavam na entrada, esperando.
- Elisa, afaste-se - disse Gabriel tão logo entraram.
- Não quer que seu precioso neófito saia ferida? Não
estranho - o homem sussurrou contra o pescoço de Dafne. - É
uma pena que não conseguisse esta também. É um par de
belezas.
Os lábios dele se apertaram contra a curva do pescoço dela,
e Dafne conteve uma arcada enquanto as lágrimas se
deslizavam por seu rosto. A outra mão do homem rodeava
sua cintura, justo por debaixo dos seios, e não deixava desubir. Debateu-se inutilmente contra o agarre, só conseguindo
que cravasse os dedos nas costelas dela e a deixasse sem
respiração.
Alex soltou um rugido ao ouvi-la chorar, e ameaçou atacar.
Gabriel o cravou no lugar sem sequer pestanejar. Ele olhou
incrédulo para o imortal, mas seus olhos estavam fixos em
Dafne, que continuava chorando. Alex amaldiçoou e tentou
mover-se. Nada.
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- Têm ao Marcos. - A voz de Gabriel ressoou em sua cabeça.
– Procure-o.
- Também têm a Dafne. Vai deixar que façam isto a ela?
Deixe-me detê-los.
- É meu - afirmou o vampiro. O ódio gotejava de suas
palavras. - vou matá-lo com minhas próprias mãos. Você
procura Marcos.
Alex tentou expulsar a fúria de sua mente, e concentrar-se
simplesmente na imagem do jovem. Alguns minutos mais
tarde o descobriu, embora continuasse lhe custando localizá-
lo.
- Tenho-o - disse a Gabriel.
- Bem. Concentre-se. Vou mandar você para trazê-lo. Faça
isso rápido.
Alex se concentrou em seu destino enquanto sentia a
energia de Gabriel puxá-lo. Tudo começou a dar voltas, e se
entregou a já tão conhecida sensação de asfixia.
Aterrissou em um lugar lúgubre ao extremo, antigo,
tenebroso. Levou dois segundos para recuperar o fôlego,
sorrindo ao sentir o reconfortante peso de sua arma no quadril
esquerdo. Gabriel nunca se esquecia de nada.
Examinou o cômodo. Dois caçadores tinham acorrentado
Marcos. Estava vivo, mas inconsciente. Alex pôde sentirclaramente a dor de seus ferimentos enquanto lutava por
continuar respirando. Os braços amarrados acima de sua
cabeça não ajudavam, sua respiração era entrecortada.
Quando Alex chegou pareceu recuperar a consciência durante
um momento. Olhou-o através das pálpebras entrecerradas. O
olho esquerdo estava tão machucado que não podia abri-loembora quisesse. Seus olhos se encontraram, e Alex viu a
incredulidade no olhar de Marcos antes que soltasse um
gemido e voltasse a perder os sentidos. Era muito mais
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fácil assim, decidiu. Não teria que se preocupar com ele até
terminar de lutar. Respirou fundo e deixou cair o escudo que
Gabriel tinha posto ao seu redor.
Ambos os homens se jogaram contra ele ao sentir sua
presença. Alex não retrocedeu, sabia o que tinha que fazer,
tinha nascido para isso. Com um giro destro se afastou do
caminho do primeiro e usando o mesmo impulso afundou a
espada no flanco do segundo. O caçador, surpreso, caiu sobre
seus joelhos e levou as mãos à ferida. Foi todo o tempo que
Alex necessitou para voltar a girar. A espada fez um ruído
seco ao cortar a carne, e o olhar de surpresa do caçador ficou
fixo para sempre em seu rosto. O corpo caiu, a cabeça ainda
rodou alguns metros.
Alex se endireitou, olhando a seu único oponente cara acara. Este o contemplou com um terror não dissimulado, antes
de jogar sua espada e pôr-se a correr. Tampouco chegou muito
longe. A adaga atravessou seu coração antes que tivesse dado
cinco passos completos.
Alex se apressou a aproximar-se de Marcos e cortou as
cordas que o sujeitavam à parede. A corrente era outro
assunto, e teve que procurar a chave nos bolsos dos cadáveres.
Uma vez liberado, arfou pelo peso morto de Marcos em seus
braços. Concentrou-se e chamou Gabriel. Não houve resposta.
Forçou-se a inspirar, se tranquilizar. Voltou a chamá-lo. Nada.
- Merda - sussurrou Alex entre dentes. - Maldição, Gabriel,responda.
Mas Gabriel estava um pouco ocupado para poder lhe
responder. Para dizer melhor, estava muito, muito ocupado.
Elisa gritou quando Alex desapareceu sem aviso prévio.
Avançou para Dafne, para encontrar o braço de Gabrielsustentando sua cintura e jogando-a de novo para a
retaguarda. Não tentou debater-se, sabia que era impossível.
Nem sequer o tinha visto mover-se antes que a agarrasse.
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O vampiro respirou fundo, dedicando um último olhar a
Elisa para se assegurar de que não faria nenhuma estupidez.
Parecia mais ou menos calma, assim se dirigiu aos caçadores.
- O que querem?- perguntou virando-se para eles com
expressão de aborrecimento supremo.
- Matar você. - respondeu prontamente o mestre de Marcos,
seu olhar convertido em um atoleiro de ambição. Gabriel
soltou uma gargalhada.
- Consiga uma lâmpada e se ponha a esfregar. É sua única
opção. - Dafne gemeu quando o caçador intensificou seu
apertão, ao mesmo tempo em que soltava um rugido de raiva
pela brincadeira de Gabriel.
- Não é um desejo, monstro. Tão fácil como um acordo. -pressionou mais a faca contra seu pescoço. - Sua vida pela
dela.
- Minha vida pela dela - repetiu devagar, fazendo rodar
cada palavra em sua boca. - Minha vida pela dela?- soltou
outra gargalhada – Acredita seriamente que sua patética e
curta vida vale meu sacrifício?
O ofego sufocado de Dafne surpreendeu a todos por igual.
Endireitou-se tudo o que pôde e olhou para o vampiro,
erguendo os ombros, levantando a testa em sinal de
dignidade.
- Minha vida não é patética - repôs ela suavemente. - Não
me insulte, vampiro.
Dafne o olhou enquanto cuspia a última palavra, fazendo
que soasse como algo indigno e degradante. O desdém de seu
olhar chamuscou Gabriel como nenhuma outra coisa em toda
a noite, fazendo-o penar pela vontade de ir até ela e envolvê-laem seus braços para poder lhe assegurar que tudo sairia bem,
para poder secar suas lágrimas e confortá-la. Em lugar disso,
manteve o mesmo olhar indiferente rezando para que os
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caçadores não percebessem sua inquietação. Levantou a
sobrancelha e os olhou.
- Bom, agora zangou a garota. Já estão contentes?
- Assim não aceita nossa troca.
