Download - Universidades públicas de São Paulo vão propor cotas de 50%a partir de 2016 [ESTADÃO]

Transcript
Page 1: Universidades públicas de São Paulo vão propor cotas de 50%a partir de 2016 [ESTADÃO]

%HermesFileInfo:A-16:20121126:

A16 SEGUNDA-FEIRA, 26 DE NOVEMBRO DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO

As universidades públicas esta-duais de São Paulo têm umhistórico de negativas à inten-ção do governo federal de insti-tuir um programa de cotas.

Em abril, quando o Supre-mo Tribunal Federal (STF)

decidiu pela legalidade das co-tas raciais, as universidades es-taduais informaram que nãoadotariam a cota. A situação co-meçou a mudar quando, em ou-tubro, o governador GeraldoAlckmin se reuniu com o Conse-lho de Reitores das Universida-des Estaduais de São Paulo(Cruesp) e pediu que fosse ela-borado um plano em resposta

ao que foi estabelecido pelaLei de Cotas para as federais.

Desde então, o tema foi dis-cutido em pelo menos cincoreuniões do Cruesp, com a pre-sença de secretários de gover-no, até que na quinta-feira aproposta a ser levada ao gover-nador foi definida, segundoinformações do reitor daUnesp, Julio Cezar Durigan.

Vida / AMBIENTE / CIÊNCIA / EDUCAÇÃO / SAÚDE / SOCIEDADE

RESERVA

16,6%

Universidades públicas de São Paulo vãopropor cotas de 50% a partir de 2016Reitor da Unesp revela que plano, fruto de reação do governador Geraldo Alckmin à Lei de Cotas federal, foi fechado na quinta-feira e seráapresentado nesta semana; além da reserva de vagas, haveria cursos de reforço para alunos de escolas públicas e bolsa de cerca de 1 salário mínimo

O prazo para chegar aos 50%de vagas reservadas para cotis-tas nas universidades esta-duais paulistas seria de trêsanos, segundo a proposta re-velada ao Estado pelo reitorem exercício da Unesp, JulioCezar Durigan.

A ideia é fazer uma adoçãoprogressiva, começando com16,6% de cotas em 2014, subin-do para 33,3% em 2015, e che-gando a 50% em 2016. No casoda Lei de Cotas, que já come-

ça a valer no vestibular atual, asinstituições federais têm quatroanos para atingir os 50%.

“Vamos precisar incluir maisou menos 4,2 mil alunos para che-

gar aos 50%”, calcula Durigan.Os porcentuais de estudantes

vindos de escolas públicas nastrês universidades hoje variamde 28% na USP a 41% na Unesp e

32%, na Unicamp. Todas têm po-líticas de inclusão, que dão vanta-gens a alunos de escola públicapara ingressar na instituição,mas não possuem cotas.

A Lei de Cotas determina queo número das vagas destinadas apretos, pardos e índios corres-ponda ao porcentual dessa popu-lação no Estado. Em São Paulo, onúmero é de 34,73%. Arredon-dando para cima, como prevê alei, 35% das vagas de cotas fede-rais no Estado serão definidaspor critério racial. Consideran-do o número de 4,2 mil vagas pa-ra cotas estaduais estimado porDurigan, cerca de 1.470 cabe-riam a pretos, pardos e índios.

Custos. Os custos das bolsasnão estão definidos. No entanto,considerando o valor de um salá-rio mínimo para 4,2 mil alunos –projeção do reitor da Unesp –, oEstado teria de investir R$ 31 mi-lhões por ano apenas nas bolsas.Parte do financiamento poderávir da Fundação de Amparo à Pes-quisa do Estado de São Paulo (Fa-pesp), afirmou Durigan.

“O governador pediu que oCruesp fizesse essa proposta.Nós fizemos. A proposta éboa, só que implica gastoscom preparo inicial dos alu-nos e com a manutenção de-les com bolsa. Vamos ver se ogovernador dá o OK ou não,se quer que mude alguma coi-sa”, afirmou Durigan.