- É evidente que não. Como vocês mesmos disseram -
apontou para Elisa sorridente - já tenho a mais velhas. Vou me
arriscar pela outra?- Então podemos matá-la.
Gabriel encolheu os ombros indiferente, mas se aproximou
de Dafne até que pôde ver a si mesmo refletido nos imensos
olhos cinza da garota. Ela afastou seus olhos, mas o caçador a
obrigou a olhá-lo.- Pensava que podia confiar neles, não é verdade menina?
Agora vê a verdadeira essência de um vampiro. Não vão
proteger você. São egoístas.
- Se está tão seguro disto, por que tenho uma adaga no
pescoço?- Porque, estranhamente, quando um de vocês - a última
palavra soou como um insulto – importa a eles, têm a estúpida
tendência de se suicidarem. Não pode nos culpar por tentar,
não?
- Não - admitiu ela.- Infelizmente, fracassou. - Ambos deram um passo atrás, o
caçador voluntariamente e a garota arrastada por ele - E não
nos serve para nada.
- Suponho que não me deixará ir tranquilamente.
- Não. - a gargalhada ressoou por toda a sala. - Teremos quenos livrar de você.
O caçador levantou a adaga, e Dafne decidiu que,
acontecesse o que acontecesse, não ia se deixar matar como
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um cordeiro no matadouro, balindo docilmente. Rezando para
que funcionasse, jogou a cabeça para trás com todas suas
forças. O som de algo que se quebrava a fez sorrir, e amaldição abafada do caçador a encheu de um orgulho
totalmente justificado. Como golpe final, levantou seu
calcanhar até que impactou justo onde ela queria. O homem
caiu ao chão com um grito abafado.
- Caçador ou não, ainda dói se chutam suas bolas, sim?- a
gargalhada de Gabriel secundou essas palavras.
Dafne acabou de soltar-se e tentou ir para sua irmã, mas
cometeu o engano de esquecer que não havia um, e sim dois
caçadores na sala. No mesmo instante sentiu como puxavam
brutalmente seus cabelos, e caiu para trás.
Gabriel não esperou para reagir. Girou para Dafne e a
envolveu com seu corpo antes que chegasse a tocar o chão. A
garota soltou um grito, não sabendo quem a estava agarrando,
e tentou lutar contra ele com tudo o que tinha. O imortal
apenas sentiu os golpes da garota, mas o contínuo retorcer
tornou impossível transportá-la a um lugar seguro. Não se
quisesse conservar cem por cem de seu corpo no processo.
- Calma, coração, ou tornará isto muito mais difícil. -
sussurrou ao seu ouvido.
Ante o som da voz de Gabriel, ela relaxou e se permitiu
abrir os olhos… só para voltar a gritar quando viu o assassino
de sua mãe encaminhar-se para ela com a adaga brilhando na
mão direita.
Gabriel também o viu, e amaldiçoou quando se deu conta
de que era muito tarde para tirar a jovem da sala. Girando
sobre ela, fez a única coisa que podia fazer: interpor-se entre a
arma e Dafne.
O caçador soltou um grito de vitória ao ver a manobra do
vampiro. Afinal, tinha tido razão. Ele se arriscaria a tudo para
salvá-la. Perfeito. No último segundo, trocou a trajetória da
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adaga e a afundou firmemente no ombro esquerdo do
vampiro, que não emitiu nem um som.
Dafne gritou quando viu o sangue de Gabriel estender-se ao
longo de seu braço, sujando-a também. O imortal fechou os
olhos quando a adaga o atravessou, e só ela ouviu o pequeno
gemido que escapou de seus lábios.
- Afaste-se – sussurrou em seu ouvido. A respiração de
Gabriel a acariciou quando apoiou a cabeça em seu pescoçopara continuar falando com ela – Quando a soltar vá para
Elisa e se mantenha detrás dela.
Dafne assentiu e se sentiu levantada no mesmo instante.
Gabriel a jogou para Elisa, que já estava esperando-a. Sua irmã
a recolheu antes que resvalasse contra o chão e a pôs detrás
dela, protegendo-a com seu corpo. Dafne ficou nas pontas dos
pés para olhar por cima do ombro de sua irmã, dando
obrigado por ser mais alta que ela. Imediatamente desejou não
haver feito isso.
Gabriel estava de pé no meio da sala, a cabeça elevada e o
olhar firme. Sustentava a espada na mão direita, brandindo-acom facilidade. Estava mais pálido que nunca, o braço
esquerdo pendia imóvel ao lado do corpo e o sangue gotejava
por suas costas antes de cair ao chão. Não havia muito
sangue? Elisa se moveu inquieta, mas Dafne estava muito
preocupada para desviar os olhos.
Os dois caçadores estavam agora em pé, olhando
sorridentes ao vampiro ferido. Ambos empunharam suas
armas e avançaram sincronizados. Gabriel não retrocedeu ante
o avanço, como tampouco o fez quando atacaram a primeira
vez. Esquivou o primeiro golpe, e levantou sua espada para
parar o segundo. A força do golpe fez o corpo do vampiro
tremer, e cambaleou momentaneamente. Elisa ameaçou deixar
sua irmã e ir ajudar Gabriel, mas sua voz familiar ressoou na
mente da mulher.
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Vingança
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269
- Proteja Dafne e não se meta, Alex nunca me perdoaria se
acontecesse algo a você. Não interfira, só tornara as coisas
mais difíceis. - ordenou.
Alex saltou quando a onda de poder o percorreu.
Estremeceu, sentindo a vibração até nos ossos. Esse não era
Gabriel, estava seguro. Não era ninguém que conhecesse, nem
sequer seu mestre podia se comparar a ele. O poder era brilhante, enchendo-o como nunca. De repente, tudo lhe
pareceu tão fácil como respirar. Procurou dentro dele a
capacidade para transportar-se e a encontrou, adormecida por
nunca havê-la usado, mas efetiva.
Centrou-se em Marcos e tentou com todas suas forças. A
energia o obedeceu e se focalizou no rapaz, que desapareceu
imediatamente. Alex o seguiu rezando para não haver metido
os pés pelas mãos e enviado o rapaz as Bermuda.
Apareceram no andar de cima, em um dos quartos que não
era usado. Alex deu graças mentalmente aos deuses que
tinham dado uma mão a ele para que aparecer onde devia, edeitou Marcos em cima da cama. O rapaz continuava
inconsciente, e estava tão maltratado que dava trabalho
acreditar que continuava respirando. Mas era obstinado, e
com um pouco de tempo e cuidados ficaria bem.
Sentindo ainda o eco da onda de poder que o percorreu,
desceu as escadas de dois em dois degraus. Gabriel estava lá
embaixo, mas algo teria que ir completamente mal para que
não respondesse a sua chamada quando esteve em perigo.
Chegou ao patamar das escadas e derrapou no piso polido.
Gabriel tinha sido ferido de novo, e o vampiro cambaleava
pela perda de sangue. Ainda se mantinha ereto, mas tinha osolhos um pouco desfocados e lhe custava respirar. Os
caçadores não lhe deram pausa, atacando-o continuamente. O
mestre se situou às costas do vampiro e golpeou seu já
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270
ferido ombro, fazendo-o cair no chão. O outro soltou um grito
de vitória e se lançou em cima do vampiro caído.
Ouviu-se um grito estrangulado, e Elisa desviou os olhos.
Sentiu Dafne soluçar contra suas costas, mas não pôde mover-
se para consolá-la. Lentamente, voltou a dirigir o olhar para os
combatentes. O caçador tinha um olhar de surpresa no rosto, a
ponta da lâmina prateada se sobressaía entre suas omoplatas.
Em sua precipitação havia se jogado sobre a arma, e o imortal
não tinha desperdiçado a oportunidade. Apoiando-se em sua
arma, Gabriel conseguiu levantar-se de novo. Seu segundo
oponente ainda seguia em pé.
O caçador deu um passo atrás enquanto Gabriel se
levantava, lhe dando espaço. Ambos os rivais se olharam nos
olhos durante um segundo, então o caçador atacou.
Gabriel adotou uma posição defensiva, rechaçando com
muita dificuldade a enxurrada de golpes de seu rival. A
agilidade do caçador era sobre-humana, ultrapassando em
muito ao vampiro. Gabriel sabia que não podia aguentar
muito tempo, assim tentou uma última medida desesperada:
atacou. E tão logo o fez, soube que estava perdido.
Elisa gritou, mas o caçador não se alterou. O rosto de Alex
refletiu o horror do que sabia que aconteceria e embora já
fosse tarde, lançou-se em uma corrida desesperada para evitá-
lo. Dafne caiu de joelhos e gritou, o mesmo pressentimento
batendo as asas em sua cabeça. O caçador se esquivou datorpe estocada facilmente, enquanto seu rival se dobrava, o
sangue empapando seu braço esquerdo. Gabriel cambaleou
pela força de seu próprio golpe, que quase o fez cair ao chão.
Sua espada escorregou dentre suas mãos e bateu contra o
mármore, o som do metal soou como um estrondo no meio do
repentino silêncio. O caçador soube o que devia fazer, e com aprática de séculos girou para arremeter uma última vez, agora
que seu rival estava indefeso. Moveu-se a uma velocidade
impossível, brandindo a arma com destreza. Em menos de
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um batimento de coração a espada atravessou o peito de
Gabriel, que caiu enquanto uma rosa sangrenta florescia em
seu peito, exatamente sobre seu coração.
CAPÍTULO 27
Alex recolheu a espada de seu mestre, a espada que só o
líder do conselho devia brandir, e enfrentou o caçador. As
lágrimas rolavam por seu rosto, dificultando sua visão. Em
troca, todos seus demais sentidos estavam no máximo,
enfocados em um só ato: matar.
O caçador se moveu com cautela, sabendo que a ira e a
vingança eram os incentivos mais poderosos do mundo. O
vampiro tinha perdido um amigo, e queria sangue; queria seu
sangue. Alex atacou, a espada mais leve que nunca em sua
mão, sua velocidade redobrada. O caçador logo se encontrou
em dificuldades, mas não pensou nem por um momento em
desaparecer. Se devia morrer, e vendo o brilho aqueles olhos
verdes sabia que assim seria, queria fazê-lo em combate,
dignamente.
Seu braço direito doía do pulso até o ombro. Cada parada
lhe produzia uma dor aguda que subia pelo braço como fogo.O vampiro ganhava terreno a cada segundo que passava, a ira
o insensibilizava e o fazia mais forte. Atacou pela última vez,
tentando pegar sua guarda baixa depois de tanto tempo
seguido se defendendo, mas resultou inútil. Previu seu ataque,
e respondeu com um próprio, derrubando-o no chão.
O caçador agarrou sua espada e tentou levantar-se, mas asforças o abandonavam rapidamente. Vendo o vampiro
aproximar-se, soube que já não restava tempo.
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- Diga… ao meu aluno… que escolha a vida que quiser.
Que… não me deve… nada suspirou. - Agora é livre.
Alex assentiu com a cabeça e elevou a espada. A prata
tilintou contra o mármore ao atravessar o corpo do caçador,
que relaxou com um último suspiro enquanto seu coração se
detinha.
Deixando a arma cair correu até Gabriel, que jazia em um
atoleiro carmesim. Dafne havia se arrastado para seu lado echorava, suas mãos manchadas de sangue do vampiro.
Gabriel tinha virado a cabeça para lhe dedicar um último
olhar, embora os olhos tivessem se fechado. Elisa se
aproximou e tentou abraçar sua irmã, no entanto esta se negou
e aproximou-se ainda mais de Gabriel, posando a mão sobre a
ferida em seu peito. Pouco a pouco, a cara da garota foi
mudando. Alex foi testemunha disso, como se uma luz a
iluminasse de dentro. Franziu o cenho e pressionou a ferida.
Negou. Fechou os olhos de novo e se concentrou. Ao fim,
depois de um momento que lhe pareceu eterno, levantou a
cabeça para Alex, aturdida.
- O coração… pulsa. - disse enquanto apertava mais a mão
contra o peito. - Não parou.
- Não pode ser possível.
Alex se deixou cair ao lado da jovem, olhando fixamente o
peito de Gabriel. No princípio não notou nada, mas ali estava,uma leve pulsação, quase imperceptível, mas certa. A prova
evidente de que seu amigo seguia com vida. Emitiu uma
gargalhada de puro alívio ao comprovar que embora tivesse
roçado o coração, a espada não o havia atravessado. Gabriel
poderia viver!
- Isto é um milagre - conseguiu dizer entre lágrimas. - Um
autêntico milagre. Pode viver.
- Ficará bem?- perguntou a jovem.
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- Isso depende de você, carinho - respondeu Alex. –
Necessita de sangue, e rápido.
- Não serve o nosso?- perguntou Elisa, preocupada com sua
irmã. Não acreditava que ela fosse suficientemente forte para
suportar uma perda de sangue depois de tudo o que já tinha
acontecido.
- O nosso, amor, é sangue morto. Não serve para nada,
exceto para nos converter. Se nós tivéssemos nos alimentadorecentemente, talvez funcionasse, mas assim… é impossível.
Gabriel necessita de vida, algo que o ajude a curar essa ferida
antes que seja muito tarde. - Olhou para Dafne. - E a única
viva é ela.
- Apenas me diga o que devo fazer. - respondeu a jovem.
- Deixe-o cair em cima de seus ferimentos. - disse
estendendo para ela uma das adagas que os caçadores tinham
deixado cair. - Quando as vê fechadas, verta um pouco em sua
boca.