O reitor disse também queo secretário de Educação, Her-man Voorwald, “gostou mui-to da proposta”.

O reitor da Unesp afirmouque é possível haver uma defi-nição no próximo mês. “Aideia é que tenha uma decisãofinal no começo de dezem-bro. Quando o governador dis-ser ‘Toque em frente, que estábom’, vamos detalhar os nú-meros e fazer uma redação es-miuçada da proposta para darconhecimento ao público”,disse Durigan. / B.P.

Leia. Pássaro gigantepré-histórico era herbívoro

estadão.com.br/ciencia

COTA DENTRO DA COTA}

Proposta beneficiaria mais de 4 mil alunos

● Reserva de vagasMetade das vagas ficariapara alunos de escolaspúblicas a partir de 2016

● Reforço para alunos40% fariam um ‘college’semipresencial antes docurso; 60% começariamo curso superior com opçãode reforço paralelo

● BolsaCerca de 1 salário mínimopara todos os cotistas

das vagas seriam reservadas em 2014, 33,3% em2015 e, atingindo o modelo federal, 50% em 2016

35%das vagas de cotas no Estado seriam reservadas a pretos,pardos e índios, em conformidade com a Lei de Cotas federal

ANDRE LESSA/ESTADÃO

PARA ENTENDER

Breno PiresESPECIAL PARA O ESTADO

As três universidades públi-cas paulistas, USP, Unesp eUnicamp, fecharam na quin-ta-feira proposta que seráapresentada nesta semanaao governador GeraldoAlckmin para adoção de umprograma de cotas que des-tinará 50% das vagas a alu-nos que cursaram integral-mente o ensino médio emescolas públicas. O objetivoé igualar os porcentuais es-tabelecidos pelo governoDilma Rousseff para as uni-versidades federais na Leide Cotas.

A afirmação é do reitor daUnesp, Julio Cezar Durigan,membro do Conselho de Rei-tores das Universidades Esta-duais de São Paulo (Cruesp),que vinha discutindo o planodesde o início de outubro,quando o governador pediu asua formulação, após a regula-mentação da Lei de Cotas –que só se aplicas às institui-ções federais de ensino.

A proposta estadual, assimcomo a lei federal, leva emconta critérios econômicos eraciais de inclusão. Metadedas vagas reservadas seria pa-ra estudantes com renda fami-liar igual ou inferior a 1,5 salá-rio mínimo por pessoa; e 35%,para pretos, pardos e índios.

“A proposta para o progra-ma de cotas já foi escrita e vaiser apresentada nesta sema-na ao governador. Estamos fa-zendo o mesmo que o gover-no federal, mas com mais qua-lidade”, afirmou Durigan, ementrevista ao Estado. Atual-mente reitor em exercício, elejá foi nomeado para assumirformalmente a reitoria pelospróximos quatro anos, a par-tir de janeiro.

Segundo Durigan, o docu-mento será entregue ao gover-nador por Luiz Carlos Qua-drelli, secretário em exercíciode Desenvolvimento Econô-mico, Ciência e Tecnologia deSão Paulo, pasta à qual as uni-versidades estão ligadas.

A reportagem solicitou en-trevistas com os reitores daUSP, João Grandino Rodas, eda Unicamp, Fernando Cos-ta, mas não foi atendida. A as-sessoria de imprensa da USP

não confirmou as informaçõespassadas por Durigan. AUnicamp, em nota, resumiu-se adizer que uma comissão criadarecentemente pelo Cruesp dis-cute uma proposta preliminarsobre inclusão social.

Segundo Durigan, o projeto sebasearia em dois pilares: qualida-de, por meio de reforço no apren-dizado, e permanência, por meioda concessão de bolsas de cercade um salário mínimo.

“Temos de dar duas condi-ções para eles: um reforço deaprendizado, porque eles vêmcom deficiência na sua forma-ção, e uma garantia de bolsa paraque eles permaneçam no curso,pois não adianta nós incluirmosesse aluno e ele não conseguirficar porque a família dele nãotem condições”, diz Durigan.