Dafne agarrou a adaga com força, rezando interiormente
para encontrar a coragem que necessitava. Respirou fundo, e
afundou o fio cortante em seu pulso esquerdo. A dor a
transpassou e ela respirou fundo para rebater a nauseia e a
sensação de desmaio, fixando os olhos no rosto de Gabriel.
Tremendo, aproximou o pulso da ferida do peito que,
dissesse o que dissesse Alex, parecia horrível. Soluçou dealívio quando a viu curar-se ante seus olhos, as borda se
fechando pouco a pouco. Demorou o que lhe pareceu uma
eternidade para fechar-se, antes que pudesse ocupar-se da do
ombro.
Quando finalmente pôde levar o pulso para os lábios do
vampiro, começava a pensar que algo estava errado. Gabriel já
parecia são, entretanto não respirava. As primeiras gotas
escorregaram entre seus lábios entreabertos, antes que o
vampiro começasse a tremer e abrisse os olhos. Agarrou
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275
como estava.
Gabriel tomou um último sorvo antes de fechar a ferida.Ainda se sentia faminto, mas não confiava em si mesmo no
que a ela se referia. Seu sangue era muito aditivo para
permitir-se baixar a guarda. Os poderes dela fluindo também
por suas veias o fizeram sentir-se confuso, ao mesmo tempo
em que sentia o que ela estava experimentando.
Pela primeira vez desde que a conhecia, pôde saber o quepensava. O que sentia… e seu carinho o desarmou. A dor que
havia sentido quando ele a ignorou diante do caçador, a
insegurança, no entanto manteve a esperança, a confiança
nele.
Atraindo-a mais contra si sepultou o rosto em seus cabelos,
aspirando seu aroma. Ela se aconchegou contra ele e o abraçou
mais forte, como se soubesse que ele o necessitava.
Lentamente, separou-se dela. Dafne fechou os olhos quando
o mundo deu uma volta, e se deu conta de que estava bastante
enjoada. Usou os ombros dele para tentar recuperar o
equilíbrio, mas não funcionou muito bem. Ele a sustentou comcuidado até que passou.
- Está bem?- Ela assentiu com a cabeça.
- E você?- apartou os cabelos do rosto dele. - Continua um
pouco pálido.
- Não é de mim que falamos - respondeu ele.
- Quero que fique bem.
- Estou bem. Graças a você – beijou sua mão e deslizou os
dedos sobre a cicatriz de seu pulso, antes de pôr os lábios
sobre ela. – Salvou minha vida.
- Você salvou a minha antes.
Ambos se olharam nos olhos. Dafne nunca soube se foi ela
ou ele que avançou, e Gabriel também duvidaria sempre.
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Vingança
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Só souberam que estavam um nos braços do outro, e que por
fim, depois de tanto desejar, estavam juntos.
Dafne nunca havia sentido algo parecido, tão intenso, tão
especial. Abriu os lábios para ele e Gabriel a puxou mais
contra ele, embora soubesse que nunca poderia estar
suficientemente perto. Era o beijo mais doce que jamais tinha
compartilhado, mais ainda sabendo que era o primeiro dela. E
queria que fosse inesquecível.
Dafne enredou as mãos em seus cabelos, puxando-os
suavemente e correspondendo ao seu beijo. Gabriel sorriu
contra seus lábios e aprofundou mais, degustando-a, jogando
com ela.
Finalmente, quando a necessidade de ar os obrigou,
separaram-se. Gabriel não pôde resistir e voltou a roçar seus
lábios, suave, apenas um sussurro sobre sua pele. Ela o olhou
assombrada e levou a mão aos lábios, para depois ficar
ruborizada, fazendo-o sorrir.
Alex arrastou Elisa até o segundo andar, e se trancaram em
seu quarto. Assim que entrou, ela se encontrou apertada em
um abraço de urso. Se ainda tivesse que respirar estava segura
de que teria se sufocado.
- Estava preocupado - falou com a cabeça enterrada em seus
cabelos. - Estava tão, tão preocupado…
- Alex! – Elisa rio e jogou os braços em seu pescoço. - Estou
bem.
Ele não a soltou, apenas a apertou ainda mais forte.
- Não quero passar por isso nunca mais, nunca, nunca,
nunca…
Ela ficou nas pontas dos pés e o beijou, tentando fazê-lo
calar-se de uma vez. Alex se separou e seguiu com seu
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discurso exaltado.
- Porque não quero que voltem a me mandar para longequando estiver em perigo… menos mal que Gabriel estava… E
se ele não tivesse aguentado? E se eu não houvesse
conseguido chegar?
- E se? E se…? Alex, se cale. - ordenou Elisa. - Está
desvairando.
- Não estou desvairando.
- Sempre reage assim nos momentos de tensão?
- Não… - beijou suas faces, as pálpebras, os lábios.
- Então o que é isto?
- Amo você - sussurrou contra seus lábios.
- Eu também amo você. E estava preocupada.
- Um par de caçadores não são nada para mim. –
vangloriou-se ele. - Não se preocupe.
- Gabriel é mais poderoso que você e quase morre por culpade um par de caçadores deu uma cotovelada nas costelas dele.
- Não quero que fique mais em perigo.
- Nunca mais?- Alex sorriu enquanto a suspendia.
- Nunca mais - repetiu ela enquanto o envolvia com as
pernas e apoiava a cabeça em seu pescoço.
- Tinha que resgatar o namorado de sua irmã - sorriu ele
enquanto a deixava no chão. - Por certo, tenho que ver como
está.
- O namorado de minha irmã?- Elisa ficou desconcertada.
- Marcos - esclareceu Alex.
- Está ferido? – perguntou ela preocupada - Onde o
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deixou?
- Deixei-o no primeiro quarto do terceiro andar - quando elalevantou uma sobrancelha, Ele sorriu - Não é fácil transportar-
se com precisão, sabe?
Elisa sorriu e deu um suave beijo na face dele.
- Parabéns - disse. - Estou realmente orgulhosa de você. Mas
agora vamos ver Marcos.Subiram as escadas de mãos dadas. Marcos continuava na
mesma posição em que o tinha deixado, mas sua respiração
era mais estável.
- Não deveríamos levá-lo a um hospital? - perguntou ela ao
ver os ferimentos do rapaz.Alex negou enquanto inspecionava as duas costelas
quebradas. Estavam soldando rápido, como todos os
caçadores. Não à velocidade de um vampiro, mas algo era
algo. Os pulsos também estavam muito danificados e tinha
alguns ferimentos superficiais.
Mandou Elisa em busca de anti-sépticos e ataduras
enquanto o despia e o colocava na cama. Limpou as feridas
com cuidado para não despertá-lo e, com a ajuda de sua
companheira, conseguiu enfaixar e suturar todos os cortes.
- Pobrezinho - comentou Elisa. - teve uma vida muito dura.
- É condição dos caçadores - respondeu ele. - Ninguém que
não esteja desesperado ou desequilibrado escolheria sua vida.
Como pode ver, os caçadores são todos racionais, frios. Só os
melhores entre os melhores, aqueles que sobreviveram a tudo
e que farão qualquer coisa para seguir no jogo. Se nós
pudéssemos treinar guardiões assim… seríamos invencíveis.
Mas os vampiros são diferentes, a maioria de nós foi criado
por amor, ou compaixão, ou simplesmente desespero. E não
funcionamos assim.
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- Se sua vida era assim… é realmente estranho que tenha
renunciado, Não acha?
- Dafne é especial - sorriu Alex. - Tem um encanto especial.
Note o que conseguiu; fez Marcos renunciar ao seu posto na
Ordem mal a conheceu; e se por acaso fosse pouco tem Gabriel
aos seus pés, nada mais e nada menos que o chefe do
conselho, o imortal. E só com dezesseis anos. – Elisa sorriu
levemente. - Deveríamos pagar um curso de Direito para ela.
Teria um grande futuro na política.
- Política?!
Elisa ficou olhando-o dissimuladamente. Ficando nas
pontas dos pés, apoiou o dorso da mão na testa de seu
companheiro, fingindo tomar a temperatura.
- Você tem que estar delirando – assegurou - Espere…
Podemos delirar?- Alex negou com a cabeça, divertido. - Então
ou acaba de descobrir uma nova enfermidade para os
vampiros ou o estresse está jogando um jogo sujo com você.
Minha irmã na política… que loucura.
- Por que não?- Elevou as sobrancelhas.
- Porque as definições de aproveitadora, ambiciosa e chupa
sangue não combinam com ela. - afirmou a jovem.
- Que encanto - sorriu Alex. Elisa titubeou e olhou para o
chão. - Acredita que estão bem?
- Acredito que sim - Alex a pegou pela cintura e a tirou do
quarto, fazendo um gesto para que ela não fizesse ruído. -
Espere cinco minutos e descemos, se quiser se assegurar.
- Não quero interrompê-los - Elisa fez uma careta. Enquanto
ele a guiava de volta a seu quarto.
- Não acontecerá nada com ela - Alex a tranquilizou
acariciando suas costas em uma suave massagem. - Gabriel
sabe o que faz.
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- Sim, você também sabia - acusou ela. - E olhe em que
confusão nos colocou.
- Ei, não se queixe - brincou Alex. – saiu da aventura ilesa,
imortal e noiva. Que mais quer?- sorriu.
- Mmm… - ronronou ela - Estou noiva?
- Disse que sim - afirmou ele - E não penso em deixá-la
escapar.- E como vai me impedir?
- Bom, tenho algumas pendentes já há um tempo.
Primeiro… espere um segundo - disse sentando-a na beira da
cama enquanto ele saltava por cima e procurava algo na
mesinha de cabeceira.- O que faz?- Elisa se inclinou para trás para olhar, mas Alex
a impediu.
- Fique quieta senão enfaixarei seus olhos - ameaçou ele.
- Certo. – Elisa voltou a sentar-se na cama e fechou os olhos.
Quando sentiu Alex diante dela entreabriu o direito,dissimulando. – Já posso olhar?
- Sim. – respondeu ele.
Elisa abriu os olhos. Logo os abriu ainda mais. E logo abriu
a boca. E ficou atônita. Alex estava diante dela, sorrindo e com
um joelho no chão. Na mão direita, um estojo de veludo.
- Já sei que pedi isso antes… um pouco informalmente. Mas
queria fazê-lo como Deus manda. Elisa… - abriu o estojo e
mostrou a ela o anel mais bonito que havia visto em sua vida.
O ouro branco rodeava um diamante perfeito, que a luz do
quarto fazia brilhar. Era magnífico, uma clara mistura doantigo e do moderno. - Quer se casar comigo?
Elisa não respondeu. Não teria podido dizer uma palavra
embora sua vida dependesse disso. Limitou-se a ficar
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Vingança
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quieta e chorar como uma parva. Alex sorriu.
- Advirto que se não responder interpretarei como um sim.Seguia sem poder falar, mas começou a assentir com a
cabeça. Alex segurou sua mão e deslizou o anel em seu dedo.
Ficava perfeito.
CAPÍTULO 28
Era uma tarde chuvosa. Faltava menos de uma semana para
o casamento, que, depois de muitas discussões tinha ficadomarcado para o dia vinte e quatro de dezembro. Elisa estava
mais nervosa a cada dia que passava, enquanto que Alex não
cabia em si de felicidade.
Marcos e Gabriel tinham ameaçado amordaçá-lo se não
deixasse de cantar pela casa, aporrinhando todo mundo com
seu sorriso de felicidade suprema.
Quão única tinha cumprido sua ameaça foi Dafne, que o
despertou um bom dia com um balde de água fria. Como a da
torneira lhe pareceu muito morna tinha acrescentado alguns
cubinhos de gelo, mais ou menos três pacotes. Em dezembro.
Alex ainda congelava ao recordar, mas ela tinha conseguidomantê-lo calado três dias seguidos, e batido o recorde da casa.
Mudaram-se para outra das casas do vampiro, na Espanha,
porque Elisa queria casar-se em sua terra. Esse era um dos
motivos pelos quais Gabriel era o que mais desfrutava do
tempo de noivado, pois tinha imposto que os noivos
passassem a semana anterior ao casamento dormindo em
quartos separados. Como a casa era de Gabriel, era ele que
punha as normas. E tinha desfrutado especialmente com a
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Vingança
Projeto Revisoras Traduções
282
última.
Embora encontrasse coisas estranhas em sua cama cada vezque ia se deitar, cortesia de um vampiro frustrado
sexualmente. A última vez tinham sido dois sapos. Tinha lhe
dado pena jogá-los na rua, assim à estranha família tinham se
unido duas mascotes bastante viscosas que ainda não tinham
nome.
Todos tinham se adaptado a uma rotina plácida, como sevivessem juntos há anos em vez de só alguns meses.
E assim Elisa estava sentada diante da sala, com uma caixa
de trufas em uma mão e uma de suas novelas na outra. Uma
música suave enchia o cômodo, procedente dos alto-falantes
situados estrategicamente pelas quatro paredes. Se fechasse os
olhos, parecia que o conjunto de jazz tocava na sala.
Ainda estava de pijama, consistente em uma velha calça de
moletom e uma camiseta de Alex mais velha que bonita, mas
muito confortável. Os cabelos recolhido em um rabo-de-cavalo
sem graça, e nem um pingo de maquiagem. Em resumo,
estava uma beleza. Se Alex não voltasse atrás ao vê-la, não searrependeria nunca, pensou enquanto mordia outra trufa. Era
uma maravilha não engordar.