Preparação. O reforço poderiaser dado de duas formas. Umadelas seria um curso preparató-rio anterior à entrada na universi-dade, de um ou dois anos, para o

aperfeiçoamento em matériasque já são dadas no ensino mé-dio, mas que já valeria como umcurso de nível superior – comoos “colleges” do modelo america-no, segundo Durigan.

A outra proposta é dar um re-forço paralelo após a entrada nauniversidade, nas disciplinas emque o aluno tiver tirado nota bai-xa no vestibular.

A estimativa do plano é que40% dos selecionados pelas co-tas farão o curso preparatório an-terior e 60% irão para a universi-

dade diretamente após o vestibu-lar, com a possibilidade de refor-ço paralelo.

“O curso preparatório ante-rior à universidade seria comoum college e daria um diplomade nível superior a esses alunos,um diploma intermediário. E de-pois eles estariam aptos a entrarna universidade ou poderiam en-trar no mercado de trabalho”, ex-plicou Durigan.

Sobre o diploma que o estu-dante obteria após a conclusãodo college, Durigan afirmou queele permitirá prestar concursopúblico com nível superior.

Ele defende que é melhor fa-zer esse curso do que um cursi-nho pré-vestibular. “O que nósqueremos é levar esse aluno paracima. Os alunos que entram nosvestibulares mais concorridos jáficam dois ou três anos no cursi-nho. Os alunos que vão fazer oreforço antes da universidadenão vão fazer um cursinho, masum curso voltado ao trabalho.Apostamos nesse college prévio

porque o indivíduo sai com for-mação. Se quiser, pode ganhar di-nheiro, prestar concurso públi-co. Se ele quiser progredir mais,tem a oportunidade de fazer umcurso como Medicina, Engenha-ria, escolhendo dentro do núme-ro de cotas disponíveis, depen-dendo do seu rendimento, semprecisar fazer uma nova prova.”

A seleção dos cotistas queiriam para o curso anterior à uni-versidade poderia se dar pelo de-sempenho que tiverem na redepública, pela nota do Exame Na-cional do Ensino Médio (Enem)ou pelo Sistema de Avaliação deRendimento Escolar do Estadode São Paulo (Saresp), algo queserá definido pelo governador.

As aulas do college seriam se-mipresenciais. As avaliações se-riam presenciais, mas a maioriado curso seria a distância, pelosistema da Universidade Virtualdo Estado de São Paulo (Uni-vesp). Entre as disciplinas adian-tadas por Durigan estariam ma-temática, física, química, portu-

guês e redação, filosofia, in-glês e, possivelmente, inicia-ção à pesquisa.

“É uma mudança de para-digma. Queremos incluir gen-te que normalmente não en-tra pelo vestibular. Nós quere-mos prestigiar o aluno da esco-la pública e dar qualidade pa-ra que ele se mantenha no cur-so, entre em igualdade de con-dições e pela porta da frente.É a inclusão que nós quere-mos”, afirmou Durigan.

Repercussão. O presidenteda ONG Educafro, frei DavidSantos, disse que está em con-tato com o diretor da Uni-vesp, Carlos Vogt, sobre o as-sunto e que aprova a ideia domodelo de college, assim co-mo a cota de 50% e a bolsa pa-ra cotistas. “Caso a propostavenha a se concretizar, o go-vernador e os três reitores es-tão saindo da meritocracia in-justa e adotando a meritocra-cia justa”, afirmou.

Estaduais cedema Alckmin

Inclusão. Para o reitor da Unesp, Julio Cezar Durigan, os cotistas entrariam nas universidades ‘em igualdade de condições e pela porta da frente’

estadão.com.br

● Aprovação

Inclusão será feitaa partir de 2014 e atéatingir os 50% em 2016;bolsas vão custarR$ 31 milhões por ano

JULIO C. DURIGANREITOR DA UNESP“Queremos incluir gente quenormalmente não entra.”

FREI DAVID SANTOSPRESIDENTE DA EDUCAFRO“Isso é respeitar e não enrolaros pobres. Isso é querer umEstado diversificado.”

PROPOSTAS