O homem que enchia seus pensamentos entrou na sala
nesse mesmo momento, como se o tivessem convocado. Deu
uma olhada ao redor, e vendo que não havia ninguém por
perto sorriu com antecipação. Ela estremeceu ao sentir como
seu olhar a percorria de cima abaixo, com o mesmo desejo que
se vestisse a roupa mais provocadora do mundo.
Definitivamente não tinha cara de arrependido, pensou, e
não pôde conter uma gargalhada.
- O que é tão engraçado?- disse aproximando-se do sofá.
Elisa mordeu o lábio quando ele se aproximou com sua
costumeira fluidez. Vendo-o mover-se seu cérebro fez
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Vingança
Projeto Revisoras Traduções
283
clique e se desconectou, concentrando-se somente no modo
como Alex a olhava. Ele notou que seus pensamentos tinham
mudado de rumo, e sorriu.
Deitou-se em cima dela e esfregou o nariz contra seu
pescoço, mordiscando o lóbulo de sua orelha.
- Vamos, diga-me ronronou. - O que a fez rir?
- Era só… uma tolice - gemeu Elisa enquanto jogava acabeça para trás para que Alex pudesse soltar seus cabelos.
- Que tolice? - a língua dele percorreu sua clavícula
enquanto uma mão investigava sob a camiseta folgada.
Gemeu quando viu que não vestia roupa íntima.
- Acha-me sexy com esta roupa, de verdade?- É a mulher mais sexy do mundo, ponha o que puser.
- OH, Deus - suspirou Elisa - O que eu fiz para merecer
você?
A gargalhada de Alex soou contra seu umbigo enquanto
arrastava a camiseta para cima.
- Não sei…
- Eli, Prefere as rosas vermelhas ou acha melhor as…?-
Dafne entrou rapidamente, sem dar-se conta do que estava
vendo até chegar a meio caminho do sofá. - OH!- ruborizou
até as orelhas.
Dafne girou sobre os calcanhares e se lançou a porta,
chocando-se totalmente contra Marcos, que também entrava
nesse momento. O rapaz soltou um gemido quando ela bateu
contra ele, e a sustentou longe dele.
- O que aconteceu?- Olhou por cima do ombro de Dafne esorriu. - Não têm um quarto? Querem arruinar a única mente
pura da casa?- disse cobrindo os olhos de Dafne. Ela se soltou
e lhe deu uma tapa em seu pescoço.
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- Não era nossa intenção, asseguro-lhe isso. -respondeu
Elisa.
Alex se levantou e baixou a camiseta dela, dando obrigado
por não ter ido mais longe. Pôs-se de pé ao lado do sofá e
pegou uma das trufas que restavam, metendo-a inteira na
boca. Engoliu e fez cara de decepção.
- Há quem diga que isto é substituto do sexo, merecia que o
castrassem. – Marcos soltou uma gargalhada.
- Acredito que isso só funciona com as mulheres. -
comentou, ganhando outra tapa no pescoço. - Ei, não me
maltrate! – ele censurou Dafne.
- Você merecia isso…
- Claro que merecia, mas não devia bater em alguém que
está convalescendo.
- Ah, não?
- Não. E é cruel de sua parte.
- Meninos… nós estamos aqui - Interrompeu Alex. - E já queestragaram nossa festa, pelo menos tentem não nos ignorar.
- Sim, claro - Dafne olhou para os papéis que tinha na mão. -
antes de encontrar vocês… hum... ocupados… queria
perguntar se vocês gostam das rosas vermelhas ou preferem
outra cor.- Vermelhas está bom - respondeu Elisa. - Algo mais?
- Ah. A última prova do vestido é amanhã a tarde, não se
esqueça, e tem que inspecionar a decoração da igreja na sexta-
feira, quando já tiverem colocado as flores. Já reservamos
mesa… no Angelo´s, acredito - olhou os papéis de novo. - Sim,no Angelo´S. Hoje chegaram as últimas confirmações, e a
verdade é que aquilo vai parecer um filme de terror. Há pelo
menos cinco vampiros para cada humano. Não sei se me
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ponho a comer alho, para o caso de acontecer algo.
- Não funcionará. - zombou Alex - Só federá.- Obrigado. Eu também o amo - respondeu com uma careta.
- Seu traje já está preparado – adicionou - Só tem que prová-lo
já que não o escolheu, não o verificou e nem sequer o viu -
reprovou-o.
- Sim, claro. Mas é que vocês se ocupam muito melhor detudo isso. Por certo, Como é?
- Fraque. Cinza escuro.
- Fraque?- enrugou o nariz. - Que chatice.
- Fica muito bem, além disso, não podíamos pôr em você
um traje normal e usual. Não com o vestido de Elisa.
- Gabriel também vai vestir um?
- Não. Ele vai vestir um terno, também cinza.
- E uma merda! Ou eu vou com um terno ou ele veste um
fraque.- Nem sonhe. O padrinho não usa fraque, usa terno.
- O que acontece ao padrinho?- Gabriel entrou na sala
carregado de pacotes. - Os presentes - explicou deixando-os
diante dos noivos. - bem?
- Discutíamos - comentou Alex sucintamente.
- Seja o que seja, Dafne tem razão.
- Vendido. Se eu tivesse pernas longas e busto ficaria do
meu lado.
- Se você tivesse pernas longas e busto por-me-ia a correrapavorado - rebateu o vampiro. - pode-se saber o que
discutiam?
- Os trajes - disse Marcos. - Alex quer que ou você use
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fraque ou que ele use terno.
- Não podemos ir vestidos igual. Seria ridículo.- Diz isso porque não é você que tem que usar fraque -
defendeu-se Alex.
- Não me incomodo de usar fraque - disse Gabriel – Sinto-
me cômodo e me cai bem, Lembra-se das casacas? Sinto falta
delas.- Então por que demônios não quer pô-lo?
- Porque o noivo tem que ser o protagonista. - falou Elisa - E
não pode se vestir igual ao padrinho. Eclipsaria-o.
- Não me eclipsaria. - resmungou Alex.
- Irmão, tem que aceitar - Gabriel falou com o riso nos olhos
- Sou mais bonito que você.
Gabriel se agachou quando um dos cinzeiros foi lançado em
sua direção.
- Isso era caro - observou simplesmente.- Foda-se, OH rainha da beleza.
- Isso não muda a realidade - desfrutou Gabriel.
- Acho você muito mais bonito - Elisa sorriu para Alex.
- Eu não - respondeu Dafne, ganhando um sorriso. Todos osolhares se dirigiram para Marcos.
- Não olhem para mim - respondeu o caçador levantando as
mãos. - Se respondesse a essa pergunta teria que me dar um
tiro. Se por acaso não recordam estávamos falando de trajes,
fraques e demais, não de quem ganharia um concurso de
beleza.
- Isso não tem discussão possível. Está tudo arrumado e
ponto. - Dafne olhou ao redor. - Ou melhor… votação.
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Quem quer que Alex use fraque? -Todos exceto Alex
levantaram as mãos. - E quem quer que Gabriel o use?- Só
Alex a levantou. - Caso resolvido.
- É que não posso decidir nada em meu próprio casamento?
- Não - resumiu Marcos. - Parece que sua única missão será
estar lá e falar quando mandarem. Felicidades.
- Não se queixe. Pelo menos não tem que usar saltos -interveio Dafne.
- Será melhor para você que tudo esteja perfeito - ameaçou
Alex - Porque se não juro a você que não deixarei ossos em seu
corpo.
- Será perfeita - disse Gabriel - Já o verá.Até o tempo pareceu levar o vampiro em conta. A manhã
do sábado amanheceu limpa, sem nenhum vislumbre de
nuvens. Era um dia quase quente, atípico para Dezembro. O
casamento estava marcado para o entardecer, porque Elisa
ainda era muito sensível à luz do sol para seguir a tradição e
casar-se ao meio-dia. Dafne a tinha sequestrado no diaanterior, que ambas passaram em um spa, desfrutando de
todos os serviços que o caríssimo balneário oferecia. Não se
veriam até a hora da cerimônia.
Ambas despertaram tarde, antes de ficar nas mãos de
cabeleireiros e maquiadores. Elisa desfrutava da cara de
sofrimento de sua irmã, mas a cada segundo que passava
ficava mais e mais nervosa.
- Agora é muito tarde para ir a Las Vegas - sorriu sua irmã.
– Não queria casamento? Pois tome casamento - desfrutou.
Elisa prometeu a ela uma morte lenta e dolorosa, mas
conseguiu relaxar nas mãos da cabeleireira. Em poucas horas,tudo teria terminado e eles estariam na lua de mel. Só tinha
que se concentrar nisso.
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Alex passou toda a noite dando voltas. Parou um momentopara tomar o café da manhã, e logo voltou a começar. Gabriel
e Marcos estavam sentados na biblioteca, o primeiro com um
livro nas mãos e Marcos vendo televisão. O vampiro sorria
enquanto contava.
- Oito mil quinhentas e nove… - Alex completou outro
percurso - Oito mil quinhentos e dez… e oito mil quinhentos eonze… vou ter que comprar outro tapete. Alex, tudo sairá
bem.
- Sim, claro. - Alex respondeu sem deixar de dar voltas.
- Oito mil quinhentos e quinze… Deveria se tranquilizar.
- Sim, claro.
- Deveríamos servir baratas em vez de salmão. Não acha?
- Sim, claro - voltou a responder o vampiro. Logo parou em
seco. - Baratas? O que está dizendo?
- Deve-me vinte euros - disse Gabriel a Marcos. - Entendeu-me. São duas e ainda está cordato.
Marcos tirou a nota do bolso da calca, e a estendeu a Gabriel
com uma maldição. Alex os olhou um momento com
incredulidade, e logo reatou o passeio. As cinco, quando
finalmente subiu para vestir-se, tinha dado uma nadadesprezível quantidade de nove mil setecentas e dezesseis
voltas, e marcado o curso de seus passos no tapete.
Marcos olhou a marca de seus passos e suspirou.
- Definitivamente, casar-se tem que ser estressante.
Dito isso, subiu também para vestir-se.
Contrariando o que Alex esperava, a cerimônia se celebraria
em uma igreja pequena, mas linda, muito antiga. O sóbrio
estilo românico contrastava com a decoração, que lhe dava
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um pouco de vida. Velas brancas cobriam o interior da igreja,
conferindo um resplendor dourado a tudo o que tocavam. As
rosas vermelhas estavam por toda parte, perfumando o ar atéo ponto em que tudo resultava quase irreal.
Os bancos da frente estavam lotados, mas não havia muita
gente. Os convidados estavam todos misturados, sem fazer
distinções entre os amigos do noivo e da noiva. Alguns
amigos de Elisa, os poucos mortais da sala, tinham vindo
também, encantados de que não tivesse acontecido nada com
ela e engolindo completamente a história que inventaram para
a ocasião: Dafne e Elisa tinham saído de férias juntas e ao
voltarem se encontraram com o ataque. Ninguém a pôs em
dúvida.
O conselho completo, esta vez sem armas ameaçadoras,também tinha vindo. Só iam ficar para a cerimônia porque era
perigoso ficar tanto tempo reunidos em um lugar público, mas
tanto Alex como Elisa ficaram muito agradecidos com o gesto.
Até David, o eterno indiferente, parecia um pouco animado.
Certamente era coisa da luz.
Alex entrou de braços com Dafne. De fraque ficava
esplêndido, e tinha prendido os cabelos para a ocasião. Estava
tão nervoso que entrou com os olhos postos no fundo da
igreja, e não os desviou até que estiveram diante do altar,
onde Dafne o soltou não sem esforço, pois a agarrava como se
fosse morrer imediatamente.
Ela também estava muito bela. Uma das vantagens de que o
casamento fosse ao entardecer era que o protocolo permitia os
vestidos de noite, e ela tinha escolhido um de chiffon azul, que
destacava a cor de seus cabelos e pele. Usava os cabelos para
cima, em um complicado penteado que deixava seu pescoço e
ombros limpos, o que junto ao decote tomara-que-caia era, naspalavras de Gabriel, tentar ao destino em uma sala cheia de
vampiros.
Não tiveram que esperar muito tempo. A música
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começou a soar apenas alguns minutos mais tarde, e Elisa
entrou. Todas as cabeças se viraram para olhá-la, e um suspiro
coletivo encheu a igreja. Ali, naquele momento, naquele lugar,ninguém poderia imaginar uma noiva mais bonita. Avançou
de braços com Gabriel, que sorria.
Chegaram ao altar no que a Alex pareceu uma eternidade,
embora só fosse alguns minutos. Gabriel abraçou seu
protegido transbordante de orgulho antes de unir as mãos de
ambos. E tinha tido razão. O casamento foi perfeito.
EPÍLOGO.
Alex e Elisa partiram em lua de mel no dia seguinte. Por
certo, foram ao Egito, onde passariam alguns meses. Tendo,
literalmente, todo o tempo do mundo, era uma tolice fazer
uma lua de mel curta.
Com a partida do casal, deixou de existir o motivo para
estar todos juntos. Os meses anteriores foram um frenesi, uma
voragem de atividade enfocada em um ponto que mantinha a
todos ocupados. Havia uma razão clara para estar todos
juntos, um futuro em comum. Mas agora não restava nada. A
casa parecia vazia sem o casal, e a tensão aumentava dia-a-dia.Até que explodiu. E foi, como tinha que ser, entre Gabriel e
Marcos.
Dafne não ouviu a conversa, estava fora, quando aconteceu.
Ao chegar em casa, encontrou o vampiro na entrada, olhando-
a quase com indiferença. Seu coração deu um tombo, já
reconhecia aquele olhar. Era o mesmo que tinha posto quandoela anunciou que ia partir , o olhar de “não preciso nada de
você” que tanto a feriu anteriormente. Gabriel deu meia volta
e partiu logo que a viu entrar, mas ficou tudo claro em um
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instante.
Não precisou encontrar Marcos em seu quarto para saberque partia. O rapaz estava sentado diante da janela, seu olhar
perdido nas pessoas da rua. As cortinas estavam abertas, e as
cores do quarto pareciam muito mais brilhantes do que o
normal. Ele se levantou tão logo a viu chegar, seu olhar
avaliando-a.
Dafne não o deixou falar.
- Vamos - Não era uma pergunta.
- Ainda quer vir comigo? - Ele se aproximou dela.
- Até o fim do mundo – ela sorriu.
- Só até a Itália - Marcos devolveu o sorriso a ela.
- Começo a fazer as malas?- Ele assentiu.
- Vamos tão logo possamos. Amanhã parece muito
precipitado para você?
- Amanhã? - Dafne ficou deslocada, tinha esperado maistempo… tempo para fazer-se à idéia, para despedir-se de
Gabriel. - Amanhã está bom - assentiu.
- De acordo. Deixo-a, então. Vou comprar as passagens -
deu um beijo na face dela e a deixou sozinha.
Dafne fez as malas como em transe. Em algum lugar de suamente sabia que não estava organizando bem as coisas, que a
roupa estava amassada e ficaria impossível vesti-las se
continuasse as colocando de qualquer forma, mas lhe dava no
mesmo. Sua mente não estava no que fazia, e sim no vampiro
a quem teria que dizer adeus antes que o dia terminasse.
Acabou de fazer a bagagem rápido, não tinha muitas coisas.A maioria havia ficado na casa da família, que não havia
tornado a pisar após o assassinato de sua mãe. Algumas
estavam esquecidas em seu quarto , na França. E outras…
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Ela voltou a morder o lábio, indecisa.
- Não sei o que dizer a você - confessou- Não me diga nada. – virou-se. - Espere um momento.
Tenho algo para você.
Gabriel abriu a porta de seu armário e procurou dentro.
Tirou uma bolsinha de uma das gavetas. Dafne se recordava
dela; a viu um dia, em Paris. Abriu-a e tirou uma caixinha dedentro. Era um desses estojos clássicos de joalheria onde as
pessoas guardam um bracelete, ou talvez um pingente ou um
relógio.
- Mandei fazer ele para você - comentou o vampiro
enquanto o desembrulhava. - É algo… especial.
Terminou de tirar o papel e abriu a caixinha. Dentro do
veludo negro repousava uma lágrima19 de prata. Tinha uma
pedra avermelhada engastada, talvez uma granada, ou um
rubi. Não saberia distinguir. A prata do pendente abraçava a
pedra, e na parte da frente uma fina lista vertical descia em
suaves curvas e a mantinha em seu lugar. Era lindo.
Uma corrente, também de prata, enganchava-se na parte
superior. Sua finura a fazia quase invisível, por isso pareceria
que o pendente flutuava no pescoço em vez de estar
pendurado.
Gabriel ficou às costas de Dafne e colocou o pingente nela.
Sentiu o peso estranho sobre seu pescoço, mas não demoraria
a acostumar-se. Ele o fechou e depositou um suave beijo em
sua nuca antes de voltar os cabelos ao seu lugar. Dafne
estremeceu.
- Esse pendente - explicou o vampiro - É uma conexão direta
comigo. Se alguma vez me necessitar, se necessitar de ajudaou estiver em perigo, quebre a pedra e chame por meu nome.
19Lágrima – objeto em forma de lágrima. (Aurélio)
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Não é uma pedra normal. O que há dentro é meu sangue.
Compreendo que possa achar repulsivo, mas é de vital
importância, é a única forma de manter um vínculo com vocêexcluindo o psíquico. Lembre-se. Se me necessitar, quebre-o e
me chame. Estarei lá imediatamente.
- Obrigado - Dafne acariciou o pendente que já tinha
adquirido a tepidez de sua pele. O vampiro sorriu tristemente.
- Desejo a você toda a felicidade do mundo. Que seus diassejam longos e suas noites ditosas, que não volte a chorar a
não ser de alegria, e que sempre tenha perto aos que ama.
- Não terei aos que amo sempre perto. - respondeu ela -
Faltará você.
Gabriel retrocedeu como se lhe houvesse dado um murro.Fechou os olhos e jogou a cabeça para trás, lutando consigo
mesmo. Poderia haver conseguido, a haver deixado ir sem
desmoronar, mas ela fez justo o que não devia, deitar-se em
seus braços.
Gabriel correspondeu seu abraço. Apertou-a contra si como
se quisesse fundir-se com ela, mesmo sabendo que era
impossível. Quis fazer eterno esse instante, entesourá-lo em
sua memória para conservá-lo. Ela entrelaçou os braços em
suas costas, apoiando a cabeça em seu peito. O coração do
vampiro pulsava rápido, tanto quanto o seu.
Finalmente conseguiu a coragem suficiente para afastar-sedela. Segurando-a pelos ombros a separou dele muito
suavemente.
- Vá - suplicou - Por favor, sai daqui agora.
Ela deu meia volta e saiu do quarto. Fechou a porta e se
apoiou contra ela tentando recuperar a respiração. Ummomento mais tarde se separou dela e caminhou até seu
quarto, onde a visão da mala ao lado da porta acabou com a
pouca integridade que restava. Afundou o rosto nas mãos e
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pôs-se a chorar.
Às oito da manhã, Marcos chamou a sua porta. Tinhaconseguido as passagens na noite anterior, mas sabendo como
estaria não a interrompeu. Dafne abriu a porta para ele.
Estava pálida e com olheiras, mas decidida. Agarrou com
força a pequena mala e caminhou ao seu lado até a porta.
Deixaram suas chaves no móvel da entrada, e quando já iam
sair, Dafne viu o pequeno bloco de papel de recados ao ladodo telefone. Pegou a caneta e deixou o seu.
“Sempre terei o pendente posto, prometo.
Sentirei saudades de você.
Um beijo.”
Gabriel os ouviu partir. Desta vez não haveria ataque
surpresa que os retardasse, nem desculpas que a mantivesse
ao seu lado um minuto mais. Deveria alegrar-se, mas não era
capaz de sentir nada exceto dor. Parecia-lhe que acabava de
cometer o pior erro de sua vida, e embora soubesse que tinha
feito o correto, seu coração protestava. Queria correr atrás dela
e detê-la, mas não o fez. Desceu e encontrou seu bilhete.
Apertou-o forte enquanto uma lágrima caía por sua face.
Afinal, Gabriel podia chorar sim.